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O atraso das páginas vazias

       O despertador inconveniente completou o sonho desconhecido. Eram
sete da manhã e já se ouvia o barulho dos comboios parados . Eu ,
entusiasmada com este dia tão barulhento do seu silêncio e tão interessante
da sua insignificância , arranjei-me como a pressa de um caracol e saí de
casa . Dirigi-me para a escola, aqueles “edifícios” onde a cor cinzenta paira,
onde as paredes são rijas como uma bolha de sabão e onde a motivação
brilha numa gaveta fechada a sete chaves algures no meio da rotunda das
Olaias.
       As rectas traçadas nos papeis gratuitos do lápis mal afiado chamaram
a minha atenção para o “começar” do dia. As minhas mãos tinham então
começado a “trabalhar”. Os pontos, as rectas e a folha de papel começaram
a contar os minutos e os segundos que insistiam em querer parar no tempo
sem fim daquele espaço cheio de pessoas, tal e qual como o café medíocre
da máquina da sala dos alunos.
       O tempo, que de qualquer modo teria de continuar o seu trajecto,
inundou-se num intervalo grandioso composto por quinze minutos. Nesse
intervalo, na “escola” recheada de alunos como os pacotes de batatas fritas
do supermercado, observavam-se seres pensantes com os seus
pensamentos constituídos por uma nuvem de fumo, um sol com saudades
das nuvens e o vento invisível que soprava a paciência de cada aluno.
       Depois de um curto espaço de tempo, encontrava-me sentada de novo
naquelas cadeiras de madeira. Cadeiras fragilizadas com o peso da vontade
de acabar aquelas setecentas e vinte cinco páginas que, ainda conseguiam
achar o tal brilho dos olhos fechados. A língua portuguesa voava num avião ,
as letras pretas do livro inconfundível desciam num labirinto de escadas
enquanto que eu baloiçava no meio dos recursos estilísticos.
       O barulho da campainha fechou o livro inconfundível. Foi então que
me levantei e que me apercebi que estava na hora de me dirigir para a linha
do horizonte. O sinal do veículo subterrâneo permaneceu verde durante a
minha viagem até ao Rossio. Antes de apanhar o impossível transporte que
me levaria até à linha do horizonte, fui satisfazer os ponteiros do relógio que
já há muito batiam dentro de mim. A “gigante” fila de espera agradou os meus
pés que não tinham por onde fazer círculos, ficando eles embasbacados com
tantas linhas rectas.
       A estação do rossio brilhava com a escuridão dos avisos feitos.
Comprei o meu bilhete e, com muita esperança, entrei no comboio sem luzes
que não parava de se mexer como uma estátua. Dentro deste permaneci
durante meia hora, até que decidi, após um aviso incomodativo, levantar-me
e sair do mesmo. As caras das pessoas expressavam uma credível
satisfação como a minha vontade de estar quieta . Foi por isso que decidi
dançar um tango no meio da estação até que viesse um outro aviso mais
incomodativo do que o outro. Mas não veio, apanhei o comboio e cheguei à
linha do horizonte.
       O objectivo desta viagem afogou as expectativas e a vontade do
público no buraco do guião mal decorado pelos actores. Pela primeira vez na
minha vida o meu corpo pediu –me algo que nunca me tinha pedido antes a
meio de um teatro. O meu corpo atordoou na cadeira confortável daquela
sala às escuras, devido àquele vídeo carregado do vazio, das cores
irreverentes, do pesadelo que se tornou o livro inconfundível. As personagens
tiravam o ego ao vídeo, o vídeo tirava o ego às personagens. O meu olho às
vezes despertava e cada vez mais se desiludia com tantos erros, com tantos
sons insuportáveis, com tantas interpretações amargas que deturpavam as
descrições deliciosas do tal livro. Enfim, o desgosto instalou-se no meu corpo
que, cansado de ouvir o movimento das personagens mal copiadas, decidiu
tentar abstrair-se e esperar pelo fim de uma peça de teatro. Peça que no meu
pensamento só me lembrava uma fotografia desfocada que tropeçava nas
mãos do público.
       Acabou-se o fiasco da peça que em todos nós estava virada do
avesso como a roupa está antes de ser passada a ferro.
       O único desejo que tinha era de voltar para o fim do mundo que era o
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sinais piscavam os olhos dos condutores, onde a pressa invadia os corações
dos portugueses. Desejo que concretizei com rapidez, pois para ir para o fim
do mundo esperei apenas cinco minutos, minutos em que o desgosto fazia
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A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 

