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A redescoberta do imperialismo
                                   por John Bellamy Foster [*]


 Este texto foi originalmente escrito como introdução aos
 Ensaios sobre o imperialismo e a globalização , de Harry
      Magdoff, que deverá ser publicado na Índia pela
                  Cornerstone Publications.



O conceito de ―imperialismo‖ foi considerado fora do limite
aceitável do discurso político dentro dos círculos dirigentes do
mundo capitalista durante a maior parte do século XX. A
referência a ―imperialismo‖ durante a guerra do Vietname, não
importando se realista ou não, era quase sempre sinal de o
autor estar do lado esquerdo do espectro político. Numa
introdução à edição americana de 1971 Imperialismo nos anos
setenta de Pierre Jalée, Harry Magdoff observou, ―Como regra,
os académicos polidos preferem não usar o termo
'imperialismo'. Consideram-no desgostante e não científico‖.


Hoje, repentinamente, isto deixou de ser verdadeiro. Os
intelectuais americanos e a elite política estão calorosamente a
abraçar de forma aberta a missão ―imperialista‖ ou
―neoimperialista‖ dos Estados Unidos, reiteradamente
enunciada em publicações de prestígio como o New York
Times e a Foreign Affairs . Este fervor imperialista deve-se
muito à ―Guerra ao Terrorismo‖ da administração Bush, que
está a assumir a forma de conquista e ocupação do
Afeganistão e – se as suas ambições forem cumpridas – do
Iraque. De acordo com a Estratégia de Segurança Nacional da
administração Bush, não há limites ou fronteiras reconhecidas
ao uso do poder militar a fim de promover os interesses dos
Estados Unidos. Face a esta tentativa de expandir aquilo a que
só se pode chamar de Império Americano, intelectuais e figuras
políticas estão não só a regressar à ideia de ―imperialismo‖,
como à visão da mesma proposta pelos seus antigos
promotores do século XIX, ou seja, como constituindo uma
grande missão civilizadora. Comparações dos Estados Unidos
com a Roma Imperial e com o Império Britânico são agora
comuns na imprensa de referência. Tudo o que é preciso para
torná-la plenamente aproveitável é libertar o conceito das suas
velhas associações marxistas de hierarquia económica e de
exploração – para não mencionar o racismo.


De acordo com Michael Ignatieff, Professor de Política de
Direitos Humanos na Kennedy School of Government da
Universidade de Harvard em artigo no New York Times
Magazine (28/Jul/2002) ―[O] imperialismo costumava ser o
fardo do homem branco. Isto deu-lhe má reputação. Mas o
imperialismo não deixa de ser necessário só porque é
politicamente incorrecto‖. Referindo-se às operações de guerra
dos Estados Unidos no Afeganistão ele afirma: ―As forças
especiais não são assistentes sociais. São um destacamento
imperial, avançando o poder e os interesses americanos na
Ásia Central. Chamem a isso manter a paz ou construir uma
nação, chamem o que se quiser, política imperial é o que está
em marcha em Mazar. De facto, toda a guerra americana ao
terrorismo é um exercício de imperialismo. Isto pode ser um
choque para os americanos, que não gostam de pensar no seu
país como um império. Mas o que mais se pode chamar às
legiões de soldados, espiões e Forças Especiais americanos a
cavalgar o globo?‖ G. John Ikenberry, professor de Geopolítica
e Justiça Global na Universidade de Georgetown e colaborador
regular da Foreign Affairs , publicada pelo Council on Foreign
Relations, escreve nessa publicação (Setembro/Outubro de
2002):

      ―Nas sombras da guerra ao terrorismo da
      administração Bush, novas ideias abrangentes
      estão a circular acerca da grande estratégia
      americana e da reestruturação do mundo unipolar
      de hoje. Elas apelam ao direito unilateral e
      preferencial, até mesmo preventivo, de usar a
      força, facilitada se possível por coalizões de
      vontades — mas em última análise sem os
      constrangimentos das regras e das normas da
      comunidade internacional. No limite, estas noções
      formam uma visão neo-imperial em que os Estados
      Unidos se arrogam o papel global de estabelecer
      padrões, determinar ameaças, usar a força e fazer
      justiça‖.

Para Ikenberry isto não representa uma critica: ―Os objectivos
imperialistas americanos e o seu modus operandi ‖, ele nos diz,
―são muito mais limitados e benignos do que os os dos antigos
imperadores ‖.


Outras influentes figuras políticas e intelectuais não são menos
efusivas no seu apoio ao neoimperialismo americano.
Sebastian Mallaby, colunista no Washington Post e auto-
intitulado ―imperialista relutante‖, escrevendo na Foreign Affairs
(Abril de 2002) explica que ―a lógica do neoimperialismo é
demasiado atractiva para a administração Bush lhe resistir.‖
Max Boot, colunista do Wall Street Journal, observa no seu
artigo ―O caso para o Império Americano‖, na Weekly Standard
(15/Out/2001), que a ―America agora enfrenta a perspectiva da
acção militar em muitas das mesmas terras onde gerações de
soldados coloniais britânicos estiveram em campanha. Trata-se
de lugares em que as armas ocidentais tiveram de reprimir a
desordem. O Afeganistão e outras perturbadas terras do
mundo protestavam contra esta espécie de iluminada
administração estrangeira imposta pelos outrora auto-
confiantes britânicos com calças de montaria e capacetes de
cortiça‖. O ultimo livro do ensaísta do Atlantic Monthly , Robert
Kaplan, Políticas guerreiras, argumenta em favor de uma
cruzada norte americana ―para levar a prosperidade a distantes
partes do mundo sob a influência imperial americana‖. O
conselheiro presidencial para a Segurança Nacional do
presidente Carter, Zbigniew Brzezinski, advoga que a principal
tarefa dos Estados Unidos para preservar o seu império é
―impedir a colusão e manter a dependência entre vassalos,
manter os clientes dóceis e protegidos, e impedir que os
bárbaros se agrupem e ressurjam‖. Stephen Peter Rosen,
responsável de Estudos Estratégicos do Instituto Olin na
Universidade de Harvard, escreveu na Revista de Harvard
(Maio-Junho 2002): ―O nosso objectivo [da acção militar] não é
combater um rival, mas manter a nossa posição imperial bem
como a ordem‖. Henry Kissinger abre o seu livro ―Precisa a
América de uma política estrangeira?‖ com as palavras ―Os
Estados Unidos gozam de uma proeminência não rivalizada
nem mesmo pelos maiores impérios do passado‖.


Há regras, contudo para esta retomada dos conceitos de
"império" e "imperialismo" no discurso da elite política. Só as
motivações benevolentes dos Estados Unidos devem ser
enfatizadas. Os proponentes do novo imperialismo devem
limitar-se cuidadosamente aos conceitos militares e políticos de
império e imperialismo (evitando qualquer alusão ao
imperialismo económico). E eles devem evitar quaisquer
noções radicais que liguem imperialismo com capitalismo e
exploração.


A base económica do imperialismo


O nascimento da noção de imperialismo económico, em
oposição ao imperialismo genérico, surgiu nos Estados Unidos
há pouco mais de um século. No seu ensaio ―A base
económica do imperialismo‖ publicado pela primeira vez na
North American Review em 1898, na altura da guerra hispano-
americana Charles A. Conant argumentou que o imperialismo
era necessário para absorver o excesso de capital face à
escassez de oportunidades de investimento lucrativas – por
outras palavras, para aliviar o que ele chamava de problema do
―congestionamento de capital‖. Para Conant,

      Se os Estados Unidos realmente adquirirem
      possessões territoriais, estabelecerem quartéis-
      generais e guarnições, adoptarem o meio termo de
      proteger entidades nominalmente independentes,
ou contentarem-se com bases navais e
      representações diplomáticas como a base para os
      seus direitos ao livre comércio no Oriente, é
      apenas um pormenor circunstancial... O autor não
      advoga o ―imperialismo‖ por sentimento, mas não
      teme o nome se isso significar apenas que os
      Estados Unidos assegurarão o seu direito a
      mercados livres em todos os antigos países que
      estão a ser abertos ao excedente de recursos dos
      países capitalistas e assim aos benefícios da
      civilização moderna. Se esta política implica o
      governo directo de grupos de ilhas semi-selvagens
      pode ser um assunto para discussão, mas no lado
      económico da questão há apenas uma escolha –
      entrar por algum meio na competição do emprego
      do capital americano nesses países, ou continuar a
      duplicação de meios de produção e comunicação,
      com o excesso de produtos não consumidos, as
      convulsões que se seguem à estagnação do
      comércio, e os retornos decrescentes sobre os
      investimentos a que uma política tal negativa
      conduzirá.

O conflito entre as grandes potências do fim do século XIX e
inicio do século XX, sobre a divisão da África, a guerra Sino-
Japonesa (1894,1895), a guerra Hispano-Americana, a guerra
sul africana (dos Boers), e a guerra Russo-Japonesa,
assinalaram a ascensão de um novo imperialismo, associado
com o capitalismo monopolista, que era qualitativamente
diferente do colonialismo que o havia precedido. Isto conduziu
a uma teoria económica do imperialismo por parte dos
proponentes do mesmo — os quais já não o encaram como um
mero sentimento, como foi enfatizado na análise de Conant. As
mudanças no imperialismo também deram logo azo à
ascensão a uma análise crítica mais profunda que começa com
o clássico de John A. Hobson: "Imperialismo: Um estudo",
publicado pela primeira vez em 1902. Hobson era o principal
crítico britânico da guerra dos Boers e em consequência
desenvolveu sua crítica ao imperialismo. Num capítulo famoso
do seu livro intitulado ―The Economic Taproot of imperialism‖
Hobson observou:


Toda melhoria dos métodos da produção, toda concentração
da propriedade e do controle, parece acentuar a tendência [à
expansão imperialista]. À medida que uma nação após a outra
entra na economia da máquina e adopta métodos industriais
avançados, torna-se mais difícil para os seus fabricantes,
comerciantes e financeiros disporem lucrativamente dos seus
recursos económicos. Por todo o lado surge capacidade
produtiva excessiva, excesso de capital na busca de
investimento. É admitido por todos os homens de negócio que
o crescimento da capacidade produtiva no seu país excede o
crescimento no consumo, que mais bens podem ser
produzidos do que os que podem ser vendidos com lucro, e
que existe mais capital do que o que pode encontrar o
investimento lucrativo. É esta condição económica dos
negócios que forma a raiz principal do imperialismo.


