1. O documento discute o poder militar das grandes potências e como isso tornou as forças armadas da maioria dos outros países irrelevantes. 2. Estados Unidos, China e Rússia têm os exércitos mais poderosos com base em seus grandes orçamentos militares e arsenais. 3. A estratégia militar dessas potências visa manter ou aumentar sua influência geopolítica.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O PODER MILITAR DAS GRANDES POTÊNCIAS E A PERDA DE UTILIDADE DAS FORÇAS ARMADAS DA GRANDE MAIORIA DOS PAÍSES DO MUNDO
1. 1
O PODER MILITAR DAS GRANDES POTÊNCIAS E A PERDA DE UTILIDADE
DAS FORÇAS ARMADAS DA GRANDE MAIORIA DOS PAÍSES DO MUNDO
Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo demonstrar que as grandes potências adquiriram um poder
militar tão grande que tornou inútil as forças armadas da grande maioria dos países do
mundo. O poder militar dissuasório contra ameaças externas da grande maioria dos países
do mundo se tornou irrelevante na era contemporânea com a utilização pelas grandes
potências de um imenso arsenal de armas nucleares e da guerra cibernética moderna. A
visão de que cada país deve possuir suas forças armadas para a defesa de seus territórios
para dissuadir ameaças externas se tornou irrelevante porque a grande maioria dos países
do mundo são possuidores de forças armadas baseadas em estruturas obsoletas do
passado. Este fato faz com que os gastos militares da quase totalidade dos países do
mundo se tornem improdutivos fazendo com que se torne desnecessária a existência de
forças armadas cujos gastos militares deveriam ser utilizados em setores econômicos mais
relevantes ao desenvolvimento econômico e social de muitos países.
O poder militar de um país diz respeito ao conjunto de organizações para a defesa e o
combate de um país constituídas pelo Exército, Marinha, Corpo de Fuzileiros Navais,
Força Aérea e Guarda Costeira, mas também, pela Força Espacial focada na guerra no
espaço e pela capacidade de desencadear a guerra cibernética no caso das grandes potências
(Estados Unidos, Rússia e China).
O poder militar de cada país se expressa pelo tamanho dos gastos militares e por sua
relação com o PIB conforme indicam o Quadro 1 e o Quadro 2.
Quadro 1- Gastos militares por país
Posição País
Gastos
(US$ bilhões)
% do PIB
Total mundial 1.686 2,2
1 Estados Unidos 611,2 3,3
2 China 215,7 1,9
3 Rússia 69,2 5,3
4 Arábia Saudita 63,7 10
5 Índia 55,9 2,5
2. 2
6 França 55,7 2,3
7 Reino Unido 48,3 1,9
8 Japão 46,1 1,0
9 Alemanha 41,1 1,2
10 Coreia do Sul 36,8 2,7
11 Itália 27,9 1,5
12 Austrália 24,3 2,0
13 Brasil 22,8 1,3
Fonte: Stockholm International Peace Research Institute
2017 Fact Sheet (para 2016) - Base de Dados de Gastos Militares do SIPRI
Quadro 2- Gastos militares por país
Posição País
Gastos
(US$ bilhões)
1 Estados Unidos 597,5
2 China 145,8
3 Arábia Saudita 81,9
4 Rússia 65,6
5 Reino Unido 56,2
3. 3
6 Índia 48,0
7 França 46,8
8 Japão 41,0
9 Alemanha 36,7
10 Coreia do Sul 33,5
11 Brasil 24,3
Fonte: International Institute for Strategic Studies. Top 15 Defense Budgets 2015.
Os Quadros 1 e 2 mostram que Estados Unidos, China e Rússia são as maiores potências
militares do planeta porque seus gastos militares são bastante superiores aos dos demais
países do mundo. Artigo do Defesanet informa no website
<https://www.defesanet.com.br/bid/noticia/36563/SIPRI---Gastos-Militares-Globais-
alcancaram-U$-1-9-Trilhao-em-
2019/#:~:text=Os%20gastos%20militares%20dos%20Estados,38%25%20dos%20gasto
s%20militares%20globais> que os gastos militares dos Estados Unidos totalizaram US$
732 bilhões em 2019 que representaram 38% dos gastos militares globais.
