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        XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011




Quantas Ladeiras? Uma Análise das figuras feminina e homossexual no Carnaval
                                do Recife1


                                 Camila Gallindo Cornélio2
                                   Helder Pessôa Lopes3
                                 Nadilson Manoel da Silva 4
                      Universidade Católica de Pernambuco, Recife, PE


O interesse maior deste trabalho é discutir sobre a figura da mulher e a sexualidade
homossexual, no Carnaval, por meio da análise das letras do bloco carnavalesco
recifense Quanta Ladeira. Para tanto, busca-se localizar o limite entre a disposição da
agremiação em divertir-se com suas piadas e o caráter subversivo dessas canções, o qual
se configuraria através de um posicionamento político comprometido socialmente com
as categorias acima citadas. Nessa direção, optou-se pelo estudo das composições
referentes ao ano de 2010 e por uma leitura teórica dos conceitos bakhtinianos sobre
Carnaval e paródia.


Palavras-chave: Carnavalização; Homossexual; Mulher; Paródia; Quanta Ladeira


Fundado em 1994, por um grupo de artistas, como Lula Queiroga, Lenine e Zé da
Flauta, o Quanta Ladeira faz parte da programação oficial do Carnaval Multicultural do
Recife, apresentando-se sempre aos domingos, no palco do Festival Rec-beat, no Polo
Mangue. O Bloco, que surgiu das brincadeiras nas ruas de Olinda, conta, todos os anos,
com a participação especial de músicos já conhecidos do cenário nacional, como
Caetano Veloso, Fafá de Belém e Pitty, que, junto com os pernambucanos, fazem a festa
ganhar ainda mais visibilidade.
        O bloco é tido como um dos poucos que mantém a tradição de aproveitar o
período do Carnaval para fazer críticas e posicionar-se politicamente no Estado de
Pernambuco:




     1
       Trabalho apresentado no DT 7 – Comunicação, Espaço e Cidadania do XIII Congresso de Ciências da
Comunicação na Região Nordeste realizado de 15 a 17 de junho de 2011
     2
        Estudante de Graduação do Curso de Jornalismo da UNICAP e de História da UFPE, email:
camila_gallindo@hotmail.com
     3
        Estudante de Graduação do Curso de Jornalismo da UNICAP e de Letras da UFPE, email:
helderhpl@gmail.com
     4
       Orientador do trabalho. Professor do Curso de Jornalismo da UNICAP, email: nadilson@yahoo.com.br
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                      Desde que o Carnaval afirmou-se como a maior festa popular brasileira, ainda
                      nos tempos do Império, a sátira política passou a ser tema de blocos e troças nas
                      principais cidades do País. No entanto, a partir da segunda metade da década de
                      90, a tradição vem perdendo força (...). Em Pernambuco poucos resistiram em
                      manter o foco na direção dos políticos (...). Para a folia deste ano apenas três
                      blocos devem abordar abertamente o assunto: Siri na Lata, Nóis Sofre, Mas
                      Nóis Goza! e Quanta Ladeira. (LOPES, 2004)

            O curioso é que, enquanto há quem acredite no engajamento político, também há
aqueles que consideram certas composições agressivas e sem propósito, de apologia ao
uso de drogas, homofóbicas e machistas. O caminho para a compreensão da figura da
mulher e do homossexual, nas composições do Quanta, passa, então, pela análise dos
limites entre a leviandade e a apropriação de um recurso persuasivo na difusão de
posicionamentos políticos, o que implica no amadurecimento dos conceitos relativos ao
Carnaval e à paródia. Tais conceitos situam-se entre os dois universos, o meramente
jocoso e o politicamente engajado, daí a importância de seus estudos.
       O Carnaval funciona como uma espécie de licença informal ao “avesso” da ordem,
havendo uma liberação das regras e tabus, quando tudo toma conotação cômica e a
decodificação da mensagem é feita de forma alternativa ao modo semântico
generalizante. Sendo, pois, justamente através das paródias, que esse “mundo ao revés”
viria à tona (BAKHTIN, 1993) e seria, ainda, através dela que, exaltar-se-ia o mau-
gosto, a autoindulgência e mazelas de forma bem-humorada (CARVALHO, 2008). A
paródia, entretanto, ao apropriar-se de um discurso já assimilado em outra mensagem,
também revela um humor sarcástico e irônico, pois toma para si a força do discurso
dominante ressignificando-o contra o próprio discurso (idem, 2008).
       Optou-se por analisar composições representativas do ano de 20105, analisando a
letra e sua difusão no seu exato momento em relação à mensagem e à emissão, as
músicas cantadas no palco. Apesar de considera-la igualmente importante, não compõe
o objeto da pesquisa a recepção do público. A relevância que se atribui ao trabalho é o
fato de, por tratar de um bloco carnavalesco que agregou ao longo dos anos multidões
de diferentes classes e camadas sociais, propor o despertar do senso crítico sobre aquilo
que se consome, e não somente, daquilo que se reproduz ao fazer parte do coro.


       1. ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
1.1 A Paródia
5
    Tais letras podem ser acessadas através do site http://letras.terra.com.br/quanta-ladeira/
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Uma análise consistente das letras do Quanta Ladeira exige a compreensão dos
conceitos e das características da paródia, uma vez que é recorrente esse tipo de
apropriação do discurso alheio em suas composições. Salvo algumas raras exceções, as
músicas do bloco trazem na melodia e na estrutura de outra canção uma nova carga
semântica e um novo conjunto de valores simbólicos, substituindo palavras ou
aproveitando-se mesmo da original para sugerir uma leitura nova e ambígua, portanto,
onde se compreende boa parte da brincadeira.
   Apesar de ser mais facilmente encontrada nas intervenções artísticas modernas e
contemporâneas, sobretudo a partir dos movimentos de vanguarda europeia, já em A
Poética (ARISTÓTELES, 1966), faz-se menção à paródia como arte. No dicionário
Aurélio (DE HOLLANDA, 2006), paródia significa uma “imitação burlesca” ou uma
“imitação cômica de obra literária”. Ambas as definições estão limitadas à apenas uma
das várias facetas do que é parodiar, no dicionário de literatura de Brewer, por exemplo,
o termo paródia é definido como uma “ode que perverte o sentido de outra ode”
(BREWER, apud SANT’ANNA, 1985, p12). Já o lingüista Joseph Shipley apresenta a
paródia como um canto junto a outro canto, uma espécie de “contracanto” (SHIPLEY,
1972), elevando a paródia a uma expressão artística.
   Afonso de Sant’Anna assegura que o conceito de paródia tornou-se mais sofisticado
a partir das considerações do formalista Yury Tynianov, quando sugere estudar a
paródia junto à estilização.


                Uma e outra vivem de uma vida dupla: além da obra há um segundo plano
                estilizado ou parodiado. Mas, na paródia, os dois planos devem ser
                necessariamente discordantes, deslocados. (...) Finalmente da estilização à
                paródia não há mais que um passo; quando a estilização tem uma motivação
                cômica ou é fortemente marcada, se converte em paródia (TYNIANOV, 1969).

   A partir das observações do formalista russo, a paródia não mais foi analisada
individualmente, mas sempre em relação com outros fenômenos polifônicos, como a
paráfrase ou como a ironia e a ambiguidade. Esta última passa a fazer parte desse
sistema de fenômenos se feita propositalmente, e não por ato falho do compositor.
   A concepção de paródia do teórico russo Mikhail Bakhtin questiona a ideia de fazer
da paródia algo inferior ou simplesmente o exagero de outro conceito. Nos seus estudos
sobre a poética de Dostoievsky (2005) e sobre a cultura popular na Idade Média (1993)
discute a paródia e a carnavalização juntas, por isso, são as suas observações mais
pertinentes para a análise das composições do Quanta Ladeira.
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   A carnavalização é, em suma, a transposição do espírito do carnaval (irreverência,
liberdade, insensatez, despudor) para a produção artística. O carnavalesco supõe um
novo modo de relações humanas, o oposto às hierarquias, o “momento” onde o homem
se permite tudo o que lhe é reprimido. Reavaliado o carnaval, Bakhtin resgata também
os gêneros ligados à baixa concepção de cultura, os gêneros secundários,
carnavalizados, como a sátira menipéia – que inclui a paródia.
   Romper com o real modificando a temática séria e original, a dupla personalidade, a
paixão louca, a insensatez, as oposições e os contrates, a utopia social, a inversão da
moral, são, entre outras, as características da sátira menipéia. A paródia, para Bakhtin,
“é um elemento inseparável da sátira menipéia e de todos os gêneros carnavalizados”
(apud CARVALHO, 2008, p. 197).
   A paródia é apropriar-se de um discurso existente e introduzir nele uma orientação
diferente ou, até mesmo, oposta a do original, sendo razoavelmente conveniente aos
descontentes com a realidade, porque se apossam dos meios dominantes para questioná-
lo. É justamente essa suposta postura crítica que chama atenção no Quanta.


