4. 4 Ibirajubá da Silva
Foto da capa (adaptada):
Clovis Humel Capucho Filho
Pintura contra capa:
Antônio Rangel (Jésus)
Capa e Diagramação:
Editora Campeão
(Artur Santoni)
Obra 100% Gratuita
5. 5
Apresentação
Travando o tradicionalismo
Cativando o cartesianismo
A pausa atravessada na seresta do poeta
Canção cantada de peito aberto
Palavras e frases como quem diz o profeta
Atravessado, mas buscando o sentimento
Qualquer hora é meio dia
Qualquer hora é meia noite
Só me sossego quando sou pego no açoite
E é a música da poesia quem me da o norte.
Encaro centrado a tradição da sorte
Um rosto encabulado, é a filha de Maria
No olho enjaulado, quem achava ser forte
Mas sendo o poeta não precisa pegar fila
E no final do dia, o fim da pinga e zefini.
(Mateus Soneghet).
6. 6 Ibirajubá da Silva
Sobre o autor
Amigo de Sangue
O grande amigo vizinho e companheiro de minha morada.
Volta querido amigo
pra gente se perder num bar...
e viver a boemia de dois amantes sofredores.
A boemia onde o maior erro é tragar um sujo cigarro...
E beber uma gelada cerveja num copo mal lavado
Lamentando a fraqueza (in)comparável que abrigamos.
Lamentando a diferença que há no mundo e não queríamos.
E de forma frustrada, dar boas risadas
dar boas risadas, para um dia a mais, ser um dia de choro a
menos.
Renan H.C. Borges
(2008 - porque arte não se joga fora!)
“a arte exteriorizada nos faz crescer por dentro”
7. 7
Netuno em capricórnio
Netuno em Capricórnio é passagem
do que o homem
chama-de
Mil
pro que o homem
chama-de
Dois Mil;
Netuno em Capricórnio é tempo
que
o medidor de tempo no braço
do homem
cisma
em atrasar;
Netuno em Capricórnio é
quando vida e tempo são
a mesma merda
e quando
você não olha no relógio
pra viver;
Netuno em Capricórnio é criança
que vê telefone bonito
verde
de disco
um dia virar
adulto com seu[sic]lular;
00
Netuno em Capricórnio é melan-
colia,
saudade do homem do tempo
de anjo
que faz
mulher se apaixonar
e o tempo do homem
muito mais alegre
passar;
Netuno em Capricórnio é impulso
inconscientequefaz
a cabra escalar [Montanha;
Netuno em Capricórnio é fantasia
de autoridade,
~
autoridade
de fantasiador.
Otávio Sarraceno Duarte Soares
8. 8 Ibirajubá da Silva
Agradecimentos.
Aos Deuses, ao meu Deus, aos céus, a Terra.
Aos familiares.
Aos amigos.
As mulheres que amei e as mulheres que amarei.
9. 9
Sumário
I - CAPÍTULO: O LIRISMO DO MEU EU 15
RACHADURAS. 16
CONSTRUÇÃO 19
APRENDI A TER SUCESSO NA VIDA. 20
SEM NOME. 21
SEM NOME. 22
DUAS ANDORINHAS APRENDEM A VOAR NO QUINTAL. 23
PASSAGEIRO 24
PREOCUPAÇÃO. 25
SOBRE DADOS 26
(EN)LAMEADOS 27
PORTO SEGURO 28
TRIBALHISMO. 29
IN DIVIDU AL IDADE. 30
TRIDENTIS 32
SEM NOME 33
A REVOLUÇÃO DE AVIS ATRAVESSOU O MAR, EM CADA PINGO DE SAL. 34
LINHAS DA IMAGINAÇÃO 35
RETALHOS DO QUE ME FAZ BEM. 36
PARDAL 38
DIÁLOGO 39
VENDAVAIS. 40
MUDANÇA 41
DATAS, 42
POEMA 43
ESPERA 44
INTENTOTER 45
10. 10 Ibirajubá da Silva
TEIAFAMILIARPECULIARESPETACULAR – PARTES SEXTUPLICADA. 46
GEOIDE. 47
POESIA 48
DEVENIRES 49
MÁQUINA DE ESCREVER 50
DEMOCRACIA CORINTHIANA. 51
NOVA-MENTE. 52
F&F 53
PAI 54
II - CAPÍTULO: DO LIRISMO DE NÓS. 55
POEMA 56
GRÃOS DE PÓLEN 58
SE USA “SE” ERRADO: PARTÍCULA REFLEXIVA OU CONDICIONAL? 59
POEMA DA MANHÃ OU A MOSCA VERDE PÁLIDA. 60
ORAÇÃO À QUÍRON, 61
ESCOLTA MEU CAMINHO, 62
POEMA INACABADO PARA MINHA VÓ. 63
POEMA 64
GABRIELA. 65
PARA UM MINEIRO BOM DE PROSA. 66
POEMA 67
RACIONALISMO SOCIAL. 68
VIVA BOCA LIVRE. 69
POEMA 70
ECLÍPTICA. 71
POEMA 72
PRIMAVERA 73
BELOS. 74
MAR E A TERRA 75
11. 11
MORTE. 76
