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AFETOS, SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO NA NEURO-PSICANÁLISE
Yusaku Soussumi
Membro Efetivo da SBPSP
Sumário
Neste trabalho, o autor retorna a um tema por ele já diversas vezes abordado, buscando
agora fazer a sistematização que Freud e seus seguidores não empreenderam, incorporando
os avanços na investigação dos afetos, emoções e sentimentos alcançados pela
Neurociência das emoções e Neurociência do desenvolvimento, principalmente sob os
pontos de vista da sobrevivência e da evolução. A partir desses pontos, desenvolve o trajeto
evolutivo do processo de auto-regulação e do desenvolvimento da cognição moduladas
pelos sentimentos como a maior conquista desse processo.
Este trabalho inspirou-se no tema do XX Congresso Brasileiro de Psicanálise: “Poder,
Sofrimento Psíquico e Contemporaneidade”. Estou plenamente convencido de que o
presidente da ABP tinha razão, ao explicá-lo: “Este tema oferece um espaço que permite
transitar desde o inconsciente ou, antes ainda, em suas origens no somático, até a realidade
externa atual, com suas características muitas vezes surpreendentes, pelos impactos que
provoca tanto no sentido positivo, como o da construção e criação, quanto em seu sentido
oposto, o da destruição. Será, ao mesmo tempo, um espaço de encontro para o
aprofundamento no atemporal dos fenômenos inconscientes (nosso trabalho de todos os
dias), e para estender nosso olhar psicanalítico sobre o atual de nossos dias”.
No meu ponto de vista, o tema neuropsicanalitico, que permite esse trânsito e abrange, ao
mesmo tempo, a problemática psíquica da contemporaneidade são os afetos e emoções. O
homem contemporâneo padece da patologia ou da ausência do desenvolvimento dos afetos,
emoções e sentimentos determinada pelas condições traumáticas externas ou internas.
Tenho insistido nesse tema em minhas reflexões porque creio que, apesar de os afetos e as
emoções ocuparem uma posição central na mente do psicanalista na sua prática clínica, a
ausência de uma sistematização feita por Freud em sua metapsicologia, como fez, por
exemplo, com o inconsciente, a repressão, o narcisismo, e por seus seguidores reconhecidos
como autoridades pela comunidade dos psicanalistas, como Melanie Klein, Wilfred Bion,
1
etc., impede que a eficácia da prática psicanalítica muitas vezes alcance as raízes do
somático, como requerem as verdadeiras transformações mutativas.
As geniais apreensões de Freud, suas hipóteses relativamente a afetos e emoções e sua
compreensão do ser humano numa perspectiva evolucionista estão dispersas por sua obra e
tornam difícil uma compreensão integrada desses aspectos na economia somatopsíquica do
indivíduo, bem como suas profundas conexões básicas com os fenômenos inconscientes e
com a própria repressão. A visão de sua íntima relação com os instintos se perde no
emaranhado de concepções com as quais esse tema se mescla na obra freudiana.
Até cerca de dez anos atrás, pela influência da Psicologia Cognitivo-comportamentalista, os
neurocientistas adeptos da Neurociência Cognitiva consideravam a emoção algo
desprezível, que não merecia o investimento de uma investigação científica, uma vez que o
enfoque preferencial recaía sempre sobre o cognitivo, o intelectual, essa função superior,
distintiva do ser humano e do humano na sua expressão mais pura. A emoção era vista
como algo da ordem do patológico, que servia apenas para perturbar o cognitivo. A
Neurociência desconsiderava que eminentes cientistas como Darwin, Freud e James
pudessem ter-se ocupado das emoções. No momento, porém, que alguns neurocientistas
como Damásio, LeDoux, Davidson, Panksepp, Ekman, Watts, etc. começaram a investigá-
las, os conhecimentos começaram a fluir a passos largos.
Por força das contribuições de diversas áreas da Biologia Evolutiva, da Antropologia, da
Neurociência do Desenvolvimento e da Psicologia Social, esses estudiosos puderam fazer a
sistematização que faltava sobre o tema dos afetos e emoções. Embora nada de muito novo
para a Psicanálise, porque grande parte daqueles conhecimentos já havia sido abordada por
Freud, o que importava era a visão integrada de afetos e emoções, por meio da qual era
possível entender de forma mais eficaz suas expressões. Na minha opinião, a
sistematização, se não usada para aprisionar, permite enxergar com clareza a função
primordial que afetos e emoções, usados neste trabalho como sinônimos, desempenham na
vida do ser humano.
É por meio dessa abordagem que temos a possibilidade de compreender Freud em toda a
profundidade, quando ele sinaliza que as mudanças nos estados internos do ser são
percebidas como afetos pelo próprio ser vivo, que responde a elas com ação e movimento.
