1) A Revolução Bolivariana na Venezuela, liderada por Hugo Chávez, teve como objetivo expandir a influência do governo junto às camadas populares e estabelecer alianças na América Latina, apoiada na riqueza do petróleo.
2) Após a morte de Chávez, a Venezuela enfrenta turbulências econômicas e confrontos violentos entre chavistas e opositores, levando o país a uma polarização extrema e possível guerra civil.
3) O atual governo de Nicolás Maduro tem tomado medidas autor
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Venezuela rumo à guerra civil
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VENEZUELA RUMO À GUERRA CIVIL
Fernando Alcoforado*
A Revolução Bolivariana foi o termo criado por Hugo Chávez para designar as
mudanças políticas, econômicas e sociais iniciadas a partir de seu acesso ao poder na
Venezuela. A Revolução Bolivariana está baseada, segundo Chávez, no ideário do
libertador Simon Bolívar e tem como principal objetivo a emancipação da América
Latina. Sua estratégia na Venezuela consistiu em ampliar sua influência junto às
camadas populares de sua população e contar com o decisivo apoio das Forças Armadas
para dar-lhe sustentação. No plano extermo, estabeleceu alianças com os governantes do
Equador, Bolívia, Argentina, Brasil e Peru, entre outros países, fortemente apoiado na
riqueza fundamental do país, o petróleo.
Na América Latina, as guerras e revoluções de independência estão na origem da
Nação, estabelecendo alguns dos seus traços principais. O que há de épico nas lutas
simbolizadas por Simón Bolívar, José Artigas, José Morelos, Miguel Hidalgo,
Bartolomé Mitre, Bernardo O'Higgins, Antonio Sucre, José Bonifácio, Frei Caneca,
Ramón Betances, José Martí, Tiradentes e muitos outros, está enraizado na façanha
destinada a emancipar a colônia, criar o Estado nacional, organizar a Nação. Libertá-la
do colonialismo, do absolutismo, do mercantilismo, da acumulação originária. A defesa
dos interesses da Venezuela e da América Latina sempre esteve no centro das
preocupações de Hugo Chávez.
A questão nacional está na base de algumas lutas fundamentais dos países da América
Latina. Em diferentes épocas, principalmente em conjunturas críticas mais profundas
como a atual, reabre-se a problemática nacional. Em vários países da América Latina, a
cobrança para uma mudança de rumo é cada dia mais forte. O empobrecimento do
continente alcançou níveis inaceitáveis. A concentração da riqueza e a exclusão social
colocaram as desigualdades em patamares jamais vividos anteriormente. O dilema dos
governos latino-americanos está em cumprir seus compromissos com o povo ou se
colocar no campo adversário - do lado que quem oprime, explora e quer manter tudo
como está. Ao contrário da maioria dos países da América Latina que se dobraram aos
ditames do capital internacional, a Venezuela assumiu um papel diametralmente oposto
com a ascensão ao poder de Hugo Chávez.
Desde sua eleição em 1998, Hugo Chávez ganhou notoriedade no espaço político latino-
americano. Alguns o viam como um governante de vanguarda, representando o que há
de mais avançado no pensamento de esquerda da América Latina, outros o entendiam
como mais um movimento autoritário levado adiante por um caudilho. Desde 1998,
Chávez venceu diversos pleitos eleitorais, passou por uma tentativa de golpe militar em
2002, demarcou e priorizou sua base eleitoral com diversos programas sociais,
conhecidos como “missões”, controlou politicamente o país realizando, inclusive,
mudanças na Constituição do país (fato que se deve, em parte, à sua capacidade política,
mas também à incapacidade da oposição em se organizar após as derrotas nas urnas) e
com a prerrogativa de estar buscando os objetivos da inclusão social e da democracia
participativa e chegou a sustentar altíssimos níveis de popularidade, principalmente
entre os anos de 2004 e 2007.
