O Iluminismo forneceu o lema da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) a seus seguidores que se opunham às injustiças, à intolerância religiosa e aos privilégios do absolutismo. No entanto, desde a Revolução Francesa em 1789 até o presente momento, as promessas políticas do Iluminismo foram abandonadas em todo o mundo com a adoção de práticas desumanas cada vez mais sofisticadas pelos governos e imperialistas pelas grandes potências capitalistas, o desencadeamento de 3 guerras mundiais (1ª Guerra Mundial, 2ª Guerra Mundial e a Guerra Fria), o advento do fascismo e do nazismo, a realização de de golpes de estado e implantação de ditaduras em vários países do mundo.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Insucesso da liberdade, igualdade e fraternidade
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O INSUCESSO NA CONQUISTA DA LIBERDADE, IGUALDADE E
FRATERNIDADE NO MUNDO
Fernando Alcoforado*
O Iluminismo forneceu o lema da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e
Fraternidade) a seus seguidores que se opunham às injustiças, à intolerância religiosa e
aos privilégios do absolutismo. No entanto, desde a Revolução Francesa em 1789 até o
presente momento, as promessas políticas do Iluminismo foram abandonadas em todo o
mundo com a adoção de práticas desumanas cada vez mais sofisticadas pelos governos
e imperialistas pelas grandes potências capitalistas, o desencadeamento de 3 guerras
mundiais (1ª Guerra Mundial, 2ª Guerra Mundial e a Guerra Fria), o advento do
fascismo e do nazismo, a realização de de golpes de estado e implantação de ditaduras
em vários países do mundo.
A Revolução Francesa que acenava com a perspectiva da conquista da liberdade, da
igualdade e da fraternidade teve seu lema colocado em xeque com a disseminação do
Terror sob o comando de Robespierre. No dia 27 de julho de 1794, data conhecida
como 9 Termidor pelo calendário da Revolução Francesa, Robespierre e seu partido
foram derrubados. Este episódio é denominado reação termidoriana. O general
Napoleão Bonaparte é colocado no poder, após o Golpe de 18 Brumário (9 de novembro
de 1799) com o objetivo de controlar a instabilidade social e implantar um governo
burguês instaurando uma ditadura. Constata-se, portanto, que a Revolução Francesa que
prometeu a liberdade se transformou, mais tarde, em ditadura com a dominação política
da burguesia.
Immanuel Wallerstein, sociólogo norte-americano, afirma que “a Revolução Francesa
abriu a caixa de Pandora e fez surgir as aspirações, expectativas e esperanças populares
que todas as autoridades constituídas- tanto conservadoras quanto liberais- tiveram
dificuldade de conter (WALLERSTEIN, Immanuel. Utopística ou as Decisões
Históricas do Século Vinte e Um. Petrópolis: Editora Vozes, 1998). O ano
de 1848 marcou o continente europeu com movimentos revolucionários que, a partir de
Paris, tiveram rápida propagação nos grandes centros urbanos. A consolidação do poder
político da burguesia na França e o surgimento do proletariado industrial enquanto força
política foram os reflexos mais importantes daquele ano, que também foi marcado pela
publicação do "Manifesto Comunista" de Marx e Engels. A burguesia apercebera-se dos
perigos das revoluções, tomando consciência de que os anseios políticos da grande
maioria da população poderiam ser atenuados com a concessão do sufrágio universal
que evitaria conflitos e sublevações.
Percebe-se que as teses políticas do Iluminismo fracassaram desde as revoluções
burguesas na Inglaterra (1640), nos Estados Unidos (1776) e na França (1789). Este
fracasso abriu caminho para o advento da ideologia marxista em todo o mundo que se
propunha a dar um passo à frente em relação ao Iluminismo buscando o fim da
exploração do homem pelo homem com a redução das desigualdades econômicas entre
as classes sociais e, no futuro, sua completa abolição com a implantação do comunismo.
Os fatos da história demonstram que as teses iluministas que nortearam as revoluções
burguesas no século XVIII e as teses marxistas com base nas quais foram realizadas as
revoluções socialistas no século XX fracassaram porque não cumpriram suas promessas
históricas de conquista da liberdade, igualdade e fraternidade entre os seres humanos.
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É importante observar que o projeto socialista como foi construido na União Soviética e
em outros países se transformou em capitalismo de estado, com o poder político
exercido de forma despótica e corrupta por uma burguesia de tipo novo (burguesia de
estado ou Nomenclatura). O proletariado, em nome do qual foi realizada a revolução
socialista não exerceu o poder e a população não participava das decisões dos governos.
O fim do socialismo como foi implantado na União Soviética e em outros países abriu
caminho para a ofensiva das forças conservadoras do Reino Unido e dos Estados
Unidos sob a liderança de Margaret Thatcher e Ronald Reagan que levaram avante a
contrarrevolução neoliberal cuja doutrina econômica defende a absoluta liberdade de
mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta ocorrer
em setores imprescindíveis e ainda assim num grau mínimo.
No mundo, a conquista da liberdade tem sido parcial com avanços e retrocessos, a
igualdade ainda não foi realizada e a fraternidade não foi alcançada porque a liberdade e
a igualdade são determinantes para sua realização. Sem a conquista da liberdade e da
igualdade não se realiza a fraternidade entre os seres humanos. O insucesso na conquista
da liberdade ao longo da história soma-se ao insucesso na conquista da igualdade social.
A desigualdade social chega a níveis alarmantes em todo o mundo. Thomas Piketty demonstrou
em sua obra Capital in the twenty-first century que houve crescimento contínuo
da desigualdade de riqueza desde a década de 1970, contrária à tendência dos 60 anos
anteriores e muito mais acentuada e socialmente relevante do que a desigualdade de
renda. De 1970 a 2010, o 1% mais rico (classes dominantes) detinha metade de toda a
riqueza, enquanto o 50% mais pobres (classes populares) ficava com meros 5%. O
número de bilionários, segundo Piketty, aumentou de 1.011 com uma riqueza total de
3,6 trilhões em 1970 para 1.826 com um valor agregado de 7,05 trilhões em 2010. Em
2010, esse grupo possuía praticamente o mesmo que a metade mais pobre da
humanidade. Cinco anos depois, açambarca mais do que o triplo (PIKETTY, Thomas.
Capital in the twenty-first century. Cambridge: The Belknap Press of Harvard
University Press, 2014).
Não é preciso demonstrar que vivendo em um mundo carente de liberdade para a grande
maioria da população e caracterizado por crescente desigualdade econômica e social
não poderia haver um ambiente de fraternidade entre os seres humanos. Para fazer com
que o lema “liberdade, igualdade e fraternidade” venha a prevalecer no futuro, é preciso,
portanto, remover os obstáculos à sua realização, isto é, o desumano sistema capitalista,
e substituí-lo por um modelo de sociedade que seja capaz de levar avante este lema. O
novo modelo de sociedade a substituir o sistema capitalista deveria resultar do
aperfeiçoamento do que se denomina social democracia nórdica ou escandinava
praticada na Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia. Apesar de suas
diferenças, todos eles compartilham alguns traços em comum: estado de bem-estar-
social universalista que é voltado para melhorar a autonomia individual, promovendo a
mobilidade social e assegurando a prestação universal de direitos humanos básicos e a
estabilização da economia.
*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
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Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas,
Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet
(http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.