O abandono escolar no período 2000/2018 reduziu-se claramente, na Europa, passando de 17% para 10.6% da população jovem, mantendo-se um abandono mais pronunciado no sexo masculino. Em Portugal a quebra foi muito pronunciada passando do segundo pior indicador em 2000, para valores pouco acima da média da UE em 2018
Sumário
1 – Abandono escolar – 2000 e 2018
2 – Abandono escolar por sexo
3 – Comparação (2000 e 2018) nas taxas de abandono escolar para homens e mulheres
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Europa reduz abandono escolar em 10
1. grazia.tanta@gmail.com 28/08/2019 1
O abandono escolar na Europa (2000-2018) - 2ª parte
O abandono escolar no período 2000/2018
reduziu-se claramente, na Europa, passando de
17% para 10.6% da população jovem,
mantendo-se um abandono mais pronunciado
no sexo masculino. Em Portugal a quebra foi
muito pronunciada passando do segundo pior
indicador em 2000, para valores pouco acima
da média da UE em 2018
Sumário
1 – Abandono escolar – 2000 e 2018
2 – Abandono escolar por sexo
3 – Comparação (2000 e 2018) nas taxas de abandono escolar para homens e
mulheres
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O Eurostat oferece dados sobre o abandono escolar, de jovens com 18/24 anos que,
no máximo, atingiram como habilitação, os estudos secundários inferiores, à data da
recolha dos dados – os anos de 2000 a 2018. É possível proceder a comparações entre
os 28 países da UE e ainda para outros países europeus – Islândia, Macedónia do
Norte, Montenegro, Noruega e Suíça.
À semelhança do critério utilizado na primeira parte deste trabalho utilizámos os
dados para o primeiro e o último dos anos disponíveis.
1 – Abandono escolar – 2000 e 2018
2. grazia.tanta@gmail.com 28/08/2019 2
Taxas de abandono escolar na Europa – 2000/20181
Da análise mais detalhada do gráfico acima sobressaem estas conclusões:
Excepto nos casos da Eslováquia, da Rep. Checa e da Suécia – que têm indicadores
bastante baixos - observa-se uma redução generalizada dos níveis de abandono
escolar; as quedas mais significativas registam-se em Malta e Portugal, com -36.7
e -31.9%, respetivamente, durante o período;
Em 2000, os maiores índices situavam-se em Malta (54.2%) e Portugal (43.7%),
seguidos a alguma distância por Islândia, Itália e Espanha. Em 2018 e apesar de
reduções significativas, os países com maior taxa de abandono eram; Islândia
(21.5%), Espanha (17.9%), Malta (17.5%) e Roménia (16.4%);
Por seu turno, os casos de menor relevância do abandono, em 2000 observam-se
na Rep. Checa (5.7%), Eslovénia (6.4%) e Eslováquia (6.7%); em 2018, a Croácia
apresentava a mais baixa taxa de abandono (3.3%), à frente da Eslovénia (4.2%) e
da Suíça (4.4%);
No período em análise, transparece no gráfico acima uma distribuição mais
homogénea dos indicadores em 2018, deixando de se verificar os enormes valores
registados em 2000, mormente relativos a Malta e Portugal. Neste último ano, como
observámos, os indicadores distribuíam-se num espaço entre 54.2% da população
1
Todos os países apresentam dados para o ano 2000, excepto os que as seguir se enumeram - Bulgária, Eslovénia e
Polónia, 2001; Croácia, Eslováquia, Irlanda, Letónia e Rep. Checa, 2002;Macedónia, 2006; Sérvia, 2010; e
Montenegro, 2011. Todos os países apresentam dados para 2018
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com 18/24 anos em Malta e, 5.% na República Checa, numa relação de 11:1. Em 2018,
essa relação era muito mais estreita, entre 21.5% na Islândia e 3.3% na Croácia,
revelando-se assim uma maior homogeneidade no âmbito do espaço europeu, com
essa redução a conduzir um menor número de pessoas, tendencialmente condenadas
a uma vida difícil, destinadas a preencher as ocupações mais penosas, mais precárias,
mais mal pagas, com mais largos períodos de desemprego.
