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CENTRO PAULA SOUZA
ETEC PROF. CARMELINO CORRÊA JUNIOR
TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE
Alex Rodrigues de Oliveira
Leonardo Martins Santana
Rosangela Maria Pimenta
SUSTENTABILIDADE URBANA: Uma perspectiva ecológica e
permacultural
Franca
2016
Alex Rodrigues de Oliveira
Leonardo Martins Santana
Rosangela Maria Pimenta
SUSTENTABILIDADE URBANA: Uma perspectiva ecológica e
permacultural
Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado ao Curso Técnico em
Meio Ambiente, da Etec Prof.
Carmelino Corrêa Júnior, orientado
pela Prof. Vânia Mirele Ferreira
Carrijo como requisito parcial para a
obtenção do título de Técnico em
Meio Ambiente.
Franca
2016
AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente ao Criador, que desde então tem nos
dado esta oportunidade de seguirmos com nossos sonhos em
direção a um mundo melhor. Pela nossa família, que desde sempre
nos apoia e dá suporte mesmo nos momentos em que pensamos que
não conseguiríamos chegar até aqui, e a todos os professores
envolvidos do Centro Paula Souza que nos capacitaram para este
aprendizado.
Em especial, o autor Leonardo Martins Santana sente imensa e
profunda gratidão a todos seus ancestrais e mestres do caminho que
até então sempre estão juntos com ele, pela oportunidade de
vislumbrar e enxergar a luz da Permacultura em sua vida, a todos os
amigos, instrutores e parceiros do Curso em Design em
Sustentabilidade: Gaia Education, que em grande sintonia, crença e
propósito foram coautores no aprendizado e na possibilidade da
realização deste trabalho.
A Mãe Gaia, sempre amorosa e abundante em acolher seus filhos,
mesmo que estes ainda não A compreenda.
Eterna gratidão.
“Estou convencido, pela fé e pela
experiência, de que se manter sobre a
Terra não é uma aprovação, mas um
passatempo - se vivermos de maneira
simples e sábia. ”
Henry David Thoreau
RESUMO
O limiar deste momento no planeta trouxe uma grande onda de reflexão e ação.
Os efeitos das mudanças climáticas e o aumento da degradação ambiental
alertam para os riscos de um eminente aprofundamento da crise energética e o
possível colapso da civilização. A sustentabilidade é tema vigente sendo
trabalhado na atualidade, não somente à área ambiental, mas em todo um
contexto econômico e social, analisados pelos princípios ecológicos e também
vistos sobre a ótica da ecologia profunda. O desenvolvimento sustentável
baseia-se na aplicação dos princípios ecológicos ao espaço utilizado e como
estes são capazes de garantir a posteridade esta geração e as gerações futuras.
A Permacultura é uma filosofia que traz aspectos éticos e metodológicos que
capacitam a buscar o uso eficiente dos recursos naturais, garantindo a
manutenção e prolongamento dos sistemas inclusos em um design ecológico. A
mesma, sendo usada como ferramenta fundamental na criação das cidades
sustentáveis, capacita as pessoas a replicarem da melhor maneira possível os
ecossistemas, levando a paisagem natural e sua interação entre as pessoas,
espécies e os recursos naturais ao habitat das comunidades, assentos humanos
e edificações.
Palavras chave: Meio ambiente. Permacultura. Cidades. Ecossistemas.
Sustentabilidade. Desenvolvimento Sustentável.
ABSTRACT
The threshold of this time on the planet brought a great wave of reflection and
action. The effects of climate change and increasing environmental degradation
warn of the risk of an imminent deepening energy crisis and the possible collapse
of civilization. Sustainability is the current theme being worked today, not only to
the environmental area, but throughout an economic and social context, analyzed
by ecological principles and also seen on the perspective of deep ecology.
Sustainable development is based on the application of ecological principles to
use space and how they are able to secure posterity this generation and future
generations. Permaculture is a philosophy that brings ethical and methodological
aspects that enable to seek the efficient use of natural resources, ensuring the
maintenance and extension of the systems included in an ecological design. The
same, being used as a key tool in creating sustainable cities, empowers people
to replicate the best possible way ecosystems, leading to natural landscape and
its interaction between people, species and natural resources habitat
communities, human seats and buildings.
Keywords: Environment. Permaculture. Cities. Ecosystems. Sustainability.
Sustainable development.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................8
2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................11
2.1 Sustentabilidade e seus conceitos...........................................................11
2.2 Desenvolvimento Sustentável...................................................................13
2.3 Capra e os Princípios Ecológicos.............................................................14
2.4 Ecologia Profunda......................................................................................15
2.5 A Permacultura- Termo e Histórico...........................................................16
2.5.1 A Os princípios éticos e de design da Permacultura............................17
2.5.2 Fundamentos da Permacultura..............................................................18
2.6 Assentamentos Urbanos Sustentáveis....................................................19
2.7 Edificações Urbanas Sustentáveis...........................................................24
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................27
REFERENCIAS.................................................................................................29
8
1 INTRODUÇÃO
O limiar deste momento no planeta trouxe uma grande onda de reflexão e ação.
As decisões a serrem tomadas a partir destes cem primeiros anos serão cruciais para
que se garanta a esta e a gerações futuras condições para uma sobrevivência segura
e estável, estando em nossas mãos quebrarmos antigos paradigmas e adotarmos
uma nova postura de hábitos e valores para uma sociedade justa e sustentável. De
acordo com Enlazador (2009) as mudanças decorrentes já são visíveis e eminentes,
e não mais meramente estatísticas e matemáticas, necessitando de uma urgente ação
em conjunto e participativa, buscando soluções imediatas e de longo prazo.
Neste pensamento Legan (2008, apud MAGRINI,2009) coloca que, com a
crescente expansão urbanística, problemas como planejamento urbano, saneamento,
gerenciamento do lixo, infraestrutura coletiva e transportes geram uma crescente e
infinita pressão sobre os recursos naturais. A expansão demográfica, a pobreza, a
crise hídrica, a insegurança alimentar e a subnutrição andam juntas com a
urbanização.
Segundo Andrade e Romero (2004) a partir do início do século vinte, com os
efeitos da mudança climática promovidos pela dispersão de dióxido de carbono, o
esgotamento dos recursos naturais e o aumento da pobreza nas grandes metrópoles,
é necessária a busca por novas soluções para o processo de urbanização, baseado
na racionalização dos recursos naturais, para que estes promovam continuidade às
futuras gerações. Para Henderson (2012) todos nossos pensamentos sobre um
“mundo sustentável” estão sempre ligados a perspectivas limitadas e reducionistas,
partindo de um pressuposto que este modo de civilização está correto, precisando de
algumas mudanças como “plantar mais árvores” ou salvar da extinção o “mico leão
dourado”. Dias (2002 apud MAGRINI, 2008) diz que a população em crescimento
crescente, o analfabetismo ambiental, o consumo sem limites e o comportamento
egoísta formam um círculo ameaçador para um estado de declínio da qualidade da
vida humana pela degradação ambiental, acumulação e segregação de renda e
exclusão social, descartando o desenvolvimento sustentável até mesmo
teoricamente. Andrade e Romero (2004) afirmam que os impactos ambientais urbanos
estão inter-relacionados a fatores que desencadeiam uma sequência em cadeia - a
expansão urbana que provoca a dependência automotiva e que aumenta a
implantação de pavimentação e redes e a demanda por combustíveis fósseis. Segue-
9
se assim para o desmatamento que enfraquece o solo, trazendo a erosão, que, sem
um correto sistema de drenagem, ocorre o carreamento de terra e lixo para os corpos
d’água.
Gomes e Zambam (2011) ressaltam que a forma predatória da retirada dos
bens naturais, o descaso para com a geografia, a deturpação das relações
econômicas e a desconsideração das futuras gerações simbolizam a perda do sentido
da responsabilidade humana. O rebaixamento do conceito de pessoa tem inúmeras
consequências, entre outras: a fragilidade das relações de amizade, respeito e
admiração; o enfraquecimento dos vínculos familiares e sociais, a seleção de pessoas
segundo critérios políticos, econômicos ou culturais e a perda da sensibilidade para
com o outro – especialmente os pobres, doentes e as pessoas com deficiências e a
utilização da natureza e seus recursos como meios para alcançar os fins imediatos.
Seguindo este contexto, a Permacultura vem como um meio de transformação
da realidade vigente, conforme Holgrem (2007), não sendo a única, mas como uma
nova filosofia sustentável, um conceito baseado em uma ética capaz de contribuir para
um futuro melhor, criando ações locais que influenciam direta ou indiretamente em
ações no desenvolvimento sustentável.
De acordo com Neme (2014), a aplicação prática dos conhecimentos da
ecologia e sustentabilidade é prioritariamente necessária, primeiro, devido a sua
aplicação econômica, e segundo, para que se trabalhe junto aos ciclos naturais e seus
ciclos, e terceiro, pelas necessidades primordiais das seguranças hídrica, energética,
alimentar e de saúde.
É através do uso de novas soluções ecológicas e sustentáveis que este
trabalho foi desenvolvido.
O objetivo geral deste trabalho através de uma revisão de literatura, analisa as
atuais hipóteses dos princípios ecológicos, da sustentabilidade e do desenvolvimento
sustentável, aliando estes pontos de vista situando as cidades como um ecossistema
complexo e as analisando como tal. O capitulo posterior trata dos principais conceitos
tradados pela permacultura e seus autores. Entre os objetivos específicos consistem
em analisar o método do design ecológico a nível dos assentamentos urbanos, em
uma visão da totalidade urbana e a pavimentação dos assentamentos e a relação
comunitária tomando como fontes principais os trabalhos de Bruna Rosa de Barros
10
sobre loteamentos baseados na permacultura, e também edificações sustentáveis,
eficiências energéticas e os processos ecológicos utilizados em edificações.
11
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Sustentabilidade e seus conceitos.
Conforme cita Narvaes (2012), o conceito de sustentabilidade pode ser
aplicado a vários aspectos, agregando práticas e ações que objetivam a organização
dos recursos de um sistema ou um processo, a fim que não sejam levados a exaustão
e que possam ser utilizados pelas próximas gerações. De acordo com Andrade e
Romero (2004), conceito de sustentabilidade surgiu com Lester Brown da WWI
(Worldwatch Institute) no início dos anos 80. Concluiu-se que a sustentabilidade “é
capacidade de satisfazer suas necessidades sem comprometer as chances de
sobrevivências das gerações póstumas”, logo em 1986 o mesmo conceito foi utilizado
pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Relatório
Brundtland, com a mesma definição para desenvolvimento sustentável.
Segundo Acselrad (1997), a sustentabilidade segue duas tendências distintas:
Uma, desenvolvimentista - produzido por agências multilaterais, consultores técnicos
e ideólogos do desenvolvimento -, que acredita no investimento na correção de rumos,
“esverdeamento” dos projetos e na readequação de decisões públicas. No outro lado,
a social, colocando a crítica aos limites que os governos e instituições colocam ao
desenvolvimento sustentável, com uma crença destinada a substituir a ideia de
progresso, constituir um novo princípio organizador de um desenvolvimento centrado
no povo, e ser capaz de tornar-se a visão mobilizadora da sociedade civil e o princípio
guia da transformação da sociedade dominante.
O conceito descrito por Sachs (1993, apud BARBOSA 2008) divide a
sustentabilidade em cinco aspectos:
 Sustentabilidade ecológica – Baseia-se na parte física do processo de
crescimento e busca como meta a manutenção de estoques dos recursos
naturais, agregando-os as atividades produtivas.