Aprendemos que os afetos são apreensões dos estados somáticos do organismo e que esses
2
estados resultam do trabalho das estruturas internas do ser na tentativa de manter a
condição interna inalterada para poder sobreviver. Compreendemos que não é somente a
captação dos estados internos que vai resultar em bem-estar ou mal-estar, ou seja, prazer ou
desprazer, que a natureza estabeleceu como parâmetro de valor ao que Freud denominou
princípio de prazer, mas, mais do que isso, vamos verificar que o afeto é a primeira
manifestação fenomenológica de uma entidade que emerge desse dinamismo das estruturas
internas, que vai se caracterizar como mente, como consciência, e que podemos chamar de
protomente. Aqui, vê-se a mente emergindo dessa realidade unitária, inseparável,
indissociável, que é corpo-mente.
O afeto, que está atrelado ao princípio do prazer, vai ser o elemento que mobiliza a ação do
ser em busca do equilíbrio e da harmonia. Esse movimento é decisivo para o processo de
homeostase, que é o mecanismo de regulação interna do ser vivo. Enfim, o que importa
compreender é que os afetos e as emoções são percepções dos estados internos do
organismo, que desencadeiam os processos de homeostase ou auto-regulação para garantir
a sobrevivência. Essa é a condição primordial, que nasce como impulso motivacional
básico intrínseco do ser, ou seja, instinto de sobrevivência, no momento mesmo em que
surge a vida. É sobre esse eixo que se constrói todo o processo de evolução, que se
caracteriza pelo aperfeiçoamento dos elementos que compõem os recursos de sobrevivência
do seres vivos, os quais vão se tornando estruturalmente mais complexos, em busca de
maior eficácia na adaptação ao meio e na manutenção da vida.
Eu costumo dizer que a natureza não quis perder essa experiência e tinha o objetivo de
perpetuá-la a qualquer custo sobre a terra. Assim, além de aperfeiçoar o ser vivo, tornando
mais complexas suas estruturas e sua organização dinâmica, mais eficazes e sofisticados os
recursos de auto-regulação e de sobrevivência para adaptação ao meio externo, a natureza
aperfeiçoou também os métodos de perpetuação da vida por meio da reprodução, para
garantir a sobrevivência das experiências que deram certo. No meu ponto de vista, essa
perspectiva evolucionista já estava presente em Freud, embora em nenhum momento de sua
vasta obra ele tenha sistematizado suas fundamentações. No entanto, apesar de dispersas,
podemos depreendê-las da leitura de seus textos. Suas incursões pela teoria dos instintos, a
valorização da sexualidade conectada com o instinto de sobrevivência (instinto do ego), a
visão do caminho ascendente do desenvolvimento ontogenético das funções psíquicas, das
3
fixações provocadas pelos traumas, do afetivo conectado ao simbólico para alcançar o
cognitivo, a capacidade de pensar (retomada por Bion sob a forma de função alfa)
aparecem em sua obra sem que tenha sido feita uma sistematização de suas concepções
sobre o homem e o processo de humanização.
Essas idéias que buscam sistematizar o conceito de afetos, eu as trouxe de minha formação
médica, antropológica e biológica anterior à minha formação psicanalítica. Minha incursão
pela Neurociência, especialmente pela Neuropsicologia, me deu o respaldo necessário para
organizar as teorias freudianas dos afetos e emoções, de modo que, entregando-me a uma
aventura transdisciplinar, pudesse de alguma forma ter elementos para pensar de forma
mais integrada a pessoa que na clínica, principalmente de hoje, estivesse me procurando em
busca de ajuda.
Meu ponto de partida, na prática clínica, orientava-se pelo pressuposto de que a pessoa à
minha frente me trazia questões ligadas às vicissitudes de sua sobrevivência, à sua forma de
adaptação ao meio no qual teve de viver desde seu nascimento, aos recursos de auto-
regulação decorrentes das experiências que lhe permitiram sobreviver, aos sofrimentos,
temores, medos, que os recursos de sobrevivência que incorporou não conseguiam aliviar,
aos desejos, que até os sonhos não conseguiam satisfazer e tornar reais, etc. Essas questões,
na quase totalidade das situações, eram comunicadas inconscientemente, porque, na esfera
do consciente, os pacientes buscavam ajuda por outros motivos, que ficavam mais ou
menos distantes da realidade psíquica de cada um.
