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Campanha da Fraternidade 2022
EDUCAR PARA A CULTURA E OS BENS CULTURAIS
1ª Edição - 2021
Direção-Geral:
Mons. Jamil Alves de Souza
Secretário-Executivo para Campanhas da CNBB:
Pe. Patriky Samuel Batista
Autoria:
Prof. Dener Antônio Chaves
Prof. Rafael Azevedo Fontenelle Gomes
Pe. Luciano da Silva Roberto
Edição:
João Vítor Gonzaga Moura
Revisão:
Fernanda Justo e Leticia Figueiredo
Cartaz da CF 2022:
Antonio Batista de Souza Júnior (Artista sacro)
Projeto Gráfico, capa e diagramação:
Henrique Billygran Santos de Jesus
ISBN: 978-65-5975-063-4
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão da CNBB. Todos os direitos reservados ©
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Sumário
Lista de Siglas
Apresentação
Orientações para a realização dos encontros
1º ENCONTRO
Educar para a Pastoral da Cultura
2º ENCONTRO
Educar para a Identificação das Expressões Culturais e os Bens Culturais
3º ENCONTRO
Educação Patrimonial e Inventário dos Bens Culturais da Igreja
4º ENCONTRO
Educar para Conservação dos Bens Culturais da Igreja
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Lista de Siglas
CArt Carta aos Artistas
CCC Centros Culturais Católicos
CIC Codex Iuris Canonici: Código de Direito Canônico
EA Ecclesia in Africa
EAm Ecclesia in America
EN Evangelii Nuntiandi
FR Fides et Ratio
GS Gaudium et Spes
LG Lumen Gentium
PPC Documento para uma Pastoral da Cultura
RH Redemptor Hominis
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Apresentação
A Igreja Católica no Brasil, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
propõe a cada ano, a partir do Tempo Quaresmal, uma caminhada de oração, reflexão, conversão
e penitência a partir das temáticas da Campanha da Fraternidade (CF). Em 2022, somos
motivados a rezar e refletir sobre o tema da Fraternidade e Educação iluminados pelo lema “Fala
com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26).
Para os agentes do âmbito da cultura e dos saberes, a CF 2022 será uma oportunidade singular
de proporcionar às pessoas, à sociedade, às escolas e às comunidades eclesiais uma profunda
reflexão com o intuito de construir uma “aldeia educativa” proposta pelo Papa Francisco no
Pacto Educativo Global.
No processo educativo das gerações, é fundamental promover a educação para a cultura e os
bens culturais, consolidando a identidade cultural, conhecendo as expressões artísticas e culturais
e o patrimônio cultural material e imaterial, a fim de preservá-los com medidas de salvaguarda
da memória coletiva e valorização da cultura e dos bens culturais como instrumentos de
evangelização e transmissão da fé.
Sendo assim, por intermédio do presente Subsídio, composto de 4 encontros, deseja-se
educar para a Pastoral da Cultura, com formação em grupos ou núcleos de estudo, reflexões,
pesquisas e ações conjuntas, tendo em vista o aprofundamento da temática e iniciativas de
promoção da cultura e dos bens culturais.
Por meio dos grupos e núcleos da Pastoral da Cultura, deverão ser identificadas as expressões
culturais que formam a identidade cultural das comunidades. A partir da identificação das
expressões culturais e os bens culturais, o intuito será promover o diagnóstico e a educação
patrimonial para conservação de tais bens. Será fundamental realizar iniciativas de educação para
promoção da cultura e dos bens culturais, uma vez que tais bens são instrumentos de transmissão
da fé e dos valores cristãos.
Equipe de Elaboração do Subsídio
oswaldocruz2006@gmail.com
Orientações para a realização dos encontros
Temos a grata satisfação de lhes apresentar o Subsídio com quatro encontros que foram
preparados pelos colaboradores e convidados do Setor Cultura e o Setor Bens Culturais da
Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação da CNBB. Os textos elaborados para
os encontros aprofundarão e ajudarão na reflexão sobre a temática da Campanha da Fraternidade
de 2022, em vista da promoção da Pastoral da Cultura como meio de evangelização por meio das
expressões culturais e dos bens culturais de Igreja.
Convidamos todos os agentes do âmbito da cultura e dos saberes, bem como os interessados
pelas iniciativas e manifestações culturais nas comunidades de fé e na sociedade em geral, a
fazerem um caminho pelos quatro encontros, que poderão ser realizados nas comunidades,
escolas e demais grupos e instituições que são sujeitos e guardiões das expressões culturais e dos
bens culturais.
Os quatro encontros têm a finalidade de formar e provocar uma reflexão sobre a cultura e os
bens culturais, perpassando os aspectos importantes do universo educativo a partir de:
1º Encontro: Educar para a Pastoral da Cultura
2º Encontro: Educar para a Identificação das Expressões Culturais e os Bens Culturais
3º Encontro: Educação Patrimonial e Inventário dos Bens Culturais
4º Encontro: Educação para Conservação dos Bens Culturais da Igreja
Os encontros deverão ser iniciados com orações que deverão ser preparadas por quem ficará
responsável por dirigir cada encontro ou outros. Sugerimos que valorizem a religiosidade de cada
lugar com as músicas, imagens de devoções e, na oportunidade, com invocações e tradições
religiosas que expressam a identidade de fé de cada região. Todas essas iniciativas orantes
deverão ser acompanhadas pela proclamação de textos bíblicos, que deverão iluminar os
encontros. Também os ambientes dos encontros deverão ser preparados com elementos culturais
e artísticos que expressem a identidade religiosa e cultural da região em que o grupo está
localizado. Os textos estão divididos de forma alternada com L1 (Leitor 1) e L2 (Leitor 2) para
facilitar e dinamizar a leitura.
Que sejam encontros que valorizem os talentos artísticos e culturais das pessoas de cada
comunidade de fé ou dos demais grupos e instituições do âmbito da cultura e da educação. Que
as expressões culturais e os bens culturais sejam resgatados e promovidos como elementos
fundamentais na evangelização dos povos e culturas.
Boa preparação e bons encontros para todos que percorrerão este caminho de fé e cultura!
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1º ENCONTRO
Educar para a Pastoral da Cultura
“A missão de uma pastoral da cultura é restituir ao homem a sua plenitude de criatura ‘à imagem e semelhança de Deus’
(Gn 1,26), subtraindo-o à tentação antropocêntrica de se considerar independente do Criador”. (PPC, n. 2)1
Toda a ação da Igreja é sempre a partir do mandato apostólico deixado pelo Senhor
Ressuscitado aos seus apóstolos e discípulos: “Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos,
batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-os a observar tudo o que vos
mandei. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,19-20). A Igreja, no
decorrer dos séculos, fez ecoar, por meio das culturas dos povos, o anúncio do Evangelho,
fazendo chegar aos corações dos homens e mulheres a mensagem da Salvação e a beleza da fé
cristã. A cultura é fruto das ações humanas a partir da inteligência, da afetividade, da busca de
sentido, dos costumes, das tradições e dos referenciais religiosos e éticos. Sendo a cultura natural
à humanidade, ela constitui o modo de vida de cada ser humano na sua relação com a natureza,
com seus semelhantes, consigo mesmo e com Deus. A Pastoral da Cultura é, portanto, a ação
missionária da Igreja no âmbito das atividades humanas que formam a cultura dos povos,
levando em consideração que cada ser humano existe em uma cultura particular, mas não se
restringindo a ela, pois ele é capaz de transcendê-la e assimilar valores de outras culturas e os
valores absolutos e transcendentais.
1. Contextualização2
A relação entre Fé e Cultura
L1: Deus, servindo-se da cultura, sem se limitar a ela, revelou-se na história e alcançou os
corações humanos. Nas Escrituras Sagradas, encontramos o modelo do encontro fecundo entre a
Palavra de Deus e a cultura. Para se revelar e dialogar com a humanidade, chamando-a à
Salvação, Deus elegeu um povo e uma cultura por Ele originalmente penetrada, purificada e
fecundada. Deus penetrou a cultura do povo, por Ele escolhido, e a purificou pela mudança
cultural (Gn 12,1-7) proposta a Abrão, patriarca da fé do povo eleito para a Aliança de Salvação.
Abraão foi chamado a romper com suas raízes para ser plantado, pela fé em uma Terra
Prometida: “Esta ruptura sublinha a fundamental diferença de natureza entre a fé e a cultura. Ao
contrário dos ídolos que são o produto de uma cultura, o Deus de Abraão é o Totalmente Outro”
(PPC, n. 3). Deus se revela ao povo hebreu e fecunda sua cultura.
L2: Na plenitude dos tempos e de forma definitiva, Deus penetra e fecunda a cultura pela
encarnação do Verbo (Jo 1,14), que assumiu nossa condição humana, cunhando uma nova
cultura, tendo a pessoa e o amor como os dois constitutivos fundamentais, criando a civilização
do amor. O compromisso fundamental do Evangelho e a missão da Igreja apontam para o cultivo
da cultura do sentido e do valor da vida, da promoção da dignidade da pessoa e da sublimidade
da vocação humana (RH, n. 10).3
Desde as origens, o Cristianismo se distingue pela inteligência
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da fé e pela audácia da razão que criou, a partir disso, uma cultura original nos diversos tempos e
lugares: “o encontro da fé com as diversas culturas deu vida a uma nova realidade” (FR, n. 70).4
A Pastoral da Cultura
L1: A missão primordial da Igreja é o anúncio de Nosso Senhor Jesus Cristo e ela o faz trazendo
à tona as sementes do Verbo presentes em muitas culturas e povos. A dimensão cultural da
humanidade torna-se um areópago, um campo pastoral, em que a mensagem da salvação,
anunciada pela Igreja, precisa continuamente penetrar, purificar e fecundar com os valores da fé
e do humanismo cristão. “A pastoral da cultura tem por objetivo prioritário inserir a seiva vital
do Evangelho nas culturas a fim de as renovar interiormente e de transformar, à luz da
Revelação, as compreensões do homem e da sociedade que modelam as culturas, as concepções
de homem e da mulher, da família e da educação, da escola e da universidade, da liberdade e da
verdade, do trabalho e do lazer, da economia e da sociedade, das ciências e das artes” (PPC, n.
25).
L2: A Pastoral da Cultura, fundamentada na antropologia e na ética cristã, tem o objetivo de
animar projetos culturais que tenham a Cristo como redentor da humanidade, centro do cosmos e
da história (RH, n. 1), renovando os corações humanos e abrindo-os “ao seu Poder salvador os
vastos campos da cultura”.5
Cada um de nós, discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo, deve, pelo
testemunho explícito da fé cristã, fazer com que os valores do Evangelho penetrem, purifiquem e
fecundem as diversidades culturais.
L1: Embora os valores do Evangelho não se identifiquem com alguns aspectos das culturas, o
Reino anunciado pelo Evangelho é vivido pelas pessoas que estão ligadas à uma determinada
cultura, e a Igreja serve-se dos elementos das diversas culturas para cumprir sua missão.
Portanto, o Evangelho e a evangelização são independentes das culturas, porém não são
incompatíveis com elas em todos os aspectos e devem servir-se dos possíveis elementos culturais
sem se limitar a elas: “a Igreja, ou o povo de Deus, ao implantar este Reino, nada subtrai ao bem
temporal de qualquer povo, mas ao contrário, fomenta e assume, enquanto boas, as capacidades,
as riquezas e os costumes dos povos e ao assumi-los, purifica-os, fortalece-os e os eleva” (LG, n.
13).6
L2: Diante do drama da atualidade, “ruptura entre o Evangelho e a Cultura” (EN, n. 19),7
necessitamos urgentemente de uma Pastoral que inculture a fé e evangelize as culturas. As
culturas marcadas pelo secularismo e as diversas ideologias precisam ser impregnadas,
purificadas e fecundadas com os valores do Evangelho à luz do Mistério Pascal de Cristo,
prevalecendo a cultura das Bem-Aventuranças e da imitação de Cristo.
Promover a Pastoral da Cultura
L1: Impulsionados pelo mandato apostólico missionário do Divino Mestre, a Igreja tem a missão
de evangelizar todas as pessoas e em todos os âmbitos: espiritual, moral, político-econômico,
social e cultural. Desse modo, a Igreja não se exime de evangelizar as culturas em suas
mentalidades, tradições, costumes, saberes e comportamentos: “a nova evangelização requer um
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esforço lúcido, sério e organizado para evangelizar a cultura” (EAm, n. 70).8
Nesse sentido, os
caminhos são diversos, pois a Pastoral da Cultura tem um vasto campo de ação para propagar a
mensagem universal do Evangelho por intermédio dos seus valores e do humanismo nele
inspirado.
L2: É necessário que a Igreja esteja presente, exercendo sua missão, nos diversos campos de
elaboração da cultura, suscitando a transmissão da fé por uma multiforme criatividade capaz de
exprimir e sustentar a mensagem cristã de forma atraente e fascinante. Assim, “cada Igreja
particular deverá ter um projeto cultural”9
que atenda às necessidades da evangelização nos
variados campos pastorais.
O fenômeno religioso e a cultura
L1: Em meio às diversidades culturais e ao pluralismo religioso, a Pastoral da Cultura tem uma
missão fundamental, levando em consideração esse fenômeno, de dialogar nesse contexto “a fim
de que o Evangelho de Cristo resplandeça no seu interior” (PPC, n. 26). Ao propormos, como
Igreja, o diálogo inter-religioso e, diante da necessidade dele na atualidade, constitui-se
igualmente imprescindível, para essa ação, a clareza da identidade cristã católica como um ponto
fundamental para a reflexão e a ação pastoral do anúncio da fé nas culturas.
L2: Necessariamente, para um autêntico anúncio da fé cristã nas culturas e pela cultura, “é
preciso formar melhor presbíteros e leigos a fim de que eles adquiram competência e
discernimento a respeito das seitas e das razões do seu sucesso, sem, todavia, perder de vista que
o verdadeiro antídoto contra as seitas é a qualidade da vida eclesial” (PPC, n. 26).
Os “lugares ordinários” da experiência da fé, a piedade popular, a paróquia
L1: Para o anúncio do Evangelho às culturas, não basta apenas o conhecimento e a experiência
da fé, faz-se necessário também o conhecimento da cultura local para que por meio dela a fé seja
comunicada, uma vez que: “Quando um povo ama sua cultura fecundada pelo cristianismo como
o elemento próprio de sua vida, é nesta cultura que ele vive e professa sua fé” (PPC, n. 27).
L2: A presença da Igreja em diversos países marcou profundamente as gerações no modo de
viver e celebrar a fé, a ponto de impregnar a cultura com muitos e, às vezes, predominantes
elementos da fé católica. Em algumas realidades, o secularismo torna-se, portanto, uma ameaça a
esses valores religiosos. Outro fator que merece o devido cuidado é o esvaziamento do sentido
religiosos das tradições, manifestações, costumes, datas e festas quando se torna predominante e
norteador o aspecto cultural em detrimento do aspecto cultual (religioso) que originalmente os
constituiu.
L1: A fé cristã se manifestou na história e, portanto, ela é também memória e tradição traduzida
na cultura e na vida dos povos. Nesse sentido, a piedade popular tornou-se “uma das maiores
expressões de uma verdadeira inculturação da fé, pois nela harmonizam-se a fé e a liturgia, o
sentimento e as artes, e se fortalece a consciência de sua própria identidade nas tradições locais”
(PPC, n. 28). A piedade popular “é um lugar privilegiado de encontro dos homens com Cristo
vivo” (PPC, n. 28).
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L2: A paróquia é um lugar por excelência para a Pastoral da Cultura marcada pela escuta,
diálogo e proximidade, uma vez que ela é um lugar privilegiado da experiência da fé
comunitária. Os fiéis, unidos pela fé, na vitalidade comunitária, celebrando a Eucaristia, dão “o
testemunho da fé vivida e da caridade de Cristo e constitui um lugar de educação religiosa
profundamente humana” (PPC, n. 28). Pela vida comunitária da fé em uma paróquia, o fiel é
introduzido na tradição cristã e recebe os fundamentos da fé autêntica e o sentido profundo da
vida eclesial.
Instituições educacionais
L1: Sabendo que “o mundo da educação é um campo privilegiado para promover a inculturação
do Evangelho” (EAm, n. 71), a Pastoral da Cultura deve valer-se da educação, tendo como base a
família, primeira instituição educativa, e as demais instituições como lugares privilegiados de
encontro fecundo entre a Cultura e o Evangelho. Além da família, as demais instituições
educacionais (escola, universidades, educandários e os centros de estudos e pesquisas) devem ser
promovidas pela Igreja ou marcadas por sua presença na perspectiva de uma formação integral
da pessoa, promovendo uma nova cultura cristã.
Centros de formação teológica
L2: Uma adequada Pastoral da Cultura precisa dar razões de nossa fé e, por isso, os centros de
formação teológicas constituem-se os melhores espaços para o intercâmbio intelectual entre a
cultura atual e a fé cristã, por meio do estudo da Palavra de Deus, da Tradição e do Magistério da
Igreja. Para uma verdadeira e fecunda evangelização, é indispensável o conhecimento
aprofundado dos dados da fé, sobretudo diante dos contextos atuais marcados pela indiferença
religiosa, derivações fundamentalistas da fé e racionalismo agnóstico.
