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TROVADORISMO
CANTIGAS LÍRICAS E SATÍRICAS
Profa. Ana Maria Vieira Silva
Literatura Portuguesa I
Turma: Letras 2019
CANTIGAS LÍRICAS: Cantigas de Amor
CANTIGA DE MESTRIA OU MAESTRIA
 As cantigas de mestria não possuem um refrão o que quer dizer que não tem repetição
em suas coblas (estrofes) e em suas palavras (versos). Por tratar-se de um esquema
estrófico mais complexo, intelectualizado, são mais comuns nas cantigas de amor.
 Cantiga “Ai eu de min, e que será?” de Nuno Fernández
 Ai eu de min, e que será?
Que fui tal dona querer ben
a que non ouso dizer ren
de quanto mal me faz haver.
E feze-a Deus parecer
melhor de quantas no mund'ha.
 Mais en grave día nací,
se Deus conselho non m'i der;
ca destas coitas qual-xe-quer
m'é min mui grave d'endurar,
como non lh'ousar a falar,
e ela parecer assí,
 Ela, que Deus fez por meu mal!
Ca ja lh'eu sempre ben querrei,
e nunca end'atenderei
con que folgu'o meu coraçón,
que foi trist', ha i gran sazón,
polo seu ben, ca non por al.
PARALELISMO
CANTIGA DE AMIGO: RIMAS
CANTIGA DE AMIGO:
PARALELISMO
CANTIGA DE MALDIZER – Autor: Afonso Eanes de Coton
 Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
 com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?
ACOMPANHAMENTO MUSICAL
 Aliança entre a poesia, a música, o canto e a dança;
 As cantigas eram acompanhadas de instrumento de SOPRO (anafil, antiga trompeta; doçaina,
espécie de charamela; exabeba ou axabeba, espécie de flauta usada pelos árabes; flauta; gaita;
trompa), CORDA (alaúde; arrabil ou rabil, rabeca mourisca, espécie de violino; bandurra,
guitarra de braço curto; cítola, instrumento da família do alaúde; giga, semelhante ao
bandolim, tocado com arco; harpa; saltério, instrumento de corda de origem oriental, triangular
ou trapezoidal; viola) e PERCUSSÃO (adufe, espécie de pandeiro; pandeiro; tambor). In:
MOISÉS, Massaud. A literatura Portuguesa).
TERMINOLOGIA POÉTICA
 Os recursos formais mais frequentes eram:
 PALAVRA: assim era chamado o verso. Quando fosse branco, sem rima, denominava-as palavra-
perduda.
 COBRA: nome dado à estrofe. Cobras singulares eram estrofes com rimas próprias; cobras uníssonas,
quando as rimas eram comuns.
 TALHO: a forma da estrofe.
 FIINDA: estrofe de estrutura própria, mas ligada pela rima ao resto da cantiga.
 ATAFINDA: Quando o final de um verso ou de uma estrofe liga-se diretamente ao início do seguinte,
sem interrupção de sentido ou de ritmo. Denomina-se cantiga de atafinda a composição que
emprega essa recurso de forma sistemática. É o que hoje denominamos de encadeamento ou
enjambement.
 DOBRE e MORDOBRE: Consistiam na repetição de uma palavra ou mais no interior da mesma estrofe,
exatamente como tal (dobre) ou em uma uma de suas formas variadas (mordobre).
 LEIXA-PREN (deixa-prende): É o recurso formal de apanhar o último verso de uma estrofe (que não
seja o refrão) e com ele iniciar a estrofe seguinte, inteiro ou com ligeira variação.
 PARALELÍSTICA: Quando o sentimento poético se mantinha inalterado ao longo das estrofes e, para
exprimi-lo, o trovador recorria às mesmas expressões, apenas utilizando sinônimos nas rimas. Isso se
chama paralelismo e as cantigas que se utilizam desse recurso são denominadas cantigas
paralelísticas.
 CANTIGA DE TENÇÃO: Cantiga dialogada, em que o eu-lírico dialoga com a mãe, uma amiga ou com
a natureza. Demonstrando o seu aborrecimento, a sua angústia ou solidão pela ausência do amado.
 In: MOISÉS, massaud. A Literatura Portuguesa.
TROVADORES: HIERARQUIA
 TROVADOR: Era o poeta com todas as qualidades que a moda palaciana requeria:
compunha, cantava e podia instrumentar as cantigas. Era, não poucas vezes, fidalgo
decaído.