Contrapondo-se à tendência que esteve presente de forma absoluta na Neurociência
Cognitiva, hoje se nota, principalmente nos ramos da Neurociência das Emoções,
Neurociência do Desenvolvimento e Neurociência das Relações Sociais, e na
Neuropsicologia, uma ênfase no estudo e nas investigações dos afetos, emoções e
sentimentos a partir de uma abordagem baseada na evolução e no desenvolvimento. Assim,
como já abordei em outros trabalhos, o processo de ontogênese, grosso modo seguindo a
evolução filogenética, mostra que nos momentos precoces da vida do homem, ainda nos
últimos meses da vida fetal, as estruturas situadas nas regiões bulbopontinas, já
funcionantes, são responsáveis pela auto-regulação orgânica, em que se destaca o PAG
(substância cinzenta periaquedutal). Após o nascimento, à medida que se desenvolvem os
núcleos nas regiões do mesencéfalo na área tegmental ventral e o hipotálamo, todas essas
4
estruturas passam a desempenhar papel importante nas funções homeostáticas. Com o
posterior desenvolvimento do organismo, a esses mecanismos homeostáticos, que na
realidade são mecanismos que envolvem os afetos, associam-se os já conhecidos sistemas
emocionais, que incluem o sistema límbico, o tálamo, o hipotálamo e o PAG, e,
posteriormente, outras estruturas como o giro do cíngulo, principalmente na sua área
anterior, envolvido na regulação das emoções e da cognição, a ínsula e a região
ventromedial do lobo frontal, principalmente no seu núcleo orbitofrontal, que é considerado
o senhor executivo do sistema límbico. Infelizmente, o espaço deste trabalho não nos
permite maior detalhamento, apenas uma visão panorâmica das regiões cerebrais
envolvidas na complexa e fundamental função emoção-cognição, essencial no sistema de
regulação do ser humano.
Ao afirmar que, no princípio, só existia o ego corporal, Freud dava-se conta de que o ser
humano, em princípio, tinha a consciência exclusivamente decorrente dos estados corporais
e de que a regulação do organismo se fazia tão-só por mecanismos corporais, uma vez que
a protomente era totalmente atrelada ao corpo. Se as situações que a criança enfrenta nos
momentos precoces de vida e de desenvolvimento são controladas pelos recursos
homeostáticos e seu organismo consegue uma auto-regulação adequada, ela vai suportar e
tolerar as situações de ausência ou falta do objeto de satisfação de suas necessidades e
desejos, abrindo-se nela um espaço mental determinado pela confiança e pela esperança,
que pode ser preenchido por imagens ou representações dos objetos e situações que,
embora ausentes, encontram-se emocionalmente presentes pela experiência prévia positiva.
Assim nasce a possibilidade natural de alucinar e sonhar, que posteriormente é preenchida
pela atividade da linguagem e do pensamento. Nesse momento, em termos evolutivos, a
natureza dos mecanismos de sobrevivência dá um salto qualitativo, com o surgimento de
um recurso mais eficiente de auto-regulação: a cognição. Entretanto, salientamos que a
cognição, em especial o que alguns neuropsicanalistas denominam mentalização, é
decorrente e atrelada ao emocional, no processo de desenvolvimento, uma vez que as
situações traumáticas vividas pelo indivíduo não permitem que os procedimentos de auto-
regulação se desenvolvam além das fases em que a emoção está totalmente vinculada aos
estados corporais, mantendo o sujeito fixado no estágio de vida e desenvolvimento em que
ocorreu o trauma. Essa condição, no entanto, não impede que uma outra modalidade de
5
cognição se instale no ser humano, sob a forma de racionalidade, com o uso da linguagem,
com o uso da palavra como coisa, desprovida de colorido e conteúdo emocional.
No momento em que ocorre esse salto qualitativo, a emoção, emergindo dos estados
corporais, descola-se em parte do corpo e essa parte descolada torna-se autônoma,
vinculando-se com o cognitivo. A consciência corporal se torna inconsciente, no meu ponto
de vista, dentro do princípio de que a natureza é econômica. Essa inconsciência dos estados
corporais abre espaço para uma nova função, a cognição, que é necessário conquistar,
inclusive para expandir as possibilidades de vida. Essa condição trouxe como conseqüência
a negação do corpo, o privilegiamento da cognição pela cognição e a negação da unidade
mente-corpo no mundo ocidental; para o psicanalista, trouxe um viés na compreensão da
própria teoria psicanalítica de Freud.
É indiscutível e por isso queremos ressaltar a importância dos primeiros momentos da vida
do homem na constituição de seus recursos para a auto-regulação, a sobrevivência e a
expansão da vida para além dos valores atrelados à sobrevivência, conforme Freud
enunciou no seu monumental Além do princípio do prazer.