                O que o texto parodístico faz é exatamente uma re-apresentação daquilo que
                havia sido recalcado. Uma nova e diferente maneira de ler o convencional. É
                um processo de liberação do discurso. É uma tomada de consciência crítica. (...)
                A paródia não é um espelho. Ou, aliás, pode ser um espelho, mas um espelho
                invertido. Mas é melhor usar outra imagem. E, ao invés do espelho, dizer que a
                paródia é como a lente: exagera os detalhes de tal modo que pode converter uma
                parte do elemento focado num elemento dominante, invertendo, portanto, a
                parte pelo todo, como se faz na charge e na caricatura (SANT’ANNA, 1988, p.
                31 - 32)


1.2 O Carnaval
O contexto que o Quanta Ladeira vai às ruas é o Carnaval, período localizado entre
tempos cósmicos: o Advento e a Quaresma (DA MATTA, 1973); é uma fase onde o que
é “regular” para sociedade fica neutralizado e invertido. Nesse sentido, as músicas
conduzem a um redimensionamento da conduta do brasileiro por permitirem uma
(des)focalização das ações cotidianas (e tradicionais).
   A historia do Carnaval data mais de 4 mil anos antes de Cristo, com festas
promovidas no Antigo Egito, como as de culto a Ísis (deusa da família). Referiam-se,
principalmente, aos eventos religiosos e aos rituais agrários, como no período de
colheita de grandes safras. Em Roma também se percebe indícios de Carnaval; sua
origem, no entanto, relaciona-se com as Bacanais, festas em que eram apresentadas
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danças em homenagem a Baco (deus do vinho). O que há em comum entre tais raízes é
o comportamento das pessoas, que bebiam, pintavam o rosto e dançavam, provocando
desordem e escândalo.
       Segundo Erasmo (apud BURKE, 1978, p. 233), em tal período “o povo se
entrega a licenciosidade”, pois as festas seriam momentos de pecado: embriaguez,
luxúria e gula; momentos que revelam a submissão do povo “ao mundo, à carne e ao
Demônio” (idem, p. 236). Além dos argumentos que associam o Carnaval ao pecado, há
aqueles que o associam a uma ocasião de violência ou de frivolidade; ou seja, um
momento em que se é gasto muito tempo e dinheiro em coisas inúteis, que dizem
respeito às vaidades, não a alma.
       O Carnaval, nesse sentido, oferece uma visão de mundo oposta àquela “oficial”,
isso cria uma espécie de dualidade que decorre do surgimento da sociedade de classes e
do Estado (DA MATTA, 1973). Na época das sociedades ditas primitivas, em que não
havia tais divisões, tanto os aspectos sérios como os cômicos de representação do
mundo, dos homens e das divindades podem ser enquadrados como “oficiais”. No
entanto, com a emergência das hierarquias sociais e do Estado, as formas cômicas
tomam um caráter de não-oficialidade devido à impossibilidade de colocar os dois
aspectos em um mesmo patamar. Dessa forma, o cômico tem o seu sentido invertido,
transformando-se em símbolo da cultura popular, como no caso do Carnaval
(BAKHTIN, 1993).
       A idéia que subsiste do Carnaval é de fuga provisória da vida ordinária, de
estabelecimento de um “mundo ao avesso”. Tal fuga, no entanto, não é representada
(como no teatro), mas vivida. Nesse sentido, Bakhtin diz (1993, p. 7): “Durante o
Carnaval é a própria vida que representa, e por um certo tempo o jogo se transforma em
vida real. Essa é a natureza específica do carnaval, seu modo particular de existência”.
A festa é como uma segunda vida, revestida de universalidade, liberdade, igualdade e
abundância, em que há uma eliminação/subversão provisória das hierarquias sociais. Há
uma licenciosidade poética, que funciona como um “contrato social”, perpassando todo
o período carnavalesco
   O que Bakhtin considera como “mundo ao avesso”, Roberto da Matta chama de
“communitas”. Em oposição à estrutura que sustenta as situações diárias, a communitas
(a comunidade) seria, segundo ele, quando “as raças, os credos, as classes e ideologias
comungam pacificamente ao som do samba e da miscigenação” (1978, p. 21). Nessa
direção, Da Matta fala do Carnaval como “uma época liminar, onde tudo é permissível”
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(idem, p. 28); ainda distingue três componentes básicos da instituição: (01) momento
em que a população dispõe-se a ser inconseqüente, não aceitando questionamentos de
suas atitudes; (02) época de comunhão, em que as diferenças não devem ser levadas em
conta e (03) momento que pode ser de neutralização ou dissolução de oposições sociais,
mas também de acentuação dessas oposições em decorrência de sua inversão - as
oposições homem/mulher, adultos/crianças, campo/cidade vêm à tona. Curioso é que
tais inversões podem provocar a confiança na ordem. Dialeticamente, ao permitirem a
emergência de comportamentos que vão de encontro à moralidade diária,
comportamentos que devem ser escondidos da ordem, essas inversões acabam por
afirmar aquilo que devem ser as atitudes do cotidiano.
   A máscara surge, nesse universo, como elemento de disfarce das identidades sociais
tradicionais: as pessoas podem realizar aquilo que desejam. Uma situação mascarada
segundo Leach (apud DA MATTA, 1973, p. 26) seria quando “o indivíduo em vez de
dar ênfase a sua personalidade social e ao seu status oficial, procura disfarçá-los (...), as
regras formais da vida ortodoxa são esquecidas”. O mesmo diz Bakhtin (1993, p. 8): “O
Carnaval era o triunfo de uma espécie de liberação temporária da verdade dominante e
do regime vigente, de abolição provisória de todas as relações hierárquicas, privilégios,
regras e tabus”. Esses aspectos que remetem ao uso das máscaras, e em extensão ao
momento do Carnaval, podem ser apreendidos quando da análise das letras do Quanta,
que, estando bem localizadas no festejo carnavalesco, podem reproduzir as
ambigüidades intrínsecas ao período. Daí a dificuldade em enquadrá-las, apenas, como
representativas do reverso da ordem (fato considerado típico do Carnaval). Afinal, essa
mesma ordem é reafirmada, justamente, por ser negada; o que revela outro tipo de
máscara (uma máscara que perpetua idéias sociais tradicionais). O Carnaval, portanto,
pode ser apreendido como um período de ambivalência, que acaba por refletir-se nas
composições do Quanta Ladeira.


   2. ANÁLISE EMPÍRICA
2.1 A Figura da Mulher
A figura das mulheres é problemática. Segundo as teorias de carnavalização, os papéis
sociais masculino e feminino são invertidos ou neutralizados, em um contexto de
comunhão. Sendo assim, a mulher estaria livre para agir sem ser criticada, o Carnaval
conferiria essa legitimidade. No entanto, o que se observa é o contrário. A maioria das
letras perpetua o ideal de uma sociedade machista. Tal grupo traz à tona as
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ambiguidades do período carnavalesco, pois as oposições são acentuadas. Nesse
sentido, percebe-se que a ordem é reafirmada. O Carnaval funciona como uma abertura
para a emergência de tudo aquilo que deve ser escondido no dia-dia; mas, ao mesmo
tempo, diz qual o comportamento (e a ideologia) adequado para os momentos de não-
festa. Seria pertinente, então, analisar a figura das mulheres dentro dessa ambivalência.
   As fantasias, como mecanismo pelo o qual são obtidas as neutralizações e inversões
carnavalescas, revelam duas idealizações possíveis da mulher brasileira (DA MATTA,
1973). Conforme a primeira, a mulher é vista pelas suas características positivas e
controláveis. Há, aqui, uma reafirmação do ideal de mulher: pura, bela, recatada e
doméstica. As fantasias representativas dessa categoria são as de bailarina, borboleta,
jardineira e pastora. Já a segunda idealização caracteriza a mulher como tentadora,
provocante, agressiva - atributos que giram em torno de idéias sexuais. Em oposição aos
papéis que desempenha no cotidiano, a mulher é, segundo Da Matta, “tomada como um
instrumento de obtenção de admiração, prestígio e poder” (idem, 1973, p. 46). As
fantasias utilizadas, nesse caso, são as de odalisca, empregada doméstica, vedete,
melindrosa e gatinha.
   As letras do Quanta, relativas à figura da mulher, parecem ser as que melhor
exemplificam as contradições do período. Ao mesmo tempo em que falam abertamente
da sexualidade feminina, o fazem de forma machista, dando continuidade aos papéis
sociais tradicionais. Sob a máscara do Carnaval, que confere um caráter de deboche as
letras (tudo é levado na brincadeira), a mulher é humilhada e desrespeitada,
permanecendo sob o julgo masculino. Não há uma inversão ou neutralização efetiva,
nem a sexualidade que a mulher pode explorar é vista como algo positivo. Adjetivos
como “nega safada”, “cachorra”, “galinha” e “raparigas” são recorrentes. O
primeiro está presente na letra “Geyse”, o segundo e terceiro em “A pílula” e o quarto
em “Se a mulher encher”. Essa última é uma apropriação do Bloco de “Quando a maré
encher”, de Chico Science.