L1: Diante dos novos desafios a serem enfrentados na transmissão da fé cristã, impõe-se com
maior vigor a necessidade de uma séria formação teológica. Para os que se colocam na trajetória
do conhecimento teológico, exige-se uma assimilação pessoal inteligente, por um autêntico
esforço intelectual, mergulhado na espiritualidade, interiorizado na oração e nas celebrações
litúrgicas, configurando-se à Pessoa de Cristo como testemunhas de sua mensagem salvífica.
Centros Culturais Católicos
L2: Os Centros Culturais Católicos (CCC) constituem-se como células da Pastoral da Cultura e
instrumentos de evangelização no contexto das pluralidades e riquezas culturais, cabendo-lhes
abordar os problemas urgentes e complexos da evangelização da cultura e da inculturação da fé.
Os CCC oferecem à Igreja singulares possibilidades de presença e ação no campo das
transformações culturais e realizam sua missão por meio da promoção da cultura inspirada em
valores cristãos, por meio do diálogo, da pesquisa científica, da formação relacionando sempre a
fé cristã e a cultura. Por meio dos CCC, são apresentadas as obras e produções culturais a fim de
suscitar uma adesão pessoal e entusiasta aos valores fecundados pela fé em Cristo. Os CCC
como verdadeiros fóruns públicos permitem “uma ampla difusão, através do diálogo criativo, das
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convicções cristãs sobre o homem, a mulher, a família, o trabalho, a economia, a sociedade, a
política, a vida internacional, o ambiente” (EA, n. 103).10
Meios de comunicação social e informação religiosa
L1: Os diversos meios de comunicação social e as atuais redes sociais são instrumentos
indispensáveis para a missão da Pastoral da Cultura no que se refere à comunicação dos valores
da fé. Esses instrumentos atingem as pessoas em seu cotidiano, contribuindo na evolução dos
seus modos de vida inspirados na cultura cristã. Os diversos instrumentos de comunicação
utilizados na evangelização atingem o conjunto da sociedade, fazendo com que a mensagem e os
valores cristãos, anunciados pela Igreja, cheguem até às pessoas e, em algumas realidades,
àquelas que permanecem fora do alcance da Igreja.
As artes e os artistas
L2: Sensível aos sinais dos tempos, a Igreja deve evangelizar nos diversos campos da sociedade.
Na atualidade, constitui-se um canteiro privilegiado, para a Pastoral da Cultura, a articulação da
via estética com a procura do bom e do verdadeiro. A fecunda aliança entre a arte e a mensagem
cristã pretende tornar mais eficaz a ação evangelizadora e a transmissão da beleza da fé cristã. É
necessário, portanto, suscitar o diálogo da Igreja com os artistas, favorecendo uma aliança
fecunda entre o Evangelho e as Artes, tendo presentes as novas realidades que caracterizam a
contemporaneidade, propondo modalidades de capacitação e formação por meio de cursos com
artistas diversos que estejam sintonizados com os valores da fé católica e/ou do humanismo
cristão em geral. Além disso, é importante também articular as atividades e serviços de forma
orgânica em vista das diversas expressões culturais e artísticas.
Bens culturais da Igreja e o turismo cultural religioso11
L1: Os bens culturais da Igreja são formados pelo conjunto de acervo dos bens materiais e
imateriais de valor cultural. Eles foram elaborados ou fabricados no decorrer da história da
evangelização dos povos, valendo-se dos aspectos culturais de cada realidade, ressignificando-os
em vista da missão da Igreja. Esses bens têm a missão de transmitir, pelas formas, texturas,
cores, sons e ritos, a mensagem cristã expressa na cultura. Eles são, portanto, instrumentos de
catequese e de transmissão da fé cristã.
2. Trocando ideias
1. O que é a Pastoral da Cultura e qual sua missão?
2. Quais os campos de ação da Pastoral da Cultura?
3. Em sua realidade local, há alguma dessas iniciativas de atividades culturais?
4. A partir da proposta da Pastoral da Cultura, quais iniciativas poderiam ser pensadas,
planejadas e realizadas em sua comunidade, paróquia ou cidade?
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3. Mãos na massa
A Pastoral da Cultura acontece por intermédio de pessoas interessadas pela temática cultural,
por agentes culturais, já engajados em projetos, instituições e iniciativas culturais além,
sobretudo, dos que promovem as expressões culturais e os bens culturais como guardiões desse
tesouro de fé e cultura. Faça uma lista de todas as pessoas que, em sua comunidade, paróquia e
cidade, estão ligadas a essas iniciativas.
4. Proposta Semanal
Com base na lista feita pelo grupo, neste primeiro encontro, procure, durante a semana, fazer
contatos e convidar as pessoas listadas para iniciar um grupo da Pastoral da Cultura segundo as
propostas do documento Para uma Pastoral da Cultura, que poderá ser adquirido em formato
impresso ou em sua versão digital na internet. O grupo da Pastoral da Cultura poderá começar
suas reuniões a partir dos três próximos encontros deste subsídio, que tratarão sobre importantes
temas da missão da Pastoral da Cultura. Além disso, aprofunde o assunto por meio das
indicações no próximo item. Bom trabalho!
5. Aprendendo mais um pouco
– Subsídio: Como implantar a Pastoral da Cultura, Educação e Universidades. Como dinamizar
o Ensino Religioso. Edições CNBB: edicoescnbb.com.br;
– Vídeos: Cultura e Educação CNBB – YouTube;
– Site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura de Portugal: https://www.snpcultura.org/.
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2º ENCONTRO
Educar para a Identificação das Expressões Culturais e os Bens
Culturais
“Enquanto expressão da memória histórica, os bens culturais permitem redescobrir o caminho da fé, por meio das obras
de diversas gerações”.12
A inculturação da fé produziu, em muitos lugares, ritos, tradições e costumes que celebram e
expressam a fé cristã, valendo-se dos diversos aspectos culturais. Identificar essas expressões
culturais e os bens culturais herdados da história da evangelização realizada pela Igreja é o
primeiro passo para manter e promover a memória coletiva de nossas comunidades, que são
testemunhas e guardiãs da fé por meio de suas expressões religiosas e culturais, bem como pelos
bens culturais que lhes pertencem.
1. Contextualização
L1: A Igreja vive e professa a fé a partir do Mistério da Encarnação de Deus na história. Nesse
sentido, vivemos na perspectiva do Deus que veio visitar o seu povo e estabeleceu sua morada
entre nós (Jo 1,14). O Deus invisível tornou-se “visível” por meio da humanidade de Jesus Cristo
(Cl 1,15). Em Cristo, contemplamos a plenitude da Beleza Divina, que se tornou sensível aos
olhos humanos: “O Eterno entra no tempo, o Tudo esconde-se no fragmento, Deus assume o
rosto humano” (FR, n. 12).
L2: A partir do dado da revelação divina no Mistério da Encarnação do Verbo, os bens culturais
da Igreja, produzidos pela cultura dos povos, constituem-se testemunho desse mistério na
história. Os bens culturais eclesiais são, portanto, os meios pelos quais os cristãos comunicaram
o mistério da criação divina, da humanização divina, da salvação do gênero humano e da
esperança cristã do encontro eterno com Deus ou da volta gloriosa do Senhor na perspectiva
escatológica da fé.
L1: Para cumprir o mandato apostólico que o Senhor Jesus nos deixou, “Ide, pois, e fazei
discípulos todos os povos” (Mt 28,19), a Igreja sempre se valeu da cultura para comunicar a
mensagem da salvação. A propagação da fé e a formulação do culto cristão, por parte da Igreja,
contaram com os aspectos culturais de cada tempo e de cada realidade. No decorrer da história da
Igreja, foi-se constituindo o acervo dos bens culturais que expressam a fé cristã propagada e
celebrada.
L2: Os bens culturais eclesiásticos são compostos pelo acervo do patrimônio religioso, artístico,
histórico e cultural que a Igreja, ao exercer sua missão, produziu a partir da ação evangelizadora,
e valeu-se da cultura dos diversos povos. Obedecendo ao mandato apostólico, feito pelo Senhor
Ressuscitado, a Igreja, espalhada no mundo inteiro, transmitiu a mensagem salvífica amparada
pelas manifestações religiosas, artísticas e culturais dos povos. Também os inúmeros registros
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das ações da Igreja formaram o acervo documental que, pelo seu valor histórico, passou a ser um
bem cultural.
L1: O conceito de bens culturais é bastante abrangente, englobando o patrimônio histórico e
artístico (palácios, museus, igrejas, monumentos, casarios, conjuntos, pinturas, esculturas,
gravuras e documentos, entre outros); a produção intelectual (literatura, música, cinema,
fotografia etc.); os bens naturais e a paisagem cultural (rios, montanhas, florestas, praias, lagoas,
dunas, costões, sítios históricos e arqueológicos, cidades-monumentos, jardins e paisagens, por
exemplo); e os bens imateriais (costumes, tradições, folclore, manifestações, ritos, culinárias e
artesanias dos diferentes grupos que compõem e integram a sociedade). No caso dos bens
culturais da Igreja, segue-se esse conceito anterior, porém faz parte do conjunto o acervo ligado à
missão da Igreja e às suas atividades fins.
L2: Os bens culturais são instrumentos de evangelização, porque sua natureza está ancorada no
mistério divino revelado pela beleza da encarnação do Verbo. A missão desse acervo cultural é
tornar sempre presente o mistério divino por meio das linguagens, das cores, dos sons, das
texturas e das várias formas artísticas.
L1: Os bens culturais da Igreja possuem, portanto, um amplo potencial de transmissão de fé e
uma eficaz ação evangelizadora como instrumento catequético. Por meio deles, comunica-se, de
forma agradável e fascinante a fé cristã, expressão do mistério do amor de Deus e da sublime
identidade humana. O patrimônio cultural da Igreja é um verdadeiro compêndio da fé cristã, pois
nele está expressa a beleza do Verbo Encarnado, Crucificado e Ressuscitado. São João Paulo II
“definia o patrimônio artístico inspirado pela fé cristã como ‘um formidável instrumento de
catequese’”.13
L2: O patrimônio cultural eclesiástico, em especial a arte sacra, contribuiu e contribui para a
educação da fé dos fiéis e das culturas, enriquecendo-os com a mensagem evangélica transmitida
pelas inúmeras produções de bens culturais. Esse amplo patrimônio esteve e continua a serviço
da fé: “Dele tiraram proveito, sobretudo os crentes para a sua experiência de oração e de vida.
Para muitos deles, em tempos de escassa alfabetização, as expressões figurativas da Bíblia
constituíram mesmo um meio concreto de catequização. Mas para todos, crentes ou não, as
realizações artísticas inspiradas na Sagrada Escritura permanecem um reflexo do mistério
insondável que abraça e habita o mundo” (CArt, n. 5).14
L1: A Igreja sempre fez chegar aos corações humanos a mensagem salvífica do Evangelho,
valendo-se das variadas categorias e expressões artísticas (música, arquitetura, literatura,
escultura, pintura, dança, teatro, cinema e outros) como instrumentos da manifestação da Beleza
do Mistério Divino. Sendo assim, para propagar a mensagem cristã de forma mais atraente e
fascinante, “a Igreja tem necessidade da arte” (CArt, n. 12).
L2: Dentre o conjunto dos bens culturais da Igreja, destaca-se especialmente a arte sacra como
anúncio do Mistério pascal de Cristo por meio das cores, formas, imagens e sons. As obras de
arte de inspiração cristã prolongam, de certa forma, a revelação do mistério do amor de Deus: “A
criação artística possui a capacidade de evocar o indizível do mistério de Deus”.15
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L1: A beleza expressa pelos bens culturais desperta no fiel a esperança salvífica da Beleza
Infinita de Deus. Em especial, a arte religiosa ou litúrgica constitui-se uma via, um caminho de
evangelização e diálogo entre as pessoas das diversas culturas e religiões na apresentação da
mensagem cristã. Ela possibilita a humanidade deleitar-se do patrimônio vivo do cristianismo. A
Igreja nos propõe o caminho da beleza como aquele que apresenta a verdade e a bondade de
Deus de maneira atraente e fascinante: “A Via Pulchritudinis, tomando o caminho das artes,
conduz à verdade da fé, ao próprio Cristo, tornado, ‘com a Encarnação, ícone do Deus
invisível’”.16
L2: O apostolado confiado à Igreja, pelo seu divino fundador, de fazer, entre todas as nações,
novos discípulos (Mt 28,19), encontra na Via Pulchritudinis um auxílio capaz de comunicar a
mensagem evangélica de forma encantadora e comprometida com a verdade e o bem. Pelo
contributo da arte sacra, “o conhecimento de Deus se manifesta melhor e a pregação evangélica
se torna mais compreensível ao intelecto humano” (GS, n. 62).17
Para conduzir os corações
humanos ao encontro com Deus, a Igreja deve buscar, na apresentação da beleza de Cristo, o
meio para despertar os corações para a descoberta da fé e do seu amor que nos envolve.18
L1: A beleza presente nas imagens sacras, na arquitetura dos espaços sagrados, nos acordes e
harmonia das músicas, convida-nos ao diálogo sincera com Deus ou, para os não crentes, inspira
a transcender a realidade material, atraindo à intimidade com o transcendente. Nas imagens da
Virgem Maria e dos Santos, contemplamos “a imagem verdadeira do Homem, como ele foi
concebido por Deus e inovado por Cristo. Elas conduzem-nos à verdadeira existência humana”.19
L2: A Igreja Católica com sua presença e apostolado no Brasil, desde o século XVI, edificou
templos e edifícios, elaborou ritos e objetos de culto, valeu-se da cultura e das técnicas dos povos
para transmitir e celebrar a fé, formando, consequentemente, o acervo do seu patrimônio que, por
seu valor religioso, histórico e artístico, constitui-se como bens culturais da Igreja.
L1: Desses bens culturais construídos pela Igreja Católica, grande parte contribuiu para a
formação da identidade cultural brasileira e, por isso, foi reconhecida como patrimônio cultural
brasileiro. Desde o fim do século XIX, com a separação entre a Igreja Católica e o Estado
Brasileiro, todo o conjunto de bens culturais permaneceu sob a propriedade e aos cuidados da
Igreja Católica e coube a ela zelar por esse tesouro.
L2: Com a criação do Instituto de Patrimônio Histórico Artístico Nacional, na década de 1930,
as ações e medidas de preservação do patrimônio histórico e artístico foram otimizadas e se
consolidaram. Na legislação que instituiu o instrumento de tombamento, em 1937, previu-se a
necessidade de acordo com as autoridades eclesiásticas, dada a representatividade desses bens
para o patrimônio cultural. O Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN)
conta hoje com um serviço organizado pela sua sede e por 27 superintendências.
L1: Na década de 1970, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil publicou o Documento
Base sobre a Arte Sacra, que orientou os responsáveis pelos acervos culturais nas ações da
gestão e promoção dos seus bens culturais eclesiásticos.
L2: Com a garantia da promoção e a salvaguarda dos bens culturais, a Constituição Federal
Brasileira de 1988 consolidou a importância do patrimônio cultural brasileiro como expressão da
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identidade cultural nacional.
L1: Outro marco significativo foi a assinatura do acordo internacional entre o Brasil e a Santa
Sé, em 2008, no Vaticano, que prevê a cooperação para salvaguardar, conservar, valorizar e
promover os bens culturais eclesiásticos, preservando sua finalidade religiosa como primeira e
principal, não excluindo, simultaneamente, o seu valor histórico, artístico e cultural.
L2: Após mais de uma década, um inédito e importante Acordo de Cooperação Técnica, com o
objetivo de realizar ações conjuntas para preservação e valorização dos bens culturais Materiais
da Igreja Católica, foi assinado no dia 16 de junho de 2021 pela CNBB e pelo IPHAN.
L1: Nesse acordo, estão previstas medidas para a identificação, o diagnóstico, as diretrizes, o
fomento à conservação, a produção de materiais instrucionais, a capacitação de agentes em vista
da preservação, a promoção e a salvaguarda dos bens culturais materiais da Igreja Católica, que
representam 32% do total de bens tombados pelo IPHAN.
L2: Com esse Acordo de Cooperação Técnica, as instituições envolvidas estão estabelecendo
processos colaborativos, potencializando as ações de preservação, além de contribuir
efetivamente para uma maior apropriação e compreensão sobre os significados e possibilidades
de gestão do Patrimônio Cultural.
L1: Diante do que foi apresentado, é urgente uma ação pastoral, no âmbito da cultura, que
valorize as expressões culturais-religiosas e os bens culturais da Igreja como areópago para a
evangelização. É necessária, nas regiões e nas igrejas particulares onde exista uma significada
parcela de acervo de bens culturais, a organização da Comissão de Bens Culturais da Igreja na
perspectiva das orientações do Setor de Bens Culturais da Igreja da CNBB e da Comissão
Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja, que incentivam transmitir às novas gerações as
riquezas da cultura cristã, fruto de uma harmoniosa síntese entre a fé cristã e o gênio dos povos,
por meio das diversas iniciativas.