Por essa razão, quanto mais profundamente penetramos na Neuropsicanálise, mais e mais
voltamo-nos para o estudo e a investigação da relação da mãe, ou dos cuidadores, com o
bebê, que é decisiva na formação e desenvolvimento posterior dos recursos de
sobrevivência e do sistema nervoso do bebê, da criança e do futuro adolescente e adulto. É
fundamental para os psicanalistas conhecer as investigações que se processam nas funções
do hemisfério direito do cérebro do bebê e da mãe, que vão permitir as comunicações que
acontecem entre eles de forma inconsciente, num outro nível de realidade e compreensão,
que o dogmatismo acadêmico e científico classificaria de irracional. Por esse enfoque, cabe
salientar a importância da região ventromedial do lobo frontal como o componente cortical
do sistema límbico que funcionaria como o centro processador das emoções e das conexões
destas com a cognição, quando as emoções se tornam sentimentos, ou seja, quando a
consciência das emoções e suas origens nos estados do corpo se mobilizam juntamente com
os pensamentos. É nesse momento que os sentimentos como que adquirem autonomia,
expandem-se nas respostas ao mundo externo, em particular nas relações com o outro, com
o surgimento de atitudes e desejos de consideração solidária, respeito, identificação e afeto
para com o outro. É o princípio do surgimento da função de cognição, com a qual surgem
6
também a capacidade de pensar e toda a gama de funções executivas moduladas pelas
emoções e pelos sentimentos.
A conquista evolutiva da cognição, a partir de uma parte das emoções que se descola do
corpo e se acopla com a linguagem e com a função de pensar, vai permitir que o sistema de
autocontrole e auto-regulação esteja subordinado à função executiva da consciência e do
pensar, o que significa que o ser humano ganha a possibilidade de controle sobre as
emoções, sobre as ações, sobre si e sobre o meio externo, incluindo a relação com o outro e
com o social.
Nesse momento, o homem se abre para as possibilidades que a conquista do lobo pré-
frontal, pela evolução biológica, lhe permitiu. Por meio das extraordinárias funções
executivas, o homem pode expressar o mundo do subjetivismo, para “além do princípio do
prazer”, livre do aprisionamento aos grilhões da sobrevivência, portanto, da estagnação e
da morte, e pode buscar a realização na sua mais alta e legítima condição, a real
humanização, a expansão, a vida, como Freud pensava e buscava realizar naqueles tão
sofridos dias de 1920.
Como diz o Bhagavad Gita:
E Krishna disse:
“É um avaro desejo, é cólera, Arjuna, nascido da natureza da paixão,
pecaminosa e que tudo consome”.
“Como a fumaça cobre o fogo, o pó cobre o espelho, como o útero envolve
o embrião, assim a sabedoria é envolvida pelo apego.”
“Insaciável é o fogo do desejo, o inimigo constante do saber que turva e envolve
a sabedoria.”
“A mente e o intelecto estão enrolados nos sentidos. Por meio destes, a visão do homem
fica cega, encobrindo a sabedoria.”
7
SUMMARY
In this paper the author returns to a theme that he had considered many times, nowadays
searching to make the systematization that Freud and followers hadn’t made, using the
advances in the investigation of the affects, emotions and feelings in Neuroscience of
Emotions and Neuroscience of Development, mainly in the survival and evolutionary
views. From these points he develops the evolutive pathway of the process of self-
regulation and the development of the cognition modulated by feelings as the higher
conquest in this process.
Unitermos
Psicanálise°Neuropsicanálise°Afetos°Emoções°Sentimentos°Cognição°
Key Words
Psychoanalysis°Neuro-Psychoanalysis°Affects°Emotions°Feelings°Cognition°
Resumen
En este trabajo el autor retoma un tema por el muchas veces planteado, buscando ahora
hacer la sistematización que Freud y sus seguidores no emprendieran, incorporando los
avances en la investigación de los afectos, emociones y sentimientos alcanzados por la
Neurociencia de las emociones y por la Neurociencia del desarrollo, principalmente en lo
que concierne a los puntos de vista de la supervivencia y de la evolución. Partiendo de estos
puntos, desenvuelve el trayecto evolutivo del proceso de auto-regulación y del desarrollo de
la cognición modulada por sentimientos como la mayor conquista de este proceso.
Palabras Claves
Psicoanálisis-Neuropsicoanálisis-Afectos-Emociones-Sentimientos-Cognición.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
8
DAMASIO, A. (1999) The feelings of what happens: body and emotion in the making
of counsciousness. New York: Harcourt, Brace.
FLEMING, A. S.; O’DAY, D. H.; KRAEMER, G. W. (1999), Neurobiology of mother-
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FREUD, S. (1915). Instintos e suas vicissitudes. E.S.B. Rio de Janeiro,1976. v. 14.
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prefrontal cortex. New York: An. of New York Ac. of Sci., v. 769, p. 213, 1995.