O Atraso das Páginas Vazias

  • 1. Inês Marques 11F O atraso das páginas vazias O despertador inconveniente completou o sonho desconhecido. Eram sete da manhã e já se ouvia o barulho dos comboios parados . Eu , entusiasmada com este dia tão barulhento do seu silêncio e tão interessante da sua insignificância , arranjei-me como a pressa de um caracol e saí de casa . Dirigi-me para a escola, aqueles “edifícios” onde a cor cinzenta paira, onde as paredes são rijas como uma bolha de sabão e onde a motivação brilha numa gaveta fechada a sete chaves algures no meio da rotunda das Olaias. As rectas traçadas nos papeis gratuitos do lápis mal afiado chamaram a minha atenção para o “começar” do dia. As minhas mãos tinham então começado a “trabalhar”. Os pontos, as rectas e a folha de papel começaram a contar os minutos e os segundos que insistiam em querer parar no tempo sem fim daquele espaço cheio de pessoas, tal e qual como o café medíocre da máquina da sala dos alunos. O tempo, que de qualquer modo teria de continuar o seu trajecto, inundou-se num intervalo grandioso composto por quinze minutos. Nesse intervalo, na “escola” recheada de alunos como os pacotes de batatas fritas do supermercado, observavam-se seres pensantes com os seus pensamentos constituídos por uma nuvem de fumo, um sol com saudades das nuvens e o vento invisível que soprava a paciência de cada aluno. Depois de um curto espaço de tempo, encontrava-me sentada de novo naquelas cadeiras de madeira. Cadeiras fragilizadas com o peso da vontade de acabar aquelas setecentas e vinte cinco páginas que, ainda conseguiam achar o tal brilho dos olhos fechados. A língua portuguesa voava num avião , as letras pretas do livro inconfundível desciam num labirinto de escadas enquanto que eu baloiçava no meio dos recursos estilísticos. O barulho da campainha fechou o livro inconfundível. Foi então que me levantei e que me apercebi que estava na hora de me dirigir para a linha do horizonte. O sinal do veículo subterrâneo permaneceu verde durante a minha viagem até ao Rossio. Antes de apanhar o impossível transporte que me levaria até à linha do horizonte, fui satisfazer os ponteiros do relógio que já há muito batiam dentro de mim. A “gigante” fila de espera agradou os meus pés que não tinham por onde fazer círculos, ficando eles embasbacados com tantas linhas rectas. A estação do rossio brilhava com a escuridão dos avisos feitos. Comprei o meu bilhete e, com muita esperança, entrei no comboio sem luzes que não parava de se mexer como uma estátua. Dentro deste permaneci durante meia hora, até que decidi, após um aviso incomodativo, levantar-me e sair do mesmo. As caras das pessoas expressavam uma credível satisfação como a minha vontade de estar quieta . Foi por isso que decidi dançar um tango no meio da estação até que viesse um outro aviso mais incomodativo do que o outro. Mas não veio, apanhei o comboio e cheguei à linha do horizonte. O objectivo desta viagem afogou as expectativas e a vontade do público no buraco do guião mal decorado pelos actores. Pela primeira vez na
  • 2. minha vida o meu corpo pediu –me algo que nunca me tinha pedido antes a meio de um teatro. O meu corpo atordoou na cadeira confortável daquela sala às escuras, devido àquele vídeo carregado do vazio, das cores irreverentes, do pesadelo que se tornou o livro inconfundível. As personagens tiravam o ego ao vídeo, o vídeo tirava o ego às personagens. O meu olho às vezes despertava e cada vez mais se desiludia com tantos erros, com tantos sons insuportáveis, com tantas interpretações amargas que deturpavam as descrições deliciosas do tal livro. Enfim, o desgosto instalou-se no meu corpo que, cansado de ouvir o movimento das personagens mal copiadas, decidiu tentar abstrair-se e esperar pelo fim de uma peça de teatro. Peça que no meu pensamento só me lembrava uma fotografia desfocada que tropeçava nas mãos do público. Acabou-se o fiasco da peça que em todos nós estava virada do avesso como a roupa está antes de ser passada a ferro. O único desejo que tinha era de voltar para o fim do mundo que era o centro de Lisboa que neste dia especial transbordava de poluição, em que os sinais piscavam os olhos dos condutores, onde a pressa invadia os corações dos portugueses. Desejo que concretizei com rapidez, pois para ir para o fim do mundo esperei apenas cinco minutos, minutos em que o desgosto fazia sobressair a expressão ausente dos meus olhos irritados. Pois o comboio conveniente completou o pesadelo conhecido , comboio cheio do nada , comboio sem volta à linha do horizonte parada.