 Sustentabilidade ambiental – Diz-se da manutenção da capacidade de
sustentação dos ecossistemas, resultando a capacidade de absorção e
recomposição dos ecossistemas em face das ações antrópicas.
 Sustentabilidade social – Busca o desenvolvimento e tem como meta a
melhoria da qualidade de vida da população. No caso de países com problemas
de desigualdade e de inclusão social, remete-se a ação de políticas
12
distributivas e a universalização de atendimento a questões como saúde,
educação, habitação e seguridade social.
 Sustentabilidade política – Refere-se à aplicação da construção da cidadania
para garantir a incorporação plena dos indivíduos ao processo de
desenvolvimento.
 Sustentabilidade econômica – Trata-se de fortalecer uma gestão eficiente dos
recursos em geral e demonstra-se pela regularidade de fluxos do investimento
público e privado.
Henry Ascelrad (2001 apud BARBOSA, 2008), define que as seguintes questões
discursivas têm sido associadas à noção de sustentabilidade:
 Da eficiência, antagônica ao desperdício da base material do
desenvolvimento, com reflexos da racionalidade econômica
sobre o “espaço não-mercantil planetário”;
 Da escala, determinante de limites quantitativos para o
crescimento econômico e suas respectivas pressões sobre os
recursos ambientais; - da equidade, articuladora analítica
entre princípios de justiça e ecologia;
 Da autossuficiência, desvinculada a economias nacionais e
sociedades tradicionais dos fluxos de mercado mundial, como
estratégia apropriada para a capacidade de auto regulação
comunitária das condições de reprodução da base material do
desenvolvimento;
 Da ética, evidenciada as interações da base material do
desenvolvimento com as condições de continuidade da vida
do planeta.
(ACSELRAD, 2001 apud
BARBOSA, 2008)
Silva (2001 apud BARROS, 2008), determina que a sustentabilidade vai além
da mera incorporação do termo ao meio ambiente, e vai além, passando de uma mera
fragilidade temática a uma abordagem global.
13
Quadro 2.1: Síntese das características básicas da sustentabilidade.
Fonte: Barros (2008)
2.2 Desenvolvimento Sustentável
De acordo com Barbosa (2008), o surgimento do “desenvolvimento sustentável”
se deu a partir de estudos da Organização das Nações Unidas sobre as mudanças
climáticas, para que respondesse ao mundo a crise social e ambiental surgida a partir
da segunda metade do século XX, sendo, em teoria, uma consequência do
desenvolvimento social, econômico e da preservação ambiental (Figura 2.1)
Figura 2.1: Desenho esquemático relacionando parâmetros para se alcançar o
desenvolvimento sustentável.
Fonte: Barbosa (2008)
14
Em seu livro, Narvaes (2011) cita que o desenvolvimento sustentável é a
proposta que sugere o uso controlado dos recursos naturais para o desenvolvimento
econômico, social, cultural e científico, para que seja preservado e não esgotado o
patrimônio natural e assim possa ser também utilizado pelas próximas gerações.
2.3 Capra e os Princípios Ecológicos
Segundo Capra (2002), para que cheguemos a uma humanidade que seja
realmente sustentável, é necessário que tomemos alguns passos. O primeiro é a
educação ecológica, compreendendo o processo de organização comum a todos os
sistemas vivos, desenvolvidos para sustentar as redes autogeradoras ou auto
organizadas, tendo a aprendizagem da e os princípios sistêmicos através da
educação ecológica. Os princípios ecológicos dizem respeito diretamente à
sustentação da vida tais como:
• Redes são todas as relações e interações entre os sistemas vivos,
distribuindo seus recursos e transpondo seus limites ente redes.
• Ciclo é o percurso contínuo de fluxos de matéria e energia do ambiente,
alimentando os organismos vivos e consequentemente produzindo resíduos
constantemente, uma espécie com seus resíduos alimentando outra.
• Energia solar sendo responsável pela fotossíntese das plantas através da
energia química produzida e movendo todos os ciclos ecológicos.
• Alianças, sendo a troca de energia e a cooperação entre recursos materiais
de um sistema, criando parcerias entre uma complexa rede entre os seres.
• Diversidade pela abundancia e os padrões complexos das teias ecológicas
nos ecossistemas que acabam causando resistência e capacidade de recuperação.
Quanto maior a biodiversidade, maior é esta capacidade.
• Equilíbrio dinâmico que mantem a flexibilidade de um ecossistema por meio
da flexibilidade dos múltiplos elos e anéis de realimentação, chegando todas as
variáveis flutuando em torno do seu valor ótimo, nunca sozinhas.
Seguindo Capra (2002), o segundo passo seria o projeto ecológico e a
aplicação direta destes conhecimentos na reconstrução de nossas tecnologias e
instituições sociais, para vencer a barreira que separa as criações humanas dos
sistemas ecologicamente sustentáveis da natureza.
15
2.4 Ecologia Profunda
De acordo com Macy e Brown (2004), o termo ecologia profunda surgiu na
década de 1970 através do filósofo norueguês Arne Naess, alpinista e estudioso de
Gandhi, que, diferente do movimento ambientalista reformista, que trata somente dos
sintomas da degradação ecológica,sanando apenas pequenos reparos ambientais
para o bem estar do ser humano, a ecologia profunda desafia o cenário atual baseado
na Sociedade de Crescimento Industrial, questiona e supera as premissas das
principais tradições e culturas que colocam o ser humano como a coroa da criação e
última medida de valor. Nos proporciona uma visão ampla e sustentável da
humanidade como interligada a um grande desenvolvimento do ecossistema,
desvinculando nossa arrogância enquanto espécie, que ameaça todas as demais
formas de vida.
Para Capra (2006 apud MAGALHÃES, 2011) A ecologia profunda flui
naturalmente para nos reconhecermos como parte da natureza, desenvolvermos a
noção de um “eu” ecológico, tornando psicologicamente internalizada repensando
todos nossos valores em relação a natureza. Wolff et al. (2009, apud MAGALHÃES,
2011) afirma que os princípios da ecologia profunda são essenciais para garantirmos
nossa sobrevivência em harmonia com outros seres, trazendo preocupações para
preservar a vida global de maneira sustentável.
Segundo Adam (2001 apud SANTORO; PENTEADO, 2009) O ambientalismo
contemporâneo diferencia dois tipos de ecologia: A ecologia rasa, que coloca os seres
humanos como parte separada da natureza, como nota máxima de todos os valores
e atribui apenas valor instrumental aos ecossistemas; e a ecologia profunda, que inclui
todos os seres humanos e a natureza em um único conjunto, numa teia de fenômenos
interconectados e interdependentes. Logo, podemos observar uma listagem baseada
nos estudos de Devall e Sessions (1985 apud BRAUN, 2001, apud SANTORO;
PENTEADO 2009), que contém os princípios fundamentais entre os tipos de ecologia
citados anteriormente.
16
Quadro 2.2: Pontos Principais entre a ecologia rasa e a ecologia profunda.
Fonte: Devall e Sessions (1985 apud BRAUN, 2001, apud SANTORO; PENTEADO
2009)
2.5 A Permacultura- Termo e Histórico
Conforme Mollinson e Slay (1998), a Permacultura é a capacidade das pessoas
interagirem harmoniosamente com a paisagem, gerando alimento, energia, abrigo e
outras necessidades, materiais ou não, de forma sustentável. Romero (2001, apud
BARROS, 2008) considera que a Permacultura oferece ferramentas para projetarmos
ecossistemas que criam padrões de multifuncionalidade e interconexão com a
natureza, se fundamentando no conhecimento científico e nas práticas tradicionais,
dando manutenção a estes ecossistemas criados, detendo as características
peculiares de um ecossistema natural. Conforme Henderson (2012) A Permacultura é
uma nova prática, apesar de contar com práticas ancestrais e tradicionais. Porém o
fato da mesma não rejeitar as novas tecnologias, e sim aproveitá-las de forma
sustentável e consciente a torna um novo gênero de vida.
De acordo com Neme (2014), nascida na década de 60, concebida pelo
professor de psicologia ambiental australiano Bill Mollison e seu aluno David Holgrem,
foi uma iniciativa a crise ambiental que seu país passava, assolada pela agricultura
predatória e os efeitos da “revolução verde” (agricultura baseada na utilização de
agrotóxicos e uso exagerado de máquinas), inspirada pela teoria Gaia de James
Lovelock, teoria dos Sistemas de Ludwig Von Bertalanffy e pelo resgate das tradições
e filosofias dos povos indígenas e comunidades tradicionais ao redor do mundo e as
inovações tecnológicas, unindo o conhecimento antigo aplicado a novos conceitos
modernos.
Para Henderson (2012), a questão energética é vista como chave no projeto
de Permacultura. Para que uma propriedade permacultural seja eficiente em termos
energéticos é preciso que os elementos estejam posicionados corretamente. A
energia deve fluir ciclicamente na Permacultura, quanto menos utilizarmos de
17
recursos provenientes de fora do sistema mais perto o espaço estará de uma
autossuficiência.
2.5.1 A Os princípios éticos e de design da Permacultura
A Permacultura em sua ética busca o foco na sustentabilidade, repensando todos
nossos valores e hábitos, tratando de forma holística todas as relações entre homem
e natureza. Mollison e Slay (1998 apud BARROS, 2008), consideram que os princípios
éticos da Permacultura são um conjunto de crenças e atitudes da humanidade frente
ao meio ambiente, aos quais compreendem o cuidado com a Terra e as pessoas, e o
compartilhamento de recursos e capacidades, sendo aplicáveis ao nível dos assentos
urbanos, mas se ampliam sendo adotados até a reorganização pessoal, econômica,
social e política.
 Cuidar da Terra- Para Soares (1998) a árvore tem um valor intrínseco para nós,
mas não somente pela madeira e pelos frutos, mas porque ela é viva e realiza
a continuidade no planeta Terra através de seu trabalho. Segundo Barros
(2008) cuidar da Terra refere-se ao cuidado de todos os seres, vivos ou não,
como solos, animais, atmosfera, florestas e água, sendo todas as ações
empreendidas em manter os ecossistemas substancialmente intactos e com
capacidade de funcionar saudavelmente.
 Cuidar das Pessoas- De acordo com Neme (2014) é o estimulo a cooperação
e a vida social e comum entre os indivíduos, e preenchendo as necessidades
básicas de alimento, abrigo, educação, trabalho e convivência, trocando a
competição, que destrói, pela colaboração, que constrói. A garantia da
sobrevivência se baseia no cuidado com as pessoas, promovendo que todos
tenham acesso aos recursos básicos a sua existência, e que gerem qualidade
de vida. Conforme cita Jacintho (2006 apud HENDERSON, 2012), este
princípio é intrínseco ao primeiro, já que os seres humanos são apenas mais
uma espécie que habita o planeta Terra, mas para que o cuidado com o planeta
esteja garantido, deve-se assegurar simultaneamente o bem-estar humano,
pois se o mesmo for atingido de forma plena e harmônica com o ambiente, não
mais será necessária a intervenção impactante que hoje exercemos para
vivermos no organismo Terra.
 Distribuir os excedentes - De acordo com Mollison e Slay (1998) quando
tenhamos suprido nossas necessidades básicas, podemos manejar e ampliar
nossos sistemas para que suas melhorias sejam capazes de expandir os outros
ao alcance destes objetivos. Quando um sistema é bem planejado, ele é capaz
18
de alcançar altos índices de produtividade, gerando um excedente de recursos.
Deste material extra, divide-se entre todos de forma justa e igualitária, sendo a
abundancia acessível a aqueles engajados dentro deste sistema.