O trabalho de Hobson não era socialista. Ele acreditava que o
imperialismo era devido ao domínio de determinados
interesses económicos e financeiros concentrados e que
reformas radicais que tratassem da má distribuição do
rendimento e as necessidades da economia doméstica
poderiam provocar o fim do impulso imperialista. Contudo seu
trabalho adquiriu um significado muito maior devido à influência
que exerceu nas análises marxistas ao imperialismo, que
emergiam neste tempo. A mais importante destas foi
―Imperialismo, estágio superior do capitalismo‖, de Lénine,
publicado pela primeira vez em 1916. O objectivo principal da
análise de Lénine era explicar a rivalidade inter-imperialista
entre as grandes potências que conduzira à Primeira Guerra
Mundial. Mas no processo de desenvolvimento da sua análise
Lénine relacionou o imperialismo com o capitalismo
monopolista, argumentando que ―na mais breve definição
possível ... o imperialismo é o estágio monopolista do
capitalismo‖. Ele explorou, dentro desse contexto, um conjunto
de factores económicos que foram bem além da má
distribuição do rendimento ou da procura de lucros de
determinadas empresas monopolistas privadas. O capitalismo
monopolista era encarado como um estágio novo, para além do
capitalismo competitivo, em que o capital financeiro, uma
aliança entre grandes empresas e capital bancário, dominava a
economia e o Estado. A competição não era eliminada mas
continuava principalmente entre um número relativamente
pequeno das firmas gigantes que era capazes de controlar
grandes partes da economia nacional e internacional. O
capitalismo monopolista, neste sentido, era inseparável da
rivalidade inter-imperialista, manifestando-se primariamente na
forma de uma luta pelos mercados globais. A resultante divisão
do mundo em esferas imperiais e o esforço que isto acarretou
conduziu directamente à Primeira Guerra Mundial. A
perspectiva mais complexa de Lénine acerca do imperialismo
foi além de uma argumentação que focalizasse simplesmente a
necessidade de encontrar saídas de investimento para o
excesso de capital. Ele também enfatisou o impulso em ganhar
controle exclusivo das matérias-primas e um controle mais
apertado dos mercados estrangeiros que decorria das
condições de globalização no estágio do capitalismo
monopolista.


Análises marxistas posteriores (e de radicais, não-Marxistas)
focalizaram mais do que Lénine o fez algumas das
características mais genéricas do imperialismo, características
do capitalismo em todos os seus estágios, tais como a divisão
entre o centro e a periferia, um aspecto que foi abordado por
Marx. Mas o significado de Lénine para uma nova e mais
desenvolvida forma do imperialismo, associado com a
concentração e a centralização do capital e o nascimento do
estágio do monopólio, manteve muito do seu significado nos
nossos dias — caracterizados pelo capitalismo monopolista
numa fase avançada da globalização. Na realidade, foi o
enorme êxito das teorias marxistas do imperialismo, as quais
puseram a descoberto a exploração sistemática do capitalismo
à periferia e as condições da rivalidade interimperialista com
grande pormenor — de forma que o imperador passou a ser
visto em toda a sua nudez — que fez com que o termo
"imperialismo" fosse apagado do discurso convencional.
Enquanto a União Soviética existiu e uma maré forte de
revoluções anti-imperialistas era evidente na periferia, não era
possível o capitalismo abraçar abertamente o conceito de
imperialismo em nome da promoção da civilização. As
intervenções militares dos Estados Unidos no terceiro mundo
para combater revoluções ou para obter o controle de
mercados foram explicadas invariavelmente, dentro do discurso
oficial dos Estados Unidos, em termos de Guerra Fria e não em
termos de objectivos imperiais.


A era do imperialismo


A era do imperialismo de Harry Magdoff, publicado em 1969,
distinguiu-se por ter sido a mais influente tentativa de reagir à
visão predominante da política externa dos Estados Unidos
durante o período da guerra de Vietname através de um
tratamento empírico da economia do imperialismo americano.
[*]


O trabalho de Magdoff não podia realmente ser rejeitado como
mera ideologia, porque ele desnudava o imperialismo
americano ao olhar para a sua estrutura económica da maneira
mais directa possível – utilizando estatísticas económicas
americanas. Atraiu, em consequência, um ódio considerável da
elite e deu inspiração a muitos daqueles que protestavam
contra a guerra.


Com A era do imperialismo a crítica ao imperialismo voltou a
ter proeminência dentro da esquerda americana. Dirigindo-se
ao que era geralmente visto como uma anomalia na relação
dos Estados Unidos com o resto do mundo, erguendo-se da
existência de uma política externa de intervencionismo
acompanhada por uma economia do isolacionismo, Magdoff
demonstrou que a economia dos EUA estava longe, de facto,
de ser isolacionista. Aqui enfatizou o fluxo de investimento
estrangeiro directo no exterior e do seu efeito em gerar um
fluxo de retorno de capitais. Criticou o erro comum de
simplesmente comparar exportações ou os investimentos
estrangeiros de multinacionais com o PIB. Apesar da
importância destes fluxos económicos estes podem somente
ser tidos em conta quando relacionados com os sectores
estratégicos da economia, tais como as indústrias de bens
primários; ou comparando o rendimento no investimento
estrangeiro com os lucros do negócio não financeiro doméstico.
Nesta conexão, Magdoff apresentou dados que mostravam que
os rendimentos dos investimentos estrangeiros das empresas
não financeiras dos EUA se haviam elevado de cerca de 10 por
cento do total de lucros após impostos em 1950 para 22 por
cento em 1964.


Este trabalho também foi notável pelos seus argumentos
acerca da expansão financeira internacional do capital
americano, baseada na posição hegemónica do dólar na
economia mundial e no crescimento de uma armadilha da
dívida no terceiro mundo. Foi aqui que Magdoff apresentou sua
primeira explicação sobre o "processo de fluxo revertido"
inerente ao contínuo reforço da dívida externa. ―Se um país
toma emprestado, por exemplo uns US$1000 por ano‖,
escreveu, ―dentro em breve os pagamentos do serviço da
dívida serão maiores do que o influxo anual de dinheiro‖.
Supondo o exemplo simples de um empréstimo de US$1000
anuais a 5 por cento de juro ―sendo reembolsado em
prestações iguais ao longo de 20 anos‖ resultará que no quinto
ano quase 50 por cento do empréstimo anual irá para o serviço
da dívida; no décimo ano aproximadamente 90 por cento do
empréstimo serão dedicados ao serviço da dívida; no décimo
quinto ano, o pagamento do juro e da correspondente
amortização de capital será superior ao próprio empréstimo; e
no vigésimo ano "o tomador do empréstimo estará a pagar
mais de US$1,50 sobre a dívida passada por cada US$1,00 de
dinheiro novo que toma emprestado‖.


Não seria possível, perguntou Magdoff, a um país evitar esta
armadilha não tomando novos empréstimos ano após o ano,
mas ao invés disso usar o dinheiro emprestado para
desenvolver uma indústria que gerasse rendimentos que
dispensassem empréstimos e mesmo liquidassem os débitos
anteriores? Uma parte grande da resposta está no facto de que
se o repagamento tem de ser efectuado na divisa da nação
credora a dívida só pode ser reembolsada (independentemente
da taxa de crescimento) se houver bastante exportações para
fornecer as divisas externas necessárias. Já em 1969, muito
antes de o problema do endividamento do terceiro mundo ser
considerado crítico, Magdoff observou que ―os pagamentos do
serviço da dívida do terceiro mundo aumentaram mais
rapidamente do que o crescimento das suas exportações.
Assim, o fardo da dívida tem-se tornado mais opressivo e a
dependência financeira em relação às nações industriais
principais e às suas organizações internacionais, tais como o
Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, aumentou
largamente‖.


A essência do imperialismo como se manifestou no final do
século XX, de acordo com Magdoff, foi com a globalização do
capital monopolista nas condições impostas pela hegemonia
dos Estados Unidos. As páginas finais da idade do
imperialismo relatam:

      A empresa típica internacional já não está limitada
      à petrolífera gigante. Deverá ser como uma
      General Motors ou uma General Electric — com 15
      a 20 por cento das suas operações em negócios
      externos, e a envidar todos os esforços para
      aumentar esta percentagem. O objectivo
      confessado destas firmas internacionais é obter os
      mais baixos custos unitários de produção numa
      base mundial. É também seu objectivo, embora
      nem sempre declarado, chegar ao topo no
      movimento de fusões no Mercado Comum Europeu
      e controlar uma fatia do mercado mundial tão
      grande quanto aquela que controlam no mercado
      dos Estados Unidos.

A maior parte dos ensaios no livro de Magdoff de 1978,
Imperialismo: Da era colonial ao presente tratou das ideias
erradas acerca da história do imperialismo. A este respeito foi
de capital importância a resposta de Magdoff à pergunta: "É o
imperialismo necessário?" Em resposta à alegação comum de
que capitalismo e imperialismo são categorias completamente
separadas, e que a última não era necessariamente um
atributo da primeira, ele argumentou que o capitalismo fora
desde o inicio um sistema mundieal e que a expansão
imperialista em sentido vasto fazia tanto parte do sistema
quanto a própria busca do lucro. Ele também argumentou
contra aqueles na esquerda que procuraram criar uma análise
do imperialismo moderno com uma teoria da crise económica
particular ou a necessidade da exportação do capital, ao invés
de reconhecer que o imperialismo era intrínseco às tendências
globalizantes do capitalismo desde o seu inicio. Apesar da
importância das leis económicas do movimento do capitalismo
para gerar a realidade do imperialismo moderno, qualquer
explicação simples, mecânica e estreitamente económica
(separada dos factores políticos, militares e culturais) deveria
ser evitada. De preferência, as fontes finais têm de ser
encontradas no desenvolvimento histórico do capitalismo
desde o século XVI. "A eliminação do imperialismo" concluiu
Magdoff "exige a derrubada do capitalismo".


Policiando o conceito de imperialismo


A corrente principal respondeu a estes e outros argumentos
colocando o termo "imperialismo" (na medida em que estava
ligado a capitalismo) cada vez mais fora do reino do discurso
aceitável – caracterizando-o como um termo puramente
ideológico. Ao mesmo tempo houve tentativas de isolar o
conceito específico de ―imperialismo económico‖, dissociado-o,
compartimentalizando, de acordo com o método estreito das
ciências sociais convencionais, do imperialismo político, do
imperialismo cultural, etc, e ajustando-o a uma crítica especial.
[*] Este ataque a abordagens marxistas e radicais do
imperialismo têve tanto êxito que, em Novembro de 1990,
Prabhat Patnaik publicou um artigo na Monthly Review
intitulado ―O que aconteceu ao imperialismo?‖ que levantou a
questão do quase completo desaparecimento do termo das
análises de esquerda nos Estados Unidos e na Europa. Foi
particularmente surpreendente que isto tenha ocorrido no
momento de intervenções militares dos EUA (tanto as abertas
como as encobertas) em países tais como Nicarágua, El
Salvador, Guatemala, Granada e Panamá e apesar da rapina
das empresas multinacionais por todo o mundo (por exemplo
na Índia, onde a Union Carbide matou milhares de pessoas).