III - CAPÍTULO – POEMAS FANTÁSTICOS. 77
DUOS - DIÁLOGOS SOLITÁRIOS 78
RUDERAL 80
ESTETA 81
“FÉ CEGA FACA AMOLADA” 82
DESDE O INÍCIO COMEÇADO. 83
POEMA 84
SAGARANA. 85
TANGANDO 86
POEMA 87
POEMA 88
O FRUTO TANTO MAIS BELO TANTOMAISSEMENTE 90
CHUVISCO. 91
DE QUEM É O MANIQUEÍSMO DUALISTA? 92
SINESTESIAR 94
PREPRAÇÃO DE PALAVRAS PARA SONETAR. 95
RETRATO CONSUBSTANCIADO NA RETA VELHA. 96
RELEITURA DO SOCORRO. 97
ESTÁ SÃO DE SOM. 99
RITU 100
TEIMOSINHA 101
BONECA. 103
FASES DA VIDA. 104
CAPÍTULO IV: DO ALICATE. 105
PARA OS DENTES DE MANUEL B. 106
MINHA HOMENAGEM AO BARROCO, 107
FUNDO DO CÉU. 109
ANGOLA. 110
12. 12 Ibirajubá da Silva
POEMA 111
ANISTIA DA LEI 112
ESTAMOS VIVENDO A FEBRE DO GRILO VERDE. 113
PASSAR. 114
“NEM TANTO AO MAR/NEM TANTO A TERRA” 115
LEDAR. 116
USUFRUTO PESSOAL. 117
SER: “CADÁVER ADIADO QUE PROCRIA” 118
POEMA 119
POEMA 121
MUIRAQUITÃ. 122
ROSA. 124
ESCRITOS ENTRE O AMOR E DO DESAMOR. 125
MULHERES ESCRITORAS & SEDUTORAS. 126
O SONHO, O PESO E O REAL. 127
O PROFETA DITA UMA MENSAGEM DIVINA: A TERRA GIROU E O NORTE VI-
ROU SUL 129
ALMATO 130
FOGO 131
AO POETA, DA LIÇÃO: AMAR VERBO INTRANSITIVO. 132
SER 133
“LÁ VAI O TREM COM O MENINO...” 135
V - CAPÍTULO: DO TRITURADOR 136
POEMA 138
DIZER O DITO E REPITO. 139
POEMA NOVO, PARA A DAMA QUE JULGA A CLARIDADE DOS POEMAS
PELA PRÓPRIA CABEÇA ESCURECIDA, COM CARINHO: 140
13. 13
POEMA 142
PARA ARMANDO SOARES. 143
SEMANA DA ARTE MODERNA 144
NAS ACRÓPOLES CIDADÃOS POLÍTICOS DE NÃOS: 145
MINHA NOÇÃO DA PALAVRA. 146
IMAGENS 147
O ÍNDIO MOSTRA UMA NOVA REALIDADE CONCRETA AGARRADO NUMA
ÁRVORE DE MIL ANOS. 148
A LITERATURA DA SUBLITERATURA DOXADA. 149
SONETO TRAVESSO DESLEIXO DEIXO. 150
PALAVRA DANÇA. 151
PROVOCAÇÃO PARA A LUA CHEIA. 152
POEMA 153
MEXENDO 154
POEMA 155
OPOSIÇÕES 156
IDEOLOGIA. 157
14. 14 Ibirajubá da Silva
“Todo desejo é vil”
(Nelson Rodrigues)
15. 15
I - CAPÍTULO: O LIRISMO DO MEU EU
Boi
O boi nunca muda.
(Mudança pro boi é virar comida)
Carne morta pra se comer.
O boi é cercado,
De arame farpado:
Se arrebenta, saí.
O boi acha água pra beber,
Pelo cheiro, pelo sal:
Ruminantemente.
O boi grita mais que berrante,
E se viver errante
Vira selvagem.
16. 16 Ibirajubá da Silva
Rachaduras.
Daqui posso sentir tudo que se passa dali;
Seria um dom?
ou só, manchas de batom.
Furar a terra, com força bruta;
Onde fica o ponto de colisão?
Ou só, calos na mão.
Amolei o meu enxadão,
Com lima de gosto acre como o diabo
Com o peso da lâmina de chumbo flutuando dependurada num cabo de madei-
ra;
A velocidade é incrível
A terra racha.
São necessários uma, duas, três movimentos;
São necessários erros de concordância,
Erros de gramática,
De ortografia.
As raízes fincadas, machucadas agora,
Aerando com o ar a rachadura da terra
Não se sabe se chove, se seca...
17. 17
É preciso pontos de inflexão,
Rojões.
É preciso se fazer o som do trovão.
Gritos de pássaros me contam dos presságios
Que não entendi.
Pios dos que piam.
Mas hoje, a conversa foi com o Boi,
A boiada
A conversa.
Bois não têm pontos de colisão
São as colisões.
O grito é alto, forte, seguro.
E a pele é couro legítimo
Bois nos contam,
Dos caminhos a percorrer, pela sede.
Bois sentem as pequenas sementes das pragas, dos morros altos, da frente, do
abandono, do golpe covarde;
Cair no baixo, no fértil, no lombo.
Estão aos montes o Monte Castelo.
Mas o tempo é longo e
o vento que exprime e doa pragas:
de barbas
de bode e rabos
de burros.
18. 18 Ibirajubá da Silva
É tempo de se usar o enxadão,
amolado fio,
é tempo de se fazer bolhas nas mãos.
