1) O artigo descreve quatro cenários possíveis para a evolução da crise no Egito após a Primavera Árabe, incluindo a manutenção do status quo ou avanços democráticos.
2) Inicialmente, o Egito seguiu o Cenário 4, com avanços democráticos que levaram à eleição de Mursi, mas a crise econômica continuou.
3) Grandes protestos levaram ao golpe militar contra Mursi, colocando o Egito no Cenário 2
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Da primavera árabe à ditadura no egito
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DA PRIMAVERA ÁRABE À DITADURA NO EGITO?
Fernando Alcoforado*
Em 17/02/2011, publicamos no Blog de Falcoforado (http://fernando.alcoforado.zip.net)
o artigo Cenários futuros de evolução da crise no Egito (2) no qual foram traçados os
cenários de evolução da crise descritos a seguir:
Cenário 1: Classes dominantes, Exército e Estados Unidos/ União Europeia unificados
em torno do objetivo de manter o estado egípcio sob seu controle obtêm sucesso na
superação da crise econômica e social. Movimentos Sociais unificados na luta pelo
controle do estado egípcio obtêm concessões importantes com a implantação da
democracia representativa no Egito e na realização de avanços nos planos econômicos e
sociais. Neste cenário, o processo político não seria radicalizado.
Cenário 2: Classes dominantes, Exército e Estados Unidos/ União Europeia unificados
em torno do objetivo de manter o estado egípcio sob seu controle não obtêm sucesso na
superação da crise econômica e social. Movimentos Sociais unificados radicalizariam a
luta pelo controle do estado egípcio visando a implantação da democracia representativa
no Egito e a realização de mudanças econômicas e sociais importantes. Este cenário
poderia levar também a retrocessos se um movimento islâmico surgir para tomar o
controle do Estado numa repetição da Revolução Iraniana de 1979 ou se as Forças
Armadas impedirem uma transição, ainda que conturbada, para a democracia. Poderiam
acontecer também avanços políticos como o ocorrido na Turquia moderna em que os
militares atuariam de forma a conter o radicalismo islâmico dentro de um modelo
constitucional.
Cenário 3: Classes dominantes, Exército e Estados Unidos/ União Europeia unificados
em torno do objetivo de manter o estado egípcio sob seu controle obtêm sucesso na
superação da crise econômica e social. Movimentos Sociais divididos entre si na luta
pelo controle do estado egípcio obtêm concessões limitadas na implantação da
democracia representativa no Egito e na realização de avanços nos planos econômicos e
sociais. Neste cenário, o processo político não seria radicalizado.
Cenário 4: Classes dominantes, Exército e Estados Unidos/ União Europeia unificados
em torno do objetivo de manter o estado egípcio sob seu controle não obtêm sucesso na
superação da crise econômica e social. Movimentos Sociais, divididos inicialmente,
tendem a crescer e a se unificarem radicalizando a luta pelo controle do estado egípcio
visando a implantação da democracia representativa no Egito e a realização de
mudanças econômicas e sociais importantes. Este cenário poderia ser radicalizado e se
transformar no Cenário 2.
De fevereiro de 2011 até o momento atual, os cenários 1 e 3 não aconteceram porque as
Classes dominantes, Exército e Estados Unidos/ União Europeia unificados em torno do
objetivo de manter o estado egípcio sob seu controle não obtiveram sucesso na
superação da crise econômica e social do Egito. Após a queda do regime de Mubarak,
prevaleceu o Cenário 4 quando houve avanços na implantação da democracia
representativa no país da qual resultou a eleição de Mohamed Mursi vinculado à
Irmandade Muçulmana.
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Durante o governo do presidente Mursi, surgido de uma poderosa revolução
democrática, o Egito enfrentava uma grave crise socioeconômica, com 8% de inflação,
desemprego em torno de 15% (entre os jovens chega a 40%) e uma economia
semiparalisada, onde o turismo, uma das principais fontes de divisas, responsável por
10% do PIB decaiu 30%. No dia 30 de junho passado, uma multidão de 17 milhões de
egípcios, equivalente a 35% da população do país (84 milhões de habitantes), exigiu a
saída do presidente Mursi.
Novamente, no dia 03 de julho, cerca de 30 milhões saíram às ruas em todo o Egito para
comemorar a queda de Mursi. Apesar da afirmativa de alguns analistas de que teria
havido um golpe de estado, houve na realidade outra revolução popular em que o
Exército assumiu o comando político do Egito devido ao fracasso do governo Mursi.
Mursi e a Irmandade Muçulmana foram removidos do poder depois de 12 meses
também por acreditar que os 51,7% dos votos obtidos em segundo turno em 2012 eram
um salvo-conduto para transformar o Egito em um país islâmico.
Após a queda de Mursi, os partidos de oposição ao governo, agrupados na Frente de
Salvação Nacional, deram apoio explícito ao Exército para que este tomasse o poder e
organizasse a “transição” rumo às eleições democráticas em seis meses. Os quatro
pontos que unificavam toda a oposição eram: 1) Renúncia imediata de Mursi; 2)
Governo de transição com eleições em pelo menos seis meses; 3) Medidas econômicas
em favor das massas populares; e, 4) Suspensão da atual Constituição e elaboração de
uma nova.
Constata-se, portanto, que o Egito evoluiu do Cenário 4 para o Cenário 2. Afirmamos
em fevereiro de 2011 que este cenário poderia levar também a retrocessos se um
movimento islâmico surgisse como ocorreu com a Irmandade Muçulmana que tentou
controlar o Estado repetindo a Revolução Iraniana de 1979 ou se as Forças Armadas
tentassem impedir uma transição, ainda que conturbada, para a democracia. Para conter
a ascensão da Irmandade Muçulmana e fazer prevalecer seus interesses, o Exército
interveio. A intervenção militar no Egito pode levar a avanços políticos como o
ocorrido na Turquia moderna ou a retrocessos com a instauração de uma ditadura
militar.
*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.S