1. LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE
LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
2ª Edição
A.'.R.'.L.'.S.'.M.'. FRATERNIDADE E PAZ Nº 4
Jurisdicionada ao Gr.'. Or.'. da Franco Maç.'. Mista do Sul do Brasil
Ao Or.'. de Pelotas, Abril de 2014 E.'.V.'., 6014 V.'.L.'.
2.
3. Este livro é dedicado a todos os homens e mulheres que,
empenhados no trabalho desinteressado em prol da
humanidade, compreenderam que só por meio do
autoconhecimento e do aprimoramento de si próprio,
poder-se-á realizar o destino luminoso do Homem, qual
seja, realizar-se como Ser Divino.
PROFANO: AFASTA-TE DESTE LIVRO! SE TUA
CURIOSIDADE LEVOU-TE A CONSEGUI-LO,
LEMBRA-TE QUE APENAS AQUELES
PREPARADOS PODEM DELE CONSEGUIR
CONHECIMENTO E AJUDA. O PROFANO SÓ
PODERÁ ENCONTRAR AQUI A SUA PERDIÇÃO!
4.
5. Estandarte da A.'.R.'.L.'.S.'.M.'. Fraternidade e Paz Nº 4
Fundada em 22 de Setembro de 2012
Jurisdicionada ao Gr.'. Or.'. da Franco Maç.'. Mista do Sul do Brasil
6.
7. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
SAUDAÇÕES FRATERNAIS QUERIDO IRMÃO
S.'. F.'. U.'.
Hoje ingressas nas fileiras da Franco-Maçonaria, tornando-te membro desta Ordem tão
antiga e sobre a qual muito o mundo profano fala, com misto de respeito, preconceito e mistério.
Neste momento os Obreiros da Aug.'. e Resp.'. Loj.'. Simb.'. Mist.'. Fraternidade e Paz Nº 4 dão-te
as boas-vindas à nossa Oficina, representados pela pessoa de seu Venerável Mestre.
Começas agora uma nova vida, como Aprendiz Maçom, gestado que fostes dentro da
Tumba, Ovo ou Útero que é a Câmara de Reflexões, durante a Iniciação ao Grau de Aprendiz.
Como dizem os Evangelhos, “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na
terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.” (João 12:24). Deixastes para trás tua
vida mundana, para a qual morrestes, para renascer um novo homem comprometido com os
elevados ideais éticos da Maçonaria Universal.
Teu caminho dentro de nossa Ordem é longo e deve ser pautado pela Vontade e Sigilo, como
diz o lema: “Saber, querer, ousar e calar”. Terás ao teu lado o Venerável Mestre, responsável que é
pela Instrução de todos os Obreiros da Loja, assim como a orientação do Irmão 2º Vigilante,
responsável pela Instrução dos Aprendizes. Ao Irmão 2º Vigilante deverás reportar-te em caso de
qualquer dúvida e a ele, quando findo o tempo de estudo como Aprendiz Maçom, deverás solicitar
aumento de salário. Teus três anos de idade representam a tua inexperiência na nossa Augusta
Ordem, assim como o tempo simbólico que deves esperar para pedir aumento de salário. Ao
Aprendiz não é dado o direito da fala, pois ele humildemente deve primeiro estudar e prepara-se
para sua Exaltação ao Grau de Mestre Maçom, quando então terá plenamente desenvolvido o poder
do Verbo.
Percebe querido Irmão que a escolha do nome de nossa Oficina, Fraternidade e Paz, já
encerra para ti a primeira Instrução, qual seja, a busca pela fraternidade dentro de nossa Egrégora, o
trabalho caritativo e a luta pela paz para a humanidade, a Glória do Grande Arquiteto do Universo.
Este livro, de uso exclusivo dos membros de nossa Oficina, pretende ser um manual de
consulta e será fonte de conhecimento e instrução para ti nesta tua caminhada como Aprendiz
Maçom. Estuda-o com vigor, afinco e dedicação. Tenha em mente sempre o lema maior de nossa
Ordem: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Trabalhamos pela liberdade e pela igualdade de
direitos de todos os homens, buscando a justiça social, para construir uma Grande Fraternidade
Universal.
Tr.'. e Frat.'. Abr.'.
Ven.'. Mestr.'.
Aug.'. e Resp.'. Loj.'. Simb.'. Mist.'. Fraternidade e Paz Nº 4
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9. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 11
GLOSSÁRIO DE ABREVIATURAS MAÇÔNICAS.......................................................... 13
O QUE É A MAÇONARIA?................................................................................................... 15
UMA PROPOSTA DE INSTRUÇÃO MAÇÔNICA............................................................ 18
MOVIMENTAÇÃO E POSTURA EM LOJA...................................................................... 19
BATERIA, ACLAMAÇÃO, TOQUE E PALAVRA............................................................. 20
TROLHAMENTO................................................................................................................... 21
TERMINOLOGIA MAÇÔNICA........................................................................................... 22
HISTÓRIA, LEGISLAÇÃO E ÉTICA MAÇÔNICA.............................................. 23
HISTÓRIA DA FRANCO-MAÇONARIA............................................................................ 25
O ORDENAMENTO LEGAL MAÇÔNICO - ÉTICA E MORAL.................................... 29
AS VIRTUDES MORAIS....................................................................................................... 31
A MAÇONARIA MISTA NO RIO GRANDE DO SUL....................................................... 32
SIMBÓLICA MAÇÔNICA............................................................................................... 35
SÍMBOLO, ALEGORIA E SIMBOLISMO.......................................................................... 37
A INICIAÇÃO......................................................................................................................... 38
A CÂMARA DE REFLEXÕES.............................................................................................. 40
AS VIAGENS DO APRENDIZ.............................................................................................. 42
O SINAL DE APRENDIZ....................................................................................................... 46
AS FERRAMENTAS DO APRENDIZ.................................................................................. 47
O AVENTAL DO APRENDIZ................................................................................................ 49
O DELTA LUMINOSO........................................................................................................... 50
OS CARGOS EM LOJA......................................................................................................... 52
OS TRÊS PILARES................................................................................................................ 54
A CORDA DE 81 NÓS............................................................................................................ 55
O PAINEL DO GRAU DE APRENDIZ................................................................................. 57
GEOMETRIA SAGRADA..................................................................................................... 58
O SIGNIFICADO DO TEMPLO MAÇÔNICO................................................................... 60
A CABALA JUDAICA............................................................................................................ 63
LEITURA COMPLEMENTAR....................................................................................... 67
A TÁBUA DE ESMERALDA................................................................................................. 69
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10. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
O DISCURSO DE PIMANDRO............................................................................................. 70
DUAS ORAÇÕES PARAALQUIMISTAS........................................................................... 74
LEITURAS RECOMENDADAS........................................................................................... 75
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13. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
GLOSSÁRIO DE ABREVIATURAS MAÇÔNICAS
A.'.G.'.D.'.G.'.A.'.D.'.U.'. - A Glória do Grande Arquiteto do Universo
A.'.R.'.L.'.S.'.M.'. - Augusta e Respeitável Loja Simbólica Mista
AApr.'. - Aprendizes
Apr.'. - Aprendiz
Apr.'. M.'. - Aprendiz Maçom
Aug.'. e Resp.'. Loj.'. Simb.'. Mist.'. - Augusta e Respeitável Loja Simbólica Mista
Bal.'. - Balaústre
Cad.'. de Un.'. - Cadeia de União
CCol.'. - Colunas
CComp.'. - Companheiros
Chan.'. - Chanceler
Cob.'. - Cobridor
Cob.'. Ext.'. - Cobridor Externo
Cob.'. Int.'. - Cobridor Interno
Col.'. - Coluna
Col.'. do N.'. - Coluna do Norte
Col.'. do S.'. - Coluna do Sul
Comp.'. - Companheiro
Comp.'. M.'. - Companheiro Maçom
DDiac.'. - Diáconos
Diac.'. - Diácono
E.'.V.'. - Era Vulgar
Exp.'. - Experto
G.'.A.'.D.'.U.'. - Grande Arquiteto do Universo
G.'. do T.'. - Guarda do Templo
Gr.'. - Grau
Gr.'. Mestr.'. - Grão Mestre
Gr.'. Or.'. - Grande Oriente
Hosp.'. - Hospitaleiro
IInstr.'. - Instruções
IIr.'. - Irmãos
IIrm.'. - Irmãos
Inic.'. - Iniciação
Instr.'. - Instrução
Ir.'. - Irmão
Irm.'. - Irmão
L.'. da L.'. - Livro da Lei
Loj.'. - Loja
M.'.I.'.C.'.T.'.M.'.R.'. - Meus Irmãos Como Tal Me Reconhecem
M.'.M.'. - Mestre Maçom
Mest.'. de CCer.'. - Mestre de Cerimônias
Mestr.'. - Mestre
Mestr.'. de Harm.'. - Mestre de Harmonia
MM.'.MM.'. - Mestres Maçons
MMestr.'. - Mestres
Obr.'. - Obreiro
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14. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
Ofic.'. - Oficina
OObr.'. - Obreiros
Or.'. - Oriente; Ordem; Orador
Orad.'. - Orador
Pal.'. de P.'. - Palavra de Passe
Pal.'. S.'. - Palavra Sagrada
Pran.'. Tr.'. - Prancha Traçada
S.'.F.'.B.'. - Sabedoria, Força, Beleza
S.'.F.'.U.'. - Saúde, Força, União
Sac.'. de PProp.'. e IInform.'. - Saco de Propostas e Informações
Sec.'. - Secretário
Secr.'. - Secretário
T.'. A.'. - Três Anos
T.'. e P.'. - Toque e Palavra
T.'.F.'.A.'. - Tríplice e Fraternal Abraço
Temp.'. - Templo
Tes.'. - Tesoureiro
Tr.'. de Ben.'. - Tronco de Beneficiência
Tr.'. de Solid.'. - Tronco de Solidariedade
Tr.'. e Frat.'. Abr.'. - Tríplice e Fraternal Abraço
Trab.'. - Trabalho
TTrab.'. - Trabalhos
V.'.S.'.P.'.T.'.V.'.T.'. - Vos Saúda Por Três Vezes Três
Ven.'. - Venerável
Ven.'. Mestr.'. - Venerável Mestre
Vig.'. - Vigilante
V.'.L.'. - Ano da Verdadeira Luz
VVig.'. - Vigilantes
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15. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
O QUE É A MAÇONARIA?
Uma das características marcantes do Homem é o desejo pelo aperfeiçoamento pessoal,
tanto espiritual quanto cultural. Junto com esta tendência surge também o desejo de ser útil à
coletividade. Isso provoca naturalmente a busca por alguma associação ou sociedade iniciática.
Sentem-se as pessoas naturalmente atraídas pelos aspectos simbólicos presentes na Maçonaria, e
também pelo trabalho filantrópico feito por ela. No entanto, devemos advertir que a Maçonaria não
é simplesmente uma sociedade filantrópica, nem uma sociedade esotérica e mística. A Maçonaria
reveste-se de características próprias que a diferenciam do trabalho feito por outras sociedades
fraternais.
O nome da Maçonaria deriva, provavelmente, do francês “Maçonnerie”, que denota uma
construção qualquer, feita por um pedreiro, o “Maçom”, pedreiro-livre, o construtor que trabalha
para edificar a construção. Segundo uma antiga ordenança, “A Maçonaria é uma instituição
universal ... Todos os maçons constituem uma e a mesma família e dão-se o tratamento de irmãos,
sendo iguais perante a lei … A Maçonaria estende a todos os homens os laços fraternais que unem
os maçons sobre a superfície do globo”. Assim, a Maçonaria rompe com quaisquer concepções de
fronteiras e nacionalidades, acreditando que todos os homens são irmãos, independente de serem ou
não maçons.
A Maçonaria é uma organização apolítica, não envolvendo-se em assuntos políticos ou
religiosos, como diz a Constituição de Anderson: “Portanto, quaisquer pendências ou querelas
acerca de religião, cidadania ou política não devem ser conduzidas para dentro das portas das
Lojas”. Ela é uma fraternidade adogmática, iniciática e simbólica que fundamenta-se em tradições
místicas e esotéricas, resgatando e restaurando o simbolismo das Escolas de Mistérios da
antiguidade. A Maçonaria dedica-se, discreta e sigilosamente, ao desenvolvimento cultural, moral e
espiritual da humanidade. Ela é uma fraternidade universal, cujo método de aprendizado faz um
ênfase no estudo pessoal e no auto-aprimoramento, buscando a evolução do Homem enquanto Ser
Espiritual, junto com uma melhoria da sociedade, por meio de envolvimento em atividades
educacionais, culturais e filantrópicas.
A Maçonaria investiga o mundo e o Homem por meio da razão, na busca da VERDADE.
Como diz a máxima maçônica: “MAGMA EST VERITAS ET PRAEVALABIT” (“A Verdade é
superior e ela prevalecerá”).