19. 19
Construção
Para construir paredes,
Há que se fincar ferros no chão
Montar alicerce.
Tem que aprumar!
Tirar o nível!
Alinhar...
Sem a ilusão da reta,
Da retidão do alinhamento,
Da certeza do prumo [equilíbrio]...
Sem a ilusão da reta!
Não se sobe paredes:
Amontoado de tijolos que não se sustentam.
Há que se massar,
Três ou quatro de areia
Pra meia de cimento e cal...
Enxada, braços, água;
Piruzinho, pá e sol.
20. 20 Ibirajubá da Silva
APRENDI A TER SUCESSO NA VIDA.
Tão bem!
Tanto bem;
Tantos bens.
Tão mal.
Tanto mal!
Tantos males;
O imortante é ser você,
O Mortante é querer parecer,
igual a todo igual.
O importado não passa de um mal portado.
E toda autofagia é
Neuralgia.
Não confio nos modernos!
21. 21
SEM NOME.
A vida é uma seqüência de atos
Que duram ...
um instante do tamanho de um grão.
Que duram anos afinco...
Que duram...
que se realizam num sorriso ou choro
num plano nem tão carne e nem
tão transcendental assim
crus...
somos sociais e tão...
.
Partes
entrelaçadas
Oco...
22. 22 Ibirajubá da Silva
SEM NOME.
Tem gente que vê.
Tem gente que vê com os dois olhos para o passado;
Tem gente que vê com os dois olhos para o futuro;
Tem gente que vê com um olho no passado e outro no futuro;
Tem Gente que vê com os dois olhos no presente;
Tem gente que é caolho;
E tem gente que é repolho.
23. 23
DUAS ANDORINHAS APRENDEM A VOAR NO
QUINTAL.
Natureza Humana
Pelos meios de transmutação:
A guerra e meditação.
A Moral cristã
Pelas formas de apreensão:
Espada na mão e amor no coração.
“Remissão dos pecados
Ressurreição da carne
Vida eterna.”
Onde estão os tempos da misericórdia? Amém.
24. 24 Ibirajubá da Silva
Passageiro
Vai junto, de mãos dadas. Guiado, à mercê.
Vive de olhar, pela janela. Curioso, avesso.
Chega, levado. Satisfeito.
Passageiro,
Que passa! O que se passa?
Temporário, mutável.
Conversa sobre o tempo. Chove?
Passageiro,
Que chega e vai embora.
Que sai, sem falar obrigado.
Passa ligeiro.
Passageiro,
Que deixa rastros. Que deixa.
Faz queixa,
Superfície.
25. 25
PREOCUPAÇÃO.
o que me precupa? o que me move?
será que são as pernas e a cabeça?
ou minhas sementes que não germinam?
as metas que viram sonhos ou os sonhos que viram metas?
o sucesso com felicidade ou felicidade sem sucesso?
o que me preocupa? o que me move?
será a dor do meu amigo?
a felicidade do meu irmão?
a orquídea ganhada que floriu?
ou meu peso que sumiu?
o que me preocupa? o que me move?
os livros que leio?
as lembranças?
os amores?
o que me preocupa? o que me move?
será que são as pernas e a cabeça?
26. 26 Ibirajubá da Silva
Sobre Dados
[fados, Gados, hados, iados, jados, lados, Mados, nados, oados, pados, quados,
rados, sados, tados, uados, vados, xados, zados].
Livro de enigmas
Códigos decifrados antes mesmo de Dados
Jogados ao acaso.
É por aí que se chega lá.
Teses vãs de se adivinhar
A falta misteriosa de mistérios.
E a menina tão casca fina
Flor
De paixões latentes
E eu te amo,
Como amo diferentemente todos os meus amores
Dados de Vênus em leão.
27. 27
(En)lameados
Sou terra. Todo terra
Terra que se planta. Faz nascer.
Terra de entranha. Terra.
Terra que se fura. Machuca.
finca-se os pilares
terra de construção.
Sou terra. Enraizada na memória.
Terra teimosa.
Que seca no inverno.
Destempera no verão
Faz florescer a primavera.
Sou terra. Todo terra.
28. 28 Ibirajubá da Silva
PORTO SEGURO
eu vim de dentro,
de dentro dela
do ventre dela
eu vim de dentro
de dentro do seu coração
do amor dela
sou sua carne,
seu rosto:
versão duplicada
sou seu sangue pulsando em mim
sou ela
somos nós.
29. 29
TRIBALHISMO.
Doe-se, doe-se
Pra alguém vender...
Pare. Pense,
Repense:
Suspense.
Uma metade, inteira
Um quartinho, picado
Uma oitava, acima.
Doe-se doe-se,
Pra alguém vender...
Um terço, na mão
Um sextil, no céu
Um de doze, joão.
Doe-se, doe-se
Pra alguém vender...
30. 30 Ibirajubá da Silva
IN DIVIDU AL IDADE.
Não quero mais me expressar.
Perdi a vontade de gritar.
Ne-nhu-ma ajuda ajudou.
Nada me transformou.
Gosto do passado.
Não tolero o novo.
Passado que é passado e já passou:
Agente inventa, recria e re-pensa.
Passado que é passado e ficou:
Agente tenta, cria e re-inventa.
Gosto de sementes, de plantas e de dormentes.
