Os digitálicos são medicamentos usados para tratar doenças cardíacas aumentando a contração do coração. Eles inibem bombas de sódio e potássio nas células cardíacas, aumentando o cálcio intracelular e fortalecendo as contrações. Embora eficazes, digitálicos são altamente tóxicos e requerem monitoramento cuidadoso para evitar intoxicação, que pode causar náuseas, arritmias e outros sintomas. O documento discute o mecanismo de ação, dosagem, grupos
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FARMÁCIA INFORMATIVA
- BOLETIM INFORMATIVO -
3ª Edição, Setembro/ 2013
Medicamentos digitálicos
Por: Diane Fonseca Borges Viega
O que são digitálicos?
Os digitálicos, ou
cardioglicosídeos, fazem parte de um
grupo de fármacos utilizados no
tratamento de patologias do coração,
geralmente arritmias e insuficiências
cardíacas. Agem aumentando a
contração ventricular e corrigindo
arritmias por flutter, arritmias
supraventriculares e fibrilação auricular
(CUNHA, 2011).
O nome digitálico é devido ao
gênero vegetal Digitalis, que fornece a
maior parte dos cardioglicosídeos
clinicamente úteis atualmente. A
dedaleira (Digitalis purpurea) é uma
importante fonte desses agentes –
Figura 1.
Figura 1: Espécies vegetais Digitalis purpurea
(A) e Digitalis lanata (B).
Outro exemplo é a espécie Digitalis
lanata, de onde é obtida, por exemplo, a
digoxina, protótipo dessa classe de
medicamentos – Figura 2 (KATZUNG,
2007).
Figura 2: Estrutura química da digoxina.
O Brasil possui uma vasta
biodiversidade vegetal, várias espécies
medicinais que poderiam ser
empregadas com finalidade terapêutica.
As pesquisas envolvendo plantas
utilizadas empiricamente são de grande
importância para que possam ser
descobertas novas moléculas
promissoras no tratamento de muitas
patologias (FOGLIO et al., 2006).
Dentre as plantas estudadas, muitas
são usadas como matéria-prima para
manipulação, ou na indústria para
obtenção de princípios ativos ou
(A) (B)
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precursores em semi-síntese (FOGLIO
et al., 2006).
Mecanismo de ação
Os digitálicos agem inibindo a
Na+
/K+
-ATPase, presentes nas
membranas das células cardíacas. Sendo
assim, aumentam a concentração de Na+
intracelular e diminuem a expulsão de
Ca2+
da célula, por meio do permutador
Na+
/Ca2+
(KATZUNG, 2007), conforme
mostrado na Figura 3.
Figura 3: Mecanismo de ação dos digitálicos
(Adaptado de http://www.cncardio.com)
Dessa forma, aumentam a
contratilidade cardíaca, devido ao
aumento da concentração de cálcio livre
nas proximidades das proteínas
contráteis durante a sístole
(KATZUNG, 2007).
Os digitálicos são substâncias de
alta toxicidade e por isso é preciso um
maior cuidado de seu uso durante o
tratamento (KATZUNG, 2007).
Doses recomendadas
A dose ideal para cada paciente
deve ser orientada pelo médico, de
forma a prevenir níveis tóxicos e manter
os devidos cuidados na administração.
Geralmente, é aconselhada dose
inicial de 0,125 mg/dia de digoxina,
observando-se que em idosos e
pacientes com insuficiência renal, esta
dose deve ser administrada em dias
alternados. As recomendações da
Sociedade Europeia de Cardiologia são
de um nível sérico entre 0,6 e 1,2 ng/ml.
Deve-se observar também que
alguns medicamentos como amiodarona
(antiarrítmico classe III), diltiazem
(anti-hipertensivo bloqueador dos
canais de cálcio), verapamil
(antiarrítmico classe IV e bloqueador
dos canais de cálcio), e alguns
antibióticos podem aumentar os níveis
séricos da digoxina.
Alguns subgrupos de indivíduos
são mais susceptíveis à intoxicação
digitálica, tais como:
Idosos (devido à maior
sensibilidade e confusão com
doses e demais tratamentos);
Mulheres (devem usar doses
mais baixas);
Insuficientes renais (devido ao
aumento da concentração
sérica);
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Pacientes com artérias
coronárias afetadas (pois a
isquemia afeta a sensibilidade da
bomba Na+
/K+
, interferindo na
ação da digoxina);
Pacientes poli-medicados (pelo
risco de interação
medicamentosa) (PERDIGÃO,
2013).
Sintomas de intoxicação
Podem ocorrer náuseas, vômitos,
anorexia e diarreia como sintomas
digestivos. Os sintomas neurológicos
variam desde uma simples fadiga e
cefaléias, até confusões mentais,
desorientação e delírio (PERDIGÃO,
2013).
Em relação à visão, pode ocorrer
alteração na percepção das cores, halo
verde-amarelado em torno de imagens e
luzes, bem como visão esfumada ou
diplopia. Já em relação aos sintomas
cardíacos, podem ocorrem arritmias
diversas e complexas (PERDIGÃO,
2013).
Importante ressaltar que na
intoxicação digitálica aguda, os
sintomas e os sinais eletrocardiográficos
podem ser bastante exuberantes,
enquanto que na intoxicação crônica
podem ocorrer de forma mais atenuada
(PERDIGÃO, 2013).
Importância de uma boa orientação
O correto acompanhamento e
orientação médica e farmacêutica são de
muita importância em um paciente que
faz uso desse tipo de medicamento,
devido à sua alta toxicidade e também
para prevenção e monitoramento de
efeitos adversos (NUNES et al., 2008).
O devido acompanhamento por um
profissional de saúde capacitado
também evita danos ao paciente e
melhora a eficácia terapêutica, como
por exemplo, minimizar erros de
dosagem, interações com demais
medicamentos, dentre outros fatores
relevantes (NUNES et al., 2008).
Conclusão
Os digitálicos são uma classe
terapêutica importante no tratamento de
pessoas com patologias do coração,
porém devem ser administrados com
cautela e sob orientação médica, devido
ao elevado risco de intoxicação.
Referências
CUNHA, V. B. F. Importância da
detecção dos níveis de Digitálicos em
casos de morte súbita em cadáveres
de idade igual ou superior a 55 anos.
Instituto de ciências biomédicas Abel
Salazar: Universidade do Porto.
Dissertação de Mestrado em Medicina
Legal, 2011.
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FOGLIO, M. A; QUEIROGA, C. L. et
al. Plantas medicinais como fonte de
recursos terapêuticos: um modelo
multidisciplinar. Construindo a história
dos produtos naturai. Divisão de
fitoquímica, CPQBA/UNICAMP, 2006.
NUNES, P. H. C; PEREIRA, B. M. G.
et al. Intervenção farmacêutica e
prevenção de efeitos adversos. Revista
Brasileira de Ciências Farmacêuticas,
vol. 44, n. 4, 2008.
KATZUNG, B. G. Farmacologia
básica e clínica. 10ª edição, São Paulo:
AMGH Editora Ltda, 2007.
PERDIGÃO, C. Gestão do rico dos
medicamentos: Toxicidade da
digoxina. Revista Factores de risco, n.
28, 2013.