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Artigo afetos na neuropsicanalise

  • 1. AFETOS, SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO NA NEURO-PSICANÁLISE Yusaku Soussumi Membro Efetivo da SBPSP Sumário Neste trabalho, o autor retorna a um tema por ele já diversas vezes abordado, buscando agora fazer a sistematização que Freud e seus seguidores não empreenderam, incorporando os avanços na investigação dos afetos, emoções e sentimentos alcançados pela Neurociência das emoções e Neurociência do desenvolvimento, principalmente sob os pontos de vista da sobrevivência e da evolução. A partir desses pontos, desenvolve o trajeto evolutivo do processo de auto-regulação e do desenvolvimento da cognição moduladas pelos sentimentos como a maior conquista desse processo. Este trabalho inspirou-se no tema do XX Congresso Brasileiro de Psicanálise: “Poder, Sofrimento Psíquico e Contemporaneidade”. Estou plenamente convencido de que o presidente da ABP tinha razão, ao explicá-lo: “Este tema oferece um espaço que permite transitar desde o inconsciente ou, antes ainda, em suas origens no somático, até a realidade externa atual, com suas características muitas vezes surpreendentes, pelos impactos que provoca tanto no sentido positivo, como o da construção e criação, quanto em seu sentido oposto, o da destruição. Será, ao mesmo tempo, um espaço de encontro para o aprofundamento no atemporal dos fenômenos inconscientes (nosso trabalho de todos os dias), e para estender nosso olhar psicanalítico sobre o atual de nossos dias”. No meu ponto de vista, o tema neuropsicanalitico, que permite esse trânsito e abrange, ao mesmo tempo, a problemática psíquica da contemporaneidade são os afetos e emoções. O homem contemporâneo padece da patologia ou da ausência do desenvolvimento dos afetos, emoções e sentimentos determinada pelas condições traumáticas externas ou internas. Tenho insistido nesse tema em minhas reflexões porque creio que, apesar de os afetos e as emoções ocuparem uma posição central na mente do psicanalista na sua prática clínica, a ausência de uma sistematização feita por Freud em sua metapsicologia, como fez, por exemplo, com o inconsciente, a repressão, o narcisismo, e por seus seguidores reconhecidos como autoridades pela comunidade dos psicanalistas, como Melanie Klein, Wilfred Bion, 1
  • 2. etc., impede que a eficácia da prática psicanalítica muitas vezes alcance as raízes do somático, como requerem as verdadeiras transformações mutativas. As geniais apreensões de Freud, suas hipóteses relativamente a afetos e emoções e sua compreensão do ser humano numa perspectiva evolucionista estão dispersas por sua obra e tornam difícil uma compreensão integrada desses aspectos na economia somatopsíquica do indivíduo, bem como suas profundas conexões básicas com os fenômenos inconscientes e com a própria repressão. A visão de sua íntima relação com os instintos se perde no emaranhado de concepções com as quais esse tema se mescla na obra freudiana. Até cerca de dez anos atrás, pela influência da Psicologia Cognitivo-comportamentalista, os neurocientistas adeptos da Neurociência Cognitiva consideravam a emoção algo desprezível, que não merecia o investimento de uma investigação científica, uma vez que o enfoque preferencial recaía sempre sobre o cognitivo, o intelectual, essa função superior, distintiva do ser humano e do humano na sua expressão mais pura. A emoção era vista como algo da ordem do patológico, que servia apenas para perturbar o cognitivo. A Neurociência desconsiderava que eminentes cientistas como Darwin, Freud e James pudessem ter-se ocupado das emoções. No momento, porém, que alguns neurocientistas como Damásio, LeDoux, Davidson, Panksepp, Ekman, Watts, etc. começaram a investigá- las, os conhecimentos começaram a fluir a passos largos. Por força das contribuições de diversas áreas da Biologia Evolutiva, da Antropologia, da Neurociência do Desenvolvimento e da Psicologia Social, esses estudiosos puderam fazer a sistematização que faltava sobre o tema dos afetos e emoções. Embora nada de muito novo para a Psicanálise, porque grande parte daqueles conhecimentos já havia sido abordada por Freud, o que importava era a visão integrada de afetos e emoções, por meio da qual era possível entender de forma mais eficaz suas expressões. Na minha opinião, a sistematização, se não usada para aprisionar, permite enxergar com clareza a função primordial que afetos e emoções, usados neste trabalho como sinônimos, desempenham na vida do ser humano. É por meio dessa abordagem que temos a possibilidade de compreender Freud em toda a profundidade, quando ele sinaliza que as mudanças nos estados internos do ser são percebidas como afetos pelo próprio ser vivo, que responde a elas com ação e movimento. Aprendemos que os afetos são apreensões dos estados somáticos do organismo e que esses 2