Figura 2.2: A flor da Permacultura
Fonte: Barros (2008)
De acordo com Holgrem (2007 apud BARROS, 2008), os princípios de design
permaculturais são definidos e sintetizados dentro da flor da Permacultura. Nela são
contidos o entorno de sete campos (princípios gerais) necessários para a sustentação
da humanidade, com alguns sistemas de soluções associados com os campos de
interação mostrados em torno da periferia da flor. O caminho em espiral, iniciando
com éticas e princípios, sugere o entrelaçamento entre todos estes domínios,
conforme figura 2.2.
2.5.2 Fundamentos da Permacultura
Dentre a bibliografia consultada, a obra “ Permacultura Urbana”, de Fernando
Neme (2014), possui uma melhor e sintética análise dos fundamentos da
Permacultura, onde trabalhamos no entorno de 12 fundamentos que permitem que
norteemos nosso projeto de design, a seguir:
 Observar e aprender com a natureza, se localizando na região, em seu bioma,
bacia hidrográfica, com as conexões locais e regionais.
19
 Trabalhe com a natureza, imitando ao máximo o sistema natural ao entorno,
utilizando os fenômenos naturais a nosso favor, interferindo o mínimo na
biodiversidade.
 Procure soluções, transformando os bloqueios em possibilidades, com
quantidades ideias ilimitadas.
 Para cada elemento várias funções e para cada função importante duas ou
mais fontes de energia. Cada elemento do sistema deve possuir duas ou mais
funções, e cada função deve ser alimentada por duas ou mais fontes de
energia, dependendo menos das forças externas.
 Captação e uso dos recursos locais, desenvolvendo fluxo no sistema, suprindo
todas as necessidades locais com o excedente de produção, fazendo a troca e
armazenamento energético local.
 Poluição é o excesso de recurso não utilizado. Quando a demanda energética
é capaz de suprir toda a necessidade em um organismo, todo o excedente que
se mantem estagnado é considerado extrapolam sua capacidade de usá-los e
recriá-lo, ocasionando uma sobrecarga e intervenção de nutrientes.
 Valorize as bordas. Dois nichos ecológicos quando se encontram multiplicam
as possibilidades de riqueza e biodiversidade (zonas autóctones), encontrando
os “choques” que enriquecem o desenho.
 Matemática do Sistema. Cada gasto energético é compensado por um outro de
igual valor. Utilizando lenha para aquecer no inverno, devolvendo nutrientes ao
solo cultivado através da compostagem, dando manutenção aos ciclos.
 Produção equilibrada, de todos os aspectos do ecossistema, para que assim,
se evite a competição e a dominação, evitando a estagnação e a sobra sem
uso (estagnação).
 Não centralizar funções, criando sistemas autogeridos, onde qualquer pessoa
pode realizar todas as operações.
 Fazendo reavaliações periódicas, aceitando os feedbacks positivos e
negativos, com constante atualização e aprimorando e corrigindo as falhas
encontradas na aplicação do design. (NEME, 2014)
2.6 Assentamentos Urbanos Sustentáveis
Explorando a cidade como um organismo vivo, Register (2002 apud ANDRADE;
ROMERO, 2004) compara a anatomia da cidade com a anatomia humana. As ruas,
20
redes de água, esgoto, drenagem e gás seriam como o Sistema Circulatório, a
arquitetura com seus elementos verticais funcionaria como o Sistema Esquelético,
todos alimentos e os combustíveis funcionam como o Sistema Digestivo, que
transformam a energia armazenada, os sistemas de tratamento de água ou
compostagem funcionam com um Sistema de Filtragem e Reciclagem e os lixos
incineradores e saídas de esgotos atuam como o Sistema de Excreção. Para o
urbanismo, a similaridade deste desempenho das atividades tem que estar associada
à morfologia, no lugar ou sítio em que cada cidade está implantada.
Conforme Tabela 2.1, elaborada por Andrade; Romero (2004), se
considerarmos a cidade um ecossistema composto de subsistemas de redes
complexas, tais como bairros ou vilas urbanas, devemos compreender sua inter-
relação sistêmica como processos de desorganização e organização que estes
produzem, como a constituição de um organismo vivo.
Tabela 2.1- Analise dos princípios dos ecossistemas nos ecossistemas
urbanos.
Fonte: Andrade;Romero (2004)
21
Segundo Odum (1988 apud BARROS, 2008) o espaço urbano é um
ecossistema, onde encontramos uma infinidade de comunidade de organismos vivos,
onde prevalece o homem, um meio físico que vai se transformando (fruto da atividade
interna), bem como um funcionamento a base de trocas de matéria, energia e
informação. Spirn (1995 apud BARROS, 2008), afirma este conceito e visualiza o
espaço urbano como um sistema permite compreender os efeitos das atividades
antrópicas e suas inter-relações, facilita a avaliação dos custos e benefícios de ações
alternativas, abarca todos os organismos urbanos, e baseia-se de análise tanto de
uma área dentro da cidade, como uma megalópole.
Rueda (1999 apud BARROS, 2008), considera o espaço urbano como um
ecossistema incompleto ou heterotrófico (que não se auto sustenta), sendo
dependente de grandes áreas externas para obtenção de energia, alimentos, água e
outros materiais. Conseguinte, Rueda (2000 apud ANDRADE; ROMERO, 2004)
afirma que cidades são ecossistemas interdependentes de seu entorno e seus
respectivos sistemas, e, portanto, a transferência de informação, matéria e energia
que se produz entre a cidade e seu entorno é a base que mantém e torna mais
complexa a estrutura organizada da cidade. Tanto o entorno quanto os assentamentos
se modificam em consequência dessa relação.
Register (2002 apud ANDRADE; ROMERO, 2004) afirma que, para se
caminhar na direção da construção de Ecocidades, a metrópole tem que se
transformar em várias cidades ou vários bairros para pedestres com pequenos centros
comerciais de vizinhança ligados em ciclovias, com apoio para longas distâncias do
transporte público. As moradias têm que estar próximas aos espaços para trabalho,
alimentação, educação e lugares para sociabilização. Para este autor, é no uso da
terra e na infraestrutura urbana, na sua anatomia que se encontra a chave para
formular os elementos estruturadores de uma Ecocidade, pois é na forma em que a
cidade é desenhada e organizada que está a fundamentação para todas as outras
coisas e para a compreensão dos impactos causados pela população, consumo e
tecnologia numa dada região.
Para Andrade e Romero (2004) os princípios da Ecopolis de Paul Downton de
1997 são uma evolução dos princípios da Permacultura para o desenho de cidades,
no qual Register (2002 apud ANDRADE; ROMERO) cita como os mais importantes
princípios: restaurar terras degradadas, adequar-se a bio-região, desenvolvimento
equilibrado, conter a expansão urbana (criar cidades compactas), otimizar o
desempenho energético, contribuir para a economia, proporcionar saúde e segurança,
instaurar um sentido de comunidade, promover a equidade social, respeitar a história,
enriquecer a paisagem cultural e curar a Biosfera.
Dauncey (2001 apud ANDRADE; ROMERO, 2004) coloca em questão a
existência de alguns princípios que orientam a implantação e recuperação de
comunidades com impactos de longo alcance na parcela de seu desenvolvimento
econômico e na sua saúde social e ambiental. Tais princípios são: proteção ecológica
(biodiversidade), adensamento urbano, revitalização urbana, implantação de centros
de bairro e desenvolvimento da economia local, implementação de transporte
sustentável e moradias economicamente viáveis, comunidades com sentido de
22
vizinhança, tratamento de esgoto alternativo, drenagem natural, gestão integrada da
água, energias alternativas e finalmente as políticas baseadas nos 3R’s (reduzir,
reusar e reciclar).
Remetendo-se ao estudo de Sposito (2003 apud BARROS, 2008), observamos
que existe o hábito de assimilarmos o ambiental nas cidades apenas ao natural, sendo
que o mesmo também contempla o social [visto que na cidade] o ambiente não se
restringe ao conjunto de dinâmicas e processos naturais, mas também das relações
dinâmicas e processos sociais. Enfim, o espaço urbano, mesmo sendo a maior
ilustração da capacidade de transformação da natureza, não deixa de estar submetido
as dinâmicas e processos naturais.
No entanto, conforme Barros (2008), não devemos isolar o contexto social e
dominante das comunidades em que a sustentabilidade é aplicada, mas sim, integrar,
através de boas práticas de gestão, as trocas trazidas pelos princípios que permitam
filtrar as vivências entre todas as partes do contexto do empreendimento.
Register (2002 apud BARROS, 2008), propõe que um modelo mais adequado
para transformar cidades através da Permacultura, é transforma-la em várias
comunidades para pedestres com pequenos centros comerciais de vizinhança ligados
por ciclovias, com várias áreas verdes e rios recuperados, além de as residências e
moradias terem de ser bem próximas aos espaços de trabalho, educação e lazer,
assim como entre as comunidades para favorecer o uso racional do transporte de
veículos automotores e a otimização do transporte público. Andrade e Romero
ilustram detalhadamente os princípios de sustentabilidade para a aplicação em
espaços urbanos sendo observados através da tabela 2.2:
Tabela 2.2: Princípios de Sustentabilidade utilizados na aplicação do
parcelamento urbano
Princípios de sustentabilidade Estratégias:
Concepção Urbana
Técnicas Urbanas
Mobilidade Sustentável 1. Propiciar aos
moradores locais de
trabalho e lazer
próximo as moradias
p/ reduzir
necessidades
de deslocamentos.
Ciclovias
Apenas vias locais de 6m para
automóveis separadas da
rede de ciclovias e de
caminhos para pedestres com
2,5 de largura. Vias
iluminadas e sinalizadas.
Revitalização Urbana e
Sentido de Vizinhança
1. Espaços Públicos
que
propiciem encontros,
reuniões e trabalhos
conjuntos.
2. Desenvolver um
sentido de
lugar
3. Clube local com
área de lazer
Tratamento Bioclimático do
espaço público:
Uso de pérgulas para
sombreamento, captação da
água da chuva por meio de
espelhos d’água com
climatizadores.
Predominância das tipologias
na orientação solar
nordeste–sudoeste no
23
4. Integrar o Centro
de
Atividades a outras
regiões
sentido da topografia – boa
incidência dos raios solares.
As casas que estão no sentido
noroeste-sudeste receberão
brises verticais e proteção
com vegetação.
Adensamento Urbano 1. Desenho urbano
para um
melhor
aproveitamento da
área de 22,5 hab/ha
para 51 hab/ha.
2. Conter a expansão
desordenada no
entorno.
3. Tipologias mais
densas localizadas na
cota mais alta.
Tipologias:
Casas geminadas – 22 x 233
m2 -lote de 264m2;
Geminadas Escalonadas –
casa páteo- térrea
268m2/outra sobreposta
220m2 c/acessos
independentes;
Geminadas de 2 pav.-
recuadas 2m 205m2 –lote de
225m2.
Proteção Ecológica 1. Corredor Ecológico
- Parque
2. Agricultura Urbana
com
Paisagismo Produtivo
3. Implantar a Estação
de Esgoto Alternativa
próxima ao corredor
ecológico para atrair
animais
silvestres.
4. Colocar a zona 3
próxima da favela
para aproveitar a mão
de obra.
Zoneamento Permacultural:
Zona 1 – hortas familiares:
páteos e coberturas;
Zona 2 – paisagismo
produtivo: arborização das
ruas,
estacionamentos, praças;
Zona 3 – abastecimento
condominial: área para
produção agrícola
intercalados com espaços de
lazer e pequenos canais de
escoamento;
Zona 4 – Parque Ecológico:
repovoamento da flora e
da fauna, viveiro, lazer.