A Maçonaria é definida, muito propriamente, como “um sistema de moral velado por
alegorias e ilustrado por símbolos”. As alegorias e símbolos são representações e explicações das
grandes questões filosóficas nas quais a humanidade sempre esteve envolvida: “De onde viemos?”;
“O que somos?”; “Qual o sentido da existência?”; “Para onde vamos?” etc. Assim, a Maçonaria é
Ciência em seu aspecto mais profundo e filosófico, partindo da premissa que Homem e Natureza
são uma única unidade, e buscando sua aplicação prática na ética humana e na evolução espiritual
da humanidade.
A Maçonaria não é uma Religião! Por que? Porque, diferente das religiões, embora faça seus
trabalhos A.'.G.'.D.'.G.'.A.'.D.'.U.'., não possui uma mensagem salvacionista. O Maçom faz o Bem
porque assim o quer, independente de alguma recompensa ou castigo futuro. Devemos nos lembrar
o que nos fala a filosofia, que sem Deus não há o Bom e o Bem. Assim, independente da religião ou
credo do Maçom, exige-se dele que acredite no G.'.A.'.D.'.U.'. e na sobrevivência da Alma, que é
imortal.
Maçonaria é construir o Homem, como um edifício completo. O trabalho com a Pedra Bruta
é exatamente a auto-construção deste Homem como um Ser Espiritual completo. O Maçom tem o
compromisso de lutar pela justiça, pela paz e pela compreensão entre os povos.
A principal ferramenta e o método fundamental do Maçom para efetivar seu trabalho é a
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16. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
razão. O Maçom luta contra a ignorância e a cegueira e rejeita o fanatismo estéril que a tudo destrói.
Ele conhece suas potencialidades e seus defeitos. Conhece-se profundamente, seguindo a máxima
inscrita por Sócrates no Templo de Delfos: “NOSCE TE IPSUM” (“Conhece-te a ti mesmo”). Ao
conhecer-se a si mesmo, o Homem, liberto das amarras da vaidade e do egoísmo, compreende o
Mundo, a Natureza e a função de todas as coisas, pois o Mundo é o reflexo do Homem. Este é o
verdadeiro Mestr.'. M.'., pleno de sabedoria e compreendendo os aspectos mais profundos da
criação, onde encontra Deus, o G.'.A.'.D.'.U.'.
A Maçonaria possui um terrível segredo, divino em sua origem, desconhecido pelos
profanos e perdido pelos que se dizem maçons. O Segredo Maçônico jaz oculto no interior do
próprio Homem. Ele não é um segredo tangível ou material, mas sim espiritual, iniciático e
construtivo. O Segredo Maçônico é a chave para decodificar o Universo e compreender a existência
humana. Um Segredo incomunicável por palavras, mas que foi objeto de busca por inúmeras
escolas de mistério da antiguidade, e que segue sendo o Santo Graal da Maçonaria Universal. Uma
vez que o maçom compreenda que ele próprio é a chave que decodifica todos os símbolos, percebe
que deve preparar-se para esta “revelação” dos símbolos. Assim, o maçom dedica-se à “arte de
construir”. Como dizem as escrituras: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra
angular. ” (Salmos 118:22). Mas o que o maçom constrói não é outra coisa senão ele próprio,
tomando a matéria prima impura e tornando-a pura e adequada a essa construção.
Segundo o grande Maçom e Rosacruz Jorge Adoum (Mago Jefa): “Nenhum ser tem o direito
de chamar-se de 'Maçom' porque ser maçom é ser Super-Homem iluminado, que segue o caminho
da Verdade e da Virtude, fazendo delas carne de sua carne, sangue de seu sangue, vida de sua vida.”
Segue o grande escritor Maçom: “O grande objetivo da Maçonaria é o despertar do poder latente
que se acha em cada ser, e converter o homem em Deus consciente de sua divindade sem limitações
e dúvidas. O Maçom tem que trabalhar inteligentemente para o bem dos demais. Seu esforço tem
que ser dedicado ao progresso universal. Deve ajudar o Grande Arquiteto do Universo em sua
Obra.”
Ninguém conseguiu melhor que Fernando Pessoa definir o Segredo Maçônico em versos:
“O verdadeiro Segredo Maçônico...
É um segredo de vida
e não de ritual
e do que se lhe relaciona.
Os Graus Maçônicos comunicam àqueles que os recebem,
sabendo como recebe-los,
um certo espírito,
uma certa aceleração da vida
do entendimento
e da intuição,
que atua como uma espécie
de chave mágica dos próprios símbolos,
e dos símbolos
e rituais não maçônicos,
e da própria vida.
É um espírito,
um sopro posto na Alma,
e, por conseguinte,
pela sua natureza,
...incomunicável.”
A Maçonaria tem uma história profana e outra secreta, ou seja, um aspecto exterior e outro
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17. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
interior. O aspecto exterior é para os profanos, o interior para os Verdadeiros INICIADOS que estão
capacitados a recebe-lo. A Maçonaria Mística (de misto, secreto ou mudo, mas também significando
sagrado) é essencialmente iniciática e cujo segredo não pode ser transmitido por palavras. A
PALAVRA PERDIDA é buscada pela humanidade desde os mais antigos tempos, e ela significa a
queda espiritual do Homem, representada na alegoria bíblica da expulsão de Adão e Eva do Paraíso.
A Palavra Perdida só pode ser reencontrada no mais profundo âmago do Homem, por isso ela não
pode ser dita ou transmitida. Sua mais próxima descrição é a PAZ INTERIOR.
A busca pela Palavra Perdida foi obra que envolveu todas as Escolas de Mistério e
Instituições Secretas do passado: China; Índia; Egito; Caldéia; Grécia (Escola Pitagórica e
Platônica); Cabala Judaica; Alquimia Medieval; Hermetismo Islâmico; Rosacrucianismo; e,
finalmente, a Maçonaria Oculta ou Mística.
O objetivo da Maçonaria é resgatar o Homem de seu estado caído, e leva-lo novamente ao
seu estado divino original, como diz a máxima maçônica: “O HOMEM É MUITO MAIS UM
DEUS CONVALESCENTE QUE UM BRUTO EM ASCENÇÃO”.
Segundo Jorge Adoum: “A Verdadeira Maçonaria e sua história respondem à pergunta que
preocupa a mente de todo ser que vem ao mundo, a que é a seguinte: ' De onde viemos?' … Do
NADA NÃO VEM NADA; e como eu existo? Logo, EU SOU eterno ... Então a história da
Maçonaria está no que diz São Paulo: 'Nele vivemos, nos movemos e temos o ser'. E no que diz
Maomé: 'Dele viemos e a Ele temos que voltar'. Ou no que diz Jesus: 'Vós estais em mim, eu em
vós e todos no Pai' … De onde viemos? De Deus, Onde Estamos? Em Deus. Aonde vamos? A
Deus.”
Como afirmou o Grande Sábio da Galiléia, sobre a Verdade que se oculta dentro de nosso
âmago: “EU SOU é o Caminho, a Verdade e a Vida.”
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18. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
UMA PROPOSTA DE INSTRUÇÃO MAÇÔNICA
Uma instrução não deve condicionar, mas sim ser a base para questionamentos e a busca de
respostas, e oferecer os elementos que cada um seguirá segundo sua vocação e capacidades. A
Maçonaria não possui dogmas, deixando ao buscador a tarefa de fazer-se as perguntas certas e
procurar as respostas, tarefa na qual será orientado pelos IIrm.'. mais experientes. De acordo com
Huberto Rohden: “Ninguém pode educar alguém. Alguém só pode educar-se a si mesmo. A
verdadeira educação é essencialmente intransitiva, ou reflexiva, subjetiva.”
A Tradição da Maçonaria nos apresenta a alegoria fundamental do Gr.'. de Apr.'. M.'., qual
seja, que devemos TALHAR A PEDRA BRUTA, para edificar o Templo que somos nós mesmos
(veja Figura na página 45). Ao Apr.'. foi dada a LUZ, pois vivia nas trevas e não sabia. Recuperada
a visão espiritual na INICIAÇÃO, que é interna e pessoal, deve o Apr.'. trabalhar na Ofic.'.
A.'.G.'.D.'.G.'.A.'.D.'.U.'. e em favor de toda a humanidade.
A Instr.'. do Apr.'. M.'. deve cobrir quatro dimensões, quais sejam:
1. Legislação maçônica, ética e moral
2. Ritualística
3. Simbólica Maçônica
4. Maçonaria Mística e Hermética
No entanto, concentrar-nos-emos, neste livro, em apresentar legislação maçônica, ética e
moral, e a simbólica maçônica referente aos símbolos e alegorias relacionados com o Apr.'. M.'. e a
Inic.'. ao Gr.'. de Apr.'. Para aprofundamento nos assuntos relativos à legislação maçônica e
ritualística, indicamos a leitura e estudo do Regulamento Geral e do Rito de Aprendiz Maçom do
Gr.'. Or.'. da Franco Maç.'. Mista do Sul do Brasil. Ficam os demais assuntos reservados para serem
estudados em profundidade em outros TTrab.'. A Instr.'. dos AApr.'. da Loja é responsabilidade do
Irm.'. 2º Vig.'., a quem o Apr.'. deve reportar-se em qualquer dúvida.
Os objetivos da instrução do Apr.'. M.'. são: Promover o aprimoramento moral, social,
intelectual e cultural do Apr.'. pelo estudo dos princípios, doutrinas e objetivos da Ordem, e o
desenvolvimento das individualidades; promover o despertar, ou o desenvolvimento, do prazer da
leitura e da especulação; proporcionar ao Apr.'. a oportunidade de entender a si mesmo e ao mundo;
incentivar a execução organizada de atividades segundo uma estrutura lógica de pensamento;
incentivar o espírito de pesquisa, inquiridor e de procura da Verdade adogmaticamente; incentivar o
desenvolvimento de modos e meios de expressão; preparar o Apr.'. para o trabalho associativo.
Os elementos da Instr.'. do Apr.'. M.'. baseiam-se no Trab.'. sobre a Pedra Bruta. A Pedra
Bruta deve ser transformada em Pedra Cúbica (muitos textos maçônicos referem-se a ela como
Pedra Polida, no entanto, a expressão “Pedra Cúbica” é mais correta), e este é um trabalho de
auto-aperfeiçoamento. Para isso devemos nos desembaraçar de nossa imperfeições e caminhar para
a perfeição. O princípio fundamental da Franco-Maçonaria é a LEI DO AMOR que inclui a
TOLERÂNCIA e a FRATERNIDADE.
A Instr.'. dos AApr.'. da Loja são efetivadas por meio de TTrab.'. em Loja, que envolvem a
participação obrigatória nos rituais, para manter a regularidade maçônica, a apresentação de Peças
de Arquitetura, e o estudo de textos indicados (consulte a página 75).
A Instr.'. do Apr.'. M.'. está centrada no seu desenvolvimento individual, no fortalecimento
de sua disciplina, na compreensão do simbolismo maçônico do Gr.'. de Apr.'. e no desenvolvimento
de um comportamento ético e moral, adequando-o aos estudos posteriores, a serem feitos nos graus
de Comp.'. e Mestr.'.
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19. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
MOVIMENTAÇÃO E POSTURA EM LOJA
A postura corporal em Loja deve ser desenvolvida pelo Apr.'. Quando em pé, estando em
Ordem, deve o Maçom manter-se em perfeito alinhamento com as pernas retas e juntas e as costas
na vertical. Fica-se “em Ordem”, respondendo ao chamado do Ven.'. Mestr.'., “de pé e à Ordem
meus IIrm.'.” ou “a mim, meus IIrm.'.”, com a mão direita sobre a garganta e o braço direito na
horizontal, em perfeito esquadro com o corpo, a mão com o polegar afastado fazendo esquadro com
os outros dedos que ficam juntos, palma da mão para baixo, com o polegar apontado para a
garganta, o braço esquerdo solto ao lado do corpo. Os pés devem estar em esquadro, com os
calcanhares juntos. Descarrega-se o sinal movendo a mão direita até o ombro direito e baixando-se
em paralelo ao corpo até que a mão esteja solta no lado direito do corpo.
A postura sentada também deve ser objeto de atenção do Apr.'.:
a) Sentar-se usando o encosto da cadeira, para manter vertical a coluna vertebral (A Col.'. do Temp.'.
Humano);
b) Deixar cair naturalmente os ombros, mantendo os braços ao longo do corpo;
c) Colocar os antebraços e as mãos abertas (palmas para baixo) sobre os joelhos (não cruzar as
pernas!).
Para pedir a palavra, estando a palavra a disposição – Palavra ao Bem da Ordem (seguindo
o protocolo, primeiro no Norte, depois no Sul e finalmente no Or.'.), deve-se solicitar a palavra ao
Ven.'. Mestr.'., batendo com a mão direita no braço esquerdo, levantando, em seguida, o braço
direito a frente do corpo na horizontal. Depois de receber a palavra, em pé, inicia a fala com: “Ven.'.