A precariedade – no trabalho e na vida – inerente ao modelo neoliberal de
predominância financeira, atinge a vida laboral e pessoal de todos os que não são
patrões, mandarins de alto teor de toxicidade ou membros dos estratos corporativos
do núcleo mais profundo e antigo do Estado – os aparelhos militares, judiciais e
policiais.
A elevação da escolaridade nos segmentos sociais onde aquela é mais baixa constitui
uma melhoria civilizacional para os seus beneficiários diretos, bem como para as
sociedades no seu conjunto – algo que, de per si, não sensibilizará particularmente o
alto patronato ou a parcela da classe política ocupante dos aparelhos estatais.
Tendo em conta o perfil muito concentrado das altas estruturas políticas e
económicas do capitalismo, pensamos que a redução do abandono escolar é uma
forma de aumentar o leque das aptidões disponíveis de serem recrutadas no
“mercado de trabalho”, massificando-o e tornando mais aguda e generalizada a
concorrência entre os assalariados, aproximando mais instruídos e menos instruídos
numa vasta panóplia de gente disponível para a venda da sua força de trabalho, no
âmbito de um leque de remunerações em estreitamento, por um preço que não
contempla, nem regateios, nem negociações.
Nesse contexto, essa melhoria de escolaridade será um elemento para a
disponibilidade de uma amálgama social mais alargada e instruída, com um padrão
mais elevado e generalizado de precarização, extensivo aos segmentos populacionais
mais instruídos, como aos menos habilitados, facilitando um maior nível médio de
precariedade global, sem prejuízo da continuação da coexistência entre vários níveis
de instrução, com remunerações distintas mas geridas de modo similar, pelo Estado e
pelo patronato.
Como é sabido, os sindicatos, a nível europeu, assemelham-se mais a estruturas de
garantia de (boa) vida para grupos de burocratas, participantes em negociações
formais com os patrões e o mediador Estado, para mostrarem os seus (fracos)
serviços a favor da multidão, iludindo a grande diferença de poder negocial para gerar
na plebe a ideia de que as instituições democráticas… funcionam; porém, se
funcionam de modo desigual, isso retira ab initio qualquer democraticidade ao
processo. Recorde-se como a poderosa central sindical única alemã – DGB – ligada ao
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SPD, aceitou os acordos Hartz, elaborados para reduzir o peso dos salários em
benefício da competitividade da indústria.
Na Europa, esse padrão é diversificado, no âmbito de cada formação nacional; é
concorrencial, estendendo-se a mobilidade a migrantes europeus mas, também
extensível a africanos, asiáticos e sul-americanos, em proporções distintas para cada
país europeu; e que tanto podem abranger quadros técnicos como as funções menos
valorizadas nas sociedades ocidentais – limpezas ou indústria hoteleira, por exemplo.
Em Portugal, os regulares processos de concursos para professores, a banalização do
penoso trabalho em call-centers e afins, o alargamento de períodos experimentais em
qualquer lugar de início de funções laborais, a facilitação do despedimento, o cada vez
mais reduzido acréscimo no preço das horas suplementares de trabalho, o recurso ao
outsourcing, às empresas de trabalho temporário, tudo isso se insere nessa
precariedade generalizada que, do trabalho se estende à própria vida pessoal. Um
processo, historicamente, conduzido pelo partido-estado PS-PSD que tem enformado
o regime pós-fascista português.
Todo esse processo de precarização e empobrecimento é acompanhado pela
construção de uma pulsão consumista, paralela ao abandono gradual (quantitativo ou
qualitativo) pelos Estados, de áreas tão essenciais como a saúde, a educação, a
habitação, a segurança social, mormente face ao envelhecimento da sociedade, com o
empurrar da idade da reforma no sentido de uma aproximação gradual da
longevidade média... enquanto a carga fiscal aumenta. E, também paralela a uma
cativação dos rendimentos futuros por parte do sistema financeiro, com a
constituição vulgarizada e leviana de dívida pessoal e familiar, que tanto se destina a
suprir necessidades que o Estado abandonou (habitação, redes de transporte…) como
outras induzidas pela própria volúpia consumista (automóveis, viagens…).
