SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 21
Baixar para ler offline
V Encontro Nacional da Anppas
4 a 7 de outubro de 2010
Florianópolis - SC – Brasil
_______________________________________________________
Urbanização contemporânea no Brasil e meio ambiente:
compactação e dispersão como tendências de
configuração territorial das cidades e como expressão de
novas possibilidades de arranjo e de interação
sociedade-natureza
Manoel Lemes da Silva Neto (Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
Arquiteto e urbanista, professor do Programa de Pós-graduação em Urbanismo
manoel.lemes@puc-campinas.edu.br
Resumo
Entende-se que o fenômeno de urbanização seja determinante no desenvolvimento de estratégias
relacionadas à sustentabilidade dos espaços construídos. Consequentemente, (1) as interações
homem-natureza estariam subordinadas a dependência dos homens em relação à sociedade e (2) a
formulação de projetos de sustentabilidade, ao aperfeiçoamento das políticas públicas de caráter
territorial, em detrimento às concepções fundamentadas no ambientalismo tal como se encontra
atualmente mais largamente difundido. O texto envolve a análise crítica e propositiva da produção
socioespacial das cidades no âmbito da problemática ambiental contemporânea e sob as
circunstâncias da inserção territorial do estado de São Paulo e da área correspondente à Macro-
metrópole paulista. Definida a partir de um raio de 120 km a partir da capital do estado de São Paulo,
essa região apresenta grande variedade de configurações territoriais resultantes do arranjo de
basicamente três variáveis-chave: concentração urbana, densidade urbana e qualificação ambiental.
Pretende-se, assim, verificar a atualidade da concepção de que há uma relação inversamente
proporcional entre qualidade ambiental e densidade populacional urbana, entendendo-a como
instrumento urbanístico de planejamento e gestão.
Palavras-chave
Gestão urbana, conflitos socioambientais, sustentabilidade
Introdução
Compreendendo que a problemática ambiental é primordialmente decorrente do fenômeno da
urbanização, e a partir da perspectiva interdisciplinar e do ponto de vista urbanístico, o presente
texto propõe-se contribuir na produção do conhecimento relacionado às questões ambientais e na
formulação do pensamento ambientalista. Mais especificamente, pretende-se discutir a
associação entre as dinâmicas apresentadas pela urbanização contemporânea no Brasil e os
modelos de cidades compactas e de cidades dispersas.
As hipóteses de trabalho partem do pressuposto inicial de que, do ponto de vista da história das
técnicas, o pensamento ambientalista pode ser considerado inaugural ou, ainda, proto-técnico.
Isto é, encontra-se em um estágio relativamente rudimentar que o impede entrever possibilidades
de equacionamento dos problemas em bases fortemente ancoradas no uso intensivo da
tecnologia.
No caso em estudo, uma das implicações desse estágio inicial relaciona-se a concepções
urbanísticas conservadoras, a visões românticas que interpretam as aglomerações humanas
como se fazia até meados do século XX. Nestas, a qualidade ambiental é especialmente
alcançada por modelos que evocam as noções clássicas de cidades-jardim, onde predominam
baixas densidades populacionais, habitacionais e construtivas. Por consequência, e como causa e
efeito, a produção do mercado fundiário-imobiliário associa a imagem de “cidades verdes” ao ideal
de convivência, sociabilidade, “qualidade de vida” e sustentabilidade. Esse aspecto, ao lado do
espraiamento das periferias urbanas produzidas pelo mercado informal, contribui na explicação do
fenômeno da “urbanização dispersa” (GOULART, 2006), ou “macrourbanização” e “urbanização
do território” (SANTOS, 2005).
No Brasil, a urbanização, produzindo espaços com alta densidade técnica, além de concentrar a
população em áreas urbanas, o faz de modo acelerado tanto em áreas de urbanização
consolidada, como regiões metropolitanas, quanto em áreas a pouco praticamente despovoadas,
como é o caso dos resorts espalhados pelo litoral. No estado de São Paulo, a “urbanização
dispersa” organiza vastas continuidades territoriais a serviço do mercado fundiário-imobiliário. Em
tais conformações, a implantação e manutenção de infra-estruturas urbanas são altamente
custosas e, na maior parte das vezes, arcadas pelos cofres públicos, isto é, socializadas, ou,
então, a despeito dos danos ambientais, podem estender-se desprovidas de quaisquer infra-
estruturas básicas. Há, ainda, os efeitos desencadeados no tecido social e na configuração
cultural dos lugares, que se desagregam mais rapidamente ainda sem despertar maiores
comoções. São vistas como externalidades inevitáveis.
Contudo, o aperfeiçoamento técnico subjacente à produção social das cidades, bem como a
produção de análises sobre a crise ambiental em sentido largo – em que a relação homem-
sociedade antecede e subordina a relação homem-natureza – são dinâmicas que acenam
potencialidades reais de superação dos problemas envolvendo as sociedades contemporâneas e
o meio ambiente. Essa é outra hipótese importante desse trabalho.
Compreende-se que a concepção de espaços urbanos produzidos mediante o emprego de
tecnologias desenvolvidas especificamente para reduzir ou eliminar impactos ambientais
negativos, à primeira vista, denotam aumento do grau de artificialização do meio ambiente, mas,
depois, incorporados à dinâmica social, podem corresponder a novo patamar na relação homem-
sociedade-natureza. O conceito de cidades compactas está sendo formulado sob tais argumentos.
A possibilidade de conduzir a planificação territorial a um patamar superior de ação política é
igualmente vital. Nesse contexto possível, a centralidade na produção do espaço seria ocupada
pelo controle dos agentes sociais e pelo Estado, agora, de fato, envolvido com o interesse
comum. Sem dúvidas, a aliança do Estado com os atores hegemônicos dificulta em muito o
desenvolvimento de projetos nacionais socialmente justos e ambientalmente simétricos em
relação ao interesse de todos.
As circunstâncias
A afirmação de que a sustentabilidade do espaço urbano está condicionada pela alocação dos
recursos disponíveis para a implantação de equipamentos, serviços e infra-estruturas é verdade
incontroversa. Basta verificar como o grau alarmante de contaminação dos recursos hídricos está
diretamente associado à ausência de verdadeiras políticas públicas de caráter territorial, de
investimentos1
e, especialmente, de fiscalização para que os parcos recursos orçamentários
disponibilizados sejam efetivamente executados.
Visível nas cidades em praticamente todo curso d’água, é um dos muitos exemplos que
dispensam maiores demonstrações. Evidentemente, há outros fatores que impedem alcançar
níveis mais propícios de sustentabilidade urbana. Por exemplo, os relacionados às convergências
políticas e econômicas do processo produtivo, à cultura da sociedade de massa, à malversação
do dinheiro público e, mesmo, pela retração do sentido de cidadania na esfera pública.
Contudo, no raio de ação da arquitetura e urbanismo, a interferência no processo de alocação de
recursos pode ser decisiva na medida em que é possível demonstrar as correlações entre
qualidade ambiental e densidade urbana: são inversamente proporcionais (ACIOLY e DAVIDSON,
1998).
As condições mais favoráveis para o aproveitamento dos recursos públicos são aquelas que se
concretizam em contextos espaciais densamente povoados. O desempenho da relação
custo/benefício social é melhor quando o valor per capita do investimento público é menor. Por
outro lado, a qualidade espacial do ambiente urbano tende a comprometer-se negativamente em
setores urbanos adensados.
Nessa direção é possível admitir que a qualidade ambiental esteja diretamente associada à
sustentabilidade. Quanto maior a qualidade ambiental, melhor serão as chances de se produzirem
ambientes sustentáveis.
Esse princípio encerra um modo de se conceber projetos arquitetônico-urbanísticos não raro
associados ao partido de organização de espaços pouco adensados. Os exemplos do que se
pode denominar “arquitetura bioclimática” frequentemente apresentam-se em contextos urbanos
densamente vegetados e com taxas de ocupação do solo relativamente baixas. O mesmo se dá
em relação aos espaços públicos (ROMERO, 2002).
No entanto, recentemente, estão surgindo novas concepções de qualidade ambiental urbana que
preconizam o adensamento como forma de potencializar a sustentabilidade de espaços
construídos. Cidades mais dispersas induzem o uso veicular, o aumento do consumo de
combustíveis, o grau de poluição, os congestionamentos e o tempo gasto nos deslocamentos
(NETTO, 2008). Daí o surgimento de tipologias arquitetônico-urbanísticas compactas, não
rarefeitas, com surpreendente resultado plástico (MOZAS e Per, 2006; PER e MOZAS, 2007) e,
simultaneamente, mais compatíveis com estratégias de sustentabilidade aplicadas em “sistemas
fechados com relação ao fluxo de matéria, embora sejam abertos com relação ao fluxo de
energia” (CAPRA, 2001, p. 219). A noção advém da natureza cíclica dos processos ecológicos.
Um parêntese. Paradoxalmente, no campo da atuação do arquiteto e urbanista, o planejamento
pode antepor-se à noção de organização. O termo planejamento provém, etimologicamente, de
planeamento, de “tornar plano” (Lello Universal). No extremo, o planeamento elimina diferenças.
De fato, o planejamento urbano dispõe de muitos instrumentos que reduzem a multiplicidade de
aspectos pelos quais o fenômeno urbano manifesta-se. Por exemplo, as funções urbanas da
Carta de Atenas reduzem a complexidade da organização espacial das cidades ao morar, ao
trabalhar, ao circular e ao lazer (LE CORBUSIER, 1942?(1989)). E mais. As funções adquirem
formas ao traduzirem-se em zonas de uso e ocupação. No outro caso, ao invés da eliminação, a
organização pressupõe combinar diferenças e acentuar a diversidade.
Por isso, além da dificuldade de encontrar soluções para o equacionamento da problemática
ambiental encenada nas cidades, há, também, a necessidade de mudança da cultura dos
construtores de espaços. Garantir que o exercício profissional do arquiteto e urbanista contribua
na busca de respostas e, em especial, na sua aplicação efetiva são, também, enormes desafios
para alcançar a sustentabilidade urbana.
Elementos intervenientes no desenho de estratégias de sustentabilidade como densidade urbana,
qualidade ambiental e alocação de recursos exigem disposição na busca de tecnologias
envolvendo sistemas combinados, ou a combinação de sistemas. Variáveis que comprometem a
sustentabilidade das cidades, como a capacidade de suporte dos sistemas urbanos e, em face
das mudanças climáticas, a potencialização da resiliência dos espaços construídos, devem
constar na agenda da cultura arquitetônico-urbanística como reflexão constante.
Entretanto, para que haja uma espécie de compromisso intelectual do arquiteto e urbanista em
prol da causa ambiental e da sustentabilidade, não se poderá incluir num mesmo acordo a noção
de desenvolvimento sustentável atrelada ao triple bottom line. Uma coisa é o esforço de se
perseguir metas de melhoria da qualidade ambiental das cidades, que é sinônimo de cidadania
plena e de equanimidade social. Outra, ignorar o discurso economicista e globalitário dos agentes
hegemônicos. A sustentabilidade oculta faces perversas (AFONSO, 2006).
Como forma de contribuir no desenvolvimento de questões dessa natureza, este texto reúne
alguns argumentos para discutir-se o tema da sustentabilidade circunstanciada na análise
comparativa entre duas formas e estruturas urbanas que se contrapõem dos pontos de vista
teórico e experimental: cidades compactas e cidades dispersas. Em curso, os fenômenos que as
produzem evocam a “metropolização e macrourbanização” – apontada por Milton Santos como
tendência da urbanização brasileira (2005) – ou, ainda, a formação de extensas áreas
metropolitanas caracterizadas pela “urbanização dispersa” – estudada recentemente no estado de
São Paulo por Nestor Goulart Reis (2006).
Independentemente do aspecto que essas análises privilegiam para dar conta da complexidade
da organização espacial contemporânea, e em um lugar de paisagens contrastantes como o
estado de São Paulo, o fato é que as estratégias de sustentabilidade devem identificar desde
maciços densamente urbanizados – e, consequentemente, detentores de “rugosidades”
(SANTOS, 1986, p. 136) e grandes espaços fixos – até formas urbanas extremamente singelas,
como o caso de Borá, menor município brasileiro, também situado em São Paulo, e que, pela
contagem populacional de 2007 do IBGE, tinha 804 habitantes.
Por um lado, o modelo espraiado como o é a Região Metropolitana de Campinas (RMC), de outro,
um mais compactado, a exemplo da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Entre os
extremos opostos, situações intermediárias que não podem ser desprezadas.
Os modelos urbanísticos de baixas densidades, como o das cidades-jardim, emblemático do
urbanismo já clássico do final do século XIX e início do XX, também surge revelado como um dos
“devoradores de espaços”, para utilizar a expressão cunhada por Lewis Munford (1982, il. 48) ao
descrever situações como o dos estádios, centros comerciais e gigantescos complexos viários,
que juntamente a expansão de áreas residências de baixa densidade populacional, são
responsáveis pelo fenômeno do sprawling urbano (RIBEIRO e SILVEIRA, 2009).
Fonte: Ribeiro e Silveira, 2009.
Evidentemente, não fora a possibilidade de examinar as zonas urbanas de baixa densidade
populacional do ponto de vista das cidades compactas, a comparação não seria justificável. Os
seguintes argumentos decorrem da equiparação do modelo espraiado de expansão urbana com o
das cidades compactas (Id. ibid.).
1. No modelo espraiado, o ciclo linear de consumo de espaço (obter > utilizar > descartar)
contrasta-se com o modelo circular das cidades compactas; isto é, com o princípio dos “3 R”
(reduzir o consumo do espaço natural > restaurar ou requalificar > reutilizar).
2. As cidades compactas tendem a poupar os espaços naturais e os ecossistemas, “que seriam
mantidos ativos, realizando seu trabalho ambiental, inclusive em favor da qualidade ambiental
e da qualidade de vida urbana. Também se poupariam muitas terras produtivas em sua função
rural, evitando-se migrações populacionais e os efeitos do uso apenas especulativo sobre a
terra”.
3. As cidades compactas tendem a preservar mais intensamente os valores patrimoniais “que
podem ser conservados e transmitidos às gerações posteriores sendo, portanto, também
aspectos da sustentabilidade urbana”.
4. “A compactação permite reduzir as distâncias dos deslocamentos”, bem como “(...) viabilizar
de forma concreta a utilização eficiente de sistemas coletivos de grande capacidade, muito
mais eficientes no consumo energético e com menor emissão de poluentes”.
5. A continuidade e a compactação têm grande influência nos custos de urbanização e na
redução do consumo energético.
Não é de hoje que o tema das cidades compactas desperta a atenção como uma conformação
relacionada à racionalização do uso energético. Em texto publicado em 1973, Ivan Illich
denunciava que os automóveis contribuíam para diminuir a velocidade dos deslocamentos e que
seria imprescindível transformar os hábitos de consumo ao invés de buscar alternativas de fontes
energéticas. Para ele, o impacto dos deslocamentos dos veículos automotores contribuía para a
destruição do ambiente físico e na agudização dos problemas econômicos, sociais, energéticos,
interferindo, inclusive, no modo de vida, como o aumento da falta de tempo e o sedentarismo
(2005, p. 43).
Portanto, as questões relacionadas à sustentabilidade dos espaços construídos ainda tem muito
por revelar. Há pouco, os gigantescos maciços urbanizados apresentavam-se como ameaças que
rondavam o destino das aglomerações humanas. Mesmo do ponto de vista da dinâmica social, os
habitantes das grandes cidades pareciam vaticinados ao isolamento e à solidão. Agora,
ressurgem como localidades onde a sociodiversidade floresce com maior vigor e, como ela, uma
cultura popular que, apropriando-se dos meios técnicos antes exclusivos para alguns, estabelece
as pré-condições para o surgimento de outro período histórico (SANTOS, 2000, p. 20-21).
Daí as razões de se verificar a atualidade da concepção de que há uma relação inversamente
proporcional entre qualidade ambiental e densidade populacional urbana, entendendo-a como
instrumento urbanístico de planejamento e gestão. É possível que o cenário apontado pelas
cidades compactas venha a se constituir em fonte capaz de subsidiar estratégias de
sustentabilidade.
De toda maneira, o tema é político. A decisão por uma mudança de marco civilizatório é,
eminentemente, política. A resistência norte-americana ao protocolo de Kyoto é prova cabal do
interesse hegemônico de alguns contra o interesse comum da maioria. Héctor R. Leis, ao
mencionar o novo contrato natural proposto por Michel Serres (1991), lembra que a superação
dos limites que impedem a sustentabilidade, além de política, é, em suma, de natureza moral
(2004, p. 145).
Elementos do discurso analítico
Em 2007, o Brasil tinha 5.564 municípios, dos quais 1.334 (24% do total) com menos de 5 mil
habitantes. Esses municípios abrigavam 2,4% da população brasileira. Já os 36 municípios com
mais de 500 mil habitantes, 29%.2
No estado de São Paulo estão o maior e o menor municípios do
país: São Paulo, com 10,8 milhões, e Borá, com 804 habitantes. Esses desequilíbrios, entre o
grande e o pequeno, o máximo e o mínimo, expressam-se igualmente no rendimento familiar. O
Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. A renda per capita dos 10% mais ricos da
população brasileira é 32 vezes maior que a dos 40% mais pobres (NAÇÕES UNIDAS, 2005, p.
49). Neste cenário, na região sudeste – que abriga as duas maiores regiões metropolitanas do
Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro – em 50 anos (1950-2000), o grau de urbanização cresceu
190% e a população urbana, 610%. No mesmo período, o grau de urbanização da região Centro-
oeste cresceu 326%. Já a população urbana, 2.537%.3
Então, do ponto de vista instrumental, como é possível relacionar meio ambiente e espaço
construído? Qual o peso da variável clima em face da variável demográfica e da econômica? O
que desencadeará as consequências mais severas no prazo de sobrevivência das gerações do
presente histórico? Uma, outra, ou o efeito combinado de todas?
Não é o caso requentar polêmicas anteriores à proposição do triple bottom line, como a do debate
ambientalista dos anos 60 em torno da poluição industrial e do crescimento populacional (LEIS,
2004, p. 54). Mas uma coisa é certa. Não há como refletir propositivamente a sustentabilidade
ambiental e, particularmente, intervir no equilíbrio dinâmico da ecologia urbana, relegando ao
brasileira.
segundo plano um processo determinante e que perdura há cinco mil anos como o é a
urbanização.
Na análise de macro-tendências das regiões brasileiras, as regiões norte e centro-oeste
caracterizam-se por apresentarem, grosso modo, biomas ainda preservados: a Amazônia, o
Pantanal e o Cerrado. Eles correspondem, respectivamente, a 43%, 23% e 2% do território
brasileiro.4
Em 2000, as regiões norte e centro-oeste obtiveram cada qual graus de urbanização
de 70% e 87%. As mais urbanizadas, o sudeste e o sul, 91% e 81%.5
Em 2007, o percentual da população brasileira residente em área costeira era de 24% da
população total. Na região nordeste, a segunda mais povoada do país, com 28% da população
total, a população residente em área costeira chegou a 38%.6
Conflituosamente, essa mesma
região abriga a Caatinga, bioma de clima semi-árido que há tempos vem justificando enormes
dificuldades de acesso a bens e serviços. Nela habitavam cerca de 16 milhões de pessoas
(HOGAN, 2005, p. 4) em condições muito severas de sobrevivência,7
fatores que há mais de um
século explicam porque, ainda hoje, a região nordeste ocasiona importantes fluxos migratórios (Id.
ibid., p. 10).
No presente histórico, em que pese abrigar a extensíssimas áreas praticamente despovoadas, o
Brasil, em síntese, é um país intensamente urbanizado. A tendência mais provável é a de
crescimento da população urbana nas metrópoles milionárias e nas cidades com população entre
100 mil a 200 mil habitantes, assim como o aumento expressivo do número de cidades com mais
de 200 mil habitantes (SILVA NETO, 1998, p. 118).
Em pouco mais de cinco séculos, a experiência da sociedade urbana no Brasil variou de zero a
100% de urbanização. Com densidade demográfica média de 22 habitantes por Km2
em 20078
,
valor que representava oscilações que iam de 1 a 12.911 habitantes por Km2
em 20009
, a
variação de zero a 100% é somente uma metáfora para explicar a dinâmica do processo de
urbanização
Mas tal afirmação não é de todo falsa. Havia, em 2000, 60 municípios cujo grau de urbanização
correspondia a rigorosamente igual a 100%. Embora persistam muitas perguntas sem explicação
a respeito do que territorialmente corresponderia ao perímetro urbano em cada uma das
municipalidades brasileiras, o fato é que esses 60 municípios correspondiam a 18% da população
residente urbana do país. Por aproximação decimal a 100% de urbanização, o número de
municípios saltaria para 84, com 24% da população urbana e, se levada em conta desde a faixa
acima de 99%, eram 123 municípios correspondendo a 31% dos residentes em cidades no Brasil.
O município de São Paulo estava na casa dos 94% de grau de urbanização. Do intervalo que
abrange São Paulo até aos municípios integralmente urbanizados, isto é na classe de 94 a 100%
de urbanização, existiam 369 municípios, 7% do total de 5.564. Neles habitavam 59% da
população com domicílio urbano no Brasil. Já os 466 municípios que conformam as 29 unidades
metropolitanas brasileiras, abrigavam 41% da população total e 48% da população urbana.10
Portanto, de um modo ou de outro, é possível afirmar-se que o país, ou melhor, a sociedade
brasileira é francamente urbanizada e seu retrato mais fiel é, sem dúvidas, o estado de São Paulo.
Nele pode-se definir um plano empírico para contextualizar a argumentação central deste texto.
Mais precisamente, propõe-se focar os 135 municípios abrangidos pelo raio de 120 km a partir da
capital do estado. Eles conformam a Macro-metrópole paulista, delimitação territorial que, desde a
década de 1970, chamava a atenção pelo alto grau de vulnerabilidade das condições de vida.
Ainda nos anos 1970, as diretrizes gerais do Plano de Desenvolvimento Urbano e Regional
atribuíam à região metropolitana de São Paulo e Baixada Santista as características de “área de
recuperação da qualidade de vida”. Dizia-se, então, que “nesta área teve lugar o maior processo
de urbanização e de desenvolvimento do Estado e do País, com manifestações patológicas” (SÃO
PAULO (ESTADO), 1976, p. 23). No caso, a estratégia visava desconcentração urbana e
industrial com especial atenção à conurbação iminente com as “áreas de controle”, tais como os
eixos Rio-São Paulo e São Paulo-Campinas, cidades turísticas, abrangendo inclusive o litoral
norte (Id. ibid. p. 23).
Note-se que o fenômeno da “desconcentração da concentração” identificada por Carlos Roberto
Azzoni em 1986, ainda encontra-se em atividade. Expresso em termos populacionais, a
sinalização do fenômeno está relacionada à aceleração da densidade demográfica. Para efeito
comparativo, a densidade demográfica em todas as dimensões espaciais do país apresenta
tendência crescente. Em 1980, a densidade demográfica do Brasil era de 14 habitantes/km2
e, 27
anos depois, em 2007, passou a 22 habitantes/km2
.11
Crescente no país, a tendência é acentuada no estado de São Paulo e ainda mais na área
correspondente à Macro-metrópole paulista. Em 2007, essa área apresentou a densidade
demográfica de 683 habitantes/km2
.
Densidade demográfica (habitante/km2)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
Brasil
Estado de São Paulo
Macrometrópole
Brasil 14 17 20 22
Estado de São Paulo 100 126 149 160
Macrometrópole 417 528 629 683
1980 1991 2000 2007
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
Macrometrópole
Campinas
São Paulo
Osasco
Taboão da Serra
Macrometrópole 417 528 629 683
Campinas 744 948 1091 1172
São Paulo 5617 6369 6909 7214
Osasco 6958 8317 9584 10309
Taboão da Serra 4845 7937 9862 10960
1980 1991 2000 2007
No interior da RMSP, a dinâmica repete-se, porém mais intensamente. No município de São
Paulo, em 2007, a densidade demográfica foi de 7.214 habitantes/km2
, mas em Osasco e Taboão
da Serra – e particularmente neste último – o ritmo de crescimento não foi apenas muito
acentuado. Também foi gigantesco. Nesses dois municípios a densidade demográfica
correspondeu, respectivamente, a 10.309 e 10.690 habitantes/km2
.
Nos 20 km2
da extensão territorial do município de Taboão da Serra, a densidade demográfica
total equivaleu a 110 habitantes/ha em 2007. Para se ter uma noção das dimensões desses
valores, no bairro de Nova Campinas, em 2000, a densidade urbana média estava na ordem 31
habitantes/ha. Empreendimento da Companhia City12
, esse bairro foi desenhado segundo o
modelo das cidades-jardim.
Pois bem. Se esse bairro fosse ocupado com a densidade demográfica total de Taboão da Serra,
poderia abrigar quase 15 mil habitantes, ao invés de 3.900 habitantes que correspondeu,
aproximadamente, a população de Nova Campinas em 2000. Isto é, a qualidade ambiental
existente no bairro, expresso pela vegetação, equipamentos e infra-estruturas urbanas instaladas
poderia ser compartilhada por três vezes mais pessoas além das ali residentes.
E o detalhe é que essas estimativas são inverossímeis, uma vez que se equiparou a densidade
demográfica total de Taboão da Serra com a densidade urbana de Nova Campinas.13
Ainda
assim, é possível aproximar-se da hipótese de que as altas densidades urbanas em um país como
o Brasil são, por enquanto, absolutamente inviáveis. E a razão é uma só. O Estado não garante os
custos da urbanização e nem tampouco os de manutenção dos serviços, equipamentos e infra-
estruturas urbanas. O contexto de potencialização da sustentabilidade possível por meio das
cidades compactas está longe de ser uma realidade para os brasileiros.
Vejam-se as seguintes comparações. A densidade urbana em torno de 300 habitantes por hectare
(habitantes/ha) era recomendada pelo urbanismo funcionalista como ideal para a compatibilização
de fatores como custos de urbanização, ventilação, insolação, salubridade, etc. Foi a densidade
urbana projetada por Lúcio Costa para as superquadras do Plano Piloto de Brasília. Em 2000, a
densidade urbana média da RMC foi de 83 habitantes/ha. Em Campinas, a média foi de 105
habitantes/ha, embora haja setores urbanos muito adensados, atingindo mais de 1.200
habitantes/hectare. Os 100 setores urbanos mais adensados da cidade de Campinas
apresentaram a média de 445 habitantes/hectare. Na cidade de São Paulo, também em 2000, a
média dos 100 setores urbanos mais adensados foi de 8.039 habitantes/ha.
Por fim, o contexto da macrometrópole paulista é um laboratório instigador para o estudo e
proposição de estratégias de sustentabilidade. Nessa área pode ser encontrado um conjunto
enormemente variado de particularidades. Desde as situações mais graves, como as comentadas
acima, até exemplos característicos da urbanização dispersa e fragmentada. Campinas é um
deles. No entanto esse seu quadro pode alterar-se ao sabor das forças especulativas do mercado
imobiliário. O imenso estoque de terras garantidas pelo município pari passu à constituição dessa
enorme região de metrópoles centrada na capital, São Paulo, e ao aumento e expansão da
densidade técnica presente no território são alguns dos fatores que podem produzir efeitos
perturbadores de certa qualidade ambiental ainda presente em Campinas. Mas esses prenúncios
ainda podem ser evitados.
Explorando tais dinâmicas e processos do ponto de vista sistêmico-tecnológico, e se, de fato,
comprovar-se a hipótese de que o aumento da densidade técnica e, por consequência, a de
viabilização das concentrações demográficas pode constituir fator favorável da relação homem-
sociedade-natureza, a análise desses resultados pode ser qualitativamente reangulado.
Paradoxalmente, e por hipótese, as áreas densamente povoadas seriam mais susceptíveis à
sustentabilidade.
Sobre novas possibilidades de arranjo das relações homem-natureza
O tema das cidades compactas está diretamente relacionado a uma tipologia arquitetônica que
não é novidade: edificações com altas densidades construtivas e habitacionais. Os exemplos mais
emblemáticos remontam ao século II a. C.: as insulae, ou ilhas. Segundo Lewis Munford,
competiam “(...) com as covas de detritos de Roma, como exemplos clássicos de imunda
administração municipal. (...) Enquanto um punhado de patrícios, cerca de mil e oitocentas
famílias, ocupava grandes mansões privadas, não raro com amplos jardins e casas
suficientemente grandes para conter todo um agrupamento de servos livres e escravos, (...) a
grande massa do proletariado, em agudo contraste, vivia em cerca de quarenta e seis mil prédios
de apartamentos que devem ter contido, em média, perto de duas mil pessoas cada um” (1982, p.
242).
Grandes cidades com altas densidades populacionais também não são fatos recentes. No séc. II
d. C., Roma contava com um milhão de habitantes e as insulae chegavam a atingir sete
pavimentos. A estratégia dos arquitetos era ganhar em altura o espaço que faltava no solo,
propiciando aos proprietários desses edifícios lucro garantido decorrentes do aluguel de quartos
ou apartamentos aos expropriados de Roma. Comerciantes e artesãos ocupavam os pisos
térreos.
Situação semelhante, mas em proporções historicamente inéditas, ocorreria no século XIX, com
as cidades industriais. “Os escravos galés do Oriente, os miseráveis prisioneiros empregados nas
minas de prata atenienses, o proletariado deprimido das insulae de Roma – tais classes
conheceram, não há dúvida, desgraças semelhantes; nunca, porém, os rigores humanos tinham
sito tão universalmente aceitos como coisa normal: normal e inevitável” (Id. ibid., p. 513).
E é nessa dimensão social, no plano da cultura, que se impõe romper a cisão das ciências
naturais com as sociais. Encarar situações críticas como fatalidades que não se pode evitar – e os
problemas ambientais oriundos da urbanização contemporânea, tais como poluição, geração de
resíduos, racionalização energética, etc. vem sendo apresentados como meros temas da “pegada
ambiental”, desfalcando-lhes a dimensão política fundamental – é uma noção ideologicamente
produzida pela cisão artificial do conhecimento. Uma vez herdada pelas sociedades
contemporâneas, permite apenas a construção de uma visão de mundo extremamente limitada e
utilitarista.
Bruno Latour situa as origens dos problemas relacionados à compreensão do mundo
contemporâneo por volta do século XVII, quando teriam sido criadas, “‘por purificação’, duas
zonas ontológicas inteiramente distintas” que instauram os discursos da modernidade: a dos
humanos e dos não-humanos (1997, p. 21)14
.
Por isso, a versão banalizada do ambientalismo ao antepor o homem à natureza, ao invés de
servir como elemento de dissuasão a favor da causa ambiental pode surtir efeito contrário.
Centrado na dependência do homem em relação à natureza, e geralmente relegando ao segundo
plano a primazia das relações sociais em face de qualquer outra classe de relações, o discurso
enfeixado na causa ambiental pode dificultar compreender a problemática da crise
contemporânea.
A dependência crescente dos artefatos criados pelo próprio homem. Os limites da vida e da
corporeidade humana compreendidos como condições inaceitáveis a serem eliminadas e, o que é
mais grave, que realmente podem sê-lo. O mercado global que une e separa os agentes sociais,
misto de fatalidade do mundo das finanças e da economia e de maravilha técnica que viabiliza a
produção de objetos de consumo cobiçados e consumidos por milhões e milhões de pessoas. A
unificação política das nações do planeta. Estes poucos exemplos permitem traçar as linhas
gerais da configuração cultural da atualidade que pode estar engendrando o estranhamento do
homem em relação à natureza sem lhe dar o benefício de compreender os processos
socioespaciais que estão na base das questões ambientais.
No Brasil, fenômenos que promovem a destruição do ambiente em proporções jamais vistas estão
longe de serem difundidos pelos meios de comunicação e debatidos e trazidos a público pela
classe política. O mais estranho é que, contraditoriamente, no período militar, a preocupação com
a “qualidade de vida e do meio ambiente” estava explicitamente associada ao processo de
urbanização e não à temática ambiental, que diga-se, já estava aflorada. A violência no trato com
o ambiente ocorria nos anos do “milagre econômico”, ao mesmo tempo em que já nascia a reação
indignada de cientistas como a de José A. Lutzenberger, em seu “Manifesto ecológico brasileiro”.
Antes de tornar-se livro, esse documento pioneiro, corajoso para uma época como a de meados
dos anos 70, no auge do regime militar, podia ser adquirido em bancas de jornal, como mero
pasquim.
Atualmente, não se fala em desconcentração espacial, não se relaciona a deterioração acelerada
das condições de vida à urbanização que interessa ao mercado fundiário e imobiliário e aos
agentes bancário-financeiros e nem tampouco ao tema da ideologia negligenciado, inclusive, nos
estudos acadêmicos. O homem, vilão, a natureza, indefesa, são atores que se digladiam
publicamente deixando, na penumbra protetora do medo gerado por essa luta desigual e
sangrenta, os verdadeiros agentes e as dinâmicas socioespaciais que fragilizam o direito ao futuro
para todos. Eles ficam praticamente indetectáveis.
Desse modo, parece difícil advogar a favor de novas possibilidades de arranjo e de interação
sociedade-natureza e, mesmo, sobre a compactação como tendência admissível de organização
espacial das cidades. Ainda assim, e porque se entende que as poucas chances de equacionar de
modo satisfatório a problemática ambiental se dão por intermédio da configuração territorial
produzida historicamente pelas sociedades, propõe-se lançar ao debate as seguintes proposições.
Quanto à potencialidade de encontro dos atores sociais
No período histórico atual, a concentração da população em áreas urbanas surge como um
quadro com poucas chances de se reverter. Há estimativas de que 80% da população urbana do
Brasil viverão em 10% das cidades (Hotz, 2001). Mesmo assistindo-se a um processo de
diminuição das taxas de crescimento da população nas grandes cidades, o espraiamento do
fenômeno da urbanização concentrada ao redor das regiões metropolitanas é categórico, o que
faz recrudescer os problemas ambientais. Por exemplo, o equacionamento da questão dos
recursos hídricos ao redor da capital de São Paulo envolve, no mínimo, duas regiões
metropolitanas – São Paulo e Campinas – e a gigantesca comunidade de mais de 22 milhões de
pessoas.
No entanto, essas condições podem apontar cenários benéficos? Sim, pode. E a explicação está
relacionada à possibilidade de aumento das sinergias potencializadas com as aglomerações
humanas. Se a urbanização industrial marca os primórdios da produção de um tipo cidade