O artigo sob o título “Os 23 exércitos mais poderosos do mundo em 2021”, publicado em
2 março 2021 no website <https://www.maioresemelhores.com/exercitos-mais-
poderosos-do-mundo/>, informa que os Estados Unidos, a Rússia e a China são os países
com os exércitos mais poderosos do mundo hoje. Este ranking é definido pela Global
Firepower, um portal analítico de 139 forças militares ao redor do mundo baseado em
dados como quantidade de soldados, reservistas, força aérea, equipamentos, orçamento
anual militar, entre outros. Os dados são os seguintes:
1. Estados Unidos da América
Os Estados Unidos é o país com o exército mais poderoso e mais forte de todo o mundo.
Isso acontece, pois além de possuir o terceiro maior exército em número de soldados
ativos, é também o que mais investe nas forças armadas. O país investe 740 bilhões de
dólares no exército, enquanto que a China, o segundo país que mais investe, possui um
orçamento de 178 bilhões. Os Estados Unidos também possuem a tecnologia mais
avançada para combates e defesa atualmente.
Soldados ativos: 1.400.000
Orçamento anual: U$ 740.5 bilhões
4. 4
Força aérea: 13.233
Veículos blindados de combate: 40.000
Forças da frota da marinha: 490
2. Rússia
Atualmente, a Rússia possui a segunda força militar mais poderosa do mundo. Formado
em 1992, após a dissolução da União Soviética, o exército russo foi um dos que mais
investiram em força militar nas últimas décadas. A Rússia é também um dos poucos
países que produzem seus próprios equipamentos militares, tendo o maior número de
tanques e projetores de foguete entre todos os exércitos do mundo.
Soldados ativos: 1.014.000
Orçamento anual: U$ 42.1 bilhões
Força aérea: 4.144
Veículos blindados de combate: 27.100
Forças da frota da marinha: 603
3. China
A China possui o maior exército do mundo em número de soldados ativos. Não é de se
espantar porque é o país mais populoso do mundo. O país é também é o segundo com
mais financiamento nas forças armadas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O
grande desenvolvimento da China nos últimos anos, faz com que peritos projetem que o
exército chinês venha a se tornar ainda mais forte nas próximas décadas.
Soldados ativos: 2.185.000
Orçamento anual: U$ 178.2 bilhões
Força aérea: 3.260
Veículos blindados de combate: 35.000
Forças da frota da marinha: 777
O poder militar de um país é sustentado pelo poder econômico que possua. Das três
grandes potências, Estados Unidos Unidos e China têm poder militar sustentado pelo
poder econômico de suas economias, ao contrário da Rússia que se fragilizou com o fim
da União Soviética. Ao herdar o poder militar da ex-União Soviética, a Rússia mesmo
fragilizada economicamente consegue sustentar seu poder militar. O artigo sob o título
Maiores economias do mundo: 10 potências econômicas atuais, publicado em 2 março
2021 no website <https://www.maioresemelhores.com/maiores-economias-do-mundo/>
informa que as duas principais potências econômicas atuais são Estados Unidos e China.
5. 5
1. Estados Unidos
PIB: 21,4 trilhões de dólares
Responsável por cerca de 24% do PIB mundial, os Estados Unidos são o maior
importador e o terceiro maior exportador de produtos do mundo. Grandes marcas globais
têm origem no país, como Coca-Cola, Nike e McDonald’s. É o principal produtor de
energia elétrica e nuclear, mas também o maior importador de petróleo. Apesar de ser o
maior produtor de milho e soja, a agricultura representa menos de 1% do PIB. A maior
parte do PIB é composta por serviços: cerca de 67,8%.
