1. GLOBALIZAÇÃO DO TERRORISMO
Fernando Alcoforado*
O mundo vive na atualidade dois tipos de terrorismo globalizado: 1) o terrorismo de Estado
praticado pelas grandes potências capitalistas, sobretudo pelos setores dirigentes dos
Estados Unidos e seus aliados visando a conquista de recursos naturais e a dominação dos
mercados dos países capitalistas periféricos; e, 2) o terrorismo praticado por organizações
que reagem à ação imperialista em todo o mundo, sobretudo árabes, combatendo a
ocupação militar de seus países pelas potências ocidentais, como ocorre no Iraque e no
Afeganistão, ou agindo nos países capitalistas centrais como atestam os atentados do World
Trade Center em New York e, mais recentemente, na Maratona em Boston.
O imperialismo praticado pelas grandes potências ocidentais significa guerra e terrorismo.
De todas as forças violentas surgidas até hoje ao longo da história, foi o
imperialismo (britânico, francês e norte-americano, entre outros), quem cometeu
os maiores crimes contra a Humanidade — das guerras interimperialistas como a
1ª e 2ª Guerra Mundial às chamadas guerras limitadas como a Guerra da Coreia, a
Guerra do Vietnã e o patrocínio dos regimes de terror como as ditaduras militares
implantadas na América Latina nas décadas de 1960 e 1970, inclusive no Brasil.
Através de regimes subordinados a seus interesses, o governo dos Estados Unidos
patrocinou todos os possíveis atos de terrorismo, o que inclui prisões e detenções
ilegais, torturas, assassinatos, entre outras ações. Milhões de pessoas na Ásia,
África e América Latina sofreram com esses atos de terrorismo de Estado.
Nos últimos 12 anos, o governo dos Estados Unidos e seus aliados desencadearam quatro
guerras de agressão em larga escala — as do Iraque, da Iugoslávia, do Afeganistão e da
Líbia — e no processo lucraram com espólios, como os recursos petrolíferos e contratos
militares, enquanto os povos destes países sofreram terrivelmente com o terror imperialista
em todas essas guerras de agressão. Os novos alvos dos Estados Unidos e seus aliados são a
derrubada dos regimes de Assad na Síria e a dos aiatolás no Irã contando com o apoio de
Israel que, recentemente, atacou a Síria prenunciando uma escalada da Guerra no Oriente
Médio. O que faz tais guerras serem extremamente abomináveis é a covardia na utilização
do poder aéreo com o uso inclusive de aviões não tripulados (drones) e de outras armas de
alta tecnologia para bombardear e massacrar a população civil, destruir infraestruturas,
incluindo barragens, usinas elétricas, hospitais, creches, escolas, fábricas, edifícios de
escritórios, igrejas e meios de comunicação.
Os Estados Unidos e seus aliados imperialistas são responsáveis pela ruína econômica e
social dos países periféricos do mundo. Além disso, instiga os conflitos étnicos e religiosos,
gerando rivalidades e massacres civis. Os Estados Unidos é o agressor e terrorista número
um da Humanidade. Não importa o quanto seja, ocasionalmente, chocante a atividade de
pequenos grupos privados de terroristas porque todos eles são minúsculos perante o
superterrorismo dos Estados Unidos. O governo dos Estados Unidos está oprimindo os
imigrantes da Ásia, África e América Latina e, sobretudo, aqueles que pertencem à fé
islâmica. Promulgaram o Patriot Act fascista, sob o disfarce de antiterrorismo, impondo a
outros países o modelo de legislação antidemocrática e medidas draconianas.
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2. O governo dos Estados Unidos está induzindo a repressão dos países sob sua tutela a fazer
prisões arbitrárias, detenções incomunicáveis e sem acusações, cortes militares contra civis,
assassinatos ou rapto de líderes anti-imperialistas para serem julgados em tribunais
controlados por eles mesmos, além de serem concedidas permissões à CIA para assassinar
líderes anti-imperialistas no estrangeiro. A escalada do terror globalizado encontra um
terreno fértil para sua proliferação com o terrorismo de Estado praticado pelo governo dos
Estados Unidos.
O cenário em que vivemos atualmente no planeta configura o que Thomas Hobbes
denominou de estado de natureza ou estado de guerra de todos contra todos. Segundo
Hobbes, uma das três situações em que o estado de natureza pode se verificar ocorre “na
sociedade internacional, onde as relações entre os estados não são regulamentadas por um
poder comum, numa situação que poderia ser chamada de interestatal” (Bobbio, Norberto.
Thomas Hobbes. Campus, Rio, 1991, p. 36). Cabe observar que o conceito “estado da
natureza” foi definido pelo filósofo Thomas Hobbes em sua obra Leviatã.
Segundo Hobbes, no “estado de natureza”, reina a ausência do Direito, logo não há espaço
para a justiça. Neste contexto, todos procuram defender seus direitos por meio da força. No
“estado de natureza”, portanto, como concebera Hobbes, reina a guerra de todos contra
todos. O estado de natureza é, portanto, o estado da liberdade sem lei externa, isto é,
ninguém pode estar obrigado a respeitar os direitos alheios tampouco pode estar seguro de
que os outros respeitarão os seus e muito menos pode estar protegido contra os atos de
violência dos demais. Esta é a situação que prevalece nas relações internacionais atuais.
Não existe na atualidade o que Hobbes denomina de poder comum no plano mundial, isto
é, a existência de acordo de todos para sair do estado de natureza para instituir uma situação
tal que permita a cada um seguir os ditames da razão, com a segurança de que os outros
farão o mesmo. Esta é, segundo Hobbes, a condição preliminar para obter a paz. Hobbes
afirma que o estado de natureza é um estado de insegurança e que a finalidade do acordo é
remover as causas dessa insegurança. A causa principal da insegurança é a falta de um
poder mundial comum e o único meio para isso é que todos os estados consintam em
renunciar a seu próprio poder transferindo-o para uma pessoa jurídica, como, por exemplo,
a Assembléia Geral da ONU.
Enquanto a humanidade não construir um poder mundial comum prevalecerá a lei das
selvas, isto é o estado de natureza no plano internacional. Enquanto prevalecer a hegemonia
política, econômica e militar dos Estados Unidos que procura impor sua vontade e a do
capitalismo internacional no contexto do sistema interestatal, a guerra de todos contra todos
imperará. O risco de que um governo mundial possa vir a ser liderado pelas mesmas
grandes potências militares e econômicas é real. É preferível, entretanto, correr este risco
do que não fazer nada. É preciso correr este risco, trabalhando e apostando na possibilidade
de que possa vir a ser constituído um governo verdadeiramente democrático em escala
mundial no futuro.
O governo mundial a ser constituído no futuro poderá nascer com base no convencimento e
na pressão da comunidade internacional de sua imperiosa necessidade ou, então, virá após
catástrofes que possam vir a ocorrer nos ambientes econômico, social e ecológico mundial
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3. e com as guerras em cascata que poderão crescer no futuro, se nada for feito. Com um
governo mundial, será possível combater a guerra e acabar com o banho de sangue que tem
caracterizado a história da humanidade ao longo da história. Para ser democrático, o
governo mundial deve ser representativo de todos os povos do mundo. Nessas
circunstâncias, nenhum país seria tutelado pelo governo mundial. A sobrevivência da
humanidade dependerá da capacidade de se celebrar um Contrato Social Planetário
representativo da vontade da maioria da população do planeta.
*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros
Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial
(Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São
Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.S
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