interpretada por autores consagrados da história urbana como retrocesso (MUNFORD, 1982),
visto por outro ângulo o fenômeno propiciou outros desdobramentos que, para todos os efeitos, foi
exitoso. Por exemplo.
“Pela metade do século XVII havia muitos que viam claramente que [a] cooperação entre ciência e
engenharia prática formava a base primordial dos melhoramentos técnicos. Nesse século e no
século seguinte houve um aumento notável do número de patentes (figura 1)” (FORBES, (1958)
1976, p. 74).
Também, a natureza gregária do ser humano, a necessidade do encontro é algo que não pode ser
deixado de lado, apesar das implicações negativas que as aglomerações urbanas, especialmente
as gigantes, possam trazer. A polis teria sido um “lugar de encontro” para a discussão dos
assuntos políticos, de “indagação a respeito da existência”, em contraposição aos assuntos
domésticos, tidos como menores. Os cidadãos da polis distinguiam-se na sociedade grega por
desfrutarem da liberdade de “pensar”, de “agir” e de usufruir a “vida activa”15
(ARENDT, 1991,
p.15-26).
A “sociodiversidade” é outro fenômeno que não se pode ignorar como estratégia que a própria
natureza social dos homens urde como estratégia com a virtude de reverter a tendência de
destruição do habitat artificial das sociedades contemporâneas. Num mesmo lugar, e
especialmente nas grandes cidades, há enorme heterogeneidade de tipos de pessoas que as
habitam, o que pode produzir o que Milton Santos definiu como revanche do território. Isto é, a
sociodiversidade é capaz de produzir outro período histórico formulado sob outras bases de
existência social dos homens no ecúmeno16
.
Quanto à viabilidade econômico-financeira da compactação urbana
Ora, o adensamento populacional, traduzido sob formas compactas, dá mostras de sobra de que
é um negócio viável. Caso contrário, a história, tanto a remota, quanto a recente não teriam
registrado a densidade urbana como um fato diretamente relacionado à obtenção do lucro, à
produção da mais-valia urbana. Então, porque, sob novas condições históricas, a compactação
deixaria de surtir o mesmo efeito, com a diferença de que, agora, a geração da “lucratividade”
pudesse reverter-se a favor das comunidades urbanas envolvidas? O processo produtivo é o
mesmo, a organização do trabalho semelhante, enfim, as etapas desenvolvidas na construção dos
espaços compactos não divergem do que, atualmente, estão colocadas em jogo pelo mercado da
habitação popular. A diferença estaria no controle social e nas finalidades do processo produtivo.
Tanto o controle social, quando as finalidades do processo produtivo estariam direcionados ao
interesse comum, visto como interesse de todos, e às estratégias socialmente necessárias. Nelas,
a de equacionamento da problemática ambiental contemporânea.
Não há porque abandonar a perspectiva, e não se trata de colocar em marcha qualquer espécie
de movimento revolucionário. Trata-se, sim, de outro movimento histórico, de novo arranjo das
forças sociais capaz de restabelecer as relações homem-sociedade-natureza.
Quanto à dimensão sistêmico-tecnológica da sustentabilidade do espaço
construído
Por fim, não há dúvida de que os espaços compactos são muito mais viáveis para que se alcance
os efeitos benéficos da sustentabilidade do que os espaços dispersos. Basta refletir a respeito da
veracidade dessa hipótese a partir de um mero exemplo como a da reciclagem dos resíduos
sólidos. Porque são dispostos de modo a se concentrarem e a se dividirem?
Assim como os recipientes coloridos que auxiliam a triagem de toneladas e toneladas de lixo, as
residências, os edifícios, as quadras, os bairros, as cidades, as regiões, etc., poderiam dispor de
organizações sistêmicas onde cada qual corresponderia a uma unidade em interação dinâmica
com as demais, a exemplo da matriz insumo-produto.
Quanto ao sprawl urbano, pelo menos desde meados dos anos 1990 o fenômeno é reconhecido
como rigorosamente insustentável (ACIOLY e DAVIDSON, 1998, p. 7)17
Conclusões, sob a forma de hipóteses
1) Não há como refletir, analítica ou propositivamente, a sustentabilidade ambiental e, em
particular, intervir no equilíbrio dinâmico da ecologia urbana, relegando ao segundo plano um
processo determinante e que perdura há cinco mil anos como o é a urbanização.
2) Recentíssimo, o conhecimento relacionado à produção social das cidades no contexto da
crise ambiental contemporânea ainda se vê cativo de modelos tradicionais de formulação
urbanística, impedindo a inovação tecnológica de processos e de projetos e o ensaio de
possibilidades de novos arranjos de aglomerações humanas que, a princípio, surgem adjetos à
artificialização da natureza.
Referências bibliográficas
ACIOLY JUNIOR, C.; DAVIDSON, F. Densidade urbana e gestão urbana. Rio de Janeiro: Mauad
Editora, 1998.
AFONSO, C. M. Sustentabilidade: caminho ou utopia? São Paulo: Annablume, 2006.
ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense/Edusp, 1991.
AZZONI, Carlos Roberto. Indústria e reversão da polarização no Brasil. São Paulo: Ipeusp, 1986.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo:
Cultrix, 2001.
COMITÊ PCJ. Plano de bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí para o
quadriênio 2008-2011. Disponível em: <http://www.agenciadeaguapcj.org.br/download/PB-2008-
2011.pdf> Acesso em: 26 fev. 2010.
FORBES, R. J. A energia até 1850. In: A invenção da máquina a vapor. São Paulo: Fau/USP,
1976.
GONZATTO A.; BOUCINHAS, C. Superando antagonismos entre natureza e cidade: desenho
participativo em Taboão da Serra. In: SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE O TRATAMENTO DE
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE EM MEIO URBANO E RESTRIÇÕES AMBIENTAIS
AO PARCELAMENTO DO SOLO, São Paulo. Resumos expandidos e programas. São Paulo:
FAUUSP, 2007, p. 304-306.
HOGAN, D. J. Migration dynamics in Brazil's major biomes. In: XXV INTERNATIONAL
POPULATION CONFERENCE, Tours. 2005. Proceedings... Tours: International Union for the
Scientific Study of Population, 2005. Disponível em:
<http://iussp2005.princeton.edu/download.aspx?submissionId=51543>. Acesso em: 6 jun. 2009.
HOTZ, Eduardo Fontes. A organização metropolitana pós-constituição de 1988. São Paulo em
perspectiva, São Paulo, v. 14, n. 4, out./dez. 2001.
ILLICH, I. Energia e equidades. In: Ludd, Ned (Org.). Apocalipse motorizado: a tirania do
automóvel em um planeta poluído. 2. ed. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2005. (Coleção
Baderna).
LE CORBUSIER. A carta de Atenas [tradução de Rebeca Scherer]. São Paulo: Hucitec/Editora da
Universidade de São Paulo, 1989. (Estudos Urbanos).
LEIS, Ricardo Héctor. A modernidade insustentável: as críticas do ambientalismo à sociedade
contemporânea. Montevideo: Coscoroba, 2004.
MOZAS, J.; PER, A. F. Density: nueva vivienda coletiva. Vitoria-Gasteiz (Spain): Editora a+t
ediciones, 2006.
MUNFORD, L. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. 2 ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1982.
NETTO, V. de M. Morfologias para uma sustentabilidade arquitetônico-urbana (texto 167). In:
NUTAU 2008 – 7º SEMINÁRIO INTERNACIONAL: o espaço sustentável; inovações em edifícios e
cidades. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2008.
PER, A. F.; MOZAS, J. Density projects. Vitoria-Gasteiz (Spain): Editora a+t ediciones, 2007.
REIS, N. G. Notas sobre a urbanização dispersa e novas formas de tecido urbano. São Paulo: Via
das Artes, 2006.
RIBEIRO, E. L.; SILVEIRA, J. A. R. da O fenômeno do sprawl urbano e a dinâmica de segregação
socioespacial. In: www.revistaau.com.br. Disponível em: http://www.revistaau.com.br/arquitetura-
urbanismo/185/imprime149628.asp. Acesso em: 6 ago. 2009.
ROMERO, M. A. B. Arquitetura bioclimática do espaço público. Brasília: Editora UnB, 2002.
SANTOS, M. A urbanização brasileira. 5 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2005. (Coleção Milton Santos ; 6).
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 4. ed.
Rio de Janeiro: Record, 2000.
SÃO PAULO (ESTADO). Secretaria de Economia e Planejamento. O programa nacional do álcool
e a política de desenvolvimento urbano e regional. São Paulo: Departamento de Estatística, 1976.
(Série Documento, 3).
SERRES, M. O contrato natural. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
SILVA NETO, M. L. da. Aspectos normativos do planejamento regional em São Paulo. São Paulo:
Fipe/USP, mar. 1998. Mimeo.
UNITED NATIONS. The inequality predicament: report on the world social situation 2005. New
York: United Nations, 2005.
WIENER, N. Cibernética e sociedade: o uso humano de seres humanos. São Paulo: Cultrix, 1973.
1
Segundo o Comitê das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, no estado de São Paulo, apenas 30% dos cursos de água da
região mantêm a classificação original. Em 1970 o governo paulista enquadrou os rios em classes de 1 a 4, quando, então, a maior
parte dos cursos d’água da Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos Piracicaba-Capivari-Jundiaí foi enquadrada na classe 2,
ou seja, água para abastecimento público com tratamento normal. Em 2008, o quadro reverteu-se. Muitos trechos se enquadram na
classe 4: imprópria para o abastecimento público e mesmo para a reprodução da vida aquática. Para se ter uma noção do vulto dos
recursos necessários, o Plano de Bacias 2008-2011 estimou que para reverter a degradação das águas da região serão necessários
R$ 3,08 bilhões em investimentos até 2020 (COMITÊ PCJ).
2
Fonte dos dados primários: IBGE, Contagem da População 2007 e Estimativas da População 2007.
3
Fonte dos dados primários: IBGE, SIDRA, Tabela 1288 – População nos Censos Demográficos por situação do domicílio – 2000.
4
Fonte dos dados primários: IBGE, SIDRA, Tabela 908 - Área total dos biomas – 2008.
5
Fonte dos dados primários: IBGE, SIDRA, Tabela 1288 - População nos Censos Demográficos por situação do domicílio – 2000
6
Fonte: IBGE, SIDRA, Tabela 1121 - População residente total e em área costeira e Proporção da população residente em área
costeira - 2007.
7
“O maior problema ambiental é a desertificação, agravada pelo uso intensivo da irrigação com tecnologia imprópria, pela
contaminação de fontes de água disponíveis e pelo desmatamento para obter-se lenha e carvão” (Hogan, 2005, p.10).
8
Fonte dos dados primários: IBGE, Contagem da População 2007 e Estimativas da População 2007.
9
Fonte dos dados primários: IBGE, Mapa do Brasil de densidade demográfica – 2000. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/mapas/brasil_demografia.htm>. Acesso em Acesso em: 6 jun. 2009.
10
Fonte dos dados primários: IBGE, Censo Demográfico – 2000.
11
As fontes de informação primária das estatísticas apresentadas a seguir correspondem, respectivamente aos anos, às mencionadas
anteriormente.
12
A Companhia City é o nome pelo qual é conhecida a empresa fundada em 1912 com o nome de City of São Paulo Improvements
and Freehold Land Company Limited. Essa companhia participou ativamente no processo urbanístico dos bairros burgueses da cidade
de São Paulo.
13
“Taboão da Serra, cidade de 230.000 habitantes, situada na Região Metropolitana de São Paulo, responde pelo desconfortável título
de “a sexta cidade mais compacta” do Brasil. Na extensão de sua paisagem conurbada, apresenta uma fisionomia árida, com pouca
cobertura vegetal e solo largamente impermeabilizado a despeito de sua base biofísica amplamente irrigada. A paisagem urbana
espelha ainda a desigualdade social do Brasil. A cidade encontra-se em sua maior extensão territorial, acomodada na Bacia
Hidrográfica do Rio Pirajuçara, um dos mais importantes tributários do Rio Pinheiros, em São Paulo” (Gonzatto e Boucinhas, 2007, p.
305).
14
“De um lado, estaria Hobbes, fundador da ciência política e das ciências sociais e, de outro lado, encontraríamos Boyle, o grande
autor das ciências naturais e exatas. Essa separação entre ‘um poder científico representativo das coisas e um poder político,
representativo dos sujeitos’ é um dos pontos de partida do paradoxo moderno, ‘com a separação total entre natureza e cultura’ (B.
Latour, 1991, p. 46-47)” (Santos, 2000, p.81).
15
“Com a expressão vida activa, pretendo designar três atividades humanas fundamentais: labor, trabalho e ação. Trata-se de
atividades fundamentais porque a cada uma delas corresponde uma das condições básicas mediante as quais a vida foi dada ao
homem na Terra. (...) O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano (...). A condição humana do labor
é a própria vida. (...) O trabalho é a atividade corresponde ao artificialismo da existência humana (...). O trabalho produz um mundo
‘artificial’ de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural (...). A condição humana do trabalho é a mundanidade. (...). A
ação, única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição
humana da pluralidade, ao fato de que homens, e não o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. (...) A ação seria um luxo
desnecessário, uma caprichosa interferência com as leis gerais do comportamento, se os homens não passassem de repetições
interminavelmente reproduzíveis do mesmo modelo, todas dotadas da mesma natureza e essência, tão previsíveis quanto a natureza e
a essência de qualquer coisa. A pluralidade é a condição da ação humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto é, humanos,
sem que ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir” (p.15-16). A vida ativa
corresponde à capacidade humana da “ação”, ou seja, a capacidade de interferir no delineamento da vida e, consequentemente, do
futuro. Aristóteles, segundo a autora, propunha ainda três modos de vida em que os homens podiam escolher livremente, ou seja, três
níveis de ação que “(...) têm em comum o fato de se ocuparem do ‘belo’, isto é, de coisas que não eram necessárias nem meramente
úteis: a vida voltada para os prazeres do corpo, na qual o belo é consumido tal como é dado; a vida dedicada aos assuntos da polis, na
qual a excelência produz belos feitos; e a vida do filósofo, dedicada à investigação e à contemplação das coisas eternas, cuja beleza
perene não pode ser causada pela interferência produtiva do homem nem alterada através do consumo humano” (ARENDT, 1991, p.
20-21).
16
“Tais novas condições tanto se dão no plano empírico quanto no plano teórico. Considerando o que atualmente se verifica no plano
empírico, podemos, em primeiro lugar, reconhecer um certo número de fatos novos indicativos da emergência de uma nova história. O
primeiro desses fenômenos é a enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes. A isso se acrescente,
graças aos progressos da informação, a ‘mistura’ de filosofias, em detrimento do racionalismo europeu. (...) Um outro dado de nossa
era, indicativo da possibilidade de mudanças, é a produção de uma população aglomerada em áreas cada vez menores, o que permite
ainda maior dinamismo àquela mistura entre pessoas e filosofias. As massas de que falava Ortega y Gasset na primeira metade do
século (La rebelión de las masas, 1937), ganham uma nova qualidade em virtude da sua aglomeração exponencial e de sua
diversificação. Trata-se da existência de uma verdadeira sociodiversidade, historicamente muito mais significativa que a própria
biodiversidade. Junte-se a esses fatos a emergência de uma cultura popular que se serve dos meios técnicos antes exclusivos da
cultura de massas, permitindo-lhe exercer sobre esta última uma verdadeira revanche ou vingança. É sobre tais alicerces que se
edifica o discurso da escassez, afinal descoberta pelas massas. A população aglomerada em poucos pontos da superfície da Terra
constitui uma das bases de reconstrução e de sobrevivência das relações locais, abrindo a possibilidade de utilização, ao serviço dos
homens, do sistema técnico atual. No plano teórico, o que verificamos é a possibilidade de produção de um novo discurso, de uma
nova metanarrativa, um novo grande relato. Esse novo discurso ganha relevância pelo fato de que, pela primeira vez na história do
homem, se pode constatar a existência de uma universalidade empírica. A universalidade deixa de ser apenas uma elaboração
abstrata na mente dos filósofos para resultar da experiência ordinária de cada homem. De tal modo, em um mundo datado como o
nosso, a explicação do acontecer pode ser feita a partir de categorias de uma história concreta. É isso, também, que permite conhecer
as possibilidades existentes e escrever uma nova história” (SANTOS, 2000, p. 20-21).
17
“Um relatório recentemente publicado sob o título ‘Beyond Sprawl: Nem Patterns of Growth to Fit the New Califórnia’ (...) tem
recebido o apoio de uma coalização de associações composta pela Agência de Conservação de Recursos da Califórnia; o Banco da
América, o maior banco californiano; a Greenbelt Alliance, uma organização de conservação e planejamento que representa os
moradores da Bay Area, e o Fundo de Habitação de Baixa Renda, uma organização sem fins lucrativos dedicada a habitação para as
classes mais pobres. [O] relatório afirma o seguinte: (...) não há dúvida de que este padrão de crescimento ajudou a explosão do
crescimento econômico e populacional sem paralelo e que permitiu a milhões de californianos realizarem o sonho da casa própria.
Entretanto, ao aproximar-nos do século 21, fica claro que o modelo do ‘urban sprawl’ provocou enormes custos que a Califórnia não
pode e não tem mais condições de assumir. Ironicamente, a expansão desenfreada e baseada na baixa densidade – sprawl -, que um
dia foi a força motor do crescimento californiano, hoje transformou-se numa força inibidora do crescimento e que degrada a qualidade
de vida em nosso estado” (ACIOLY e DAVIDSON, 1998, p. 47).