 JOGRAL: Era uma designação menos precisa: podia se referir ao saltimbanco, ao truão,
ao ator mímico, ao músico e, por vezes, ao que compunha suas melodias. Não era
nobre. Vivia do pagamento recebido por seus méritos; podia subir socialmente e se
tornar trovador.
 SEGREL: Não tinha uma situação definida; colocava-se entre o jogral e o trovador,
consistindo numa espécie de “jogral-trovador”, que ia de corte a corte para
desempenhar, a troco de soldo, o seu ofício de interpretar cantigas próprias ou alheias.
 MENESTREL: Músico e cantor oficial da corte.
 JOGRALESA OU SOLDADEIRA: moça que dançava, cantava e tocava
castanholas ou pandeiro acompanhando os trovadores, jograis, segréis ou menestréis.
Eram chamadas de soldadeiras porque recebiam, pagamento, sendo que muitas vezes
tinham fama de prostitutas.
 In: MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa.
IMPORTÂNCIA DAS CANTIGAS TROVADORESCAS PARA A MPB
 O período medieval representou a riqueza da musicalidade poética. Cantar o amor através das grandes
cantigas líricas, ou até manifestar-se de modo irônico e depreciativo nas cantigas satíricas, comprovam que as
cantigas trovadorescas transcenderam os tempos e ainda enaltecem grandes músicos na atualidade. Busca-se
na pureza d’alma dos artistas trovadorescos a essência do sentimentalismo para produções contemporâneas
dos músicos brasileiros, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Betânia, Ana Carolina, Maísa, Sá e
Guarabira, Gabriel o Pensador, Amado Batista, entre muitos outros.
 O entrelaçamento da Literatura com a História propicia aos admiradores das manifestações artísticas o
privilégio de adentrar às palavras escritas nas grandes melodias e não apenas ficar na superficialidade das
músicas. Depreendem-se sentidos para o modo como estas cantigas foram produzidas e o modo como
trazem o cunho histórico do passado, das outras culturas – perpetuadas nas palavras, com seus resíduos
literários, e enaltecidas através das artes.
 O Trovadorismo, portanto, está personificado e atemporalizado através da MPB. Na música brasileira,
encontram-se muitos trovadores líricos e satíricos. Na melodia desses artistas da poesia musical, homens e
mulheres vagueiam nos sentimentos: sofrem, inquietam-se, riem, lamentam a perda do ente querido, buscam
o amado, ajoelham-se querendo um possível perdão, almejam descer a amada do seu pedestal, rastejam-se
pelo chão do coração e adentram o paraíso da paixão. Mesmo que inconscientemente, esses compositores e
cantores apresentam sua arte de trovar, que é sua arte de viver, de fazer cantigas que marcam a
humanização do ser humano. A grandiosidade dos sentimentos, registrada desde os tempos longínquos e
trovada na Idade Média pelos trovadores, retrata um dos resíduos mais significativos para a humanidade: o
resíduo do amor (seja vassalo, correspondido ou ausente!). A Música Popular Brasileira resgata, com sua
residualidade, mas também reproduz o tom irônico, sarcástico e até desmoralizante das cantigas de escárnio
e de maldizer.
IMPORTÂNCIA DAS CANTIGAS TROVADORESCAS PARA A MPB
Atrás da Porta – Chico Buarque
 Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei
Eu te estranhei
Me debrucei
Sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito (Nos teus pelos)*
Teu pijama
Nos teus pés
Ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
 Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que inda sou tua
Só pra provar que inda sou tua...
Dona – Sá e Guarabira
 Dona
Desses traiçoeiros
Sonhos
Sempre verdadeiros
Oh, Dona
Desses animais
Dona
Dos teus ideais
 Pelas ruas onde andas, onde mandas todos nós
Somos sempre mensageiros esperando tua voz
Teus desejos uma ordem, nada é nunca, nunca é não
Por que tens essa certeza dentro do teu coração
 Tam, tam, tam, batem na porta, não precisa ver quem é
Pra sentir a impaciência do teu pulso de mulher
Um olhar me atira à cama, um beijo me faz amar
Não levanto, não me escondo porque sei que és minha dona
 Dona
Desses traiçoeiros
Sonhos
Sempre verdadeiros
Oh, Dona
Desses animais
Oh, dona
Dos teus ideais
 Não há pedra em teu caminho, não há ondas no teu mar
Não há vento ou tempestade que te impeçam de voar
Entre a cobra e o passarinho, entre a pomba e o gavião
Ou teu ódio ou teu carinho nos carregam pela mão
 É a moça da cantiga, a mulher da criação
Umas vezes nossa amiga, outras nossa perdição
O poder que nos levanta, a força que nos faz cair
Qual de nós ainda não sabe que isso tudo te faz dona
IMPORTÂNCIA DAS CANTIGAS TROVADORESCAS PARA A MPB
Cinquenta reais – Naiara Azevedo
 Bonito! Ha-ha-ha
Que bonito, ein?