  • 3. estados resultam do trabalho das estruturas internas do ser na tentativa de manter a condição interna inalterada para poder sobreviver. Compreendemos que não é somente a captação dos estados internos que vai resultar em bem-estar ou mal-estar, ou seja, prazer ou desprazer, que a natureza estabeleceu como parâmetro de valor ao que Freud denominou princípio de prazer, mas, mais do que isso, vamos verificar que o afeto é a primeira manifestação fenomenológica de uma entidade que emerge desse dinamismo das estruturas internas, que vai se caracterizar como mente, como consciência, e que podemos chamar de protomente. Aqui, vê-se a mente emergindo dessa realidade unitária, inseparável, indissociável, que é corpo-mente. O afeto, que está atrelado ao princípio do prazer, vai ser o elemento que mobiliza a ação do ser em busca do equilíbrio e da harmonia. Esse movimento é decisivo para o processo de homeostase, que é o mecanismo de regulação interna do ser vivo. Enfim, o que importa compreender é que os afetos e as emoções são percepções dos estados internos do organismo, que desencadeiam os processos de homeostase ou auto-regulação para garantir a sobrevivência. Essa é a condição primordial, que nasce como impulso motivacional básico intrínseco do ser, ou seja, instinto de sobrevivência, no momento mesmo em que surge a vida. É sobre esse eixo que se constrói todo o processo de evolução, que se caracteriza pelo aperfeiçoamento dos elementos que compõem os recursos de sobrevivência do seres vivos, os quais vão se tornando estruturalmente mais complexos, em busca de maior eficácia na adaptação ao meio e na manutenção da vida. Eu costumo dizer que a natureza não quis perder essa experiência e tinha o objetivo de perpetuá-la a qualquer custo sobre a terra. Assim, além de aperfeiçoar o ser vivo, tornando mais complexas suas estruturas e sua organização dinâmica, mais eficazes e sofisticados os recursos de auto-regulação e de sobrevivência para adaptação ao meio externo, a natureza aperfeiçoou também os métodos de perpetuação da vida por meio da reprodução, para garantir a sobrevivência das experiências que deram certo. No meu ponto de vista, essa perspectiva evolucionista já estava presente em Freud, embora em nenhum momento de sua vasta obra ele tenha sistematizado suas fundamentações. No entanto, apesar de dispersas, podemos depreendê-las da leitura de seus textos. Suas incursões pela teoria dos instintos, a valorização da sexualidade conectada com o instinto de sobrevivência (instinto do ego), a visão do caminho ascendente do desenvolvimento ontogenético das funções psíquicas, das 3
  • 4. fixações provocadas pelos traumas, do afetivo conectado ao simbólico para alcançar o cognitivo, a capacidade de pensar (retomada por Bion sob a forma de função alfa) aparecem em sua obra sem que tenha sido feita uma sistematização de suas concepções sobre o homem e o processo de humanização. Essas idéias que buscam sistematizar o conceito de afetos, eu as trouxe de minha formação médica, antropológica e biológica anterior à minha formação psicanalítica. Minha incursão pela Neurociência, especialmente pela Neuropsicologia, me deu o respaldo necessário para organizar as teorias freudianas dos afetos e emoções, de modo que, entregando-me a uma aventura transdisciplinar, pudesse de alguma forma ter elementos para pensar de forma mais integrada a pessoa que na clínica, principalmente de hoje, estivesse me procurando em busca de ajuda. Meu ponto de partida, na prática clínica, orientava-se pelo pressuposto de que a pessoa à minha frente me trazia questões ligadas às vicissitudes de sua sobrevivência, à sua forma de adaptação ao meio no qual teve de viver desde seu nascimento, aos recursos de auto- regulação decorrentes das experiências que lhe permitiram sobreviver, aos sofrimentos, temores, medos, que os recursos de sobrevivência que incorporou não conseguiam aliviar, aos desejos, que até os sonhos não conseguiam satisfazer e tornar reais, etc. Essas questões, na quase totalidade das situações, eram comunicadas inconscientemente, porque, na esfera do consciente, os pacientes buscavam ajuda por outros motivos, que ficavam mais ou menos distantes da realidade psíquica de cada um. Contrapondo-se à tendência que esteve presente de forma absoluta na Neurociência Cognitiva, hoje se nota, principalmente nos ramos da Neurociência das Emoções, Neurociência do Desenvolvimento e Neurociência das Relações Sociais, e na Neuropsicologia, uma ênfase no estudo e nas investigações dos afetos, emoções e sentimentos a partir de uma abordagem baseada na evolução e no desenvolvimento. Assim, como já abordei em outros trabalhos, o processo de ontogênese, grosso modo seguindo a evolução filogenética, mostra que nos momentos precoces da vida do homem, ainda nos últimos meses da vida fetal, as estruturas situadas nas regiões bulbopontinas, já funcionantes, são responsáveis pela auto-regulação orgânica, em que se destaca o PAG (substância cinzenta periaquedutal). Após o nascimento, à medida que se desenvolvem os núcleos nas regiões do mesencéfalo na área tegmental ventral e o hipotálamo, todas essas 4