2. China
PIB: 14,3 trilhões de dólares
É o país com maior crescimento econômico do mundo. A China apresenta um aumento
médio de 10% do PIB anualmente. Composto por uma economia mista resultante das
reformas econômicas de Deng Xiaoping aplicadas desde 1978. Fazendas foram
privatizadas, encerrando a prática da agricultura coletiva. Indústrias na área de mineração
e produtos básicos (roupas, processamento de comida e etc) também passaram a fazer
parte do setor privado. Estas medidas levaram a China a se tornar a nação com o maior
crescimento econômico dos últimos 25 anos.
Na era contemporânea, o xadrez geopolítico internacional aponta a existência de 3
grandes protagonistas: Estados Unidos, China e Rússia. Do confronto que se estabeleça
no futuro entre essas 3 grandes potências militares poderá resultar cenários alternativos
ao atual que se caracteriza no momento pelo declínio da hegemonia dos Estados Unidos
na cena mundial. Tomando por base os 3 grandes protagonistas do xadrez geopolítico
internacional contemporâneo, pode-se afirmar que os Estados Unidos têm por objetivo
recuperar sua hegemonia mundial nos planos econômico e militar. Para alcançar este
objetivo, as estratégias do governo norte-americano consistem, fundamentalmente, no
seguinte: 1) barrar a ascensão da China como futura potência hegemônica do planeta; e,
2) impedir a Rússia de alçar à condição de grande potência mundial. Na prática, o governo
dos Estados Unidos quer evitar o enfrentamento no futuro de dois gigantes: a China como
potência hegemônica e a Rússia revigorada.
Para barrar a ascensão da China como potência hegemônica do planeta, a estratégia
militar norte-americana está centrada na região Ásia-Pacífico, sem descurar do Oriente
Médio para combater o terrorismo, defender Israel, salvaguardar seus interesses
petrolíferos e fazer frente à ameaça do Irã. Como aliado dos Estados Unidos, o Japão
colabora com a estratégia norte-americana de “cerco” da China reforçando seu poder
militar até 2020 (Ver o artigo Japão reforça estratégia militar para reagir à China
publicado no site <http://www.portugues.rfi.fr/geral/20101217-japao-reforca-estrategia-
militar-para-reagir-china>). Outro objetivo da estratégia militar norte-americana é
tambem pressionar a aliança da Rússia com a China desenvolvendo as ações da Otan na
Europa e com o reforço de suas bases militares no Japão, Coréia do Sul e Diego Garcia e
da Frota do Pacífico (FAGET, Ruiz Pereyra. Nueva estrategia militar global de Estados
Unidos. Publicado no site <http://port.pravda.ru/mundo/11-01-2012/32735-
estrategia_eua-0/>).
6. 6
Em sua estratégia militar, a China considera o conceito de defesa ativa, a que vence o
inimigo com operações ofensivas. As Forças Armadas são dissuasivas, estão preparadas
para evitar o ataque preventivo do inimigo, capacitadas ao contra-ataque, impedindo o
segundo ataque. Se há uma maneira de resumir sua estratégia, pode-se dizer que a China
não está disposta a iniciar uma guerra. Não será o primeiro país a lançar seus misseis
nucleares, mas, ao ser atingido pelo primeiro, não deixará que o inimigo lancar o segundo.
As Forças Armadas também estão moldadas para tratar das ameaças de segurança não
tradicionais, participar da luta contra o terrorismo, no resgate e socorro nos desastres, na
assistência humanitária, na reconstrução diante das calamidades, além de proteger a
população. Apesar de alegar que não tem alianças, possui acordos de cooperação militar
com inúmeros países, sobretudo com a Rússia. Cabe destacar a sua atenção ao seu novo
projeto, a “Rota da Seda”, em especial a parte marítima, motivando a modernização da
sua frota marítima e construção de bases de apoio, como em Djibuti, noticiado como um
centro logístico. A estratégia militar da China pode ser comparada, alegoricamente, com
a Grande Muralha, situação estática, denotando uma atitude defensiva, aguardando o
ataque.