Mestr.'. (faz o sinal), Irm.'. 1º Vig.'. (faz o sinal), Irm.'. 2º Vig.'. (faz o sinal), Caríssimos e Caros
IIrm.'. (faz o sinal)”. Dirigindo-se ao Ven.'. Mestr.'. diz-se: “Peço permissão para ficar a vontade
(após a permissão, desfaz o sinal e fala)”. Ao final da fala, encerra-se com: “Não tenho nada mais
a declarar (faz sinal e senta)” ou “foram cumpridas Vossas ordens” quando for o caso de estar-se
dirigindo ao Ven.'. Mestr.'. Ao Apr.'. M.'. é vedado fazer uso da palavra, quando da Palavra ao Bem
da Ordem, sendo isso permitido apenas aos MM.'. MM.'. O Apr.'. só fará uso da palavra na
apresentação de Peças de Arquitetura, quando então deverá ficar entre CCol.'.
Na marcha ritual de Apr.'., deve o Apr.'. M.'. esforçar-se por seguir as orientações que
serão dadas pelo Irm.'. 2º Vig.'., que corrigirá sua postura e a forma como deve ser corretamente
feita a marcha. A marcha do Apr.'. é feita com o pé esquerdo a frente, formando um esquadro com o
direito que fica atrás, arrasta para a frente o pé esquerdo, depois arrasta para junto dele o direito.
Este passo deve ser repetido três vezes.
Estando a Loja em sessão, até o encerramento da mesma, os únicos com permissão para
movimentarem-se em Loja são o Mestr.'. de CCer.'., os Diáconos e o Hospitaleiro, que o fazem
sempre circundando o Ocidente em sentido horário. Sempre que necessário a um Cargo da Loja
movimentar-se em sessão, deve faze-lo acompanhado pelo Mestr.'. de CCer.'. Na Entrada
Ritualística e no Cortejo de Saída devem ser observados o protocolo e a ordem com que as Luzes,
Dignitários e Oficiais entram e saem, sendo os AApr.'. MM.'. sempre os primeiros a entrar e os
últimos a sair, a exceção do G.'. do T.'.
Cobrir o Templo é protegê-lo de tal forma que pessoas que estão fora não saibam o que está
ocorrendo dentro dele. Eventualmente será solicitado aos AApr.'. que cubram o Templo,
significando que os AApr.'. devem retirar-se da sessão, por exemplo, quando em Loja de
Companheiro ou Loja de Mestre. O responsável pela cobertura do Templo é o Cob.'. Ext.'.
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20. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
BATERIA, ACLAMAÇÃO, TOQUE E PALAVRA
Em resposta ao chamado do Ven.'. Mestr.'., “a mim meus IIrm.'., pelo Sinal, pela Bateria e
pela Aclamação”, os membros da Loja devem executar o Sinal, a Bateria e a Aclamação. A Bateria
do G.'. de Apr.'. é feita com três palmas ou pancadas de igual duração, (!!!). A Aclamação usual,
usada no Rito Escocês Antigo e Aceito, é feita entoando-se, com voz forte, “Huzzé, Huzzé, Huzzé”,
mantendo a mão direita sobre a garganta, com o polegar afastado formando um esquadro com os
outros dedos, e o braço direito na horizontal em esquadro com o corpo, como no sinal de Apr.'.
Segundo alguns estudiosos, “Huzzé”, palavra originada do árabe, Huzza, significando “Viva”, é uma
antiga saudação que era dirigida ao Rei da Inglaterra e da França. No Rito Francês ou Moderno é
usada a Aclamação “Vivat, Vivat, Semper Vivat”. Considera-se que a Aclamação é direcionada ao
G.'.A.'.D.'.U.'. para render-Lhe graças. Em uma visão mística, “Huzzé” é um espécie de mantra, que
deve ser direcionado no sentido do bem.
Os maçons se reconhecem mutuamente usando Sinais, Toques e Palavras. Quando em Loja,
o Toque de Apr.'. deve ser feito tomando-se reciprocamente a mão direita e aplicam-se, com o uso
do D.'. Pol.'., o Tr.'. T.'. sobre a falange do D.'. Ind.'. do interlocutor.
O reconhecimento mútuo entre maçons completa-se fornecendo-se a Pal.'. S.'. do Gr.'. de
Apr.'. M.'., B.'. Esta palavra significa simbolicamente força. A Pal.'. S.'. de Apr.'. deve ser
transmitida silabada, no ouvido esquerdo, pois o Apr.'. ainda não sabe ler e escrever.
O fato dos maçons reconhecerem-se usando Sinal, Toque e Palavra de Apr.'. denota
humildade e afirma que todos somos aprendizes, independente do Gr.'. em que estivermos.
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21. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
TROLHAMENTO
Trolhamento (ou telhamento) é o exame de proficiência aplicado, entre CCol.'., a um
visitante de uma Loja maçônica para garantir que seja realmente um maçom.
P: Sois Maçom?
R: M.'.I.'.C.'.T.'.M.'.R.'.
P: De onde vindes?
R: De uma Loja de São João justa e perfeita.
P: Que trazeis?
R: Amizade, paz e prosperidade a todos os irmãos.
P: Nada mais trazeis?
R: O Ven.'. de minha Loja V.'.S.'.P.'.T.'.V.'.T.'.
P: Que se faz em vossa Loja?
R: Edificam-se Templos a Virtude e cavam-se masmorras ao vício
P: Que vindes aqui fazer?
R: Vencer minhas paixões, submeter minha vontade e fazer novos progressos na Maçonaria,
estreitando os laços de fraternidade que nos unem como verdadeiros irmãos.
P: Que desejais?
R: Um lugar entre vos
Este vos é concedido, Irm.'. Mestr.'. de CCer.'., conduzi o(s) irmão(ãos) ao(s) lugar(es) que lhe(s)
compete(m).
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22. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
TERMINOLOGIA MAÇÔNICA
Alfaias – São os adornos, joias e distintivos da Oficina que, nos Ritos e nas cerimônias,
servem para caracterizar virtudes, dignidades e funções.
Altos-Graus – São os graus acima do 3º grau simbólico da Maçonaria.
Aumento de Salário – É a promoção de grau que é concedida ao Irmão por antiguidade,
serviço ou talento.
Avental Maçônico – Peça de vestuário obrigatória para participar de sessão.
Balandrau – Uma túnica preta que é a vestimenta usada em Loja. Ela tem uma função de
implantar a igualdade em Loja, já que serão iguais o rico e o pobre, o homem e a mulher.
Franco-Maçonaria - Associação de Pedreiros Livres.
Grande Arquiteto do Universo – Refere-se ao Criador do mundo material, independente de
religião ou crença pessoal.
Grande Loja – Confederação composta de, no mínimo, três Lojas, que adotam o mesmo
Rito Maçônico.
Grande Oriente – Confederação composta de, no mínimo, três Lojas, podendo adotar mais
de um Rito Maçônico.
Grão Mestre – O chefe máximo de uma Obediência Maçônica ou Grande Loja.
Graus Simbólicos – São os primeiros três graus, os graus de uma Loja Simbólica: Aprendiz;
Companheiro; e Mestre.
Loja – Expressão que tem sua origem no inglês Lodge ou do Francês Loge, denotando
“cabana”, designando o prédio onde os pedreiros medievais reuniam-se para discussões e instruções
aos aprendizes. A Loja também pode ser denominada de “Oficina”. A expressão “Loja” pode tanto
denotar o local onde a Egrégora reúne-se, o Templo, quanto a própria Egrégora. Para que uma Loja
seja justa ela deve ter três Mestres Maçons, e para que seja perfeita deve ter sete.
Loja Simbólica ou Loja Azul - Desenvolve trabalhos nos graus simbólicos: Aprendiz;
Companheiro e Mestre. Também chamada de “maçonaria azul” ou “Loja de São João”.
Loja Filosófica - Desenvolve seus trabalhos nos Altos-Graus ou graus filosóficos,
usualmente do 4º ao 33º no Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA).
Luzes – As Luzes do Templo são o Venerável Mestre, o 1º Vigilante e o 2º Vigilante, que são
as autoridades na condução dos trabalhos. As três Luzes Emblemáticas da Maçonaria são o Livro da
Lei, o Compasso e o Esquadro.
Neófito – É o candidato que recém foi Iniciado e está recebendo suas primeiras IInstr.'.
Assim, o profano apresenta-se na Loja para a sua Iniciação como candidato e torna-se, ao final dela
um Neófito.
Obediência Maçônica - Federação de Lojas trabalhando os três primeiros graus - “corpo”
maçônico.
Ordem Maçônica - Constituída pelos Altos-Graus - “alma” maçônica.
Potência Maçônica – Organismo maçônico de caráter nacional, reconhecido e regular, que
congrega diversas Lojas. Consulte Grande Loja e Grande Oriente.
Rito - Conjunto de rituais que abrangem todos os eventos da vida maçônica. É um conjunto
sistemático de cerimônias e ensinamentos. Alguns dos principais Ritos usados na Maçonaria são:
Rito Escocês Antigo e Aceito; Rito Francês ou Moderno; Rito de York; Rito Adonhiramita; Rito de
Memphis-Misraim; Rito de Schröeder; etc. - “espírito” maçônico.
Supremo Conselho – Instituição Maçônica que congrega Lojas Filosóficas e regula a
outorga dos Altos Graus (graus filosóficos).
Venerável Mestre – Mestre Maçom que preside uma Loja Maçônica, eleito por seus pares.
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23. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
HISTÓRIA, LEGISLAÇÃO E ÉTICA MAÇÔNICA
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25. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
HISTÓRIA DA FRANCO-MAÇONARIA
Ninguém sabe com certeza quando e como a Maçonaria foi formada. O mais antigo
documento que faz referência aos maçons é o manuscrito de Regius, impresso ao redor de 1390.
Existe algum consenso entre os estudiosos que ela surgiu a partir das guildas de pedreiros da Idade
Média que construíram as grandes catedrais e castelos medievais. Essas guildas ou corporações
tinham por objetivo defender os interesses econômicos e profissionais dos trabalhadores que dela
faziam parte. Essas organizações estabeleciam tratados em comum, embora suas diferenças
profissionais e geográficas.
Esses trabalhadores organizavam-se em “lojas” (em inglês “lodge”, que significa “cabana”)
que eram espaços onde podiam fazer suas reuniões. Evidências históricas sugerem que estas
oficinas antigas possuíam algum tipo de ritualística, mas não existem documentos históricos que
descrevam esses rituais. Alguns autores acreditam que os graus iniciais da Maçonaria (Aprendiz,
Companheiro e Mestre) sejam herdados das guildas medievais.
Segundo os estudiosos, as guildas operativas passaram, em algum momento, a aceitar a
admissão de membros não operativos ou especulativos, que acabaram desenvolvendo os ideais
morais e espirituais que caracterizam a Ordem, transformando-a em uma fraternidade liberal,
iniciática e simbólica. Esses novos membros ficaram conhecidos como “maçons aceitos”. Este fato
marca a passagem da Maçonaria Operativa para a fase Especulativa.
A Maçonaria sofreu influências diversas, uma das maiores delas dos Rosacruzes, cuja
Fraternidade foi fundada na Alemanha em 1604, tendo sido publicado seu primeiro Manifesto, o
Fama Fraternitatis, em 1614. Anteriormente, com a Ordem dos Templários tendo sido proscrita e
perseguida pela Igreja, muitos Cavaleiros Templários procuraram filiação na Maçonaria, trazendo
com eles seus ideais de Cavalaria. Mas a maioria dos estudiosos concorda que a grande influência
na Maçonaria veio do misticismo judaico, a Cabala. Segundo Leadbeater: “A tradição dos Mistérios
Judaicos é a que tem exercido maior influência em nossa Ordem, e por isso a maioria de nossas
cerimônias e s.'.s.'. se reveste agora de uma forma judaica.”
Entre os mais antigos manuscritos e documentos maçônicos (Old Charges) descrevendo os
deveres do Maçom, legislação maçônica e ritualística, podemos citar: As Constituições de York, de
926; o Poema de Regius, cujos primeiros exemplares circularam já no séc. 13; o Manuscrito de
Cooke, supostamente de 1490; o Manuscrito de Edinburgh Register House de 1696, um dos raros
documentos antigos descrevendo ritualística maçônica; e a Constituição de Anderson de 1723.
Em 1717, quatro lojas em Londres formaram a primeira Grande Loja da Inglaterra, evento
que marca o surgimento da Franco-Maçonaria moderna (Associação de Pedreiros Livres). Pouco
tempo depois, a Igreja condena a Maçonaria, iniciando a perseguição aos maçons, muitos dos quais
foram torturados e queimados nas fogueiras da Inquisição, o que exigiu que a Maçonaria passasse a
atuar em segredo.