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

O crescimento desordenado das cidades e o imperativo do desenvolvimento suste...
O crescimento desordenado das cidades e o imperativo do desenvolvimento suste...O crescimento desordenado das cidades e o imperativo do desenvolvimento suste...
O crescimento desordenado das cidades e o imperativo do desenvolvimento suste...Fernando Alcoforado
 
O imperativo de cidades sustentáveis
O imperativo de cidades sustentáveisO imperativo de cidades sustentáveis
O imperativo de cidades sustentáveisFernando Alcoforado
 
RENASCIMENTO DA URBANIDADE EM ÁREAS INDUSTRIAIS DEGRADADAS: UM NOVO USO PARA...
RENASCIMENTO DA URBANIDADE EM ÁREAS INDUSTRIAIS  DEGRADADAS: UM NOVO USO PARA...RENASCIMENTO DA URBANIDADE EM ÁREAS INDUSTRIAIS  DEGRADADAS: UM NOVO USO PARA...
RENASCIMENTO DA URBANIDADE EM ÁREAS INDUSTRIAIS DEGRADADAS: UM NOVO USO PARA...vilaflores
 
2012 Redin e Silveira - Política ambiental brasileira - limites e desafios
2012   Redin e Silveira - Política ambiental brasileira - limites e desafios2012   Redin e Silveira - Política ambiental brasileira - limites e desafios
2012 Redin e Silveira - Política ambiental brasileira - limites e desafiosEzequiel Redin
 
Tcc denilson dos reis
Tcc denilson dos reisTcc denilson dos reis
Tcc denilson dos reisdeni2011
 
Avaliação de Equidade Ambiental: um dever fundamental socioambiental - Rogéri...
Avaliação de Equidade Ambiental: um dever fundamental socioambiental - Rogéri...Avaliação de Equidade Ambiental: um dever fundamental socioambiental - Rogéri...
Avaliação de Equidade Ambiental: um dever fundamental socioambiental - Rogéri...rsramme
 

Mais procurados (8)

O crescimento desordenado das cidades e o imperativo do desenvolvimento suste...
O crescimento desordenado das cidades e o imperativo do desenvolvimento suste...O crescimento desordenado das cidades e o imperativo do desenvolvimento suste...
O crescimento desordenado das cidades e o imperativo do desenvolvimento suste...
 
O imperativo de cidades sustentáveis
O imperativo de cidades sustentáveisO imperativo de cidades sustentáveis
O imperativo de cidades sustentáveis
 
0004
00040004
0004
 
RENASCIMENTO DA URBANIDADE EM ÁREAS INDUSTRIAIS DEGRADADAS: UM NOVO USO PARA...
RENASCIMENTO DA URBANIDADE EM ÁREAS INDUSTRIAIS  DEGRADADAS: UM NOVO USO PARA...RENASCIMENTO DA URBANIDADE EM ÁREAS INDUSTRIAIS  DEGRADADAS: UM NOVO USO PARA...
RENASCIMENTO DA URBANIDADE EM ÁREAS INDUSTRIAIS DEGRADADAS: UM NOVO USO PARA...
 
2012 Redin e Silveira - Política ambiental brasileira - limites e desafios
2012   Redin e Silveira - Política ambiental brasileira - limites e desafios2012   Redin e Silveira - Política ambiental brasileira - limites e desafios
2012 Redin e Silveira - Política ambiental brasileira - limites e desafios
 
Tcc denilson dos reis
Tcc denilson dos reisTcc denilson dos reis
Tcc denilson dos reis
 
Avaliação de Equidade Ambiental: um dever fundamental socioambiental - Rogéri...
Avaliação de Equidade Ambiental: um dever fundamental socioambiental - Rogéri...Avaliação de Equidade Ambiental: um dever fundamental socioambiental - Rogéri...
Avaliação de Equidade Ambiental: um dever fundamental socioambiental - Rogéri...
 
Desafios da Sustentabilidade
Desafios da SustentabilidadeDesafios da Sustentabilidade
Desafios da Sustentabilidade
 

Destaque

www.videoaulagratisapoio.com.br - Urbanização
 www.videoaulagratisapoio.com.br - Urbanização www.videoaulagratisapoio.com.br - Urbanização
www.videoaulagratisapoio.com.br - UrbanizaçãoVideo Aulas Apoio
 
AUMENTA URBANIZAÇÃO NO BRASIL
AUMENTA URBANIZAÇÃO NO BRASILAUMENTA URBANIZAÇÃO NO BRASIL
AUMENTA URBANIZAÇÃO NO BRASILProf. Materaldo
 
Mapa sa cidade de Salvador e suas atribuições
Mapa sa cidade de Salvador e suas atribuiçõesMapa sa cidade de Salvador e suas atribuições
Mapa sa cidade de Salvador e suas atribuiçõesVanderson Santos Silva
 
A URBANIZAÇÃO NO BRASIL
A URBANIZAÇÃO NO BRASILA URBANIZAÇÃO NO BRASIL
A URBANIZAÇÃO NO BRASILKananda Reis
 
O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL
O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASILO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL
O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASILAnderson Silva
 
A urbanização brasileira
A urbanização brasileiraA urbanização brasileira
A urbanização brasileirabvaguinho
 
Geomorfologia Geral e do Brasil
Geomorfologia Geral e do BrasilGeomorfologia Geral e do Brasil
Geomorfologia Geral e do BrasilCica2010
 
Urbanização, rede urbana e metrópoles
Urbanização, rede urbana e metrópolesUrbanização, rede urbana e metrópoles
Urbanização, rede urbana e metrópolesProfessor
 
Urbanizacao
UrbanizacaoUrbanizacao
UrbanizacaoAlmir
 
Urbanização brasileira
Urbanização brasileiraUrbanização brasileira
Urbanização brasileiraAbner de Paula
 

Destaque (14)

www.videoaulagratisapoio.com.br - Urbanização
 www.videoaulagratisapoio.com.br - Urbanização www.videoaulagratisapoio.com.br - Urbanização
www.videoaulagratisapoio.com.br - Urbanização
 
AUMENTA URBANIZAÇÃO NO BRASIL
AUMENTA URBANIZAÇÃO NO BRASILAUMENTA URBANIZAÇÃO NO BRASIL
AUMENTA URBANIZAÇÃO NO BRASIL
 
Mapa sa cidade de Salvador e suas atribuições
Mapa sa cidade de Salvador e suas atribuiçõesMapa sa cidade de Salvador e suas atribuições
Mapa sa cidade de Salvador e suas atribuições
 
Neide lourdes
Neide lourdesNeide lourdes
Neide lourdes
 
A URBANIZAÇÃO NO BRASIL
A URBANIZAÇÃO NO BRASILA URBANIZAÇÃO NO BRASIL
A URBANIZAÇÃO NO BRASIL
 
O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL
O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASILO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL
O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL
 
A urbanização brasileira
A urbanização brasileiraA urbanização brasileira
A urbanização brasileira
 
Salvador da Bahia
Salvador da BahiaSalvador da Bahia
Salvador da Bahia
 
Urbanização do Brasil
Urbanização do BrasilUrbanização do Brasil
Urbanização do Brasil
 
Urbanização conceitos
Urbanização conceitosUrbanização conceitos
Urbanização conceitos
 
Geomorfologia Geral e do Brasil
Geomorfologia Geral e do BrasilGeomorfologia Geral e do Brasil
Geomorfologia Geral e do Brasil
 
Urbanização, rede urbana e metrópoles
Urbanização, rede urbana e metrópolesUrbanização, rede urbana e metrópoles
Urbanização, rede urbana e metrópoles
 
Urbanizacao
UrbanizacaoUrbanizacao
Urbanizacao
 
Urbanização brasileira
Urbanização brasileiraUrbanização brasileira
Urbanização brasileira
 

Semelhante a Urbanização compacta e dispersa como tendências de configuração territorial

DESENHO DE ASSENTAMENTOS URBANOS SUSTENTÁVEIS: PROPOSTA METODOLÓGICA
DESENHO DE ASSENTAMENTOS URBANOS SUSTENTÁVEIS: PROPOSTA METODOLÓGICADESENHO DE ASSENTAMENTOS URBANOS SUSTENTÁVEIS: PROPOSTA METODOLÓGICA
DESENHO DE ASSENTAMENTOS URBANOS SUSTENTÁVEIS: PROPOSTA METODOLÓGICATobias Vier Schwambach
 
