O documento resume as cinco lições da palestra de Freud sobre os fundamentos da psicanálise: 1) Histeria e hipnose, 2) Repressão e resistência, 3) Interpretação de sonhos e atos falhos, 4) Sexualidade infantil, perversão e complexo de Édipo, 5) Transferência e resistência ao tratamento psicanalítico.
RESENHA SOBRE AS CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE DE SIGMUND FREUD
1. RESENHA Nº1 – FUNDAMENTOS DA CLÍNICA PROF. PAULO VIDAL
“AS CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE” DE S. FREUD
GABRIELA CABRAL PALETTA – 11124005 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ‘11
Freud começa por se apresentar e contar o motivo de sua palestra, além de
ressalvar que não é necessária uma “cultura médica” para acompanhar a sua exposição.
De forma modesta declara que qualquer tipo de mérito dado à psicanálise não deve ser
dado a ele, uma vez que ele não participou das suas origens.
Primeira Lição
Histeria e hipnose
A apresentação começa com um caso do Dr. Breuer, antigo professor de Freud. Era uma
jovem de 21 anos, com tudo para ser uma menina super saudável. Porém ela manifestou uma
doença que durou mais de 2 anos com uma série de perturbações físicas e psíquicas um tanto
quanto graves: paralisias nas extremidades do lado direito do corpo, perturbações oculares,
repugnância pelos alimentos, impossibilidade de beber água, além de estados de absence.
Quando uma pessoa apresenta um quadro desse tipo e não há anomalias nos órgãos
vitais mas é sabido que ela tem certa “fraqueza” emocional, chega-se ao diagnóstico de
histeria, o que não facilita muito as coisas quando comparado a um problema cerebral
orgânico, uma vez que podem ser entendidos como transgressores da ciência médica.
Foi aí que o Dr. Breuer fez diferença: não negou simpatia nem atenção à moça, apesar
de também não garantir uma cura. Em um dos seus estados de absence, a paciente murmurava
palavras e foi através delas que um trabalho mais conciso pôde começar: o médico as anotara e
repetira para a moça, que se encontrava em um estado hipnótico, com o intuito de fazer com
que ela associasse idéias. A partir daí tudo o que ela falava era associado com seu quadro de
sintomas. Depois se percebeu que quando o sintoma era exteriorizado energeticamente, ele
era curado! Em outras palavras, a partir do momento em que se trazem à consciência os
traumas patológicos, eles podem ser automaticamente superados.
Estudos foram desenvolvidos posteriormente com animais, comprovando a teoria de
que cada sintoma se relacionava diretamente com o trauma sofrido. “Onde existe um sintoma,
2. existe também uma amnésia, uma lacuna de memória, cujo preenchimento suprime as
condições que conduzem à produção de sintomas.” (Freud, 1909, p.10)
Vale ressaltar também que as memórias devem ser buscadas de forma inversa ao
cronológico, ou seja, da mais recente a mais antiga, para que o tratamento tenha o resultado
esperado. Outro ponto que deve ser considerado é que a pessoa que está para entrar em
hipnose deve querer e acreditar no tratamento. Nada ocorrerá a ela caso ela esteja descrente
da hipnose, nem mesmo o estado hipnótico a pessoa experimentará.
Segunda Lição
Repressão e resistência
Freud se refere ao que acontecia na França com o desenvolvimento dos estudos de
Janet e Charcot. Janet tinha uma visão diferente da histeria, até por ter como mentor um
cientista que não se “comovia” com os fatores psicológicos, e procura um ponto de vista que
atendesse tanto à biologia quanto à psicologia. Para ele, a histeria seria uma forma de alteração
do sistema nervoso, que se manifesta pela fraqueza do poder de síntese psíquica. Então os
pacientes histéricos seriam incapazes, como um todo, de manter a multiplicidade dos processos
mentais.
Agora então a histeria se apresentou de forma diferente para Freud, quase como um
desafio: ele a trataria com a sua base terapêutica, diferente do trabalho laboratorial de Janet.
Porém ele não dominara a técnica da hipnose, fazendo com que ele buscasse através do
sonambulismo a sua solução. Afirmar que o paciente sabe o que ele não sabe, lembra do que
acha que não lembra, funcionava! Mas não seria nem de longe a melhor técnica definitiva.