L2: A promoção dos bens culturais da Igreja pode ser um caminho de evangelização, uma vez
que a beleza anunciada pelos diferentes bens culturais eclesiásticos é uma forma em que o ser
humano proclama a presença, a comunicação e a glória de Deus. Embora não possamos capturar
Deus, pois Ele está para além do mundo palpável e sensível, sua inefabilidade não se traduz em
um silêncio absoluto. A “presença” de Deus na arte e na cultura como um todo revela, comunica
e fala a quem observa e se deixa questionar pelos sentimentos que surgem dessa contemplação.
L1: As realizações artísticas e culturais são não apenas ilustrações estéticas, mas consistem em
verdadeiros “lugares” teológicos e, por isso, um meio de propagação da fé cristã (CArt, n. 11).
Podemos concluir que os bens culturais da Igreja são grandiosos instrumentos de transmissão de
fé, em uma envolvente catequese capaz de fazer o ser humano encontrar-se verdadeiramente com
Cristo, Verbo feito Carne, que entrou na história e na cultura humana.
2. Trocando ideias
1. O que são os bens culturais da Igreja?
2. Qual a função das expressões culturais religiosas e dos bens culturais da Igreja?
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3. Em sua realidade local, quais são as expressões culturais religiosas e os bens culturais da
Igreja de maior destaque?
4. A partir da identificação feita no item 3, quais iniciativas poderiam ser pensadas, planejadas e
realizadas em sua comunidade, paróquia ou cidade para a conservação ou promoção dos bens
culturais?
3. Mãos na massa
A partir da identificação das expressões culturais religiosas e dos bens culturais da Igreja,
façam um Mapa de Referências Culturais que apresente a realidade de sua cidade e região. Este
mapa poderá ser construído da seguinte forma:
– organizar cada grupo com o máximo de 5 pessoas em pontos diferentes do ambiente;
– em um grande papel, cada grupo desenha o mapa de sua cidade ou estado e aponta, nesse
mapa, com símbolos ou desenhos, as expressões culturais e os bens culturais existentes na
realidade;
– após elaborar a identificação coletiva das expressões culturais e dos bens culturais de sua
cidade ou estado, por meio do mapa, façam a apresentação por grupos dentro do encontro.
4. Proposta Semanal
Com a lista e o mapa das Expressões Culturais Religiosas e dos Bens Culturais da Igreja,
escolha um ou mais bens culturais e faça uma pesquisa sobre sua história, estilo, autor, função
original ou atual.
5. Aprendendo mais um pouco
– Vídeos: Cultura e Educação CNBB – YouTube;
– Site do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja de Portugal:
https://www.bensculturais.com/secretariado-nacional.
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3º ENCONTRO
Educação Patrimonial e Inventário dos Bens Culturais da Igreja
“O inventário é o primeiro passo na atividade de conhecimento, proteção e valorização do patrimônio histórico e
artístico de uma comunidade eclesial”.20
Patrimônio Cultural é tudo aquilo que as sociedades organizadas preservam, a fim de garantir
a permanência de sua história e cultura. De acordo com o Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro
de 1937, que institucionalizou a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, ele é
constituído pelo conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja
de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por
seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Uma parcela
importantíssima desse patrimônio se conserva sob os cuidados da Igreja Católica, ornando seus
templos e espaços litúrgicos, conferindo sentido pastoral e catequético na missão evangelizadora.
Esses bens culturais da Igreja são objeto de grande preocupação e atenção, necessitando de
inventários para sua identificação e ações de educação para o patrimônio, para que as
comunidades possam se apropriar dos bens e legados que lhes pertencem.
1. Contextualização
O que é a educação para o patrimônio cultural?
L1: A educação para o patrimônio cultural visa desenvolver um conhecimento criterioso que
possibilite às comunidades se apropriarem dos bens culturais e legados que pertencem à nossa
tradição religiosa. Dessa forma, é possível fortalecer os sentimentos de identidade religiosa e
cultural, sentido de pertença e cidadania, assim como a construção de um processo de
preservação sustentável desses bens culturais.
L2: Se bem implementado, esse processo pedagógico oportunizará a aprendizagem, integrando
os produtos e manifestações culturais, despertando nas pessoas o interesse pelo ambiente
histórico e a memória das comunidades, dos bairros e das tradições religiosas em que vivem,
desdobrando em uma valorização da cultura local e no aprofundamento do conhecimento da vida
comunitária, suas tradições religiosas e culturais e potenciais.
L1: A prática de guardar objetos e pertences que possuam algum tipo de significado afetivo,
como cartas, documentos, fotografias, ilustrações, obras de artes e artefatos, além de toda sorte
de singelas lembranças, é um hábito comum aos humanos desde as primeiras civilizações. No
Brasil, o modernismo das primeiras décadas do século XX inaugurou um novo contexto de
valorização da cultura nacional, enaltecendo, por exemplo, a arte colonial, feita por artistas
genuinamente brasileiros, muitos deles mestiços ou brancos de origem humilde, reunidos e
organizados em oficinas e irmandades.21
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L2: Tal mudança influenciou o gosto dos colecionadores e pesquisadores, refletindo um novo
cenário de busca de grandes escolas, mestres e acervos coloniais. Não por acaso, importantes
estudos foram realizados no período,22
trazendo à tona a importância de artistas como Manuel
Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), e Valentim da Fonseca e Silva, Mestre Valentim
(1745-1813).
L1: Uma consequência imediata disso, já demonstrada por variadas estatísticas feitas pelos
órgãos de patrimônio, foi o assédio cada vez maior do mercado das artes pela intitulada Arte
Sacra, cujos objetos passaram a ser valorizados pelo seu valor artístico ou material (como no
caso das pratarias e joias), atraindo o interesse de grandes mecenas e colecionadores, mas
também, infelizmente, de receptadores e traficantes de bens culturais.
L2: Tal fato ajuda a explicar, por exemplo, a quantidade considerável de objetos furtados das
igrejas e capelas, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. Inúmeros também são os
relatos de desmonte de altares, talhas e descarte de esculturas. Essa perda exponencial de bens de
tamanha importância serviu de alerta e, a partir da década de 1970, começaram a ser realizados
os primeiros inventários sistematizados no Brasil.
L1: Cabe assinalar, por outro lado, que a Igreja Católica sempre recomendou a inventariação de
seus bens, sobretudo dos objetos de culto. Destacamos, nesse sentido, as deliberações para
inventário prescritas nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia em 1707; na Pastoral
Coletiva do Episcopado Brasileiro em 1915 ou nas demais Constituições dos Sínodos
Diocesanos ou Regionais, como a Carta Pastoral do Episcopado Mineiro sobre o Patrimônio
Artístico de 1926.
Mas, afinal de contas, o que é um inventário?
L2: Inventariar significa mapear e relacionar um acervo de maneira sucinta e normatizada. O
inventário é, também, um tipo de registro documental criado para receber informações mínimas
sobre uma coleção, que assegure ao seu proprietário maior segurança, controle e possibilidade de
difusão. Em determinados contextos, o inventário assegura a legalidade da posse e propriedade
dos bens culturais pelas instituições que os preservam.
L1: De acordo com o Código de Direito Canônico da Igreja Católica, de 1983, “deve-se redigir
um inventário exato e particularizado, (...), das coisas imóveis [e] móveis preciosas ou de certo
valor cultural, (...); o inventário já redigido seja revisado; conserve-se um exemplar desse
inventário no arquivo da administração e o outro no arquivo da cúria; anote-se em ambos
qualquer mudança que afete o patrimônio” (CIC, §§ 2 e 3, cân. 1283).23
Esta ferramenta também
é especialmente recomendada pela Carta Circular sobre a Necessidade e Urgência da
Inventariação e Catalogação do Patrimônio Cultural da Igreja, da Comissão Pontifícia para os
Bens Culturais da Igreja, de 1999.
L2: No âmbito civil, de acordo com o art. 216, § 1º, da Constituição Federal de 1988, o
inventário é um dos mecanismos do Poder Público para promover o patrimônio cultural
brasileiro, com a colaboração da comunidade.
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Como realizar o Inventário dos Bens Culturais da Igreja?
L1: Todo inventário precisa de um recorte (temático/geográfico/temporal etc.) e uma
metodologia, diretamente ligada ao referido recorte. Por exemplo, as paróquias, por escassez de
recursos financeiros e humanos, podem decidir iniciar seus inventários cadastrando somente
esculturas e pinturas antigas (recortes: temático e temporal) de uma Igreja, capela ou depositadas
em um pequeno museu paroquial (recorte geográfico).
L2: Todavia, em linhas gerais, os inventários devem seguir um fluxo metodológico padrão, que
envolve as seguintes etapas:
1. Seleção dos objetos;
2. Registro fotográfico e aferição das dimensões;
3. Análise do estado de conservação;
4. Análise estilística, iconográfica e ornamental;
5. Datação e tipo de material;
6. Identificação das condições de segurança;
7. Identificação do responsável pelo preenchimento e data do Inventário.
Qual a importância da produção de diagnóstico sobre os Bens Culturais da Igreja?
L1: Nos últimos anos, diversas dioceses, congregações e institutos têm procurado realizar um
inventário sistemático de seus bens, observando as recomendações publicadas pela própria
Igreja. Podemos atestar a importância destas ações em três desdobramentos:
A) Inventário como apropriação do bem e construção de identidade cultural
L2: O inventário valoriza a historicidade de diversas regiões, muitas vezes depreciadas e
lembradas apenas pelas suas mazelas sociais. Uma ação que revela diversos aspectos históricos
dos municípios, bairros e comunidades deve ser encarada como um primeiro passo para o
engajamento da população na preservação de seu patrimônio histórico, bem como incentiva
novas pesquisas e novos projetos de disseminação da memória e cultura local.
B) Difusão de conhecimento sobre o bem inventariado e promoção dos bens culturais por meio de pesquisas e estudos
L1: O ato de catalogar, documentar e armazenar adequadamente os objetos concorre para o
controle adequado do acervo por meio de procedimentos de acondicionamento, limpeza,
conservação, restauração, circulação e documentação, evitando o desperdício de recursos com
intervenções provocadas por danos. Além disso, o inventário estimula novas pesquisas e
parcerias com órgãos de patrimônio, associações civis e universidades, a fim de alcançar
objetivos comuns na tutela dos bens culturais.
C) Impacto na segurança
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L2: O inventário possibilita acionar as instâncias de proteção ao patrimônio em caso de sinistros,
roubos ou outras perturbações. Ao mesmo tempo, estimula o envolvimento das comunidades na
proteção e fruição do seu patrimônio cultural.
2. Trocando ideias
1. O que é um inventário?
2. Qual a importância e resultados previstos quando é elaborada uma ação de inventário das
coleções e acervos?
3. O que é Patrimônio Cultural e qual o seu aparato legal?
4. Quais são as 7 etapas básicas para um inventário de bens culturais?
3. Mãos na massa
Cada participante responderá individualmente no encontro:
Quais são os objetos mais antigos, raros ou importantes que existem na sua comunidade? E
nas suas casas? Por que eles são importantes? Por que devemos preservá-los?
(Responder em uma folha à parte)
Em seguida, o objeto da comunidade mais votado pelo grupo poderá, se possível, ser
visualizado por todos, que responderão a duas perguntas básicas (se não for possível contato
visual, o exercício pode ser feito da mesma forma, considerando as instruções do item 7 do
encarte anexo):
1. Qual a condição de segurança deste bem?
2. Ele corre algum tipo de perigo físico ou ambiental? Se sim, como evitar esse risco?
4. Proposta Semanal
Fazer um Inventário de alguns objetos do acervo de bens culturais da Igreja:
Utilizando a ficha e as instruções de preenchimento do encarte anexo, cataloguem um ou mais
objetos da sua comunidade ou particulares, a fim de apontar, ao final, quais foram as principais
informações que eram desconhecidas e puderam ser reveladas nesse processo.
5. Aprendendo mais um pouco
– Livro: Thesaurus: Vocabulário de Objetos do Culto Católico.
– Disponível para download em: http://literacias.net/bibliodigital/download/338/Thesaurus%20-
%20Vocabulario%20de%20obje%20-%20Sandra%20Vasco%20Rocca.pdf
– Filme: O Nome da Rosa (1986). Disponível na plataforma de assinatura:
https://www.hbomax.com/br/pt/feature/urn:hbo:feature:GYF43lwnOZzVSDQEAAAAE
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– Site do Inventário da Arte Sacra Fluminense:
http://www.inepac.rj.gov.br/index.php/bem_movel
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ENCARTE ANEXO – MODELO DE FICHA DE INVENTÁRIO
E ORIENTAÇÕES
Titulo: Ex.: Sagrada Família – pintura religiosa
Condições de Segurança: (X) Bom ( ) Regular ( )
Ruim
Especificação das Condições de Segurança:
Ex.: O objeto está em boas condições de segurança,
longe do imediato de possíveis terceiros e em
ambiente sem incidência de luz do sol, limpo, arejado
e seco.
Estado de Conservação: ( ) Ótimo (X) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( )
Péssimo
Especificação do Estado de Conservação:
Ex.: O objeto está em bom estado de conservação. Sem manchas,
mossas, craquelados ou repinturas, apresentando apenas pequenas
sujidades.
Época/datação: Ex.: Século XX.
Material: madeira pintada.
Dimensões: 45cm x 22cm (altura x largura)
Características estilísticas, iconográficas e ornamentais:
Ex.: O conjunto possui todas as características do grupo da Sagrada
Família, ilustrando Jesus (criança), Maria e José em caminhada, no que
se convencionou classificar como Retorno do Egito (Mt. 2, 19-20).
Endereço: Logradouro onde a peça se encontra Modo de Aquisição: Ex.: Doação/Compra etc.
Nome do Inventariante: Data de Inventário: / /2022
Instruções de inventário e de preenchimento de ficha
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3. Seleção: Os critérios e valores dos objetos inventariados devem ser a raridade, a antiguidade,
as características técnicas, artísticas, estilísticas e ornamentais, importância histórica,
relevância de conteúdo espiritual e litúrgico, objetos relevantes pertencentes à autoridade e ou
pessoas da religião (bispo, padre, religioso(a)), objetos comemorativos e ou usados pelos
papas, ou ainda de importância simbólica e afetiva associada ao monumento ou à comunidade.
4. Como fotografar os bens: Os objetos tridimensionais móveis são fotografados em pelo
menos quatro posições (frontal, duas laterais e posterior), sempre centralizando e aprumando
o eixo vertical da imagem no ângulo de 90°. Os objetos bidimensionais são fotografados na
posição frontal, seguindo o mesmo padrão de centralização e prumo. A face posterior (quando
possível) e quaisquer outros ângulos complementares também poderão ser registrados, caso
auxiliem na análise estética ou na avaliação adequada do estado de conservação dos bens.
5. Como aferir as dimensões: Todos os objetos devem ter as dimensões mensuradas, salvo
aqueles que estão depositados em local de acesso restrito ou perigoso. A unidade de medida
padrão é o centímetro (cm). Os bens são medidos nas extremidades de seus volumes, de
acordo com suas características físicas: altura, largura, profundidade, comprimento e
diâmetro. Preferencialmente, será registrado o peso (g) de objetos de prataria e joias em geral.
6. Como identificar e assinalar o estado de conservação: O estado de conservação deve ser
classificado assinalando uma opção entre cinco categorias: 1) ótimo, 2) bom, 3) regular, 4)
ruim e 5) péssimo. Ótimos são os objetos que se apresentam na sua integridade total, sem
sujeiras (sujidades), manchas, amassados, mossas etc. Bons são os objetos que já apresentam
algum tipo de sujidade, mancha, mossa, repintura, arranhão ou amassado, mas estes
problemas só são perceptíveis após uma análise aproximada, permitindo sua contemplação
plena à distância. Regulares são as peças que denotam os problemas sobreditos à uma
distância maior, mas que não precisam de uma intervenção restaurativa imediata, uma vez que
ainda possuem integridade material. Ruins são os objetos que além de apresentarem mau
estado de conservação, ainda possuam alguma patologia (dano) grave, como contaminação
por xilófagos (insetos que se alimentam de madeira), traças, bactérias, fungos etc., carecendo
de ações de restauro imediatas. Péssimos são os objetos que apresentam uma ou mais
patologias acima elencadas e, além de não terem sido estabilizados, já possuem partes tão
danificadas que comprometem sua leitura na integridade. Além disso, é necessário descrever
que tipo de dano é observado em cada caso, especificando os problemas observados nas
peças.