Que cena mais linda
Será que eu estou
Atrapalhando o casalzinho aí?
Que lixo!
Cê tá de brincadeira!
Então é aqui o seu futebol?
Toda quarta-feira
E por acaso esse motel
É o mesmo que me trouxe na lua de mel?
É o mesmo que você me prometeu o céu
E agora me tirou o chão?
E não precisa se vestir
Eu já vi tudo que eu tinha que ver aqui
Que decepção, 1 a 0 pra minha intuição
Não sei se dou na cara dela ou bato em você
Mas eu não vim atrapalhar sua noite de
prazer
E pra ajudar pagar a dama que lhe satisfaz
Toma aqui um 50 reais
Não sei se dou na cara dela ou bato em você
Mas eu não vim atrapalhar sua noite de
prazer
E pra ajudar pagar a dama que lhe satisfaz
Toma aqui um 50 reais
Vai começar a putaria – MR. Catra
 Vai começar a putaria!
 A partir desse exato momento, não existe mais brabo
na casa
A partir desse exato momento, quem manda nessa
porra são as meninas, gostosas
A festa é de vocês, hein! [...]
 Senta, senta, senta
Senta, senta, senta
Ela senta, ela senta, ela senta
Ai, que delicia, vai!
Senta, senta senta [...]
 Quê que foi?
Gostoso?
Ah, gostoso é você de quatro na minha cama
Oi, oi, oi, oi
Vamo começar assim
 A pretinha tá que tá
Oi, ela tá que tá
Oi, ela tá que tá
Tá doidinha pra hm
Doidinha pra ui
Doidinha pra ahn
 [...]

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  • 1. TROVADORISMO CANTIGAS LÍRICAS E SATÍRICAS Profa. Ana Maria Vieira Silva Literatura Portuguesa I Turma: Letras 2019
  • 2.
  • 4.
  • 5.
  • 6.
  • 7. CANTIGA DE MESTRIA OU MAESTRIA  As cantigas de mestria não possuem um refrão o que quer dizer que não tem repetição em suas coblas (estrofes) e em suas palavras (versos). Por tratar-se de um esquema estrófico mais complexo, intelectualizado, são mais comuns nas cantigas de amor.  Cantiga “Ai eu de min, e que será?” de Nuno Fernández  Ai eu de min, e que será? Que fui tal dona querer ben a que non ouso dizer ren de quanto mal me faz haver. E feze-a Deus parecer melhor de quantas no mund'ha.  Mais en grave día nací, se Deus conselho non m'i der; ca destas coitas qual-xe-quer m'é min mui grave d'endurar, como non lh'ousar a falar, e ela parecer assí,  Ela, que Deus fez por meu mal! Ca ja lh'eu sempre ben querrei, e nunca end'atenderei con que folgu'o meu coraçón, que foi trist', ha i gran sazón, polo seu ben, ca non por al.
  • 8.
  • 9.
  • 10.
  • 11.
  • 12.
  • 13.
  • 16.
  • 18.
  • 19.
  • 20.
  • 21.
  • 22. CANTIGA DE MALDIZER – Autor: Afonso Eanes de Coton  Marinha, o teu folgar tenho eu por desacertado, e ando maravilhado de te não ver rebentar; pois tapo com esta minha boca, a tua boca, Marinha; e com este nariz meu, tapo eu, Marinha, o teu;  com as mãos tapo as orelhas, os olhos e as sobrancelhas, tapo-te ao primeiro sono; com a minha piça o teu cono; e como o não faz nenhum, com os colhões te tapo o cu. E não rebentas, Marinha?
  • 23. ACOMPANHAMENTO MUSICAL  Aliança entre a poesia, a música, o canto e a dança;  As cantigas eram acompanhadas de instrumento de SOPRO (anafil, antiga trompeta; doçaina, espécie de charamela; exabeba ou axabeba, espécie de flauta usada pelos árabes; flauta; gaita; trompa), CORDA (alaúde; arrabil ou rabil, rabeca mourisca, espécie de violino; bandurra, guitarra de braço curto; cítola, instrumento da família do alaúde; giga, semelhante ao bandolim, tocado com arco; harpa; saltério, instrumento de corda de origem oriental, triangular ou trapezoidal; viola) e PERCUSSÃO (adufe, espécie de pandeiro; pandeiro; tambor). In: MOISÉS, Massaud. A literatura Portuguesa).