2 – Abandono escolar por sexo
Observe-se, de seguida, a situação das taxas de abandono escolar para os dois sexos,
em 2000
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Para além dos numerosos casos em que a taxa de abandono escolar para
mulheres e homens é bastante aproximada, notam-se apenas seis situações em
que a parcela de mulheres supera a dos homens – Macedónia do Norte (6 pontos
percentuais), Malta (3 pp) e com uma pequena expressão, Luxemburgo, Áustria,
Alemanha e Rep. Checa;
As mais notórias situações de predomínio masculino no abandono escolar
registam-se em Portugal (14.4 pontos percentuais), Espanha (11.8 pp), Chipre
(11.1 pp) e ainda Grécia, Lituânia, Irlanda e Itália, um grupo onde se denota um
forte predomínio da orla Mediterrânica no âmbito destas situações.
A observação dos dados relativos a 2018, no âmbito da comparação da situação para
ambos os sexos continua a evidenciar maior abandono escolar entre os homens, ainda
que com uma distância ligeiramente menor do que em 2000.
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O abandono escolar entre as mulheres era, em 2000 de 14.9% e passou, dezóito
anos depois para 8.9% enquanto para os homens evoluiu de 19% para 12.2%.
Tudo isto, num plano de forte encurtamento das situações extremas; em 2000,
como vimos atrás Malta e Portugal destacavam-se com indicadores acima dos 40%
se não se distinguirem os sexos e, em 2018, o valor absoluto mais elevado fica em
27.6%, relativo aos homens, na Islândia;
Reduzem-se em 2018 (quatro contra seis em 2000) os casos de maior abandono
no sexo feminino comparativamente ao verificado para os homens, situando-se a
maior diferenciação na Macedónia do Norte (2.9 ponto percentuais contra 6 pp
em 2000), sendo marginal esse maior abandono feminino no Montenegro, na
Eslováquia e na Bulgária.
Os países onde, em 2018, se observam maiores distâncias no abandono escolar,
entre mulheres e homens - com a situação mais gravosa para os últimos - são a
Islândia (13.1 pontos percentuais), seguindo-se a Estónia (9.7 pp) e a Espanha (7.7
pp). com a Letónia e Portugal (6 pp) nos lugares imediatos.
3 – Comparação (2000 e 2018) nas taxas de abandono escolar para homens e
mulheres
No gráfico mais abaixo, denota-se que:
Apenas três países aumentam as taxas de abandono escolar, simultaneamente,
para homens e mulheres – Eslováquia, Suécia e Rep. Checa;
A Finlândia é o único caso onde se verifica um aumento do abandono para as
mulheres e uma redução para os homens;
Para o conjunto dos países da UE há uma redução do abandono escolar (6.8 pp)
ligeiramente maior para os homens do que a verificada para as mulheres (6.0 pp).
Mais detalhadamente, nos países onde há uma redução do abandono,
simultaneamente entre homens e mulheres, observam-se 12 situações em que a
redução do abandono entre as mulheres é superior ao verificado para os homens
e, 17 casos em que sucede o contrário;
Entre as mulheres as maiores reduções no abandono escolar observam-se em
Malta (40.6 pp), Portugal (27.8 pp) e Macedónia do Norte (17.4 pp); e as mais
insignificantes registaram-se na Sérvia (0.5 pp) e Hungria (1.1 pp), para além dos
casos da aumento, como já referido;
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Para os homens, as maiores reduções do peso do abandono escolar na população
com 18-24 anos registam-se em Portugal (36.2 pp), Malta (33.1 pp) e Grécia (17.2
pp).
Variação nas taxas de abandono para homens e mulheres (2000 e 2018)
(continua)
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