1) Em novembro de 1807, a família real portuguesa e a Corte partiram para o Brasil um dia antes das tropas de Napoleão ocuparem Lisboa, iniciando uma viagem de quase dois meses no Oceano Atlântico.
2) A viagem foi difícil devido à superlotação dos navios e à falta de condições sanitárias, causando problemas de saúde como escorbuto entre os passageiros.
3) Após sofrerem tempestades e doenças, a esquadra portuguesa finalmente chegou a Salv
1. GAZETA DE LISBOA
BRASIL, Salvador, 24 de Janeiro de 1808
Dia 29 de novembro de 1807. O nosso Príncipe-Regente Dom João de Bragança, a
família real e a Corte partiram para o Brasil… um dia antes de as tropas de Napoleão
ocuparem Lisboa e sem data de regresso.
Estratégia política? Ou deserção cobarde? A população de Lisboa assistiu perplexa a
toda esta movimentação feita à pressa…
10 a 15 mil pessoas da aristocracia, todos os seus pertences, todo o dinheiro do
Tesouro português, as joias da Coroa, um sem número de quadros, baús de roupa,
malas, malinhas, obras de arte, mais de 60000 livros da Biblioteca Real, inúmeros
animais e toda a espécie de alimentos. Um caos.
Finalmente, lá se seguiu viagem e naquela manhã de chuva intensa a Esquadra
portuguesa (8 naus, 3 fragatas, escunas e brigues) partiu do Porto de Lisboa.
Foram quase dois meses só para atravessar o Oceano Atlântico. Foi uma viagem cheia
de preocupações, sofrimentos e de grandes tempestades pelo caminho.
Com os navios cheios, não sobrava espaço para acomodar todos. Muitos viajaram
com a roupa do corpo, pois nem tudo pode ser embarcado. A água e os alimentos
foram racionados. A alimentação era à base de biscoitos, azeite, repolho azedo e
carne salgada de porco ou bacalhau. Não havia casas de banho e, portanto, a higiene
era um pesadelo. O cheiro era horrível. O navio da Princesa Carlota Joaquina sofreu
uma infestação de piolhos tal que todas as mulheres tiveram que rapar o cabelo e
atirar as perucas ao mar. Ratos, baratas e carunchos infestaram os depósitos de
mantimentos. Houve também vários problemas de saúde.
Pela falta de vitamina C, muitos sofreram de escorbuto, doença que faz com que os
dentes caiam apenas com um simples toque.
2. Os membros da corte portuguesa passaram a viagem toda a vomitar, devido à grande
agitação marítimaquesefezsentirsemdónempiedade.
NemoPríncipe-Regenteescapouaosproblemas.Ficoucomfebredevidoaumapicada
de um carrapato. Os médicos aconselharam Dom João a tomar banho com água do
mar, mas como tinha medo de ser atacado pelos crustáceos (ele tinha pavor destes
bichos), ordenou sua Alteza que construíssem uma caixa de madeira na água. Assim,
perante os olhares espantados de muitos, procedeu-se à construção da tal
“
“banheira”
paraque o Príncipe-Regentese pudessebanharcomodamentenaságuasdapraia.Dom
João melhorou rapidamente e prova disso foi a recuperaçãoo do apetite à base dos
franguinhosassados namanteiga,semossos,que traziasemprenaalgibeiradacasacae
que atacava com gula (de referir que a casaca era sempre a mesma, pois o Príncipe-
Regenteusousempre amesmaroupa).
Depois de tanta atribulação, eis que a Esquadra portuguesa chega a Salvador, a 22 de
Janeirode1808,depoisde54diasdeviagem.
RafaelNeto,GazetadeLisboa,24 de Janeirode1808