Assentamentos urbanos
Assentamentos urbanosAssentamentos urbanos
Assentamentos urbanosabokaiuka
 
A NECESSIDADE DE REALIZAR INTERVENÇÕES URBANAS REGIONAIS PARA.pptx
A NECESSIDADE DE REALIZAR  INTERVENÇÕES URBANAS REGIONAIS PARA.pptxA NECESSIDADE DE REALIZAR  INTERVENÇÕES URBANAS REGIONAIS PARA.pptx
A NECESSIDADE DE REALIZAR INTERVENÇÕES URBANAS REGIONAIS PARA.pptxJssicaMarreiros
 
artigotopicosquadraaberta.pdf
artigotopicosquadraaberta.pdfartigotopicosquadraaberta.pdf
artigotopicosquadraaberta.pdfeuclides66
 
A gestao urbana_em_busca_de_uma_ambiente_sustentavel
A gestao urbana_em_busca_de_uma_ambiente_sustentavelA gestao urbana_em_busca_de_uma_ambiente_sustentavel
A gestao urbana_em_busca_de_uma_ambiente_sustentavelGuilherme Thies
 
150703-Texto do artigo-348008-1-10-20190506.pdf
150703-Texto do artigo-348008-1-10-20190506.pdf150703-Texto do artigo-348008-1-10-20190506.pdf
150703-Texto do artigo-348008-1-10-20190506.pdfGazpromrepresentativ
 
Artigo 'iniciando pelo meio' ecomuseu de maranguape - nádia almeida
Artigo 'iniciando pelo meio'   ecomuseu de maranguape - nádia almeidaArtigo 'iniciando pelo meio'   ecomuseu de maranguape - nádia almeida
Artigo 'iniciando pelo meio' ecomuseu de maranguape - nádia almeidaAdriana Costa
 
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores Críticos
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores CríticosCidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores Críticos
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores CríticosFundação Dom Cabral - FDC
 
Livro urbanizacao vulnerabilidade
Livro urbanizacao vulnerabilidadeLivro urbanizacao vulnerabilidade
Livro urbanizacao vulnerabilidadeCynara França
 
402-Texto do artigo-784-794-10-20200407.pdf
402-Texto do artigo-784-794-10-20200407.pdf402-Texto do artigo-784-794-10-20200407.pdf
402-Texto do artigo-784-794-10-20200407.pdfMisslenePereira1
 
METRÔ: AGENTE DE TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA FREGUESIA DA AMEIXOEIRA, EM LISBOA
METRÔ: AGENTE DE TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA FREGUESIA DA AMEIXOEIRA, EM LISBOAMETRÔ: AGENTE DE TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA FREGUESIA DA AMEIXOEIRA, EM LISBOA
METRÔ: AGENTE DE TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA FREGUESIA DA AMEIXOEIRA, EM LISBOADiamantino Augusto Sardinha Neto
 
Sustentabilidade urbana uma perspectiva ecológica e permacultural
Sustentabilidade urbana uma perspectiva ecológica e permaculturalSustentabilidade urbana uma perspectiva ecológica e permacultural
Sustentabilidade urbana uma perspectiva ecológica e permaculturalLeonardo Martins Santana
 
Livro digital construções_sustentáveis_demost
Livro digital construções_sustentáveis_demostLivro digital construções_sustentáveis_demost
Livro digital construções_sustentáveis_demostDeborah Munhoz
 
478 texto do artigo-1114-2-10-20160323
478 texto do artigo-1114-2-10-20160323478 texto do artigo-1114-2-10-20160323
478 texto do artigo-1114-2-10-20160323Diogo Monteiro
 
60CBC1798.pdf
60CBC1798.pdf60CBC1798.pdf
60CBC1798.pdfmilenabsc
 
2012 - Redin e silveira - política ambiental brasileira - limites e desafios
2012 - Redin e silveira - política ambiental brasileira - limites e desafios2012 - Redin e silveira - política ambiental brasileira - limites e desafios
2012 - Redin e silveira - política ambiental brasileira - limites e desafiosEzequiel Redin
 
Artigo hanauer remus reyes franzato
Artigo hanauer remus reyes franzatoArtigo hanauer remus reyes franzato
Artigo hanauer remus reyes franzatorodrigohanauer
 

Semelhante a Urbanização compacta e dispersa como tendências de configuração territorial (20)

DESENHO DE ASSENTAMENTOS URBANOS SUSTENTÁVEIS: PROPOSTA METODOLÓGICA
DESENHO DE ASSENTAMENTOS URBANOS SUSTENTÁVEIS: PROPOSTA METODOLÓGICADESENHO DE ASSENTAMENTOS URBANOS SUSTENTÁVEIS: PROPOSTA METODOLÓGICA
DESENHO DE ASSENTAMENTOS URBANOS SUSTENTÁVEIS: PROPOSTA METODOLÓGICA
 
Assentamentos urbanos
Assentamentos urbanosAssentamentos urbanos
Assentamentos urbanos
 
Taina de assumpcao
Taina de assumpcaoTaina de assumpcao
Taina de assumpcao
 
A NECESSIDADE DE REALIZAR INTERVENÇÕES URBANAS REGIONAIS PARA.pptx
A NECESSIDADE DE REALIZAR  INTERVENÇÕES URBANAS REGIONAIS PARA.pptxA NECESSIDADE DE REALIZAR  INTERVENÇÕES URBANAS REGIONAIS PARA.pptx
A NECESSIDADE DE REALIZAR INTERVENÇÕES URBANAS REGIONAIS PARA.pptx
 
artigotopicosquadraaberta.pdf
artigotopicosquadraaberta.pdfartigotopicosquadraaberta.pdf
artigotopicosquadraaberta.pdf
 
Marat mendes t 2011
Marat mendes t 2011Marat mendes t 2011
Marat mendes t 2011
 
A gestao urbana_em_busca_de_uma_ambiente_sustentavel
A gestao urbana_em_busca_de_uma_ambiente_sustentavelA gestao urbana_em_busca_de_uma_ambiente_sustentavel
A gestao urbana_em_busca_de_uma_ambiente_sustentavel
 
150703-Texto do artigo-348008-1-10-20190506.pdf
150703-Texto do artigo-348008-1-10-20190506.pdf150703-Texto do artigo-348008-1-10-20190506.pdf
150703-Texto do artigo-348008-1-10-20190506.pdf
 
Artigo 'iniciando pelo meio' ecomuseu de maranguape - nádia almeida
Artigo 'iniciando pelo meio'   ecomuseu de maranguape - nádia almeidaArtigo 'iniciando pelo meio'   ecomuseu de maranguape - nádia almeida
Artigo 'iniciando pelo meio' ecomuseu de maranguape - nádia almeida
 
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores Críticos
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores CríticosCidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores Críticos
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores Críticos
 
Livro urbanizacao vulnerabilidade
Livro urbanizacao vulnerabilidadeLivro urbanizacao vulnerabilidade
Livro urbanizacao vulnerabilidade
 
402-Texto do artigo-784-794-10-20200407.pdf
402-Texto do artigo-784-794-10-20200407.pdf402-Texto do artigo-784-794-10-20200407.pdf
402-Texto do artigo-784-794-10-20200407.pdf
 
METRÔ: AGENTE DE TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA FREGUESIA DA AMEIXOEIRA, EM LISBOA
METRÔ: AGENTE DE TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA FREGUESIA DA AMEIXOEIRA, EM LISBOAMETRÔ: AGENTE DE TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA FREGUESIA DA AMEIXOEIRA, EM LISBOA
METRÔ: AGENTE DE TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA FREGUESIA DA AMEIXOEIRA, EM LISBOA
 
Sustentabilidade urbana uma perspectiva ecológica e permacultural
Sustentabilidade urbana uma perspectiva ecológica e permaculturalSustentabilidade urbana uma perspectiva ecológica e permacultural
Sustentabilidade urbana uma perspectiva ecológica e permacultural
 
Livro digital construções_sustentáveis_demost
Livro digital construções_sustentáveis_demostLivro digital construções_sustentáveis_demost
Livro digital construções_sustentáveis_demost
 
478 texto do artigo-1114-2-10-20160323
478 texto do artigo-1114-2-10-20160323478 texto do artigo-1114-2-10-20160323
478 texto do artigo-1114-2-10-20160323
 
60CBC1798.pdf
60CBC1798.pdf60CBC1798.pdf
60CBC1798.pdf
 
Gestão de Residuos
Gestão de ResiduosGestão de Residuos
Gestão de Residuos
 
2012 - Redin e silveira - política ambiental brasileira - limites e desafios
2012 - Redin e silveira - política ambiental brasileira - limites e desafios2012 - Redin e silveira - política ambiental brasileira - limites e desafios
2012 - Redin e silveira - política ambiental brasileira - limites e desafios
 
Artigo hanauer remus reyes franzato
Artigo hanauer remus reyes franzatoArtigo hanauer remus reyes franzato
Artigo hanauer remus reyes franzato
 

Último

Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Vitor Mineiro
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxSamiraMiresVieiradeM
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxkarinedarozabatista
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptxMarlene Cunhada
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxssuserf54fa01
 
Transformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx GeometriaTransformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx Geometriajucelio7
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfAlissonMiranda22
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 

Último (20)

Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
 
Transformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx GeometriaTransformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx Geometria
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 