Em 1751 surge uma Grande Loja rival em Londres, originalmente formada por maçons
irlandeses que afirmavam que a Grande Loja original havia feito inovações inaceitáveis na
Maçonaria. Eles chamaram a primeira Grande Loja de “os modernos” e chamaram a si próprios de
“os antigos”. As duas Grandes Lojas existiram concomitantemente por 63 anos, sem jamais
reconhecerem-se mutuamente. Finalmente, após quatro anos de negociações, as duas Grandes Lojas
da Inglaterra uniram-se em 1813 formando a Grande Loja Unida da Inglaterra.
A Franco-Maçonaria estabelece-se na França em 1725. A mais antiga obediência maçônica
no mundo é o Grande Oriente de França, fundado em 1728 e que se caracteriza por ser liberal e
adogmático. Foi exatamente a Maçonaria francesa a que mais influência teve na Maçonaria
brasileira. A França foi, nos séculos 18 e 19, o principal palco do esoterismo no mundo, com o
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26. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
surgimento de diversas ordens esotéricas, rosacruzes, herméticas e cabalísticas. Obviamente isso
impactou profundamente a Maçonaria francesa.
Ao longo dos anos que se seguiram à fundação da primeira Grande Loja da Inglaterra, em
1717, a Maçonaria tornou-se popular e espalhou-se pela Europa e Estados Unidos da América, com
a fundação de diversas lojas. No Brasil, a Maçonaria teve início com a chegada de estrangeiros,
assim como com os brasileiros que retornavam de seus estudos na Europa, principalmente nas
universidades de Coimbra e Montpellier. Segundo alguns autores maçônicos relatam, em 1797
surgiu na Bahia a Loja denominada “Cavaleiros da Luz”. A primeira oficina regular reconhecida
pela Grande Loja da Inglaterra foi a Loja “Reunião”, fundada em 1801 no Rio de Janeiro. No Rio
Grande do Sul, a primeira Loja denomina-se “Filantropia e Liberdade”, fundada em 1831. Em
Pelotas, a Maçonaria teve início em 1843, com a fundação da Loja “Protetora da Orfandade”.
A Constituição de Anderson, publicada em 1723 sob os auspícios da Grande Loja da
Inglaterra, e as Landmarks de Albert Mackey, em número de 25, publicadas em 1858 num trabalho
intitulado “Foundations of the Masonic Law”, constituem-se em documentos que, se não tem a
unanimidade entre os estudiosos, marcam o estabelecimento e consolidação da Maçonaria Moderna
e da Legislação Maçônica como a conhecemos hoje. A expressão “Landmark” é retirada de
Provérbios 22:28: “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais.” As Landmarks são
consideradas as mais antigas leis da Ordem, embora não hajam evidências históricas para
corroborar esta afirmação. Ao longo da história da Maçonaria, diversas propostas, com número
variável de Landmarks, foram apresentadas. Em 1889, H. B. Grant, de Kentucky, enumerou 54
Landmarks, em artigo publicado no “Masonic Home Journal”. Uma das propostas de Landmarks
mais conhecidas é a de Albert Pike (1809-1891), que possui apenas cinco Landmarks:
1º - A necessidade dos maçons reunirem-se em Lojas;
2º - O governo de cada Loja por um Venerável Mestre e dois Vigilantes;
3º - A crença no Grande Arquiteto do Universo e numa vida futura;
4º - A cobertura dos trabalhos da Loja;
5º - A proibição da divulgação dos segredos da Maçonaria, ou seja, o sigilo maçônico.
Uma das maiores polêmicas com relação à Constituição de Anderson a às Landmarks de
Mackey está na proibição da admissão de mulheres na Ordem. Isso está estabelecido no artigo 18º
da Constituição de Anderson e na 18ª Landmark de Mackey. No entanto, não há evidências da
antiguidade das Landmarks de Mackey ou das leis expressas na Constituição de Anderson. Além
disso, diversos estudiosos afirmam que não havia nenhum preconceito para a admissão de mulheres
nas antigas oficinas operativas da Idade Média. O próprio manuscrito de Regius cita as mulheres
como sendo membros regulares da Ordem: “And love together as sister and brother
In that honest craft to be perfect; And so each one shall teach the other, And love together as sister
and brother.”
Muitas Lojas ao longo da história da Maçonaria admitiram mulheres, mas foi a partir de
1893 com a formação da Ordem “Le Droit Humain” que as mulheres passaram a ser admitidas de
forma regular na Maçonaria. Entre os pioneiros na formulação da Maçonaria Mista estão o Dr.
George S. Martin, conselheiro e inspirador da Ordem “Le Droit Humain” e sua fundadora Maria S.
Deraismes. Nos dias de hoje está havendo um ressurgimento da Maçonaria Mista no Brasil e no
mundo.
Os ritos maçônicos são compostos por procedimentos ritualísticos. Eles são métodos para a
transmissão dos ensinamentos e para a organização das cerimônias maçônicas. No período de 300
anos da Maçonaria Moderna ocorreu o surgimento de inumeráveis ritos. Podemos citar entre os
mais difundidos: Rito Escocês Antigo e Aceito; Rito de York; Rito de Heredon; Rito de Memphis;
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27. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
Rito de Schröder; Rito Adonhiramita; Rito Francês ou Moderno.
No Brasil, o Rito mais difundido é o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA). O REAA é
anunciado em 1801, após a criação do primeiro Supremo Conselho em Charleston, nos Estados
Unidos da América. Um ano após isso, em 1802, é anunciada a criação do Supremo Conselho dos
Soberanos Grandes Inspetores Gerais, 33º grau do Rito Escocês Antigo e Aceito. Segundo os
historiadores, a chamada “Maçonaria Escocesa” surgiu na França em 1742 e em 1804 foi fundada a
“Grande Loja Escocesa da França do Rito Antigo e Aceito” em Paris, com 18 graus. O Rito
originalmente chamava-se “Rito Escocês Antigo”, e somente após a aceitação de Londres que ele
passou a se auto-denominar “Aceito”.
O REAA possui 33 graus, sendo os três primeiros os Graus Simbólicos, e os graus de 4º até
33º os Graus Filosóficos:
4º - Mestre Secreto 19º - Grande Sacerdote ou Sublime Escocês
5º - Mestre Perfeito 20º - Venerável Grão-Mestre ad-vitam
6º - Secretário Íntimo 21º - Noaquita ou Cavaleiro Prussiano
7º - Preboste e Juiz 22º - Príncipe do Líbano
8º - Intendente dos Edifícios 23º - Chefe dos Tabernáculos
9º - Mestre Eleito dos Nove 24º - Príncipe dos Tabernáculos
10º - Mestre Eleito dos Quinze 25º - Cavaleiro da Serpente de Aço
11º - Sublime Cavaleiro Eleito 26º - Príncipe da Graça
12º - Grande Mestre Arquiteto 27º - Grande Comendador do Templo
13º - Real Arquiteto 28º - Cavaleiro do Sol
14º - Grande Escocês 29º - Escocês de Santo Antonio
15º - Cavaleiro do Oriente ou da Espada 30º - Cavaleiro Kadosch
16º - Grande Príncipe de Jerusalém 31º - Grande Inquisidor Comendador
17º - Cavaleiro do Oriente e do Ocidente 32º - Príncipe do Real Segredo
18º - Soberano Príncipe Rosa-cruz 33º - Soberano Grande Inspetor Geral
O REAA é dividido em seções, que são apresentadas a seguir com suas cores:
Loja Simbólica (1º-3º) - AZUL
Loja de Perfeição (4º-14º) - VERDE
Capítulo Rosa-cruz (15º-18º) - VERMELHA
Conselho de Kadosch (19º-30º) - NEGRA
Supremo Conselho (31º-33º) - BRANCA
O Rito Francês surgiu após 1730, de uma forma não organizada, e a partir de 1755
começaram os esforços para a elaboração de um rito organizado. O Rito Francês foi finalmente
anunciado em Paris no ano de 1761 e proclamado em 1773 pelo Grande Oriente de França. O Rito
Francês compunha-se inicialmente apenas dos primeiros três graus, os graus simbólicos. No
entanto, o grande interesse pelos graus mais elevados, os graus filosóficos, provocou uma
proliferação de ritos. Preocupado com esta situação, o Grande Oriente de França buscou uma forma
de harmonizar e padronizar as diferentes doutrinas que vicejavam desordenadamente, influenciadas
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28. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
pelos mais variados misticismos e esoterismos, particularmente o Rosacruz. Assim, em 1786 surgia
o Rito Francês de sete graus. Preocupado com a disseminação das mais variadas práticas
ritualísticas, é publicado o “Le Régulateur du Maçon” em 1801, que normatiza o rito.
Graus Filosóficos do Rito Francês
1ª Ordem – 4º Grau – Eleito
2ª Ordem – 5º Grau – Escocês
3ª Ordem – 6º Grau – Cavaleiro do Oriente ou da Espada
4ª Ordem – 7º Grau – Cavaleiro Rosa-Cruz
O rito mais difundido nos EUA é o Rito de York, fundado em 1797. Ele é o mais teísta dos
ritos maçônicos, sendo muito identificado com o protestantismo.
Até 1801, os ritos de Memphis e Misraim, a chamada Maçonaria Egípcia, desenvolveram-se
de forma independente. Em 1881, o herói dos dois mundos, Giuseppe Garibaldi, tornou-se o Grande
Hierofante de ambos os ritos. Finalmente, em 1890, diversas Lojas dos ritos de Memphis e Misraim
uniram-se fundando o Rito de Memphis-Misraim, um dos ritos mais esotéricos e ocultos da
Maçonaria.
Os diversos ritos possuem diferentes Altos-Graus, como é o caso do Rito Francês, que
possui apenas sete graus, mais a Quinta Ordem com os graus 8º e 9º, e o Rito de Memphis-Misraim
que possui 96 graus mais três graus administrativos. No entanto, existe um sistema de equivalências
de graus, de forma que o 96º de Memphis-Misraim e o 9º do Francês equivalem ao 33º do REAA.
Em todos os ritos, os primeiros três graus (1º-3º) são os mesmos, os Graus Simbólicos: Aprendiz,
Companheiro e Mestre.
A Maçonaria tem desenvolvido ao longo de sua história a fraternidade universal, um ênfase
no estudo pessoal, auto-aprimoramento e uma melhoria da sociedade por meio de envolvimento em
atividades filantrópicas, e disso resultou a fundação de diversas instituições paramaçônicas
dedicadas à filantropia, como é o caso do Rotary. A Maçonaria foi um veiculo que difundiu os
ideais do Iluminismo de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, defendendo a razão, a dignidade
humana e a liberdade individual.
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29. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
O ORDENAMENTO LEGAL MAÇÔNICO - ÉTICA E MORAL
A Maçonaria atual no Brasil é regulada por um notável complexo de leis, regulamentos,
instruções e resoluções, alguns de valor universal e internacional, outros de alcance nacional,
estadual e local. É importante a abordagem desse tema para que o Irm.'. Aprendiz tenha uma noção
mais clara e direta em relação a natureza e os fins da Maçonaria.
Fundamentalmente, a Maçonaria é dirigida no mundo inteiro por certo número de princípios
considerados básicos e universais, os quais ainda hoje são considerados como bases invioláveis da
nossa Ordem, estando por conseguinte abarcados nos assim chamados Landmarks, ou Antigos
Limites, ou Lindeiros, e na conhecida, e porque não, questionada Constituição de Anderson de
1723, reformada em 1737.
Em todas as leis, ordenações, constituições ou resoluções que possamos nos reportar, o que
aqui não seria o caso, posto que essa manifestação não busca ser um estudo jurídico-maçônico, e
sim uma abordagem sucinta acerca dos instrumentos regratórios que norteiam de modo geral o
funcionamento da Ordem, sempre identificaremos que independente da Potência, seja ela Masculina
ou Mista; seja qual for o Rito adotado, os trabalhos desenvolvidos estarão sempre pautados na
estrita observância aos preceitos abarcados na legislação pertinente.
Além dos vários instrumentos utilizados como referenciais a serem obedecidos e observados
por uma Potência Maçônica, há outras variáveis, estabelecidas pelas diferentes agremiações
maçônicas em cada nação e que formam a Constituição Maçônica do respectivo país. Tomando por
base a norma maior, cada potência formula seu Regulamento Geral, e a este Regulamento se
acrescenta a Lei Penal Maçônica e o Código Processual Maçônico, além do Regulamento Interno
que cada Loja deve instituir.
Seguindo nessa linha, ou seja, a estrita observância à norma legal e seu regramento, no
cerimonial a que são submetidos todos aqueles que buscam o ingresso na Ordem, tomam
conhecimento de minuciosas determinações e prescrições que se encontram nos respectivos Rituais,
conforme o Rito adotado pela Potência. Para cada grau e solenidade maçônica há rituais próprios.