"Os marxistas mais jovens‖ escreveu Patnaik "parecem
confundidos quando o termo é mencionado. Questões
candentes do dia são discutidas... mas sem qualquer referência
a imperialismo... O tópico desapareceu virtualmente das
páginas de publicações marxistas, especialmente daquelas
mais recentes‖. A história e a teoria do imperialismo, salientou,
não é mais discutida.


O significado histórico disto pode ser visto numa divisão
ideológica que ocorreu em resposta a lutas acerca da
globalização e das novas guerras nos Balcãs, e posteriormente
em relação aos ataques do 11 de Setembro ao World Trade
Center de Nova Iorque e ao Pentágono e a subsequente guerra
ao terrorismo. Por um lado, os intelectuais da corrente
dominante, face à expansão das operações militares dos
Estados Unidos e da NATO, mas também em resposta a
questões como o apoio dos Estados Unidos à OMC, tornaram-
se mais dispostos a reapropriarem-se do conceito de
imperialismo enquanto forma de dar maior ênfase àquilo que
era apresentado como a hegemonia benéfica ou o
―imperialismo suave‖ da única superpotência mundial. Por outro
lado, pós-marxistas e pensadores outrora radicais prestaram-
se muitas vezes ao papel de criticar qualquer uso do conceito
de imperialismo no seu sentido marxista clássico, destacando-o
do capitalismo, da exploração global e do imperialismo
económico, e argumentando que se o termo era inaceitável no
discurso polido devia ser rejeitado.


Um exemplo desta posição é um artigo de Tom Barry, intitulado
―O retorno do intervencionismo‖ publicado online na Foreign
Policy in Focus , 11/Mar/2002, respondendo ostensivamente
aos ataques de 11 de Setembro e à guerra ao terrorismo.
Barry, que nos seus escritos antigos dos anos 70s não hesitava
em abraçar o conceito do imperialismo, argumentou em ―Um
retorno ao intervencionismo‖ que

      Para alguns, especialmente na nova e velha
      esquerda esta [a era do Vietname] era a ―Era do
      imperialismo‖, uma era em que os Estados Unidos
      asseguravam a sua posse dos recursos e dos
      estados do mundo 'em desenvolvimento'. Havia
      fraquezas analíticas a esta crítica do anti-
      imperialismo, principalmente porque não explicava
      bem porque os Estados Unidos estavam tão
      profundamente envolvidos em lugares de pouco
      interesse económico, tais como o Vietname do Sul.
      Nem foi a crítica à América imperial útil para
      explicar o lado idealista do intervencionismo
      americano – a compulsão Wilsoniana para levar a
      liberdade e a democracia ao resto do mundo. Se o
      objectivo era reformar a política estrangeira dos
EUA, criticando os EUA como um poder imperial,
      este não foi atingido nem com os decisores
      políticos americanos nem com o público. O que
      pareceu funcionar como maneira de depurar
      tendências da política externa dos Estados Unidos
      que apoiavam a repressão e intervenção militar no
      terceiro mundo foi a crítica dos direitos humanos.

Deste ponto de vista, "os decisores políticos" dos EUA, isto é,
os representantes do sistema do poder dominante, não foram
atraidos pelo conceito de imperialismo (reforçado pelo facto de
que parte da população residente encarou o termo como não
tendo qualquer relação com a história dos Estados Unidos —
em parte porque não tiveram conhecimento das centenas de
intervenções militares que os EUA haviam efectuado, ou o
significado em termos mais vastos da expressão imperialismo)
e isto foi razão mais que suficiente para afastar completamente
o conceito. Afinal os EUA não procuraram basicamente,
excepto por alguns lapsos aqui e ali, a missão ―de levar a
democracia e a liberdade ao resto do mundo?‖ Ainda, no
momento da publicação deste artigo, as forças armadas dos
EUA estavam empenhadas em operações da guerra no
Afeganistão, construindo bases por toda Ásia central, e
lançando intervenções nas Filipinas e em outros lugares. No
mesmo momento em que a noção da ―Era do imperialismo‖
estava a ser criticada na esquerda americana, sábios e figuras
políticas apregoavam uma nova era de imperialismo conduzida
pelos Estados Unidos.


Outra importante crítica de esquerda da noção de imperialismo
foi lançada por Michael Hardt e Antonio Negri no seu livro
Império (2000), publicado pela Harvard University Press.
Segundo Hardt e Negri o imperialismo terminou com a Guerra
do Vietname. A Guerra do Golfo em 1991, em que os Estados
Unidos lançaram o seu poder militar contra o Iraque, foi, de
acordo com os autores, desencadeada "não em função dos
motivos nacionais [dos Estados Unidos] mas em nome do
direito global... A política mundial dos EUA actua não no
interesse imperialista mas sim no interesse imperial [isto é, no
interesse de um Império sem um centro e sem fronteiras]. É
neste sentido que a guerra de golfo, como George Bush [pai]
apregoou, anuncia o nascimento de uma nova ordem mundial.
Em outra parte do seu livro os autores declararam: "Os Estados
Unidos não podem, e na verdade nenhum estado-nação o
pode hoje, formar o centro de um projecto imperialista" . Foi
precisamente esta posição — que negava qualquer relação
entre os EUA e o imperialismo no sentido clássico, explorador,
mas que também encarava a extensão do domínio e do poder
dos Estados Unidos como um reflexo de 'império' e de um
papel 'civilizador' imperial (a extensão da Constituição
americana à escala global) — aquela que foi enfatizada nos
generosos elogios ao livro de Hardt & Negri brotados em
publicações como o New York Times , revista Time , London
Observer e Foreign Affairs . [*]


Mais recentemente, Todd Gitlin, um anterior presidente da
Students for a Democratic Society e agora o professor de
Jornalismo e Sociologia em Columbia, escreveu um artigo para
o New York Times (05/Set/2002):
A esquerda americana... teve a sua versão do
     unilateralismo. A responsabilidade pelos ataques
     [do 11 de Setembro ] tinha, de algum modo, de
     estar no imperialismo americano, porque toda a
     responsabilidade tem de estar no imperialismo –
     um eco perfeito da ideia da direita de que todos os
     poderes bons são e e devem ser americanos.
     Intelectuais e activistas da extrema esquerda não
     podiam ficar muito perturbados com a compaixão
     ou a defesa... Sabendo pouco sobre a Al Qaeda,
     eles arquivaram-na em anti-imperialismo, e
     ataques americanos aos Taliban como Pântano do
     Vietname. Para eles, não desfraldar a bandeira
     tornou-se uma causa premente... Os liberais pós-
     Vietname têm agora uma oportunidade, libertos da
     ansiedade da bandeira dos anos 60 e da nossa
     negatividade reflexiva, de abraçar um patriotismo
     liberal que não precisa de desculpas e é
     destemido.

Para Gitlin – escrevendo nos meios de comunicação da elite
que publicam textos acerca de um supostamente benigno
imperialismo americano – toda acusação de "imperialismo
americano" era uma espécie de distorção extremista
introduzida pela esquerda. Nunca lhe importou que a
localização de bases militares americanas permanentes na
Arábia Saudita em resultado da guerra de 1991 contra o Iraque
tivesse induzido os fundamentalistas islâmicos a abandonar a
Arábia Saudita (inclusive a própria al-Qaeda) para voltarem-se
contra os Estados Unidos. Nunca lhe importou que Osama Bin
Laden recebesse o seu treino terrorista por meio dos
patrocínios americanos à guerra dos fundamentalistas
islâmicos contra aos soviéticos no Afeganistão. Nunca lhe
importou que Saddam Hussein fosse um antigo cliente dos
Estados Unidos na época da guerra Irão-Iraque (e certamente
até ao momento da sua invasão ao Kuwait). E nunca lhe
importou que a Arábia Saudita e o Iraque sejam o primeiro e o
segundo maiores países do mundo em reservas de petróleo,
ou o facto de que o Afeganistão é a porta de entrada para a
Ásia Central, uma das áreas mais ricas do mundo em reservas
de petróleo e gás natural. Finalmente, nunca lhe importou que
os Estados Unidos agora já tenham bases militares por toda a
Ásia Central e que pretendem lá permanecer. De algum modo,
apesar de tudo isto e apesar do facto de que o suposto
imperialismo americano agora está a ser amplamente louvado
na elite do poder, à esquerda não é permitido levantar a
questão do imperialismo americano como parte de uma crítica
à política externa americana. Se o imperialismo está a ser
redescoberto é somente dentro de certos limites ideológicos
estritos.


Os ricos globais ficam mais ricos, os pobres globais ficam
mais pobres


Um aspecto essencial da redescoberta do imperialismo dentro
do poder estabelecido é justificar a predominância militar e
política dos Estados Unidos ao mesmo tempo que remove
desta toda a noção de um fosso crescente entre nações ricas e
pobres — como aquelas enfatizadas nas teorias marxistas do
imperialismo e destacadas pelos novos movimentos
antiglobalização / anticapitalismo. Um sinal do impacto deste
novo movimento global anticapitalismo é a extensão em que a
elite do poder global e os seus aliados consideraram
necessário defender o seu ponto de vista. Uma parte
significativa desta defesa é a afirmação de que os defensores
da antiglobalização não sabem do que estão a falar. Se o
império americano parece mais dominante do que nunca isso
nada tem a ver, dizem-nos, com exploração económica.


Um caso exemplar é o artigo no New York Times (15/Ago/02)
de Virgínia Postrel, uma das suas colunistas frequentes sobre
temas económicos. Foi-lhe dado o chamativo título “Estão os
ricos a ficar mais ricos e os pobres mais pobres. Certo? Vamos
dar uma outra vista de olhos” . O artigo foi preparado para
aparecer pouco antes da Encontro Mundial sobre o
Desenvolvimento Sustentável ocorrido em Joanesburgo em
Agosto e Setembro de 2002. O objectivo do artigo de Postrel
era refutar Noam Chomsky, que foi citado a dizer ―a
desigualdade está a aumentar neste período de globalização –
dentro dos países e entre os países‖. De acordo com Postrel,
não só Chomsky estava absolutamente errado, como também
o estava o Relatório do Desenvolvimento Humano das Nações
Unidas de 1999 que chegou à mesma conclusão baseado em
dados organizados pelo ONU.