                SE A MULHER ENCHER

                Fui na rua dar uma bola, procurar o que fazer
                Encontrar os meus amigos e botar pra beber
                Arrumar umas raparigas e botar pra foder
                Chego em casa e dou-lhe um pau se a mulher encher

                Se a mulher encher, se a mulher encher
                Chego em casa e dou-lhe pau se a mulher encher
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       Os músicos do Bloco insinuam que se a mulher não for submissa ao homem, “se
a mulher encher”, este terá o direito de “dá-lhe um pau”. Fala-se das mulheres como
“raparigas”, podendo elas ser exploradas de acordo com a vontade do homem. O
tratamento desrespeitoso da figura feminina é feito ao lado de frases que remetem a
“normalidades”: “fui na rua”, “encontrar os meus amigos” e, depois, “chego em casa”.
Tal paralelismo confere um caráter natural ao fato de “arrumar umas raparigas e botar
pra foder” e, ao chegar em casa, “dá-lhe um pau se a mulher encher”. Pode-se dizer,
assim, que a letra reproduz o machismo hipócrita da sociedade moderna. No entanto,
não somente pelo conteúdo, mas pela linguagem utilizada. O verbo “dar”, por exemplo,
refere-se ao ato sexual; “botar pra foder”, “dou-lhe um pau” também exemplificam a
seleção chula das palavras. Ainda há, na letra, alusão ao consumo de drogas. A
expressão “dar uma bola” significa, popularmente, “fumar maconha”. Sendo assim, a
letra concentra duas características do período carnavalesco: (1) subversão da ordem - o
que se associa ao uso de substâncias ilícitas, que seriam banidas do cotidiano e
“liberadas” no Carnaval; e (2) acentuação das oposições sociais - o homem mantém o
seu papel de dominante e a mulher seu status de inferioridade.
       Curiosa foi a reação de Nena Queiroga, única mulher integrante do Bloco e irmã
de Lula Queiroga, aos versos: "se a mulher encher, se a mulher encher, chego em casa
dou um pau, se a mulher encher". Nena respondeu, no palco: “se o marido encher, se o
marido encher, mando embora e chamo o negão para resolver” (SANDES, 2008)
Percebe-se, então, que há um reconhecimento, por parte da artista do grupo, das ofensas
à mulher. Nena, no entanto, responde de forma bem humorada e irônica,
(re)apropriando-se também de “Quando a maré encher”.
       Já a letra “A pílula” fala do sexo sem compromisso com várias pessoas e da
facilidade em impedir a gravidez. Contextualiza tais fatos no Carnaval, momento em
que essas relações acentuam-se devido à vontade de “viver a vida”. A mulher,
novamente, é tratada com desprezo. Nesse caso, no entanto, pela opção de um estilo de
vida diferente do que moralmente/ideologicamente espera-se dela.


                         A PÍLULA
                         Ela deu uma,
                         Deu dez, deu vinte,
                         Depois tomou a pílula
                         Do dia seguinte
                         Ela pegou sapinho com o negão
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                         E uma gonorréia com o Alemão
                         Ela pegou de tudo,
                         Só não fez engravidar
                         Que já é um problema
                         Que não dá pra curar
                         Ela deu uma,
                         Deu dez, deu vinte,
                         Depois tomou a pílula
                         Do dia seguinte
                         Ela deu que só a porra,
                         Galinha, cachorra.
                         No Carnaval é que ela fica mais safada
                         E agora com essa pílula ela tá tarada
                         Tu levou pau, pau, pau
                         E dois testículos lá?
                         Mas tua bunda é tão fominha,
                         Meu amor,
                         Que a Igreja excomungou?



   Aqui, todo avanço tecnológico que possibilitaria a emancipação feminina (como a
invenção da pílula) não é visto como algo positivo - “e agora com essa pílula ela tá
tarada”. A mulher é livre para ficar com quem quiser, com “dez” ou “vinte”, com o
“negão” ou “alemão”; além disso, evita facilmente a gravidez pelo consumo da pílula,
mas se o faz é considerada “galinha, cachorra”. Quando é o homem que recebe
adjetivos do tipo “galinha” isso serve para reforçar sua masculinidade, não para denegrir
sua imagem, como no caso feminino.
   Para finalizar as depreciações, fala-se que a “bunda é tão fominha”. Fominha é um
termo usado no futebol para designar aquele jogador que quer determinado objeto só
para si, no caso a bola. Na letra do Quanta a expressão refere-se às mulheres que
querem os homens só para si. Curioso é que logo após falar isso, e tantas outras ofensas
no decorrer da letra, chama-se a mulher de “meu amor”. Então a letra acaba com a
pergunta “que a Igreja excomungou?”. Há, aqui, uma oposição entre a mulher puritana
da Igreja e aquela descrita pela letra, pecadora que merece ser excomungada. Enfim, a
seleção e repetição de palavras depreciativas deixam clara a posição machista em
relação à liberdade sexual da mulher.
   Tal posição também está presente na letra “Geyse”, versão do Bloco para “Baby”,
de Caetano Veloso. A música faz referência à estudante Geyse Arruda, que estudava
Direito na UNIBAN quando foi alvo de deboche de outros alunos da instituição por usar
um mini-vestido rosa. Acabou expulsa da Universidade, fato que repercutiu na imprensa
por vários dias seguidos, culminando na conversão de Geyse em uma celebridade.
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                                  GEYSY

                                  Não sei
                                  Quem lembra daquela menina
                                  Meio catráia,
                                  Perna cangáia,
                                  Que mulé páia

                                  O seu
                                  Vestido mal tapava o cu
                                  E não lhe caiu muito bem
                                  Dançou na pior faculdade,
                                  Da américa do sul
                                  E foi vaiada, levou dedada, nega safada

                                  Geisy, geisy mas que trubufu
                                  Geysy, geisy, mas que cafuçu



   A música começa descrevendo Geyse como “catráia”, o que significa mulher sem
nenhum valor ou prostituta; em seguida, revela que ela anda com as pernas abertas –
“cangáia”, para finalizar dizendo que ela é uma mulher sem qualidades, “mulé paia”.
Tal descrição é feita informalmente, pois os compositores se utilizam de palavras
consagradas pelo uso popular.
   Então, a letra concorda que o vestido rosa usado por Geyse era realmente curto ao
dizer que ele “mal tapava o cu”. Fala-se também da faculdade em que Geyse estudava
como a “pior faculdade da américa do sul”, referência ao fato da Instituição ser
enquadrada como “pagou, passou”. Finalmente, a música descreve a polêmica da qual
Geyse foi alvo: “foi vaiada, levou dedada”. No entanto, há um retorno à figura de
Geyse, chamada, agora, de “nega safada”, “trubufu” e “cafuçu”. Assim, pode-se dizer
que os compositores chamam-na pejorativamente de vagabunda, feia e deselegante,
respectivamente. A ideia que se tem é que tais atributos físicos servem como
justificativa para o fato da estudante ter sido desrespeitada por outros estudantes.
   Percebe-se, novamente, aqui, o quanto o grupo faz alusão ao sexo e como
desrespeita a mulher, seja pela forma (pela linguagem selecionada) ou pelo conteúdo (o
que fala). Nesse sentido, Geyse poderia ser, simplesmente, um nome genérico para falar
de qualquer outra mulher.


2.2 Sexualidade e auto afirmação
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
       XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011

Quem observa o carnaval do Brasil, e sobretudo os mais populares, como o do Rio de
Janeiro, Salvador e Recife, tem a nítida impressão de que se trata do momento de
comunhão entre as diferentes classes sociais, as diferentes tribos, as diferentes
orientações sexuais, etc. Porém, não é exatamente esse o contexto da festa, por trás das
máscaras e fantasias escondem-se a pobreza, o sofrimento, o preconceito e a
manutenção dos ideais absolutos que imperam na sociedade.
   A presença marcante dos homossexuais nos dias de momo, por exemplo, fazem crer
que o carnaval é o momento de aceitação dos transgressores dos papéis dos gêneros
convencionais, tanto que nesse período são comuns festas e brincadeiras onde homens
se vestem de mulher e mulheres se vestem de homem. Entretanto, essa aceitação não é
de fato. De acordo com o brasilianista James N.Green, a inversão das roupas e
indumentárias poderiam despertar a consciência da possibilidade e aceitação da inversão
do habitual, porém funcionam, na verdade, como “reforço dos padrões vigentes do
feminino e masculino” (GREEN, 1999, p. 336). Tais padrões, ainda segundo Green,
podem ser percebidos na forma com que os homens se vestem e se comportam enquanto
mulher (geralmente com largos quadris, grandes peitos e pernas à mostra, sempre muito
leviana e despudorada). Há que se reparar a preocupação em deixar evidente que ali não
se trata de um travesti, e sim de homem vestido de mulher, e para que não haja dúvidas
quanto a isso, esses fantasiados são arrogantes e agressivos com os “gays de verdade”.
   Por outro lado, para muitos homossexuais brasileiros, o carnaval, mais do que
significar um ato de inversão, propicia a oportunidade para uma intensificação de suas
próprias experiências como indivíduos que transgridem papéis o ano inteiro. “O que
havia sido discretamente dissimulado numa infinidade de exercícios diários de
ocultação torna-se uma apresentação aberta e sem as sanções sociais” (idem, p.335).
   Considerando essa situação específica dos homossexuais, não seria arbitrário
afirmar que apenas esse grupo faz, do período, o carnaval; ou , ainda mais largamente,
que são os excluídos e renegados que fazem da rua um ambiente mais democrático e
multicultural, pelo menos no carnaval. Afinal de contas, é a ideologia heterossexual,
burguesa e reacionária que voga no restante do ano.
   Na música “Falta uma polegada” – uma das mais populares do bloco –, os membros
repetem que falta pouco para “comer o cu” de seu ou sua parceira. Considerando que o
Globo Repórter, programa a que se referem na música, é veiculado às sextas-feiras, e
que música narra de forma cronológica as partes do programa – inicialmente o
programa não começou; em seguida o apresentador Sérgio Chapelein aparece,
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certamente anunciando a matéria que virá; e, logo depois a matéria entra com o repórter
Francisco José –, fica implícito que todas as sextas, ao término do telejornal o eu lírico
tem relações sexuais.