  • 5. estruturas passam a desempenhar papel importante nas funções homeostáticas. Com o posterior desenvolvimento do organismo, a esses mecanismos homeostáticos, que na realidade são mecanismos que envolvem os afetos, associam-se os já conhecidos sistemas emocionais, que incluem o sistema límbico, o tálamo, o hipotálamo e o PAG, e, posteriormente, outras estruturas como o giro do cíngulo, principalmente na sua área anterior, envolvido na regulação das emoções e da cognição, a ínsula e a região ventromedial do lobo frontal, principalmente no seu núcleo orbitofrontal, que é considerado o senhor executivo do sistema límbico. Infelizmente, o espaço deste trabalho não nos permite maior detalhamento, apenas uma visão panorâmica das regiões cerebrais envolvidas na complexa e fundamental função emoção-cognição, essencial no sistema de regulação do ser humano. Ao afirmar que, no princípio, só existia o ego corporal, Freud dava-se conta de que o ser humano, em princípio, tinha a consciência exclusivamente decorrente dos estados corporais e de que a regulação do organismo se fazia tão-só por mecanismos corporais, uma vez que a protomente era totalmente atrelada ao corpo. Se as situações que a criança enfrenta nos momentos precoces de vida e de desenvolvimento são controladas pelos recursos homeostáticos e seu organismo consegue uma auto-regulação adequada, ela vai suportar e tolerar as situações de ausência ou falta do objeto de satisfação de suas necessidades e desejos, abrindo-se nela um espaço mental determinado pela confiança e pela esperança, que pode ser preenchido por imagens ou representações dos objetos e situações que, embora ausentes, encontram-se emocionalmente presentes pela experiência prévia positiva. Assim nasce a possibilidade natural de alucinar e sonhar, que posteriormente é preenchida pela atividade da linguagem e do pensamento. Nesse momento, em termos evolutivos, a natureza dos mecanismos de sobrevivência dá um salto qualitativo, com o surgimento de um recurso mais eficiente de auto-regulação: a cognição. Entretanto, salientamos que a cognição, em especial o que alguns neuropsicanalistas denominam mentalização, é decorrente e atrelada ao emocional, no processo de desenvolvimento, uma vez que as situações traumáticas vividas pelo indivíduo não permitem que os procedimentos de auto- regulação se desenvolvam além das fases em que a emoção está totalmente vinculada aos estados corporais, mantendo o sujeito fixado no estágio de vida e desenvolvimento em que ocorreu o trauma. Essa condição, no entanto, não impede que uma outra modalidade de 5
  • 6. cognição se instale no ser humano, sob a forma de racionalidade, com o uso da linguagem, com o uso da palavra como coisa, desprovida de colorido e conteúdo emocional. No momento em que ocorre esse salto qualitativo, a emoção, emergindo dos estados corporais, descola-se em parte do corpo e essa parte descolada torna-se autônoma, vinculando-se com o cognitivo. A consciência corporal se torna inconsciente, no meu ponto de vista, dentro do princípio de que a natureza é econômica. Essa inconsciência dos estados corporais abre espaço para uma nova função, a cognição, que é necessário conquistar, inclusive para expandir as possibilidades de vida. Essa condição trouxe como conseqüência a negação do corpo, o privilegiamento da cognição pela cognição e a negação da unidade mente-corpo no mundo ocidental; para o psicanalista, trouxe um viés na compreensão da própria teoria psicanalítica de Freud. É indiscutível e por isso queremos ressaltar a importância dos primeiros momentos da vida do homem na constituição de seus recursos para a auto-regulação, a sobrevivência e a expansão da vida para além dos valores atrelados à sobrevivência, conforme Freud enunciou no seu monumental Além do princípio do prazer. Por essa razão, quanto mais profundamente penetramos na Neuropsicanálise, mais e mais voltamo-nos para o estudo e a investigação da relação da mãe, ou dos cuidadores, com o bebê, que é decisiva na formação e desenvolvimento posterior dos recursos de sobrevivência e do sistema nervoso do bebê, da criança e do futuro adolescente e adulto. É fundamental para os psicanalistas conhecer as investigações que se processam nas funções do hemisfério direito do cérebro do bebê e da mãe, que vão permitir as comunicações que acontecem entre eles de forma inconsciente, num outro nível de realidade e compreensão, que o dogmatismo acadêmico e científico classificaria de irracional. Por esse enfoque, cabe salientar a importância da região ventromedial do lobo frontal como o componente cortical do sistema límbico que funcionaria como o centro processador das emoções e das conexões destas com a cognição, quando as emoções se tornam sentimentos, ou seja, quando a consciência das emoções e suas origens nos estados do corpo se mobilizam juntamente com os pensamentos. É nesse momento que os sentimentos como que adquirem autonomia, expandem-se nas respostas ao mundo externo, em particular nas relações com o outro, com o surgimento de atitudes e desejos de consideração solidária, respeito, identificação e afeto para com o outro. É o princípio do surgimento da função de cognição, com a qual surgem 6