Urbanização compacta e dispersa como tendências de configuração territorial

  • 1. V Encontro Nacional da Anppas 4 a 7 de outubro de 2010 Florianópolis - SC – Brasil _______________________________________________________ Urbanização contemporânea no Brasil e meio ambiente: compactação e dispersão como tendências de configuração territorial das cidades e como expressão de novas possibilidades de arranjo e de interação sociedade-natureza Manoel Lemes da Silva Neto (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) Arquiteto e urbanista, professor do Programa de Pós-graduação em Urbanismo manoel.lemes@puc-campinas.edu.br Resumo Entende-se que o fenômeno de urbanização seja determinante no desenvolvimento de estratégias relacionadas à sustentabilidade dos espaços construídos. Consequentemente, (1) as interações homem-natureza estariam subordinadas a dependência dos homens em relação à sociedade e (2) a formulação de projetos de sustentabilidade, ao aperfeiçoamento das políticas públicas de caráter territorial, em detrimento às concepções fundamentadas no ambientalismo tal como se encontra atualmente mais largamente difundido. O texto envolve a análise crítica e propositiva da produção socioespacial das cidades no âmbito da problemática ambiental contemporânea e sob as circunstâncias da inserção territorial do estado de São Paulo e da área correspondente à Macro- metrópole paulista. Definida a partir de um raio de 120 km a partir da capital do estado de São Paulo, essa região apresenta grande variedade de configurações territoriais resultantes do arranjo de basicamente três variáveis-chave: concentração urbana, densidade urbana e qualificação ambiental. Pretende-se, assim, verificar a atualidade da concepção de que há uma relação inversamente proporcional entre qualidade ambiental e densidade populacional urbana, entendendo-a como instrumento urbanístico de planejamento e gestão. Palavras-chave Gestão urbana, conflitos socioambientais, sustentabilidade
  • 2. Introdução Compreendendo que a problemática ambiental é primordialmente decorrente do fenômeno da urbanização, e a partir da perspectiva interdisciplinar e do ponto de vista urbanístico, o presente texto propõe-se contribuir na produção do conhecimento relacionado às questões ambientais e na formulação do pensamento ambientalista. Mais especificamente, pretende-se discutir a associação entre as dinâmicas apresentadas pela urbanização contemporânea no Brasil e os modelos de cidades compactas e de cidades dispersas. As hipóteses de trabalho partem do pressuposto inicial de que, do ponto de vista da história das técnicas, o pensamento ambientalista pode ser considerado inaugural ou, ainda, proto-técnico. Isto é, encontra-se em um estágio relativamente rudimentar que o impede entrever possibilidades de equacionamento dos problemas em bases fortemente ancoradas no uso intensivo da tecnologia. No caso em estudo, uma das implicações desse estágio inicial relaciona-se a concepções urbanísticas conservadoras, a visões românticas que interpretam as aglomerações humanas como se fazia até meados do século XX. Nestas, a qualidade ambiental é especialmente alcançada por modelos que evocam as noções clássicas de cidades-jardim, onde predominam baixas densidades populacionais, habitacionais e construtivas. Por consequência, e como causa e efeito, a produção do mercado fundiário-imobiliário associa a imagem de “cidades verdes” ao ideal de convivência, sociabilidade, “qualidade de vida” e sustentabilidade. Esse aspecto, ao lado do espraiamento das periferias urbanas produzidas pelo mercado informal, contribui na explicação do fenômeno da “urbanização dispersa” (GOULART, 2006), ou “macrourbanização” e “urbanização do território” (SANTOS, 2005). No Brasil, a urbanização, produzindo espaços com alta densidade técnica, além de concentrar a população em áreas urbanas, o faz de modo acelerado tanto em áreas de urbanização consolidada, como regiões metropolitanas, quanto em áreas a pouco praticamente despovoadas, como é o caso dos resorts espalhados pelo litoral. No estado de São Paulo, a “urbanização dispersa” organiza vastas continuidades territoriais a serviço do mercado fundiário-imobiliário. Em tais conformações, a implantação e manutenção de infra-estruturas urbanas são altamente custosas e, na maior parte das vezes, arcadas pelos cofres públicos, isto é, socializadas, ou, então, a despeito dos danos ambientais, podem estender-se desprovidas de quaisquer infra- estruturas básicas. Há, ainda, os efeitos desencadeados no tecido social e na configuração cultural dos lugares, que se desagregam mais rapidamente ainda sem despertar maiores comoções. São vistas como externalidades inevitáveis. Contudo, o aperfeiçoamento técnico subjacente à produção social das cidades, bem como a produção de análises sobre a crise ambiental em sentido largo – em que a relação homem- sociedade antecede e subordina a relação homem-natureza – são dinâmicas que acenam
  • 3. potencialidades reais de superação dos problemas envolvendo as sociedades contemporâneas e o meio ambiente. Essa é outra hipótese importante desse trabalho. Compreende-se que a concepção de espaços urbanos produzidos mediante o emprego de tecnologias desenvolvidas especificamente para reduzir ou eliminar impactos ambientais negativos, à primeira vista, denotam aumento do grau de artificialização do meio ambiente, mas, depois, incorporados à dinâmica social, podem corresponder a novo patamar na relação homem- sociedade-natureza. O conceito de cidades compactas está sendo formulado sob tais argumentos. A possibilidade de conduzir a planificação territorial a um patamar superior de ação política é igualmente vital. Nesse contexto possível, a centralidade na produção do espaço seria ocupada pelo controle dos agentes sociais e pelo Estado, agora, de fato, envolvido com o interesse comum. Sem dúvidas, a aliança do Estado com os atores hegemônicos dificulta em muito o desenvolvimento de projetos nacionais socialmente justos e ambientalmente simétricos em relação ao interesse de todos. As circunstâncias A afirmação de que a sustentabilidade do espaço urbano está condicionada pela alocação dos recursos disponíveis para a implantação de equipamentos, serviços e infra-estruturas é verdade incontroversa. Basta verificar como o grau alarmante de contaminação dos recursos hídricos está diretamente associado à ausência de verdadeiras políticas públicas de caráter territorial, de investimentos1 e, especialmente, de fiscalização para que os parcos recursos orçamentários disponibilizados sejam efetivamente executados. Visível nas cidades em praticamente todo curso d’água, é um dos muitos exemplos que dispensam maiores demonstrações. Evidentemente, há outros fatores que impedem alcançar níveis mais propícios de sustentabilidade urbana. Por exemplo, os relacionados às convergências políticas e econômicas do processo produtivo, à cultura da sociedade de massa, à malversação do dinheiro público e, mesmo, pela retração do sentido de cidadania na esfera pública. Contudo, no raio de ação da arquitetura e urbanismo, a interferência no processo de alocação de recursos pode ser decisiva na medida em que é possível demonstrar as correlações entre qualidade ambiental e densidade urbana: são inversamente proporcionais (ACIOLY e DAVIDSON, 1998). As condições mais favoráveis para o aproveitamento dos recursos públicos são aquelas que se concretizam em contextos espaciais densamente povoados. O desempenho da relação custo/benefício social é melhor quando o valor per capita do investimento público é menor. Por outro lado, a qualidade espacial do ambiente urbano tende a comprometer-se negativamente em setores urbanos adensados.
  • 4. Nessa direção é possível admitir que a qualidade ambiental esteja diretamente associada à sustentabilidade. Quanto maior a qualidade ambiental, melhor serão as chances de se produzirem ambientes sustentáveis. Esse princípio encerra um modo de se conceber projetos arquitetônico-urbanísticos não raro associados ao partido de organização de espaços pouco adensados. Os exemplos do que se pode denominar “arquitetura bioclimática” frequentemente apresentam-se em contextos urbanos densamente vegetados e com taxas de ocupação do solo relativamente baixas. O mesmo se dá em relação aos espaços públicos (ROMERO, 2002). No entanto, recentemente, estão surgindo novas concepções de qualidade ambiental urbana que preconizam o adensamento como forma de potencializar a sustentabilidade de espaços construídos. Cidades mais dispersas induzem o uso veicular, o aumento do consumo de combustíveis, o grau de poluição, os congestionamentos e o tempo gasto nos deslocamentos (NETTO, 2008). Daí o surgimento de tipologias arquitetônico-urbanísticas compactas, não rarefeitas, com surpreendente resultado plástico (MOZAS e Per, 2006; PER e MOZAS, 2007) e, simultaneamente, mais compatíveis com estratégias de sustentabilidade aplicadas em “sistemas fechados com relação ao fluxo de matéria, embora sejam abertos com relação ao fluxo de energia” (CAPRA, 2001, p. 219). A noção advém da natureza cíclica dos processos ecológicos.
  • 5. Um parêntese. Paradoxalmente, no campo da atuação do arquiteto e urbanista, o planejamento pode antepor-se à noção de organização. O termo planejamento provém, etimologicamente, de planeamento, de “tornar plano” (Lello Universal). No extremo, o planeamento elimina diferenças. De fato, o planejamento urbano dispõe de muitos instrumentos que reduzem a multiplicidade de aspectos pelos quais o fenômeno urbano manifesta-se. Por exemplo, as funções urbanas da Carta de Atenas reduzem a complexidade da organização espacial das cidades ao morar, ao trabalhar, ao circular e ao lazer (LE CORBUSIER, 1942?(1989)). E mais. As funções adquirem formas ao traduzirem-se em zonas de uso e ocupação. No outro caso, ao invés da eliminação, a organização pressupõe combinar diferenças e acentuar a diversidade. Por isso, além da dificuldade de encontrar soluções para o equacionamento da problemática ambiental encenada nas cidades, há, também, a necessidade de mudança da cultura dos construtores de espaços. Garantir que o exercício profissional do arquiteto e urbanista contribua na busca de respostas e, em especial, na sua aplicação efetiva são, também, enormes desafios para alcançar a sustentabilidade urbana. Elementos intervenientes no desenho de estratégias de sustentabilidade como densidade urbana, qualidade ambiental e alocação de recursos exigem disposição na busca de tecnologias envolvendo sistemas combinados, ou a combinação de sistemas. Variáveis que comprometem a sustentabilidade das cidades, como a capacidade de suporte dos sistemas urbanos e, em face das mudanças climáticas, a potencialização da resiliência dos espaços construídos, devem constar na agenda da cultura arquitetônico-urbanística como reflexão constante. Entretanto, para que haja uma espécie de compromisso intelectual do arquiteto e urbanista em prol da causa ambiental e da sustentabilidade, não se poderá incluir num mesmo acordo a noção de desenvolvimento sustentável atrelada ao triple bottom line. Uma coisa é o esforço de se perseguir metas de melhoria da qualidade ambiental das cidades, que é sinônimo de cidadania plena e de equanimidade social. Outra, ignorar o discurso economicista e globalitário dos agentes hegemônicos. A sustentabilidade oculta faces perversas (AFONSO, 2006). Como forma de contribuir no desenvolvimento de questões dessa natureza, este texto reúne alguns argumentos para discutir-se o tema da sustentabilidade circunstanciada na análise comparativa entre duas formas e estruturas urbanas que se contrapõem dos pontos de vista
  • 6. teórico e experimental: cidades compactas e cidades dispersas. Em curso, os fenômenos que as produzem evocam a “metropolização e macrourbanização” – apontada por Milton Santos como tendência da urbanização brasileira (2005) – ou, ainda, a formação de extensas áreas metropolitanas caracterizadas pela “urbanização dispersa” – estudada recentemente no estado de São Paulo por Nestor Goulart Reis (2006). Independentemente do aspecto que essas análises privilegiam para dar conta da complexidade da organização espacial contemporânea, e em um lugar de paisagens contrastantes como o estado de São Paulo, o fato é que as estratégias de sustentabilidade devem identificar desde maciços densamente urbanizados – e, consequentemente, detentores de “rugosidades” (SANTOS, 1986, p. 136) e grandes espaços fixos – até formas urbanas extremamente singelas, como o caso de Borá, menor município brasileiro, também situado em São Paulo, e que, pela contagem populacional de 2007 do IBGE, tinha 804 habitantes. Por um lado, o modelo espraiado como o é a Região Metropolitana de Campinas (RMC), de outro, um mais compactado, a exemplo da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Entre os extremos opostos, situações intermediárias que não podem ser desprezadas. Os modelos urbanísticos de baixas densidades, como o das cidades-jardim, emblemático do urbanismo já clássico do final do século XIX e início do XX, também surge revelado como um dos “devoradores de espaços”, para utilizar a expressão cunhada por Lewis Munford (1982, il. 48) ao descrever situações como o dos estádios, centros comerciais e gigantescos complexos viários, que juntamente a expansão de áreas residências de baixa densidade populacional, são responsáveis pelo fenômeno do sprawling urbano (RIBEIRO e SILVEIRA, 2009). Fonte: Ribeiro e Silveira, 2009. Evidentemente, não fora a possibilidade de examinar as zonas urbanas de baixa densidade populacional do ponto de vista das cidades compactas, a comparação não seria justificável. Os
  • 7. seguintes argumentos decorrem da equiparação do modelo espraiado de expansão urbana com o das cidades compactas (Id. ibid.). 1. No modelo espraiado, o ciclo linear de consumo de espaço (obter > utilizar > descartar) contrasta-se com o modelo circular das cidades compactas; isto é, com o princípio dos “3 R” (reduzir o consumo do espaço natural > restaurar ou requalificar > reutilizar). 2. As cidades compactas tendem a poupar os espaços naturais e os ecossistemas, “que seriam mantidos ativos, realizando seu trabalho ambiental, inclusive em favor da qualidade ambiental e da qualidade de vida urbana. Também se poupariam muitas terras produtivas em sua função rural, evitando-se migrações populacionais e os efeitos do uso apenas especulativo sobre a terra”. 3. As cidades compactas tendem a preservar mais intensamente os valores patrimoniais “que podem ser conservados e transmitidos às gerações posteriores sendo, portanto, também aspectos da sustentabilidade urbana”. 4. “A compactação permite reduzir as distâncias dos deslocamentos”, bem como “(...) viabilizar de forma concreta a utilização eficiente de sistemas coletivos de grande capacidade, muito mais eficientes no consumo energético e com menor emissão de poluentes”. 5. A continuidade e a compactação têm grande influência nos custos de urbanização e na redução do consumo energético. Não é de hoje que o tema das cidades compactas desperta a atenção como uma conformação relacionada à racionalização do uso energético. Em texto publicado em 1973, Ivan Illich denunciava que os automóveis contribuíam para diminuir a velocidade dos deslocamentos e que seria imprescindível transformar os hábitos de consumo ao invés de buscar alternativas de fontes energéticas. Para ele, o impacto dos deslocamentos dos veículos automotores contribuía para a destruição do ambiente físico e na agudização dos problemas econômicos, sociais, energéticos, interferindo, inclusive, no modo de vida, como o aumento da falta de tempo e o sedentarismo (2005, p. 43). Portanto, as questões relacionadas à sustentabilidade dos espaços construídos ainda tem muito por revelar. Há pouco, os gigantescos maciços urbanizados apresentavam-se como ameaças que rondavam o destino das aglomerações humanas. Mesmo do ponto de vista da dinâmica social, os habitantes das grandes cidades pareciam vaticinados ao isolamento e à solidão. Agora, ressurgem como localidades onde a sociodiversidade floresce com maior vigor e, como ela, uma cultura popular que, apropriando-se dos meios técnicos antes exclusivos para alguns, estabelece as pré-condições para o surgimento de outro período histórico (SANTOS, 2000, p. 20-21). Daí as razões de se verificar a atualidade da concepção de que há uma relação inversamente proporcional entre qualidade ambiental e densidade populacional urbana, entendendo-a como instrumento urbanístico de planejamento e gestão. É possível que o cenário apontado pelas