7. O que é a análise estilística, iconográfica e ornamental e como levantar estes dados: A
análise estilística, iconográfica e ornamental é uma tarefa de especialistas, que poderão
destacar o tipo de invocação e atributos apresentados numa imagem devocional (estudo
iconográfico, isto é, estudo do tema da obra), por exemplo, além de descrever seu estilo e
tipos ornamentais utilizados. Todavia, um diletante ou catalogador voluntário das
comunidades pode assinalar de maneira mais simplificada algumas questões básicas, como: 1)
se o título do objeto (por exemplo: uma escultura de Nossa Senhora da Imaculada Conceição)
confere com as características típicas dessa invocação; 2) se a mesma peça possui todos os
atributos usualmente associados a ela (por exemplo: Santa Cecília, padroeira dos músicos,
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costuma portar uma harpa ou outro instrumento musical); 3) se a peça possui aplicação de
folha de ouro (douramento), olhos de vidro, incrustação de pedras etc. Nesta tarefa, é
recomendável que o inventarista utilize um dicionário de santos24
.
8. Como realizar a datação e assinalar o material da peça: A datação se refere ao ano em
que determinado objeto foi confeccionado. Como em geralmente estamos lidando com bens
que foram produzidos há longo tempo, pode ser feito um prognóstico aproximado por século,
observando as características estilísticas de cada peça. Em muitas situações, a comunidade
também possui alguma informação inicial sobre a mesma, e tal estimativa de data pode ser
feita de maneira provisória (por exemplo: anterior ao século XX) até que um especialista
possa revisar o material inventariado numa etapa posterior. O material, por sua vez, se refere
ao elemento principal da composição e/ou do suporte do objeto. Por exemplo: madeira, barro,
metal, marfim, tela pintada etc.
9. Como analisar as condições de segurança: A identificação das condições de segurança
também segue o padrão de categorias, divididas em três situações: 1) Boa; 2) Regular; 3)
Ruim. Um bem está em boas condições de segurança quando observamos as situações
internas e externas do local em que ele está acondicionado e a grande maioria está adequada.
Por exemplo: ambiente limpo, seco, arejado, protegido do sol e de variações de temperatura;
objeto resguardado da circulação dos fiéis e fora do alcance de furtadores; prédio bem
conservado, sem perigo de infiltrações, incêndios, inundações; vizinhança e bairro em boas
condições de infraestrutura para escoamento pluvial, saneamento adequado etc. Caso o objeto
não reúna grande parte das condições acima citadas, mas esteja em ambiente suficientemente
arejado e limpo, longe do alcance do público geral e de possíveis sinistros, podemos
classificá-lo como regular. Numa última hipótese, aqueles objetos que podem ser tocados e
levados facilmente de um ambiente ou que estejam correndo perigo devido a condições de
acondicionamento inadequado devem ser classificados na categoria ruim. Tais observações,
quando feitas numa grande amostragem, são de suma importância para a gestão adequada das
coleções, uma vez que permitem traçar o perfil dos acervos, indicando ações que devem ser
tomadas de modo imediato para evitar possíveis perdas e danos.
10. Identificação do responsável pelo preenchimento da ficha e a data da mesma: ajudam a
documentar a periodicidade dos inventários, possibilitando fazer novas revisões e atualizações
de tempos em tempos. Recomendamos, nesta questão, que os inventários possam ser
revisados pelo menos a cada três anos, principalmente para aqueles objetos que não careçam
de alguma intervenção ou salvamento imediato.
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4º ENCONTRO
Educar para Conservação dos Bens Culturais da Igreja
“Para cumprir sua missão pastoral, a Igreja está comprometida em manter o patrimônio histórico e artístico em sua
função original, inextricavelmente ligada à proclamação da fé e ao serviço da promoção integral do homem”.25
Ao contemplamos as belezas naturais e as criadas, agradecemos a Deus o mundo que nos
rodeia, do patrimônio natural ao cultural, da ciência que descobre à educação que divulga o
conhecimento. A Ele creditamos a inspiração e os dons que motivaram a humanidade à criação
desse maravilhoso patrimônio cultural da Igreja. Cabe a nós aprendermos a preservá-lo, com
novos conhecimentos e com a experiência das diversas gerações que os mantiveram até os dias
atuais. Precisamos, portanto, conhecer e discutir os princípios básicos da conservação preventiva
aplicada ao patrimônio eclesiástico e introduzir os preceitos da gestão de risco como ferramenta
de preservação.
1. Contextualização
L1: A educação patrimonial desperta a comunidade para a importância da preservação dos bens
culturais que fazem parte da nossa identidade cultural, além de representar um processo artístico
e histórico que nos constituiu enquanto cidadãos com direitos e deveres, inclusive o direito à
beleza, à arte. Não é possível falar dos bens culturais brasileiros sem falar dos bens culturais da
Igreja. Frutos da fé, religiosidade e caridade do nosso povo, os bens culturais eclesiásticos são
um testemunho que deve ser exaltado e preservado pela sua importância histórica, cultural e
religiosa.
L2: A Carta de Villa Vigoni (1994), resultado do encontro promovido pelo Secretariado da
Conferência Episcopal Alemã e pela Comissão Pontifícia para os Bens Culturais, afirma que os
bens culturais constituem a expressão mais forte da tradição cristã e representam uma parte
essencial da herança cultural da humanidade, sendo uma manifestação de Deus à humanidade,
constituindo testemunhos da identidade e da tradição dos povos.
L1: Podemos encontrar também, na Carta Circular A Função Pastoral dos Museus
Eclesiásticos,26
que os bens culturais eclesiais são um patrimônio específico da comunidade
cristã, tendo sua finalidade ordenada para a missão eclesial sob um duplo e coincidente
dinamismo da promoção humana e da evangelização cristã. Dentre as 12 recomendações
apresentadas pela Carta, destacam-se o ensino e a formação dos responsáveis do Estado e Igreja
pelos bens culturais, assim como colaboradores científicos e técnicos, frisando a importância da
formação dos párocos.
L2: A Carta ainda destaca a importância de se confiar apenas a profissionais adequados o
restauro dos bens eclesiais, bem como a importância da manutenção constante dos bens culturais,
como uma obrigação concreta, de cada comunidade responsável. Segundo a Carta, os bens
culturais eclesiais são um recurso primário, instrumento importante de atividade pastoral e de
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reevangelização do mundo contemporâneo. Contudo, quando já há conscientização por parte da
comunidade quanto à importância desse patrimônio cultural, ressalta-se a questão de como
preservar esse rico patrimônio espalhado pelo território continental brasileiro.
L1: A resposta a essa importante e consequente questão é a conservação preventiva. Se a
educação patrimonial nos possibilita a compreensão da importância dos bens culturais eclesiais,
a conservação preventiva pode instrumentalizar a comunidade socialmente envolvida sobre as
ações e os princípios básicos de preservação dos bens culturais.
L2: Pertencente à ciência do patrimônio, a conservação preventiva consiste em um conjunto de
ações que visam à prevenção de possíveis danos a determinado patrimônio cultural, utilizando-se
de métodos de controle e manutenção das condições ideais de preservação e segurança dos bens
culturais da Igreja.
L1: Os bens culturais podem ser classificados em bens intangíveis e tangíveis, embora no
contexto da Igreja Católica eles estejam intrinsecamente ligados. Os bens intangíveis não
possuem uma forma física e não podem ser tocados, como festividades, modos de fazer, cantigas,
celebrações e rituais. Já os bens culturais tangíveis são os elementos que podem ser tocados e são
visíveis, e podem ser classificados como imóveis, móveis e integrados. São exemplos de bens
imóveis: igrejas, conjuntos históricos, casarões, sítios arqueológicos, edifícios. Já os bens móveis
são as esculturas, pinturas, paramentos, joias, vestimentas, entre outros; e os bens integrados são
os altares, retábulos, forros, lustres, azulejos, pisos, portas, sinos, etc.
L2: Marcos históricos e paisagísticos na maioria das cidades brasileiras, as igrejas são os
principais espaços arquitetônicos de proteção do patrimônio cultural eclesiástico, e diversas são
tombadas nos diferentes níveis de governo e até mesmo internacionalmente. E mesmo as igrejas
mais simples têm diversos bens culturais utilizados no espaço litúrgico que devem ser
preservados. Contudo, as exigências pastorais e mudanças nos gostos das pessoas fizeram com
que muitas peças passassem a ser obsoletas, e assim não serem mais utilizadas na liturgia.
L1: Para a salvaguarda dessas imagens e desses objetos litúrgicos, é sugerida a implementação
de museus e memoriais diocesanos. Mas deve-se considerar que esses bens não foram
constituídos para serem guardados em museus, e sim para expressar o culto, a catequese, a
cultura e a caridade. Dessa forma, o museu eclesiástico ou memorial é uma instituição pastoral
que guarda e valoriza os bens culturais que outrora estavam a serviço da missão da Igreja.27
L2: Para ser possível a implementação de um processo educativo que proporcione os
conhecimentos necessários para a conservação dos bens culturais eclesiásticos, é preciso pensar
sobre algumas ações:
L1: Primeira ação: participação de representantes da Igreja nos Conselhos Municipais de Cultura
para garantir que sejam direcionados recursos para preservação e restauração desses bens
culturais, além da exigência de cursos de conservação preventiva para as comunidades
responsáveis por esses bens antes e após os processos de restauro.
L2: Segunda ação: estabelecimento de protocolos de gestão de risco de desastres para que as
ações devidas sejam executadas minimamente em caso de emergência.
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L1: Terceira ação: divulgação para a comunidade de informações importantes para a salvaguarda
dos bens, como locais de hidrantes, telefone de autoridades, responsáveis por chaves e acessos,
rotas de fuga, locais seguros de armazenamento, dentre outros.
L2: Quarta ação: assessoria para o estabelecimento de rotas de inspeção dos edifícios e dos
acervos, assim como uma agenda anual de desinfestação de pragas, limpeza de calhas e sarjetas,
vistoria de instalações e equipamentos elétricos, dentre outros.
L1: Quinta ação: propiciar à comunidade eclesiástica o conhecimento sobre os principais agentes
de deterioração desse patrimônio e a formulação de um projeto de gestão de risco.
L2: Dentre os diversos processos utilizados pela ciência do patrimônio, no intuito de preservar
esses bens, que podem estar em igrejas, museus ou memoriais, a Gestão de Risco é uma
metodologia que apresenta os melhores resultados para a prevenção de possíveis danos que
possam ser causados ao patrimônio cultural. A Gestão de Riscos lança mão de atividades
coordenadas para dirigir e controlar uma organização no que se refere a riscos.
L1: Essa metodologia é utilizada para minimizar as possíveis perdas do patrimônio econômico e
financeiro, e assim melhor direcionar recursos. É interessante frisar que, ao ser aplicada ao
patrimônio cultural, além de possibilitar o controle de gastos e a alocação de recursos, possibilita
um processo de formação da comunidade quanto às melhores práticas de conservação
preventiva, manutenção e, principalmente, compreensão das condições ambientais favoráveis ao
patrimônio cultural sacro.
L2: A conservação preventiva tem como princípio a preservação dos bens culturais, enquanto a
gestão de risco é uma das ferramentas utilizada para esse fim. Os riscos a que o patrimônio
cultural da Igreja está exposto podem ser amenizados significativamente com uma formação
adequada da comunidade eclesial nos princípios básicos aqui expostos. Ações simples e bem
direcionadas podem assegurar a preservação desses bens ou um prazo maior entre as
dispendiosas e perigosas restaurações.
2. Trocando ideias
1. Qual a função dos bens culturais eclesiásticos?
2. Em que consiste a conservação preventiva?
3. Qual a função do museu eclesiástico ou memorial?
4. Quais seriam as principais contribuições da conservação preventiva para os bens culturais
eclesiásticos?
3. Mãos na massa
Elabore um pequeno esquema descritivo com informações sobre a sua paróquia:
Há sistemas de alarme contra invasão e incêndio? Há câmeras no interior da igreja e
mediações? A região tem histórico de inundação, vandalismo, arrombamentos? A parte elétrica é
antiga? Há inventário dos bens móveis e integrados? Há manutenção semestral do telhado,
oswaldocruz2006@gmail.com
desinfestação de pragas? Finalmente, apresente quais seriam as possíveis falhas quanto à
conservação dos bens culturais da paróquia.
4. Proposta Semanal
Verificar junto à Administração municipal se há Conselho Municipal de Cultura e se nele há
representantes oficiais da Igreja católica.
Verificar os valores destinados aos bens culturais do Município em relação aos demais
investimentos em cultura no Município.
Verificar se há protocolos de gerenciamento de risco na paróquia e/ou planos de emergência.
5. Aprendendo mais um pouco
A seguir, encontram-se referências de algumas cartilhas e livros na área de gestão de risco do
patrimônio cultural, e todos estão disponíveis gratuitamente na internet:
– ABNT NBR IEC 31010, Gestão de riscos – Técnicas para o processo de avaliação de riscos –,
2018;
– PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA. Carta Circular A
função pastoral dos Arquivos eclesiásticos. Editora do Vaticano. Cidade do Vaticano, 1997;
– SPINELLI, Jayme; PEDERSOLI Jr., José Luiz. Biblioteca Nacional: plano de gerenciamento
de riscos, salvaguarda & emergência Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2011;
– UNESCO. Gestão de riscos de desastres para o patrimônio. Brasília: Unesco, IPHAN, 2015;
– UNESCO; ICCROM; ICOMOS; IUCN. Gestão de riscos de desastres para o Patrimônio
Mundial, Manual de Referência do Patrimônio Mundial. Brasília, 2015, 80p.
oswaldocruz2006@gmail.com
1
CONSELHO PONTIFÍCIO DA CULTURA. Documento Para uma Pastoral da Cultura, 23 de maio de 1999.
2
O conteúdo desta parte (Contextualização) é um resumo e uma apresentação sintética do documento Para uma Pastoral da Cultura, do Conselho Pontifício da
Cultura.
3
SÃO JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptor Hominis no início do ministério pontifical, 4 de março de 1979.
4
SÃO JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Fides et Ratio sobre as relações entre fé e razão, 14 de setembro de 1998.
5
SÃO JOÃO PAULO II. Homilia da missa de entronização, 22 de outubro de 1978, OR (ed. port.), ano IX, n. 44 (465), p. 2.
6
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium. In: SANTA SÉ. Concílio Ecumênico Vaticano II: Documentos. Brasília: Edições CNBB,
2018, p. 75-173.
7
SÃO PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi sobre a Evangelização no Mundo Contemporâneo, 8 de dezembro de 1975.
8
SÃO JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in America sobre o encontro com Jesus Cristo vivo caminho para a conversão, a comunhão e
a solidariedade na América, 22 de janeiro de 1999.
9
SÃO JOÃO PAULO II. Discurso ao Conselho Pontifício da Cultura, OR (ed. port.) ano XXVIII, n. 13, p. 4 (136).
10
SÃO JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Ecclesia in Africa sobre a Igreja na África e sua missão evangelizadora rumo ao ano 2000, 14 de
setembro de 1995.
11
O segundo encontro deste Subsídio tratará dessa temática, por ser um assunto pertinente e campo privilegiado para a ação pastoral e por ser objeto de grande
interesse e de missão do Setor Bens Culturais da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação da CNBB.
12
PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA. Carta Circular sobre a Função Pastoral dos Museus Eclesiásticos, 15 de agosto de
2001, n. 1.1.
13
ASSEMBLEIA PLENÁRIA DOS BISPOS. Via Pulchitudinis. São Paulo: Loyola, 2006, p. 41.
14
SÃO JOÃO PAULO II. Carta aos artistas. 7 ed. São Paulo: Paulinas, 2010.
15
ASSEMBLEIA PLENÁRIA DOS BISPOS. Via Pulchitudinis. São Paulo: Loyola, 2006, p. 36.
16
Ibidem, p. 44.
17
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Gaudium et Spes. In: SANTA SÉ. Concílio Ecumênico Vaticano II: Documentos. Brasília: Edições CNBB, 2018, p.
199-329.
18
ASSEMBLEIA PLENÁRIA DOS BISPOS. Via Pulchritudinis. São Paulo: Loyola, 2006, p. 51.
19
RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da liturgia. 4 ed. Prior Velho: Paulinas, 2011, p. 94.
20
PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA. Carta Circular sobre a Necessidade e Urgência do Inventário e Catalogação do
Patrimônio Cultural da Igreja, 8 de dezembro de 1999.
21
São instituições criadas no período: 1) o Museu Histórico Nacional (1922); 2) o Curso de Museus, primeira formação superior em Museologia no Brasil (1932);
3) o Museu Nacional de Belas Artes (1937); 4) o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) (1937); 5) o Museu da Inconfidência (1938);
6) o Museu Imperial (1940).
22
Destacamos as obras: O Aleijadinho, de Germain Bazin (1963), ainda disponível em sebos e livrarias virtuais, e as Revistas do Patrimônio, publicadas pelo
IPHAN a partir de 1937 e disponibilizadas no link: http://portal.iphan.gov.br/publicacoes/lista?categoria=23&busca=&pagina=4.
23
SANTA SÉ. Código de Direito Canônico. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 1983.
24 Uma possibilidade de consulta preliminar, apenas para identificação básica das imagens é a sessão: https://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Santos
25
PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA. Carta Circular sobre a Necessidade e Urgência do Inventário e Catalogação do
Patrimônio Cultural da Igreja, 8 de dezembro de 1999.