A estratégia militar da Rússia prevê o rearmamento do Exército e da Marinha com o uso
de armas convencionais e nucleares como resposta a um ataque contra o país
(QUADROS, Bruno Et ali. A nova doutrina militar da Rússia: mais do mesmo? Publicado
no website <http://www.enciclopedia.com.pt/news.php?readmore=181>). A expansão da
OTAN rumo às fronteiras russas é o principal perigo externo ao país. A Rússia tenderia a
apoiar a China em um conflito com os Estados Unidos. Sobre a Rússia, é importante
destacar que seus objetivos estratégicos são: 1) defender-se da ameaça a seu território
representada pelos Estados Unidos e pelas forças da OTAN; 2) reforçar sua posição como
fornecedor de gás natural aos países da União Europeia; e, 3) alcançar a condição de
potência mundial perdida com o fim da União Soviética.
O Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), firmado em 1968, que legitimou a posse
de armas nucleares pelos Estados Unidos, pela União Soviética, pela Inglaterra, pela
França e pela China, tentou evitar que outras nações as desenvolvessem, restringindo seu
acesso à tecnologia. Apesar do TNP, na atualidade, além dos Estados Unidos, Rússia,
China, Reino Unido e França, são detentores de armas nucleares a India, Coréia do Norte,
Paquistão e Israel. Israel não confirma ou desmente os relatórios de especialistas que o
acusam de possuir amplo arsenal nuclear estimado em mais de 100 ogivas, sendo assim
o único país com tal armamento no Oriente Médio. Por sua vez, Irã e Síria são acusados
de terem programas secretos de armas nucleares. Até o presente momento, 187 países
ratificaram o TNP e nenhum deles se retirou do pacto, exceto a Coreia do Norte que assim
o fez em 2003. Vários países têm criticado o monopólio nuclear perpétuo que o tratado
impõe pelo fato de legitimar as armas existentes e não admite que outros países as
possuam.
Na atualidade, o poder militar de um país está intimamente relacionado com a
disponibilidade de armas nucleares, mas também, com a capacidade de desenvolver a
guerra cibernética. A ciência e a tecnologia são utilizadas pelas grandes potências
militares na guerra cibernética como uma das armas da guerra moderna. A guerra
cibernética se apoia na tecnologia da informação e, modernamente, também nos avanços
proporcionados pela inteligência artificial.
A guerra cibernética consiste, basicamente, no uso de ataques digitais para fins
de espionagem ou sabotagem contra as estruturas estratégicas ou táticas de um país. A
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espionagem visa roubar informações táticas e estratégicas como dados sobre a
movimentação de tropas, os pontos fortes e fracos do sistema bélico do país e qualquer
outra informação valiosa sobre recursos necessários para a guerra. Na sabotagem, pode ir
de uma ação simples como derrubar os servidores de um site governamental a algo
extremamente nocivo como fazer o lançamento de uma ogiva nuclear. A sabotagem se
resume a “fazer algo” ao contrário da espionagem, que se resume a “descobrir algo”.
Na guerra cibernética, hackers com apoio do Estado, sejam membros das forças militares
de um país, ou financiados por tal país, atacam computadores e redes de países oponentes
que afetem recursos necessários para a guerra. Eles fazem isso da mesma forma que
em qualquer outro computador ou sistema, isto é, estudam o sistema profundamente,
descobrem suas falhas e usam essa falhas para controlar esse sistema ou destruí-lo.
Hackers podem usar informações confidenciais destinadas a outrem (espionagem) para
ganhar a dianteira na batalha contra seu adversário. Podem descobrir a velocidade de um
míssil e construir outro míssil ou um avião que possa ultrapassá-lo. Podem descobrir para
onde o inimigo está movendo suas tropas e planejar uma emboscada como aconteceu
contra o general iraniano Soleimani que foi assassinado realizado pelo Exército dos
Estados Unidos em 3 de janeiro de 2020 em um bombardeio no aeroporto de Bagdá.
