O documento discute três virtudes essenciais para um líder educador: generosidade mental, coerência ética e humildade intelectual. A generosidade mental significa ensinar o que se sabe para fortalecer o grupo. A coerência ética significa praticar os valores e ética que se ensina. E a humildade intelectual significa estar aberto a perguntar sobre o que se ignora.
Liderança motivação e formaçao de equipes - fabra jan 2014
A capacidade de proteger o futuro
1. A capacidade de proteger o futuro
Na era do líder educador, a gestão de pessoas exige três virtudes especiais:
generosidade mental, coerência ética e humildade intelectual
Mario Sergio Cortella
Cada vez mais se fala em liderança e da importância de quem lida com pessoas ser capaz de educá-
las e educar-se. Paulo Freire, em seu livro Pedagogia do oprimido, escreveu: "Ninguém educa
ninguém, ninguém se educa sozinho. As pessoas se educam reciprocamente numa relação,
mediatizada pelo mundo". Ao olhar a frase na sua inteireza, Paulo Freire afirma que ninguém é só
educador, porque quem educa também é educado, quem ensina também é ensinado. As pessoas se
educam reciprocamente na convivência, na relação, isso significa que ninguém é exclusivamente
líder. Somos líderes e liderados. Somos capazes de inspirar ideias, pessoas e projetos em várias
direções e somos capazes de ser inspirados.
Existem três atributos essenciais para um líder educador: generosidade mental, coerência ética e
humildade intelectual. Todos estão reunidos brilhantemente na frase de Beda, um britânico que
viveu no século 8: "Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe; não praticar o que
se ensina; não perguntar o que se ignora". De outro modo, pode-se dizer que há três caminhos para o
sucesso: ensinar o que se sabe, isto é, generosidade mental; praticar o que se ensina, ou seja,
coerência ética; perguntar o que se ignora, isto é, humildade intelectual.
1 - Generosidade mental
A capacidade de ensinar o que se sabe parece estranha porque dá a impressão de que "se eu tenho
uma competência, tenho de guardá-la para mim". Ao contrário, "se eu tenho uma competência, tenho
de reparti-la". E reparti-la significa fortalecer o grupo. Há 20, 30 anos, a noção de competência era
individual. A frase era: "A minha competência acaba quando começa a do outro". Quem tinha uma
competência ficava quieto: "Eu não vou passar para a frente, senão vão me tirar daqui". E quem
tinha uma incompetência, ficava quieto: "Não vou falar nada, senão vão me mandar embora". As
duas atitudes são perigosas. A regra básica hoje é "a minha competência acaba quando acaba a do
outro". Num grupo, numa área, numa estrutura, se você perde competência, eu perco. Você ganha,
eu ganho. A noção de competência é coletiva. Na gestão de pessoas, é preciso ser capaz de
desenvolver o conceito de competência coletiva, apoiada em dois princípios: quem sabe reparte;
quem não sabe procura. Quem sabe e não reparte, enfraquece a si mesmo e ao grupo. O mesmo se dá
se alguém se calar em relação ao que ignora. O indivíduo e o grupo são prejudicados por quem finge
domínio sobre o que não sabe. Por isso, é necessário criar um ambiente no qual seja possível que
quem algo ignore tenha condições de perguntar e no qual aquele que algo sabe possa reparti-lo. Isso
é generosidade mental, ensinar o que sabe é o princípio do líder educador. Não significa fazer pela
outra pessoa, mas ajudá-la a construir a própria competência.
2. O mundo está mudando. Isso é óbvio. Está mudando e sempre mudou. Não é essa novidade. O
ineditismo está na velocidade com que as alterações se processam. Nunca em toda a história humana
houve tanta velocidade na mudança. Dessa forma, se não ensinarmos o que sabemos, fragilizamos a
competência coletiva. A mudança veloz altera o modo de fazer, de pensar, de realizar, de agir em
qualquer área. O líder educador é aquele que se preocupa com a superação das incompetências.
Aquele que está consciente da necessidade de aprender sempre e mais. Quem não tiver percepção da
mudança, em vez de acompanhá-la, terá reduzida a capacidade de liderar, formar e gerir.
2- Coerência ética
É praticar o que se ensina. O líder não pode ter uma adesão cínica à ética, como uma máscara
conveniente. Porque existe muita gente que fala sobre ética, mas não a pratica no rumo da
saudabilidade e da decência. Desse ponto de vista, o líder se torna um péssimo educador se não
pratica o que ensina, porque a educação é de natureza exemplar. As pessoas se inspiram no exemplo.
Para a gente praticar o que ensina, é preciso ser capaz de partilhar não apenas informações,
conhecimentos e competências, mas também valores de convivência. As empresas que sustentam o
princípio de "Não fazemos qualquer negócio" são as que têm a capacidade de desenvolver
conhecimento, tecnologia para gerar vida, e não para diminuí-la. São as que têm o firme propósito de
colher lucro decente, a partir também do cuidado com a vida.
3- Humildade intelectual
Consiste em perguntar o que se ignora. Ressalve-se que humildade é diferente de subserviência.
Subserviente é quem se dobra a qualquer coisa. Humilde é a pessoa que sabe que não é a única que
sabe, que sabe que não sabe tudo, que sabe que a outra pessoa sabe o que ela não sabe, que sabe que
ela e a outra pessoa poderão saber muito juntas, que sabe que ela e a outra pessoa nunca saberão tudo
o que pode ser sabido. Um educador que queira liderar ou um líder que queira ser educador na
gestão de pessoas precisa ser capaz de ter dúvidas. Gente que não tem dúvida não cria, não avança,
não inova, só repete. A pessoa não pode ter só dúvidas, mas não tê-las é sinal de mediocridade. É
fundamental questionar-se: "Será que o que estou fazendo é o melhor? Será que este é o único modo
de pensar? Será que esta alternativa é exclusiva?". Para ter dúvida é preciso humildade. Muitos não
compreendem que ter dúvida não é expressar ignorância. Ignorante é aquele que, não sabendo algo,
se cala, e persiste na ignorância. Muita gente não fala por medo de errar. Mas o erro faz parte do
processo. Thomas Edison, que inventou a lâmpada elétrica de corrente contínua, foi um homem
genial, porque não temia errar. O que ele temia era desatenção, negligência e descuido. Erro não é
para ser punido, é para ser corrigido. O que é passível de punição é desatenção, negligência e
descuido. Errar faz parte do processo de inovação. Antes de chegar à lâmpada, Edison errou 1.430
vezes. Mas não desistiu. Não existe fracasso no erro, o fracasso está na desistência! Cabe ao líder
educador não perder essas trilhas virtuosas de vista; são elas que estão no nosso cenário para
construirmos e protegermos o futuro.