26
PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA. Carta Circular sobre a Função Pastoral dos Museus Eclesiásticos, 15 de agosto de
2001.
27
Idem
oswaldocruz2006@gmail.com

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  • 3. Campanha da Fraternidade 2022 EDUCAR PARA A CULTURA E OS BENS CULTURAIS 1ª Edição - 2021 Direção-Geral: Mons. Jamil Alves de Souza Secretário-Executivo para Campanhas da CNBB: Pe. Patriky Samuel Batista Autoria: Prof. Dener Antônio Chaves Prof. Rafael Azevedo Fontenelle Gomes Pe. Luciano da Silva Roberto Edição: João Vítor Gonzaga Moura Revisão: Fernanda Justo e Leticia Figueiredo Cartaz da CF 2022: Antonio Batista de Souza Júnior (Artista sacro) Projeto Gráfico, capa e diagramação: Henrique Billygran Santos de Jesus ISBN: 978-65-5975-063-4 Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão da CNBB. Todos os direitos reservados © Edições CNBB SAAN Quadra 3, Lotes 590/600 Zona Industrial – Brasília-DF CEP: 70.632-350 Fone: 0800 940 3019 / (61) 2193-3019 E-mail: vendas@edicoescnbb.com.br www.edicoescnbb.com.br oswaldocruz2006@gmail.com
  • 4. Sumário Lista de Siglas Apresentação Orientações para a realização dos encontros 1º ENCONTRO Educar para a Pastoral da Cultura 2º ENCONTRO Educar para a Identificação das Expressões Culturais e os Bens Culturais 3º ENCONTRO Educação Patrimonial e Inventário dos Bens Culturais da Igreja 4º ENCONTRO Educar para Conservação dos Bens Culturais da Igreja oswaldocruz2006@gmail.com
  • 5. Lista de Siglas CArt Carta aos Artistas CCC Centros Culturais Católicos CIC Codex Iuris Canonici: Código de Direito Canônico EA Ecclesia in Africa EAm Ecclesia in America EN Evangelii Nuntiandi FR Fides et Ratio GS Gaudium et Spes LG Lumen Gentium PPC Documento para uma Pastoral da Cultura RH Redemptor Hominis oswaldocruz2006@gmail.com
  • 6. Apresentação A Igreja Católica no Brasil, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), propõe a cada ano, a partir do Tempo Quaresmal, uma caminhada de oração, reflexão, conversão e penitência a partir das temáticas da Campanha da Fraternidade (CF). Em 2022, somos motivados a rezar e refletir sobre o tema da Fraternidade e Educação iluminados pelo lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26). Para os agentes do âmbito da cultura e dos saberes, a CF 2022 será uma oportunidade singular de proporcionar às pessoas, à sociedade, às escolas e às comunidades eclesiais uma profunda reflexão com o intuito de construir uma “aldeia educativa” proposta pelo Papa Francisco no Pacto Educativo Global. No processo educativo das gerações, é fundamental promover a educação para a cultura e os bens culturais, consolidando a identidade cultural, conhecendo as expressões artísticas e culturais e o patrimônio cultural material e imaterial, a fim de preservá-los com medidas de salvaguarda da memória coletiva e valorização da cultura e dos bens culturais como instrumentos de evangelização e transmissão da fé. Sendo assim, por intermédio do presente Subsídio, composto de 4 encontros, deseja-se educar para a Pastoral da Cultura, com formação em grupos ou núcleos de estudo, reflexões, pesquisas e ações conjuntas, tendo em vista o aprofundamento da temática e iniciativas de promoção da cultura e dos bens culturais. Por meio dos grupos e núcleos da Pastoral da Cultura, deverão ser identificadas as expressões culturais que formam a identidade cultural das comunidades. A partir da identificação das expressões culturais e os bens culturais, o intuito será promover o diagnóstico e a educação patrimonial para conservação de tais bens. Será fundamental realizar iniciativas de educação para promoção da cultura e dos bens culturais, uma vez que tais bens são instrumentos de transmissão da fé e dos valores cristãos. Equipe de Elaboração do Subsídio oswaldocruz2006@gmail.com
  • 7. Orientações para a realização dos encontros Temos a grata satisfação de lhes apresentar o Subsídio com quatro encontros que foram preparados pelos colaboradores e convidados do Setor Cultura e o Setor Bens Culturais da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação da CNBB. Os textos elaborados para os encontros aprofundarão e ajudarão na reflexão sobre a temática da Campanha da Fraternidade de 2022, em vista da promoção da Pastoral da Cultura como meio de evangelização por meio das expressões culturais e dos bens culturais de Igreja. Convidamos todos os agentes do âmbito da cultura e dos saberes, bem como os interessados pelas iniciativas e manifestações culturais nas comunidades de fé e na sociedade em geral, a fazerem um caminho pelos quatro encontros, que poderão ser realizados nas comunidades, escolas e demais grupos e instituições que são sujeitos e guardiões das expressões culturais e dos bens culturais. Os quatro encontros têm a finalidade de formar e provocar uma reflexão sobre a cultura e os bens culturais, perpassando os aspectos importantes do universo educativo a partir de: 1º Encontro: Educar para a Pastoral da Cultura 2º Encontro: Educar para a Identificação das Expressões Culturais e os Bens Culturais 3º Encontro: Educação Patrimonial e Inventário dos Bens Culturais 4º Encontro: Educação para Conservação dos Bens Culturais da Igreja Os encontros deverão ser iniciados com orações que deverão ser preparadas por quem ficará responsável por dirigir cada encontro ou outros. Sugerimos que valorizem a religiosidade de cada lugar com as músicas, imagens de devoções e, na oportunidade, com invocações e tradições religiosas que expressam a identidade de fé de cada região. Todas essas iniciativas orantes deverão ser acompanhadas pela proclamação de textos bíblicos, que deverão iluminar os encontros. Também os ambientes dos encontros deverão ser preparados com elementos culturais e artísticos que expressem a identidade religiosa e cultural da região em que o grupo está localizado. Os textos estão divididos de forma alternada com L1 (Leitor 1) e L2 (Leitor 2) para facilitar e dinamizar a leitura. Que sejam encontros que valorizem os talentos artísticos e culturais das pessoas de cada comunidade de fé ou dos demais grupos e instituições do âmbito da cultura e da educação. Que as expressões culturais e os bens culturais sejam resgatados e promovidos como elementos fundamentais na evangelização dos povos e culturas. Boa preparação e bons encontros para todos que percorrerão este caminho de fé e cultura! oswaldocruz2006@gmail.com
  • 8. 1º ENCONTRO Educar para a Pastoral da Cultura “A missão de uma pastoral da cultura é restituir ao homem a sua plenitude de criatura ‘à imagem e semelhança de Deus’ (Gn 1,26), subtraindo-o à tentação antropocêntrica de se considerar independente do Criador”. (PPC, n. 2)1 Toda a ação da Igreja é sempre a partir do mandato apostólico deixado pelo Senhor Ressuscitado aos seus apóstolos e discípulos: “Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-os a observar tudo o que vos mandei. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,19-20). A Igreja, no decorrer dos séculos, fez ecoar, por meio das culturas dos povos, o anúncio do Evangelho, fazendo chegar aos corações dos homens e mulheres a mensagem da Salvação e a beleza da fé cristã. A cultura é fruto das ações humanas a partir da inteligência, da afetividade, da busca de sentido, dos costumes, das tradições e dos referenciais religiosos e éticos. Sendo a cultura natural à humanidade, ela constitui o modo de vida de cada ser humano na sua relação com a natureza, com seus semelhantes, consigo mesmo e com Deus. A Pastoral da Cultura é, portanto, a ação missionária da Igreja no âmbito das atividades humanas que formam a cultura dos povos, levando em consideração que cada ser humano existe em uma cultura particular, mas não se restringindo a ela, pois ele é capaz de transcendê-la e assimilar valores de outras culturas e os valores absolutos e transcendentais. 1. Contextualização2 A relação entre Fé e Cultura L1: Deus, servindo-se da cultura, sem se limitar a ela, revelou-se na história e alcançou os corações humanos. Nas Escrituras Sagradas, encontramos o modelo do encontro fecundo entre a Palavra de Deus e a cultura. Para se revelar e dialogar com a humanidade, chamando-a à Salvação, Deus elegeu um povo e uma cultura por Ele originalmente penetrada, purificada e fecundada. Deus penetrou a cultura do povo, por Ele escolhido, e a purificou pela mudança cultural (Gn 12,1-7) proposta a Abrão, patriarca da fé do povo eleito para a Aliança de Salvação. Abraão foi chamado a romper com suas raízes para ser plantado, pela fé em uma Terra Prometida: “Esta ruptura sublinha a fundamental diferença de natureza entre a fé e a cultura. Ao contrário dos ídolos que são o produto de uma cultura, o Deus de Abraão é o Totalmente Outro” (PPC, n. 3). Deus se revela ao povo hebreu e fecunda sua cultura. L2: Na plenitude dos tempos e de forma definitiva, Deus penetra e fecunda a cultura pela encarnação do Verbo (Jo 1,14), que assumiu nossa condição humana, cunhando uma nova cultura, tendo a pessoa e o amor como os dois constitutivos fundamentais, criando a civilização do amor. O compromisso fundamental do Evangelho e a missão da Igreja apontam para o cultivo da cultura do sentido e do valor da vida, da promoção da dignidade da pessoa e da sublimidade da vocação humana (RH, n. 10).3 Desde as origens, o Cristianismo se distingue pela inteligência oswaldocruz2006@gmail.com
  • 9. da fé e pela audácia da razão que criou, a partir disso, uma cultura original nos diversos tempos e lugares: “o encontro da fé com as diversas culturas deu vida a uma nova realidade” (FR, n. 70).4 A Pastoral da Cultura L1: A missão primordial da Igreja é o anúncio de Nosso Senhor Jesus Cristo e ela o faz trazendo à tona as sementes do Verbo presentes em muitas culturas e povos. A dimensão cultural da humanidade torna-se um areópago, um campo pastoral, em que a mensagem da salvação, anunciada pela Igreja, precisa continuamente penetrar, purificar e fecundar com os valores da fé e do humanismo cristão. “A pastoral da cultura tem por objetivo prioritário inserir a seiva vital do Evangelho nas culturas a fim de as renovar interiormente e de transformar, à luz da Revelação, as compreensões do homem e da sociedade que modelam as culturas, as concepções de homem e da mulher, da família e da educação, da escola e da universidade, da liberdade e da verdade, do trabalho e do lazer, da economia e da sociedade, das ciências e das artes” (PPC, n. 25). L2: A Pastoral da Cultura, fundamentada na antropologia e na ética cristã, tem o objetivo de animar projetos culturais que tenham a Cristo como redentor da humanidade, centro do cosmos e da história (RH, n. 1), renovando os corações humanos e abrindo-os “ao seu Poder salvador os vastos campos da cultura”.5 Cada um de nós, discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo, deve, pelo testemunho explícito da fé cristã, fazer com que os valores do Evangelho penetrem, purifiquem e fecundem as diversidades culturais. L1: Embora os valores do Evangelho não se identifiquem com alguns aspectos das culturas, o Reino anunciado pelo Evangelho é vivido pelas pessoas que estão ligadas à uma determinada cultura, e a Igreja serve-se dos elementos das diversas culturas para cumprir sua missão. Portanto, o Evangelho e a evangelização são independentes das culturas, porém não são incompatíveis com elas em todos os aspectos e devem servir-se dos possíveis elementos culturais sem se limitar a elas: “a Igreja, ou o povo de Deus, ao implantar este Reino, nada subtrai ao bem temporal de qualquer povo, mas ao contrário, fomenta e assume, enquanto boas, as capacidades, as riquezas e os costumes dos povos e ao assumi-los, purifica-os, fortalece-os e os eleva” (LG, n. 13).6 L2: Diante do drama da atualidade, “ruptura entre o Evangelho e a Cultura” (EN, n. 19),7 necessitamos urgentemente de uma Pastoral que inculture a fé e evangelize as culturas. As culturas marcadas pelo secularismo e as diversas ideologias precisam ser impregnadas, purificadas e fecundadas com os valores do Evangelho à luz do Mistério Pascal de Cristo, prevalecendo a cultura das Bem-Aventuranças e da imitação de Cristo. Promover a Pastoral da Cultura L1: Impulsionados pelo mandato apostólico missionário do Divino Mestre, a Igreja tem a missão de evangelizar todas as pessoas e em todos os âmbitos: espiritual, moral, político-econômico, social e cultural. Desse modo, a Igreja não se exime de evangelizar as culturas em suas mentalidades, tradições, costumes, saberes e comportamentos: “a nova evangelização requer um oswaldocruz2006@gmail.com
  • 10. esforço lúcido, sério e organizado para evangelizar a cultura” (EAm, n. 70).8 Nesse sentido, os caminhos são diversos, pois a Pastoral da Cultura tem um vasto campo de ação para propagar a mensagem universal do Evangelho por intermédio dos seus valores e do humanismo nele inspirado. L2: É necessário que a Igreja esteja presente, exercendo sua missão, nos diversos campos de elaboração da cultura, suscitando a transmissão da fé por uma multiforme criatividade capaz de exprimir e sustentar a mensagem cristã de forma atraente e fascinante. Assim, “cada Igreja particular deverá ter um projeto cultural”9 que atenda às necessidades da evangelização nos variados campos pastorais. O fenômeno religioso e a cultura L1: Em meio às diversidades culturais e ao pluralismo religioso, a Pastoral da Cultura tem uma missão fundamental, levando em consideração esse fenômeno, de dialogar nesse contexto “a fim de que o Evangelho de Cristo resplandeça no seu interior” (PPC, n. 26). Ao propormos, como Igreja, o diálogo inter-religioso e, diante da necessidade dele na atualidade, constitui-se igualmente imprescindível, para essa ação, a clareza da identidade cristã católica como um ponto fundamental para a reflexão e a ação pastoral do anúncio da fé nas culturas. L2: Necessariamente, para um autêntico anúncio da fé cristã nas culturas e pela cultura, “é preciso formar melhor presbíteros e leigos a fim de que eles adquiram competência e discernimento a respeito das seitas e das razões do seu sucesso, sem, todavia, perder de vista que o verdadeiro antídoto contra as seitas é a qualidade da vida eclesial” (PPC, n. 26). Os “lugares ordinários” da experiência da fé, a piedade popular, a paróquia L1: Para o anúncio do Evangelho às culturas, não basta apenas o conhecimento e a experiência da fé, faz-se necessário também o conhecimento da cultura local para que por meio dela a fé seja comunicada, uma vez que: “Quando um povo ama sua cultura fecundada pelo cristianismo como o elemento próprio de sua vida, é nesta cultura que ele vive e professa sua fé” (PPC, n. 27). L2: A presença da Igreja em diversos países marcou profundamente as gerações no modo de viver e celebrar a fé, a ponto de impregnar a cultura com muitos e, às vezes, predominantes elementos da fé católica. Em algumas realidades, o secularismo torna-se, portanto, uma ameaça a esses valores religiosos. Outro fator que merece o devido cuidado é o esvaziamento do sentido religiosos das tradições, manifestações, costumes, datas e festas quando se torna predominante e norteador o aspecto cultural em detrimento do aspecto cultual (religioso) que originalmente os constituiu. L1: A fé cristã se manifestou na história e, portanto, ela é também memória e tradição traduzida na cultura e na vida dos povos. Nesse sentido, a piedade popular tornou-se “uma das maiores expressões de uma verdadeira inculturação da fé, pois nela harmonizam-se a fé e a liturgia, o sentimento e as artes, e se fortalece a consciência de sua própria identidade nas tradições locais” (PPC, n. 28). A piedade popular “é um lugar privilegiado de encontro dos homens com Cristo vivo” (PPC, n. 28). oswaldocruz2006@gmail.com
  • 11. L2: A paróquia é um lugar por excelência para a Pastoral da Cultura marcada pela escuta, diálogo e proximidade, uma vez que ela é um lugar privilegiado da experiência da fé comunitária. Os fiéis, unidos pela fé, na vitalidade comunitária, celebrando a Eucaristia, dão “o testemunho da fé vivida e da caridade de Cristo e constitui um lugar de educação religiosa profundamente humana” (PPC, n. 28). Pela vida comunitária da fé em uma paróquia, o fiel é introduzido na tradição cristã e recebe os fundamentos da fé autêntica e o sentido profundo da vida eclesial. Instituições educacionais L1: Sabendo que “o mundo da educação é um campo privilegiado para promover a inculturação do Evangelho” (EAm, n. 71), a Pastoral da Cultura deve valer-se da educação, tendo como base a família, primeira instituição educativa, e as demais instituições como lugares privilegiados de encontro fecundo entre a Cultura e o Evangelho. Além da família, as demais instituições educacionais (escola, universidades, educandários e os centros de estudos e pesquisas) devem ser promovidas pela Igreja ou marcadas por sua presença na perspectiva de uma formação integral da pessoa, promovendo uma nova cultura cristã. Centros de formação teológica L2: Uma adequada Pastoral da Cultura precisa dar razões de nossa fé e, por isso, os centros de formação teológicas constituem-se os melhores espaços para o intercâmbio intelectual entre a cultura atual e a fé cristã, por meio do estudo da Palavra de Deus, da Tradição e do Magistério da Igreja. Para uma verdadeira e fecunda evangelização, é indispensável o conhecimento aprofundado dos dados da fé, sobretudo diante dos contextos atuais marcados pela indiferença religiosa, derivações fundamentalistas da fé e racionalismo agnóstico. L1: Diante dos novos desafios a serem enfrentados na transmissão da fé cristã, impõe-se com maior vigor a necessidade de uma séria formação teológica. Para os que se colocam na trajetória do conhecimento teológico, exige-se uma assimilação pessoal inteligente, por um autêntico esforço intelectual, mergulhado na espiritualidade, interiorizado na oração e nas celebrações litúrgicas, configurando-se à Pessoa de Cristo como testemunhas de sua mensagem salvífica. Centros Culturais Católicos L2: Os Centros Culturais Católicos (CCC) constituem-se como células da Pastoral da Cultura e instrumentos de evangelização no contexto das pluralidades e riquezas culturais, cabendo-lhes abordar os problemas urgentes e complexos da evangelização da cultura e da inculturação da fé. Os CCC oferecem à Igreja singulares possibilidades de presença e ação no campo das transformações culturais e realizam sua missão por meio da promoção da cultura inspirada em valores cristãos, por meio do diálogo, da pesquisa científica, da formação relacionando sempre a fé cristã e a cultura. Por meio dos CCC, são apresentadas as obras e produções culturais a fim de suscitar uma adesão pessoal e entusiasta aos valores fecundados pela fé em Cristo. Os CCC como verdadeiros fóruns públicos permitem “uma ampla difusão, através do diálogo criativo, das oswaldocruz2006@gmail.com