[dormentes me lembram trilhos e trilhos me lembram trem e trens me lembram
progresso que já não há mais].
[plantas me lembram vida e vida me lembra sol e sol me lembra vida]
[semente me lembra mente e mente materializa o ato].
Escuto vitrola, que é o som menos falso que pode se ouvir
[por uma questão de frequência de ondas].
Ela me acompanha a vida inteira e assim será,
Sempre e em qualquer lar.
Gosto de tijolos,
31. 31
Tijolos sustentam, são as paredes, são as escoras, são barros queimados.
Tijolos impõe sua necessidade de maneira rústica, quadrada, pesada.
Tijolos são terras, que ganham forma, ganham fogo e cumprem a missão de se
atolar de cimento e integrar aos seus pares.
Sou apaixonado pelas marcas famosas:
Marcas do tempo,
Do fogo,
Do vento,
Da água,
Da vida...
Tirando tais marcas, talvez apenas os “tubos e conexões Tigre” são dignos de
nota.
32. 32 Ibirajubá da Silva
Tridentis
Mergulho no mar
Fundo.
Rodo, intensamente, pulsando, pulsando.
Sinto, sinto, sinto
Sinto muito.
Escrevo para Netuno,
Que me põe nos dedos incompreensão
Tamanha.
Vivo de enxergar, fundo
Bem fundo.
raiz de caule cortado.
33. 33
SEM NOME
Falta o que não tenho.
Sobra o que possuo.
Completa o desejo
Move os sonhos
admira Sophia.
encanto o canto,
desmonta o pranto.
acorda o sol
levanta a lua
Avermelho
Amarelo
Azulado
Trincado
Esfolado
Desatado
Engotado
Destronado
Governado.
Retirado
Humilhado
Exaltado
Tachado
Rechaçado
Retardado!
Pactuado
34. 34 Ibirajubá da Silva
A REVOLUÇÃO DE AVIS ATRAVESSOU O MAR,
EM CADA PINGO DE SAL.
Que falta me faz a falta
Em alta denota a anedota
No aviso fica o viso
Quão de tão é bom?
Eros paixão?
E Hermes comunicação?
Ai
Cai
HAIKAI
Des – respeito
As formas tracejadas [apontadas]
Vazias das traças
A liberdade vai ficando na idade
E a falsidade vem chegando com a vaidade
Quantas dignidades
se prestam
Para se ter afinidades...
35. 35
Linhas da Imaginação
O que rima com pão,
Além de circo?
E cortar morros,
Rima com lastros
Desastradamente.
O que rima com tempo,
Além de dinheiro?
E andariar por vias,
Refletindo a quentura do chão
pentinamente.
O que rima com camaradagem,
Além de bagagem?
E vociferar paredes,
Gritos desastrosos
E tinta secando.
Se
Can
Do.
Farei.
36. 36 Ibirajubá da Silva
RETALHOS DO QUE ME FAZ BEM.
Eu já gastei parte da vida que ganhei
E quais são as ambições, os senões
Ou minhas armações?
Já pequei e já roubei,
Já amei;
rejeitei.
Todos os sonhos do mundo
Eu não tenho.
Já confundi a liberdade
Com ingenuidade,
Falsidade...
Briguei, chorei, arrematei.
Tentei, forcei, extrapolei.
Rachaduras: carrego nos pés;
E toda vez que chupo limão
Lembro que faz bem pingar no feijão.
O que eu quero é abstração,
Ser forte contra a ilusão;
Atrevido contra a força-ção.
Viver rodando feito peão
Centrado e marginalizado
Longe de eixos fixos...
A facilidade de um ser é projeção,
Alma humana tão profana.
E toda idéia de verdade e de ajuda
37. 37
Ao próximo,
E de busca
E de fusca
E passo o tempo, curioso
A estação da colheita não chegou,
Nem as flores já nasceram...
Cresço reto e ramificado
E colho no chão os frutos passados ou maduros
Das árvores que me dão sombras.
38. 38 Ibirajubá da Silva
PARDAL
ontem eu pude voar
bati forte as asas,
tomei o fôlego que antecede a explosão
pensei, pensei, pensei...
e decidi não voar
calmamente fui aquietando as asas,
soltei levemente o ar, expirando.
daí cantei:
cantei como um trinca ferro,
vorazmente.
voltei para o meu ninho,
feito com o carinho do bico da mamãe
repousei. retomei os pensamentos, redobrei-os.
continuei.
39. 39
DIÁLOGO
Hoje a vontade é amar
E amor é puro.
Pura fumaça...
Andei tropeçando em barrancos
Aos trancos.
Levantei
Atinei, desatinei, atinei...
Bati asas e voei.
Cheguei,
Passei,
Errei e acertei.
Nunca fui rei,
Nem bobo,
Já fui tolo,
Esperto e grosso.
Sou tolo,
Como não?
Se todos pisam no chão!
Vou chegar,
Mas não vou ficar.
Vou passar, vou regar
Nunca fui rei, nem bobo.
Tolo?!
Sempre pisei no chão
E o vi como estradão
Com a arma na mão
Atirei,
Atinei, desatinei, atinei...
Sempre o vi como estradão.
40. 40 Ibirajubá da Silva
Vendavais.
Agora tudo calmo
Anunciando mais uma virada.
Flores amarelasmurchas
Enchem a terra de renovação.
Foi-se a hora de tais enquetes.