Economia Local 1. Implantar o Centro
de Bairro
no ponto central na
interseção de
caminhos com
espaços que
propiciem encontros
e trocas
2. Destacar a
volumetria no
Centro Comercial c/ 2
volumes:
Bloco 1 – 3 pavimentos de uso
misto – galeria de
lojas e escritórios e, unidades
habitacionais no
último pavimento. Bloco2 –
destinado a atividades
comunitárias, cursos
profissionalizantes. Praça –
24
conjunto.
3. Socio-economia
Solidária –
Proximidade com a
favela
vista panorâmica da
paisagem, local de
encontro dos moradores e da
região, feiras e
exposições.
Tratamento de Esgoto 1. Evitar que a
capacidade da
ETEs cheguem ao
limite para não
ocorrer o fenômeno
de eutrofização em
lagos, várzeas.
2. Incorporar a
estação ao
desenho da paisagem
Tratamento de Esgoto
Alternativo - Tratamento
de Esgoto com Reator
Anaeróbio de Fluxo
Ascendente associado a leito
cultivado de fluxo
superficial (wetlands). A
Estação de Tratamento será
localizada nas proximidades
do corredor ecológico
incorporada ao desenho
paisagístico.
Gestão Integrada da Água 1. Reaproveitar as
águas servidas e as
águas pluviais nos
projetos de
arquitetura.
Instalar filtros de areia nos
jardins para fazer a
filtragem das águas. Projetos
hidráulicos prevendo a
tubulação necessária
Política dos 3R’s 1.Tratar o lixo nas
próprias Subbacias e
regiões do entorno
para evitar o
esgotamento do
Aterro Sanitário.
Projetar uma Usina de
Reciclagem e
Compostagemnas
proximidades para atender
toda a região subjascente e a
mão-de-obra da favela.
Energia Solar 1. Prever o uso de
energia e
aquecimento solar
através de
uma orientação
adequada
Implantação no sentido da
orientação solar
nordeste-sudoeste, melhor
eficiência dos raios
solares para aproveitamento
futuro de energia solar
Fonte: Andrade; Viana (2002 apud ANDRADE; ROMERO, 2004)
2.7. Edificações Urbanas Sustentáveis
Conforme Santoro e Penteado (2009), a casa é o ecossistema particular de
cada ser humano e para que haja o respeito entre seres humanos e maio ambiente, é
necessário que existam todos os fatores e condições favoráveis para que as
interações ambientais reproduzam ao máximo os fatores naturais nas habitações. Por
25
isso, além de levar em consideração todos os aspectos físicos importantes como:
ventilação relativa do ar, temperatura, iluminação, conforto e segurança, é preciso que
o condomínio tenha a responsabilidade por tudo aquilo que ele está liberando sobre o
meio ao qual ele estará determinantemente inserido. De acordo com Adam (2001,
apud SANTORO; PENTEADO,2009) com um bom planejamento e criatividade, é
possível obter o máximo de eficácia com mínimo de energia.
Figura 2.3: Casa Ecológica
Fonte:(em<http://www.entrepreneurstoolkit.org/index.php?title=Bioarquitetura_no_Br
asil>. Acesso em: 24 maio 2016)
Soares (2008 apud SANTORO; PENTEADO,2009) afirma que podemos
interagir com o meio ambiente de uma maneira mais saudável, vivendo bem, sem
destruição e sem poluir, assim como é possível substituir nas construções grande
parte do cimento, dos plásticos e dos materiais tóxicos por elementos inócuos
existentes no ambiente, além do uso de materiais em seu estado natural, disponíveis
na região.
26
De acordo com Firmino (2004), a casa ecológica é uma construção sustentável
quando se observa a utilização de materiais ecológicos e soluções tecnológicas
biologicamente compatíveis para promover de forma econômica o bom uso dos
recursos finitos, a redução da poluição e a melhoria do ambiente e conforto para todos
os moradores e usuários do empreendimento.
As figuras 2.3 e 2.4 ilustram as mais praticadas formas de tornarmos um condomínio
sustentável, utilizando técnicas permaculturais:
Figura 2.4: Lote suburbano, antes e depois do aproveitamento e aplicação
permacultural.
Fonte: (em < http://condominiumgarden.blogspot.com.br/2010/10/permacultura-
aproveitamento-de-espaco_12.html> . Acesso em: 24 maio 2016)
27
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos para a construção do conceito da sustentabilidade vêm ganhando
amplitude nas esferas científica, econômica e social, envolvendo os mais diversos
pensadores do cenário atual, que veem com a máxima importância o despertar para
uma nova ética em relação indivíduo-natureza, e sua responsabilidade ao gerir os
recursos, ao mesmo tempo que se sinta inserido ao contexto e ao espaço em si, como
autor inerente a todos os fenômenos da natureza.
A política de desenvolvimento sustentável vem trazendo novas janelas de
possibilidades para que possamos desempenhar de maneira segura a continuidade
humana enquanto espécie, revendo a visão antropocêntrica de mundo, e retirando do
homem sua prepotente condição isolada e dominante em meio as demais formas de
vida. A educação ambiental é um fator determinante para que, em meio as novas
quebras de paradigmas, reinventa-se a maneira de utilizar os recursos naturais e
devolvê-los como assim a natureza o faz, fechando de um ciclo ao qual também é
parte. Com a ecologia profunda o homem se torna capaz de retomar o quadro da
natureza como sendo a imagem inserida na paisagem, onde a descentralização e o
sentimento de totalidade criam o verdadeiro sentido de ecossistema, sendo tudo parte
de um processo cíclico e interativo.
A Permacultura é uma filosofia capaz de aliar este processo de consciência
ecológica ao máximo aproveitamento dos recursos naturais. Seus princípios éticos
valorizam a Terra em todo seu contexto das interações físico-biológicas, incluindo o
homem, a natureza, os seres e todos os fenômenos interligados em um processo
permanente de troca energética e de aproveitamento entre todas as cadeias
biológicas. Sua função de design ecológico se molda através da observação humana
ao ambiente interagido, buscando muito além da extração, uso e descarte dos
recursos, a potencialidade, reaproveitamento, a retomada do ciclo energético e as
múltiplas possibilidades locais para potencializar a demanda local, sempre em
contínuo feedback para que seja ajustada ao contexto do design, e também em
continua evolução abordando todos os aspectos circundantes ao processo de
elaboração do planejamento de design ecológico.
Inserida a Permacultura junto às cidades, o espaço urbano se remodela a toda
uma ressignificação dos métodos de habitação, consumo e uso do espaço. Aquilo que
era meramente de utilidade visual, estética, ganha uma função alimentar, ou climática,
ou despoluente. O resíduo que até então seguia em linha infinita e desconhecida de
nosso pensamento agora possui fator de realimentação e de retomada de um ciclo. A
comunidade não é vista como um mero aglomerado, mas como um núcleo de
interação entre pessoas, animais, árvores, a água, o solo e o ar. A possibilidade da
abundância e da distribuição dos excedentes empodera os indivíduos a sua soberania
alimentar, cultural, econômica e social, onde todos os elementos do sistema como
participantes ativos e inseridos na natureza contribuem com a riqueza da diversidade
e das possibilidades das comunidades.
O pensamento que será capaz de mudar o rumo da humanidade está contido
na maneira de como encarar a nossa concepção em relação as cidades, a maneira
28
de tratar os fluxos contínuos de transito, das aguas, das pessoas, dos resíduos e
também qual a maneira que lidamos com o fluxo da riqueza e como a encaramos.
Metaforicamente, as cidades são ecossistemas, grandes organismos vivos e
pulsantes no qual somos microrganismos interagindo qual forma que somos capazes
de fazer com que este seja salubre ou insalubre. A ecologia, como diz em sua origem
grega, é o estudo da casa. Mas não o estudo da casa visto por fora, mas como
morador e habitante.
O ponto de vista positivo e a capacidade humana em se adaptar a qualquer
ambiente fará com que, do presente até o futuro, recriemos o bioma, como algo que
em si já é, como a cidade-ecossistema e as comunidades parte de uma interação cada
vez mais rica e abundante.
Uma casa é sustentável considerando uma micro projeção da sua máxima
capacidade de resiliência e biodiversidade, e esta projeção ao ambiente urbano se
amplia a consciência do mínimo impacto e a maior capacidade de interação possível,
que se expande das cidades a floresta, dos países a continentes, e de toda vida
manifestada em si como parte de Gaia, em constante pulsar em nosso lugar ao cosmo
e nossa responsabilidade enquanto existência.
29
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Lisa Maria Sousa de; ROMERO, Marta Adriana Bustos. Desenho de
Assentamentos Urbanos Sustentáveis: Proposta Metodológica. In
CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL-
ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO.10.,
2004, São Paulo. ENTAC. São Paulo, 2004
BARBOSA, Gisele Silva Barbosa. Os desafios do desenvolvimento sustentável. v. 1,
n. 4 Revista Visões, p. 39- 60 - jan/jun 2008.
BARROS, Bruna Rosa de. Permacultura e Desenvolvimento Urbano: Diretrizes e
Ações Para a Sustentabilidade Socioambiental em Loteamentos de Interesse
Social. 2008. 190 f. Dissertação (Mestrado em Dinâmicas do Espaço Habitado)
Universidade Federal de Alagoas- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Alagoas,
2008.
BIOARQUITETURA no Brasil. In ENTREPENEUR´S TOOLKIT FOR SOCIAL AND
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<http://www.entrepreneurstoolkit.org/index.php?title=Bioarquitetura_no_Brasil>.
Acesso em: 24 maio 2016
CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas, ciência para uma vida sustentável. São
Paulo, Editora Pensamento- Cultrix Ltda, São Paulo, 2002. 296p.
ENLAZADOR, Tomaz, Manual de Práticas Sustentáveis, Recife, Edição
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FIRMINO, Ana, A Casa Ecológica: inovação e desenvolvimento sustentável. v. 10,
Revista GeoInova, p. 101-113, 2004.
GOMES, Daniela; ZAMBAM, Neuro José. O desafio da sustentabilidade urbana. v. 7,
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HENDERSON, Danielle Freitas. Permacultura: As técnicas, o espaço, a natureza
e o homem. 2012. 86 f. Monografia (Bacharelado em Ciências Sociais) Universidade
de Brasília-Instituto de Ciências Sociais, Brasília, 2012.
HOLGREM, David. Os Fundamentos da Permacultura, Austrália: Holgrem Design
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MACY, Joanna; BROWN, Molly Young. Nossa Vida Como Gaia: Práticas Para
Reconectar Nossas Vidas e Nosso Mundo, São Paulo, Gaia Editora, 2004. 254 p.
MAGALHÃES, Ronaldo Braga, Contribuição da Ecologia Profunda ao Ecodesign:
Associando Estratégias Didáticas e Tecnologias no Ensino Fundamental.2011.
30
190 f. Dissertação (Mestrado de em Pós-Graduação em Design) Universidade Federal
do Rio Grande do Sul-Escola de Engenharia e Faculdade de Arquitetura, Porto Alegre,
2011.
MAGRINI, Renato Veloso, Permacultura e Soluções Urbanas Sustentáveis.2009.
112 f. Monografia (Bacharelado em Geografia) Universidade Federal de Uberlândia-
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MOLLISON, Bill; SLAY, Reny Mia. Introdução a Permacultura. Brasília: Ministério da
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NARVAES, Patrícia. Dicionário Ilustrado de Meio Ambiente. São Paulo: Yendis,
2012. 368 p.
NEME, Fernando José Passareli. Permacultura Urbana, São Paulo: Edição
Independente, 2014. 72 p.
