O documento resume o filme "Caramuru - A Invenção do Brasil", contando a história do artista português Diogo Álvares que chega ao Brasil após um naufrágio. Aqui ele se apaixona pela índia Paraguaçu e os dois vivem um romance, fundando a lenda do Caramuru. O documento também critica o poema épico de Santa Rita Durão no qual o filme se baseia, apontando que ele glorifica excessivamente a colonização e catequização dos índios sem retratá-los de forma realista
1. Caramuru - A Invenção do Brasil
Sinopse
O filme tem como ponto central a história de Diogo Álvares, artista português, pintor
talentoso, responsável por uma das lendas que povoam a mitologia brasileira — a do
Caramuru. Antes, porém, Diogo é responsável por uma confusão envolvendo os mapas
que seriam usados nas viagens de Pedro Álvares Cabral. Contratado por Dom Jaime, o
cartógrafo do rei, para ilustrar o precioso documento, ele acaba sendo joguete de uma
francesa, Isabelle, que vive na corte em busca de ouro, poder e bons relacionamentos.
Ela rouba-lhe o mapa e o artista é deportado. Na viagem, Diogo conhece Heitor, um
degredado cult, quase precursor do que hoje em dia se conhece como mochileiro. Como
muitas caravelas que se arriscavam, a de Vasco de Atahyde naufraga. Mas Diogo
consegue chegar ao Brasil e o infortúnio acaba sendo um auxílio para dar início à
história de amor entre ele e Paraguaçu, a índia que conhece ao chegar ao novo mundo,
ao paraíso bíblico sonhado. Mais tarde, a história do náufrago iria se espalhar, assim
como a lenda de que ele foi o primeiro rei do Brasil.
O romance entre o descobridor e a nativa é, de fato, a história do triângulo amoroso
entre Diogo, Paraguaçu e sua irmã Moema. Os três viviam em perfeita harmonia, sob os
olhares do cacique Itaparica. Algum tempo depois, Diogo viaja para França para ser
"condecorado" rei. Apaixonadas, Paraguaçu e Moema mergulham no mar atrás da
caravela, mas só Paraguaçu chega à embarcação. Ela e Diogo continuam sua história de
amor, com todos os impactos da cultura europeia na vida de uma linda índia.
Uma Epopéia Medíocre
Caramuru é o elogio do trabalho de colonização e de catequese do europeu,
especialmente da ação civilizadora do português. Mesmo não sendo padre, Diogo
Álvares está interessado em conduzir o índio ao caminho do cristianismo. Este é o seu
principal objetivo. Inexiste em Santa Rita Durão aquela fascinante ambigüidade com
que Basílio da Gama trata o relacionamento entre brancos e nativos. Seu poema, além
de monótono, é banal.
Trata-se de uma epopéia anacrônica, escrita por alguém que, vivendo longe do Brasil
desde a infância, armazena toda a bibliografia existente a respeito de sua terra. Ele quer
conferir ao Caramuru uma atmosfera fidedigna e objetiva, o que infelizmente não
consegue.
E mesmo que os seus índios sejam retratados de forma um pouco mais realista que os de
Basílio da Gama, há ainda na sua visão um pesado tributo aos preconceitos da época. A
descrição da "doce Paraguaçu", por exemplo, contraria todo o princípio da realidade
fisionômica e da cor dos indígenas. Ela é sem dúvida uma moça branca:
2. Paraguaçu gentil (tal nome teve),
Bem diversa de gente tão nojosa,
De cor tão alva como a branca neve,
E donde não é neve, era de rosa;
O nariz natural, boca mui breve,
Olhos de bela luz, testa espaçosa.