                         FALTA UMA POLEGADA

                         Prêu comer teu cu
                         Falta um polegada

                         Globo repórter já vai começar(hei!)
                         E o Chapelein tá ficando gagá (hei!)
                         Chico José tá no fundo do mar (hei!)
                         Chamando os golfinhos para entrevistar(hei!)

                         Prêu comer teu cu
                         Falta um polegada



   A música não deixa claro se a pessoa com quem o eu lírico se relaciona é ou não do
mesmo sexo que ele, fica evidente, porém, que ele é homem. A possibilidade de tratar-
se de um relacionamento homossexual existe porque diante do baixo número de
cirurgias de transgenitalização e das dificuldades para sua realização, o sexo anal é a
alternativa que os homossexuais masculinos têm para copular. A naturalidade com que
o ativo anuncia o sexo que ocorrerá pode, portanto, revelar, no mínimo, duas formas de
desrespeito com o passivo: (1) Se a frase for proferida para uma mulher, trata da
submissão dela em relação ao parceiro, tanto que ele apenas anuncia que a possuirá, de
maneira grosseira e rude; (2) se a música trata de um relacionamento homossexual -
além dos desrespeitos que feririam também a mulher, explicita o estereótipo dos
relacionamentos gay, que se baseiam apenas na equivocada ideia do homoerotismo e
superficialidade dos relacionamentos.
   Aliada à imposição de uma suposta superioridade hétero e às críticas sem
fundamento ao comportamento homossexual, percebe-se ainda, em algumas letras do
Quanta Ladeira, uma preocupação em mostrar-se viril e eficiente durante a relação
sexual. Leva-se a crer, inclusive, que o ato sexual esta mais estritamente relacionado
com a honra do que com o prazer propriamente dito, e, uma vez que o sujeito não é mais
capaz de se impor na relação, seja por qual motivo for, não há mais motivo para mantê-
la, como pode ser visto na música “O Regresso do meu Pau”.


                         O REGRESSO DO MEU PAU
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                         Falam tanto que meu pau está
                         Todo mole, que já vai cair
                         E depois que ele despencar
                         Nem viagra faz ele subir
                         Fiz de tudo pra ele levantar
                         Mas o meu pau quer desistir

                         Não deite não, em cima dos cunhão.
                         Nunca me deixe com voce na mão
                         Você que sempre foi tão meu amigo
                         e dava cabeçada em meu umbigo

                         É triste olhar pra baixo e não te ver,
                         você que antes era tão viril
                         Vou operar, se não adiantar,
                          meu pau que vá pra puta que o pariu

Apropriando-se da melodia de “O último regresso”, um dos frevos de bloco mais
famosos do carnavalesco Getúlio Cavalcanti, o Quanta Ladeira canta “O regresso do
meu pau”. Como se pode constatar sem muito esforço, a letra se refere à alguém que,
em primeira pessoa, falará de e com seu pênis.
   A música trata, simplesmente, de um homem que é possivelmente de idade mais
avançada, ou que sofre de algum tipo de dificuldade de ereção. O sujeito afirma que já
tentou mais de uma maneira e que foram todos sem sucesso, pois a dificuldade
permanecia. Depois de muito lamentar, o eu lírico resolve tentar um procedimento
cirúrgico, porém, deixa claro que se trata da última tentativa, se fracassar novamente
não irá mais recorrer a outro tratamento, ou o quer que seja em relação à sua genitália, e
não mais fará nada para recuperar a “virilidade” de que tanto se orgulhava.
   É curioso a letra começar com as mesmas palavras da música a que se propuseram
parodiar, “falam tanto que…”, o que faz crer que o sujeito tem uma vida sexual
bastante ativa e com parceiras, ou parceiros, variados, tanto que seu desempenho chega
a ser comentado.
   Ainda na primeira estrofe há uma das mais nobres figuras de linguagem, a
prosopopeia ou personificação, quando é dada ao “pau” a distinção de optar por
desistir. Na segunda estrofe, o sujeito, lamentoso, fala do tamanho de seu pênis com
orgulho, como se as medidas fizessem do sujeito ainda mais homem.


                (…) é largamente aceito o conceito de que quanto maior o pênis mais eficiente é
                o macho numa conexão coital. O tamanho do orgão sexual masculino, tanto no
                estado flácido quanto ereto tem sido considerado em muitas culturas, como
                capaz de refletir a bravura sexual do indivíduo masculino (MASTER &
                JOHNSON, 1984, p.152)
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   3. Conclusão
Com a análise dessas letras, percebe-se a despreocupação dos compositores do Quanta
Ladeira em inverter qualquer valor vigente, por mais esdrúxulo ou preconceituoso que
seja. O Carnaval e a paródia que permitiriam usar o espaço na mídia para o
questionamento desses valores é utilizado para a manutenção e a legitimação deles.
   A classificação das letras do Bloco como paródia tornou-se bastante inapropriada,
tendo em vista que uma nova leitura sob o olhar do descontente, da posição da mulher
na sociedade seria a da inclusão e da não violência, o que não se percebe em músicas
como Se a Mulher Encher, suposta paródia de Quando a Maré Encher, por exemplo.
Porém, se é a superficial descrição do dicionário Aurélio que voga, “Imitação burlesca”
(DE HOLLANDA, 2006), o bloco a faz, sim, e com excelência.
   Quanto às teorias de carnavalização, fala-se em um momento onde as oposições
sociais seriam invertidas; mas, o que se constatou foi um deslocamento do bloco em
relação ao período. O Quanta Ladeira revela a manutenção da ordem, da tradição e do
cotidiano, como se percebe através das figuras emblemáticas do homossexual e
feminina; tratados ainda com o habitual menosprezo.
   A mera menção de alguns temas, porém, já representa um desvio da regra geral,
sendo o Quanta, assim, representativo das contradições que vêm junto à efervescência
carnavalesca. O que significa dizer que não é de todo apegado ao que o senso geral
costuma julgar apropriado ou inapropriado. Tratar de drogas e homossexualidade, por
exemplo, pode estimular uma discussão que a sociedade evita fazer. Sem dúvida, essa é
uma contribuição do Bloco à sociedade, ainda que feita de forma imatura e superficial.
Algumas de suas brincadeiras enfraquecem a potencialidade crítica do discurso.
   As análises das letras parecem revelar que o Bloco pretende, com suas sátiras e
paródias, divertir-se e divertir ao público sem atentar para os problemas a que fazem
referência, utilizando-se deles, principalmente, como conteúdo para suas piadas. A
imagem que se tem dos integrantes do Bloco, de artistas e intelectuais engajados
politicamente, é construída e difundida pela grande mídia, o que leva a crer que a
produção de tais personalidades já não mais passa por juízos de valor. Nesse sentido, a
sátira pode ser um importante recurso utilizado para a isenção da responsabilidade sobre
a mensagem. O que faz do Bloco, apenas, mas não somente uma grande festa, como
cantam seus integrantes em “Micareta Underground”: “Quanta Ladeira virou elitista,
um bloco fascista com festa privê”.
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Referências Bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no renascimento: o contexto de
François Rabelais, trad. Paulo Bezerra, São Paulo: Hucitec; Brasília, Edunb, 1993.


BAKHTIN, Mikhail. Problemas na poética de Dostoievski, trad. Paulo Bezerra, 2ª ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2005.


BURKE, Peter. A cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia das Letras,
1978.


CARVALHO, André Carlos. Tropicalismo: a geléia geral das vanguardas poéticas
contemporâneas, UFPE, 2008.


DA MATTA, Roberto Augusto. Ensaios de antropologia estrutural – o carnaval como um rito
de passagem, 2ª ed., Petrópolis, Vozes, 1973.


DA MATTA, Roberto Augusto. Carnavais, Malandros e Heróis – para uma sociologia do
dilema brasileiro, 5ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara, 1990.


FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa, 3ª ed., Rio
de Janeiro, Nova Fronteira, 2006.