PERMACULTURA- Aproveitamento de espaço em lotes rurais/urbanos. In
CONDOMINIUM GARDEM PAISAGISMO E JARDINAGEM. 2010. Disponível em
<http://condominiumgarden.blogspot.com.br/2010/10/permacultura-aproveitamento-
de-espaco_12.html> . Acesso em: 24 maio 2016
SANTORO, Renata Branco; PENTEADO, Claudio Luís de Camargo. Bioconstrução:
Utilizando o conhecimento ecológico para a criação de construções saudáveis.
In ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL. 13.2009 ENAnpur,2009.
SOARES, André Luis Jaeger, Conceitos Básicos Sobre Permacultura, Brasília:
SDR-MA/PNUD, 1998.

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  • 1. CENTRO PAULA SOUZA ETEC PROF. CARMELINO CORRÊA JUNIOR TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE Alex Rodrigues de Oliveira Leonardo Martins Santana Rosangela Maria Pimenta SUSTENTABILIDADE URBANA: Uma perspectiva ecológica e permacultural Franca 2016
  • 2. Alex Rodrigues de Oliveira Leonardo Martins Santana Rosangela Maria Pimenta SUSTENTABILIDADE URBANA: Uma perspectiva ecológica e permacultural Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso Técnico em Meio Ambiente, da Etec Prof. Carmelino Corrêa Júnior, orientado pela Prof. Vânia Mirele Ferreira Carrijo como requisito parcial para a obtenção do título de Técnico em Meio Ambiente. Franca 2016
  • 3. AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente ao Criador, que desde então tem nos dado esta oportunidade de seguirmos com nossos sonhos em direção a um mundo melhor. Pela nossa família, que desde sempre nos apoia e dá suporte mesmo nos momentos em que pensamos que não conseguiríamos chegar até aqui, e a todos os professores envolvidos do Centro Paula Souza que nos capacitaram para este aprendizado. Em especial, o autor Leonardo Martins Santana sente imensa e profunda gratidão a todos seus ancestrais e mestres do caminho que até então sempre estão juntos com ele, pela oportunidade de vislumbrar e enxergar a luz da Permacultura em sua vida, a todos os amigos, instrutores e parceiros do Curso em Design em Sustentabilidade: Gaia Education, que em grande sintonia, crença e propósito foram coautores no aprendizado e na possibilidade da realização deste trabalho. A Mãe Gaia, sempre amorosa e abundante em acolher seus filhos, mesmo que estes ainda não A compreenda. Eterna gratidão.
  • 4. “Estou convencido, pela fé e pela experiência, de que se manter sobre a Terra não é uma aprovação, mas um passatempo - se vivermos de maneira simples e sábia. ” Henry David Thoreau
  • 5. RESUMO O limiar deste momento no planeta trouxe uma grande onda de reflexão e ação. Os efeitos das mudanças climáticas e o aumento da degradação ambiental alertam para os riscos de um eminente aprofundamento da crise energética e o possível colapso da civilização. A sustentabilidade é tema vigente sendo trabalhado na atualidade, não somente à área ambiental, mas em todo um contexto econômico e social, analisados pelos princípios ecológicos e também vistos sobre a ótica da ecologia profunda. O desenvolvimento sustentável baseia-se na aplicação dos princípios ecológicos ao espaço utilizado e como estes são capazes de garantir a posteridade esta geração e as gerações futuras. A Permacultura é uma filosofia que traz aspectos éticos e metodológicos que capacitam a buscar o uso eficiente dos recursos naturais, garantindo a manutenção e prolongamento dos sistemas inclusos em um design ecológico. A mesma, sendo usada como ferramenta fundamental na criação das cidades sustentáveis, capacita as pessoas a replicarem da melhor maneira possível os ecossistemas, levando a paisagem natural e sua interação entre as pessoas, espécies e os recursos naturais ao habitat das comunidades, assentos humanos e edificações. Palavras chave: Meio ambiente. Permacultura. Cidades. Ecossistemas. Sustentabilidade. Desenvolvimento Sustentável.
  • 6. ABSTRACT The threshold of this time on the planet brought a great wave of reflection and action. The effects of climate change and increasing environmental degradation warn of the risk of an imminent deepening energy crisis and the possible collapse of civilization. Sustainability is the current theme being worked today, not only to the environmental area, but throughout an economic and social context, analyzed by ecological principles and also seen on the perspective of deep ecology. Sustainable development is based on the application of ecological principles to use space and how they are able to secure posterity this generation and future generations. Permaculture is a philosophy that brings ethical and methodological aspects that enable to seek the efficient use of natural resources, ensuring the maintenance and extension of the systems included in an ecological design. The same, being used as a key tool in creating sustainable cities, empowers people to replicate the best possible way ecosystems, leading to natural landscape and its interaction between people, species and natural resources habitat communities, human seats and buildings. Keywords: Environment. Permaculture. Cities. Ecosystems. Sustainability. Sustainable development.
  • 7. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...............................................................................................8 2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................11 2.1 Sustentabilidade e seus conceitos...........................................................11 2.2 Desenvolvimento Sustentável...................................................................13 2.3 Capra e os Princípios Ecológicos.............................................................14 2.4 Ecologia Profunda......................................................................................15 2.5 A Permacultura- Termo e Histórico...........................................................16 2.5.1 A Os princípios éticos e de design da Permacultura............................17 2.5.2 Fundamentos da Permacultura..............................................................18 2.6 Assentamentos Urbanos Sustentáveis....................................................19 2.7 Edificações Urbanas Sustentáveis...........................................................24 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................27 REFERENCIAS.................................................................................................29
  • 8. 8 1 INTRODUÇÃO O limiar deste momento no planeta trouxe uma grande onda de reflexão e ação. As decisões a serrem tomadas a partir destes cem primeiros anos serão cruciais para que se garanta a esta e a gerações futuras condições para uma sobrevivência segura e estável, estando em nossas mãos quebrarmos antigos paradigmas e adotarmos uma nova postura de hábitos e valores para uma sociedade justa e sustentável. De acordo com Enlazador (2009) as mudanças decorrentes já são visíveis e eminentes, e não mais meramente estatísticas e matemáticas, necessitando de uma urgente ação em conjunto e participativa, buscando soluções imediatas e de longo prazo. Neste pensamento Legan (2008, apud MAGRINI,2009) coloca que, com a crescente expansão urbanística, problemas como planejamento urbano, saneamento, gerenciamento do lixo, infraestrutura coletiva e transportes geram uma crescente e infinita pressão sobre os recursos naturais. A expansão demográfica, a pobreza, a crise hídrica, a insegurança alimentar e a subnutrição andam juntas com a urbanização. Segundo Andrade e Romero (2004) a partir do início do século vinte, com os efeitos da mudança climática promovidos pela dispersão de dióxido de carbono, o esgotamento dos recursos naturais e o aumento da pobreza nas grandes metrópoles, é necessária a busca por novas soluções para o processo de urbanização, baseado na racionalização dos recursos naturais, para que estes promovam continuidade às futuras gerações. Para Henderson (2012) todos nossos pensamentos sobre um “mundo sustentável” estão sempre ligados a perspectivas limitadas e reducionistas, partindo de um pressuposto que este modo de civilização está correto, precisando de algumas mudanças como “plantar mais árvores” ou salvar da extinção o “mico leão dourado”. Dias (2002 apud MAGRINI, 2008) diz que a população em crescimento crescente, o analfabetismo ambiental, o consumo sem limites e o comportamento egoísta formam um círculo ameaçador para um estado de declínio da qualidade da vida humana pela degradação ambiental, acumulação e segregação de renda e exclusão social, descartando o desenvolvimento sustentável até mesmo teoricamente. Andrade e Romero (2004) afirmam que os impactos ambientais urbanos estão inter-relacionados a fatores que desencadeiam uma sequência em cadeia - a expansão urbana que provoca a dependência automotiva e que aumenta a implantação de pavimentação e redes e a demanda por combustíveis fósseis. Segue-
  • 9. 9 se assim para o desmatamento que enfraquece o solo, trazendo a erosão, que, sem um correto sistema de drenagem, ocorre o carreamento de terra e lixo para os corpos d’água. Gomes e Zambam (2011) ressaltam que a forma predatória da retirada dos bens naturais, o descaso para com a geografia, a deturpação das relações econômicas e a desconsideração das futuras gerações simbolizam a perda do sentido da responsabilidade humana. O rebaixamento do conceito de pessoa tem inúmeras consequências, entre outras: a fragilidade das relações de amizade, respeito e admiração; o enfraquecimento dos vínculos familiares e sociais, a seleção de pessoas segundo critérios políticos, econômicos ou culturais e a perda da sensibilidade para com o outro – especialmente os pobres, doentes e as pessoas com deficiências e a utilização da natureza e seus recursos como meios para alcançar os fins imediatos. Seguindo este contexto, a Permacultura vem como um meio de transformação da realidade vigente, conforme Holgrem (2007), não sendo a única, mas como uma nova filosofia sustentável, um conceito baseado em uma ética capaz de contribuir para um futuro melhor, criando ações locais que influenciam direta ou indiretamente em ações no desenvolvimento sustentável. De acordo com Neme (2014), a aplicação prática dos conhecimentos da ecologia e sustentabilidade é prioritariamente necessária, primeiro, devido a sua aplicação econômica, e segundo, para que se trabalhe junto aos ciclos naturais e seus ciclos, e terceiro, pelas necessidades primordiais das seguranças hídrica, energética, alimentar e de saúde. É através do uso de novas soluções ecológicas e sustentáveis que este trabalho foi desenvolvido. O objetivo geral deste trabalho através de uma revisão de literatura, analisa as atuais hipóteses dos princípios ecológicos, da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável, aliando estes pontos de vista situando as cidades como um ecossistema complexo e as analisando como tal. O capitulo posterior trata dos principais conceitos tradados pela permacultura e seus autores. Entre os objetivos específicos consistem em analisar o método do design ecológico a nível dos assentamentos urbanos, em uma visão da totalidade urbana e a pavimentação dos assentamentos e a relação comunitária tomando como fontes principais os trabalhos de Bruna Rosa de Barros
  • 10. 10 sobre loteamentos baseados na permacultura, e também edificações sustentáveis, eficiências energéticas e os processos ecológicos utilizados em edificações.