  • 12. convicções cristãs sobre o homem, a mulher, a família, o trabalho, a economia, a sociedade, a política, a vida internacional, o ambiente” (EA, n. 103).10 Meios de comunicação social e informação religiosa L1: Os diversos meios de comunicação social e as atuais redes sociais são instrumentos indispensáveis para a missão da Pastoral da Cultura no que se refere à comunicação dos valores da fé. Esses instrumentos atingem as pessoas em seu cotidiano, contribuindo na evolução dos seus modos de vida inspirados na cultura cristã. Os diversos instrumentos de comunicação utilizados na evangelização atingem o conjunto da sociedade, fazendo com que a mensagem e os valores cristãos, anunciados pela Igreja, cheguem até às pessoas e, em algumas realidades, àquelas que permanecem fora do alcance da Igreja. As artes e os artistas L2: Sensível aos sinais dos tempos, a Igreja deve evangelizar nos diversos campos da sociedade. Na atualidade, constitui-se um canteiro privilegiado, para a Pastoral da Cultura, a articulação da via estética com a procura do bom e do verdadeiro. A fecunda aliança entre a arte e a mensagem cristã pretende tornar mais eficaz a ação evangelizadora e a transmissão da beleza da fé cristã. É necessário, portanto, suscitar o diálogo da Igreja com os artistas, favorecendo uma aliança fecunda entre o Evangelho e as Artes, tendo presentes as novas realidades que caracterizam a contemporaneidade, propondo modalidades de capacitação e formação por meio de cursos com artistas diversos que estejam sintonizados com os valores da fé católica e/ou do humanismo cristão em geral. Além disso, é importante também articular as atividades e serviços de forma orgânica em vista das diversas expressões culturais e artísticas. Bens culturais da Igreja e o turismo cultural religioso11 L1: Os bens culturais da Igreja são formados pelo conjunto de acervo dos bens materiais e imateriais de valor cultural. Eles foram elaborados ou fabricados no decorrer da história da evangelização dos povos, valendo-se dos aspectos culturais de cada realidade, ressignificando-os em vista da missão da Igreja. Esses bens têm a missão de transmitir, pelas formas, texturas, cores, sons e ritos, a mensagem cristã expressa na cultura. Eles são, portanto, instrumentos de catequese e de transmissão da fé cristã. 2. Trocando ideias 1. O que é a Pastoral da Cultura e qual sua missão? 2. Quais os campos de ação da Pastoral da Cultura? 3. Em sua realidade local, há alguma dessas iniciativas de atividades culturais? 4. A partir da proposta da Pastoral da Cultura, quais iniciativas poderiam ser pensadas, planejadas e realizadas em sua comunidade, paróquia ou cidade? oswaldocruz2006@gmail.com
  • 13. 3. Mãos na massa A Pastoral da Cultura acontece por intermédio de pessoas interessadas pela temática cultural, por agentes culturais, já engajados em projetos, instituições e iniciativas culturais além, sobretudo, dos que promovem as expressões culturais e os bens culturais como guardiões desse tesouro de fé e cultura. Faça uma lista de todas as pessoas que, em sua comunidade, paróquia e cidade, estão ligadas a essas iniciativas. 4. Proposta Semanal Com base na lista feita pelo grupo, neste primeiro encontro, procure, durante a semana, fazer contatos e convidar as pessoas listadas para iniciar um grupo da Pastoral da Cultura segundo as propostas do documento Para uma Pastoral da Cultura, que poderá ser adquirido em formato impresso ou em sua versão digital na internet. O grupo da Pastoral da Cultura poderá começar suas reuniões a partir dos três próximos encontros deste subsídio, que tratarão sobre importantes temas da missão da Pastoral da Cultura. Além disso, aprofunde o assunto por meio das indicações no próximo item. Bom trabalho! 5. Aprendendo mais um pouco – Subsídio: Como implantar a Pastoral da Cultura, Educação e Universidades. Como dinamizar o Ensino Religioso. Edições CNBB: edicoescnbb.com.br; – Vídeos: Cultura e Educação CNBB – YouTube; – Site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura de Portugal: https://www.snpcultura.org/. oswaldocruz2006@gmail.com
  • 14. 2º ENCONTRO Educar para a Identificação das Expressões Culturais e os Bens Culturais “Enquanto expressão da memória histórica, os bens culturais permitem redescobrir o caminho da fé, por meio das obras de diversas gerações”.12 A inculturação da fé produziu, em muitos lugares, ritos, tradições e costumes que celebram e expressam a fé cristã, valendo-se dos diversos aspectos culturais. Identificar essas expressões culturais e os bens culturais herdados da história da evangelização realizada pela Igreja é o primeiro passo para manter e promover a memória coletiva de nossas comunidades, que são testemunhas e guardiãs da fé por meio de suas expressões religiosas e culturais, bem como pelos bens culturais que lhes pertencem. 1. Contextualização L1: A Igreja vive e professa a fé a partir do Mistério da Encarnação de Deus na história. Nesse sentido, vivemos na perspectiva do Deus que veio visitar o seu povo e estabeleceu sua morada entre nós (Jo 1,14). O Deus invisível tornou-se “visível” por meio da humanidade de Jesus Cristo (Cl 1,15). Em Cristo, contemplamos a plenitude da Beleza Divina, que se tornou sensível aos olhos humanos: “O Eterno entra no tempo, o Tudo esconde-se no fragmento, Deus assume o rosto humano” (FR, n. 12). L2: A partir do dado da revelação divina no Mistério da Encarnação do Verbo, os bens culturais da Igreja, produzidos pela cultura dos povos, constituem-se testemunho desse mistério na história. Os bens culturais eclesiais são, portanto, os meios pelos quais os cristãos comunicaram o mistério da criação divina, da humanização divina, da salvação do gênero humano e da esperança cristã do encontro eterno com Deus ou da volta gloriosa do Senhor na perspectiva escatológica da fé. L1: Para cumprir o mandato apostólico que o Senhor Jesus nos deixou, “Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos” (Mt 28,19), a Igreja sempre se valeu da cultura para comunicar a mensagem da salvação. A propagação da fé e a formulação do culto cristão, por parte da Igreja, contaram com os aspectos culturais de cada tempo e de cada realidade. No decorrer da história da Igreja, foi-se constituindo o acervo dos bens culturais que expressam a fé cristã propagada e celebrada. L2: Os bens culturais eclesiásticos são compostos pelo acervo do patrimônio religioso, artístico, histórico e cultural que a Igreja, ao exercer sua missão, produziu a partir da ação evangelizadora, e valeu-se da cultura dos diversos povos. Obedecendo ao mandato apostólico, feito pelo Senhor Ressuscitado, a Igreja, espalhada no mundo inteiro, transmitiu a mensagem salvífica amparada pelas manifestações religiosas, artísticas e culturais dos povos. Também os inúmeros registros oswaldocruz2006@gmail.com
  • 15. das ações da Igreja formaram o acervo documental que, pelo seu valor histórico, passou a ser um bem cultural. L1: O conceito de bens culturais é bastante abrangente, englobando o patrimônio histórico e artístico (palácios, museus, igrejas, monumentos, casarios, conjuntos, pinturas, esculturas, gravuras e documentos, entre outros); a produção intelectual (literatura, música, cinema, fotografia etc.); os bens naturais e a paisagem cultural (rios, montanhas, florestas, praias, lagoas, dunas, costões, sítios históricos e arqueológicos, cidades-monumentos, jardins e paisagens, por exemplo); e os bens imateriais (costumes, tradições, folclore, manifestações, ritos, culinárias e artesanias dos diferentes grupos que compõem e integram a sociedade). No caso dos bens culturais da Igreja, segue-se esse conceito anterior, porém faz parte do conjunto o acervo ligado à missão da Igreja e às suas atividades fins. L2: Os bens culturais são instrumentos de evangelização, porque sua natureza está ancorada no mistério divino revelado pela beleza da encarnação do Verbo. A missão desse acervo cultural é tornar sempre presente o mistério divino por meio das linguagens, das cores, dos sons, das texturas e das várias formas artísticas. L1: Os bens culturais da Igreja possuem, portanto, um amplo potencial de transmissão de fé e uma eficaz ação evangelizadora como instrumento catequético. Por meio deles, comunica-se, de forma agradável e fascinante a fé cristã, expressão do mistério do amor de Deus e da sublime identidade humana. O patrimônio cultural da Igreja é um verdadeiro compêndio da fé cristã, pois nele está expressa a beleza do Verbo Encarnado, Crucificado e Ressuscitado. São João Paulo II “definia o patrimônio artístico inspirado pela fé cristã como ‘um formidável instrumento de catequese’”.13 L2: O patrimônio cultural eclesiástico, em especial a arte sacra, contribuiu e contribui para a educação da fé dos fiéis e das culturas, enriquecendo-os com a mensagem evangélica transmitida pelas inúmeras produções de bens culturais. Esse amplo patrimônio esteve e continua a serviço da fé: “Dele tiraram proveito, sobretudo os crentes para a sua experiência de oração e de vida. Para muitos deles, em tempos de escassa alfabetização, as expressões figurativas da Bíblia constituíram mesmo um meio concreto de catequização. Mas para todos, crentes ou não, as realizações artísticas inspiradas na Sagrada Escritura permanecem um reflexo do mistério insondável que abraça e habita o mundo” (CArt, n. 5).14 L1: A Igreja sempre fez chegar aos corações humanos a mensagem salvífica do Evangelho, valendo-se das variadas categorias e expressões artísticas (música, arquitetura, literatura, escultura, pintura, dança, teatro, cinema e outros) como instrumentos da manifestação da Beleza do Mistério Divino. Sendo assim, para propagar a mensagem cristã de forma mais atraente e fascinante, “a Igreja tem necessidade da arte” (CArt, n. 12). L2: Dentre o conjunto dos bens culturais da Igreja, destaca-se especialmente a arte sacra como anúncio do Mistério pascal de Cristo por meio das cores, formas, imagens e sons. As obras de arte de inspiração cristã prolongam, de certa forma, a revelação do mistério do amor de Deus: “A criação artística possui a capacidade de evocar o indizível do mistério de Deus”.15 oswaldocruz2006@gmail.com
  • 16. L1: A beleza expressa pelos bens culturais desperta no fiel a esperança salvífica da Beleza Infinita de Deus. Em especial, a arte religiosa ou litúrgica constitui-se uma via, um caminho de evangelização e diálogo entre as pessoas das diversas culturas e religiões na apresentação da mensagem cristã. Ela possibilita a humanidade deleitar-se do patrimônio vivo do cristianismo. A Igreja nos propõe o caminho da beleza como aquele que apresenta a verdade e a bondade de Deus de maneira atraente e fascinante: “A Via Pulchritudinis, tomando o caminho das artes, conduz à verdade da fé, ao próprio Cristo, tornado, ‘com a Encarnação, ícone do Deus invisível’”.16 L2: O apostolado confiado à Igreja, pelo seu divino fundador, de fazer, entre todas as nações, novos discípulos (Mt 28,19), encontra na Via Pulchritudinis um auxílio capaz de comunicar a mensagem evangélica de forma encantadora e comprometida com a verdade e o bem. Pelo contributo da arte sacra, “o conhecimento de Deus se manifesta melhor e a pregação evangélica se torna mais compreensível ao intelecto humano” (GS, n. 62).17 Para conduzir os corações humanos ao encontro com Deus, a Igreja deve buscar, na apresentação da beleza de Cristo, o meio para despertar os corações para a descoberta da fé e do seu amor que nos envolve.18 L1: A beleza presente nas imagens sacras, na arquitetura dos espaços sagrados, nos acordes e harmonia das músicas, convida-nos ao diálogo sincera com Deus ou, para os não crentes, inspira a transcender a realidade material, atraindo à intimidade com o transcendente. Nas imagens da Virgem Maria e dos Santos, contemplamos “a imagem verdadeira do Homem, como ele foi concebido por Deus e inovado por Cristo. Elas conduzem-nos à verdadeira existência humana”.19 L2: A Igreja Católica com sua presença e apostolado no Brasil, desde o século XVI, edificou templos e edifícios, elaborou ritos e objetos de culto, valeu-se da cultura e das técnicas dos povos para transmitir e celebrar a fé, formando, consequentemente, o acervo do seu patrimônio que, por seu valor religioso, histórico e artístico, constitui-se como bens culturais da Igreja. L1: Desses bens culturais construídos pela Igreja Católica, grande parte contribuiu para a formação da identidade cultural brasileira e, por isso, foi reconhecida como patrimônio cultural brasileiro. Desde o fim do século XIX, com a separação entre a Igreja Católica e o Estado Brasileiro, todo o conjunto de bens culturais permaneceu sob a propriedade e aos cuidados da Igreja Católica e coube a ela zelar por esse tesouro. L2: Com a criação do Instituto de Patrimônio Histórico Artístico Nacional, na década de 1930, as ações e medidas de preservação do patrimônio histórico e artístico foram otimizadas e se consolidaram. Na legislação que instituiu o instrumento de tombamento, em 1937, previu-se a necessidade de acordo com as autoridades eclesiásticas, dada a representatividade desses bens para o patrimônio cultural. O Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) conta hoje com um serviço organizado pela sua sede e por 27 superintendências. L1: Na década de 1970, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil publicou o Documento Base sobre a Arte Sacra, que orientou os responsáveis pelos acervos culturais nas ações da gestão e promoção dos seus bens culturais eclesiásticos. L2: Com a garantia da promoção e a salvaguarda dos bens culturais, a Constituição Federal Brasileira de 1988 consolidou a importância do patrimônio cultural brasileiro como expressão da oswaldocruz2006@gmail.com
  • 17. identidade cultural nacional. L1: Outro marco significativo foi a assinatura do acordo internacional entre o Brasil e a Santa Sé, em 2008, no Vaticano, que prevê a cooperação para salvaguardar, conservar, valorizar e promover os bens culturais eclesiásticos, preservando sua finalidade religiosa como primeira e principal, não excluindo, simultaneamente, o seu valor histórico, artístico e cultural. L2: Após mais de uma década, um inédito e importante Acordo de Cooperação Técnica, com o objetivo de realizar ações conjuntas para preservação e valorização dos bens culturais Materiais da Igreja Católica, foi assinado no dia 16 de junho de 2021 pela CNBB e pelo IPHAN. L1: Nesse acordo, estão previstas medidas para a identificação, o diagnóstico, as diretrizes, o fomento à conservação, a produção de materiais instrucionais, a capacitação de agentes em vista da preservação, a promoção e a salvaguarda dos bens culturais materiais da Igreja Católica, que representam 32% do total de bens tombados pelo IPHAN. L2: Com esse Acordo de Cooperação Técnica, as instituições envolvidas estão estabelecendo processos colaborativos, potencializando as ações de preservação, além de contribuir efetivamente para uma maior apropriação e compreensão sobre os significados e possibilidades de gestão do Patrimônio Cultural. L1: Diante do que foi apresentado, é urgente uma ação pastoral, no âmbito da cultura, que valorize as expressões culturais-religiosas e os bens culturais da Igreja como areópago para a evangelização. É necessária, nas regiões e nas igrejas particulares onde exista uma significada parcela de acervo de bens culturais, a organização da Comissão de Bens Culturais da Igreja na perspectiva das orientações do Setor de Bens Culturais da Igreja da CNBB e da Comissão Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja, que incentivam transmitir às novas gerações as riquezas da cultura cristã, fruto de uma harmoniosa síntese entre a fé cristã e o gênio dos povos, por meio das diversas iniciativas. L2: A promoção dos bens culturais da Igreja pode ser um caminho de evangelização, uma vez que a beleza anunciada pelos diferentes bens culturais eclesiásticos é uma forma em que o ser humano proclama a presença, a comunicação e a glória de Deus. Embora não possamos capturar Deus, pois Ele está para além do mundo palpável e sensível, sua inefabilidade não se traduz em um silêncio absoluto. A “presença” de Deus na arte e na cultura como um todo revela, comunica e fala a quem observa e se deixa questionar pelos sentimentos que surgem dessa contemplação. L1: As realizações artísticas e culturais são não apenas ilustrações estéticas, mas consistem em verdadeiros “lugares” teológicos e, por isso, um meio de propagação da fé cristã (CArt, n. 11). Podemos concluir que os bens culturais da Igreja são grandiosos instrumentos de transmissão de fé, em uma envolvente catequese capaz de fazer o ser humano encontrar-se verdadeiramente com Cristo, Verbo feito Carne, que entrou na história e na cultura humana. 2. Trocando ideias 1. O que são os bens culturais da Igreja? 2. Qual a função das expressões culturais religiosas e dos bens culturais da Igreja? oswaldocruz2006@gmail.com