Umas dos fatores que impediam o sucesso dessa técnica é que as pessoas vêem seus
primeiros pensamentos (aqueles que são buscados por Freud) como sendo completamente
aleatórios e não o exteriorizam, além de afirmar que não conseguem pensar em nada. Porém,
em uma observação mais atenta é possível comprovar que a pessoa pensou em algo. Apesar de
ser cansativo e tedioso esse processo de associações livres, Freud garante que é a única
praticável.
Apesar disso, uma coisa era certa: a memória esquecida não era perdida! Essa afirmação
fez com que Freud pudesse criar sua teoria de que existiria uma força resistência que tentava
proteger o estado mórbido. A idéia agora era suprimir essa resistência para que os sintomas
pudessem ser superados. O processo de retirar da consciência os acidentes patogênicos
correspondentes é que se chamaria repressão.
3. Para ilustrar, mesmo que de forma grosseira, a idéia de repressão, Freud a compara com
a sala em que expunha seus estudos. Ele nos coloca a imaginar a sala tendo seu silêncio
perturbado por uma pessoa inconveniente e barulhenta. Depois de certa luta, coloca-se o
individuo para fora da sala (está reprimido). Ele agora se põe a fazer barulho e dessa vez
cadeiras são postas em frente à porta, e consequentemente está consumada a repressão, que
agora se porta como resistência. Nesse exemplo, a sala seria o consciente enquanto o lado de
fora seria o inconsciente. Entendida essa analogia, o processo de repressão também estaria
compreendido.
Só para não esquecer completamente da hipnose no tratamento da histeria, é válido
contrastar as duas “soluções”. A hipnose encobre a resistência, liberando o acesso para um
determinado setor psíquico, criando, contudo, novas resistências/barreiras intransponíveis para
o resto.
Terceira Lição
Interpretação de sonhos e atos falhos
Depois de discordar do senso comum, que trata as técnicas de interpretação de sonhos
como sendo uma arte velha e ridicularizada, Freud diz que “A interpretação de sonhos é na
realidade a estrada real para o conhecimento do inconsciente.” (S. Freud, 1909, Interpretation
of Dreams, p.608)
Um dos problemas encontrados nessa técnica repete um pouco dos encontrados pela
associação livre: tudo o que advém de forma aleatória e que não pode ser compreendida de
imediato, mesmo aqueles sonhos que apresentam nexo e linearidade, é visto com desdém e
menosprezo. Essa realidade já foi e é diferente na antiguidade e nas camadas sócias mais baixas
respectivamente, por crerem que através dos sonhos, era possível prever o futuro.
Contudo, nem todos os sonhos são de difícil compreensão, confusos e estranhos. Freud
começa a explicar, então, os sonhos das crianças: elas expressam, de forma geral, os deus
desejos e acontecimentos ocorridos na véspera do sonho. E partindo do pressuposto de que os
adultos nada mais seriam além de crianças maiores, seus sonhos também expressariam seus
desejos e pensamentos de véspera.
O que você leu agora pode parecer um absurdo, mas somente de antemão pode-se
afirmar que quando acordados, não conseguimos lembrar o sonho por completo. Sem contar
que o processo psíquico correspondente teria uma expressão verbal muito diversa. O ato de
verbalizar o sonho demanda uma vasta escolha de palavras e acaba sendo diferente dos
4. pensamentos latentes do sonho (que é parte constituinte do inconsciente). Através do
inconsciente é possível fazer um link com a histeria, uma vez que ambos possuem o mesmo
mecanismo e gênese. Portanto, quem sonha reconhece tão mal o sentido de seu sonho quanto
um histérico associa o significado dos seus sintomas. Até o processo que transforma o trauma
em sintoma e o desejo em sonho, se parecem.
Nenhum momento seria mais digno do que agora para se falar de “elaboração onírica”:
um processo cujos pensamentos do inconsciente do sonho se disfarçam no conteúdo
manifesto. Eis um processo super curioso que envolve tanto o IN quanto o consciente, ou seja,
ocorre em dois processos psíquicos diferentes.
Por fim, os pesadelos não se contrapõem ao que foi dito até agora, mas ele pode ser
interpretado como a manifestação da ansiedade para realizar o desejo reprimido.
Outro tópico levantado durante a terceira lição são aqueles lapsos de memória,
pequenos enganos que passam despercebidos, mas que na verdade é uma manifestação do
inconsciente: os atos falhos! Eles testemunham a repressão e a substituição inclusive em
pessoas sãs.