Hackers podem descobrir quais cientistas são importantes na criação de armas e atacá-los
diretamente como aconteceu com o assassinato em 27/11/2020 do cientista iraniano
Mohsen Fakhrizadeh atribuído a Israel segundo informações divulgadas pela CNN
americana. Mohsen Fakhrizadeh era o principal cientista nuclear do Irã quando foi
alvejado por balas em uma rodovia próxima de Teerã.
Quando o país possui o controle desses sistemas, é possível, também, sabotar pessoas e
estruturas. Ao descobrir como as tropas estão se comunicando, o país ganha acesso à rede
para que possa confundir o inimigo e invadir a base deles. Poderia invadir seus
sistemas/contas e fraudá-los, se passando por um deles. Ou poderia usar essas
informações para controlá-los e chantagear pessoas por causa de algo achado no
computador ou sequestrar suas famílias usando informações privadas.
Destruir os sistemas de países inimigos tem um resultado óbvio: destrói o que controla
esse sistema, e, consequentemente, impede-o de funcionar. Um exemplo comum de
ciberguerrilha é o uso de ataques para desativar sites governamentais e redes sociais. Essa
tática foi usada efetivamente pelos russos durante a Guerra da Ossétia do Sul em 2008,
causando caos e espalhando informações falsas para a população antes e durante a invasão
russa.
A guerra cibernética tem como alvo qualquer setor importante para a infraestrutura do
inimigo. Isso significa setores como o exército, a defesa nacional e a indústria bélica. No
entanto, esses alvos também podem ser fábricas de armas, minas e outras manufaturas
que auxiliem no funcionamento dessas fábricas e o sistema elétrico, que fornece
energia para todos esses setores.
Na sua versão mais assustadora, a guerra cibernética pode ter como alvo o recurso
estratégico mais importante de um país que é sua população. Um hacker poderia fazer um
ataque terrorista para desestabilizar ou desmotivar uma população a lutar. Isso implica
em desencadear uma guerra financeira com ataques aos setores financeiros, que
causariam danos econômicos ou ataques a sistemas de comunicação para desativar a rede
de telefonia e a internet.
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A guerra cibernética não faz nenhuma distinção entre alvos civis e militares. Apesar de
um míssil causar um dano muito maior do que um vírus, um ciberataque pode resultar em
perdas e mortes de civis. Se houvesse um ataque ao sistema energético de qualquer país
e o sistema fosse destruído por um ciberataque não seriam só as fábricas de armas que
parariam de funcionar. Um ataque desses resultaria também em acidentes de trânsito,
cirurgias interrompidas, falhas em máquinas de suporte à vida quando uma quantidade
elevada de pessoas poderia morrer.
É muito difícil descobrir o autor de um ciberataque nem os governos que financiam esses
ataques. Um aspecto que faz as armas digitais piores do que as armas nucleares é o de
descobrir quem fez o ataque. É muito fácil esconder a origem de um ataque desses
mascarando a identificação do autor dos ataques. Mesmo que o governo descubra de qual
computador o ataque foi efetivado, ainda existe a dificuldade de descobrir quem era a
pessoa atrás da tela e é ainda mais difícil saber se ele era, ou não, um agente do governo.
Clausewitz afirmou que a guerra é um ato de violência para impor a vontade de um
beligerante a seu inimigo. O chinês Sun Tzu acrescenta que “a maior proeza militar é
vencer sem combater”: a astúcia e a manipulação apresentam mais vantagens do que a
agressividade para impor sua vontade sobre os outros. A guerra cibernética, definida com
a utilização de meios para controlar países ou empresas, transforma radicalmente os três
componentes históricos da guerra: a espionagem, a sabotagem e a guerra da informação,
na linha observada por Sun Tzu.
Não existem dúvidas sobre o uso da capacidade cibernética com o objetivo de conseguir
vantagem política, econômica e militar. Segundo se noticia, de um lado, China, Rússia,
Irã e Coreia do Norte e, de outro, Estados Unidos, Israel, Reino Unido e França dispõem
de meios cada vez mais sofisticados para obter informações de governos e de empresas
para influir na vida das pessoas e destruir a infraestrutura e objetivos estratégicos de seus
oponentes.
