1) O declínio econômico dos EUA na primeira década do século 21 contrastou com o crescimento da China, que pode se tornar a maior potência mundial em meados do século 21.
2) Alguns acreditam que conflitos entre EUA e China são inevitáveis, enquanto outros defendem a cooperação para alcançar interesses mútuos.
3) A China está construindo seu poderio naval e militar para controlar o Oceano Pacífico e desafiar a liderança dos EUA na Ásia, ao mesmo tempo em que ampl
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O confronto estados unidos e china na era contemporânea
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O CONFRONTO ESTADOS UNIDOS E CHINA NA ERA CONTEMPORÂNEA
Fernando Alcoforado *
O declínio econômico dos Estados Unidos se acentuou na primeira década do século 21
ao tempo em que ocorreu a ascensão econômica da China que pode assumir a condição
de maior potência mundial em meados do século 21. Não fica claro, entretanto, se
haverá um final feliz para a humanidade. Se a prosperidade da China acontecer à custa
da inviabilização da recuperação das economias dos Estados Unidos e da União
Europeia e, também, da economia mundial, poderia levar os Estados Unidos e outros
países a confrontá-la nos campos econômico e militar.
Robert D. Kaplan, jornalista norte-americano estudioso de política internacional, afirma
que a emergência da China como uma superpotência é inevitável e que conflitos de
interesses com os Estados Unidos serão incontornáveis. Ele admite uma confrontação
militar entre os Estados Unidos e a China. Kaplan sugere uma coalizão suficientemente
ampla para o enfrentamento da China nos moldes da organizada para derrotar a
Alemanha na Segunda Guerra Mundial (BRUSSI, Antônio José Escobar. A pacífica
ascensão da China: perspectivas positivas para o futuro? Brasília: Revista Brasileira de
Política Internacional, vol.51, no.1, 2008).
James Pinkerton, escritor e analista político norte-americano, é um duro crítico da
estratégia de contenção militar de Kaplan e da proposta de acomodação de Kissinger
que entende que o interesse americano será muito mais facilmente alcançado a partir da
cooperação com a China. Pinkerton se opõe a Kaplan porque considera inviável uma
coalizão suficientemente ampla para o enfrentamento da China. Pinkerton propõe que,
ao invés do enfrentamento direto, o governo dos Estados Unidos coloque as atuais
potências asiáticas (Índia, China e Japão) umas contra as outras (BRUSSI, 2008).
Para ascender à condição de potência hegemônica do planeta, a China terá que adotar 6
estratégias: 1) alcançar níveis elevados de crescimento econômico para ultrapassar os
Estados Unidos; 2) elevar continuamente sua participação no comércio internacional
para liderá-lo; 3) retirar dos Estados Unidos a liderança econômica e militar na Ásia, o
que significa atingir o cerne do poder norte-americano na região; 4) impedir a Índia de
se constituir como polo autônomo de atração econômica na Ásia, possivelmente em
alinhamento com os Estados Unidos; 5) tornar-se potência imprescindível para a paz no
golfo Pérsico entre persas (Irã) e árabes (particularmente a Arábia Saudita) com o
declínio da influência dos Estados Unidos nesta região; e, 6) reforçar a aliança
econômica e militar com a Rússia.
A China está construindo uma grande força naval para controlar o Oceano Pacífico
tendo como objetivo imediato frear o poderio militar americano no Pacífico ocidental.
Os chineses estão construindo uma força defensiva, que inclui armas que podem atingir
alvos militares norte-americanos. Os gastos militares chineses vão ultrapassar os
orçamentos combinados das doze outras grandes potências da Ásia-Pacífico (WINES,
Michael. EUA e China procuram acordar estratégia militar. Disponível no website
<http://www1.folha.uol.com.br/mundo/944409-eua-e-china-procuram-acordar-
estrategia-militar.shtml>).
A China está aumentando o seu poder naval com a construção de ilhas artificiais em
uma área marítima detentora de grandes reservas de petróleo em disputa com o Japão,
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no Mar do Sul da China. Segundo a revista The Economist, a China vai ultrapassar os
gastos militares dos Estados Unidos até 2025 (ALVES, José Eustáquio Diniz. EUA,
China e Índia: disputa de hegemonia e destruição do meio ambiente. Disponível no
website <http://www.ecodebate.com.br/2012/01/13/eua-china-e-india-disputa-de-
hegemonia-e-destruicao-do-meio-ambiente-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/>).