  • 24. TERMINOLOGIA POÉTICA  Os recursos formais mais frequentes eram:  PALAVRA: assim era chamado o verso. Quando fosse branco, sem rima, denominava-as palavra- perduda.  COBRA: nome dado à estrofe. Cobras singulares eram estrofes com rimas próprias; cobras uníssonas, quando as rimas eram comuns.  TALHO: a forma da estrofe.  FIINDA: estrofe de estrutura própria, mas ligada pela rima ao resto da cantiga.  ATAFINDA: Quando o final de um verso ou de uma estrofe liga-se diretamente ao início do seguinte, sem interrupção de sentido ou de ritmo. Denomina-se cantiga de atafinda a composição que emprega essa recurso de forma sistemática. É o que hoje denominamos de encadeamento ou enjambement.  DOBRE e MORDOBRE: Consistiam na repetição de uma palavra ou mais no interior da mesma estrofe, exatamente como tal (dobre) ou em uma uma de suas formas variadas (mordobre).  LEIXA-PREN (deixa-prende): É o recurso formal de apanhar o último verso de uma estrofe (que não seja o refrão) e com ele iniciar a estrofe seguinte, inteiro ou com ligeira variação.  PARALELÍSTICA: Quando o sentimento poético se mantinha inalterado ao longo das estrofes e, para exprimi-lo, o trovador recorria às mesmas expressões, apenas utilizando sinônimos nas rimas. Isso se chama paralelismo e as cantigas que se utilizam desse recurso são denominadas cantigas paralelísticas.  CANTIGA DE TENÇÃO: Cantiga dialogada, em que o eu-lírico dialoga com a mãe, uma amiga ou com a natureza. Demonstrando o seu aborrecimento, a sua angústia ou solidão pela ausência do amado.  In: MOISÉS, massaud. A Literatura Portuguesa.
  • 25. TROVADORES: HIERARQUIA  TROVADOR: Era o poeta com todas as qualidades que a moda palaciana requeria: compunha, cantava e podia instrumentar as cantigas. Era, não poucas vezes, fidalgo decaído.  JOGRAL: Era uma designação menos precisa: podia se referir ao saltimbanco, ao truão, ao ator mímico, ao músico e, por vezes, ao que compunha suas melodias. Não era nobre. Vivia do pagamento recebido por seus méritos; podia subir socialmente e se tornar trovador.  SEGREL: Não tinha uma situação definida; colocava-se entre o jogral e o trovador, consistindo numa espécie de “jogral-trovador”, que ia de corte a corte para desempenhar, a troco de soldo, o seu ofício de interpretar cantigas próprias ou alheias.  MENESTREL: Músico e cantor oficial da corte.  JOGRALESA OU SOLDADEIRA: moça que dançava, cantava e tocava castanholas ou pandeiro acompanhando os trovadores, jograis, segréis ou menestréis. Eram chamadas de soldadeiras porque recebiam, pagamento, sendo que muitas vezes tinham fama de prostitutas.  In: MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa.
  • 26. IMPORTÂNCIA DAS CANTIGAS TROVADORESCAS PARA A MPB  O período medieval representou a riqueza da musicalidade poética. Cantar o amor através das grandes cantigas líricas, ou até manifestar-se de modo irônico e depreciativo nas cantigas satíricas, comprovam que as cantigas trovadorescas transcenderam os tempos e ainda enaltecem grandes músicos na atualidade. Busca-se na pureza d’alma dos artistas trovadorescos a essência do sentimentalismo para produções contemporâneas dos músicos brasileiros, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Betânia, Ana Carolina, Maísa, Sá e Guarabira, Gabriel o Pensador, Amado Batista, entre muitos outros.  O entrelaçamento da Literatura com a História propicia aos admiradores das manifestações artísticas o privilégio de adentrar às palavras escritas nas grandes melodias e não apenas ficar na superficialidade das músicas. Depreendem-se sentidos para o modo como estas cantigas foram produzidas e o modo como trazem o cunho histórico do passado, das outras culturas – perpetuadas nas palavras, com seus resíduos literários, e enaltecidas através das artes.  O Trovadorismo, portanto, está personificado e atemporalizado através da MPB. Na música brasileira, encontram-se muitos trovadores líricos e satíricos. Na melodia desses artistas da poesia musical, homens e mulheres vagueiam nos sentimentos: sofrem, inquietam-se, riem, lamentam a perda do ente querido, buscam o amado, ajoelham-se querendo um possível perdão, almejam descer a amada do seu pedestal, rastejam-se pelo chão do coração e adentram o paraíso da paixão. Mesmo que inconscientemente, esses compositores e cantores apresentam sua arte de trovar, que é sua arte de viver, de fazer cantigas que marcam a humanização do ser humano. A grandiosidade dos sentimentos, registrada desde os tempos longínquos e trovada na Idade Média pelos trovadores, retrata um dos resíduos mais significativos para a humanidade: o resíduo do amor (seja vassalo, correspondido ou ausente!). A Música Popular Brasileira resgata, com sua residualidade, mas também reproduz o tom irônico, sarcástico e até desmoralizante das cantigas de escárnio e de maldizer.