O que está errado com as reivindicações de Chomsky e das
Nações Unidas, segundo Postrel e outros defensores da
globalização e da liberalização? Os dados, insiste ela, estão
enviezados. O relatório das Nações Unidas e outros olham
para diferenças entre o rendimento dos países mais ricos e
mais pobres – não ricos e pobre individuais. Isso significa que
cidadãos anteriormente considerados pobres de países
gigantes poderiam tornar-se um bocado mais ricos e ainda
assim mal aparecer nos dados.


Aqui os defensores neoliberais do sistema global misturam e
confundem duas questões diferentes — as diferenças entre
países e a distribuição desigual da riqueza pela população
mundial. Existe certamente uma diferença legitima entre as
duas. A dimensão do país é irrelevante ao examinar as
diferenças entre países. A economia mundial funciona através
de diferentes estados. A história do capitalismo destaca-se pelo
fosso crescente entre estados ricos e pobres — um fosso que
se distingue pelo facto de que os estados ricos crescem em
grande parte através da exploração de outras nações. Por
vezes é um estado grande a explorar um pequeno grupo de
estados mais pequenos. Em outros casos, é um estado
pequeno a extrair o excedente de muitos estados maiores.
Pense-se no actual império dos Estados Unidos e no império
britânico do século passado.


Os ideólogos do capitalismo global, dedicados a demonstrar o
carácter benigno do imperialismo americano, insistem em que
a globalização e a liberalização conduzirão à igualdade
económica entre nações, grandes e pequenas. Os factos
mostrados pelas Nações Unidas, entretanto, provam
conclusivamente que isto não ocorreu. Pelo contrário, o fosso
entre estados aprofundou-se.


Mesmo assim o New York Times não está interessado. Ele
preocupa-se com o povo. Postrel escreve: ―Nas últimas três
décadas... os dois maiores países mundiais, China e Índia,
competiram economicamente. O mesmo fizeram outros países
asiáticos com populações relativamente grandes. O resultado é
que 2,5 mil milhões de pessoas povos viram seus níveis de
vida aproximar-se em direcção àqueles dos milhares de
milhões dos países já desenvolvidos — reduzindo a pobreza
global e aumentando a igualdade global. Do ponto de vista
desses indivíduos, a liberalização económica foi um êxito
enorme‖.


Mas que exemplos! Vamos dar uma olhadela à contribuição de
Índia para a redução da pobreza global. De acordo com o
ultimo relatório Banco Mundial, 86 por cento da sua população
vive com menos de US$ 2 por dia . [*] Em 1983, os 10 por
cento do topo dos que obtinham rendimentos na Índia
representavam 26,7 por cento rendimentos/despesas
familiares, em 1992, sua fatia era de 28,4 por cento, e em
1997, tinha-se elevado para 33,5 por cento. Dificilmente é um
sinal da igualdade crescente! (Banco Mundial, Relatório do
Desenvolvimento Mundial , edições 1990, 1996, 2003). [*]


Consideremos agora o exemplo da China. Há três décadas
atrás a China era a nação mais igualitária do mundo. Nessa
altura os seus líderes políticos tomaram outro rumo na
prossecução dos seus objectivos. Ao invés da anterior
prioridade à igualdade, foi dito aos seus cidadãos que era bom
ficar rico. A empresa privada foi encorajada, a porta ao
investimento estrangeiro foi alargada, o estado chinês tornou-
se cúmplices das multinacionais dos Estados Unidos, foram
dadas as boas-vindas à globalização, o Banco Mundial entrou,
e a China aderiu recentemente à OMC.


O resultado foi exactamente o oposto ao que o dogma
prevalecente levaria a esperar, e que Postrel e outros
defensores da globalização neoliberal supõem simplesmente
ser verdadeiro. A China, outrora distinguida pela sua devoção à
igualdade, tornou-se cada vez mais desigual. Assim, no fim dos
anos noventa, a distribuição da riqueza da China assemelhava-
se muito à má distribuição da riqueza nos Estados Unidos (ver
tabela 1).


Tabela 1: Distribuição do rendimento nos EUA e na China
Participação percentual do rendimento ou do consumo *

         10% inferiores 20% inferiores 10% superiores 20% superiores

China                 2,4               5,9               30,4             46,6

 EUA                  1,8               5,2               30,3             46,4


* Conforme os dados disponíveis, os economistas do Banco Mundial calcularam a
distribuição do rendimento ou através das receitas ou do consumo
Fonte: Banco Mundial, World Development Report 2000/2001, os dados dos EUA
referem-se a 1997 e da China a 1998.



Existe, de facto, um conjunto de dados fidedigno sobre a
distribuição da riqueza mundial. A informação foi desenvolvida
num estudo exaustivo e altamente competente feito por Branko
Milanovic, um economista do Banco Mundial. Ele escavou a
quantidade incrível de dados estatísticos armazenados nos
computadores Banco Mundial. Seu estudo veio à luz do dia
com a história da distribuição do rendimento mundial em 1988
e em 1993. Ela demonstra que, de facto, a desigualdade
aumentou durante aqueles anos (ver tabela 2).


Tabela 2: Distribuição do rendimento mundial
Porcentagem acumulada da população e do rendimento

    Porcentagem          Porcentagem          Porcentagem
     acumulada            acumulada             acumulada
    da população        do rendimento         do rendimento
      mundial              mundial               mundial

                             1988                 1993

10% inferiores                          0,9                   0,8

20% inferiores                          2,3                   2,0

50% inferiores                          9,6                   8,5

75% inferiores                        25,9                  22,3

85% inferiores                        41,0                  37,1

10% superiores                        46,9                  50,8

5% superiores                         31,2                  33,7

1% superiores                           9,3                   9,5




Repare-se que os 1 por cento do topo receberam uma parte
maior (9,5 por cento) da riqueza mundial em 1993 do que os 50
por cento inferiores, ao passo que os 5 por cento do topo em
1993 tiveram uma parte da riqueza que excede de longe os 75
por cento inferiores e que começa a aproximar-se dos 85 por
cento. (Milanovic explorou os dados com maior detalhe do que
é aqui mostrado e concluiu que na população mundial os 1 por
cento do topo tiveram o mesmo rendimento que os 57 por
cento inferiores). Estes números são exactamente o que se
esperaria de toda a história do capitalismo, que prospera com o
aprofundamente da diferença do fosso entre ricos pobres —
uma lei do sistema que agora tem um campo de actuação à
escala global. Tal exploração global é o cerne do imperialismo,
o qual é tão básico para o capitalismo, e tão inseparável, como
a própria acumulação. Mas este, naturalmente, não é o quadro
total do imperialismo, que é constituído por uma história
complexa com factores políticos, militares, e culturais (raciais)
ligados entre si. Na abordagem marxista, o imperialismo
económico não é na realidade separado destas outras
características, as quais constituem igualmente uma parte do
desenvolvimento global capitalista. Assim como a busca dos
lucros é a mantra do império americano, também o seu poder
militar e político visa alargar esta busca e estender seu poder
numa base mundial — colocando sempre em primeiro lugar os
interesses das corporações dos Estados Unidos e do próprio
Estado americano.


A redescoberta do imperialismo pelos medias dominantes
significa somente que estes processos estão a ser agora
apresentados, especialmente nos círculos governantes dos
Estados Unidos — uma realidade da qual não há nenhuma
escapatória. A revolta contra esta nova fase do imperialismo,
contudo, claramente só agora começou. A maior parte da
população do mundo sabe aquilo que os sábios americanos
convenientemente esquecem, que o imperialismo americano
assemelha-se aos impérios exploradores do passado, e
provavelmente sofrerá o mesmo destino dos outros, com
revoltas internas e ―bárbaros‖ às portas.
NOTAS
* Boot, Brzezinski, Kaplan, Kissinger, Mallaby, e Rosen são citados em Philip S.
Golub, ―The Dynamics of World Disorder: Westward in the Course of Empire,‖ Le
Monde Diplomatique , edição inglesa da internet (Setembro 2002); veja também
Martin Walker ―America's Virtual Empire,‖ World Policy Journal 19 (verão 2002), pp.
13,20.


* Charles A. Conant, The United States in the Orient (Boston: Houghton Mifflin, 1900),
pp. 29-30.


* Tanto The Age of Imperialism: The Economics of U.S. Foreign Policy, livro de
Magdoff de 1978, como Imperialism: From the Colonial Age to the Present foram
publicados pela Monthly Review Press. Os excertos da discussão do trabalho de
Magdoff extraída de John Bellamy Foster, ―Harry Magdoff‖, em Phillip Arestis e
Malcolm Sawyer, A Biographical Dictionary of Dissenting Economists (Northampton,
Mass.: Edward Elgar, 2000), pp. 385,94.


* O exemplo mais flagrante disto é Steven J. Rosen e James R. Kurth, Testing
Theories of Economic Imperialism (Lexington, Massachusetts: Lexington Books,
1974). Num ensaio crítico nesse volume, Harry Magdoff concluiu que "uma estrutura
analítica" que "coloque em compartimentos separados aspectos chaves do problema
imperialista e que são de facto inseparáveis" era errada. "A tentativa clara de
diferenciar aspectos políticos, militares, e económicos leva a que se ignore o que é o
mais essencial: a interdependência e a interacção mútua destes factores. Este modo
de pensar – incluindo o uso da abstracção 'interesse nacional' – é bastante tradicional
na ciência social ortodoxa, um facto de grande alcance para esclarecer a sua
incapacidade histórica de enfrentar tanto o crescimento como o significado do
imperialismo ou [as novas] raízes de imperialismo no capitalismo monopolista".
Magdoff em Ibid., p. 86.


* Para um tratamento mais detalhado do livro de Hardt e de Negri veja John Bellamy
Foster, ―Imperialismo e 'Império'‖ , Monthly Review 53(dezembro 2001), pp. 1,9.


* Esta informação é relativa a 1992, o último ano para o qual esta espécie de
informação está disponível. O limite de US$ 2 é baseado na paridade de poder de
compra. Isso significa que os dados são ajustados para determinar que quantidade de
um cabaz de bens de consumo poderia ser comprada por US$ 2, eliminando na
medida do possível o efeito das diferenças entre preços de país para país.