  • 7. também a capacidade de pensar e toda a gama de funções executivas moduladas pelas emoções e pelos sentimentos. A conquista evolutiva da cognição, a partir de uma parte das emoções que se descola do corpo e se acopla com a linguagem e com a função de pensar, vai permitir que o sistema de autocontrole e auto-regulação esteja subordinado à função executiva da consciência e do pensar, o que significa que o ser humano ganha a possibilidade de controle sobre as emoções, sobre as ações, sobre si e sobre o meio externo, incluindo a relação com o outro e com o social. Nesse momento, o homem se abre para as possibilidades que a conquista do lobo pré- frontal, pela evolução biológica, lhe permitiu. Por meio das extraordinárias funções executivas, o homem pode expressar o mundo do subjetivismo, para “além do princípio do prazer”, livre do aprisionamento aos grilhões da sobrevivência, portanto, da estagnação e da morte, e pode buscar a realização na sua mais alta e legítima condição, a real humanização, a expansão, a vida, como Freud pensava e buscava realizar naqueles tão sofridos dias de 1920. Como diz o Bhagavad Gita: E Krishna disse: “É um avaro desejo, é cólera, Arjuna, nascido da natureza da paixão, pecaminosa e que tudo consome”. “Como a fumaça cobre o fogo, o pó cobre o espelho, como o útero envolve o embrião, assim a sabedoria é envolvida pelo apego.” “Insaciável é o fogo do desejo, o inimigo constante do saber que turva e envolve a sabedoria.” “A mente e o intelecto estão enrolados nos sentidos. Por meio destes, a visão do homem fica cega, encobrindo a sabedoria.” 7
  • 8. SUMMARY In this paper the author returns to a theme that he had considered many times, nowadays searching to make the systematization that Freud and followers hadn’t made, using the advances in the investigation of the affects, emotions and feelings in Neuroscience of Emotions and Neuroscience of Development, mainly in the survival and evolutionary views. From these points he develops the evolutive pathway of the process of self- regulation and the development of the cognition modulated by feelings as the higher conquest in this process. Unitermos Psicanálise°Neuropsicanálise°Afetos°Emoções°Sentimentos°Cognição° Key Words Psychoanalysis°Neuro-Psychoanalysis°Affects°Emotions°Feelings°Cognition° Resumen En este trabajo el autor retoma un tema por el muchas veces planteado, buscando ahora hacer la sistematización que Freud y sus seguidores no emprendieran, incorporando los avances en la investigación de los afectos, emociones y sentimientos alcanzados por la Neurociencia de las emociones y por la Neurociencia del desarrollo, principalmente en lo que concierne a los puntos de vista de la supervivencia y de la evolución. Partiendo de estos puntos, desenvuelve el trayecto evolutivo del proceso de auto-regulación y del desarrollo de la cognición modulada por sentimientos como la mayor conquista de este proceso. Palabras Claves Psicoanálisis-Neuropsicoanálisis-Afectos-Emociones-Sentimientos-Cognición. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8
  • 9. DAMASIO, A. (1999) The feelings of what happens: body and emotion in the making of counsciousness. New York: Harcourt, Brace. FLEMING, A. S.; O’DAY, D. H.; KRAEMER, G. W. (1999), Neurobiology of mother- infant interactions: experience and central nervous system plasticity across development and generations. Neurosci. Behav. Revue, 23: 673-685, 1999. FREUD, S. (1915). Instintos e suas vicissitudes. E.S.B. Rio de Janeiro,1976. v. 14. ______. (1920). Além do princípio do prazer. E.S.B. Op. Cit., v. 18. PANKSEPP, J. (1998) Affective Neuroscience: the foundations of human and animal emotions. New York: Oxford University Press. POSNER, M.; ROTHBART, M. K. (2001). Exploring the biology of socialization. In: KAGAN, J.; McEWEN, B. S. Unity of knowledge. New York: An. of New York Ac. of Sci., 2001. SCHORE, A. N. (1994). Affect regulation and the origin of the self: the neurobiology of the emotional development. New Jersey: Eribaum. SOUSSUMI, Y. (2003) Uma experiência prática de Psicanálise fundamentada pela Neuropsicanálise. Revista Brasileira de Psicanálise, v. 37 (2/3): 573-596, 2003. STERN, D. & col. (1998). Non-interpretative mechanisms in psychoanalytic therapy. International. Journal Psycho-Anal., 79, 903-921, 1998. TREVARTHEN, C. (1994). Brain development, infant communication, and empathy disorder: intrinsec factors in child mental health. Development and Psychopathology, 6:597-633, 1994. 9
  • 10. ______. (1996). Lateral assymetries in infancy: implications for the development of the hemispheres. Neurosci. Behav. Rev., 20 (4), 571-86, 1996. TUCKER, D. M.; LUU, P.; PRIBAM, K. (1995). Social and emotional self-regulation. In: GRAFMAN, J.; HOLYOK, K. J.; BOLLER, F. Structure and functions of human prefrontal cortex. New York: An. of New York Ac. of Sci., v. 769, p. 213, 1995. 10