1) O autor descreve o fascismo nos EUA como defendendo os interesses do capital globalizado através de grande concentração de riqueza, cooperação entre empresas e governo, e controle da população.
2) Ele concorda que os EUA lideram um império global capitalista e usam força militar e desestabilização política para manter a hegemonia.
3) Isso promove o avanço do fascismo em escala global e pode exigir uma revolução em larga escala para derrubar o capitalismo neoliberal.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Capitalismo e fascismo global segundo Pollack
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CAPITALISMO E FASCISMO GLOBAL
Fernando Alcoforado*
Do livro Capitalism, Hegemony and Violence in the Age of Drones (Capitalismo,
Hegemonia e Violência na Era dos Drones) do falecido historiador norte-americano
Norman Pollack que foi professor emérito de História na Michigan State
University, publicado pela Springer Nature em 2018, eu destaco a afirmativa de Pollack
de que "o fascismo nos Estados Unidos, em qualquer estágio gestacional, avança contra
o povo”. Na visão de Pollack, o fascismo é mais do que um arranjo político
historicamente temporário, como na Alemanha, Itália, Japão e outros países entre as
duas grandes guerras mundiais. O fascismo é um estado social geral. Pollack afirma que
o fascismo não exige o campo de concentração, perseguição ou tortura, embora sua
ameaça e potencial permaneçam presentes sempre. Em vez disso, o fascismo pode ser
apreendido através de vários índices como, por exemplo, concentração extrema de
riqueza; a coparceria entre os negócios e os governos, como uma interpenetração
estrutural de poderosas instituições que promovem o capital monopolista, restringe a
organização sindical e a militância trabalhista e cria um Estado forte, baseado no poder
militar e na supremacia comercial; também encorajando uma base de massa
complacente, submissa ao poder e à riqueza, amarrada em nós ideológicos através da
falsa consciência e da intimidação, intelectualmente quebrada através de mídia,
propaganda e sinais de cima.
Pollack afirma que os Estados Unidos têm campos de concentração. Tem os chamados
centros de detenção que aprisiona um número secreto de pessoas, administrado por
empresas privadas. Os Estados Unidos têm mais de três milhões de pessoas
encarceradas nas prisões, quase metade das quais são pessoas pretas e pobres. A
propaganda oficial demoniza uma minoria religiosa etiquetada como muçulmana.
Google, Boeing, Raytheon, grandes bancos e companhias de seguros gozam do mesmo
status que os aparelhos estatais como o polvo de inteligência militar que examina todas
as pessoas e realiza operações secretas para derrubar governos em todo o mundo. Essas
entidades estatais-privadas incluem a tortura como parte de sua panóplia diária. Os
meios de comunicação lidam com um fluxo interminável de notícias falsas, filmes de
Hollywood dirigidos pela CIA e todos os vários instrumentos de relações públicas com
campanhas todas elas a serviço do aparelho de negócios-estado que molda a consciência
pública como se fosse uma massa alienada.
Pollack afirma que, embora alguns falem de um Império Americano, é mais preciso
dizer que os Estados Unidos são a organização executiva-chefe do império mundial do
capital. Em outras palavras, pode-se afirmar que é nos Estados Unidos onde se localiza
o estado maior fascista em defesa do capitalismo globalizado. Pollack ressalta que o
governo dos Estados Unidos realiza assassinatos por drones, ocupa países estrangeiros,
cria e apóia guerrilhas terroristas, como o Estado Islâmico, em todo o mundo. O
governo dos Estados Unidos oprime e investiga sua própria população doméstica. Faz
tudo isso a serviço, não para o engrandecimento nacionalista, mas a serviço do capital
global. Eu penso que se trata de um fascismo diferente do fascismo antigo que
representou uma reação das forças conservadoras de diversos países da Europa contra a
ascensão dos trabalhadores ao poder após a vitória do socialismo na União Soviética em
1917 e se baseava em concepções fortemente nacionalistas e no exercício totalitário do
poder, portanto contra o sistema democrático e liberal, e repressivo ante as ideias
socialdemocratas, socialistas e comunistas. O fascismo antigo implantado durante as
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décadas de 1920 e 1930 do século XX se baseava em um Estado forte, totalitário, que se
afirmava encarnar o espírito do povo, no exercício do poder por um partido único cuja
autoridade se impunha através da violência, da repressão e da propaganda política.