  • 11. 11 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Sustentabilidade e seus conceitos. Conforme cita Narvaes (2012), o conceito de sustentabilidade pode ser aplicado a vários aspectos, agregando práticas e ações que objetivam a organização dos recursos de um sistema ou um processo, a fim que não sejam levados a exaustão e que possam ser utilizados pelas próximas gerações. De acordo com Andrade e Romero (2004), conceito de sustentabilidade surgiu com Lester Brown da WWI (Worldwatch Institute) no início dos anos 80. Concluiu-se que a sustentabilidade “é capacidade de satisfazer suas necessidades sem comprometer as chances de sobrevivências das gerações póstumas”, logo em 1986 o mesmo conceito foi utilizado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Relatório Brundtland, com a mesma definição para desenvolvimento sustentável. Segundo Acselrad (1997), a sustentabilidade segue duas tendências distintas: Uma, desenvolvimentista - produzido por agências multilaterais, consultores técnicos e ideólogos do desenvolvimento -, que acredita no investimento na correção de rumos, “esverdeamento” dos projetos e na readequação de decisões públicas. No outro lado, a social, colocando a crítica aos limites que os governos e instituições colocam ao desenvolvimento sustentável, com uma crença destinada a substituir a ideia de progresso, constituir um novo princípio organizador de um desenvolvimento centrado no povo, e ser capaz de tornar-se a visão mobilizadora da sociedade civil e o princípio guia da transformação da sociedade dominante. O conceito descrito por Sachs (1993, apud BARBOSA 2008) divide a sustentabilidade em cinco aspectos:  Sustentabilidade ecológica – Baseia-se na parte física do processo de crescimento e busca como meta a manutenção de estoques dos recursos naturais, agregando-os as atividades produtivas.  Sustentabilidade ambiental – Diz-se da manutenção da capacidade de sustentação dos ecossistemas, resultando a capacidade de absorção e recomposição dos ecossistemas em face das ações antrópicas.  Sustentabilidade social – Busca o desenvolvimento e tem como meta a melhoria da qualidade de vida da população. No caso de países com problemas de desigualdade e de inclusão social, remete-se a ação de políticas
  • 12. 12 distributivas e a universalização de atendimento a questões como saúde, educação, habitação e seguridade social.  Sustentabilidade política – Refere-se à aplicação da construção da cidadania para garantir a incorporação plena dos indivíduos ao processo de desenvolvimento.  Sustentabilidade econômica – Trata-se de fortalecer uma gestão eficiente dos recursos em geral e demonstra-se pela regularidade de fluxos do investimento público e privado. Henry Ascelrad (2001 apud BARBOSA, 2008), define que as seguintes questões discursivas têm sido associadas à noção de sustentabilidade:  Da eficiência, antagônica ao desperdício da base material do desenvolvimento, com reflexos da racionalidade econômica sobre o “espaço não-mercantil planetário”;  Da escala, determinante de limites quantitativos para o crescimento econômico e suas respectivas pressões sobre os recursos ambientais; - da equidade, articuladora analítica entre princípios de justiça e ecologia;  Da autossuficiência, desvinculada a economias nacionais e sociedades tradicionais dos fluxos de mercado mundial, como estratégia apropriada para a capacidade de auto regulação comunitária das condições de reprodução da base material do desenvolvimento;  Da ética, evidenciada as interações da base material do desenvolvimento com as condições de continuidade da vida do planeta. (ACSELRAD, 2001 apud BARBOSA, 2008) Silva (2001 apud BARROS, 2008), determina que a sustentabilidade vai além da mera incorporação do termo ao meio ambiente, e vai além, passando de uma mera fragilidade temática a uma abordagem global.
  • 13. 13 Quadro 2.1: Síntese das características básicas da sustentabilidade. Fonte: Barros (2008) 2.2 Desenvolvimento Sustentável De acordo com Barbosa (2008), o surgimento do “desenvolvimento sustentável” se deu a partir de estudos da Organização das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, para que respondesse ao mundo a crise social e ambiental surgida a partir da segunda metade do século XX, sendo, em teoria, uma consequência do desenvolvimento social, econômico e da preservação ambiental (Figura 2.1) Figura 2.1: Desenho esquemático relacionando parâmetros para se alcançar o desenvolvimento sustentável. Fonte: Barbosa (2008)
  • 14. 14 Em seu livro, Narvaes (2011) cita que o desenvolvimento sustentável é a proposta que sugere o uso controlado dos recursos naturais para o desenvolvimento econômico, social, cultural e científico, para que seja preservado e não esgotado o patrimônio natural e assim possa ser também utilizado pelas próximas gerações. 2.3 Capra e os Princípios Ecológicos Segundo Capra (2002), para que cheguemos a uma humanidade que seja realmente sustentável, é necessário que tomemos alguns passos. O primeiro é a educação ecológica, compreendendo o processo de organização comum a todos os sistemas vivos, desenvolvidos para sustentar as redes autogeradoras ou auto organizadas, tendo a aprendizagem da e os princípios sistêmicos através da educação ecológica. Os princípios ecológicos dizem respeito diretamente à sustentação da vida tais como: • Redes são todas as relações e interações entre os sistemas vivos, distribuindo seus recursos e transpondo seus limites ente redes. • Ciclo é o percurso contínuo de fluxos de matéria e energia do ambiente, alimentando os organismos vivos e consequentemente produzindo resíduos constantemente, uma espécie com seus resíduos alimentando outra. • Energia solar sendo responsável pela fotossíntese das plantas através da energia química produzida e movendo todos os ciclos ecológicos. • Alianças, sendo a troca de energia e a cooperação entre recursos materiais de um sistema, criando parcerias entre uma complexa rede entre os seres. • Diversidade pela abundancia e os padrões complexos das teias ecológicas nos ecossistemas que acabam causando resistência e capacidade de recuperação. Quanto maior a biodiversidade, maior é esta capacidade. • Equilíbrio dinâmico que mantem a flexibilidade de um ecossistema por meio da flexibilidade dos múltiplos elos e anéis de realimentação, chegando todas as variáveis flutuando em torno do seu valor ótimo, nunca sozinhas. Seguindo Capra (2002), o segundo passo seria o projeto ecológico e a aplicação direta destes conhecimentos na reconstrução de nossas tecnologias e instituições sociais, para vencer a barreira que separa as criações humanas dos sistemas ecologicamente sustentáveis da natureza.
  • 15. 15 2.4 Ecologia Profunda De acordo com Macy e Brown (2004), o termo ecologia profunda surgiu na década de 1970 através do filósofo norueguês Arne Naess, alpinista e estudioso de Gandhi, que, diferente do movimento ambientalista reformista, que trata somente dos sintomas da degradação ecológica,sanando apenas pequenos reparos ambientais para o bem estar do ser humano, a ecologia profunda desafia o cenário atual baseado na Sociedade de Crescimento Industrial, questiona e supera as premissas das principais tradições e culturas que colocam o ser humano como a coroa da criação e última medida de valor. Nos proporciona uma visão ampla e sustentável da humanidade como interligada a um grande desenvolvimento do ecossistema, desvinculando nossa arrogância enquanto espécie, que ameaça todas as demais formas de vida. Para Capra (2006 apud MAGALHÃES, 2011) A ecologia profunda flui naturalmente para nos reconhecermos como parte da natureza, desenvolvermos a noção de um “eu” ecológico, tornando psicologicamente internalizada repensando todos nossos valores em relação a natureza. Wolff et al. (2009, apud MAGALHÃES, 2011) afirma que os princípios da ecologia profunda são essenciais para garantirmos nossa sobrevivência em harmonia com outros seres, trazendo preocupações para preservar a vida global de maneira sustentável. Segundo Adam (2001 apud SANTORO; PENTEADO, 2009) O ambientalismo contemporâneo diferencia dois tipos de ecologia: A ecologia rasa, que coloca os seres humanos como parte separada da natureza, como nota máxima de todos os valores e atribui apenas valor instrumental aos ecossistemas; e a ecologia profunda, que inclui todos os seres humanos e a natureza em um único conjunto, numa teia de fenômenos interconectados e interdependentes. Logo, podemos observar uma listagem baseada nos estudos de Devall e Sessions (1985 apud BRAUN, 2001, apud SANTORO; PENTEADO 2009), que contém os princípios fundamentais entre os tipos de ecologia citados anteriormente.
  • 16. 16 Quadro 2.2: Pontos Principais entre a ecologia rasa e a ecologia profunda. Fonte: Devall e Sessions (1985 apud BRAUN, 2001, apud SANTORO; PENTEADO 2009) 2.5 A Permacultura- Termo e Histórico Conforme Mollinson e Slay (1998), a Permacultura é a capacidade das pessoas interagirem harmoniosamente com a paisagem, gerando alimento, energia, abrigo e outras necessidades, materiais ou não, de forma sustentável. Romero (2001, apud BARROS, 2008) considera que a Permacultura oferece ferramentas para projetarmos ecossistemas que criam padrões de multifuncionalidade e interconexão com a natureza, se fundamentando no conhecimento científico e nas práticas tradicionais, dando manutenção a estes ecossistemas criados, detendo as características peculiares de um ecossistema natural. Conforme Henderson (2012) A Permacultura é uma nova prática, apesar de contar com práticas ancestrais e tradicionais. Porém o fato da mesma não rejeitar as novas tecnologias, e sim aproveitá-las de forma sustentável e consciente a torna um novo gênero de vida. De acordo com Neme (2014), nascida na década de 60, concebida pelo professor de psicologia ambiental australiano Bill Mollison e seu aluno David Holgrem, foi uma iniciativa a crise ambiental que seu país passava, assolada pela agricultura predatória e os efeitos da “revolução verde” (agricultura baseada na utilização de agrotóxicos e uso exagerado de máquinas), inspirada pela teoria Gaia de James Lovelock, teoria dos Sistemas de Ludwig Von Bertalanffy e pelo resgate das tradições e filosofias dos povos indígenas e comunidades tradicionais ao redor do mundo e as inovações tecnológicas, unindo o conhecimento antigo aplicado a novos conceitos modernos. Para Henderson (2012), a questão energética é vista como chave no projeto de Permacultura. Para que uma propriedade permacultural seja eficiente em termos energéticos é preciso que os elementos estejam posicionados corretamente. A energia deve fluir ciclicamente na Permacultura, quanto menos utilizarmos de
  • 17. 17 recursos provenientes de fora do sistema mais perto o espaço estará de uma autossuficiência. 2.5.1 A Os princípios éticos e de design da Permacultura A Permacultura em sua ética busca o foco na sustentabilidade, repensando todos nossos valores e hábitos, tratando de forma holística todas as relações entre homem e natureza. Mollison e Slay (1998 apud BARROS, 2008), consideram que os princípios éticos da Permacultura são um conjunto de crenças e atitudes da humanidade frente ao meio ambiente, aos quais compreendem o cuidado com a Terra e as pessoas, e o compartilhamento de recursos e capacidades, sendo aplicáveis ao nível dos assentos urbanos, mas se ampliam sendo adotados até a reorganização pessoal, econômica, social e política.  Cuidar da Terra- Para Soares (1998) a árvore tem um valor intrínseco para nós, mas não somente pela madeira e pelos frutos, mas porque ela é viva e realiza a continuidade no planeta Terra através de seu trabalho. Segundo Barros (2008) cuidar da Terra refere-se ao cuidado de todos os seres, vivos ou não, como solos, animais, atmosfera, florestas e água, sendo todas as ações empreendidas em manter os ecossistemas substancialmente intactos e com capacidade de funcionar saudavelmente.  Cuidar das Pessoas- De acordo com Neme (2014) é o estimulo a cooperação e a vida social e comum entre os indivíduos, e preenchendo as necessidades básicas de alimento, abrigo, educação, trabalho e convivência, trocando a competição, que destrói, pela colaboração, que constrói. A garantia da sobrevivência se baseia no cuidado com as pessoas, promovendo que todos tenham acesso aos recursos básicos a sua existência, e que gerem qualidade de vida. Conforme cita Jacintho (2006 apud HENDERSON, 2012), este princípio é intrínseco ao primeiro, já que os seres humanos são apenas mais uma espécie que habita o planeta Terra, mas para que o cuidado com o planeta esteja garantido, deve-se assegurar simultaneamente o bem-estar humano, pois se o mesmo for atingido de forma plena e harmônica com o ambiente, não mais será necessária a intervenção impactante que hoje exercemos para vivermos no organismo Terra.  Distribuir os excedentes - De acordo com Mollison e Slay (1998) quando tenhamos suprido nossas necessidades básicas, podemos manejar e ampliar nossos sistemas para que suas melhorias sejam capazes de expandir os outros ao alcance destes objetivos. Quando um sistema é bem planejado, ele é capaz
  • 18. 18 de alcançar altos índices de produtividade, gerando um excedente de recursos. Deste material extra, divide-se entre todos de forma justa e igualitária, sendo a abundancia acessível a aqueles engajados dentro deste sistema. Figura 2.2: A flor da Permacultura Fonte: Barros (2008) De acordo com Holgrem (2007 apud BARROS, 2008), os princípios de design permaculturais são definidos e sintetizados dentro da flor da Permacultura. Nela são contidos o entorno de sete campos (princípios gerais) necessários para a sustentação da humanidade, com alguns sistemas de soluções associados com os campos de interação mostrados em torno da periferia da flor. O caminho em espiral, iniciando com éticas e princípios, sugere o entrelaçamento entre todos estes domínios, conforme figura 2.2. 2.5.2 Fundamentos da Permacultura Dentre a bibliografia consultada, a obra “ Permacultura Urbana”, de Fernando Neme (2014), possui uma melhor e sintética análise dos fundamentos da Permacultura, onde trabalhamos no entorno de 12 fundamentos que permitem que norteemos nosso projeto de design, a seguir:  Observar e aprender com a natureza, se localizando na região, em seu bioma, bacia hidrográfica, com as conexões locais e regionais.