[Abriu-se o pó de café com mão]
Aquele aroma.
Os textos incompletos,
Sentidos maiores de percepção.
A fala, a mesa, a cozinha...
Paredes penduradas,
Quadros pilares
Ao fundo, bem fundo...
No fundo:
Vendavais.
41. 41
Mudança
E onde eu vou?!
estático dentro de mim.
tudo recomeçou...
E onde estão minhas certezas?
mundo imudável!
a correnteza levou...
E onde o coração partido colou?
estação mudou,
e feito fogo esquentou.
E onde estou?
todo vigor recomeçou,
e não foi a terra que girou!
42. 42 Ibirajubá da Silva
Datas,
São pedaços de terra espalhados pelas terras.
São pedaços de tempo congelados pelo tempo.
São marcos.
Marcos,
São separações operando no horizonte.
São gravuras graves estatelando onde estão.
São nomes.
Nomes,
São tratamentos diferenciados.
Tese vã de se explicar o que se vê.
São Tomé;
São raciocínios formulados em vista,
Sem revista.
Pobreza que não se enxerga.
44. 44 Ibirajubá da Silva
Espera
Esperas são como gotas de sangue
espera: agitação, movimentação paralisada.
esperas deveras
Espero para ter o que falar, para ter atitudes que não podem mais esperar...
espero para começar, espero para terminar...
Esperando a vida já vai...
a vida já
vida:
não espera
não desata nem ata
corre com pressa desesperada
Parte superior do formulário
45. 45
Intentoter
Talvez falte a insensatez,
Daquilo que se aprendeu
E se viveu
Os olhares cruzados,
Quase arrancados da matéria,
Penetrados
As ambições projetadas,
Orquestradas,
Retiradas.
Talvez falte a insensatez nos sensatos
46. 46 Ibirajubá da Silva
TEIAFAMILIARPECULIARESPETACULAR – PAR-
TES SEXTUPLICADA.
Gosto de construir alicerces
Abrir a terra com o enxadão
Depois de fazer toda a medição
Furar firme o lugar das colunas.
Quero subir paredes que tangenciem.
Paredes massadas com tijolos...
Bater lajes numa sentada
Pensar nos recortes e bolar
Todinho os desenhos do telhado.
Precisarei de reboco, escoras, madeiras
Comida e bebida...
Pintarei de branco as brancuras
E de vermelho o que o gosto desejar...
As árvores crescendo, sendo...
...Os altares ocupados
Farei varandas varando o horizonte!
E observa(-)rei as estrelas aparecendo
Vespertinamente.
Gosto pelas raízes fincadas feito alicerce.
Terra mexida feito ninho de João de barro.
Gosto de paredes não de muros...
47. 47
GEOIDE.
jurei e me desfizeram o juramento,
e o meu eu ficou assim
meio assado
meio cru.
tentei e me desbotaram a tentativa,
e o meu caminhar ficou assim
meio fim
meio caminho.
e todo tempo sem tempo de esperar o tempo passar,
pulpitando
sem conotações de súbito...
erosditos, ditos;
eruditos, suditos.
jurei e me desfizeram o jumento,
e o galope ficou assim
de a pé,
de cronos
e tronos...
sem principiar o pio
sem silenciar os ouvidos.
48. 48 Ibirajubá da Silva
POESIA
Hoje me tornei poeta,
Ou louco.
Ou vi tudo
Ou pouco.
Passo pro papel
O que sinto
Mas
Pa
Re
Ço
Que me esqueço do avesso.
49. 49
Devenires
Vivo com uma ânsia de vomitar palavras no papel
pra tentar me traduzir:
meus protagonistas estão a mudar
mudar como o vento...
Vivo com uma ânsia de gritar
pra tentar desabafar:
minhas preocupações estão a mudar
mudar como nuvens...
Vivo com uma ânsia de sorrir
pra tentar me segurar:
meus momentos estão a ficar
ficar como rocha
Vivo com uma ânsia de ansiar...
pra tentar me humanizar:
meus pés estão a vagar
vagar como grãos de areia.
50. 50 Ibirajubá da Silva
MÁQUINA DE ESCREVER
Máquina de escrever.
É o homem.
Cada letra
Silábica.
Sibilando.
Máquina de escrever
Que não pensa
[Muito menos.]
Escrever máquina
Maquinando o amanhã
Debruçando no hoje a noite de ontem
51. 51
Democracia Corinthiana.
Vontade de escrever
Que não passa
Pro papel.
Vontade de sonhar
Que não dorme
Nem acordado.
Vontade de trazer os muros pra perto de mim
Driblar a defesa num momento de inspiração
Carregar lado a lado com a marcação
Soltar aquele pombo sem asas,
No meio da trave.
E ouvir o famoso
Uuuuuuuuhhh.
52. 52 Ibirajubá da Silva
NOVA-MENTE.
Versos soltos e ternos,
Cristalizações de vontades
Quase como dogmas.
Mudanças radicais no seu altar,
Na sua pele branca
Em sua densidade.
[E eu também passei; errei, quase me enterrei.]
As roupagens novas:
Melhores; bem melhores:
De forma e de função.
Não sei ...
A saudade é de você
O que se passa: início e(n)fim,
Intervalos (inter)calados.
53. 53
F&F
Que saudade de ser o vermelho e o azul
De ser o branco e o preto
De ser tucano e o tisil.