  • 8. cidades compactas venha a se constituir em fonte capaz de subsidiar estratégias de sustentabilidade. De toda maneira, o tema é político. A decisão por uma mudança de marco civilizatório é, eminentemente, política. A resistência norte-americana ao protocolo de Kyoto é prova cabal do interesse hegemônico de alguns contra o interesse comum da maioria. Héctor R. Leis, ao mencionar o novo contrato natural proposto por Michel Serres (1991), lembra que a superação dos limites que impedem a sustentabilidade, além de política, é, em suma, de natureza moral (2004, p. 145). Elementos do discurso analítico Em 2007, o Brasil tinha 5.564 municípios, dos quais 1.334 (24% do total) com menos de 5 mil habitantes. Esses municípios abrigavam 2,4% da população brasileira. Já os 36 municípios com mais de 500 mil habitantes, 29%.2 No estado de São Paulo estão o maior e o menor municípios do país: São Paulo, com 10,8 milhões, e Borá, com 804 habitantes. Esses desequilíbrios, entre o grande e o pequeno, o máximo e o mínimo, expressam-se igualmente no rendimento familiar. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. A renda per capita dos 10% mais ricos da população brasileira é 32 vezes maior que a dos 40% mais pobres (NAÇÕES UNIDAS, 2005, p. 49). Neste cenário, na região sudeste – que abriga as duas maiores regiões metropolitanas do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro – em 50 anos (1950-2000), o grau de urbanização cresceu 190% e a população urbana, 610%. No mesmo período, o grau de urbanização da região Centro- oeste cresceu 326%. Já a população urbana, 2.537%.3 Então, do ponto de vista instrumental, como é possível relacionar meio ambiente e espaço construído? Qual o peso da variável clima em face da variável demográfica e da econômica? O que desencadeará as consequências mais severas no prazo de sobrevivência das gerações do presente histórico? Uma, outra, ou o efeito combinado de todas? Não é o caso requentar polêmicas anteriores à proposição do triple bottom line, como a do debate ambientalista dos anos 60 em torno da poluição industrial e do crescimento populacional (LEIS, 2004, p. 54). Mas uma coisa é certa. Não há como refletir propositivamente a sustentabilidade ambiental e, particularmente, intervir no equilíbrio dinâmico da ecologia urbana, relegando ao
  • 9. brasileira. segundo plano um processo determinante e que perdura há cinco mil anos como o é a urbanização. Na análise de macro-tendências das regiões brasileiras, as regiões norte e centro-oeste caracterizam-se por apresentarem, grosso modo, biomas ainda preservados: a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado. Eles correspondem, respectivamente, a 43%, 23% e 2% do território brasileiro.4 Em 2000, as regiões norte e centro-oeste obtiveram cada qual graus de urbanização de 70% e 87%. As mais urbanizadas, o sudeste e o sul, 91% e 81%.5 Em 2007, o percentual da população brasileira residente em área costeira era de 24% da população total. Na região nordeste, a segunda mais povoada do país, com 28% da população total, a população residente em área costeira chegou a 38%.6 Conflituosamente, essa mesma região abriga a Caatinga, bioma de clima semi-árido que há tempos vem justificando enormes dificuldades de acesso a bens e serviços. Nela habitavam cerca de 16 milhões de pessoas (HOGAN, 2005, p. 4) em condições muito severas de sobrevivência,7 fatores que há mais de um século explicam porque, ainda hoje, a região nordeste ocasiona importantes fluxos migratórios (Id. ibid., p. 10). No presente histórico, em que pese abrigar a extensíssimas áreas praticamente despovoadas, o Brasil, em síntese, é um país intensamente urbanizado. A tendência mais provável é a de crescimento da população urbana nas metrópoles milionárias e nas cidades com população entre 100 mil a 200 mil habitantes, assim como o aumento expressivo do número de cidades com mais de 200 mil habitantes (SILVA NETO, 1998, p. 118). Em pouco mais de cinco séculos, a experiência da sociedade urbana no Brasil variou de zero a 100% de urbanização. Com densidade demográfica média de 22 habitantes por Km2 em 20078 , valor que representava oscilações que iam de 1 a 12.911 habitantes por Km2 em 20009 , a variação de zero a 100% é somente uma metáfora para explicar a dinâmica do processo de urbanização Mas tal afirmação não é de todo falsa. Havia, em 2000, 60 municípios cujo grau de urbanização correspondia a rigorosamente igual a 100%. Embora persistam muitas perguntas sem explicação a respeito do que territorialmente corresponderia ao perímetro urbano em cada uma das municipalidades brasileiras, o fato é que esses 60 municípios correspondiam a 18% da população residente urbana do país. Por aproximação decimal a 100% de urbanização, o número de municípios saltaria para 84, com 24% da população urbana e, se levada em conta desde a faixa acima de 99%, eram 123 municípios correspondendo a 31% dos residentes em cidades no Brasil. O município de São Paulo estava na casa dos 94% de grau de urbanização. Do intervalo que abrange São Paulo até aos municípios integralmente urbanizados, isto é na classe de 94 a 100% de urbanização, existiam 369 municípios, 7% do total de 5.564. Neles habitavam 59% da população com domicílio urbano no Brasil. Já os 466 municípios que conformam as 29 unidades
  • 10. metropolitanas brasileiras, abrigavam 41% da população total e 48% da população urbana.10 Portanto, de um modo ou de outro, é possível afirmar-se que o país, ou melhor, a sociedade brasileira é francamente urbanizada e seu retrato mais fiel é, sem dúvidas, o estado de São Paulo. Nele pode-se definir um plano empírico para contextualizar a argumentação central deste texto. Mais precisamente, propõe-se focar os 135 municípios abrangidos pelo raio de 120 km a partir da capital do estado. Eles conformam a Macro-metrópole paulista, delimitação territorial que, desde a década de 1970, chamava a atenção pelo alto grau de vulnerabilidade das condições de vida. Ainda nos anos 1970, as diretrizes gerais do Plano de Desenvolvimento Urbano e Regional atribuíam à região metropolitana de São Paulo e Baixada Santista as características de “área de recuperação da qualidade de vida”. Dizia-se, então, que “nesta área teve lugar o maior processo de urbanização e de desenvolvimento do Estado e do País, com manifestações patológicas” (SÃO PAULO (ESTADO), 1976, p. 23). No caso, a estratégia visava desconcentração urbana e industrial com especial atenção à conurbação iminente com as “áreas de controle”, tais como os eixos Rio-São Paulo e São Paulo-Campinas, cidades turísticas, abrangendo inclusive o litoral norte (Id. ibid. p. 23). Note-se que o fenômeno da “desconcentração da concentração” identificada por Carlos Roberto Azzoni em 1986, ainda encontra-se em atividade. Expresso em termos populacionais, a sinalização do fenômeno está relacionada à aceleração da densidade demográfica. Para efeito comparativo, a densidade demográfica em todas as dimensões espaciais do país apresenta
  • 11. tendência crescente. Em 1980, a densidade demográfica do Brasil era de 14 habitantes/km2 e, 27 anos depois, em 2007, passou a 22 habitantes/km2 .11 Crescente no país, a tendência é acentuada no estado de São Paulo e ainda mais na área correspondente à Macro-metrópole paulista. Em 2007, essa área apresentou a densidade demográfica de 683 habitantes/km2 . Densidade demográfica (habitante/km2) 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Brasil Estado de São Paulo Macrometrópole Brasil 14 17 20 22 Estado de São Paulo 100 126 149 160 Macrometrópole 417 528 629 683 1980 1991 2000 2007 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 Macrometrópole Campinas São Paulo Osasco Taboão da Serra Macrometrópole 417 528 629 683 Campinas 744 948 1091 1172 São Paulo 5617 6369 6909 7214 Osasco 6958 8317 9584 10309 Taboão da Serra 4845 7937 9862 10960 1980 1991 2000 2007 No interior da RMSP, a dinâmica repete-se, porém mais intensamente. No município de São Paulo, em 2007, a densidade demográfica foi de 7.214 habitantes/km2 , mas em Osasco e Taboão da Serra – e particularmente neste último – o ritmo de crescimento não foi apenas muito
  • 12. acentuado. Também foi gigantesco. Nesses dois municípios a densidade demográfica correspondeu, respectivamente, a 10.309 e 10.690 habitantes/km2 . Nos 20 km2 da extensão territorial do município de Taboão da Serra, a densidade demográfica total equivaleu a 110 habitantes/ha em 2007. Para se ter uma noção das dimensões desses valores, no bairro de Nova Campinas, em 2000, a densidade urbana média estava na ordem 31 habitantes/ha. Empreendimento da Companhia City12 , esse bairro foi desenhado segundo o modelo das cidades-jardim. Pois bem. Se esse bairro fosse ocupado com a densidade demográfica total de Taboão da Serra, poderia abrigar quase 15 mil habitantes, ao invés de 3.900 habitantes que correspondeu, aproximadamente, a população de Nova Campinas em 2000. Isto é, a qualidade ambiental existente no bairro, expresso pela vegetação, equipamentos e infra-estruturas urbanas instaladas poderia ser compartilhada por três vezes mais pessoas além das ali residentes. E o detalhe é que essas estimativas são inverossímeis, uma vez que se equiparou a densidade demográfica total de Taboão da Serra com a densidade urbana de Nova Campinas.13 Ainda assim, é possível aproximar-se da hipótese de que as altas densidades urbanas em um país como o Brasil são, por enquanto, absolutamente inviáveis. E a razão é uma só. O Estado não garante os custos da urbanização e nem tampouco os de manutenção dos serviços, equipamentos e infra- estruturas urbanas. O contexto de potencialização da sustentabilidade possível por meio das cidades compactas está longe de ser uma realidade para os brasileiros. Vejam-se as seguintes comparações. A densidade urbana em torno de 300 habitantes por hectare (habitantes/ha) era recomendada pelo urbanismo funcionalista como ideal para a compatibilização de fatores como custos de urbanização, ventilação, insolação, salubridade, etc. Foi a densidade
  • 13. urbana projetada por Lúcio Costa para as superquadras do Plano Piloto de Brasília. Em 2000, a densidade urbana média da RMC foi de 83 habitantes/ha. Em Campinas, a média foi de 105 habitantes/ha, embora haja setores urbanos muito adensados, atingindo mais de 1.200 habitantes/hectare. Os 100 setores urbanos mais adensados da cidade de Campinas apresentaram a média de 445 habitantes/hectare. Na cidade de São Paulo, também em 2000, a média dos 100 setores urbanos mais adensados foi de 8.039 habitantes/ha. Por fim, o contexto da macrometrópole paulista é um laboratório instigador para o estudo e proposição de estratégias de sustentabilidade. Nessa área pode ser encontrado um conjunto enormemente variado de particularidades. Desde as situações mais graves, como as comentadas acima, até exemplos característicos da urbanização dispersa e fragmentada. Campinas é um deles. No entanto esse seu quadro pode alterar-se ao sabor das forças especulativas do mercado imobiliário. O imenso estoque de terras garantidas pelo município pari passu à constituição dessa enorme região de metrópoles centrada na capital, São Paulo, e ao aumento e expansão da densidade técnica presente no território são alguns dos fatores que podem produzir efeitos perturbadores de certa qualidade ambiental ainda presente em Campinas. Mas esses prenúncios ainda podem ser evitados. Explorando tais dinâmicas e processos do ponto de vista sistêmico-tecnológico, e se, de fato, comprovar-se a hipótese de que o aumento da densidade técnica e, por consequência, a de viabilização das concentrações demográficas pode constituir fator favorável da relação homem- sociedade-natureza, a análise desses resultados pode ser qualitativamente reangulado. Paradoxalmente, e por hipótese, as áreas densamente povoadas seriam mais susceptíveis à sustentabilidade. Sobre novas possibilidades de arranjo das relações homem-natureza O tema das cidades compactas está diretamente relacionado a uma tipologia arquitetônica que não é novidade: edificações com altas densidades construtivas e habitacionais. Os exemplos mais emblemáticos remontam ao século II a. C.: as insulae, ou ilhas. Segundo Lewis Munford, competiam “(...) com as covas de detritos de Roma, como exemplos clássicos de imunda administração municipal. (...) Enquanto um punhado de patrícios, cerca de mil e oitocentas famílias, ocupava grandes mansões privadas, não raro com amplos jardins e casas suficientemente grandes para conter todo um agrupamento de servos livres e escravos, (...) a grande massa do proletariado, em agudo contraste, vivia em cerca de quarenta e seis mil prédios de apartamentos que devem ter contido, em média, perto de duas mil pessoas cada um” (1982, p. 242). Grandes cidades com altas densidades populacionais também não são fatos recentes. No séc. II d. C., Roma contava com um milhão de habitantes e as insulae chegavam a atingir sete pavimentos. A estratégia dos arquitetos era ganhar em altura o espaço que faltava no solo,
  • 14. propiciando aos proprietários desses edifícios lucro garantido decorrentes do aluguel de quartos ou apartamentos aos expropriados de Roma. Comerciantes e artesãos ocupavam os pisos térreos. Situação semelhante, mas em proporções historicamente inéditas, ocorreria no século XIX, com as cidades industriais. “Os escravos galés do Oriente, os miseráveis prisioneiros empregados nas minas de prata atenienses, o proletariado deprimido das insulae de Roma – tais classes conheceram, não há dúvida, desgraças semelhantes; nunca, porém, os rigores humanos tinham sito tão universalmente aceitos como coisa normal: normal e inevitável” (Id. ibid., p. 513). E é nessa dimensão social, no plano da cultura, que se impõe romper a cisão das ciências naturais com as sociais. Encarar situações críticas como fatalidades que não se pode evitar – e os problemas ambientais oriundos da urbanização contemporânea, tais como poluição, geração de resíduos, racionalização energética, etc. vem sendo apresentados como meros temas da “pegada ambiental”, desfalcando-lhes a dimensão política fundamental – é uma noção ideologicamente produzida pela cisão artificial do conhecimento. Uma vez herdada pelas sociedades contemporâneas, permite apenas a construção de uma visão de mundo extremamente limitada e utilitarista. Bruno Latour situa as origens dos problemas relacionados à compreensão do mundo contemporâneo por volta do século XVII, quando teriam sido criadas, “‘por purificação’, duas zonas ontológicas inteiramente distintas” que instauram os discursos da modernidade: a dos humanos e dos não-humanos (1997, p. 21)14 . Por isso, a versão banalizada do ambientalismo ao antepor o homem à natureza, ao invés de servir como elemento de dissuasão a favor da causa ambiental pode surtir efeito contrário. Centrado na dependência do homem em relação à natureza, e geralmente relegando ao segundo plano a primazia das relações sociais em face de qualquer outra classe de relações, o discurso enfeixado na causa ambiental pode dificultar compreender a problemática da crise contemporânea. A dependência crescente dos artefatos criados pelo próprio homem. Os limites da vida e da corporeidade humana compreendidos como condições inaceitáveis a serem eliminadas e, o que é mais grave, que realmente podem sê-lo. O mercado global que une e separa os agentes sociais, misto de fatalidade do mundo das finanças e da economia e de maravilha técnica que viabiliza a produção de objetos de consumo cobiçados e consumidos por milhões e milhões de pessoas. A unificação política das nações do planeta. Estes poucos exemplos permitem traçar as linhas gerais da configuração cultural da atualidade que pode estar engendrando o estranhamento do homem em relação à natureza sem lhe dar o benefício de compreender os processos socioespaciais que estão na base das questões ambientais.
  • 15. No Brasil, fenômenos que promovem a destruição do ambiente em proporções jamais vistas estão longe de serem difundidos pelos meios de comunicação e debatidos e trazidos a público pela classe política. O mais estranho é que, contraditoriamente, no período militar, a preocupação com a “qualidade de vida e do meio ambiente” estava explicitamente associada ao processo de urbanização e não à temática ambiental, que diga-se, já estava aflorada. A violência no trato com o ambiente ocorria nos anos do “milagre econômico”, ao mesmo tempo em que já nascia a reação indignada de cientistas como a de José A. Lutzenberger, em seu “Manifesto ecológico brasileiro”. Antes de tornar-se livro, esse documento pioneiro, corajoso para uma época como a de meados dos anos 70, no auge do regime militar, podia ser adquirido em bancas de jornal, como mero pasquim. Atualmente, não se fala em desconcentração espacial, não se relaciona a deterioração acelerada das condições de vida à urbanização que interessa ao mercado fundiário e imobiliário e aos agentes bancário-financeiros e nem tampouco ao tema da ideologia negligenciado, inclusive, nos estudos acadêmicos. O homem, vilão, a natureza, indefesa, são atores que se digladiam publicamente deixando, na penumbra protetora do medo gerado por essa luta desigual e sangrenta, os verdadeiros agentes e as dinâmicas socioespaciais que fragilizam o direito ao futuro para todos. Eles ficam praticamente indetectáveis. Desse modo, parece difícil advogar a favor de novas possibilidades de arranjo e de interação sociedade-natureza e, mesmo, sobre a compactação como tendência admissível de organização espacial das cidades. Ainda assim, e porque se entende que as poucas chances de equacionar de modo satisfatório a problemática ambiental se dão por intermédio da configuração territorial produzida historicamente pelas sociedades, propõe-se lançar ao debate as seguintes proposições. Quanto à potencialidade de encontro dos atores sociais No período histórico atual, a concentração da população em áreas urbanas surge como um quadro com poucas chances de se reverter. Há estimativas de que 80% da população urbana do Brasil viverão em 10% das cidades (Hotz, 2001). Mesmo assistindo-se a um processo de diminuição das taxas de crescimento da população nas grandes cidades, o espraiamento do fenômeno da urbanização concentrada ao redor das regiões metropolitanas é categórico, o que faz recrudescer os problemas ambientais. Por exemplo, o equacionamento da questão dos recursos hídricos ao redor da capital de São Paulo envolve, no mínimo, duas regiões metropolitanas – São Paulo e Campinas – e a gigantesca comunidade de mais de 22 milhões de pessoas. No entanto, essas condições podem apontar cenários benéficos? Sim, pode. E a explicação está relacionada à possibilidade de aumento das sinergias potencializadas com as aglomerações humanas. Se a urbanização industrial marca os primórdios da produção de um tipo cidade interpretada por autores consagrados da história urbana como retrocesso (MUNFORD, 1982),