  • 19. 19  Trabalhe com a natureza, imitando ao máximo o sistema natural ao entorno, utilizando os fenômenos naturais a nosso favor, interferindo o mínimo na biodiversidade.  Procure soluções, transformando os bloqueios em possibilidades, com quantidades ideias ilimitadas.  Para cada elemento várias funções e para cada função importante duas ou mais fontes de energia. Cada elemento do sistema deve possuir duas ou mais funções, e cada função deve ser alimentada por duas ou mais fontes de energia, dependendo menos das forças externas.  Captação e uso dos recursos locais, desenvolvendo fluxo no sistema, suprindo todas as necessidades locais com o excedente de produção, fazendo a troca e armazenamento energético local.  Poluição é o excesso de recurso não utilizado. Quando a demanda energética é capaz de suprir toda a necessidade em um organismo, todo o excedente que se mantem estagnado é considerado extrapolam sua capacidade de usá-los e recriá-lo, ocasionando uma sobrecarga e intervenção de nutrientes.  Valorize as bordas. Dois nichos ecológicos quando se encontram multiplicam as possibilidades de riqueza e biodiversidade (zonas autóctones), encontrando os “choques” que enriquecem o desenho.  Matemática do Sistema. Cada gasto energético é compensado por um outro de igual valor. Utilizando lenha para aquecer no inverno, devolvendo nutrientes ao solo cultivado através da compostagem, dando manutenção aos ciclos.  Produção equilibrada, de todos os aspectos do ecossistema, para que assim, se evite a competição e a dominação, evitando a estagnação e a sobra sem uso (estagnação).  Não centralizar funções, criando sistemas autogeridos, onde qualquer pessoa pode realizar todas as operações.  Fazendo reavaliações periódicas, aceitando os feedbacks positivos e negativos, com constante atualização e aprimorando e corrigindo as falhas encontradas na aplicação do design. (NEME, 2014) 2.6 Assentamentos Urbanos Sustentáveis Explorando a cidade como um organismo vivo, Register (2002 apud ANDRADE; ROMERO, 2004) compara a anatomia da cidade com a anatomia humana. As ruas,
  • 20. 20 redes de água, esgoto, drenagem e gás seriam como o Sistema Circulatório, a arquitetura com seus elementos verticais funcionaria como o Sistema Esquelético, todos alimentos e os combustíveis funcionam como o Sistema Digestivo, que transformam a energia armazenada, os sistemas de tratamento de água ou compostagem funcionam com um Sistema de Filtragem e Reciclagem e os lixos incineradores e saídas de esgotos atuam como o Sistema de Excreção. Para o urbanismo, a similaridade deste desempenho das atividades tem que estar associada à morfologia, no lugar ou sítio em que cada cidade está implantada. Conforme Tabela 2.1, elaborada por Andrade; Romero (2004), se considerarmos a cidade um ecossistema composto de subsistemas de redes complexas, tais como bairros ou vilas urbanas, devemos compreender sua inter- relação sistêmica como processos de desorganização e organização que estes produzem, como a constituição de um organismo vivo. Tabela 2.1- Analise dos princípios dos ecossistemas nos ecossistemas urbanos. Fonte: Andrade;Romero (2004)
  • 21. 21 Segundo Odum (1988 apud BARROS, 2008) o espaço urbano é um ecossistema, onde encontramos uma infinidade de comunidade de organismos vivos, onde prevalece o homem, um meio físico que vai se transformando (fruto da atividade interna), bem como um funcionamento a base de trocas de matéria, energia e informação. Spirn (1995 apud BARROS, 2008), afirma este conceito e visualiza o espaço urbano como um sistema permite compreender os efeitos das atividades antrópicas e suas inter-relações, facilita a avaliação dos custos e benefícios de ações alternativas, abarca todos os organismos urbanos, e baseia-se de análise tanto de uma área dentro da cidade, como uma megalópole. Rueda (1999 apud BARROS, 2008), considera o espaço urbano como um ecossistema incompleto ou heterotrófico (que não se auto sustenta), sendo dependente de grandes áreas externas para obtenção de energia, alimentos, água e outros materiais. Conseguinte, Rueda (2000 apud ANDRADE; ROMERO, 2004) afirma que cidades são ecossistemas interdependentes de seu entorno e seus respectivos sistemas, e, portanto, a transferência de informação, matéria e energia que se produz entre a cidade e seu entorno é a base que mantém e torna mais complexa a estrutura organizada da cidade. Tanto o entorno quanto os assentamentos se modificam em consequência dessa relação. Register (2002 apud ANDRADE; ROMERO, 2004) afirma que, para se caminhar na direção da construção de Ecocidades, a metrópole tem que se transformar em várias cidades ou vários bairros para pedestres com pequenos centros comerciais de vizinhança ligados em ciclovias, com apoio para longas distâncias do transporte público. As moradias têm que estar próximas aos espaços para trabalho, alimentação, educação e lugares para sociabilização. Para este autor, é no uso da terra e na infraestrutura urbana, na sua anatomia que se encontra a chave para formular os elementos estruturadores de uma Ecocidade, pois é na forma em que a cidade é desenhada e organizada que está a fundamentação para todas as outras coisas e para a compreensão dos impactos causados pela população, consumo e tecnologia numa dada região. Para Andrade e Romero (2004) os princípios da Ecopolis de Paul Downton de 1997 são uma evolução dos princípios da Permacultura para o desenho de cidades, no qual Register (2002 apud ANDRADE; ROMERO) cita como os mais importantes princípios: restaurar terras degradadas, adequar-se a bio-região, desenvolvimento equilibrado, conter a expansão urbana (criar cidades compactas), otimizar o desempenho energético, contribuir para a economia, proporcionar saúde e segurança, instaurar um sentido de comunidade, promover a equidade social, respeitar a história, enriquecer a paisagem cultural e curar a Biosfera. Dauncey (2001 apud ANDRADE; ROMERO, 2004) coloca em questão a existência de alguns princípios que orientam a implantação e recuperação de comunidades com impactos de longo alcance na parcela de seu desenvolvimento econômico e na sua saúde social e ambiental. Tais princípios são: proteção ecológica (biodiversidade), adensamento urbano, revitalização urbana, implantação de centros de bairro e desenvolvimento da economia local, implementação de transporte sustentável e moradias economicamente viáveis, comunidades com sentido de
  • 22. 22 vizinhança, tratamento de esgoto alternativo, drenagem natural, gestão integrada da água, energias alternativas e finalmente as políticas baseadas nos 3R’s (reduzir, reusar e reciclar). Remetendo-se ao estudo de Sposito (2003 apud BARROS, 2008), observamos que existe o hábito de assimilarmos o ambiental nas cidades apenas ao natural, sendo que o mesmo também contempla o social [visto que na cidade] o ambiente não se restringe ao conjunto de dinâmicas e processos naturais, mas também das relações dinâmicas e processos sociais. Enfim, o espaço urbano, mesmo sendo a maior ilustração da capacidade de transformação da natureza, não deixa de estar submetido as dinâmicas e processos naturais. No entanto, conforme Barros (2008), não devemos isolar o contexto social e dominante das comunidades em que a sustentabilidade é aplicada, mas sim, integrar, através de boas práticas de gestão, as trocas trazidas pelos princípios que permitam filtrar as vivências entre todas as partes do contexto do empreendimento. Register (2002 apud BARROS, 2008), propõe que um modelo mais adequado para transformar cidades através da Permacultura, é transforma-la em várias comunidades para pedestres com pequenos centros comerciais de vizinhança ligados por ciclovias, com várias áreas verdes e rios recuperados, além de as residências e moradias terem de ser bem próximas aos espaços de trabalho, educação e lazer, assim como entre as comunidades para favorecer o uso racional do transporte de veículos automotores e a otimização do transporte público. Andrade e Romero ilustram detalhadamente os princípios de sustentabilidade para a aplicação em espaços urbanos sendo observados através da tabela 2.2: Tabela 2.2: Princípios de Sustentabilidade utilizados na aplicação do parcelamento urbano Princípios de sustentabilidade Estratégias: Concepção Urbana Técnicas Urbanas Mobilidade Sustentável 1. Propiciar aos moradores locais de trabalho e lazer próximo as moradias p/ reduzir necessidades de deslocamentos. Ciclovias Apenas vias locais de 6m para automóveis separadas da rede de ciclovias e de caminhos para pedestres com 2,5 de largura. Vias iluminadas e sinalizadas. Revitalização Urbana e Sentido de Vizinhança 1. Espaços Públicos que propiciem encontros, reuniões e trabalhos conjuntos. 2. Desenvolver um sentido de lugar 3. Clube local com área de lazer Tratamento Bioclimático do espaço público: Uso de pérgulas para sombreamento, captação da água da chuva por meio de espelhos d’água com climatizadores. Predominância das tipologias na orientação solar nordeste–sudoeste no
  • 23. 23 4. Integrar o Centro de Atividades a outras regiões sentido da topografia – boa incidência dos raios solares. As casas que estão no sentido noroeste-sudeste receberão brises verticais e proteção com vegetação. Adensamento Urbano 1. Desenho urbano para um melhor aproveitamento da área de 22,5 hab/ha para 51 hab/ha. 2. Conter a expansão desordenada no entorno. 3. Tipologias mais densas localizadas na cota mais alta. Tipologias: Casas geminadas – 22 x 233 m2 -lote de 264m2; Geminadas Escalonadas – casa páteo- térrea 268m2/outra sobreposta 220m2 c/acessos independentes; Geminadas de 2 pav.- recuadas 2m 205m2 –lote de 225m2. Proteção Ecológica 1. Corredor Ecológico - Parque 2. Agricultura Urbana com Paisagismo Produtivo 3. Implantar a Estação de Esgoto Alternativa próxima ao corredor ecológico para atrair animais silvestres. 4. Colocar a zona 3 próxima da favela para aproveitar a mão de obra. Zoneamento Permacultural: Zona 1 – hortas familiares: páteos e coberturas; Zona 2 – paisagismo produtivo: arborização das ruas, estacionamentos, praças; Zona 3 – abastecimento condominial: área para produção agrícola intercalados com espaços de lazer e pequenos canais de escoamento; Zona 4 – Parque Ecológico: repovoamento da flora e da fauna, viveiro, lazer. Economia Local 1. Implantar o Centro de Bairro no ponto central na interseção de caminhos com espaços que propiciem encontros e trocas 2. Destacar a volumetria no Centro Comercial c/ 2 volumes: Bloco 1 – 3 pavimentos de uso misto – galeria de lojas e escritórios e, unidades habitacionais no último pavimento. Bloco2 – destinado a atividades comunitárias, cursos profissionalizantes. Praça –
  • 24. 24 conjunto. 3. Socio-economia Solidária – Proximidade com a favela vista panorâmica da paisagem, local de encontro dos moradores e da região, feiras e exposições. Tratamento de Esgoto 1. Evitar que a capacidade da ETEs cheguem ao limite para não ocorrer o fenômeno de eutrofização em lagos, várzeas. 2. Incorporar a estação ao desenho da paisagem Tratamento de Esgoto Alternativo - Tratamento de Esgoto com Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente associado a leito cultivado de fluxo superficial (wetlands). A Estação de Tratamento será localizada nas proximidades do corredor ecológico incorporada ao desenho paisagístico. Gestão Integrada da Água 1. Reaproveitar as águas servidas e as águas pluviais nos projetos de arquitetura. Instalar filtros de areia nos jardins para fazer a filtragem das águas. Projetos hidráulicos prevendo a tubulação necessária Política dos 3R’s 1.Tratar o lixo nas próprias Subbacias e regiões do entorno para evitar o esgotamento do Aterro Sanitário. Projetar uma Usina de Reciclagem e Compostagemnas proximidades para atender toda a região subjascente e a mão-de-obra da favela. Energia Solar 1. Prever o uso de energia e aquecimento solar através de uma orientação adequada Implantação no sentido da orientação solar nordeste-sudoeste, melhor eficiência dos raios solares para aproveitamento futuro de energia solar Fonte: Andrade; Viana (2002 apud ANDRADE; ROMERO, 2004) 2.7. Edificações Urbanas Sustentáveis Conforme Santoro e Penteado (2009), a casa é o ecossistema particular de cada ser humano e para que haja o respeito entre seres humanos e maio ambiente, é necessário que existam todos os fatores e condições favoráveis para que as interações ambientais reproduzam ao máximo os fatores naturais nas habitações. Por
  • 25. 25 isso, além de levar em consideração todos os aspectos físicos importantes como: ventilação relativa do ar, temperatura, iluminação, conforto e segurança, é preciso que o condomínio tenha a responsabilidade por tudo aquilo que ele está liberando sobre o meio ao qual ele estará determinantemente inserido. De acordo com Adam (2001, apud SANTORO; PENTEADO,2009) com um bom planejamento e criatividade, é possível obter o máximo de eficácia com mínimo de energia. Figura 2.3: Casa Ecológica Fonte:(em<http://www.entrepreneurstoolkit.org/index.php?title=Bioarquitetura_no_Br asil>. Acesso em: 24 maio 2016) Soares (2008 apud SANTORO; PENTEADO,2009) afirma que podemos interagir com o meio ambiente de uma maneira mais saudável, vivendo bem, sem destruição e sem poluir, assim como é possível substituir nas construções grande parte do cimento, dos plásticos e dos materiais tóxicos por elementos inócuos existentes no ambiente, além do uso de materiais em seu estado natural, disponíveis na região.