FIORIN, José Luiz (org.). Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade. São Paulo: Edusp, 2003.


GREEN, James Naylor. Além do Carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do
século XX. São Paulo: UNESP, 1999


LOPES, Aquiles. Sátira política perde espaço no Carnaval. Pernambuco.com, Recife, 22 de
fevereiro de 2004. Disponível em
<.http://www.pernambuco.com/diario/2004/02/22/politica3_0.html >. Acesso em 08 de
abril de 2010


SANDES, Giovanni. Nena Queiroga defende as mulheres no Quanta Ladeira.
Blogdojamildo.com, Recife, 3 de fevereiro de 2008. Disponível em
<http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2008/02/03/ne. php>. Acessado em 16
de março de 2010


SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, Paráfrase & Cia, 3ª ed., São Paulo, Ática, 1988.

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  • 1. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 Quantas Ladeiras? Uma Análise das figuras feminina e homossexual no Carnaval do Recife1 Camila Gallindo Cornélio2 Helder Pessôa Lopes3 Nadilson Manoel da Silva 4 Universidade Católica de Pernambuco, Recife, PE O interesse maior deste trabalho é discutir sobre a figura da mulher e a sexualidade homossexual, no Carnaval, por meio da análise das letras do bloco carnavalesco recifense Quanta Ladeira. Para tanto, busca-se localizar o limite entre a disposição da agremiação em divertir-se com suas piadas e o caráter subversivo dessas canções, o qual se configuraria através de um posicionamento político comprometido socialmente com as categorias acima citadas. Nessa direção, optou-se pelo estudo das composições referentes ao ano de 2010 e por uma leitura teórica dos conceitos bakhtinianos sobre Carnaval e paródia. Palavras-chave: Carnavalização; Homossexual; Mulher; Paródia; Quanta Ladeira Fundado em 1994, por um grupo de artistas, como Lula Queiroga, Lenine e Zé da Flauta, o Quanta Ladeira faz parte da programação oficial do Carnaval Multicultural do Recife, apresentando-se sempre aos domingos, no palco do Festival Rec-beat, no Polo Mangue. O Bloco, que surgiu das brincadeiras nas ruas de Olinda, conta, todos os anos, com a participação especial de músicos já conhecidos do cenário nacional, como Caetano Veloso, Fafá de Belém e Pitty, que, junto com os pernambucanos, fazem a festa ganhar ainda mais visibilidade. O bloco é tido como um dos poucos que mantém a tradição de aproveitar o período do Carnaval para fazer críticas e posicionar-se politicamente no Estado de Pernambuco: 1 Trabalho apresentado no DT 7 – Comunicação, Espaço e Cidadania do XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste realizado de 15 a 17 de junho de 2011 2 Estudante de Graduação do Curso de Jornalismo da UNICAP e de História da UFPE, email: camila_gallindo@hotmail.com 3 Estudante de Graduação do Curso de Jornalismo da UNICAP e de Letras da UFPE, email: helderhpl@gmail.com 4 Orientador do trabalho. Professor do Curso de Jornalismo da UNICAP, email: nadilson@yahoo.com.br
  • 2. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 Desde que o Carnaval afirmou-se como a maior festa popular brasileira, ainda nos tempos do Império, a sátira política passou a ser tema de blocos e troças nas principais cidades do País. No entanto, a partir da segunda metade da década de 90, a tradição vem perdendo força (...). Em Pernambuco poucos resistiram em manter o foco na direção dos políticos (...). Para a folia deste ano apenas três blocos devem abordar abertamente o assunto: Siri na Lata, Nóis Sofre, Mas Nóis Goza! e Quanta Ladeira. (LOPES, 2004) O curioso é que, enquanto há quem acredite no engajamento político, também há aqueles que consideram certas composições agressivas e sem propósito, de apologia ao uso de drogas, homofóbicas e machistas. O caminho para a compreensão da figura da mulher e do homossexual, nas composições do Quanta, passa, então, pela análise dos limites entre a leviandade e a apropriação de um recurso persuasivo na difusão de posicionamentos políticos, o que implica no amadurecimento dos conceitos relativos ao Carnaval e à paródia. Tais conceitos situam-se entre os dois universos, o meramente jocoso e o politicamente engajado, daí a importância de seus estudos. O Carnaval funciona como uma espécie de licença informal ao “avesso” da ordem, havendo uma liberação das regras e tabus, quando tudo toma conotação cômica e a decodificação da mensagem é feita de forma alternativa ao modo semântico generalizante. Sendo, pois, justamente através das paródias, que esse “mundo ao revés” viria à tona (BAKHTIN, 1993) e seria, ainda, através dela que, exaltar-se-ia o mau- gosto, a autoindulgência e mazelas de forma bem-humorada (CARVALHO, 2008). A paródia, entretanto, ao apropriar-se de um discurso já assimilado em outra mensagem, também revela um humor sarcástico e irônico, pois toma para si a força do discurso dominante ressignificando-o contra o próprio discurso (idem, 2008). Optou-se por analisar composições representativas do ano de 20105, analisando a letra e sua difusão no seu exato momento em relação à mensagem e à emissão, as músicas cantadas no palco. Apesar de considera-la igualmente importante, não compõe o objeto da pesquisa a recepção do público. A relevância que se atribui ao trabalho é o fato de, por tratar de um bloco carnavalesco que agregou ao longo dos anos multidões de diferentes classes e camadas sociais, propor o despertar do senso crítico sobre aquilo que se consome, e não somente, daquilo que se reproduz ao fazer parte do coro. 1. ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS 1.1 A Paródia 5 Tais letras podem ser acessadas através do site http://letras.terra.com.br/quanta-ladeira/
  • 3. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 Uma análise consistente das letras do Quanta Ladeira exige a compreensão dos conceitos e das características da paródia, uma vez que é recorrente esse tipo de apropriação do discurso alheio em suas composições. Salvo algumas raras exceções, as músicas do bloco trazem na melodia e na estrutura de outra canção uma nova carga semântica e um novo conjunto de valores simbólicos, substituindo palavras ou aproveitando-se mesmo da original para sugerir uma leitura nova e ambígua, portanto, onde se compreende boa parte da brincadeira. Apesar de ser mais facilmente encontrada nas intervenções artísticas modernas e contemporâneas, sobretudo a partir dos movimentos de vanguarda europeia, já em A Poética (ARISTÓTELES, 1966), faz-se menção à paródia como arte. No dicionário Aurélio (DE HOLLANDA, 2006), paródia significa uma “imitação burlesca” ou uma “imitação cômica de obra literária”. Ambas as definições estão limitadas à apenas uma das várias facetas do que é parodiar, no dicionário de literatura de Brewer, por exemplo, o termo paródia é definido como uma “ode que perverte o sentido de outra ode” (BREWER, apud SANT’ANNA, 1985, p12). Já o lingüista Joseph Shipley apresenta a paródia como um canto junto a outro canto, uma espécie de “contracanto” (SHIPLEY, 1972), elevando a paródia a uma expressão artística. Afonso de Sant’Anna assegura que o conceito de paródia tornou-se mais sofisticado a partir das considerações do formalista Yury Tynianov, quando sugere estudar a paródia junto à estilização. Uma e outra vivem de uma vida dupla: além da obra há um segundo plano estilizado ou parodiado. Mas, na paródia, os dois planos devem ser necessariamente discordantes, deslocados. (...) Finalmente da estilização à paródia não há mais que um passo; quando a estilização tem uma motivação cômica ou é fortemente marcada, se converte em paródia (TYNIANOV, 1969). A partir das observações do formalista russo, a paródia não mais foi analisada individualmente, mas sempre em relação com outros fenômenos polifônicos, como a paráfrase ou como a ironia e a ambiguidade. Esta última passa a fazer parte desse sistema de fenômenos se feita propositalmente, e não por ato falho do compositor. A concepção de paródia do teórico russo Mikhail Bakhtin questiona a ideia de fazer da paródia algo inferior ou simplesmente o exagero de outro conceito. Nos seus estudos sobre a poética de Dostoievsky (2005) e sobre a cultura popular na Idade Média (1993) discute a paródia e a carnavalização juntas, por isso, são as suas observações mais pertinentes para a análise das composições do Quanta Ladeira.