* Estes dados são retirados das tabelas do Banco Mundial sobre distribuição do
rendimento — em edições recentes do World Development Report intituladas
―Distribuição da pobreza e riqueza‖. Ao calcular as percentagens da distribuição da
riqueza o Banco de Mundial confia nos inquéritos familiares de rendimentos ou
despesas compilados por vários países. A fim assegurar que os dados são
comparáveis a equipe do Banco Mundial usa sempre que possível as despesas
familiares em vez de dados do rendimento. No caso da Índia os dados citados são
baseados em em despesas familiares per capita.



[*] JOHN BELLAMY FOSTER é editor da Monthly Review . É
autor de Ecology Against Capitalism , Marx's Ecology:
Materialism and Nature e The Vulnerable Planet , e co-
editor de Hungry for Profit: The Agribusiness Threat to
Farmers, Food, and the Environment , todos publicados
pela Monthly Review Press.


O original deste artigo encontra-se em
http://www.monthlyreview.org/1102jbf.htm . Tradução de
José Carlos Barreiros Correia.


Este artigo encontra-se em http://resistir.info
                                                                                      17/Nov/02

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A redescoberta do imperialismo, por john bellamy foster

  • 1. A redescoberta do imperialismo por John Bellamy Foster [*] Este texto foi originalmente escrito como introdução aos Ensaios sobre o imperialismo e a globalização , de Harry Magdoff, que deverá ser publicado na Índia pela Cornerstone Publications. O conceito de ―imperialismo‖ foi considerado fora do limite aceitável do discurso político dentro dos círculos dirigentes do mundo capitalista durante a maior parte do século XX. A referência a ―imperialismo‖ durante a guerra do Vietname, não importando se realista ou não, era quase sempre sinal de o autor estar do lado esquerdo do espectro político. Numa introdução à edição americana de 1971 Imperialismo nos anos setenta de Pierre Jalée, Harry Magdoff observou, ―Como regra, os académicos polidos preferem não usar o termo 'imperialismo'. Consideram-no desgostante e não científico‖. Hoje, repentinamente, isto deixou de ser verdadeiro. Os intelectuais americanos e a elite política estão calorosamente a abraçar de forma aberta a missão ―imperialista‖ ou ―neoimperialista‖ dos Estados Unidos, reiteradamente enunciada em publicações de prestígio como o New York Times e a Foreign Affairs . Este fervor imperialista deve-se muito à ―Guerra ao Terrorismo‖ da administração Bush, que está a assumir a forma de conquista e ocupação do Afeganistão e – se as suas ambições forem cumpridas – do
  • 2. Iraque. De acordo com a Estratégia de Segurança Nacional da administração Bush, não há limites ou fronteiras reconhecidas ao uso do poder militar a fim de promover os interesses dos Estados Unidos. Face a esta tentativa de expandir aquilo a que só se pode chamar de Império Americano, intelectuais e figuras políticas estão não só a regressar à ideia de ―imperialismo‖, como à visão da mesma proposta pelos seus antigos promotores do século XIX, ou seja, como constituindo uma grande missão civilizadora. Comparações dos Estados Unidos com a Roma Imperial e com o Império Britânico são agora comuns na imprensa de referência. Tudo o que é preciso para torná-la plenamente aproveitável é libertar o conceito das suas velhas associações marxistas de hierarquia económica e de exploração – para não mencionar o racismo. De acordo com Michael Ignatieff, Professor de Política de Direitos Humanos na Kennedy School of Government da Universidade de Harvard em artigo no New York Times Magazine (28/Jul/2002) ―[O] imperialismo costumava ser o fardo do homem branco. Isto deu-lhe má reputação. Mas o imperialismo não deixa de ser necessário só porque é politicamente incorrecto‖. Referindo-se às operações de guerra dos Estados Unidos no Afeganistão ele afirma: ―As forças especiais não são assistentes sociais. São um destacamento imperial, avançando o poder e os interesses americanos na Ásia Central. Chamem a isso manter a paz ou construir uma nação, chamem o que se quiser, política imperial é o que está em marcha em Mazar. De facto, toda a guerra americana ao terrorismo é um exercício de imperialismo. Isto pode ser um choque para os americanos, que não gostam de pensar no seu
  • 3. país como um império. Mas o que mais se pode chamar às legiões de soldados, espiões e Forças Especiais americanos a cavalgar o globo?‖ G. John Ikenberry, professor de Geopolítica e Justiça Global na Universidade de Georgetown e colaborador regular da Foreign Affairs , publicada pelo Council on Foreign Relations, escreve nessa publicação (Setembro/Outubro de 2002): ―Nas sombras da guerra ao terrorismo da administração Bush, novas ideias abrangentes estão a circular acerca da grande estratégia americana e da reestruturação do mundo unipolar de hoje. Elas apelam ao direito unilateral e preferencial, até mesmo preventivo, de usar a força, facilitada se possível por coalizões de vontades — mas em última análise sem os constrangimentos das regras e das normas da comunidade internacional. No limite, estas noções formam uma visão neo-imperial em que os Estados Unidos se arrogam o papel global de estabelecer padrões, determinar ameaças, usar a força e fazer justiça‖. Para Ikenberry isto não representa uma critica: ―Os objectivos imperialistas americanos e o seu modus operandi ‖, ele nos diz, ―são muito mais limitados e benignos do que os os dos antigos imperadores ‖. Outras influentes figuras políticas e intelectuais não são menos efusivas no seu apoio ao neoimperialismo americano.
  • 4. Sebastian Mallaby, colunista no Washington Post e auto- intitulado ―imperialista relutante‖, escrevendo na Foreign Affairs (Abril de 2002) explica que ―a lógica do neoimperialismo é demasiado atractiva para a administração Bush lhe resistir.‖ Max Boot, colunista do Wall Street Journal, observa no seu artigo ―O caso para o Império Americano‖, na Weekly Standard (15/Out/2001), que a ―America agora enfrenta a perspectiva da acção militar em muitas das mesmas terras onde gerações de soldados coloniais britânicos estiveram em campanha. Trata-se de lugares em que as armas ocidentais tiveram de reprimir a desordem. O Afeganistão e outras perturbadas terras do mundo protestavam contra esta espécie de iluminada administração estrangeira imposta pelos outrora auto- confiantes britânicos com calças de montaria e capacetes de cortiça‖. O ultimo livro do ensaísta do Atlantic Monthly , Robert Kaplan, Políticas guerreiras, argumenta em favor de uma cruzada norte americana ―para levar a prosperidade a distantes partes do mundo sob a influência imperial americana‖. O conselheiro presidencial para a Segurança Nacional do presidente Carter, Zbigniew Brzezinski, advoga que a principal tarefa dos Estados Unidos para preservar o seu império é ―impedir a colusão e manter a dependência entre vassalos, manter os clientes dóceis e protegidos, e impedir que os bárbaros se agrupem e ressurjam‖. Stephen Peter Rosen, responsável de Estudos Estratégicos do Instituto Olin na Universidade de Harvard, escreveu na Revista de Harvard (Maio-Junho 2002): ―O nosso objectivo [da acção militar] não é combater um rival, mas manter a nossa posição imperial bem como a ordem‖. Henry Kissinger abre o seu livro ―Precisa a América de uma política estrangeira?‖ com as palavras ―Os
  • 5. Estados Unidos gozam de uma proeminência não rivalizada nem mesmo pelos maiores impérios do passado‖. Há regras, contudo para esta retomada dos conceitos de "império" e "imperialismo" no discurso da elite política. Só as motivações benevolentes dos Estados Unidos devem ser enfatizadas. Os proponentes do novo imperialismo devem limitar-se cuidadosamente aos conceitos militares e políticos de império e imperialismo (evitando qualquer alusão ao imperialismo económico). E eles devem evitar quaisquer noções radicais que liguem imperialismo com capitalismo e exploração. A base económica do imperialismo O nascimento da noção de imperialismo económico, em oposição ao imperialismo genérico, surgiu nos Estados Unidos há pouco mais de um século. No seu ensaio ―A base económica do imperialismo‖ publicado pela primeira vez na North American Review em 1898, na altura da guerra hispano- americana Charles A. Conant argumentou que o imperialismo era necessário para absorver o excesso de capital face à escassez de oportunidades de investimento lucrativas – por outras palavras, para aliviar o que ele chamava de problema do ―congestionamento de capital‖. Para Conant, Se os Estados Unidos realmente adquirirem possessões territoriais, estabelecerem quartéis- generais e guarnições, adoptarem o meio termo de proteger entidades nominalmente independentes,
  • 6. ou contentarem-se com bases navais e representações diplomáticas como a base para os seus direitos ao livre comércio no Oriente, é apenas um pormenor circunstancial... O autor não advoga o ―imperialismo‖ por sentimento, mas não teme o nome se isso significar apenas que os Estados Unidos assegurarão o seu direito a mercados livres em todos os antigos países que estão a ser abertos ao excedente de recursos dos países capitalistas e assim aos benefícios da civilização moderna. Se esta política implica o governo directo de grupos de ilhas semi-selvagens pode ser um assunto para discussão, mas no lado económico da questão há apenas uma escolha – entrar por algum meio na competição do emprego do capital americano nesses países, ou continuar a duplicação de meios de produção e comunicação, com o excesso de produtos não consumidos, as convulsões que se seguem à estagnação do comércio, e os retornos decrescentes sobre os investimentos a que uma política tal negativa conduzirá. O conflito entre as grandes potências do fim do século XIX e inicio do século XX, sobre a divisão da África, a guerra Sino- Japonesa (1894,1895), a guerra Hispano-Americana, a guerra sul africana (dos Boers), e a guerra Russo-Japonesa, assinalaram a ascensão de um novo imperialismo, associado com o capitalismo monopolista, que era qualitativamente diferente do colonialismo que o havia precedido. Isto conduziu
  • 7. a uma teoria económica do imperialismo por parte dos proponentes do mesmo — os quais já não o encaram como um mero sentimento, como foi enfatizado na análise de Conant. As mudanças no imperialismo também deram logo azo à ascensão a uma análise crítica mais profunda que começa com o clássico de John A. Hobson: "Imperialismo: Um estudo", publicado pela primeira vez em 1902. Hobson era o principal crítico britânico da guerra dos Boers e em consequência desenvolveu sua crítica ao imperialismo. Num capítulo famoso do seu livro intitulado ―The Economic Taproot of imperialism‖ Hobson observou: Toda melhoria dos métodos da produção, toda concentração da propriedade e do controle, parece acentuar a tendência [à expansão imperialista]. À medida que uma nação após a outra entra na economia da máquina e adopta métodos industriais avançados, torna-se mais difícil para os seus fabricantes, comerciantes e financeiros disporem lucrativamente dos seus recursos económicos. Por todo o lado surge capacidade produtiva excessiva, excesso de capital na busca de investimento. É admitido por todos os homens de negócio que o crescimento da capacidade produtiva no seu país excede o crescimento no consumo, que mais bens podem ser produzidos do que os que podem ser vendidos com lucro, e que existe mais capital do que o que pode encontrar o investimento lucrativo. É esta condição económica dos negócios que forma a raiz principal do imperialismo. O trabalho de Hobson não era socialista. Ele acreditava que o imperialismo era devido ao domínio de determinados