Assim temos, por exemplo, o Ritual do Aprendiz; o Ritual do Companheiro; o Ritual do Mestre, e
assim por diante, o que nos permite sustentar que a Maçonaria Brasileira, independente de Potência
ou Rito, continua sendo orientada e regulada por preceitos insculpidos e emanados dos seguintes
instrumentos: Os antigos Landmarks; As Ordenanças Gerais de 1720; A Constituição de Anderson
de 1723; As Constituições, Estatutos e Regulamentos originariamente instituídos em 1786, e que até
hoje são tidos como referenciais sempre que o assunto “Legislação Maçônica” é posta em
confronto, e em ocasiões nas quais ritos e rituais são analisados e/ou estudados.
Terreno de difícil transito, mas que somos forçados a abordar versa sobre as confusas
circunstâncias que gravitam atualmente na Maçonaria Brasileira, especificamente no que concerne
os seguimentos dissidentes dentro da Ordem que muitas vezes originam uma certa divisão, com
discórdias e desconforto entre os Irmãos, fazendo com que situações sejam geradas, criando
dificuldade em distinguir entre uma organização de direito e outra de fato, quando o ideal seria que
a situação de fato coincidisse com a de direito. Nessas ocasiões, não raro, são levados ao Poder
Judiciário Maçônico, órgão legítimo para conhecer, examinar, processar, decidir e julgar em
primeira ou segunda instância, conforme a espécie, declaratória ou decisoriamente, as causas
administrativas e disciplinares de jurisdição contenciosa ou voluntária, ou que lhe forem atribuídas,
privativa ou facultativamente.
Percorridas todas as instâncias recursais previstas na Legislação Maçônicas, resta muitas
vezes a Justiça Comum que igualmente é instada a se pronunciar.
Tal como o Direito Profano, o Direito Maçônico é um complexo orgânico cujo conteúdo é
constituído pela soma de preceitos, regras e leis, com as respectivas sanções, que regem as relações
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30. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
dos Obreiros, dentro da Sociedade Maçônica.
Assim temos muito claro que, como o Direito Profano, o Direito Maçônico pode ser escrito
ou consuetudinário. O primeiro é aquele que, originado do Poder Legislativo Maçônico, se encontra
nos textos, legalmente promulgados. O segundo, originado do Latim, diz respeito aos usos e
costumes que, na Maçonaria, como no mundo profano, não necessariamente carecem de escrita,
uma vez que a expressão “usos e costumes” faz parte da cultura de um povo, no nosso caso, do
Povo Maçônico.
Portanto, a Maçonaria e o Direito andam de mãos dadas. Não se nega naquela o que está
contido naquele. Se aquela prega a existência de um princípio criador, sob a denominação de
G.'.A.'.D.'.U.'.; aquele se funda em muitas de suas regras, tanto quando regula a conduta dos
indivíduos na sociedade, quanto a disciplina, em verdadeiros princípios que nos foram legados pelo
Criador. Se não houvesse a iluminação do G.'.A.'.D.'.U.'., as nossas leis por certo seriam bizarras,
desproporcionais e arrogantes. Tudo o que os nossos juristas e jurisconsultos fazem para enriquecer
o Direito, fornecendo subsídios aos nossos legisladores, advém da permissão intelectual do Criador
do Universo.
A Maçonaria sempre foi mencionada como sendo uma Fraternidade, e se considerarmos que
o substantivo fraternidade designa o parentesco de Irmãos, o amor ao próximo, a harmonia, a boa
amizade, a tolerância associada ao permanente diálogo, nos leva a concluir de que, na organização
designada genericamente como Maçonaria, ou Franco-Maçonaria, definida como fraterna, deve
prevalecer sempre a harmonia e reinar a união e a convivência fraternal, o que nos faz também
reconhecer que por ser fraternal, necessariamente deve ser uma instituição fundamentada na ética e
na moral. A ética, em sendo uma reflexão filosófica sobre a moralidade, ou seja, sobre as regras e
códigos morais que orientam a conduta humana, mais uma vez nos remete à legislação maçônica,
onde todos os instrumentos que servem para mensurar a conduta dos Obreiros ressaltam a
importância dos valores éticos e morais que deve nortear a conduta entre os Irmãos.
Porém, e não podemos negar, atitudes antiéticas ocorrem todos os dias, tanto na sociedade
civil, e porque não na instituição maçônica. A sociedade atual, graças ao esgarçamento de sua
estrutura familiar, e o avanço avassalador da imoralidade, é, hoje, altamente antiética, fazendo com
que a solidariedade e os referenciais de caráter sejam desprezados e desconsiderados. E é num
momento como o atual que a Maçonaria deveria dar o exemplo em suas Oficinas, no sentido de
enaltecer e sustentar a presença de seus Obreiros com estrita observância à prática constante e
rotineira na aplicação da moral e da ética. Afinal, ela afirma em todas as suas cartas Magnas, que:
“Pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento
inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da
verdade. Proclamando, ainda, que os homens são livres e iguais em direitos e que a tolerância
constitui o princípio cardeal nas relações humanas para que sejam respeitadas as convicções e a
dignidade de cada um”.
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31. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
AS VIRTUDES MORAIS
Um maçom deve ter sua vida pautada pelas virtudes mais elevadas: Generosidade,
desprendimento, prudência, temperança, justiça, paciência, serenidade, caridade, humildade, etc. O
Homem foi criado para fazer o bem, como diz Jolivet: “um bem excelente entre todos é a ordem
moral em virtude da qual todo ser dotado de razão é submetido ao seu Autor cuja perfeição suprema
ele reconhece e procura imitar, na medida de sua natureza e de suas possibilidades.”
O mundo material, mundo sensível ou mundo fenomênico, é o palco da existência, o mundo
da dualidade, a arena das paixões humanas. Sendo dual ou plural, submete à consciência humana a
possibilidade da escolha entre diversas opções, pois ao Homem foi dado o livre-arbítrio, que é a
origem do bem e do mal. Neste palco, o Maçom deve esforçar-se por ter uma vida reta. A retidão
tem como representação maçônica o Esquadro.
Deve o maçom cultivar as virtudes como o jardineiro que diariamente poda, aduba, rega e
prepara seus cultivos. Cada ato da vida do maçom deve refletir a sua inabalável intenção de ser
melhor a cada dia. Vivemos imersos em Deus, o que significa que cada ato, por mais simples que
seja, deve ser feito em sintonia com nossa natureza divina. Este trabalho sobre si próprio está
representado pela alegoria do Apr.'. M.'., ou seja, TALHAR A PEDRA BRUTA.
O Maçom deve saber agir com sabedoria e prudência. A prudência (conhecimento ou
sabedoria) é a sabedoria para reconhecer o bem e o bom, assim como os justos meios de atingi-lo.
Sobre a prudência, Thomas de Kempis, em Imitação de Cristo, afirma que “Não se há de dar crédito
a toda palavra nem a qualquer impressão, mas cautelosa e naturalmente se deve, diante de Deus,
ponderar as coisas ... Grande sabedoria é não ser precipitado nas ações, nem aferrado
obstinadamente à sua própria opinião ... Quanto mais humilde for cada um em si e mais sujeito a
Deus, tanto mais prudente será e calmo em tudo.” O Cinzel é a representação maçônica da
prudência, pois o cinzel direciona inteligentemente a força do malho na Pedra Bruta, de forma a
controlar o trabalho do Maçom.
O Maçom deve ser sempre justo. A justiça é a vontade de fornecer aos outros o que lhes é
devido. A justiça importa em igualdade e humildade. A humildade é a virtude que reflete a pureza
do coração que se submete aos desígnios de Deus, considerando todos os homens como iguais
perante o Criador.
Para efetuar seu trabalho, o Maçom deve possuir o dom da fortaleza. A fortaleza (ou força) é
a firmeza de atitude nas dificuldades. A fortaleza é derivada da VONTADE, a ferramenta do mago,
aquele que domina os elementos e a sua própria natureza. Sua representação maçônica é o malho,
que aplica os golpes sobre o cinzel.
Finalmente, o Maçom deve ser moderado. A temperança (ou moderação) é o domínio da
vontade sobre os instintos, a busca do equilíbrio. Temperança significa aplicar a vontade para
equilibrar as tendências opostas que habitam a natureza humana. Seu símbolo maçônico é o Nível,
por seu significado de igualdade e equilíbrio.
Cabe ao maçom seguir o conselho do Grande Sábio da Galileia: “Amarás o teu próximo
como a ti mesmo”; ou o que foi registrado pelo Grande Mestre da Arábia: “tratai com benevolência
vossos pais e parentes, os órfãos e os necessitados; falai ao próximo com doçura”. O maçom deve
ser generoso e benevolente com todos e dedicar-se à caridade, ajudando os necessitados.
A Maçonaria ensina a LEI DO AMOR, que denota FRATERNIDADE, IGUALDADE,
TOLERÂNCIA e CARIDADE.
O famoso maçom e escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe fornece uma forma
interessante de entender a ética e a moral maçônica: “Todo o nosso saber se reduz a isto: renunciar à
nossa existência para podermos existir.”
31
32. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
A MAÇONARIA MISTA NO RIO GRANDE DO SUL
Uma consulta a qualquer livro de autoria de maçons ditos tradicionais, revelará que a
maioria deles tem conhecimento da existência da Maçonaria Mista e Feminina. A diferença é que
insistem em sustentar que estas não são legalmente reconhecidas; que são espúrias, entre outras
desculpas. Todavia, muitos não perdem tempo e até reconhecem que estas vertentes da Maçonaria
tem hoje um nome próprio e ocupam um considerável e reconhecido espaço dentro da Instituição.
Não é novidade a participação da mulher nos Mistérios da antiguidade, genérica e
modernamente conhecidos como Ciências Ocultas, ou simplesmente Ocultismo. Sabemos, através
dos escritores ocultistas, que a mulher tomava parte em todos os trabalhos que se realizavam nos
Templos da antiga Grécia, do Egito, da Etiópia, e etc., onde eram previamente iniciadas nos
Mistérios. Na própria instituição Maçônica, se buscarmos na história veremos que a mulher já teve
participação efetiva. Todavia, quando a Maçonaria vestiu novas roupagens, e que até hoje sustenta
em parte de seus quadros, a mulher foi afastada dos Templos e, consequentemente, negado-lhe o
direito à iniciação, passando a Ordem Maçônica a ser privilégio unicamente dos homens. Porém,
essa exclusão injustificável da mulher, vedando-lhe o ingresso na Maçonaria, não poderia se
prolongar indefinidamente, posto que os fatos históricos da própria Ordem retratavam o contrário e
as verdades científico-filosóficas se impunham como argumento insofismável contra o erro
cometido ao se negar à mulher o direito à iniciação. Assim, nada mais justo e lógico que esse
errôneo entendimento, sustentado numa premissa eivada de parcialidade, preconceitos e convenções
retrógradas, fosse identificada por uma parcela de Irmãos que passaram a manifestar sua
contrariedade com tal situação e tomaram a iniciativa de buscar a alteração de tal comportamento.
Corria o ano de 1937 quando, no Rio Grande do Sul, efetivamente brotou a ideia, ainda que
enfrentando grande resistência de grupos contrários, de adotar-se na Maçonaria Brasileira o sistema
de iniciação maçônica independente de discriminação de sexo, conformando-se à lei cabalística do
“binário”, presente em toda a existência.
A caminhada foi longa e desgastante para os Irmãos que levantaram essa bandeira.
Desiludidos diante da incompreensão dos dirigentes da Ordem que antepunham pretensões e
sofismas à realidade instante e necessária, esses poucos mas valorosos Irmãos abandonaram
definitivamente a atividade da Maçonaria masculina; ao mesmo tempo que, com redobrado
interesse, voltaram a consagrar o propósito que estavam imbuídos, no caso, “a prática da Maçonaria
sem discriminação de sexo, obediente ao princípio universal da bipolaridade”. Durante o período
em que os Irmãos buscavam e reuniam elementos suficientes para efetivamente proceder a fundação
de Lojas Mistas perfeitamente regulares, muitas Oficinas chegaram a funcionar em várias cidades
do Estado, porém, ante as dificuldades impostas, em especial por parte do seguimento da Maçonaria
masculina, que mantinha-se firme no propósito de não manter Lojas de adoção, que era o mínimo
que necessitavam os Irmãos, e não aventavam sequer analisar a possibilidade de reconhecimento, a
maioria dessas Lojas, então em funcionamento, tinham suas colunas abatidas.
Com a insistência, dedicação, seriedade e perseverança dos Irmãos, esse período foi
superado, e, fruto de um quarto de século de luta e idealismo, transpondo todo o tipo de óbices,
obstáculos e incompreensões, no dia 12 de maio de 1961 foi realizada no Oriente de Santa
Maria/RS a reunião plenária definitiva, oportunidade que todos os Irmãos e Irmãs envolvidos
estabeleceram as condições básicas para a organização da Potência, sendo apresentados os
dispositivos necessários no tocante a Regulamento e Estatutos, declarando-se assim constituído o
“Grande Oriente Simbólico Misto Brasileiro”, em plena conformidade com as antigas Marcas,
expurgadas de comentários e interpretações incondizentes e antagônicas aos princípios e
fundamentos da Instituição Maçônica e das mais respeitáveis consuetudes iniciáticas e
administrativas da Maçonaria Universal, congregando-se, a partir daquele momento as Lojas Mistas
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33. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
então existentes, que funcionavam até então anonimamente.