  • 18. 3. Em sua realidade local, quais são as expressões culturais religiosas e os bens culturais da Igreja de maior destaque? 4. A partir da identificação feita no item 3, quais iniciativas poderiam ser pensadas, planejadas e realizadas em sua comunidade, paróquia ou cidade para a conservação ou promoção dos bens culturais? 3. Mãos na massa A partir da identificação das expressões culturais religiosas e dos bens culturais da Igreja, façam um Mapa de Referências Culturais que apresente a realidade de sua cidade e região. Este mapa poderá ser construído da seguinte forma: – organizar cada grupo com o máximo de 5 pessoas em pontos diferentes do ambiente; – em um grande papel, cada grupo desenha o mapa de sua cidade ou estado e aponta, nesse mapa, com símbolos ou desenhos, as expressões culturais e os bens culturais existentes na realidade; – após elaborar a identificação coletiva das expressões culturais e dos bens culturais de sua cidade ou estado, por meio do mapa, façam a apresentação por grupos dentro do encontro. 4. Proposta Semanal Com a lista e o mapa das Expressões Culturais Religiosas e dos Bens Culturais da Igreja, escolha um ou mais bens culturais e faça uma pesquisa sobre sua história, estilo, autor, função original ou atual. 5. Aprendendo mais um pouco – Vídeos: Cultura e Educação CNBB – YouTube; – Site do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja de Portugal: https://www.bensculturais.com/secretariado-nacional. oswaldocruz2006@gmail.com
  • 19. 3º ENCONTRO Educação Patrimonial e Inventário dos Bens Culturais da Igreja “O inventário é o primeiro passo na atividade de conhecimento, proteção e valorização do patrimônio histórico e artístico de uma comunidade eclesial”.20 Patrimônio Cultural é tudo aquilo que as sociedades organizadas preservam, a fim de garantir a permanência de sua história e cultura. De acordo com o Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, que institucionalizou a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, ele é constituído pelo conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Uma parcela importantíssima desse patrimônio se conserva sob os cuidados da Igreja Católica, ornando seus templos e espaços litúrgicos, conferindo sentido pastoral e catequético na missão evangelizadora. Esses bens culturais da Igreja são objeto de grande preocupação e atenção, necessitando de inventários para sua identificação e ações de educação para o patrimônio, para que as comunidades possam se apropriar dos bens e legados que lhes pertencem. 1. Contextualização O que é a educação para o patrimônio cultural? L1: A educação para o patrimônio cultural visa desenvolver um conhecimento criterioso que possibilite às comunidades se apropriarem dos bens culturais e legados que pertencem à nossa tradição religiosa. Dessa forma, é possível fortalecer os sentimentos de identidade religiosa e cultural, sentido de pertença e cidadania, assim como a construção de um processo de preservação sustentável desses bens culturais. L2: Se bem implementado, esse processo pedagógico oportunizará a aprendizagem, integrando os produtos e manifestações culturais, despertando nas pessoas o interesse pelo ambiente histórico e a memória das comunidades, dos bairros e das tradições religiosas em que vivem, desdobrando em uma valorização da cultura local e no aprofundamento do conhecimento da vida comunitária, suas tradições religiosas e culturais e potenciais. L1: A prática de guardar objetos e pertences que possuam algum tipo de significado afetivo, como cartas, documentos, fotografias, ilustrações, obras de artes e artefatos, além de toda sorte de singelas lembranças, é um hábito comum aos humanos desde as primeiras civilizações. No Brasil, o modernismo das primeiras décadas do século XX inaugurou um novo contexto de valorização da cultura nacional, enaltecendo, por exemplo, a arte colonial, feita por artistas genuinamente brasileiros, muitos deles mestiços ou brancos de origem humilde, reunidos e organizados em oficinas e irmandades.21 oswaldocruz2006@gmail.com
  • 20. L2: Tal mudança influenciou o gosto dos colecionadores e pesquisadores, refletindo um novo cenário de busca de grandes escolas, mestres e acervos coloniais. Não por acaso, importantes estudos foram realizados no período,22 trazendo à tona a importância de artistas como Manuel Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), e Valentim da Fonseca e Silva, Mestre Valentim (1745-1813). L1: Uma consequência imediata disso, já demonstrada por variadas estatísticas feitas pelos órgãos de patrimônio, foi o assédio cada vez maior do mercado das artes pela intitulada Arte Sacra, cujos objetos passaram a ser valorizados pelo seu valor artístico ou material (como no caso das pratarias e joias), atraindo o interesse de grandes mecenas e colecionadores, mas também, infelizmente, de receptadores e traficantes de bens culturais. L2: Tal fato ajuda a explicar, por exemplo, a quantidade considerável de objetos furtados das igrejas e capelas, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. Inúmeros também são os relatos de desmonte de altares, talhas e descarte de esculturas. Essa perda exponencial de bens de tamanha importância serviu de alerta e, a partir da década de 1970, começaram a ser realizados os primeiros inventários sistematizados no Brasil. L1: Cabe assinalar, por outro lado, que a Igreja Católica sempre recomendou a inventariação de seus bens, sobretudo dos objetos de culto. Destacamos, nesse sentido, as deliberações para inventário prescritas nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia em 1707; na Pastoral Coletiva do Episcopado Brasileiro em 1915 ou nas demais Constituições dos Sínodos Diocesanos ou Regionais, como a Carta Pastoral do Episcopado Mineiro sobre o Patrimônio Artístico de 1926. Mas, afinal de contas, o que é um inventário? L2: Inventariar significa mapear e relacionar um acervo de maneira sucinta e normatizada. O inventário é, também, um tipo de registro documental criado para receber informações mínimas sobre uma coleção, que assegure ao seu proprietário maior segurança, controle e possibilidade de difusão. Em determinados contextos, o inventário assegura a legalidade da posse e propriedade dos bens culturais pelas instituições que os preservam. L1: De acordo com o Código de Direito Canônico da Igreja Católica, de 1983, “deve-se redigir um inventário exato e particularizado, (...), das coisas imóveis [e] móveis preciosas ou de certo valor cultural, (...); o inventário já redigido seja revisado; conserve-se um exemplar desse inventário no arquivo da administração e o outro no arquivo da cúria; anote-se em ambos qualquer mudança que afete o patrimônio” (CIC, §§ 2 e 3, cân. 1283).23 Esta ferramenta também é especialmente recomendada pela Carta Circular sobre a Necessidade e Urgência da Inventariação e Catalogação do Patrimônio Cultural da Igreja, da Comissão Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja, de 1999. L2: No âmbito civil, de acordo com o art. 216, § 1º, da Constituição Federal de 1988, o inventário é um dos mecanismos do Poder Público para promover o patrimônio cultural brasileiro, com a colaboração da comunidade. oswaldocruz2006@gmail.com
  • 21. Como realizar o Inventário dos Bens Culturais da Igreja? L1: Todo inventário precisa de um recorte (temático/geográfico/temporal etc.) e uma metodologia, diretamente ligada ao referido recorte. Por exemplo, as paróquias, por escassez de recursos financeiros e humanos, podem decidir iniciar seus inventários cadastrando somente esculturas e pinturas antigas (recortes: temático e temporal) de uma Igreja, capela ou depositadas em um pequeno museu paroquial (recorte geográfico). L2: Todavia, em linhas gerais, os inventários devem seguir um fluxo metodológico padrão, que envolve as seguintes etapas: 1. Seleção dos objetos; 2. Registro fotográfico e aferição das dimensões; 3. Análise do estado de conservação; 4. Análise estilística, iconográfica e ornamental; 5. Datação e tipo de material; 6. Identificação das condições de segurança; 7. Identificação do responsável pelo preenchimento e data do Inventário. Qual a importância da produção de diagnóstico sobre os Bens Culturais da Igreja? L1: Nos últimos anos, diversas dioceses, congregações e institutos têm procurado realizar um inventário sistemático de seus bens, observando as recomendações publicadas pela própria Igreja. Podemos atestar a importância destas ações em três desdobramentos: A) Inventário como apropriação do bem e construção de identidade cultural L2: O inventário valoriza a historicidade de diversas regiões, muitas vezes depreciadas e lembradas apenas pelas suas mazelas sociais. Uma ação que revela diversos aspectos históricos dos municípios, bairros e comunidades deve ser encarada como um primeiro passo para o engajamento da população na preservação de seu patrimônio histórico, bem como incentiva novas pesquisas e novos projetos de disseminação da memória e cultura local. B) Difusão de conhecimento sobre o bem inventariado e promoção dos bens culturais por meio de pesquisas e estudos L1: O ato de catalogar, documentar e armazenar adequadamente os objetos concorre para o controle adequado do acervo por meio de procedimentos de acondicionamento, limpeza, conservação, restauração, circulação e documentação, evitando o desperdício de recursos com intervenções provocadas por danos. Além disso, o inventário estimula novas pesquisas e parcerias com órgãos de patrimônio, associações civis e universidades, a fim de alcançar objetivos comuns na tutela dos bens culturais. C) Impacto na segurança oswaldocruz2006@gmail.com
  • 22. L2: O inventário possibilita acionar as instâncias de proteção ao patrimônio em caso de sinistros, roubos ou outras perturbações. Ao mesmo tempo, estimula o envolvimento das comunidades na proteção e fruição do seu patrimônio cultural. 2. Trocando ideias 1. O que é um inventário? 2. Qual a importância e resultados previstos quando é elaborada uma ação de inventário das coleções e acervos? 3. O que é Patrimônio Cultural e qual o seu aparato legal? 4. Quais são as 7 etapas básicas para um inventário de bens culturais? 3. Mãos na massa Cada participante responderá individualmente no encontro: Quais são os objetos mais antigos, raros ou importantes que existem na sua comunidade? E nas suas casas? Por que eles são importantes? Por que devemos preservá-los? (Responder em uma folha à parte) Em seguida, o objeto da comunidade mais votado pelo grupo poderá, se possível, ser visualizado por todos, que responderão a duas perguntas básicas (se não for possível contato visual, o exercício pode ser feito da mesma forma, considerando as instruções do item 7 do encarte anexo): 1. Qual a condição de segurança deste bem? 2. Ele corre algum tipo de perigo físico ou ambiental? Se sim, como evitar esse risco? 4. Proposta Semanal Fazer um Inventário de alguns objetos do acervo de bens culturais da Igreja: Utilizando a ficha e as instruções de preenchimento do encarte anexo, cataloguem um ou mais objetos da sua comunidade ou particulares, a fim de apontar, ao final, quais foram as principais informações que eram desconhecidas e puderam ser reveladas nesse processo. 5. Aprendendo mais um pouco – Livro: Thesaurus: Vocabulário de Objetos do Culto Católico. – Disponível para download em: http://literacias.net/bibliodigital/download/338/Thesaurus%20- %20Vocabulario%20de%20obje%20-%20Sandra%20Vasco%20Rocca.pdf – Filme: O Nome da Rosa (1986). Disponível na plataforma de assinatura: https://www.hbomax.com/br/pt/feature/urn:hbo:feature:GYF43lwnOZzVSDQEAAAAE oswaldocruz2006@gmail.com
  • 23. – Site do Inventário da Arte Sacra Fluminense: http://www.inepac.rj.gov.br/index.php/bem_movel oswaldocruz2006@gmail.com
  • 24. ENCARTE ANEXO – MODELO DE FICHA DE INVENTÁRIO E ORIENTAÇÕES Titulo: Ex.: Sagrada Família – pintura religiosa Condições de Segurança: (X) Bom ( ) Regular ( ) Ruim Especificação das Condições de Segurança: Ex.: O objeto está em boas condições de segurança, longe do imediato de possíveis terceiros e em ambiente sem incidência de luz do sol, limpo, arejado e seco. Estado de Conservação: ( ) Ótimo (X) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo Especificação do Estado de Conservação: Ex.: O objeto está em bom estado de conservação. Sem manchas, mossas, craquelados ou repinturas, apresentando apenas pequenas sujidades. Época/datação: Ex.: Século XX. Material: madeira pintada. Dimensões: 45cm x 22cm (altura x largura) Características estilísticas, iconográficas e ornamentais: Ex.: O conjunto possui todas as características do grupo da Sagrada Família, ilustrando Jesus (criança), Maria e José em caminhada, no que se convencionou classificar como Retorno do Egito (Mt. 2, 19-20). Endereço: Logradouro onde a peça se encontra Modo de Aquisição: Ex.: Doação/Compra etc. Nome do Inventariante: Data de Inventário: / /2022 Instruções de inventário e de preenchimento de ficha oswaldocruz2006@gmail.com
  • 25. 3. Seleção: Os critérios e valores dos objetos inventariados devem ser a raridade, a antiguidade, as características técnicas, artísticas, estilísticas e ornamentais, importância histórica, relevância de conteúdo espiritual e litúrgico, objetos relevantes pertencentes à autoridade e ou pessoas da religião (bispo, padre, religioso(a)), objetos comemorativos e ou usados pelos papas, ou ainda de importância simbólica e afetiva associada ao monumento ou à comunidade. 4. Como fotografar os bens: Os objetos tridimensionais móveis são fotografados em pelo menos quatro posições (frontal, duas laterais e posterior), sempre centralizando e aprumando o eixo vertical da imagem no ângulo de 90°. Os objetos bidimensionais são fotografados na posição frontal, seguindo o mesmo padrão de centralização e prumo. A face posterior (quando possível) e quaisquer outros ângulos complementares também poderão ser registrados, caso auxiliem na análise estética ou na avaliação adequada do estado de conservação dos bens. 5. Como aferir as dimensões: Todos os objetos devem ter as dimensões mensuradas, salvo aqueles que estão depositados em local de acesso restrito ou perigoso. A unidade de medida padrão é o centímetro (cm). Os bens são medidos nas extremidades de seus volumes, de acordo com suas características físicas: altura, largura, profundidade, comprimento e diâmetro. Preferencialmente, será registrado o peso (g) de objetos de prataria e joias em geral. 6. Como identificar e assinalar o estado de conservação: O estado de conservação deve ser classificado assinalando uma opção entre cinco categorias: 1) ótimo, 2) bom, 3) regular, 4) ruim e 5) péssimo. Ótimos são os objetos que se apresentam na sua integridade total, sem sujeiras (sujidades), manchas, amassados, mossas etc. Bons são os objetos que já apresentam algum tipo de sujidade, mancha, mossa, repintura, arranhão ou amassado, mas estes problemas só são perceptíveis após uma análise aproximada, permitindo sua contemplação plena à distância. Regulares são as peças que denotam os problemas sobreditos à uma distância maior, mas que não precisam de uma intervenção restaurativa imediata, uma vez que ainda possuem integridade material. Ruins são os objetos que além de apresentarem mau estado de conservação, ainda possuam alguma patologia (dano) grave, como contaminação por xilófagos (insetos que se alimentam de madeira), traças, bactérias, fungos etc., carecendo de ações de restauro imediatas. Péssimos são os objetos que apresentam uma ou mais patologias acima elencadas e, além de não terem sido estabilizados, já possuem partes tão danificadas que comprometem sua leitura na integridade. Além disso, é necessário descrever que tipo de dano é observado em cada caso, especificando os problemas observados nas peças. 7. O que é a análise estilística, iconográfica e ornamental e como levantar estes dados: A análise estilística, iconográfica e ornamental é uma tarefa de especialistas, que poderão destacar o tipo de invocação e atributos apresentados numa imagem devocional (estudo iconográfico, isto é, estudo do tema da obra), por exemplo, além de descrever seu estilo e tipos ornamentais utilizados. Todavia, um diletante ou catalogador voluntário das comunidades pode assinalar de maneira mais simplificada algumas questões básicas, como: 1) se o título do objeto (por exemplo: uma escultura de Nossa Senhora da Imaculada Conceição) confere com as características típicas dessa invocação; 2) se a mesma peça possui todos os atributos usualmente associados a ela (por exemplo: Santa Cecília, padroeira dos músicos, oswaldocruz2006@gmail.com