  • 8. interesses económicos e financeiros concentrados e que reformas radicais que tratassem da má distribuição do rendimento e as necessidades da economia doméstica poderiam provocar o fim do impulso imperialista. Contudo seu trabalho adquiriu um significado muito maior devido à influência que exerceu nas análises marxistas ao imperialismo, que emergiam neste tempo. A mais importante destas foi ―Imperialismo, estágio superior do capitalismo‖, de Lénine, publicado pela primeira vez em 1916. O objectivo principal da análise de Lénine era explicar a rivalidade inter-imperialista entre as grandes potências que conduzira à Primeira Guerra Mundial. Mas no processo de desenvolvimento da sua análise Lénine relacionou o imperialismo com o capitalismo monopolista, argumentando que ―na mais breve definição possível ... o imperialismo é o estágio monopolista do capitalismo‖. Ele explorou, dentro desse contexto, um conjunto de factores económicos que foram bem além da má distribuição do rendimento ou da procura de lucros de determinadas empresas monopolistas privadas. O capitalismo monopolista era encarado como um estágio novo, para além do capitalismo competitivo, em que o capital financeiro, uma aliança entre grandes empresas e capital bancário, dominava a economia e o Estado. A competição não era eliminada mas continuava principalmente entre um número relativamente pequeno das firmas gigantes que era capazes de controlar grandes partes da economia nacional e internacional. O capitalismo monopolista, neste sentido, era inseparável da rivalidade inter-imperialista, manifestando-se primariamente na forma de uma luta pelos mercados globais. A resultante divisão do mundo em esferas imperiais e o esforço que isto acarretou
  • 9. conduziu directamente à Primeira Guerra Mundial. A perspectiva mais complexa de Lénine acerca do imperialismo foi além de uma argumentação que focalizasse simplesmente a necessidade de encontrar saídas de investimento para o excesso de capital. Ele também enfatisou o impulso em ganhar controle exclusivo das matérias-primas e um controle mais apertado dos mercados estrangeiros que decorria das condições de globalização no estágio do capitalismo monopolista. Análises marxistas posteriores (e de radicais, não-Marxistas) focalizaram mais do que Lénine o fez algumas das características mais genéricas do imperialismo, características do capitalismo em todos os seus estágios, tais como a divisão entre o centro e a periferia, um aspecto que foi abordado por Marx. Mas o significado de Lénine para uma nova e mais desenvolvida forma do imperialismo, associado com a concentração e a centralização do capital e o nascimento do estágio do monopólio, manteve muito do seu significado nos nossos dias — caracterizados pelo capitalismo monopolista numa fase avançada da globalização. Na realidade, foi o enorme êxito das teorias marxistas do imperialismo, as quais puseram a descoberto a exploração sistemática do capitalismo à periferia e as condições da rivalidade interimperialista com grande pormenor — de forma que o imperador passou a ser visto em toda a sua nudez — que fez com que o termo "imperialismo" fosse apagado do discurso convencional. Enquanto a União Soviética existiu e uma maré forte de revoluções anti-imperialistas era evidente na periferia, não era possível o capitalismo abraçar abertamente o conceito de
  • 10. imperialismo em nome da promoção da civilização. As intervenções militares dos Estados Unidos no terceiro mundo para combater revoluções ou para obter o controle de mercados foram explicadas invariavelmente, dentro do discurso oficial dos Estados Unidos, em termos de Guerra Fria e não em termos de objectivos imperiais. A era do imperialismo A era do imperialismo de Harry Magdoff, publicado em 1969, distinguiu-se por ter sido a mais influente tentativa de reagir à visão predominante da política externa dos Estados Unidos durante o período da guerra de Vietname através de um tratamento empírico da economia do imperialismo americano. [*] O trabalho de Magdoff não podia realmente ser rejeitado como mera ideologia, porque ele desnudava o imperialismo americano ao olhar para a sua estrutura económica da maneira mais directa possível – utilizando estatísticas económicas americanas. Atraiu, em consequência, um ódio considerável da elite e deu inspiração a muitos daqueles que protestavam contra a guerra. Com A era do imperialismo a crítica ao imperialismo voltou a ter proeminência dentro da esquerda americana. Dirigindo-se ao que era geralmente visto como uma anomalia na relação dos Estados Unidos com o resto do mundo, erguendo-se da existência de uma política externa de intervencionismo acompanhada por uma economia do isolacionismo, Magdoff
  • 11. demonstrou que a economia dos EUA estava longe, de facto, de ser isolacionista. Aqui enfatizou o fluxo de investimento estrangeiro directo no exterior e do seu efeito em gerar um fluxo de retorno de capitais. Criticou o erro comum de simplesmente comparar exportações ou os investimentos estrangeiros de multinacionais com o PIB. Apesar da importância destes fluxos económicos estes podem somente ser tidos em conta quando relacionados com os sectores estratégicos da economia, tais como as indústrias de bens primários; ou comparando o rendimento no investimento estrangeiro com os lucros do negócio não financeiro doméstico. Nesta conexão, Magdoff apresentou dados que mostravam que os rendimentos dos investimentos estrangeiros das empresas não financeiras dos EUA se haviam elevado de cerca de 10 por cento do total de lucros após impostos em 1950 para 22 por cento em 1964. Este trabalho também foi notável pelos seus argumentos acerca da expansão financeira internacional do capital americano, baseada na posição hegemónica do dólar na economia mundial e no crescimento de uma armadilha da dívida no terceiro mundo. Foi aqui que Magdoff apresentou sua primeira explicação sobre o "processo de fluxo revertido" inerente ao contínuo reforço da dívida externa. ―Se um país toma emprestado, por exemplo uns US$1000 por ano‖, escreveu, ―dentro em breve os pagamentos do serviço da dívida serão maiores do que o influxo anual de dinheiro‖. Supondo o exemplo simples de um empréstimo de US$1000 anuais a 5 por cento de juro ―sendo reembolsado em prestações iguais ao longo de 20 anos‖ resultará que no quinto
  • 12. ano quase 50 por cento do empréstimo anual irá para o serviço da dívida; no décimo ano aproximadamente 90 por cento do empréstimo serão dedicados ao serviço da dívida; no décimo quinto ano, o pagamento do juro e da correspondente amortização de capital será superior ao próprio empréstimo; e no vigésimo ano "o tomador do empréstimo estará a pagar mais de US$1,50 sobre a dívida passada por cada US$1,00 de dinheiro novo que toma emprestado‖. Não seria possível, perguntou Magdoff, a um país evitar esta armadilha não tomando novos empréstimos ano após o ano, mas ao invés disso usar o dinheiro emprestado para desenvolver uma indústria que gerasse rendimentos que dispensassem empréstimos e mesmo liquidassem os débitos anteriores? Uma parte grande da resposta está no facto de que se o repagamento tem de ser efectuado na divisa da nação credora a dívida só pode ser reembolsada (independentemente da taxa de crescimento) se houver bastante exportações para fornecer as divisas externas necessárias. Já em 1969, muito antes de o problema do endividamento do terceiro mundo ser considerado crítico, Magdoff observou que ―os pagamentos do serviço da dívida do terceiro mundo aumentaram mais rapidamente do que o crescimento das suas exportações. Assim, o fardo da dívida tem-se tornado mais opressivo e a dependência financeira em relação às nações industriais principais e às suas organizações internacionais, tais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, aumentou largamente‖. A essência do imperialismo como se manifestou no final do
  • 13. século XX, de acordo com Magdoff, foi com a globalização do capital monopolista nas condições impostas pela hegemonia dos Estados Unidos. As páginas finais da idade do imperialismo relatam: A empresa típica internacional já não está limitada à petrolífera gigante. Deverá ser como uma General Motors ou uma General Electric — com 15 a 20 por cento das suas operações em negócios externos, e a envidar todos os esforços para aumentar esta percentagem. O objectivo confessado destas firmas internacionais é obter os mais baixos custos unitários de produção numa base mundial. É também seu objectivo, embora nem sempre declarado, chegar ao topo no movimento de fusões no Mercado Comum Europeu e controlar uma fatia do mercado mundial tão grande quanto aquela que controlam no mercado dos Estados Unidos. A maior parte dos ensaios no livro de Magdoff de 1978, Imperialismo: Da era colonial ao presente tratou das ideias erradas acerca da história do imperialismo. A este respeito foi de capital importância a resposta de Magdoff à pergunta: "É o imperialismo necessário?" Em resposta à alegação comum de que capitalismo e imperialismo são categorias completamente separadas, e que a última não era necessariamente um atributo da primeira, ele argumentou que o capitalismo fora desde o inicio um sistema mundieal e que a expansão imperialista em sentido vasto fazia tanto parte do sistema
  • 14. quanto a própria busca do lucro. Ele também argumentou contra aqueles na esquerda que procuraram criar uma análise do imperialismo moderno com uma teoria da crise económica particular ou a necessidade da exportação do capital, ao invés de reconhecer que o imperialismo era intrínseco às tendências globalizantes do capitalismo desde o seu inicio. Apesar da importância das leis económicas do movimento do capitalismo para gerar a realidade do imperialismo moderno, qualquer explicação simples, mecânica e estreitamente económica (separada dos factores políticos, militares e culturais) deveria ser evitada. De preferência, as fontes finais têm de ser encontradas no desenvolvimento histórico do capitalismo desde o século XVI. "A eliminação do imperialismo" concluiu Magdoff "exige a derrubada do capitalismo". Policiando o conceito de imperialismo A corrente principal respondeu a estes e outros argumentos colocando o termo "imperialismo" (na medida em que estava ligado a capitalismo) cada vez mais fora do reino do discurso aceitável – caracterizando-o como um termo puramente ideológico. Ao mesmo tempo houve tentativas de isolar o conceito específico de ―imperialismo económico‖, dissociado-o, compartimentalizando, de acordo com o método estreito das ciências sociais convencionais, do imperialismo político, do imperialismo cultural, etc, e ajustando-o a uma crítica especial. [*] Este ataque a abordagens marxistas e radicais do imperialismo têve tanto êxito que, em Novembro de 1990, Prabhat Patnaik publicou um artigo na Monthly Review intitulado ―O que aconteceu ao imperialismo?‖ que levantou a