  • 16. visto por outro ângulo o fenômeno propiciou outros desdobramentos que, para todos os efeitos, foi exitoso. Por exemplo. “Pela metade do século XVII havia muitos que viam claramente que [a] cooperação entre ciência e engenharia prática formava a base primordial dos melhoramentos técnicos. Nesse século e no século seguinte houve um aumento notável do número de patentes (figura 1)” (FORBES, (1958) 1976, p. 74). Também, a natureza gregária do ser humano, a necessidade do encontro é algo que não pode ser deixado de lado, apesar das implicações negativas que as aglomerações urbanas, especialmente as gigantes, possam trazer. A polis teria sido um “lugar de encontro” para a discussão dos assuntos políticos, de “indagação a respeito da existência”, em contraposição aos assuntos domésticos, tidos como menores. Os cidadãos da polis distinguiam-se na sociedade grega por desfrutarem da liberdade de “pensar”, de “agir” e de usufruir a “vida activa”15 (ARENDT, 1991, p.15-26). A “sociodiversidade” é outro fenômeno que não se pode ignorar como estratégia que a própria natureza social dos homens urde como estratégia com a virtude de reverter a tendência de destruição do habitat artificial das sociedades contemporâneas. Num mesmo lugar, e especialmente nas grandes cidades, há enorme heterogeneidade de tipos de pessoas que as habitam, o que pode produzir o que Milton Santos definiu como revanche do território. Isto é, a sociodiversidade é capaz de produzir outro período histórico formulado sob outras bases de existência social dos homens no ecúmeno16 . Quanto à viabilidade econômico-financeira da compactação urbana Ora, o adensamento populacional, traduzido sob formas compactas, dá mostras de sobra de que é um negócio viável. Caso contrário, a história, tanto a remota, quanto a recente não teriam registrado a densidade urbana como um fato diretamente relacionado à obtenção do lucro, à
  • 17. produção da mais-valia urbana. Então, porque, sob novas condições históricas, a compactação deixaria de surtir o mesmo efeito, com a diferença de que, agora, a geração da “lucratividade” pudesse reverter-se a favor das comunidades urbanas envolvidas? O processo produtivo é o mesmo, a organização do trabalho semelhante, enfim, as etapas desenvolvidas na construção dos espaços compactos não divergem do que, atualmente, estão colocadas em jogo pelo mercado da habitação popular. A diferença estaria no controle social e nas finalidades do processo produtivo. Tanto o controle social, quando as finalidades do processo produtivo estariam direcionados ao interesse comum, visto como interesse de todos, e às estratégias socialmente necessárias. Nelas, a de equacionamento da problemática ambiental contemporânea. Não há porque abandonar a perspectiva, e não se trata de colocar em marcha qualquer espécie de movimento revolucionário. Trata-se, sim, de outro movimento histórico, de novo arranjo das forças sociais capaz de restabelecer as relações homem-sociedade-natureza. Quanto à dimensão sistêmico-tecnológica da sustentabilidade do espaço construído Por fim, não há dúvida de que os espaços compactos são muito mais viáveis para que se alcance os efeitos benéficos da sustentabilidade do que os espaços dispersos. Basta refletir a respeito da veracidade dessa hipótese a partir de um mero exemplo como a da reciclagem dos resíduos sólidos. Porque são dispostos de modo a se concentrarem e a se dividirem? Assim como os recipientes coloridos que auxiliam a triagem de toneladas e toneladas de lixo, as residências, os edifícios, as quadras, os bairros, as cidades, as regiões, etc., poderiam dispor de organizações sistêmicas onde cada qual corresponderia a uma unidade em interação dinâmica com as demais, a exemplo da matriz insumo-produto. Quanto ao sprawl urbano, pelo menos desde meados dos anos 1990 o fenômeno é reconhecido como rigorosamente insustentável (ACIOLY e DAVIDSON, 1998, p. 7)17
  • 18. Conclusões, sob a forma de hipóteses 1) Não há como refletir, analítica ou propositivamente, a sustentabilidade ambiental e, em particular, intervir no equilíbrio dinâmico da ecologia urbana, relegando ao segundo plano um processo determinante e que perdura há cinco mil anos como o é a urbanização. 2) Recentíssimo, o conhecimento relacionado à produção social das cidades no contexto da crise ambiental contemporânea ainda se vê cativo de modelos tradicionais de formulação urbanística, impedindo a inovação tecnológica de processos e de projetos e o ensaio de possibilidades de novos arranjos de aglomerações humanas que, a princípio, surgem adjetos à artificialização da natureza. Referências bibliográficas ACIOLY JUNIOR, C.; DAVIDSON, F. Densidade urbana e gestão urbana. Rio de Janeiro: Mauad Editora, 1998. AFONSO, C. M. Sustentabilidade: caminho ou utopia? São Paulo: Annablume, 2006. ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense/Edusp, 1991. AZZONI, Carlos Roberto. Indústria e reversão da polarização no Brasil. São Paulo: Ipeusp, 1986. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 2001. COMITÊ PCJ. Plano de bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí para o quadriênio 2008-2011. Disponível em: <http://www.agenciadeaguapcj.org.br/download/PB-2008- 2011.pdf> Acesso em: 26 fev. 2010. FORBES, R. J. A energia até 1850. In: A invenção da máquina a vapor. São Paulo: Fau/USP, 1976. GONZATTO A.; BOUCINHAS, C. Superando antagonismos entre natureza e cidade: desenho participativo em Taboão da Serra. In: SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE O TRATAMENTO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE EM MEIO URBANO E RESTRIÇÕES AMBIENTAIS AO PARCELAMENTO DO SOLO, São Paulo. Resumos expandidos e programas. São Paulo: FAUUSP, 2007, p. 304-306. HOGAN, D. J. Migration dynamics in Brazil's major biomes. In: XXV INTERNATIONAL POPULATION CONFERENCE, Tours. 2005. Proceedings... Tours: International Union for the Scientific Study of Population, 2005. Disponível em: <http://iussp2005.princeton.edu/download.aspx?submissionId=51543>. Acesso em: 6 jun. 2009. HOTZ, Eduardo Fontes. A organização metropolitana pós-constituição de 1988. São Paulo em perspectiva, São Paulo, v. 14, n. 4, out./dez. 2001.
  • 19. ILLICH, I. Energia e equidades. In: Ludd, Ned (Org.). Apocalipse motorizado: a tirania do automóvel em um planeta poluído. 2. ed. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2005. (Coleção Baderna). LE CORBUSIER. A carta de Atenas [tradução de Rebeca Scherer]. São Paulo: Hucitec/Editora da Universidade de São Paulo, 1989. (Estudos Urbanos). LEIS, Ricardo Héctor. A modernidade insustentável: as críticas do ambientalismo à sociedade contemporânea. Montevideo: Coscoroba, 2004. MOZAS, J.; PER, A. F. Density: nueva vivienda coletiva. Vitoria-Gasteiz (Spain): Editora a+t ediciones, 2006. MUNFORD, L. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1982. NETTO, V. de M. Morfologias para uma sustentabilidade arquitetônico-urbana (texto 167). In: NUTAU 2008 – 7º SEMINÁRIO INTERNACIONAL: o espaço sustentável; inovações em edifícios e cidades. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2008. PER, A. F.; MOZAS, J. Density projects. Vitoria-Gasteiz (Spain): Editora a+t ediciones, 2007. REIS, N. G. Notas sobre a urbanização dispersa e novas formas de tecido urbano. São Paulo: Via das Artes, 2006. RIBEIRO, E. L.; SILVEIRA, J. A. R. da O fenômeno do sprawl urbano e a dinâmica de segregação socioespacial. In: www.revistaau.com.br. Disponível em: http://www.revistaau.com.br/arquitetura- urbanismo/185/imprime149628.asp. Acesso em: 6 ago. 2009. ROMERO, M. A. B. Arquitetura bioclimática do espaço público. Brasília: Editora UnB, 2002. SANTOS, M. A urbanização brasileira. 5 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005. (Coleção Milton Santos ; 6). SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. SÃO PAULO (ESTADO). Secretaria de Economia e Planejamento. O programa nacional do álcool e a política de desenvolvimento urbano e regional. São Paulo: Departamento de Estatística, 1976. (Série Documento, 3). SERRES, M. O contrato natural. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. SILVA NETO, M. L. da. Aspectos normativos do planejamento regional em São Paulo. São Paulo: Fipe/USP, mar. 1998. Mimeo. UNITED NATIONS. The inequality predicament: report on the world social situation 2005. New York: United Nations, 2005. WIENER, N. Cibernética e sociedade: o uso humano de seres humanos. São Paulo: Cultrix, 1973.
  • 20. 1 Segundo o Comitê das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, no estado de São Paulo, apenas 30% dos cursos de água da região mantêm a classificação original. Em 1970 o governo paulista enquadrou os rios em classes de 1 a 4, quando, então, a maior parte dos cursos d’água da Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos Piracicaba-Capivari-Jundiaí foi enquadrada na classe 2, ou seja, água para abastecimento público com tratamento normal. Em 2008, o quadro reverteu-se. Muitos trechos se enquadram na classe 4: imprópria para o abastecimento público e mesmo para a reprodução da vida aquática. Para se ter uma noção do vulto dos recursos necessários, o Plano de Bacias 2008-2011 estimou que para reverter a degradação das águas da região serão necessários R$ 3,08 bilhões em investimentos até 2020 (COMITÊ PCJ). 2 Fonte dos dados primários: IBGE, Contagem da População 2007 e Estimativas da População 2007. 3 Fonte dos dados primários: IBGE, SIDRA, Tabela 1288 – População nos Censos Demográficos por situação do domicílio – 2000. 4 Fonte dos dados primários: IBGE, SIDRA, Tabela 908 - Área total dos biomas – 2008. 5 Fonte dos dados primários: IBGE, SIDRA, Tabela 1288 - População nos Censos Demográficos por situação do domicílio – 2000 6 Fonte: IBGE, SIDRA, Tabela 1121 - População residente total e em área costeira e Proporção da população residente em área costeira - 2007. 7 “O maior problema ambiental é a desertificação, agravada pelo uso intensivo da irrigação com tecnologia imprópria, pela contaminação de fontes de água disponíveis e pelo desmatamento para obter-se lenha e carvão” (Hogan, 2005, p.10). 8 Fonte dos dados primários: IBGE, Contagem da População 2007 e Estimativas da População 2007. 9 Fonte dos dados primários: IBGE, Mapa do Brasil de densidade demográfica – 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/mapas/brasil_demografia.htm>. Acesso em Acesso em: 6 jun. 2009. 10 Fonte dos dados primários: IBGE, Censo Demográfico – 2000. 11 As fontes de informação primária das estatísticas apresentadas a seguir correspondem, respectivamente aos anos, às mencionadas anteriormente. 12 A Companhia City é o nome pelo qual é conhecida a empresa fundada em 1912 com o nome de City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited. Essa companhia participou ativamente no processo urbanístico dos bairros burgueses da cidade de São Paulo. 13 “Taboão da Serra, cidade de 230.000 habitantes, situada na Região Metropolitana de São Paulo, responde pelo desconfortável título de “a sexta cidade mais compacta” do Brasil. Na extensão de sua paisagem conurbada, apresenta uma fisionomia árida, com pouca cobertura vegetal e solo largamente impermeabilizado a despeito de sua base biofísica amplamente irrigada. A paisagem urbana espelha ainda a desigualdade social do Brasil. A cidade encontra-se em sua maior extensão territorial, acomodada na Bacia Hidrográfica do Rio Pirajuçara, um dos mais importantes tributários do Rio Pinheiros, em São Paulo” (Gonzatto e Boucinhas, 2007, p. 305). 14 “De um lado, estaria Hobbes, fundador da ciência política e das ciências sociais e, de outro lado, encontraríamos Boyle, o grande autor das ciências naturais e exatas. Essa separação entre ‘um poder científico representativo das coisas e um poder político, representativo dos sujeitos’ é um dos pontos de partida do paradoxo moderno, ‘com a separação total entre natureza e cultura’ (B. Latour, 1991, p. 46-47)” (Santos, 2000, p.81). 15 “Com a expressão vida activa, pretendo designar três atividades humanas fundamentais: labor, trabalho e ação. Trata-se de atividades fundamentais porque a cada uma delas corresponde uma das condições básicas mediante as quais a vida foi dada ao homem na Terra. (...) O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano (...). A condição humana do labor é a própria vida. (...) O trabalho é a atividade corresponde ao artificialismo da existência humana (...). O trabalho produz um mundo ‘artificial’ de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural (...). A condição humana do trabalho é a mundanidade. (...). A ação, única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao fato de que homens, e não o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. (...) A ação seria um luxo desnecessário, uma caprichosa interferência com as leis gerais do comportamento, se os homens não passassem de repetições interminavelmente reproduzíveis do mesmo modelo, todas dotadas da mesma natureza e essência, tão previsíveis quanto a natureza e a essência de qualquer coisa. A pluralidade é a condição da ação humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto é, humanos,
  • 21. sem que ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir” (p.15-16). A vida ativa corresponde à capacidade humana da “ação”, ou seja, a capacidade de interferir no delineamento da vida e, consequentemente, do futuro. Aristóteles, segundo a autora, propunha ainda três modos de vida em que os homens podiam escolher livremente, ou seja, três níveis de ação que “(...) têm em comum o fato de se ocuparem do ‘belo’, isto é, de coisas que não eram necessárias nem meramente úteis: a vida voltada para os prazeres do corpo, na qual o belo é consumido tal como é dado; a vida dedicada aos assuntos da polis, na qual a excelência produz belos feitos; e a vida do filósofo, dedicada à investigação e à contemplação das coisas eternas, cuja beleza perene não pode ser causada pela interferência produtiva do homem nem alterada através do consumo humano” (ARENDT, 1991, p. 20-21). 16 “Tais novas condições tanto se dão no plano empírico quanto no plano teórico. Considerando o que atualmente se verifica no plano empírico, podemos, em primeiro lugar, reconhecer um certo número de fatos novos indicativos da emergência de uma nova história. O primeiro desses fenômenos é a enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes. A isso se acrescente, graças aos progressos da informação, a ‘mistura’ de filosofias, em detrimento do racionalismo europeu. (...) Um outro dado de nossa era, indicativo da possibilidade de mudanças, é a produção de uma população aglomerada em áreas cada vez menores, o que permite ainda maior dinamismo àquela mistura entre pessoas e filosofias. As massas de que falava Ortega y Gasset na primeira metade do século (La rebelión de las masas, 1937), ganham uma nova qualidade em virtude da sua aglomeração exponencial e de sua diversificação. Trata-se da existência de uma verdadeira sociodiversidade, historicamente muito mais significativa que a própria biodiversidade. Junte-se a esses fatos a emergência de uma cultura popular que se serve dos meios técnicos antes exclusivos da cultura de massas, permitindo-lhe exercer sobre esta última uma verdadeira revanche ou vingança. É sobre tais alicerces que se edifica o discurso da escassez, afinal descoberta pelas massas. A população aglomerada em poucos pontos da superfície da Terra constitui uma das bases de reconstrução e de sobrevivência das relações locais, abrindo a possibilidade de utilização, ao serviço dos homens, do sistema técnico atual. No plano teórico, o que verificamos é a possibilidade de produção de um novo discurso, de uma nova metanarrativa, um novo grande relato. Esse novo discurso ganha relevância pelo fato de que, pela primeira vez na história do homem, se pode constatar a existência de uma universalidade empírica. A universalidade deixa de ser apenas uma elaboração abstrata na mente dos filósofos para resultar da experiência ordinária de cada homem. De tal modo, em um mundo datado como o nosso, a explicação do acontecer pode ser feita a partir de categorias de uma história concreta. É isso, também, que permite conhecer as possibilidades existentes e escrever uma nova história” (SANTOS, 2000, p. 20-21). 17 “Um relatório recentemente publicado sob o título ‘Beyond Sprawl: Nem Patterns of Growth to Fit the New Califórnia’ (...) tem recebido o apoio de uma coalização de associações composta pela Agência de Conservação de Recursos da Califórnia; o Banco da América, o maior banco californiano; a Greenbelt Alliance, uma organização de conservação e planejamento que representa os moradores da Bay Area, e o Fundo de Habitação de Baixa Renda, uma organização sem fins lucrativos dedicada a habitação para as classes mais pobres. [O] relatório afirma o seguinte: (...) não há dúvida de que este padrão de crescimento ajudou a explosão do crescimento econômico e populacional sem paralelo e que permitiu a milhões de californianos realizarem o sonho da casa própria. Entretanto, ao aproximar-nos do século 21, fica claro que o modelo do ‘urban sprawl’ provocou enormes custos que a Califórnia não pode e não tem mais condições de assumir. Ironicamente, a expansão desenfreada e baseada na baixa densidade – sprawl -, que um dia foi a força motor do crescimento californiano, hoje transformou-se numa força inibidora do crescimento e que degrada a qualidade de vida em nosso estado” (ACIOLY e DAVIDSON, 1998, p. 47).