A partir do ano 2000 a Rússia resolveu desenvolver uma parceria estratégica com a
China. A Rússia considerou que a China poderia ajudá-la na sua resistência às ambições
geopolíticas dos Estados Unidos tanto na Europa Oriental, quanto no Cáucaso ou na
Ásia Central. A Organização da Cooperação de Xangai (Shanghai Cooperation
Organization – SCO) foi criada em 2001 para estabelecer uma aliança entre a Rússia e a
China em termos militares e de combate ao terrorismo, ao fundamentalismo religioso e
ao separatismo na região da Ásia (MAZAT, Numa e SERRANO, Franklin. A
Geopolítica das Relações entre a Federação Russa e os EUA: da “Cooperação” ao
Conflito. Disponível no website
<http://www.revistaoikos.org/seer/index.php/oikos/article/view/293>, 2012).
Numa Mazat e Franklin Serrano (2012) afirmam que a parceria entre a China e a Rússia
existe, também, no setor do armamento. Ao longo da década de 1990, as vendas de
armas para a China foram essenciais para a sobrevivência do complexo militar-
industrial russo. A Rússia é o maior fornecedor de armas modernas da China. Enfim, a
parceria estratégica entre China e Rússia é tão fundamental para os dois países que as
divergências de interesses, naturais entre as duas potências, por mais importantes que
sejam, não foram capazes de ameaçar a colaboração entre os dois países no que diz
respeito à tentativa de limitar o poder dos Estados Unidos.
Para barrar a ascensão da China como potência hegemônica do planeta, a estratégia
militar norte-americana está centrada na região Ásia-Pacífico, Como aliado dos Estados
Unidos, o Japão colabora com a estratégia norte-americana de “cerco” da China
reforçando seu poder militar até 2020 (SOUZA, Ricardo. Japão reforça estratégia
militar para reagir à China. Disponível no website
<http://www.portugues.rfi.fr/geral/20101217-japao-reforca-estrategia-militar-para-
reagir-china>, 2010).
A alternativa de não confrontação com a China resultaria da interdependência
econômica existente entre os Estados Unidos e a China porque esta depende do
mercado e dos investimentos norte-americanos e os Estados Unidos precisam do Banco
Central chinês para comprar boa parte dos títulos da dívida dos Estados Unidos. Esta
situação reforça a posição defendida por Henry Kissinger, ex-Secretário de Estado
norte-americano, que entende que o interesse americano será muito mais facilmente
alcançado a partir da cooperação com a China.
Nos Estados Unidos, há opositores e defensores de uma postura de confrontação com a
China no campo econômico. Há aqueles que pedem uma fiscalização mais dura pelos
Estados Unidos das regras comerciais domésticas e internacionais e que o governo
Trump se esforce para pressionar a China a abrir setores de sua economia nos quais os
investimentos estrangeiros são restritos. Eles afirmam que essas medidas deveriam ser
empreendidas junto com esforços para atrair a China para novos acordos comerciais e
de investimentos com os Estados Unidos. Outros são temerosos de que Trump possa
desencadear uma destrutiva guerra comercial entre as duas maiores economias do
mundo que seria prejudicial a ambas. Há outros que consideram a China cada vez mais
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protecionista e mercantilista não deixando outra opção para Trump a não ser adotar uma
postura mais dura cumprindo as promessas de campanha para se impor na relação com
Pequim.
Por sua vez, as autoridades chinesas acreditam que Trump vai adotar uma politica
relativamente moderada por causa dos profundos laços econômicos entre os dois países
e dos danos que uma guerra comercial infligiria a ambos. Entendem que as economias
dos Estados Unidos e da China estão tão intimamente ligadas que uma retaliação
chinesa a medidas de Trump afetaria os interesses do povo americano (DONNAN,
Shawn e HORNBY, Lucy. Especialistas americanos apoiam postura mais dura com a
China. Disponível no website
http://salvador2012.blogspot.com.br/2017/02/especialistas-americanos-apoiam-
postura.html, 2017).
*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas,
Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet
(http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.
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