  • 15. questão do quase completo desaparecimento do termo das análises de esquerda nos Estados Unidos e na Europa. Foi particularmente surpreendente que isto tenha ocorrido no momento de intervenções militares dos EUA (tanto as abertas como as encobertas) em países tais como Nicarágua, El Salvador, Guatemala, Granada e Panamá e apesar da rapina das empresas multinacionais por todo o mundo (por exemplo na Índia, onde a Union Carbide matou milhares de pessoas). "Os marxistas mais jovens‖ escreveu Patnaik "parecem confundidos quando o termo é mencionado. Questões candentes do dia são discutidas... mas sem qualquer referência a imperialismo... O tópico desapareceu virtualmente das páginas de publicações marxistas, especialmente daquelas mais recentes‖. A história e a teoria do imperialismo, salientou, não é mais discutida. O significado histórico disto pode ser visto numa divisão ideológica que ocorreu em resposta a lutas acerca da globalização e das novas guerras nos Balcãs, e posteriormente em relação aos ataques do 11 de Setembro ao World Trade Center de Nova Iorque e ao Pentágono e a subsequente guerra ao terrorismo. Por um lado, os intelectuais da corrente dominante, face à expansão das operações militares dos Estados Unidos e da NATO, mas também em resposta a questões como o apoio dos Estados Unidos à OMC, tornaram- se mais dispostos a reapropriarem-se do conceito de imperialismo enquanto forma de dar maior ênfase àquilo que era apresentado como a hegemonia benéfica ou o ―imperialismo suave‖ da única superpotência mundial. Por outro
  • 16. lado, pós-marxistas e pensadores outrora radicais prestaram- se muitas vezes ao papel de criticar qualquer uso do conceito de imperialismo no seu sentido marxista clássico, destacando-o do capitalismo, da exploração global e do imperialismo económico, e argumentando que se o termo era inaceitável no discurso polido devia ser rejeitado. Um exemplo desta posição é um artigo de Tom Barry, intitulado ―O retorno do intervencionismo‖ publicado online na Foreign Policy in Focus , 11/Mar/2002, respondendo ostensivamente aos ataques de 11 de Setembro e à guerra ao terrorismo. Barry, que nos seus escritos antigos dos anos 70s não hesitava em abraçar o conceito do imperialismo, argumentou em ―Um retorno ao intervencionismo‖ que Para alguns, especialmente na nova e velha esquerda esta [a era do Vietname] era a ―Era do imperialismo‖, uma era em que os Estados Unidos asseguravam a sua posse dos recursos e dos estados do mundo 'em desenvolvimento'. Havia fraquezas analíticas a esta crítica do anti- imperialismo, principalmente porque não explicava bem porque os Estados Unidos estavam tão profundamente envolvidos em lugares de pouco interesse económico, tais como o Vietname do Sul. Nem foi a crítica à América imperial útil para explicar o lado idealista do intervencionismo americano – a compulsão Wilsoniana para levar a liberdade e a democracia ao resto do mundo. Se o objectivo era reformar a política estrangeira dos
  • 17. EUA, criticando os EUA como um poder imperial, este não foi atingido nem com os decisores políticos americanos nem com o público. O que pareceu funcionar como maneira de depurar tendências da política externa dos Estados Unidos que apoiavam a repressão e intervenção militar no terceiro mundo foi a crítica dos direitos humanos. Deste ponto de vista, "os decisores políticos" dos EUA, isto é, os representantes do sistema do poder dominante, não foram atraidos pelo conceito de imperialismo (reforçado pelo facto de que parte da população residente encarou o termo como não tendo qualquer relação com a história dos Estados Unidos — em parte porque não tiveram conhecimento das centenas de intervenções militares que os EUA haviam efectuado, ou o significado em termos mais vastos da expressão imperialismo) e isto foi razão mais que suficiente para afastar completamente o conceito. Afinal os EUA não procuraram basicamente, excepto por alguns lapsos aqui e ali, a missão ―de levar a democracia e a liberdade ao resto do mundo?‖ Ainda, no momento da publicação deste artigo, as forças armadas dos EUA estavam empenhadas em operações da guerra no Afeganistão, construindo bases por toda Ásia central, e lançando intervenções nas Filipinas e em outros lugares. No mesmo momento em que a noção da ―Era do imperialismo‖ estava a ser criticada na esquerda americana, sábios e figuras políticas apregoavam uma nova era de imperialismo conduzida pelos Estados Unidos. Outra importante crítica de esquerda da noção de imperialismo
  • 18. foi lançada por Michael Hardt e Antonio Negri no seu livro Império (2000), publicado pela Harvard University Press. Segundo Hardt e Negri o imperialismo terminou com a Guerra do Vietname. A Guerra do Golfo em 1991, em que os Estados Unidos lançaram o seu poder militar contra o Iraque, foi, de acordo com os autores, desencadeada "não em função dos motivos nacionais [dos Estados Unidos] mas em nome do direito global... A política mundial dos EUA actua não no interesse imperialista mas sim no interesse imperial [isto é, no interesse de um Império sem um centro e sem fronteiras]. É neste sentido que a guerra de golfo, como George Bush [pai] apregoou, anuncia o nascimento de uma nova ordem mundial. Em outra parte do seu livro os autores declararam: "Os Estados Unidos não podem, e na verdade nenhum estado-nação o pode hoje, formar o centro de um projecto imperialista" . Foi precisamente esta posição — que negava qualquer relação entre os EUA e o imperialismo no sentido clássico, explorador, mas que também encarava a extensão do domínio e do poder dos Estados Unidos como um reflexo de 'império' e de um papel 'civilizador' imperial (a extensão da Constituição americana à escala global) — aquela que foi enfatizada nos generosos elogios ao livro de Hardt & Negri brotados em publicações como o New York Times , revista Time , London Observer e Foreign Affairs . [*] Mais recentemente, Todd Gitlin, um anterior presidente da Students for a Democratic Society e agora o professor de Jornalismo e Sociologia em Columbia, escreveu um artigo para o New York Times (05/Set/2002):
  • 19. A esquerda americana... teve a sua versão do unilateralismo. A responsabilidade pelos ataques [do 11 de Setembro ] tinha, de algum modo, de estar no imperialismo americano, porque toda a responsabilidade tem de estar no imperialismo – um eco perfeito da ideia da direita de que todos os poderes bons são e e devem ser americanos. Intelectuais e activistas da extrema esquerda não podiam ficar muito perturbados com a compaixão ou a defesa... Sabendo pouco sobre a Al Qaeda, eles arquivaram-na em anti-imperialismo, e ataques americanos aos Taliban como Pântano do Vietname. Para eles, não desfraldar a bandeira tornou-se uma causa premente... Os liberais pós- Vietname têm agora uma oportunidade, libertos da ansiedade da bandeira dos anos 60 e da nossa negatividade reflexiva, de abraçar um patriotismo liberal que não precisa de desculpas e é destemido. Para Gitlin – escrevendo nos meios de comunicação da elite que publicam textos acerca de um supostamente benigno imperialismo americano – toda acusação de "imperialismo americano" era uma espécie de distorção extremista introduzida pela esquerda. Nunca lhe importou que a localização de bases militares americanas permanentes na Arábia Saudita em resultado da guerra de 1991 contra o Iraque tivesse induzido os fundamentalistas islâmicos a abandonar a Arábia Saudita (inclusive a própria al-Qaeda) para voltarem-se contra os Estados Unidos. Nunca lhe importou que Osama Bin
  • 20. Laden recebesse o seu treino terrorista por meio dos patrocínios americanos à guerra dos fundamentalistas islâmicos contra aos soviéticos no Afeganistão. Nunca lhe importou que Saddam Hussein fosse um antigo cliente dos Estados Unidos na época da guerra Irão-Iraque (e certamente até ao momento da sua invasão ao Kuwait). E nunca lhe importou que a Arábia Saudita e o Iraque sejam o primeiro e o segundo maiores países do mundo em reservas de petróleo, ou o facto de que o Afeganistão é a porta de entrada para a Ásia Central, uma das áreas mais ricas do mundo em reservas de petróleo e gás natural. Finalmente, nunca lhe importou que os Estados Unidos agora já tenham bases militares por toda a Ásia Central e que pretendem lá permanecer. De algum modo, apesar de tudo isto e apesar do facto de que o suposto imperialismo americano agora está a ser amplamente louvado na elite do poder, à esquerda não é permitido levantar a questão do imperialismo americano como parte de uma crítica à política externa americana. Se o imperialismo está a ser redescoberto é somente dentro de certos limites ideológicos estritos. Os ricos globais ficam mais ricos, os pobres globais ficam mais pobres Um aspecto essencial da redescoberta do imperialismo dentro do poder estabelecido é justificar a predominância militar e política dos Estados Unidos ao mesmo tempo que remove desta toda a noção de um fosso crescente entre nações ricas e pobres — como aquelas enfatizadas nas teorias marxistas do imperialismo e destacadas pelos novos movimentos
  • 21. antiglobalização / anticapitalismo. Um sinal do impacto deste novo movimento global anticapitalismo é a extensão em que a elite do poder global e os seus aliados consideraram necessário defender o seu ponto de vista. Uma parte significativa desta defesa é a afirmação de que os defensores da antiglobalização não sabem do que estão a falar. Se o império americano parece mais dominante do que nunca isso nada tem a ver, dizem-nos, com exploração económica. Um caso exemplar é o artigo no New York Times (15/Ago/02) de Virgínia Postrel, uma das suas colunistas frequentes sobre temas económicos. Foi-lhe dado o chamativo título “Estão os ricos a ficar mais ricos e os pobres mais pobres. Certo? Vamos dar uma outra vista de olhos” . O artigo foi preparado para aparecer pouco antes da Encontro Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável ocorrido em Joanesburgo em Agosto e Setembro de 2002. O objectivo do artigo de Postrel era refutar Noam Chomsky, que foi citado a dizer ―a desigualdade está a aumentar neste período de globalização – dentro dos países e entre os países‖. De acordo com Postrel, não só Chomsky estava absolutamente errado, como também o estava o Relatório do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 1999 que chegou à mesma conclusão baseado em dados organizados pelo ONU. O que está errado com as reivindicações de Chomsky e das Nações Unidas, segundo Postrel e outros defensores da globalização e da liberalização? Os dados, insiste ela, estão enviezados. O relatório das Nações Unidas e outros olham para diferenças entre o rendimento dos países mais ricos e