  • 4. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 A carnavalização é, em suma, a transposição do espírito do carnaval (irreverência, liberdade, insensatez, despudor) para a produção artística. O carnavalesco supõe um novo modo de relações humanas, o oposto às hierarquias, o “momento” onde o homem se permite tudo o que lhe é reprimido. Reavaliado o carnaval, Bakhtin resgata também os gêneros ligados à baixa concepção de cultura, os gêneros secundários, carnavalizados, como a sátira menipéia – que inclui a paródia. Romper com o real modificando a temática séria e original, a dupla personalidade, a paixão louca, a insensatez, as oposições e os contrates, a utopia social, a inversão da moral, são, entre outras, as características da sátira menipéia. A paródia, para Bakhtin, “é um elemento inseparável da sátira menipéia e de todos os gêneros carnavalizados” (apud CARVALHO, 2008, p. 197). A paródia é apropriar-se de um discurso existente e introduzir nele uma orientação diferente ou, até mesmo, oposta a do original, sendo razoavelmente conveniente aos descontentes com a realidade, porque se apossam dos meios dominantes para questioná- lo. É justamente essa suposta postura crítica que chama atenção no Quanta. O que o texto parodístico faz é exatamente uma re-apresentação daquilo que havia sido recalcado. Uma nova e diferente maneira de ler o convencional. É um processo de liberação do discurso. É uma tomada de consciência crítica. (...) A paródia não é um espelho. Ou, aliás, pode ser um espelho, mas um espelho invertido. Mas é melhor usar outra imagem. E, ao invés do espelho, dizer que a paródia é como a lente: exagera os detalhes de tal modo que pode converter uma parte do elemento focado num elemento dominante, invertendo, portanto, a parte pelo todo, como se faz na charge e na caricatura (SANT’ANNA, 1988, p. 31 - 32) 1.2 O Carnaval O contexto que o Quanta Ladeira vai às ruas é o Carnaval, período localizado entre tempos cósmicos: o Advento e a Quaresma (DA MATTA, 1973); é uma fase onde o que é “regular” para sociedade fica neutralizado e invertido. Nesse sentido, as músicas conduzem a um redimensionamento da conduta do brasileiro por permitirem uma (des)focalização das ações cotidianas (e tradicionais). A historia do Carnaval data mais de 4 mil anos antes de Cristo, com festas promovidas no Antigo Egito, como as de culto a Ísis (deusa da família). Referiam-se, principalmente, aos eventos religiosos e aos rituais agrários, como no período de colheita de grandes safras. Em Roma também se percebe indícios de Carnaval; sua origem, no entanto, relaciona-se com as Bacanais, festas em que eram apresentadas
  • 5. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 danças em homenagem a Baco (deus do vinho). O que há em comum entre tais raízes é o comportamento das pessoas, que bebiam, pintavam o rosto e dançavam, provocando desordem e escândalo. Segundo Erasmo (apud BURKE, 1978, p. 233), em tal período “o povo se entrega a licenciosidade”, pois as festas seriam momentos de pecado: embriaguez, luxúria e gula; momentos que revelam a submissão do povo “ao mundo, à carne e ao Demônio” (idem, p. 236). Além dos argumentos que associam o Carnaval ao pecado, há aqueles que o associam a uma ocasião de violência ou de frivolidade; ou seja, um momento em que se é gasto muito tempo e dinheiro em coisas inúteis, que dizem respeito às vaidades, não a alma. O Carnaval, nesse sentido, oferece uma visão de mundo oposta àquela “oficial”, isso cria uma espécie de dualidade que decorre do surgimento da sociedade de classes e do Estado (DA MATTA, 1973). Na época das sociedades ditas primitivas, em que não havia tais divisões, tanto os aspectos sérios como os cômicos de representação do mundo, dos homens e das divindades podem ser enquadrados como “oficiais”. No entanto, com a emergência das hierarquias sociais e do Estado, as formas cômicas tomam um caráter de não-oficialidade devido à impossibilidade de colocar os dois aspectos em um mesmo patamar. Dessa forma, o cômico tem o seu sentido invertido, transformando-se em símbolo da cultura popular, como no caso do Carnaval (BAKHTIN, 1993). A idéia que subsiste do Carnaval é de fuga provisória da vida ordinária, de estabelecimento de um “mundo ao avesso”. Tal fuga, no entanto, não é representada (como no teatro), mas vivida. Nesse sentido, Bakhtin diz (1993, p. 7): “Durante o Carnaval é a própria vida que representa, e por um certo tempo o jogo se transforma em vida real. Essa é a natureza específica do carnaval, seu modo particular de existência”. A festa é como uma segunda vida, revestida de universalidade, liberdade, igualdade e abundância, em que há uma eliminação/subversão provisória das hierarquias sociais. Há uma licenciosidade poética, que funciona como um “contrato social”, perpassando todo o período carnavalesco O que Bakhtin considera como “mundo ao avesso”, Roberto da Matta chama de “communitas”. Em oposição à estrutura que sustenta as situações diárias, a communitas (a comunidade) seria, segundo ele, quando “as raças, os credos, as classes e ideologias comungam pacificamente ao som do samba e da miscigenação” (1978, p. 21). Nessa direção, Da Matta fala do Carnaval como “uma época liminar, onde tudo é permissível”
  • 6. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 (idem, p. 28); ainda distingue três componentes básicos da instituição: (01) momento em que a população dispõe-se a ser inconseqüente, não aceitando questionamentos de suas atitudes; (02) época de comunhão, em que as diferenças não devem ser levadas em conta e (03) momento que pode ser de neutralização ou dissolução de oposições sociais, mas também de acentuação dessas oposições em decorrência de sua inversão - as oposições homem/mulher, adultos/crianças, campo/cidade vêm à tona. Curioso é que tais inversões podem provocar a confiança na ordem. Dialeticamente, ao permitirem a emergência de comportamentos que vão de encontro à moralidade diária, comportamentos que devem ser escondidos da ordem, essas inversões acabam por afirmar aquilo que devem ser as atitudes do cotidiano. A máscara surge, nesse universo, como elemento de disfarce das identidades sociais tradicionais: as pessoas podem realizar aquilo que desejam. Uma situação mascarada segundo Leach (apud DA MATTA, 1973, p. 26) seria quando “o indivíduo em vez de dar ênfase a sua personalidade social e ao seu status oficial, procura disfarçá-los (...), as regras formais da vida ortodoxa são esquecidas”. O mesmo diz Bakhtin (1993, p. 8): “O Carnaval era o triunfo de uma espécie de liberação temporária da verdade dominante e do regime vigente, de abolição provisória de todas as relações hierárquicas, privilégios, regras e tabus”. Esses aspectos que remetem ao uso das máscaras, e em extensão ao momento do Carnaval, podem ser apreendidos quando da análise das letras do Quanta, que, estando bem localizadas no festejo carnavalesco, podem reproduzir as ambigüidades intrínsecas ao período. Daí a dificuldade em enquadrá-las, apenas, como representativas do reverso da ordem (fato considerado típico do Carnaval). Afinal, essa mesma ordem é reafirmada, justamente, por ser negada; o que revela outro tipo de máscara (uma máscara que perpetua idéias sociais tradicionais). O Carnaval, portanto, pode ser apreendido como um período de ambivalência, que acaba por refletir-se nas composições do Quanta Ladeira. 2. ANÁLISE EMPÍRICA 2.1 A Figura da Mulher A figura das mulheres é problemática. Segundo as teorias de carnavalização, os papéis sociais masculino e feminino são invertidos ou neutralizados, em um contexto de comunhão. Sendo assim, a mulher estaria livre para agir sem ser criticada, o Carnaval conferiria essa legitimidade. No entanto, o que se observa é o contrário. A maioria das letras perpetua o ideal de uma sociedade machista. Tal grupo traz à tona as
  • 7. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 ambiguidades do período carnavalesco, pois as oposições são acentuadas. Nesse sentido, percebe-se que a ordem é reafirmada. O Carnaval funciona como uma abertura para a emergência de tudo aquilo que deve ser escondido no dia-dia; mas, ao mesmo tempo, diz qual o comportamento (e a ideologia) adequado para os momentos de não- festa. Seria pertinente, então, analisar a figura das mulheres dentro dessa ambivalência. As fantasias, como mecanismo pelo o qual são obtidas as neutralizações e inversões carnavalescas, revelam duas idealizações possíveis da mulher brasileira (DA MATTA, 1973). Conforme a primeira, a mulher é vista pelas suas características positivas e controláveis. Há, aqui, uma reafirmação do ideal de mulher: pura, bela, recatada e doméstica. As fantasias representativas dessa categoria são as de bailarina, borboleta, jardineira e pastora. Já a segunda idealização caracteriza a mulher como tentadora, provocante, agressiva - atributos que giram em torno de idéias sexuais. Em oposição aos papéis que desempenha no cotidiano, a mulher é, segundo Da Matta, “tomada como um instrumento de obtenção de admiração, prestígio e poder” (idem, 1973, p. 46). As fantasias utilizadas, nesse caso, são as de odalisca, empregada doméstica, vedete, melindrosa e gatinha. As letras do Quanta, relativas à figura da mulher, parecem ser as que melhor exemplificam as contradições do período. Ao mesmo tempo em que falam abertamente da sexualidade feminina, o fazem de forma machista, dando continuidade aos papéis sociais tradicionais. Sob a máscara do Carnaval, que confere um caráter de deboche as letras (tudo é levado na brincadeira), a mulher é humilhada e desrespeitada, permanecendo sob o julgo masculino. Não há uma inversão ou neutralização efetiva, nem a sexualidade que a mulher pode explorar é vista como algo positivo. Adjetivos como “nega safada”, “cachorra”, “galinha” e “raparigas” são recorrentes. O primeiro está presente na letra “Geyse”, o segundo e terceiro em “A pílula” e o quarto em “Se a mulher encher”. Essa última é uma apropriação do Bloco de “Quando a maré encher”, de Chico Science. SE A MULHER ENCHER Fui na rua dar uma bola, procurar o que fazer Encontrar os meus amigos e botar pra beber Arrumar umas raparigas e botar pra foder Chego em casa e dou-lhe um pau se a mulher encher Se a mulher encher, se a mulher encher Chego em casa e dou-lhe pau se a mulher encher