O mundo entrou numa fase de guerra permanente: sem frente de batalha e sem regras de
engajamento. A guerra cibernética se assemelha à guerra insurrecional, com a diferença
de poder planejar e executar a ação à distância, longe do inimigo. A utilização de
algoritmos de inteligência artificial multiplicará o impacto das ações e criará no
adversário novas vulnerabilidades. Será mais difícil a identificação de seus autores, pela
utilização dos robôs para autorizar a difusão de falsas informações nas redes sociais ou
para a disponibilização com livre acesso de algoritmos permitindo incluir pessoas em
qualquer vídeo e de colocar em sua boca o que se deseje que ele diga. É possível que já
estejam acontecendo operações de espionagem cibernética, de sabotagem ou de
influência comandadas de maneira completamente autônoma, necessitando apenas do
sinal verde de alguém.
O entendimento de que a tecnologia 5G possa ser explorada para espionagem e sabotagem
de instalações de infraestrutura, rede de comunicação e centros financeiros passou a ser
uma nova preocupação e está na raiz da proibição da compra de produtos da Huawei
chinesa para as redes 5G públicas ou privadas nos Estados Unidos. A nova guerra fria
entre os Estados Unidos e a China começou com o comércio, mas deve se deslocar
rapidamente para a tecnologia, em que a China dá mostras de estar à frente dos Estados
Unidos nos avanços da aplicação da última geração 5G.
Tudo que acaba de ser relatado deixa bastante evidenciado que a ciência e a tecnologia
estão a serviço não apenas da emancipação humana, mas também a serviço da guerra e
da destruição da humanidade. Na verdade a ciência e a tecnologia passaram a ser
9. 9
utilizadas para o bem e para o mal. A expectativa de que a ciência e da tecnologia seria
utilizada exclusivamente para o progresso da humanidade foi dolorosamente
interrompida por eventos que marcaram a sociedade atual sendo os principais deles sem
dúvida às catástrofes da 1ª e da 2ª Guerra Mundial. Na verdade a ciência contribuiu para
a barbárie de duas guerras mundiais com a invenção de armamentos bélicos poderosos e
destrutivos e continua contribuindo para a sofisticação da guerra moderna.
O poder nuclear e a capacidade de desencadear a guerra cibernética das grandes potências
faz com que os as forças armadas dos demais países se tornem irrelevantes haja vista que
seriam incapazes de fazer frente ao poderio militar das grandes potências (Estados
Unidos, Rússia, China) e de potências militares médias (Reino Unido, França, India,
Coréia do Norte, Paquistão e Israel). Esta situação se torna bastante evidente no caso de
países que não detém armas nucleares e não são capazes de desencadear a guerra
cibernética. Apenas países como o Reino Unido, França, India, Coréia do Norte,
Paquistão e Israel seriam capazes de dissuadir qualquer ameaça contra seus países pelo
fato de serem detentores de armas nucleares. Este não é o caso do Brasil que, além de ser
dependente econômica e tecnologicamente do exterior, tem forças armadas incapazes de
fazer frente a qualquer ameaça, sobretudo das grandes potências e não ser detentor de
armas nucleares e não ter capacidade de desencadear guerra cibernética.
Fatos recentes demonstram a incapacidade das forças armadas de inúmeros países para
fazerem frente ao poderio militar das grandes potências. Em 1982, na guerra das
Malvinas, as forças armadas da Argentina foram derrotadas pelas do Reino Unido em um
mês e meio. Em 2003, na guerra do Iraque, os Estados Unidos, o Reino Unido e um
punhado de nações aliadas, lançaram uma pesada campanha de bombardeio aéreo contra
as principais cidades do Iraque, principalmente Bagdá e em menos de um mês
sobrepujaram o exército iraquiano e conseguiram ocupar o país. Em 2013, o governo dos
Estados Unidos anunciou a intenção de bombardear a Síria com o objetivo de derrubar o
presidente sírio Bashar Al-Assad que só não aconteceu porque a Síria contou com o apoio
militar da Rússia. Estes exemplo demonstram que os países não detentores de poder de
dissuasão só terão condições de evitar sua ocupação pelas grandes potências se estiverem
aliados a uma das grandes potências como foi o caso da Síria.