  • 22. mais pobres – não ricos e pobre individuais. Isso significa que cidadãos anteriormente considerados pobres de países gigantes poderiam tornar-se um bocado mais ricos e ainda assim mal aparecer nos dados. Aqui os defensores neoliberais do sistema global misturam e confundem duas questões diferentes — as diferenças entre países e a distribuição desigual da riqueza pela população mundial. Existe certamente uma diferença legitima entre as duas. A dimensão do país é irrelevante ao examinar as diferenças entre países. A economia mundial funciona através de diferentes estados. A história do capitalismo destaca-se pelo fosso crescente entre estados ricos e pobres — um fosso que se distingue pelo facto de que os estados ricos crescem em grande parte através da exploração de outras nações. Por vezes é um estado grande a explorar um pequeno grupo de estados mais pequenos. Em outros casos, é um estado pequeno a extrair o excedente de muitos estados maiores. Pense-se no actual império dos Estados Unidos e no império britânico do século passado. Os ideólogos do capitalismo global, dedicados a demonstrar o carácter benigno do imperialismo americano, insistem em que a globalização e a liberalização conduzirão à igualdade económica entre nações, grandes e pequenas. Os factos mostrados pelas Nações Unidas, entretanto, provam conclusivamente que isto não ocorreu. Pelo contrário, o fosso entre estados aprofundou-se. Mesmo assim o New York Times não está interessado. Ele
  • 23. preocupa-se com o povo. Postrel escreve: ―Nas últimas três décadas... os dois maiores países mundiais, China e Índia, competiram economicamente. O mesmo fizeram outros países asiáticos com populações relativamente grandes. O resultado é que 2,5 mil milhões de pessoas povos viram seus níveis de vida aproximar-se em direcção àqueles dos milhares de milhões dos países já desenvolvidos — reduzindo a pobreza global e aumentando a igualdade global. Do ponto de vista desses indivíduos, a liberalização económica foi um êxito enorme‖. Mas que exemplos! Vamos dar uma olhadela à contribuição de Índia para a redução da pobreza global. De acordo com o ultimo relatório Banco Mundial, 86 por cento da sua população vive com menos de US$ 2 por dia . [*] Em 1983, os 10 por cento do topo dos que obtinham rendimentos na Índia representavam 26,7 por cento rendimentos/despesas familiares, em 1992, sua fatia era de 28,4 por cento, e em 1997, tinha-se elevado para 33,5 por cento. Dificilmente é um sinal da igualdade crescente! (Banco Mundial, Relatório do Desenvolvimento Mundial , edições 1990, 1996, 2003). [*] Consideremos agora o exemplo da China. Há três décadas atrás a China era a nação mais igualitária do mundo. Nessa altura os seus líderes políticos tomaram outro rumo na prossecução dos seus objectivos. Ao invés da anterior prioridade à igualdade, foi dito aos seus cidadãos que era bom ficar rico. A empresa privada foi encorajada, a porta ao investimento estrangeiro foi alargada, o estado chinês tornou- se cúmplices das multinacionais dos Estados Unidos, foram
  • 24. dadas as boas-vindas à globalização, o Banco Mundial entrou, e a China aderiu recentemente à OMC. O resultado foi exactamente o oposto ao que o dogma prevalecente levaria a esperar, e que Postrel e outros defensores da globalização neoliberal supõem simplesmente ser verdadeiro. A China, outrora distinguida pela sua devoção à igualdade, tornou-se cada vez mais desigual. Assim, no fim dos anos noventa, a distribuição da riqueza da China assemelhava- se muito à má distribuição da riqueza nos Estados Unidos (ver tabela 1). Tabela 1: Distribuição do rendimento nos EUA e na China Participação percentual do rendimento ou do consumo * 10% inferiores 20% inferiores 10% superiores 20% superiores China 2,4 5,9 30,4 46,6 EUA 1,8 5,2 30,3 46,4 * Conforme os dados disponíveis, os economistas do Banco Mundial calcularam a distribuição do rendimento ou através das receitas ou do consumo Fonte: Banco Mundial, World Development Report 2000/2001, os dados dos EUA referem-se a 1997 e da China a 1998. Existe, de facto, um conjunto de dados fidedigno sobre a distribuição da riqueza mundial. A informação foi desenvolvida num estudo exaustivo e altamente competente feito por Branko Milanovic, um economista do Banco Mundial. Ele escavou a quantidade incrível de dados estatísticos armazenados nos computadores Banco Mundial. Seu estudo veio à luz do dia com a história da distribuição do rendimento mundial em 1988
  • 25. e em 1993. Ela demonstra que, de facto, a desigualdade aumentou durante aqueles anos (ver tabela 2). Tabela 2: Distribuição do rendimento mundial Porcentagem acumulada da população e do rendimento Porcentagem Porcentagem Porcentagem acumulada acumulada acumulada da população do rendimento do rendimento mundial mundial mundial 1988 1993 10% inferiores 0,9 0,8 20% inferiores 2,3 2,0 50% inferiores 9,6 8,5 75% inferiores 25,9 22,3 85% inferiores 41,0 37,1 10% superiores 46,9 50,8 5% superiores 31,2 33,7 1% superiores 9,3 9,5 Repare-se que os 1 por cento do topo receberam uma parte maior (9,5 por cento) da riqueza mundial em 1993 do que os 50 por cento inferiores, ao passo que os 5 por cento do topo em 1993 tiveram uma parte da riqueza que excede de longe os 75 por cento inferiores e que começa a aproximar-se dos 85 por cento. (Milanovic explorou os dados com maior detalhe do que é aqui mostrado e concluiu que na população mundial os 1 por cento do topo tiveram o mesmo rendimento que os 57 por cento inferiores). Estes números são exactamente o que se
  • 26. esperaria de toda a história do capitalismo, que prospera com o aprofundamente da diferença do fosso entre ricos pobres — uma lei do sistema que agora tem um campo de actuação à escala global. Tal exploração global é o cerne do imperialismo, o qual é tão básico para o capitalismo, e tão inseparável, como a própria acumulação. Mas este, naturalmente, não é o quadro total do imperialismo, que é constituído por uma história complexa com factores políticos, militares, e culturais (raciais) ligados entre si. Na abordagem marxista, o imperialismo económico não é na realidade separado destas outras características, as quais constituem igualmente uma parte do desenvolvimento global capitalista. Assim como a busca dos lucros é a mantra do império americano, também o seu poder militar e político visa alargar esta busca e estender seu poder numa base mundial — colocando sempre em primeiro lugar os interesses das corporações dos Estados Unidos e do próprio Estado americano. A redescoberta do imperialismo pelos medias dominantes significa somente que estes processos estão a ser agora apresentados, especialmente nos círculos governantes dos Estados Unidos — uma realidade da qual não há nenhuma escapatória. A revolta contra esta nova fase do imperialismo, contudo, claramente só agora começou. A maior parte da população do mundo sabe aquilo que os sábios americanos convenientemente esquecem, que o imperialismo americano assemelha-se aos impérios exploradores do passado, e provavelmente sofrerá o mesmo destino dos outros, com revoltas internas e ―bárbaros‖ às portas.
  • 27. NOTAS * Boot, Brzezinski, Kaplan, Kissinger, Mallaby, e Rosen são citados em Philip S. Golub, ―The Dynamics of World Disorder: Westward in the Course of Empire,‖ Le Monde Diplomatique , edição inglesa da internet (Setembro 2002); veja também Martin Walker ―America's Virtual Empire,‖ World Policy Journal 19 (verão 2002), pp. 13,20. * Charles A. Conant, The United States in the Orient (Boston: Houghton Mifflin, 1900), pp. 29-30. * Tanto The Age of Imperialism: The Economics of U.S. Foreign Policy, livro de Magdoff de 1978, como Imperialism: From the Colonial Age to the Present foram publicados pela Monthly Review Press. Os excertos da discussão do trabalho de Magdoff extraída de John Bellamy Foster, ―Harry Magdoff‖, em Phillip Arestis e Malcolm Sawyer, A Biographical Dictionary of Dissenting Economists (Northampton, Mass.: Edward Elgar, 2000), pp. 385,94. * O exemplo mais flagrante disto é Steven J. Rosen e James R. Kurth, Testing Theories of Economic Imperialism (Lexington, Massachusetts: Lexington Books, 1974). Num ensaio crítico nesse volume, Harry Magdoff concluiu que "uma estrutura analítica" que "coloque em compartimentos separados aspectos chaves do problema imperialista e que são de facto inseparáveis" era errada. "A tentativa clara de diferenciar aspectos políticos, militares, e económicos leva a que se ignore o que é o mais essencial: a interdependência e a interacção mútua destes factores. Este modo de pensar – incluindo o uso da abstracção 'interesse nacional' – é bastante tradicional na ciência social ortodoxa, um facto de grande alcance para esclarecer a sua incapacidade histórica de enfrentar tanto o crescimento como o significado do imperialismo ou [as novas] raízes de imperialismo no capitalismo monopolista". Magdoff em Ibid., p. 86. * Para um tratamento mais detalhado do livro de Hardt e de Negri veja John Bellamy Foster, ―Imperialismo e 'Império'‖ , Monthly Review 53(dezembro 2001), pp. 1,9. * Esta informação é relativa a 1992, o último ano para o qual esta espécie de informação está disponível. O limite de US$ 2 é baseado na paridade de poder de compra. Isso significa que os dados são ajustados para determinar que quantidade de um cabaz de bens de consumo poderia ser comprada por US$ 2, eliminando na medida do possível o efeito das diferenças entre preços de país para país. * Estes dados são retirados das tabelas do Banco Mundial sobre distribuição do
  • 28. rendimento — em edições recentes do World Development Report intituladas ―Distribuição da pobreza e riqueza‖. Ao calcular as percentagens da distribuição da riqueza o Banco de Mundial confia nos inquéritos familiares de rendimentos ou despesas compilados por vários países. A fim assegurar que os dados são comparáveis a equipe do Banco Mundial usa sempre que possível as despesas familiares em vez de dados do rendimento. No caso da Índia os dados citados são baseados em em despesas familiares per capita. [*] JOHN BELLAMY FOSTER é editor da Monthly Review . É autor de Ecology Against Capitalism , Marx's Ecology: Materialism and Nature e The Vulnerable Planet , e co- editor de Hungry for Profit: The Agribusiness Threat to Farmers, Food, and the Environment , todos publicados pela Monthly Review Press. O original deste artigo encontra-se em http://www.monthlyreview.org/1102jbf.htm . Tradução de José Carlos Barreiros Correia. Este artigo encontra-se em http://resistir.info 17/Nov/02