  • 8. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 Os músicos do Bloco insinuam que se a mulher não for submissa ao homem, “se a mulher encher”, este terá o direito de “dá-lhe um pau”. Fala-se das mulheres como “raparigas”, podendo elas ser exploradas de acordo com a vontade do homem. O tratamento desrespeitoso da figura feminina é feito ao lado de frases que remetem a “normalidades”: “fui na rua”, “encontrar os meus amigos” e, depois, “chego em casa”. Tal paralelismo confere um caráter natural ao fato de “arrumar umas raparigas e botar pra foder” e, ao chegar em casa, “dá-lhe um pau se a mulher encher”. Pode-se dizer, assim, que a letra reproduz o machismo hipócrita da sociedade moderna. No entanto, não somente pelo conteúdo, mas pela linguagem utilizada. O verbo “dar”, por exemplo, refere-se ao ato sexual; “botar pra foder”, “dou-lhe um pau” também exemplificam a seleção chula das palavras. Ainda há, na letra, alusão ao consumo de drogas. A expressão “dar uma bola” significa, popularmente, “fumar maconha”. Sendo assim, a letra concentra duas características do período carnavalesco: (1) subversão da ordem - o que se associa ao uso de substâncias ilícitas, que seriam banidas do cotidiano e “liberadas” no Carnaval; e (2) acentuação das oposições sociais - o homem mantém o seu papel de dominante e a mulher seu status de inferioridade. Curiosa foi a reação de Nena Queiroga, única mulher integrante do Bloco e irmã de Lula Queiroga, aos versos: "se a mulher encher, se a mulher encher, chego em casa dou um pau, se a mulher encher". Nena respondeu, no palco: “se o marido encher, se o marido encher, mando embora e chamo o negão para resolver” (SANDES, 2008) Percebe-se, então, que há um reconhecimento, por parte da artista do grupo, das ofensas à mulher. Nena, no entanto, responde de forma bem humorada e irônica, (re)apropriando-se também de “Quando a maré encher”. Já a letra “A pílula” fala do sexo sem compromisso com várias pessoas e da facilidade em impedir a gravidez. Contextualiza tais fatos no Carnaval, momento em que essas relações acentuam-se devido à vontade de “viver a vida”. A mulher, novamente, é tratada com desprezo. Nesse caso, no entanto, pela opção de um estilo de vida diferente do que moralmente/ideologicamente espera-se dela. A PÍLULA Ela deu uma, Deu dez, deu vinte, Depois tomou a pílula Do dia seguinte Ela pegou sapinho com o negão
  • 9. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 E uma gonorréia com o Alemão Ela pegou de tudo, Só não fez engravidar Que já é um problema Que não dá pra curar Ela deu uma, Deu dez, deu vinte, Depois tomou a pílula Do dia seguinte Ela deu que só a porra, Galinha, cachorra. No Carnaval é que ela fica mais safada E agora com essa pílula ela tá tarada Tu levou pau, pau, pau E dois testículos lá? Mas tua bunda é tão fominha, Meu amor, Que a Igreja excomungou? Aqui, todo avanço tecnológico que possibilitaria a emancipação feminina (como a invenção da pílula) não é visto como algo positivo - “e agora com essa pílula ela tá tarada”. A mulher é livre para ficar com quem quiser, com “dez” ou “vinte”, com o “negão” ou “alemão”; além disso, evita facilmente a gravidez pelo consumo da pílula, mas se o faz é considerada “galinha, cachorra”. Quando é o homem que recebe adjetivos do tipo “galinha” isso serve para reforçar sua masculinidade, não para denegrir sua imagem, como no caso feminino. Para finalizar as depreciações, fala-se que a “bunda é tão fominha”. Fominha é um termo usado no futebol para designar aquele jogador que quer determinado objeto só para si, no caso a bola. Na letra do Quanta a expressão refere-se às mulheres que querem os homens só para si. Curioso é que logo após falar isso, e tantas outras ofensas no decorrer da letra, chama-se a mulher de “meu amor”. Então a letra acaba com a pergunta “que a Igreja excomungou?”. Há, aqui, uma oposição entre a mulher puritana da Igreja e aquela descrita pela letra, pecadora que merece ser excomungada. Enfim, a seleção e repetição de palavras depreciativas deixam clara a posição machista em relação à liberdade sexual da mulher. Tal posição também está presente na letra “Geyse”, versão do Bloco para “Baby”, de Caetano Veloso. A música faz referência à estudante Geyse Arruda, que estudava Direito na UNIBAN quando foi alvo de deboche de outros alunos da instituição por usar um mini-vestido rosa. Acabou expulsa da Universidade, fato que repercutiu na imprensa por vários dias seguidos, culminando na conversão de Geyse em uma celebridade.
  • 10. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 GEYSY Não sei Quem lembra daquela menina Meio catráia, Perna cangáia, Que mulé páia O seu Vestido mal tapava o cu E não lhe caiu muito bem Dançou na pior faculdade, Da américa do sul E foi vaiada, levou dedada, nega safada Geisy, geisy mas que trubufu Geysy, geisy, mas que cafuçu A música começa descrevendo Geyse como “catráia”, o que significa mulher sem nenhum valor ou prostituta; em seguida, revela que ela anda com as pernas abertas – “cangáia”, para finalizar dizendo que ela é uma mulher sem qualidades, “mulé paia”. Tal descrição é feita informalmente, pois os compositores se utilizam de palavras consagradas pelo uso popular. Então, a letra concorda que o vestido rosa usado por Geyse era realmente curto ao dizer que ele “mal tapava o cu”. Fala-se também da faculdade em que Geyse estudava como a “pior faculdade da américa do sul”, referência ao fato da Instituição ser enquadrada como “pagou, passou”. Finalmente, a música descreve a polêmica da qual Geyse foi alvo: “foi vaiada, levou dedada”. No entanto, há um retorno à figura de Geyse, chamada, agora, de “nega safada”, “trubufu” e “cafuçu”. Assim, pode-se dizer que os compositores chamam-na pejorativamente de vagabunda, feia e deselegante, respectivamente. A ideia que se tem é que tais atributos físicos servem como justificativa para o fato da estudante ter sido desrespeitada por outros estudantes. Percebe-se, novamente, aqui, o quanto o grupo faz alusão ao sexo e como desrespeita a mulher, seja pela forma (pela linguagem selecionada) ou pelo conteúdo (o que fala). Nesse sentido, Geyse poderia ser, simplesmente, um nome genérico para falar de qualquer outra mulher. 2.2 Sexualidade e auto afirmação
  • 11. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 Quem observa o carnaval do Brasil, e sobretudo os mais populares, como o do Rio de Janeiro, Salvador e Recife, tem a nítida impressão de que se trata do momento de comunhão entre as diferentes classes sociais, as diferentes tribos, as diferentes orientações sexuais, etc. Porém, não é exatamente esse o contexto da festa, por trás das máscaras e fantasias escondem-se a pobreza, o sofrimento, o preconceito e a manutenção dos ideais absolutos que imperam na sociedade. A presença marcante dos homossexuais nos dias de momo, por exemplo, fazem crer que o carnaval é o momento de aceitação dos transgressores dos papéis dos gêneros convencionais, tanto que nesse período são comuns festas e brincadeiras onde homens se vestem de mulher e mulheres se vestem de homem. Entretanto, essa aceitação não é de fato. De acordo com o brasilianista James N.Green, a inversão das roupas e indumentárias poderiam despertar a consciência da possibilidade e aceitação da inversão do habitual, porém funcionam, na verdade, como “reforço dos padrões vigentes do feminino e masculino” (GREEN, 1999, p. 336). Tais padrões, ainda segundo Green, podem ser percebidos na forma com que os homens se vestem e se comportam enquanto mulher (geralmente com largos quadris, grandes peitos e pernas à mostra, sempre muito leviana e despudorada). Há que se reparar a preocupação em deixar evidente que ali não se trata de um travesti, e sim de homem vestido de mulher, e para que não haja dúvidas quanto a isso, esses fantasiados são arrogantes e agressivos com os “gays de verdade”. Por outro lado, para muitos homossexuais brasileiros, o carnaval, mais do que significar um ato de inversão, propicia a oportunidade para uma intensificação de suas próprias experiências como indivíduos que transgridem papéis o ano inteiro. “O que havia sido discretamente dissimulado numa infinidade de exercícios diários de ocultação torna-se uma apresentação aberta e sem as sanções sociais” (idem, p.335). Considerando essa situação específica dos homossexuais, não seria arbitrário afirmar que apenas esse grupo faz, do período, o carnaval; ou , ainda mais largamente, que são os excluídos e renegados que fazem da rua um ambiente mais democrático e multicultural, pelo menos no carnaval. Afinal de contas, é a ideologia heterossexual, burguesa e reacionária que voga no restante do ano. Na música “Falta uma polegada” – uma das mais populares do bloco –, os membros repetem que falta pouco para “comer o cu” de seu ou sua parceira. Considerando que o Globo Repórter, programa a que se referem na música, é veiculado às sextas-feiras, e que música narra de forma cronológica as partes do programa – inicialmente o programa não começou; em seguida o apresentador Sérgio Chapelein aparece,