  • 26. costuma portar uma harpa ou outro instrumento musical); 3) se a peça possui aplicação de folha de ouro (douramento), olhos de vidro, incrustação de pedras etc. Nesta tarefa, é recomendável que o inventarista utilize um dicionário de santos24 . 8. Como realizar a datação e assinalar o material da peça: A datação se refere ao ano em que determinado objeto foi confeccionado. Como em geralmente estamos lidando com bens que foram produzidos há longo tempo, pode ser feito um prognóstico aproximado por século, observando as características estilísticas de cada peça. Em muitas situações, a comunidade também possui alguma informação inicial sobre a mesma, e tal estimativa de data pode ser feita de maneira provisória (por exemplo: anterior ao século XX) até que um especialista possa revisar o material inventariado numa etapa posterior. O material, por sua vez, se refere ao elemento principal da composição e/ou do suporte do objeto. Por exemplo: madeira, barro, metal, marfim, tela pintada etc. 9. Como analisar as condições de segurança: A identificação das condições de segurança também segue o padrão de categorias, divididas em três situações: 1) Boa; 2) Regular; 3) Ruim. Um bem está em boas condições de segurança quando observamos as situações internas e externas do local em que ele está acondicionado e a grande maioria está adequada. Por exemplo: ambiente limpo, seco, arejado, protegido do sol e de variações de temperatura; objeto resguardado da circulação dos fiéis e fora do alcance de furtadores; prédio bem conservado, sem perigo de infiltrações, incêndios, inundações; vizinhança e bairro em boas condições de infraestrutura para escoamento pluvial, saneamento adequado etc. Caso o objeto não reúna grande parte das condições acima citadas, mas esteja em ambiente suficientemente arejado e limpo, longe do alcance do público geral e de possíveis sinistros, podemos classificá-lo como regular. Numa última hipótese, aqueles objetos que podem ser tocados e levados facilmente de um ambiente ou que estejam correndo perigo devido a condições de acondicionamento inadequado devem ser classificados na categoria ruim. Tais observações, quando feitas numa grande amostragem, são de suma importância para a gestão adequada das coleções, uma vez que permitem traçar o perfil dos acervos, indicando ações que devem ser tomadas de modo imediato para evitar possíveis perdas e danos. 10. Identificação do responsável pelo preenchimento da ficha e a data da mesma: ajudam a documentar a periodicidade dos inventários, possibilitando fazer novas revisões e atualizações de tempos em tempos. Recomendamos, nesta questão, que os inventários possam ser revisados pelo menos a cada três anos, principalmente para aqueles objetos que não careçam de alguma intervenção ou salvamento imediato. oswaldocruz2006@gmail.com
  • 27. 4º ENCONTRO Educar para Conservação dos Bens Culturais da Igreja “Para cumprir sua missão pastoral, a Igreja está comprometida em manter o patrimônio histórico e artístico em sua função original, inextricavelmente ligada à proclamação da fé e ao serviço da promoção integral do homem”.25 Ao contemplamos as belezas naturais e as criadas, agradecemos a Deus o mundo que nos rodeia, do patrimônio natural ao cultural, da ciência que descobre à educação que divulga o conhecimento. A Ele creditamos a inspiração e os dons que motivaram a humanidade à criação desse maravilhoso patrimônio cultural da Igreja. Cabe a nós aprendermos a preservá-lo, com novos conhecimentos e com a experiência das diversas gerações que os mantiveram até os dias atuais. Precisamos, portanto, conhecer e discutir os princípios básicos da conservação preventiva aplicada ao patrimônio eclesiástico e introduzir os preceitos da gestão de risco como ferramenta de preservação. 1. Contextualização L1: A educação patrimonial desperta a comunidade para a importância da preservação dos bens culturais que fazem parte da nossa identidade cultural, além de representar um processo artístico e histórico que nos constituiu enquanto cidadãos com direitos e deveres, inclusive o direito à beleza, à arte. Não é possível falar dos bens culturais brasileiros sem falar dos bens culturais da Igreja. Frutos da fé, religiosidade e caridade do nosso povo, os bens culturais eclesiásticos são um testemunho que deve ser exaltado e preservado pela sua importância histórica, cultural e religiosa. L2: A Carta de Villa Vigoni (1994), resultado do encontro promovido pelo Secretariado da Conferência Episcopal Alemã e pela Comissão Pontifícia para os Bens Culturais, afirma que os bens culturais constituem a expressão mais forte da tradição cristã e representam uma parte essencial da herança cultural da humanidade, sendo uma manifestação de Deus à humanidade, constituindo testemunhos da identidade e da tradição dos povos. L1: Podemos encontrar também, na Carta Circular A Função Pastoral dos Museus Eclesiásticos,26 que os bens culturais eclesiais são um patrimônio específico da comunidade cristã, tendo sua finalidade ordenada para a missão eclesial sob um duplo e coincidente dinamismo da promoção humana e da evangelização cristã. Dentre as 12 recomendações apresentadas pela Carta, destacam-se o ensino e a formação dos responsáveis do Estado e Igreja pelos bens culturais, assim como colaboradores científicos e técnicos, frisando a importância da formação dos párocos. L2: A Carta ainda destaca a importância de se confiar apenas a profissionais adequados o restauro dos bens eclesiais, bem como a importância da manutenção constante dos bens culturais, como uma obrigação concreta, de cada comunidade responsável. Segundo a Carta, os bens culturais eclesiais são um recurso primário, instrumento importante de atividade pastoral e de oswaldocruz2006@gmail.com
  • 28. reevangelização do mundo contemporâneo. Contudo, quando já há conscientização por parte da comunidade quanto à importância desse patrimônio cultural, ressalta-se a questão de como preservar esse rico patrimônio espalhado pelo território continental brasileiro. L1: A resposta a essa importante e consequente questão é a conservação preventiva. Se a educação patrimonial nos possibilita a compreensão da importância dos bens culturais eclesiais, a conservação preventiva pode instrumentalizar a comunidade socialmente envolvida sobre as ações e os princípios básicos de preservação dos bens culturais. L2: Pertencente à ciência do patrimônio, a conservação preventiva consiste em um conjunto de ações que visam à prevenção de possíveis danos a determinado patrimônio cultural, utilizando-se de métodos de controle e manutenção das condições ideais de preservação e segurança dos bens culturais da Igreja. L1: Os bens culturais podem ser classificados em bens intangíveis e tangíveis, embora no contexto da Igreja Católica eles estejam intrinsecamente ligados. Os bens intangíveis não possuem uma forma física e não podem ser tocados, como festividades, modos de fazer, cantigas, celebrações e rituais. Já os bens culturais tangíveis são os elementos que podem ser tocados e são visíveis, e podem ser classificados como imóveis, móveis e integrados. São exemplos de bens imóveis: igrejas, conjuntos históricos, casarões, sítios arqueológicos, edifícios. Já os bens móveis são as esculturas, pinturas, paramentos, joias, vestimentas, entre outros; e os bens integrados são os altares, retábulos, forros, lustres, azulejos, pisos, portas, sinos, etc. L2: Marcos históricos e paisagísticos na maioria das cidades brasileiras, as igrejas são os principais espaços arquitetônicos de proteção do patrimônio cultural eclesiástico, e diversas são tombadas nos diferentes níveis de governo e até mesmo internacionalmente. E mesmo as igrejas mais simples têm diversos bens culturais utilizados no espaço litúrgico que devem ser preservados. Contudo, as exigências pastorais e mudanças nos gostos das pessoas fizeram com que muitas peças passassem a ser obsoletas, e assim não serem mais utilizadas na liturgia. L1: Para a salvaguarda dessas imagens e desses objetos litúrgicos, é sugerida a implementação de museus e memoriais diocesanos. Mas deve-se considerar que esses bens não foram constituídos para serem guardados em museus, e sim para expressar o culto, a catequese, a cultura e a caridade. Dessa forma, o museu eclesiástico ou memorial é uma instituição pastoral que guarda e valoriza os bens culturais que outrora estavam a serviço da missão da Igreja.27 L2: Para ser possível a implementação de um processo educativo que proporcione os conhecimentos necessários para a conservação dos bens culturais eclesiásticos, é preciso pensar sobre algumas ações: L1: Primeira ação: participação de representantes da Igreja nos Conselhos Municipais de Cultura para garantir que sejam direcionados recursos para preservação e restauração desses bens culturais, além da exigência de cursos de conservação preventiva para as comunidades responsáveis por esses bens antes e após os processos de restauro. L2: Segunda ação: estabelecimento de protocolos de gestão de risco de desastres para que as ações devidas sejam executadas minimamente em caso de emergência. oswaldocruz2006@gmail.com
  • 29. L1: Terceira ação: divulgação para a comunidade de informações importantes para a salvaguarda dos bens, como locais de hidrantes, telefone de autoridades, responsáveis por chaves e acessos, rotas de fuga, locais seguros de armazenamento, dentre outros. L2: Quarta ação: assessoria para o estabelecimento de rotas de inspeção dos edifícios e dos acervos, assim como uma agenda anual de desinfestação de pragas, limpeza de calhas e sarjetas, vistoria de instalações e equipamentos elétricos, dentre outros. L1: Quinta ação: propiciar à comunidade eclesiástica o conhecimento sobre os principais agentes de deterioração desse patrimônio e a formulação de um projeto de gestão de risco. L2: Dentre os diversos processos utilizados pela ciência do patrimônio, no intuito de preservar esses bens, que podem estar em igrejas, museus ou memoriais, a Gestão de Risco é uma metodologia que apresenta os melhores resultados para a prevenção de possíveis danos que possam ser causados ao patrimônio cultural. A Gestão de Riscos lança mão de atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organização no que se refere a riscos. L1: Essa metodologia é utilizada para minimizar as possíveis perdas do patrimônio econômico e financeiro, e assim melhor direcionar recursos. É interessante frisar que, ao ser aplicada ao patrimônio cultural, além de possibilitar o controle de gastos e a alocação de recursos, possibilita um processo de formação da comunidade quanto às melhores práticas de conservação preventiva, manutenção e, principalmente, compreensão das condições ambientais favoráveis ao patrimônio cultural sacro. L2: A conservação preventiva tem como princípio a preservação dos bens culturais, enquanto a gestão de risco é uma das ferramentas utilizada para esse fim. Os riscos a que o patrimônio cultural da Igreja está exposto podem ser amenizados significativamente com uma formação adequada da comunidade eclesial nos princípios básicos aqui expostos. Ações simples e bem direcionadas podem assegurar a preservação desses bens ou um prazo maior entre as dispendiosas e perigosas restaurações. 2. Trocando ideias 1. Qual a função dos bens culturais eclesiásticos? 2. Em que consiste a conservação preventiva? 3. Qual a função do museu eclesiástico ou memorial? 4. Quais seriam as principais contribuições da conservação preventiva para os bens culturais eclesiásticos? 3. Mãos na massa Elabore um pequeno esquema descritivo com informações sobre a sua paróquia: Há sistemas de alarme contra invasão e incêndio? Há câmeras no interior da igreja e mediações? A região tem histórico de inundação, vandalismo, arrombamentos? A parte elétrica é antiga? Há inventário dos bens móveis e integrados? Há manutenção semestral do telhado, oswaldocruz2006@gmail.com
  • 30. desinfestação de pragas? Finalmente, apresente quais seriam as possíveis falhas quanto à conservação dos bens culturais da paróquia. 4. Proposta Semanal Verificar junto à Administração municipal se há Conselho Municipal de Cultura e se nele há representantes oficiais da Igreja católica. Verificar os valores destinados aos bens culturais do Município em relação aos demais investimentos em cultura no Município. Verificar se há protocolos de gerenciamento de risco na paróquia e/ou planos de emergência. 5. Aprendendo mais um pouco A seguir, encontram-se referências de algumas cartilhas e livros na área de gestão de risco do patrimônio cultural, e todos estão disponíveis gratuitamente na internet: – ABNT NBR IEC 31010, Gestão de riscos – Técnicas para o processo de avaliação de riscos –, 2018; – PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA. Carta Circular A função pastoral dos Arquivos eclesiásticos. Editora do Vaticano. Cidade do Vaticano, 1997; – SPINELLI, Jayme; PEDERSOLI Jr., José Luiz. Biblioteca Nacional: plano de gerenciamento de riscos, salvaguarda & emergência Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2011; – UNESCO. Gestão de riscos de desastres para o patrimônio. Brasília: Unesco, IPHAN, 2015; – UNESCO; ICCROM; ICOMOS; IUCN. Gestão de riscos de desastres para o Patrimônio Mundial, Manual de Referência do Patrimônio Mundial. Brasília, 2015, 80p. oswaldocruz2006@gmail.com
  • 31. 1 CONSELHO PONTIFÍCIO DA CULTURA. Documento Para uma Pastoral da Cultura, 23 de maio de 1999. 2 O conteúdo desta parte (Contextualização) é um resumo e uma apresentação sintética do documento Para uma Pastoral da Cultura, do Conselho Pontifício da Cultura. 3 SÃO JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptor Hominis no início do ministério pontifical, 4 de março de 1979. 4 SÃO JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Fides et Ratio sobre as relações entre fé e razão, 14 de setembro de 1998. 5 SÃO JOÃO PAULO II. Homilia da missa de entronização, 22 de outubro de 1978, OR (ed. port.), ano IX, n. 44 (465), p. 2. 6 CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium. In: SANTA SÉ. Concílio Ecumênico Vaticano II: Documentos. Brasília: Edições CNBB, 2018, p. 75-173. 7 SÃO PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi sobre a Evangelização no Mundo Contemporâneo, 8 de dezembro de 1975. 8 SÃO JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in America sobre o encontro com Jesus Cristo vivo caminho para a conversão, a comunhão e a solidariedade na América, 22 de janeiro de 1999. 9 SÃO JOÃO PAULO II. Discurso ao Conselho Pontifício da Cultura, OR (ed. port.) ano XXVIII, n. 13, p. 4 (136). 10 SÃO JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Ecclesia in Africa sobre a Igreja na África e sua missão evangelizadora rumo ao ano 2000, 14 de setembro de 1995. 11 O segundo encontro deste Subsídio tratará dessa temática, por ser um assunto pertinente e campo privilegiado para a ação pastoral e por ser objeto de grande interesse e de missão do Setor Bens Culturais da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação da CNBB. 12 PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA. Carta Circular sobre a Função Pastoral dos Museus Eclesiásticos, 15 de agosto de 2001, n. 1.1. 13 ASSEMBLEIA PLENÁRIA DOS BISPOS. Via Pulchitudinis. São Paulo: Loyola, 2006, p. 41. 14 SÃO JOÃO PAULO II. Carta aos artistas. 7 ed. São Paulo: Paulinas, 2010. 15 ASSEMBLEIA PLENÁRIA DOS BISPOS. Via Pulchitudinis. São Paulo: Loyola, 2006, p. 36. 16 Ibidem, p. 44. 17 CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Gaudium et Spes. In: SANTA SÉ. Concílio Ecumênico Vaticano II: Documentos. Brasília: Edições CNBB, 2018, p. 199-329. 18 ASSEMBLEIA PLENÁRIA DOS BISPOS. Via Pulchritudinis. São Paulo: Loyola, 2006, p. 51. 19 RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da liturgia. 4 ed. Prior Velho: Paulinas, 2011, p. 94. 20 PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA. Carta Circular sobre a Necessidade e Urgência do Inventário e Catalogação do Patrimônio Cultural da Igreja, 8 de dezembro de 1999. 21 São instituições criadas no período: 1) o Museu Histórico Nacional (1922); 2) o Curso de Museus, primeira formação superior em Museologia no Brasil (1932); 3) o Museu Nacional de Belas Artes (1937); 4) o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) (1937); 5) o Museu da Inconfidência (1938); 6) o Museu Imperial (1940). 22 Destacamos as obras: O Aleijadinho, de Germain Bazin (1963), ainda disponível em sebos e livrarias virtuais, e as Revistas do Patrimônio, publicadas pelo IPHAN a partir de 1937 e disponibilizadas no link: http://portal.iphan.gov.br/publicacoes/lista?categoria=23&busca=&pagina=4. 23 SANTA SÉ. Código de Direito Canônico. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 1983. 24 Uma possibilidade de consulta preliminar, apenas para identificação básica das imagens é a sessão: https://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Santos 25 PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA. Carta Circular sobre a Necessidade e Urgência do Inventário e Catalogação do Patrimônio Cultural da Igreja, 8 de dezembro de 1999. 26 PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA. Carta Circular sobre a Função Pastoral dos Museus Eclesiásticos, 15 de agosto de 2001. 27 Idem oswaldocruz2006@gmail.com