O fascismo atual nos Estados Unidos tem dupla conotação, sendo nacionalista ao
desenvolver ações que visam manter a hegemonia mundial norte-americana e globalista
ao empreender ações em defesa do capitalismo globalizado. Concordo com Pollack
quando afirma que a sombra do fascismo não caiu apenas sobre os Estados Unidos, mas
engloba, também, todas as nações que abrigam os centros do capitalismo mundial. Não
importa onde, porque os interesses do capital e da classe dominante global devem ser
atendidos por todos os aparelhos estatais do mundo. Concordo com Pollack quando ele
afirma que, o mundo de hoje se assemelha ao período entre as duas guerras mundiais
quando o fascismo surgiu em toda a Europa. A causa subjacente é a mesma: uma crise
no capitalismo. Além disso, a crise decorre da mesma condição: uma queda da taxa de
lucro no processo de acumulação de capital, especialmente sob a forma de capital
fictício ou financeiro, e uma composição orgânica de capital em que a produção
depende cada vez mais de máquinas ou robôs que substituem o trabalho humano. O
resultado é que o valor da produção diminui, e com esse declínio os lucros diminuem.
Concordo com Pollack quando afirma que, para manter sua posição hegemônica e tentar
controlar a China e a Rússia, os Estados Unidos dependem fortemente da força militar
direta e indiretamente. Sustentar sua posição preeminente significa o governo dos
Estados Unidos manter pelo menos mil bases militares em todo o mundo. Para sustentar
sua vigorosa hegemonia mundial, o governo dos Estados Unidos empobrece a maior
parte de sua população, excluindo os poucos milhares de pessoas que possuem a maior
parte da riqueza e controlam todo o capital. Concordo com Pollack quando afirma que,
além da força militar, os Estados Unidos e seus aliados ocidentais usam duas
estratégias: 1) apoiam regimes autoritários; e, 2) desestabilizam países que fazem ou
podem potencialmente seguir políticas independentes. A primeira dessas estratégias foi
adotada na América Latina com o apoio às ditaduras militares implantadas nas décadas
de 1960, 1970 e 1980 no Brasil, no Chile, na Argentina, entre outros países. A segunda
dessas estratégias foi levada avante no Iraque, Afeganistão, Líbia e Siria. O exemplo
mais extremo de desestabilização aconteceu na Síria, onde as potências do Ocidente
criaram várias guerrilhas antigovernamentais concorrentes e até invadiu e ocupou uma
parte da Síria.
Concordo com Pollack quando afirma que, ambas as estratégias acima citadas
promovem o caos mundial crescente e incentivam o avanço do fascismo. O fascismo
americano se juntou ao fascismo europeu e, no Japão, há um retorno claro ao fascismo,
especialmente o militarismo, para apoiar os esforços do bloco ocidental para controlar a
China. Em suma, a atribuição de Pollack de avanço do fascismo nos Estados Unidos faz
parte de uma tendência global. Pollack afirma que esta mesma situação no início do
século XX exigiu duas guerras mundiais e a Grande Depressão mundial para solucionar
a crise do capitalismo. O que se seguiu foi a chamada idade de ouro que durou cerca de
25 anos, de 1945 a 1970, após a Segunda Guerra Mundial. As guerras e a Grande
Depressão destruíram o capital então existente. Conseguir uma destruição semelhante
do capital, desta vez em uma escala mais global, poderia muito bem exigir não apenas a
destruição do capital, mas muito da civilização humana. Basta lembrar a devastação
mundial provocada pela Segunda Guerra Mundial.
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À medida que a opressão do capitalismo globalizado neoliberal e fascista se estende por
todos os setores da vida em todo o mundo, a possibilidade de revolta adquire aspecto de
uma guerra civil em escala global. A destruição da sociedade mercantil totalitária passa
a ser uma necessidade imperiosa em um mundo que já está condenado. Os motins
renascem em toda parte do planeta e anunciam a futura revolução. Para combater a
servidão moderna que toda a humanidade está submetida é preciso desencadear em
escala planetária a luta contra o globalizado capitalismo neoliberal e o fascismo
moderno que demonstram serem os maiores inimigos de todos os povos do mundo. Um
fato é indiscutível: sem a derrocada do capitalismo neoliberal globalizado e do fascismo
moderno em escala nacional e global, não serão superados os problemas que afetam a
humanidade.
*Fernando Alcoforado, 78, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas,
Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016) e A Invenção de um novo
Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017).