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Hugo Chávez, eleito pela primeira vez em 1998, ganhou quatro mandatos presidenciais
sucessivos pela via eleitoral. Nos primeiros anos da presidência de Chávez, ele
introduziu reformas de bem-estar social que resultaram na melhoria das condições
sociais dos “de baixo” na escala social. Implantou ainda sistemas gratuitos de saúde e de
educação, até o nível universitário, financiados pelo governo. Cerca de 1 milhão a mais
de crianças foram matriculadas na escola primária desde que o líder bolivariano chegou
ao poder. Em 2003 e 2004, Chávez lançou campanhas sociais e econômicas convertidas
em aulas gratuitas de leitura, escrita e aritmética para os mais de 1,5 milhão de
analfabetos adultos venezuelanos. Este conjunto de medidas trouxe, segundo
levantamentos realizados, resultados como o crescimento em 150% da renda familiar
dos mais pobres, entre 2003 e 2006, e a redução da taxa de mortalidade infantil,
em 18%, entre 1998 e 2006.
As sucessivas vitórias de Chávez nas eleições na Venezuela confirmaram seu mandato
com forte apoio popular, indicando que o caminho escolhido por ele naquele país
conseguiu não apenas a mobilização e a organização da população mais pobre, mas,
também, a construção de uma agenda afirmativa na defesa da soberania nacional e de
confronto com o imperialismo, sobretudo o norte-americano. As duas grandes marcas
do governo Chávez dizem respeito ao propósito de realizar a Revolução Bolivariana e
implantar o Socialismo do Século XXI. Esse socialismo proposto por Chávez em 2005
no Fórum Mundial em Porto Alegre seria nutrido pelas correntes mais autênticas do
cristianismo, pelo marxismo e pelas ideias de Bolívar. Entretanto, o discurso proposto
pelo socialismo do século XXI e sua aplicação prática passaram a se defrontar com uma
série de problemas estruturais que o governo de Hugo Chávez não conseguiu resolver
como, por exemplo, promover a expansão dos setores produtivos da Venezuela e a
excessiva dependência do país da importação de inúmeros produtos, inclusive de
alimentos.
Após a morte de Hugo Chávez e a ascensão ao poder de Nicolás Maduro, a Venezuela
tem sido palco de turbulências econômicas e violentos confrontos entre chavistas e
antichavistas que tem como causas principais a hiperinflação, a escassez de moeda forte
(que gera especulação com o dólar) e o desabastecimento de alguns produtos básicos
que atinge fortemente toda a população. Sem crédito e sem divisas, a Venezuela passou
a depender cada vez das vendas do petróleo, como única fonte de ingresso de capitais,
cujos preços declinaram nos últimos anos e estao comprometendo a economia do país.
Um fato indiscutivel é que a Venezuela é um país dividido e polarizado ao extremo
entre chavistas e antichavistas cuja radicalização atingiu as culminancias com a derrota
recente nas eleições parlamentares do chavismo para as forças de oposição que hoje são
maioria na Assembleia Nacional que por sua vez, pretende realizar referendo para
destituir Nicolás Maduro do poder.
Para evitar sua destituição do poder, Nicolás Maduro prende opositores ao chavismo,
reprime com violência as manifestações das forças de oposição, utiliza as milícias
bolivarianas para com o uso da violência atacarem seus opositores, implantou um
regime de exceção similar ao estado de sítio para manter a ordem, além de anunciar que
a Assembleia Nacional de oposição ao governo desaparecerá em breve. A convocação
recente por Nicolás Maduro de nova Assembleia Constituinte tem como principal
objetivo inviabilizar a Assembleia Nacional de oposição ao governo. O socialismo do
século XXI se transformou em fascismo por assumir o nacionalismo exacerbado e
apresentar as características de um regime ditatorial sob a direção de Nicolás Maduro
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fascismo que prevalece na Venezuela é um regime político autoritário, antidemocrático
que, sob o pretexto de defender os interesses das classes menos favorecidas, usa o poder
ditatorialmente por um partido ou através de uma camarilha que se sobrepõem ao direito
e à moral.
O regime venezuelano é fascista porque exerce a coerção pela força por atores sociais
muito poderosos, que, escapando a todo controle democrático, impõem sua vontade à
sociedade. Tudo leva a crer que a Venezuela caminha celeremente para a eclosão da
guerra civil e a implantação de uma ditadura pela facção que vencer este conflito para
manter a ordem no país. Muito dificilmente, a democracia representativa poderá
resultar dos conflitos políticos que ocorrem na Venezuela devido à dificuldade de se
estabelecer um pacto social que exigiria o consenso na Sociedade Civil de difícil
construção.
*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação e da Academia Brasileira Rotária
de Letras – Seção da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é
autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova
(Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São
Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX
e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of
the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas,
Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016) e A Invenção de um novo
Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-
mail: falcoforado@uol.com.br.