O Brasil, por exemplo, é um país que não tem a mínima condição de dissuadir qualquer
ameaça externa e não possui recursos para alcançar o poder de dissuadir qualquer ameaça.
Diante deste fato, os gastos militares do Brasil são na sua quase totalidade improdutivos.
A defesa militar do Brasil não terá condições de ser fortalecida destinando 80% do
Orçamento militar para gastos com pessoal (salários, aposentadoria, entre outros) que se
situam neste nível desde 1999 em detrimento dos investimentos em tecnologia militar. Só
para comparar, na França o percentual do gasto com pessoal tem caído quase
continuamente, chegando a 46% em 2016. Atitude racional na era contemporânea
consistiria em reduzir drasticamente os gastos militares no Brasil para destinar parte
desses recursos destinados à manutenção das forças armadas para outro fim mais
produtivo qual seja participar da luta contra o terrorismo, no resgate e socorro no caso de
desastres, na assistência humanitária como no combate à pandemia do novo Coronavirus
e na reconstrução diante das calamidades. Por sua vez, a política externa do Brasil deveria
estar centrada na luta pela paz mundial e pelo desarmamento, sobretudo nuclear, diante
da incapacidade do País de dissuadir ameaças externas das grandes e médias potências
militares.
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Além dos gastos militares do Brasil serem improdutivos pela incapacidade das forças
armadas de dissuadir qualquer ameaça externa, os recursos utilizados têm uma má
destinação pelo fato de serem aplicados em cerca de 80% com pessoal e não no
desenvolvimento da tecnologia militar. Outro absurdo que está acontecendo no governo
Bolsonaro reside no fato de a proposta de Orçamento para 2021 destinar uma fatia
considerável do aumento das despesas às Forças Armadas em detrimento dos gastos com
a Educação e a Saúde. Outros ministérios foram preteridos também em relação às Forças
Armadas como Meio Ambiente (queda de 4,7%), Agricultura (redução de 1,7%) e
Desenvolvimento Regional (menos 6%). A pasta de Ciência e Tecnologia, por sua vez,
teve um redução grande da sua proposta de orçamento (queda de 25%) (Ver o artigo de
Mariana Schreiber sob o título Os gastos bilionários que Bolsonaro propõe para a Defesa
e que levarão a cortes em outras áreas em 2021 publicado em 31 agosto 2020 no website
<https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53969636>).
Pelo exposto, fica evidenciado o imenso poder militar das grandes potências e a
incapacidade de países como o Brasil para dissuadir ameaças externas. Para o Brasil
adquirir a capacidade de dissuadir as grandes potências teria que ser detentor de armas
nucleares e de capacidade para desencadear guerra cibernética condição é difícil de ser
implementada porque o País não dispõe de recursos para alcançar este objetivo. Trata-se
de uma anomalia que precisa ser eliminada no Brasil, o País assumir gastos militares
elevados como os atuais quando existem carências em setores importantes da vida
nacional como educação, saúde, ciência e tecnologia, meio ambiente e economia
nacional. Não tem sentido o País assumir gastos extremamente para manter forças
armadas improdutivas como a do Brasil incapazes de dissuadir ameaças externas. A
atitude racional seria o governo brasileiro reduzir drasticamente os gastos militares para
destinar esses recursos aos setores mais necessitados do Brasil e, no futuro, deixar de
possuir forças armadas como fizeram Costa Rica (que não as possuem desde 1949),
Liechtenstein (que não as possuem desde 1868), Ilhas Samoa, Dominica, Tuvalu, Cidade
do Vaticano e Grenada.
* Fernando Alcoforado, 81, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC-
O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil
(Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI
ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary
Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr.
Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do RioPardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
RioPardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora
CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no
Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que
Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba,
2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-
autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).