A personagem reflete sobre o amor que sente por outra pessoa e os sintomas que o acompanham, como ansiedade e aceleração cardíaca. Ela busca definir o amor em dicionários e teorias filosóficas, mas nenhuma delas parece satisfatória. A personagem continua sem compreender completamente o que sente, mas irá continuar expressando seu amor pela outra pessoa usando essa palavra até que seja inventada uma nova para descrevê-lo.
1. Carolina Machado 11º J
Tenho vindo a reflectir sobre este reflexo divino, impulso primário, ilusão, força cardeal ou lá o
que isto é. Apercebi-me de que desconheço por completo a origem deste estranho fenómeno
que em mim acontece. Realmente, não percebo o porquê deste sufoco, deste batimento
cardíaco descompassado, desta ansiedade constante. Presumo que seja amor. Costumam dizer
que estes são os sintomas. Toda a gente sabe o que é o amor (ou, pelo menos, pensa que
sabe). No meio de tantas metáforas rascas, decoradas, usadas até à exaustão, poesia pirosa,
lamechices e coisinhas do género, foi no Grande Dicionário Enciclopédico, que o meu avô me
deu aqui há uns anos, que fui encontrar uma definição concreta para estes sintomas. Lá
descobri que o amor é uma força de atracção, uma potência irresistível que empurra o Homem
para a renúncia ou para a entrega. […]afecto que se traduz na vinculação a uma pessoa ou a
uma coisa na qual o que ama projecta a noção de bem verdadeiro e à qual está, por isso,
disposto a sacrificar outros valores. Tomei conhecimento da interpretação subtil e
despersonalizada de Platão, que nos diz que a alma sente-se atraída para a beleza das coisas
por uma espécie de recordação (teoria da reminiscência) das formas puras que conheceu, em
estado anterior à sua união com a matéria. [… ]esta força de tender para o ideal, arrasta-nos
também para o lugar donde somos originários. No materialismo místico de Giordano Bruno, o
amor recupera a força cósmica que torna possível a harmonia do universo. […] O amor é como
um desejo veemente pela beleza divina, que compreende em si toda a beleza do universo. Nem
estas teorias me satisfazem.
Continuo sem saber o que é isto que me bloqueia por completo, que me deixa com
esta estúpida voz trémula, que me enaltece o espírito sempre que me encontro na tua
presença. Se nem Empédocles, nem Platão, nem Kant, nem Teilhard de Chardin conseguem
descrever e explicar claramente este misterioso fenómeno, não serei eu que o farei. Começo a
desconfiar seriamente da existência de uma definição para a palavra amor… mas não havendo
outra forma de expressar verbalmente aquilo que sinto, vou continuar a dizer que te amo até
que alguém invente outra palavra.
3h46, Sábado, 13 de Fevereiro de 2010
CAROLINA MACHADO DA SILVA | 11J