  • 27. IMPORTÂNCIA DAS CANTIGAS TROVADORESCAS PARA A MPB Atrás da Porta – Chico Buarque  Quando olhaste bem nos olhos meus E o teu olhar era de adeus Juro que não acreditei Eu te estranhei Me debrucei Sobre teu corpo e duvidei E me arrastei e te arranhei E me agarrei nos teus cabelos No teu peito (Nos teus pelos)* Teu pijama Nos teus pés Ao pé da cama Sem carinho, sem coberta No tapete atrás da porta Reclamei baixinho  Dei pra maldizer o nosso lar Pra sujar teu nome, te humilhar E me vingar a qualquer preço Te adorando pelo avesso Pra mostrar que inda sou tua Só pra provar que inda sou tua... Dona – Sá e Guarabira  Dona Desses traiçoeiros Sonhos Sempre verdadeiros Oh, Dona Desses animais Dona Dos teus ideais  Pelas ruas onde andas, onde mandas todos nós Somos sempre mensageiros esperando tua voz Teus desejos uma ordem, nada é nunca, nunca é não Por que tens essa certeza dentro do teu coração  Tam, tam, tam, batem na porta, não precisa ver quem é Pra sentir a impaciência do teu pulso de mulher Um olhar me atira à cama, um beijo me faz amar Não levanto, não me escondo porque sei que és minha dona  Dona Desses traiçoeiros Sonhos Sempre verdadeiros Oh, Dona Desses animais Oh, dona Dos teus ideais  Não há pedra em teu caminho, não há ondas no teu mar Não há vento ou tempestade que te impeçam de voar Entre a cobra e o passarinho, entre a pomba e o gavião Ou teu ódio ou teu carinho nos carregam pela mão  É a moça da cantiga, a mulher da criação Umas vezes nossa amiga, outras nossa perdição O poder que nos levanta, a força que nos faz cair Qual de nós ainda não sabe que isso tudo te faz dona
  • 28.
  • 29. IMPORTÂNCIA DAS CANTIGAS TROVADORESCAS PARA A MPB Cinquenta reais – Naiara Azevedo  Bonito! Ha-ha-ha Que bonito, ein? Que cena mais linda Será que eu estou Atrapalhando o casalzinho aí? Que lixo! Cê tá de brincadeira! Então é aqui o seu futebol? Toda quarta-feira E por acaso esse motel É o mesmo que me trouxe na lua de mel? É o mesmo que você me prometeu o céu E agora me tirou o chão? E não precisa se vestir Eu já vi tudo que eu tinha que ver aqui Que decepção, 1 a 0 pra minha intuição Não sei se dou na cara dela ou bato em você Mas eu não vim atrapalhar sua noite de prazer E pra ajudar pagar a dama que lhe satisfaz Toma aqui um 50 reais Não sei se dou na cara dela ou bato em você Mas eu não vim atrapalhar sua noite de prazer E pra ajudar pagar a dama que lhe satisfaz Toma aqui um 50 reais Vai começar a putaria – MR. Catra  Vai começar a putaria!  A partir desse exato momento, não existe mais brabo na casa A partir desse exato momento, quem manda nessa porra são as meninas, gostosas A festa é de vocês, hein! [...]  Senta, senta, senta Senta, senta, senta Ela senta, ela senta, ela senta Ai, que delicia, vai! Senta, senta senta [...]  Quê que foi? Gostoso? Ah, gostoso é você de quatro na minha cama Oi, oi, oi, oi Vamo começar assim  A pretinha tá que tá Oi, ela tá que tá Oi, ela tá que tá Tá doidinha pra hm Doidinha pra ui Doidinha pra ahn  [...]