Que saudade de sermos.
Irmão!
O gordo e o magro
Eu: boi, velho e tarado; tu:
Forte, belo e saudável.
Que bom ser como é
Sermos.
E somos.
Ser companheiro
Da jornada da vida
Ser múltiplo sendo uma metade só
De Pai e de Mãe.
54. 54 Ibirajubá da Silva
PAI
Passeio com meu Pai,
Descobrindo coisas novas
Folhas novas;
Em meio a tantas coisas iguais:
(Capim, Cambará, formigas...)
A Embaúva reflete-se prateada com o vento
À tarde o Jacú grita, parece felino,
Subo em uma árvore, um Jacarandá, e escorrego de costas
Vale a dor.
Procuramos Brejaúva;
(Em meio a saúvas:)
Gerivá, Camboatá, Ingá e jatobá
(Não se fuma o Ipê-Tabaco!)
E se devora com os olhos o Ipê-Amarelo,
Gosto do Açoita-Cavalo,
Venero minha Copaíba
(Casca de Arroz não se come, finca-se!)
Pau-Viola e Suinã:
Vida pro brejo.
Angola: doce como mel
Alecrim Selvagem, abelhas.
Paineras, Amendoeiras, Leiteras...
E se me indagar
Indaguassú.
55. 55
II - CAPÍTULO: DO LIRISMO DE NÓS.
poema
Flores.
São extensas aos montes.
Coloridas
E todas lidas.
Flores perfumam
Vivi(e)ficam
Petalando aos ventos
Espinhosamente latentes.
56. 56 Ibirajubá da Silva
poema
Eritrina,
Suinã ou
Mulungo?
Flor vermelha,
Espinhos,
Per-so-na-li-dade.
Leguminosa,
Tal qual:
Retrato igual
Nitro-ge-nado.
Puxa, puxa
A sujeira.
Solta, solta:
Ar.
Cresce no barranco,
Se apetece da lama.
[Da terra com água.]
57. 57
Muda
Que muda a cada dia,
Muda
Que fala a todo instante
Muda
Que nunca cala
Muda
Que me umidece...
Muda,
Que cresce.
Muda,
Que aparece no meio do mato,
Planta-dá.
58. 58 Ibirajubá da Silva
Grãos de Pólen
Procurava uma nova e bela matriz de Ipê-Amarelo para fazer mudas novas;
Em agosto já começa a se ver os belos Ipês nativos da minha região; é como o
fino frio de inverno brindando a vida que chega com a primavera;
Vida metamorfoseada nos ipês-amarelos.
Belos.
Ipês têm sementes aladas,
Se perdem com um soprinho
E se acham na perdição;
Em agosto mora o gosto,
Saboroso dos ipês-amarelos;
Hoje, sem procurar,
As sementes brotaram na altura da minha estatura.
Colhi, como se colhe frutos;
E olhando a flor amarela
Vi que a vida é uma aquarela
De todas as flores.
59. 59
Se usa “se” Errado: Partícula reflexiva ou condi-
cional?
Com o calor
Se extrai do corpo
A dor.
Com o calor
Se limpa do organismo tudo que não presta
Pelo suor.
Com o calor
Se purifica a alma
Que renova.
Com o calor
Se paga o preço que se deve.
Tirando de dentro.
Com o calor
Aumenta o frescor
Da purificação.
Depois vem o outono, inverno, primavera
E volta verão.
Que se trouxer calor. “Anda o mundo concertado”.
60. 60 Ibirajubá da Silva
POEMA DA MANHÃ ou A mosca Verde Pálida.
Sob minha cabeça
Já tive muitos astros.
Por tempo até algumas estrelas,
Que como tudo no universo
Passou: movimentou e explodiu.
Tudo dual?
astros giraram na velocidade natural.
céu da minha terra rodopiou tanto,
Trans-rotação.
E o meu céu, visualmente, mudou.
Levou-se aquele astro velho brilhante
Infinito nos meus olhos
Trouxeram estrelinha luz.
E de tal modo são as estrelas binárias
Que me perseguem
Ou são perseguidas por mim...
Por tempo;
passam cometas, planetas
E o cheiro frio do escuro
Na versão inventada pelo Medo.
61. 61
Oração à Quíron,
Grande sábio e senhor,
Filho de Cronos
E criado pelo amor
de Zeus.
Escolta meu caminho,
Dissipa a minha dor,
De ferido ou agressor
Faça-me o curador.
Grande Sábio, triste senhor,
Filho largado de Cronos
E criado pelo amor
De Zeus à razão
62. 62 Ibirajubá da Silva
Escolta meu caminho,
De conter para dentro
De soltar para fora,
De ferido ou agressor
Cura a minha dor.
Entre o Pai e o Filho
Foi brilhar no céu
Elipticando pra lá
De saturno
e para cá
de Urano
Na eclíptica.
Grande sábio e senhor:
Deixa meus instintos, pai da minha razão
Deixa meus intestinos, mãe da minha fé.
63. 63
POEMA INACABADO PARA MINHA VÓ.
Família,
Vigília,
Anverso da maravilha.
Sementes espalhadas pelo terreninho,
Crescendo ali pertinho,
Ou, por conta de passarinho
Vai, vai...
E o que volta. São,
Estirpes,
Que sem ser se extirpam.