Na mesma ocasião foram providos os cargos eletivos, sendo escolhido como primeiro
Grão-Mestre o Ir.'. Pedro Pinto Soares Freire, a quem a Maçonaria Mista do Rio Grande do Sul
deve muito, posto ter sido ele o pilar de sustentação que orientou, conduziu e liderou todo o
processo que resultou no que hoje é esse seguimento da Ordem no nosso Estado. Por tal motivo,
todos aqueles que transitam na Maçonaria Mista, devem ter muito presente a figura, vida e a obra
do M.'.I.'.P.'. Ir.'. Pedro Freire, que dedicou boa parte da sua caminhada na luta pela inclusão da
mulher na Maçonaria em igualdade de condições com os homens. Cabe a nós, e àqueles que ora
estão ingressando na Ordem, valorizar, respeitar e entender o legado que nos foi deixado.
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37. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
SÍMBOLO, ALEGORIA E SIMBOLISMO
A Maçonaria é conhecida por fazer largo uso de alegorias e símbolos em suas instruções.
Ensina-se que a Maçonaria é um sistema de moralidade velado por alegorias e ilustrado por
símbolos. O que isso significa? O que são símbolos e alegorias e qual a razão de seu uso pela
Maçonaria?
O homem é um ente simbólico. Toda a vida humana é regida e ilustrada por símbolos.
O símbolo é um sinal de reconhecimento de um objeto, um representação analógica
relacionada com o objeto em consideração. Por exemplo, quando alguém cruza por um amigo ou
conhecido e tira o chapéu, está fazendo uso de um símbolo de deferência e respeito.
A alegoria é uma forma de “falar de outro modo”, velando o conhecimento que está sendo
transmitido. Um exemplo é a alegoria do Gr.'. de Apr.'. M.'., ou seja, o talhar da Pedra Bruta.
Finalmente, o emblema é a representação de uma ideia simples, como por exemplo, o boi é
considerado um emblema da força.
O simbolismo trata do estudo dos símbolos, emblemas e das alegorias considerando todos os
sentidos que estão ligados a eles: sentido literal; sentido alegórico; sentido moral; etc. O simbolismo
é a chave para entender a Linguagem dos Mistérios.
Citando Brunetière, “O símbolo é imagem, é pensamento... Ele nos faz captar, entre o
mundo e nós, algumas destas afinidades secretas e dessas leis obscuras que podem muito bem ir
além do alcance da ciência, mas que nem por isso são menos certas. Todo símbolo é, nesse sentido,
uma espécie de revelação”. Sendo assim, o simbolismo para a Maçonaria, assim como nas Escolas
de Mistério da antiguidade, é um método de estudo e ensino profundo e científico, cujos objetos de
estudo são o Homem, a Natureza e a Divindade; uma verdadeira ciência que tem suas regras
precisas, derivadas do mundo dos arquétipos.
Tomemos como exemplo a Cruz. A Cruz é um símbolo antigo, anterior a cristandade, basta
lembrar a Cruz Suástica dos Hindus e a Cruz Ansata, usada no Antigo Egito. Para a cristandade é
um símbolo do amor de Deus pela humanidade, que sacrifica Seu próprio Filho. No entanto, em seu
sentido esotérico, a Cruz é um símbolo fálico. Sendo a vertical interpretada como o ativo,
masculino, e a horizontal como o passivo, feminino, fica evidente sua interpretação. Segundo H. P.
Blavatsky, “A cruz filosófica, as duas linhas traçadas em direções opostas, a horizontal e a
perpendicular, a altura e a largura, que a Divindade, que faz geometria, divide no ponto de
intersecção, e que forma o quaternário, tanto o mágico como o científico, ― quando inscrita no
quadrado perfeito é a base do Ocultista.”
H. P. Blavatsky menciona a diferença entre emblema e símbolo, e citando Kenneth
Mackenzie, afirma que o primeiro “compreende uma série de pensamentos maior que a do símbolo,
o qual se deve antes considerar como destinado a esclarecer uma só ideia especial.” Nesta citação,
Blavatsky não parece referir-se a emblema e símbolo, mas a alegoria e símbolo. É a partir da
existência do símbolo, como derivado do mundo dos arquétipos, que podemos chegar ao
esoterismo, a explicação profunda dos Ritos e Sabedoria presente na Maçonaria. O símbolo liga a
experiência humana individual à uma escala cósmica, expressando ideias universais.
De acordo com Albert Mackey, “A Maçonaria é um sistema de moralidade desenvolvido e
inculcado pela ciência do simbolismo. Este caráter peculiar de instituição simbólica e também a
adoção deste método genuíno de instrução pelo simbolismo, emprestam à Maçonaria a
incolumidade de sua identidade e é também a causa dela diferir de qualquer outra associação
inventada pelo engenho humano. É o que lhe confere a forma atrativa que lhe tem assegurado
sempre a fidelidade de seus discípulos e a sua própria perpetuidade.”
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38. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
A INICIAÇÃO
A Iniciação é uma cerimônia tão antiga quanto a humanidade. Sabemos que as antigas
Escolas de Mistério adotavam esta forma de receber seus discípulos. Podemos encontrar cerimônias
semelhantes no Antigo Egito, na Grécia Clássica, na Roma Antiga, etc. Cada “Iniciação” tem suas
formas próprias e a Iniciação Maçônica baseia-se na “arte de construir”. Embora as alegorias destas
“Iniciações” sejam diferentes exteriormente, coincidem plenamente os símbolos e suas
interpretações, quando entendido seu sentido interno.
A cerimônia de recepção aos novos membros da Maçonaria contém, perfeitamente
apresentadas e manifestadas, as duas características fundamentais de nossa Instituição: a iniciática e
a simbólica.
A palavra “iniciação” deriva da palavra latina initiare, de initium, início ou começo,
significando “ir para dentro”, “penetrar no interior”, “ingressar no mundo interno”, pois a palavra
iniciação tem duplo sentido, o de começo e o de ingressar. A Iniciação é a porta que conduz ao
ingresso em um novo estado moral, na qual se inicia uma nova maneira de viver. Assim, a Iniciação
não é simplesmente um acontecimento material, um evento temporal, mas marca o ingresso do
iniciado em um novo estado de consciência. Por meio da Iniciação, ingressa o profano, que está nas
trevas, apegado à matéria, no mundo interno da LUZ, do Espírito que habita o interior do Homem.
A Iniciação é um NASCIMENTO ou RENASCIMENTO, uma transmutação do íntimo de nosso ser.
Na Masonic Encyclopedia de Mackey é dito que a palavra latina initia significa o primeiro
princípio da ciência.
Iniciar alguém, no sentido esotérico, é conferir-lhe conhecimentos que ele não poderia obter
sozinho, por meio do exercício de sua inteligência. A Iniciação não é um ato racional, mas antes
psicológico e espiritual. Os símbolos e a ritualística da Iniciação dirigem-se, não à inteligência
discursiva, mas à inteligência analógica, pois a linguagem da Iniciação é uma linguagem oculta, que
não pode ser revelada por meio de palavras. O símbolo tem um poder especial, pois os símbolos
formam a linguagem das Verdades Eternas, derivada do mundo dos arquétipos e superior à nossa
inteligência discursiva.
A Iniciação tem o poder de imprimir uma indelével influência magnética, espiritual, no
candidato, uma vibração nos planos psicológico, mental e astral, preparando o neófito para os
conhecimentos que irá adquirir em seus estudos posteriores, capacitando-o a sintonizar energias
sutis, cuja existência, após a Iniciação, estará capacitado a conhecer. A Iniciação tem a função de
despertar a visão psíquica no candidato por meio de símbolos, cuja linguagem é sagrada.
Segundo Huberto Rohden, “Por isso, o agir do iniciado é totalmente diferente do profano.
Não corre freneticamente atrás dos efeitos ilusórios, mas apodera-se tranqüilamente da causa real de
todas as coisas. Crea dentro de si mesmo uma espécie de 'centro de sucção' (desculpe a comparação
primitiva!), espécie de vácuo; em virtude dessa vacuidade estabelecida e mantida voluntariamente,
todas as plenitudes, mesmo as da vida presente, são 'sugadas' ou atraídas para esse homem. De
dentro do seu centro dinâmico e silencioso, domina ele todas as periferias. Ele é silenciosamente
poderoso, quando outros são ruidosamente fracos, embora se tenham em conta de fortes. Esse
homem sabe por experiência própria que 'todas as coisas são dadas de acréscimo' àquele que 'em
primeiro lugar busca o reino de Deus e sua justiça'. Isto ele não crê, isto ele sabe, porque vive cada
dia essa grande verdade.”
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39. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
INICIAÇÃO
Fernando Pessoa
“Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
....................................................
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
....................................................
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não 'stás morto, entre ciprestes.
....................................................
Neófito, não há morte.”
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40. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
A CÂMARA DE REFLEXÕES
A Câmara de Reflexões é um importante aspecto da Iniciação ao Grau de Apr.'. M.'., e seu
significado deve ser compreendido por todos os Maçons. Muitos estudiosos consideram a Câmara
de Reflexões a chave para entender a Iniciação de Apr.'., pois é nela que o profano irá refletir sobre
sua vida e sobre o início de sua caminhada em nossa Ordem. De acordo com G. Persigout, a palavra
“reflexões” deve estar no singular e não no plural, pois o profano não se entrega a “reflexões”, mas
faz uma reflexão no sentido de volta sobre si mesmo, já que está prestes a nascer novamente. A
Câmara é o símbolo do estado de consciência do profano que anda pelas trevas, e por isso nela se
encontram emblemas da morte. A Câmara é uma catacumba onde o profano morrerá para sua vida
pregressa e nascerá novamente como um Apr.'. M.'. Logo, a Câmara de Reflexões também é um
útero, e em certo sentido é o próprio corpo humano, a tumba do Ser Divino que habita no Homem.
Nessa Câmara o profano deve entrar despojado de seus metais, em um estado de pobreza e
simplicidade.
Num primeiro momento, pode parecer muito estranho que se queira iniciar um candidato em
uma Ordem Fraternal em um local tão cheio de símbolos da morte: crânio e ossos humanos, pão em
putrefação, etc. Além disso, pode causar espanto que símbolos da vida e da morte aparecem ao
mesmo tempo na Câmara de Reflexões. Devemos lembrar que todo nascer pressupõe um morrer.
Sabemos que para que uma planta possa nascer é necessário que a semente morra (ver João 12:24).
A Câmara tem um aspecto de uma gruta, ou de uma caverna sombria, por simbolizar o
centro da terra e, em última instância, a matéria, a tumba do Espírito. Na Câmara encontra-se um
pão e um copo de água. Eles representam o alimento necessário ao profano para que realize a sua
jornada durante a Iniciação. Nas religiões antigas, particularmente no Mitraísmo, uma refeição de
pão e água fazia parte do culto. O pão e o trigo estão ligados ao culto a Ísis e Deméter e, em muitas
religiões, representaram, e ainda representam, a carne do deus sacrificado. Segundo J. Boucher, o
pão e a água representam o alimento material e o espiritual. Muitos autores interpretam a Câmara de
Reflexões como sendo o Ovo no qual o germe desenvolve-se, e de onde o profano emergirá como
um Apr.'. M.'.
A Câmara reforça a ideia de que o candidato está no interior da terra apresentando o
emblema V.I.T.R.I.O.L. (Visita Interiora Terrae, Retificandoque, Invenies Occultum Lapidem), que
significa: “Visita o interior da terra e, retificando, encontrarás a Pedra Oculta”. A Pedra Oculta é
uma referência à Iniciação e ao posterior trabalho que o candidato executará como Apr.'. M.'. Ela
também é uma referência à Palavra Perdida e ao Segredo Oculto da Maçonaria, à Pedra dos
Filósofos e ao Santo Graal (na singular versão da lenda, descrita por Wolfram, em Parzival, o Graal
deixa de ser um cálice e torna-se uma pedra descida dos céus, e é uma pedra, que foi dada por Deus
a Adão, o primeiro homem, uma das relíquias mais importantes do Islã). Como na Câmara está
representada a terra, completam-se as quatro provas dos elementos (terra, ar, água e fogo) com as
três viagens do candidato durante a Iniciação.