  • 26. 26 De acordo com Firmino (2004), a casa ecológica é uma construção sustentável quando se observa a utilização de materiais ecológicos e soluções tecnológicas biologicamente compatíveis para promover de forma econômica o bom uso dos recursos finitos, a redução da poluição e a melhoria do ambiente e conforto para todos os moradores e usuários do empreendimento. As figuras 2.3 e 2.4 ilustram as mais praticadas formas de tornarmos um condomínio sustentável, utilizando técnicas permaculturais: Figura 2.4: Lote suburbano, antes e depois do aproveitamento e aplicação permacultural. Fonte: (em < http://condominiumgarden.blogspot.com.br/2010/10/permacultura- aproveitamento-de-espaco_12.html> . Acesso em: 24 maio 2016)
  • 27. 27 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os estudos para a construção do conceito da sustentabilidade vêm ganhando amplitude nas esferas científica, econômica e social, envolvendo os mais diversos pensadores do cenário atual, que veem com a máxima importância o despertar para uma nova ética em relação indivíduo-natureza, e sua responsabilidade ao gerir os recursos, ao mesmo tempo que se sinta inserido ao contexto e ao espaço em si, como autor inerente a todos os fenômenos da natureza. A política de desenvolvimento sustentável vem trazendo novas janelas de possibilidades para que possamos desempenhar de maneira segura a continuidade humana enquanto espécie, revendo a visão antropocêntrica de mundo, e retirando do homem sua prepotente condição isolada e dominante em meio as demais formas de vida. A educação ambiental é um fator determinante para que, em meio as novas quebras de paradigmas, reinventa-se a maneira de utilizar os recursos naturais e devolvê-los como assim a natureza o faz, fechando de um ciclo ao qual também é parte. Com a ecologia profunda o homem se torna capaz de retomar o quadro da natureza como sendo a imagem inserida na paisagem, onde a descentralização e o sentimento de totalidade criam o verdadeiro sentido de ecossistema, sendo tudo parte de um processo cíclico e interativo. A Permacultura é uma filosofia capaz de aliar este processo de consciência ecológica ao máximo aproveitamento dos recursos naturais. Seus princípios éticos valorizam a Terra em todo seu contexto das interações físico-biológicas, incluindo o homem, a natureza, os seres e todos os fenômenos interligados em um processo permanente de troca energética e de aproveitamento entre todas as cadeias biológicas. Sua função de design ecológico se molda através da observação humana ao ambiente interagido, buscando muito além da extração, uso e descarte dos recursos, a potencialidade, reaproveitamento, a retomada do ciclo energético e as múltiplas possibilidades locais para potencializar a demanda local, sempre em contínuo feedback para que seja ajustada ao contexto do design, e também em continua evolução abordando todos os aspectos circundantes ao processo de elaboração do planejamento de design ecológico. Inserida a Permacultura junto às cidades, o espaço urbano se remodela a toda uma ressignificação dos métodos de habitação, consumo e uso do espaço. Aquilo que era meramente de utilidade visual, estética, ganha uma função alimentar, ou climática, ou despoluente. O resíduo que até então seguia em linha infinita e desconhecida de nosso pensamento agora possui fator de realimentação e de retomada de um ciclo. A comunidade não é vista como um mero aglomerado, mas como um núcleo de interação entre pessoas, animais, árvores, a água, o solo e o ar. A possibilidade da abundância e da distribuição dos excedentes empodera os indivíduos a sua soberania alimentar, cultural, econômica e social, onde todos os elementos do sistema como participantes ativos e inseridos na natureza contribuem com a riqueza da diversidade e das possibilidades das comunidades. O pensamento que será capaz de mudar o rumo da humanidade está contido na maneira de como encarar a nossa concepção em relação as cidades, a maneira
  • 28. 28 de tratar os fluxos contínuos de transito, das aguas, das pessoas, dos resíduos e também qual a maneira que lidamos com o fluxo da riqueza e como a encaramos. Metaforicamente, as cidades são ecossistemas, grandes organismos vivos e pulsantes no qual somos microrganismos interagindo qual forma que somos capazes de fazer com que este seja salubre ou insalubre. A ecologia, como diz em sua origem grega, é o estudo da casa. Mas não o estudo da casa visto por fora, mas como morador e habitante. O ponto de vista positivo e a capacidade humana em se adaptar a qualquer ambiente fará com que, do presente até o futuro, recriemos o bioma, como algo que em si já é, como a cidade-ecossistema e as comunidades parte de uma interação cada vez mais rica e abundante. Uma casa é sustentável considerando uma micro projeção da sua máxima capacidade de resiliência e biodiversidade, e esta projeção ao ambiente urbano se amplia a consciência do mínimo impacto e a maior capacidade de interação possível, que se expande das cidades a floresta, dos países a continentes, e de toda vida manifestada em si como parte de Gaia, em constante pulsar em nosso lugar ao cosmo e nossa responsabilidade enquanto existência.
  • 29. 29 REFERÊNCIAS ANDRADE, Lisa Maria Sousa de; ROMERO, Marta Adriana Bustos. Desenho de Assentamentos Urbanos Sustentáveis: Proposta Metodológica. In CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL- ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO.10., 2004, São Paulo. ENTAC. São Paulo, 2004 BARBOSA, Gisele Silva Barbosa. Os desafios do desenvolvimento sustentável. v. 1, n. 4 Revista Visões, p. 39- 60 - jan/jun 2008. BARROS, Bruna Rosa de. Permacultura e Desenvolvimento Urbano: Diretrizes e Ações Para a Sustentabilidade Socioambiental em Loteamentos de Interesse Social. 2008. 190 f. Dissertação (Mestrado em Dinâmicas do Espaço Habitado) Universidade Federal de Alagoas- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Alagoas, 2008. BIOARQUITETURA no Brasil. In ENTREPENEUR´S TOOLKIT FOR SOCIAL AND ENVIRONMENTAL ENTREPRENEURS. 2011. Disponível em <http://www.entrepreneurstoolkit.org/index.php?title=Bioarquitetura_no_Brasil>. Acesso em: 24 maio 2016 CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas, ciência para uma vida sustentável. São Paulo, Editora Pensamento- Cultrix Ltda, São Paulo, 2002. 296p. ENLAZADOR, Tomaz, Manual de Práticas Sustentáveis, Recife, Edição Independente,2010. 77 p. FIRMINO, Ana, A Casa Ecológica: inovação e desenvolvimento sustentável. v. 10, Revista GeoInova, p. 101-113, 2004. GOMES, Daniela; ZAMBAM, Neuro José. O desafio da sustentabilidade urbana. v. 7, n. 4 Revista Brasileira de Direito, IMED, jan/jun 2011. HENDERSON, Danielle Freitas. Permacultura: As técnicas, o espaço, a natureza e o homem. 2012. 86 f. Monografia (Bacharelado em Ciências Sociais) Universidade de Brasília-Instituto de Ciências Sociais, Brasília, 2012. HOLGREM, David. Os Fundamentos da Permacultura, Austrália: Holgrem Design Services, 2007. 27 p. MACY, Joanna; BROWN, Molly Young. Nossa Vida Como Gaia: Práticas Para Reconectar Nossas Vidas e Nosso Mundo, São Paulo, Gaia Editora, 2004. 254 p. MAGALHÃES, Ronaldo Braga, Contribuição da Ecologia Profunda ao Ecodesign: Associando Estratégias Didáticas e Tecnologias no Ensino Fundamental.2011.
  • 30. 30 190 f. Dissertação (Mestrado de em Pós-Graduação em Design) Universidade Federal do Rio Grande do Sul-Escola de Engenharia e Faculdade de Arquitetura, Porto Alegre, 2011. MAGRINI, Renato Veloso, Permacultura e Soluções Urbanas Sustentáveis.2009. 112 f. Monografia (Bacharelado em Geografia) Universidade Federal de Uberlândia- Instituto de Geografia, Uberlândia, 2009. MOLLISON, Bill; SLAY, Reny Mia. Introdução a Permacultura. Brasília: Ministério da Agricultura /SDR/PFC, 1998. 129 p. NARVAES, Patrícia. Dicionário Ilustrado de Meio Ambiente. São Paulo: Yendis, 2012. 368 p. NEME, Fernando José Passareli. Permacultura Urbana, São Paulo: Edição Independente, 2014. 72 p. PERMACULTURA- Aproveitamento de espaço em lotes rurais/urbanos. In CONDOMINIUM GARDEM PAISAGISMO E JARDINAGEM. 2010. Disponível em <http://condominiumgarden.blogspot.com.br/2010/10/permacultura-aproveitamento- de-espaco_12.html> . Acesso em: 24 maio 2016 SANTORO, Renata Branco; PENTEADO, Claudio Luís de Camargo. Bioconstrução: Utilizando o conhecimento ecológico para a criação de construções saudáveis. In ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL. 13.2009 ENAnpur,2009. SOARES, André Luis Jaeger, Conceitos Básicos Sobre Permacultura, Brasília: SDR-MA/PNUD, 1998.