Carro de boi,
Escoras de laje.
Vida de passagem:
Amor, regalo, miragem.
64. 64 Ibirajubá da Silva
poema
Feitura de ninho no quintal em sonhos amanhecidos.
O barulho do vento no balangandã das árvores
A sombra do tronco
A casa dos passarinhos
Sanhaço, Saíra, Siriri...
Quase igual ao Bem-te-vi...
[questão de som]
Ver um Tiê-sangue,
Com sangue nos olhos.
Maitacas atacam roças de milho
Gritam, gritam, gritam e comem comem comem
Tucanos são sazonais e devoram ovos de passarinhos menores,
Que atacam também...
[onde há Pau-viola há tucanos]
Bigodinhos, Tesourinhas, Vira-bosta...
Trinca o ferro, Trinca!
Legítimo, Legítima!
Curioso, Curió!
Piriquito não voa, não canta, reproduz
Canários são da Terra, são do Reino, são da cana.
Quando se capina, os passarinhos pousam e ciscam perto,
Quando se escuta o entarde-descer, escuta-se muito do que não se percebe...
65. 65
GABRIELA.
[Saudade do que não foi]
Ela,
Que me martela.
Gabriela.
Jeito,
Que me leva.
Numa imensidão que me dá compreensão
E a sensação
De que não se está sozinho na vastidão de seres diferentes...
Olhos,
Duas esferas de miragem,
em face:
[Portas e janelas]
Alma aberta
Gabriela.
66. 66 Ibirajubá da Silva
PARA UM MINEIRO BOM DE PROSA.
Qual o mal do calor?
Se toda terra passa
E toda gente [sente]...
Faz-se chuva e Faça sol
Tanto no paiol ou na cabeça do anzol.
Se o Algol sofre
O bonzinho enjoa,
E o calor ensaboa...
Não é só neve que neblina
Tão menos tristeza que aborrece.
Os cursos que se faz.
Curvas aos montes.
Nem a lua se mantém.
E os melhores pilotos quebram:
Perna, crânio, coração...
Fora de curso: canais de vermelhidão.
Pro poeta menor:
ALTINO CAIXETA, O MAIOR!
67. 67
poema
“E a esfera mais alta/Mandarás que fixa esteja/Porque a noite maior seja/
Porque sempre o tempo falta,/ Onde a alegria sobeja”
O menino e sua volta aguardada.
O amor quando atarraca
Vira um tal de envidar
Um fala pro nada
Outro deixa jogar
Se no alto já chegou
Alcançando o campanário
Deus do céu que estertor
E lá de cima desabou
Todo mundo sufragou
Mas foi o tempo que virou
E esse par naufragou
E de camões lho tiro versos
“que dava os fios à teia”
“de mi e de minha fé”.
68. 68 Ibirajubá da Silva
RACIONALISMO SOCIAL.
Brindo aos astros
Aos semi- deuses
Ao Deus.
De infinitos nomes e sobrenomes
Variado De Formas e aparências
De temperamentos e humores
Advindos da biles e da garganta.
Brindo aos astros
Que nunca param nos seus devidos lugares
As vezes se encontram
E depois se afastam
Sempre preso num raio fixado e sempre concertado
Até para além da vontade.
Brindo aos semi-deuses
Filhos do divino e do profano
Ao mesmo tempo agora
Filhos do amor e do ódio.
E bebo. Todos os brindes,
as cortesias, minhas companhias
E agradeço.
69. 69
Viva Boca Livre.
Corredeiras correm pela frente
Nunca, correm para trás:
Corredeira;
Cachoeira;
Correntada;
Sobe morro, desce morro:
Correria.
Corredela,
Mais e mais.
Corrediço,
Escorrega, escorrega, rega...
Corredor é osso, é osso:
é galo cansado de brigar.
Pela frente,
Volta e meia;
Meia volta.
Correição,
Tentação,
Correntão.
Prende...
Corrente...
Correria.
70. 70 Ibirajubá da Silva
poema
para a LUZ que ama.
Ando feliz.
Aquele sereno tão
Sereníssima.
Reações,
De movimentos,
De sopro sem ar...
Ando feliz,
Pra-ti-an-do:
Como a felicidade da flor
em ser e se mostrar para quem a cultivou.
Flores roxas,
Seu sorriso,
Meu riso.
Seu humor: ação - reação.
Mundo mundano
Gotas conscientes
Que pingam
Nessa imensidão de mar.
71. 71
Eclíptica.
Sol que chega,
Sol que vai.
Sol que me fez...
Poder olhar longe,
Talvez tão...
Sol que chega,
Sol que vai.
Não tão rápido como a lua...
Sol que me fez parte de mim.
Parte que vem antes,
E depois.
Sol que chega,
Sol que vai,
Sol que quadra,
Em cada esquina.
Sol, sóis...
Que chega e que vai.
mE traz e M’eleva.
72. 72 Ibirajubá da Silva
poema
Finado
Prezado
Amado
Venerado.
Finado
Chegado
Apagado
Lembrado.
Finado
Transformado
Exaltado
Aclamado.
Finado
Refinado
Aproveitado
Lisonjeado:
Finados servem para con(s)tatar os que ainda não estão fadados ao fim.
73. 73
Primavera
E o mundo rodopiou
As letras áridas; tão secas,
De realidade...