A presença dos elementos Enxofre, Sal e Mercúrio na Câmara de Reflexões remete à
Ciência Alquímica, uma das fontes de inspiração para o simbolismo maçônico. Os três princípios
herméticos (alquímicos) são representados pelo Enxofre, Sal e Mercúrio. O Mercúrio (azougue) está
também representado pelo Galo, já que o Mercúrio e o Galo são símbolos intercambiáveis de
Hermes e da sabedoria. O Galo é um símbolo da coragem, da ousadia e da vigilância, como aparece
nas palavras exibidas na Câmara: “Vigilância e perseverança”. Isso indica que o candidato deve
estar atento aos significados dos símbolos estampados na Câmara, mas cujo entendimento só
poderá ser alcançado por meio da perseverança no estudo. Os antigos acreditavam que o Galo não
temia nem mesmo o Leão, sendo o Leão um símbolo alquímico do Sol e do Ouro. O Galo é o
anunciador da ressurreição, pois seu canto marca a hora do alvorecer, ou seja, a do triunfo da Luz
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41. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
sobre as Trevas. Como anunciador do nascer do dia e da luz, ele exprime uma das propriedades do
azougue secreto. O Enxofre é um símbolo da energia ativa, positiva, masculina. O Mercúrio
representa a energia passiva, negativa, feminina. Sendo dois polos opostos são uma referência às
duas Colunas J.'. e B.'. do Templo Maçônico e aos dois primeiros graus da Maçonaria. Os três
princípios apresentam entre si uma relação dialética, sendo os dois opostos Enxofre e Mercúrio
conciliados e temperados pelo Sal, que é o elemento neutro. No ovo, o Mercúrio é a clara, o
Enxofre, a gema, e o Sal, a casca. A antiga alquimia dizia que, nos metais, o Enxofre é a alma, o
“fixo”, dando aos metais suas propriedades químicas, o Mercúrio, o corpo, o “volátil”, fornecendo
suas propriedades físicas.
Os ossos e o crânio, que figuram na Câmara, servem para lembrar o que somos e o que
seremos, como afirma a Bíblia: “tu és pó e ao pó tornarás” (Gênesis 3:19); cuja interpretação indica
a transitoriedade da vida humana, a futilidade das coisas materiais e uma rejeição da vaidade, mas
também remetem à Alquimia. O crânio e os ossos correspondem ao processo alquímico de
putrefação, um dos sete principais processos da alquimia filosófica:
1º passo: CALCINAÇÃO - transformação por ação do fogo;
2º passo: SUBLIMAÇÃO - o puro é separado do impuro;
3º passo: DISSOLUÇÃO - a quente dissolve gorduras; a frio dissolve sais, substâncias corrosivas e
corpos calcinados;
4º passo: PUTREFAÇÃO - o vivo morre e o que está morto ganha nova vida (Primeira Iniciação);
5º passo: DESTILAÇÃO - as águas, os líquidos e os óleos são sutilizados;
6º passo: COAGULAÇÃO - pelo fogo é fixa; a frio não o é; e
7º passo: TINTURA - o imperfeito torna-se perfeito. (Iniciação Final).
A putrefação é um processo em que o vivo morre e o que está morto renasce para uma nova
vida. Dentro do Ovo Filosófico, o candidato, mergulhado na escuridão de sua ignorância, irá
meditar sobre sua vida e irá nascer do Útero da Sabedoria para a Luz, tornando-se um Filho da Luz.
O crânio, com seu sorriso irônico e ar pensativo, simboliza o conhecimento daquele que enfrentou a
morte em busca da sabedoria que transcende este mundo.
Finalmente, a ampulheta é um símbolo do inexorável transcorrer do tempo e da brevidade da
vida humana. Constitui-se em um aviso ao futuro Maçom de que a vida dedicada apenas às coisas
mundanas será uma vida perdida. Deve o Maçom dedicar-se às causas nobres e ideais elevados.
Este compromisso com uma vida de ideais mais elevados fica completa com o preenchimento do
Testamento. Nele o candidato expressa sua intenção de morrer para as coisas mundanas e dedicar-se
às coisas espirituais. O Testamento não é exatamente um testamento civil, mas um testamento
filosófico, de compromisso com essas obrigações. Completa-se assim, para o neófito na Câmara, a
transição da vida profana para a vida Maçônica, por meio da introspecção e do reconhecimento da
instabilidade e transitoriedade da vida humana.
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42. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
AS VIAGENS DO APRENDIZ
As três viagens que o candidato empreende, durante a Inic.'. ao Gr.'. de Apr.'., um dos
momentos principais da Cerimônia, fazem-nos lembrar de um tema central da literatura antiga, as
viagens descritas nas grandes epopeias, como as de Jasão e Ulisses, e as aventuras vividas pelos
navegadores, como descrita por Camões em “Os Lusíadas”. Estas viagens evocam a aventura e a
busca do Conhecimento. O movimento circular na direção horária, que o candidato realiza em volta
do Altar dos Juramentos no Ocidente, acompanha o movimento do sol no Hemisfério Norte.
Caminhadas circulares são comuns na ritualística de diversas tradições religiosas, particularmente
no Judaísmo. A ideia geral das provas enfrentadas pelo candidato na Iniciação tem nítida filiação
com rituais antigos, e podemos verificar vestígios do enredo da Iniciação nos Mistérios de Baco, de
Mitra, de Ceres, de Cibele, etc.
O candidato à Iniciação apresenta-se para as provas desprovido de seus metais, em
simplicidade e pobreza. Ele está vendado, pois ainda é um profano e vive nas trevas. Seu braço e
peito esquerdo estão descobertos, perna e joelho direito desnudo e com o pé esquerdo descalço.
Antes de ser uma tentativa de ridicularizar o candidato, esta estranha forma de trajar-se tem um
significado simbólico relacionado com a Iniciação. Segundo Oswald Wirth, “a região do coração é
posta a descoberto como alusão à absoluta sinceridade do Recipiendário; a nudez do joelho pretende
que, ao dobrá-lo, ele entre diretamente em contato com um solo sagrado, que ele pisa, por sua vez,
com o pé descalço”.
Lembremos que foi com a perda de uma de suas sandálias que Jasão empreendeu a
conquista do Velo de Ouro. Estando com um pé calçado e outro descalço, as pisadas do candidato
durante suas viagens são desequilibradas e titubeantes, representando as dificuldades de sua
caminhada na vida iniciática.
Estando o peito desnudo, a atenção do Recipiendário é atraída para o coração, sede da
afetividade, significando que o candidato deve ter cuidado com arroubos sentimentais. O joelho
direito é aquele que se põe em terra durante a genuflexão, ato de submissão. Deste modo, estando
descoberto, o joelho torna-se sensível e isso incita o Recipiendário a realizar a genuflexão com
circunspecção. Estando com o pé esquerdo descalço, o Recipiendário é obrigado a apoiar-se mais
no pé direito, lado ativo e positivo do corpo, significando a preponderância da razão sobre o
sentimentalismo.
Para muitos povos antigos, a matéria é constituída por quatro elementos fundamentais: Ar;
Água; Fogo; e Terra. Estes são os elementos primordiais na Filosofia Grega. Estes quatro elementos
estão associados à Esfinge tetramorfa, que tem pés de Touro (Terra), corpo de Leão (Fogo), asas de
Águia - uma forma antiga do signo de Escorpião - (Água) e cabeça de Homem - o signo de Aquário,
o carregador de água – (Ar). Os elementos também podem ser associados ao deus Amon do Antigo
Egito, pois ele podia assumir a aparência de um touro, um leão, uma águia ou um anjo. Estes são os
seres da visão de Ezequiel: “E a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e do lado
direito todos os quatro tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi;
e também tinham rosto de águia todos os quatro.” (Ezequiel 1:10). Eles são os quatro animais
descritos no livro do Apocalipse: “E havia diante do trono um como mar de vidro, semelhante ao
cristal. E no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais cheios de olhos, por diante e por
detrás. E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o segundo animal semelhante a um bezerro,
e tinha o terceiro animal o rosto como de homem, e o quarto animal era semelhante a uma águia
voando.” (Apocalipse 4:6-7).
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43. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
A Tabela seguinte apresenta as correlações das viagens e das provas com os quatro
elementos e outros aspectos:
Viagem 1ª Viagem 2ª Viagem 3ª Viagem
Prova Câmara de Reflexões Prova do Ar Prova da Água Prova do Fogo
Elemento Terra Ar Água Fogo
Atitude Calar Saber Ousar Querer
Ser (Ezequiel) Boi Homem Águia Leão
Signo Touro Aquário Escorpião Leão
Evangelista São Lucas São Mateus São João São Marcos
Arcanjo Uriel Gabriel Rafael Michael
Direções Norte Leste Oeste Sul
Estações Inverno Primavera Outono Verão
Qualidade Inércia, Sensualidade Pensamento Força, Paixão Vigor, Energia
Temperamento Linfático Nervoso Sanguíneo Bilioso
Da mesma forma, o Nome de Deus dos judeus, o Tetragrama, YHVH, possui quatro letras,
como os quatro elementos, no entanto uma delas é repetida. Muitos sistemas esotéricos consideram
a Terra um elemento derivado, não primordial. Os três elementos restantes são os que correspondem
às três provas feitas durante cada uma das três viagens do Apr.'.: a Prova do Ar; a Prova da Água; e
a Prova do Fogo. Muitos estudiosos afirmam que a permanência do candidato na Câmara de
Reflexões representa a prova associada ao elemento Terra, pois o simbolismo da Câmara de
Reflexões remete ao interior da terra, onde encontram-se os vermes e as sementes. Assim sendo,
alguns argumentam que deveriam ser consideradas quatro e não apenas três viagens, pois são quatro
elementos e quatro provas.
Após permanecer algum tempo na Câmara de Reflexões, onde deverá assinar seu
Testamento e alegoricamente morrer, o candidato enfrenta as três provas vendado, pois ainda é um
profano que vive nas trevas. Ainda não lhe foi dada a LUZ, quando então será um “Filho da Luz”.
Em preparação às provas que serão enfrentadas durante as três viagens, ao candidato é
oferecido o Cálice da Amargura, uma bebida inicialmente doce, que torna-se amarga. O Cálice da
Amargura significa que os prazeres e doçuras da vida, em excesso, acabam tornando-se
desagradáveis e amargos. Muitos autores maçônicos associam este Cálice com o Santo Graal, o
segredo mais sagrado da Cavalaria Mística e da Maçonaria. Em alguns ritos o Cálice da Amargura é
oferecido após as três viagens.
1. A Prova do Ar (1ª Viagem)
A 1ª Viagem é plena de dificuldades e perigos, feita em meio a ruídos variados,
representando temporais e ventos, símbolos das falsas crenças e das adversidades da existência.
Na Maçonaria, o Ar é tomado como o emblema da existência humana, do berço ao túmulo.
Logo, a Prova do Ar é a prova da existência humana, com todas as suas atribulações representadas
pelos sons perturbadores de trovões. Esta primeira viagem é acompanhada de obstáculos que devem
ser superados, por isso o candidato é levado a curvar-se e pular diversas vezes, conduzido pelo
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44. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
Irm.'. Exp.'., desviando-se de obstáculos imaginários. Esta primeira é a mais conturbada de todas as
viagens, suas dificuldades representam as atribulações da vida e o sofrimento resultante das paixões
humanas. O candidato é incitado a vencer seu temor e com coragem enfrentar todos os desafios para
vencer a prova.
2. A Prova da Água (2ª Viagem)
A 2ª Viagem é muito mais tranquila que a primeira pois, a medida que aprendemos a superar
os obstáculos que surgem em nosso caminho, estes progressivamente desaparecem. A Água tem
função purificadora, sendo a prova uma espécie de batismo filosófico que lava toda a sujeira do
candidato. O Batismo de Água precede o Batismo de Fogo, preparando para o alicerçamento da
Verdade.
3. A Prova do Fogo (3ª Viagem)
A 3ª Viagem tem duas etapas. Na primeira o candidato apenas faz o percurso de olhos
vendados por um caminho sem obstáculos, representando a serenidade. Na segunda etapa o
candidato enfrenta a Prova do Fogo. Nesta prova o candidato enfrenta alegoricamente as paixões,
simbolizadas pelo Fogo, saindo-se vitorioso e purificado. Mas o Fogo também simboliza a própria
divindade, como a Sarça Ardente no alto do Monte Sinai, onde Moisés conversou com Deus. O
Fogo representa a Chispa Sagrada, Chama Interna, a Essência Espiritual ou Princípio Universal do
Ser, a Energia Primordial que habita o Homem e lhe confere o seu aspecto divino. O Fogo é o
purificador final, quando então o candidato está preparado para a vida maçônica.
As provas enfrentadas pelo candidato durante a Iniciação são atos simbólicos, sem
significado se consideradas apenas em sua exterioridade, e o candidato deve nelas participar em
espírito, caso contrário continuará sendo apenas um profano que, por curiosidade, delas tomou
conhecimento. Só assim ele emergirá das provas da Iniciação como um “nascido duas vezes”.
A Iniciação contém, nas quatro provas, o Enigma da Esfinge, pois o verdadeiro iniciado
deve: Saber com inteligência (Homem); Querer com ardor (Leão); Ousar com audácia (Águia); e
Calar-se com força (Touro).