Pode-se concluir agora, tendo em vista tantos métodos, que a psicanálise cumpre com o
seu papel de retirar os sintomas patológicos passando para a consciência tal material psíquico.
Freud vê como uma motivação o ato de poder estudar e aprofundar seus estudos a cada novo
paciente que surge.
Quarta Lição
Sexualidade infantil, perversão e complexo de Édipo
Para começo de conversa, Freud afirma que os homens não são francos para falar da
sua sexualidade. A maioria de seus pacientes tentava ocultar tudo o que podiam quanto a ela.
Depois disso Freud quebra o paradigma de que crianças não têm instinto sexual e
resume o que vai ser contado a seguir com a seguinte oratória: “Sóos fatos da infância explicam a
sensibilidade aostraumatismosfuturose só com o descobrimento desses restos de lembranças, quase
regularmente olvidados, e com a volta deles à consciência, é que adquirimos o poder de afastar os
sintomas. Chegamos aqui à mesma conclusão do exame de sonhos, isto é, que foram os desejos
duradourose reprimidosdainfânciaque emprestaramàformaçãodossintomasa força sema qual teria
decorridonormalmente a reação contra traumatismos posteriores. Estes potentes desejos da infância
hão de ser reconhecidos, porém, em sua absoluta generalidade, como sexuais.” E a vontade de não se
estudara vidasexual infantilé dadapelofatode não querertrazera tona os mesmosdesejosreprimidos
que o pesquisador já tivera.
5. O auto-erotismoinfantil passasercompreendidoe não julgado e ele se dá pelas “brincadeiras”
com as suas áreas sensoriais. Bons exemplos são a sucção e a vontade de chupar o dedo.
Já a perversão é vista como uma fixação criada desde a infância e que aflora no individuo
quando adulto.
Agora quando se fala do Complexo de Édipo, vale ressaltar que a criança vê seus pais,
particularmente um deles, como objeto de seus desejos eróticos. Em geral o incitamento vem dos
próprios genitores. O complexo se daria pelo não cumprimento da regra: “O pai tem preferência pela
filha, a mãe pelo filho: a criança reage desejando o lugar do pai se é menino, o da mãe se se trata da
filha. Os sentimentos nascidos destas relações entre pais e filhos e entre um irmão e outros, não são
somente de natureza positiva, de ternura, mas também negativos, de hostilidade.” E então a filha
demonstraria um apego muito maior a mãe do que ao pai, ou o menino, o contrário.
Quinta Lição
Agora Freud aproveita sua ultima lição para voltar a falar de assuntos já expostos
anteriormente, focando principalmente a transferência. Para ele esse fenômeno não é criado
pela psicanálise, mas sim um processo natural e espontâneo que ocorre inclusive nas relações
humanas.
É explicado também porque o medo de se tratar a psicanálise como uma terapia
concreta. Ela é incômoda, principalmente para os pacientes, que preferem não tocar nas
feridas, preferem deixar seus problemas psicológicos como estão. Afinal, nada que um bom
remédio não o ajude a esquecer.
Outro problema enfrentado pela psicanálise é a sociedade e sua mania de evolução e
progresso. Os indivíduos passama negar seu lado “animal”, seus instintos. E aí encontram mais
forças ainda para a repressão.
Para finalizar sua exposição, ele conta a seguinte anedota que arremata de forma
brilhante todos os pontos que foram defendidos até o exato momento: “A literatura
alemã conhece um vilarejo chamado Schilda, de cujos habitantes se contam todas as
espertezas possíveis. Dizem que possuíam eles um cavalo com cuja força e trabalho
estavam satisfeitíssimos. Uma só coisa lamentavam: consumia aveia demais e esta
era cara. Resolveram tirá-lo pouco a pouco desse mau costume, diminuindo a ração
de alguns grãos diariamente, até acostumá-lo à abstinência completa. Durante certo
tempo tudo correu magnificamente; o cavalo já estava comendo apenas um
grãozinho e no dia seguinte devia finalmente trabalhar sem alimento algum. No
outro dia amanheceu morto o pérfido animal; e os cidadãos de Schilda não sabiam
explicar por quê.
Nós nos inclinaremos a crer que o cavalo morreu de fome e que sem certa ração de
aveia não podemos esperar em geral trabalho de animal algum.”