  • 12. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 certamente anunciando a matéria que virá; e, logo depois a matéria entra com o repórter Francisco José –, fica implícito que todas as sextas, ao término do telejornal o eu lírico tem relações sexuais. FALTA UMA POLEGADA Prêu comer teu cu Falta um polegada Globo repórter já vai começar(hei!) E o Chapelein tá ficando gagá (hei!) Chico José tá no fundo do mar (hei!) Chamando os golfinhos para entrevistar(hei!) Prêu comer teu cu Falta um polegada A música não deixa claro se a pessoa com quem o eu lírico se relaciona é ou não do mesmo sexo que ele, fica evidente, porém, que ele é homem. A possibilidade de tratar- se de um relacionamento homossexual existe porque diante do baixo número de cirurgias de transgenitalização e das dificuldades para sua realização, o sexo anal é a alternativa que os homossexuais masculinos têm para copular. A naturalidade com que o ativo anuncia o sexo que ocorrerá pode, portanto, revelar, no mínimo, duas formas de desrespeito com o passivo: (1) Se a frase for proferida para uma mulher, trata da submissão dela em relação ao parceiro, tanto que ele apenas anuncia que a possuirá, de maneira grosseira e rude; (2) se a música trata de um relacionamento homossexual - além dos desrespeitos que feririam também a mulher, explicita o estereótipo dos relacionamentos gay, que se baseiam apenas na equivocada ideia do homoerotismo e superficialidade dos relacionamentos. Aliada à imposição de uma suposta superioridade hétero e às críticas sem fundamento ao comportamento homossexual, percebe-se ainda, em algumas letras do Quanta Ladeira, uma preocupação em mostrar-se viril e eficiente durante a relação sexual. Leva-se a crer, inclusive, que o ato sexual esta mais estritamente relacionado com a honra do que com o prazer propriamente dito, e, uma vez que o sujeito não é mais capaz de se impor na relação, seja por qual motivo for, não há mais motivo para mantê- la, como pode ser visto na música “O Regresso do meu Pau”. O REGRESSO DO MEU PAU
  • 13. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 Falam tanto que meu pau está Todo mole, que já vai cair E depois que ele despencar Nem viagra faz ele subir Fiz de tudo pra ele levantar Mas o meu pau quer desistir Não deite não, em cima dos cunhão. Nunca me deixe com voce na mão Você que sempre foi tão meu amigo e dava cabeçada em meu umbigo É triste olhar pra baixo e não te ver, você que antes era tão viril Vou operar, se não adiantar, meu pau que vá pra puta que o pariu Apropriando-se da melodia de “O último regresso”, um dos frevos de bloco mais famosos do carnavalesco Getúlio Cavalcanti, o Quanta Ladeira canta “O regresso do meu pau”. Como se pode constatar sem muito esforço, a letra se refere à alguém que, em primeira pessoa, falará de e com seu pênis. A música trata, simplesmente, de um homem que é possivelmente de idade mais avançada, ou que sofre de algum tipo de dificuldade de ereção. O sujeito afirma que já tentou mais de uma maneira e que foram todos sem sucesso, pois a dificuldade permanecia. Depois de muito lamentar, o eu lírico resolve tentar um procedimento cirúrgico, porém, deixa claro que se trata da última tentativa, se fracassar novamente não irá mais recorrer a outro tratamento, ou o quer que seja em relação à sua genitália, e não mais fará nada para recuperar a “virilidade” de que tanto se orgulhava. É curioso a letra começar com as mesmas palavras da música a que se propuseram parodiar, “falam tanto que…”, o que faz crer que o sujeito tem uma vida sexual bastante ativa e com parceiras, ou parceiros, variados, tanto que seu desempenho chega a ser comentado. Ainda na primeira estrofe há uma das mais nobres figuras de linguagem, a prosopopeia ou personificação, quando é dada ao “pau” a distinção de optar por desistir. Na segunda estrofe, o sujeito, lamentoso, fala do tamanho de seu pênis com orgulho, como se as medidas fizessem do sujeito ainda mais homem. (…) é largamente aceito o conceito de que quanto maior o pênis mais eficiente é o macho numa conexão coital. O tamanho do orgão sexual masculino, tanto no estado flácido quanto ereto tem sido considerado em muitas culturas, como capaz de refletir a bravura sexual do indivíduo masculino (MASTER & JOHNSON, 1984, p.152)
  • 14. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 3. Conclusão Com a análise dessas letras, percebe-se a despreocupação dos compositores do Quanta Ladeira em inverter qualquer valor vigente, por mais esdrúxulo ou preconceituoso que seja. O Carnaval e a paródia que permitiriam usar o espaço na mídia para o questionamento desses valores é utilizado para a manutenção e a legitimação deles. A classificação das letras do Bloco como paródia tornou-se bastante inapropriada, tendo em vista que uma nova leitura sob o olhar do descontente, da posição da mulher na sociedade seria a da inclusão e da não violência, o que não se percebe em músicas como Se a Mulher Encher, suposta paródia de Quando a Maré Encher, por exemplo. Porém, se é a superficial descrição do dicionário Aurélio que voga, “Imitação burlesca” (DE HOLLANDA, 2006), o bloco a faz, sim, e com excelência. Quanto às teorias de carnavalização, fala-se em um momento onde as oposições sociais seriam invertidas; mas, o que se constatou foi um deslocamento do bloco em relação ao período. O Quanta Ladeira revela a manutenção da ordem, da tradição e do cotidiano, como se percebe através das figuras emblemáticas do homossexual e feminina; tratados ainda com o habitual menosprezo. A mera menção de alguns temas, porém, já representa um desvio da regra geral, sendo o Quanta, assim, representativo das contradições que vêm junto à efervescência carnavalesca. O que significa dizer que não é de todo apegado ao que o senso geral costuma julgar apropriado ou inapropriado. Tratar de drogas e homossexualidade, por exemplo, pode estimular uma discussão que a sociedade evita fazer. Sem dúvida, essa é uma contribuição do Bloco à sociedade, ainda que feita de forma imatura e superficial. Algumas de suas brincadeiras enfraquecem a potencialidade crítica do discurso. As análises das letras parecem revelar que o Bloco pretende, com suas sátiras e paródias, divertir-se e divertir ao público sem atentar para os problemas a que fazem referência, utilizando-se deles, principalmente, como conteúdo para suas piadas. A imagem que se tem dos integrantes do Bloco, de artistas e intelectuais engajados politicamente, é construída e difundida pela grande mídia, o que leva a crer que a produção de tais personalidades já não mais passa por juízos de valor. Nesse sentido, a sátira pode ser um importante recurso utilizado para a isenção da responsabilidade sobre a mensagem. O que faz do Bloco, apenas, mas não somente uma grande festa, como cantam seus integrantes em “Micareta Underground”: “Quanta Ladeira virou elitista, um bloco fascista com festa privê”.
  • 15. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Maceió – AL – 15 a 17 de junho 2011 Referências Bibliográficas BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no renascimento: o contexto de François Rabelais, trad. Paulo Bezerra, São Paulo: Hucitec; Brasília, Edunb, 1993. BAKHTIN, Mikhail. Problemas na poética de Dostoievski, trad. Paulo Bezerra, 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. BURKE, Peter. A cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1978. CARVALHO, André Carlos. Tropicalismo: a geléia geral das vanguardas poéticas contemporâneas, UFPE, 2008. DA MATTA, Roberto Augusto. Ensaios de antropologia estrutural – o carnaval como um rito de passagem, 2ª ed., Petrópolis, Vozes, 1973. DA MATTA, Roberto Augusto. Carnavais, Malandros e Heróis – para uma sociologia do dilema brasileiro, 5ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara, 1990. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa, 3ª ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2006. FIORIN, José Luiz (org.). Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade. São Paulo: Edusp, 2003. GREEN, James Naylor. Além do Carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: UNESP, 1999 LOPES, Aquiles. Sátira política perde espaço no Carnaval. Pernambuco.com, Recife, 22 de fevereiro de 2004. Disponível em <.http://www.pernambuco.com/diario/2004/02/22/politica3_0.html >. Acesso em 08 de abril de 2010 SANDES, Giovanni. Nena Queiroga defende as mulheres no Quanta Ladeira. Blogdojamildo.com, Recife, 3 de fevereiro de 2008. Disponível em <http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2008/02/03/ne. php>. Acessado em 16 de março de 2010 SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, Paráfrase & Cia, 3ª ed., São Paulo, Ática, 1988.