O iniciado é aquele que desenvolveu suas capacidades ocultas, a compreensão que provem,
não da inteligência discursiva, o “inteligir”, mas do saber que é obtido pelo poder da intuição. Esta
intuição é o método para sintonizar nosso EU INTERIOR, EU SOU, o CRISTO INTERNO ou
CONSCIÊNCIA BÚDICA, nosso SER REAL ou CENTELHA DIVINA, que só pode ser alcançado
por meio da contemplação. Huberto Rohden reforça esta ideia ao dizer que: “Para além de todo o
'inteligir' está o 'intuir', que é uma vivência íntima; está o 'saber', que é um 'saborear' direto e
imediato. Em última análise, o homem só sabe aquilo que ele vive e o que ele é. Para essa vivência
íntima do espírito do Cristo necessitamos de um grande silêncio — silêncio material, mental e
emocional; e, mais do que isto, de uma profunda contemplação interior.”
Segundo Jorge Adoum: “EU SOU é a CHISPA DIVINA emanada da CHAMA SAGRADA.
É o FILHO do DIVINO PAI. É IMORTAL, ETERNO, INDESTRUTÍVEL, INVENCÍVEL. Possui
em Si os mesmos atributos do ABSOLUTO: PODER, SABEDORIA E REALIDADE.”
Aquele que, passando pela Iniciação e ingressando na Maçonaria, permitiu-se que a
Maçonaria ingresse em seu coração, psicologicamente impactado que foi pelos símbolos e
arquétipos presentes nas Provas da Iniciação, deve sempre lembrar das palavras de Jean Mourgues:
“Ninguém pode ser reconhecido como maçom enquanto continuar servo das suas paixões, escravo
das suas crenças e cego pelos bens deste mundo.”
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45. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
Figura: A alegoria do Apr.'. M.'.
45
J
46. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
O SINAL DE APRENDIZ
A compreensão do significado do sinal de Apr.'. é de suma importância para entender a
postura correta que o Apr.'. M.'. deve ter em Loja. Além disso, alguns autores encontram
significados místicos nesse sinal. O sinal de Apr.'., também conhecido como sinal gutural,
compreende dois gestos: o sinal de ordem e o sinal propriamente dito. “Colocar-se em ordem”,
respondendo ao chamado do Ven.'. Mestr.'., “de pé e à Ordem, meus IIrm.'.”, significa colocar a mão
direita estendida na altura da garganta, com os dedos da mão cerrados, formando um esquadro com
o dedo polegar que fica afastado e voltado na direção da garganta. A mão esquerda permanece
abaixada ao lado do corpo. O braço direito deve ficar perfeitamente na horizontal, formando o braço
e o antebraço um esquadro com o corpo. Ao mesmo tempo, os pés devem estar unidos pelos
calcanhares em esquadro. “Descarregar o sinal” consiste em mover a mão direita, na posição
descrita, levando-a até o ombro direito e depois faze-la voltar a posição normal ao longo do lado
direito do corpo.
O sinal de Apr.'. é feito para reafirmar o compromisso com a nossa Ordem, relembrando o
juramento feito, que diz: “Que eu prefiro ter a garganta cortada a revelar os segredos da
Maçonaria”. O sinal é feito sobre a garganta, pois essa é a sede da fala, o que significa que a
postura do Apr.'. é de silêncio sobre os segredos da Ordem. O Apr.'. não é ausente de fala, mas deve
treinar sua Vontade para o silêncio, pois sua fase de Apr.'. é uma preparação para o correto uso da
palavra e a maestria. O poder do Verbo não está ausente no Apr.'. M.'., mas cabe a ele aprender a
usa-lo corretamente. Assim, o Apr.'. deve cultivar o silêncio, abstendo-se de falar em Loja (quando
da Palavra ao Bem da Ordem). Quando em Ordem, o Apr.'. forma três esquadros, um com os dedos
da mão direita, outro com o braço e o antebraço e o último com os pés. Isso significa que o Apr.'.
deve ter uma vida reta, assentada sobre o emblema do esquadro. O braço, antebraço e peito formam
um triângulo, símbolo de perfeição e equilíbrio.
Muitos estudiosos argumentam que a mão sobre a garganta é uma referência ao signo
zodiacal de Touro, que rege a garganta. Touro é o símbolo da impulsividade passional, característica
da vida profana ainda presente no Apr.'. M.'. O trabalho do Apr.'. sobre si próprio deve transmutar
esta impulsividade, afastando-a de seus aspectos bestiais e dirigindo sua força para fins superiores,
colocando-a a serviço da humanidade. As emoções violentas, os desejos grosseiros são forças que,
apesar de negativas e destrutivas, podem ser canalizadas pela Vontade e pela Inteligência, para a
obtenção de qualidades como coragem, firmeza e amor.
Por outro lado, para alguns o sinal de Apr.'. também faz referência ao quinto chakra do
sistema da Ioga Indiana. Segundo este sistema esotérico, o corpo humano possui sete centros
energéticos sutis, ao longo de três canais chamados Ida, Pingala e Sushumna, chamados de
chakras: 1) Muladhara, associado ao ânus e aos órgãos genitais, e ao elemento terra, de cor
amarela; 2) Svadhisthana, acima dos órgãos genitais e atrás do corpo, elemento água, cor branca; 3)
Manipura, na altura do umbigo, fogo, cor vermelha; 4) Anahata, coração, ar, cor escura ou morena;
5) Vishuda, garganta, éter, cor branca; 6) Ajana, entre as duas sobrancelhas, todos os elementos, cor
lunar; e 7) Sahasrara, no alto da cabeça, todos os elementos, cor brilhante. Assim, o sinal de Apr.'.
corresponde ao chakra Vishuda e ao éter, o quinto elemento nos sistemas filosóficos antigos.
Segundo o Ioga Indiano, a abertura deste chakra forneceria ao iniciado o domínio sobre passado,
presente e futuro. Sua cor é o branco, que era a cor usada na túnica dos candidatos a iniciação na
Roma antiga (“branco” em latim é candida, daí se originando a palavra “candidato”). Finalmente,
na Cabala judaica, a garganta corresponde à Sefirá Daat, que é a síntese das Sefirót Chokmá e Biná,
associada à fala e correspondendo ao ponto em que a Vontade e a Inteligência começam a ser postos
em ação (a Cabala judaica será tema a ser abordado mais ao final deste livro).
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47. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
AS FERRAMENTAS DO APRENDIZ
A compreensão do significado das ferramentas do Apr.'. M.'. é fundamental para que o
trabalho de Apr.'. seja bem sucedido. O Apr.'. é a Pedra Bruta que foi retirada da pedreira para ser
desbastada e transformada em Pedra Cúbica. O Apr.'. deve trabalhar constantemente sobre si
próprio para aperfeiçoar-se, assimilando novos conhecimentos e, por meio da disciplina,
aprendendo a subordinar a sua Vontade. Para realizar este trabalho ele deve usar as ferramentas do
Apr.'. As ferramentas do Apr.'. M.'. são: a Régua de 24 polegadas; o Esquadro; o Malho; e o Cinzel.
Cabe perguntar o porquê de ser a Régua de 24 polegadas uma ferramenta do Apr.'. M.'., já
que a Régua é o instrumento por excelência do Comp.'. No entanto, devemos considera-la também
uma ferramenta adequada ao trabalho do Apr.'., porque a Régua serve para medir e planejar o
trabalho com a Pedra Bruta. É com ela que o Apr.'. M.'. prepara-se para se tornar um Comp.'. A
palavra “régua” tem sua origem do Francês “règle”, significando regra ou lei. Isso nos lembra a
ideia do traçado reto e da medida, já que toda lei serve para medir e traçar o comportamento das
pessoas. As 24 polegadas da Régua representam as 24 horas do dia, significando que o Apr.'. deve
aprender a planejar seu tempo, e que deve estar constantemente alerta para o seu trabalho como
Maçom.
O Esquadro, diz Ragon, “é um instrumento cuja propriedade é tornar os corpos quadrados;
com ele seria impossível fazer um corpo redondo.” Ele é o símbolo da retidão e serve para
determinar ângulos retos. O Esquadro simboliza a equidade, a justiça e a retidão de caráter. Por isso
o Esquadro é a joia atribuída ao Ven.'. Mestr.'., pois cabe a ele a administração da Loja, que deve ser
executada com retidão e justiça. No Esquadro, os dois braços não tem o mesmo comprimento,
sendo ele feito na proporção de três por quatro, como os dois lados de um triângulo retângulo dos
pitagóricos. Para alguns estudiosos, o Esquadro simboliza, assim como a Cruz e a letra Tau grega, o
equilíbrio resultante do cruzamento do ativo com o passivo, do masculino com o feminino, do
positivo com o negativo. Na Cruz, a haste vertical é o masculino, ativo e a haste horizontal é o
feminino, passivo. No entanto, como o Esquadro apresenta uma dissimetria, ele não é um bom
símbolo para esse equilíbrio. Como o equilíbrio é um estado estático, o Esquadro, por sua falta de
simetria, representa um estado dinâmico. Apesar disso, a Cruz e o Quadrado podem ser formados
pela composição de 2 ou 4 esquadros. O Esquadro é uma referência à Matéria, a qual ele retifica e
torna reta. Sendo assim, o Esquadro é o polo passivo, associado a Matéria, enquanto que o
Compasso é o polo ativo, associado ao Espírito. Segundo a Cabala, o mundo é originado de uma
ruptura da ordem inicial, gerando o Caos (Tohu-Bohu) que, num segundo momento é reorganizado
nas Sefirót (emanações de Deus). Essa retificação da tessitura inicial da Criação está representada
pelo Esquadro. De forma semelhante, o Esquadro representa a ação do Homem sobre a Matéria e
sobre si mesmo. Pode-se perceber que o Esquadro é a letra Gama do Alfabeto Grego, a mesma letra
G.'. que é a representação do G.'.A.'.D.'.U.'. e da Geometria.
O Apr.'. M.'. trabalha também com o Malho e o Cinzel. Ambos servem para desbastar a
Pedra Bruta e transforma-la em Pedra Cúbica – o principal trabalho a ser desenvolvido pelo Apr.'. O
Malho é o instrumento que permite descarregar golpes, aplicando a força sobre o Cinzel. Por isso, o
Malho representa na Maçonaria a força moral e espiritual, a energia necessária para a execução do
trabalho. É o emblema da Vontade. Um Malho era o emblema do deus Thor dos nórdicos, o deus do
trovão e da força. O Apr.'. deve usar a força do Malho direcionada sobre o Cinzel, conforme o que
foi planejado usando a Régua de 24 polegadas. O Cinzel possui o poder de cortar e dar forma. O
Cinzel direciona a força do Malho sobre a Pedra para que o trabalho seja bem sucedido. Assim, o
Cinzel representa a inteligência necessária para o trabalho e o livre-arbítrio, pois dependendo da
forma como o Obreiro direciona com o Cinzel os golpes do Malho, diferentes resultados serão
obtidos. O Malho e o Cinzel representam, assim como o Compasso e o Esquadro, o ativo e o
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48. LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM
passivo. A forma do Malho é a Tau grega, uma forma de Cruz. Da mesma forma que o Esquadro, o
Nível e o Prumo, o Malho é uma insígnia do Ven.'. e dos dois VVig.'.
O Nível é a insígnia do 1º Vig.'. Ele é o instrumento usado para determinar a horizontal.
Como representa uma horizontal, é um símbolo do passivo e do feminino, uma das polaridades
universais. Segundo Ragon, por determinar uma linha horizontal, o Nível é o símbolo da igualdade
social, base do direito natural.
A Perpendicular ou o Fio de Prumo é a insígnia do 2º Vig.'. Ele é o instrumento usado para
determinar a vertical. Como representa uma vertical, é um símbolo do ativo e do masculino.
Segundo Gédalge, o Fio de Prumo “é o emblema da busca – em profundidade – da verdade, do
aprumo, do equilíbrio”.
Mas, por que o Nível é a ferramenta do 1º Vig.'. e a Perpendicular a do 2º Vig.'.?
Pode parecer estranho que o instrumento passivo, o Nível, seja atribuído ao 1º Vig.'. e um
instrumento ativo, a Perpendicular, seja atribuído ao 2º Vig.'. No entanto, como o Nível contém uma
Cruz, ele contém em si ambos, o masculino e o feminino, sendo uma ferramenta mais completa que
a Perpendicular. O Apr.'. deve, ao final de seu período de três anos de trabalho, compreender o
significado da Perpendicular, a reta vertical na qual o Homem ascende para níveis superiores. Ao
final desse período de trabalho, ele deve passar da Perpendicular ao Nível, comprovando que
cumpriu seu período de trabalho, e tornando-se um Comp.'. O Nível simbolicamente nos ensina que
devemos pautar nossa vida pelo equilíbrio. Esse equilíbrio é representado na Cruz que aparece no
Nível.
Figura: O Nível
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