As flores novas se abrindo
Lindas, cheias de doces
Perfumes...
E o meu mundo vasto
E os meus olhos sedentos
E os meus desejos virulentos...
E a natureza mais uma vez,
Tão natural:
Novel de flores indolores.
74. 74 Ibirajubá da Silva
Belos.
Ipês têm sementes aladas,
Se perdem com um soprinho
E se acham na perdição;
Em agosto mora o gosto,
Saboroso dos ipês-amarelos;
Hoje, sem procurar,
As sementes brotaram na altura da minha estatura.
Colhi, como se colhe frutos;
E olhando a flor amarela
Vi que a vida é uma aquarela
De todas as flores.
75. 75
Mar e a Terra
Gente:
Ou é da Costa
Ou é da Silva.
As ondas,
Seus balanços aritméticos e rítmicos:
[Magnéticos].
Os matos,
Suas trilhas, seus (en)cantos, suas flores,
Rumos coloridos.
A costa empedrada, longe...
Claros tons de verde
Vivos!
As vidas marinha e terrestre...
A enxada e o barco
O mixto quente e o milho verrrde.
76. 76 Ibirajubá da Silva
MORTE.
[HOMENAGEM ESCUTADA É PLANTAR UMA MUDA DE IPÊ-AMARELO EM
NOMENAGEM, como a criança que o ensinou que somos o que amamos.]
Tempos novos iluminados
Tempo de agradecer a deus
Por ter dado e levado,
E deixado legado.
Transformaram em borboletas,
Os que muito viveram e escreveram
São tempos novos iluminados,
Que marcam o destino e
Acontecem.
Os ensinamentos estão aí pra quem quiser
Difícil não é escrever.
Para fim disso basta seqüenciar palavras...
Duro mesmo é amar ipê-amarelo.
77. 77
III - CAPÍTULO – POEMAS FANTÁSTICOS.
Olhos de chuva. Dias de Verão.
No verbo
Existia um verbete
Para choro e chuva.
Em verbo
Fazia-se chover chorando.
Em verbo
Fazia-se chorar chovendo.
Sempre chovia nos meus sentimentos
e nunca faltou choro nas hortas.
Cabo de guarda-
Choro:
Boca da manhã.
Quando choveu foi água que caiu dos meus olhos.
78. 78 Ibirajubá da Silva
Duos - DIÁLOGOS SOLITÁRIOS
Cada pedra, pedraria, Maria!
Rita quem não irrita!
Apita quem não pita
Berço do terço é o coração
Foge do azar e da danação
Querido, irmão!
A meia
Hora
Foi embora
A meia verdade
Faltou sinceridade
Cada idade
Uma falsidade
Nas entrelinhas
Molduras e ternuras
Fato, ato e rato:
Corre, corre, corre!
Corrói
Rói.
80. 80 Ibirajubá da Silva
RUDERAL
Nem sempre precisa ser rural.
Município, princípio.
No alfa, Arruado.
No ômega, arruçado.
Ru, 44.
Rua, caminho orlado.
Ruador
[hoje sim é caminho com dor]
?Quem alimenta as ruderais.
Rudimentar: elemento inicial
[H,1.]
A língua:
Rútulo sem última flor,
Culta e
Bela.
81. 81
ESTETA
Se não for uma super nova,
Apenas até ferro se faz
Fazendo ferrados.
E na terra,
Oxida
Cada explosão de produção elementar.
Elementares.
Há que se ter muita energia
Que se passar por elementares elementos.
Até chegar aos grandes e poderosos núcleos...
Cientistas fazem verdades,
Detêm o monopólio delas,
Produzindo-a.
Calcados em postulados.
Não comprovados avassaladoramente.
Mas, que conhecimento é conhecido?
Que matéria supera a gravidade e não Kaí?
Quem sabe que não sabe?
Quem se afasta no in tu i to de aproximar?
Quem nada no mar?
Quem nada,
No
Mar?
82. 82 Ibirajubá da Silva
“FÉ CEGA FACA AMOLADA”
Havia sempre aquela pulga. Dúvida de saber o peso do real. Tudo certo nas
missas de domingo, todos os domingos, em todos seus atos: rituais mais que
sangrados...
Tudo normal nas palavras ditas pelo sacerdote, em todas as suas leituras...
A realidade é crença na Leitura do livro do Profeta...
Seja ele O Jeremias ou Isaias.
Sigo e prossigo o dito
Paro e reflito
O pároco.
Detive-me na minha realidade sem profetas, mas
Do banho do rebanho nas águas
Dos profetas.
Não há quem pense não haver a credibilidade no credo,
Também não há quem pense haver profetas nas ruas,
Mas domingo, todo domingo
Sempre aquela dúvida
De saber o peso do real
1 No tudo normal
2 Na leitura do livro do profeta
Seja ele
Ezequiel ou Daniel
83. 83
DESDE O INÍCIO COMEÇADO.
Todo começo principia
E há o paralelismo das formas:
Nas coisas...
Que para começar
Têm de ter uma maneira.
Que para acabar segue,
Como começou...
Respondeu.
[Para tentar fazer entender quem não entendia.]
84. 84 Ibirajubá da Silva
poema
Gesto.
É o que é.
o tempo inteiro.
E nem num
...detalhe se deixa de ser...
E nem num...
detalhe não se
se mostra.
É
Em todo;
tempo
em todos
atos.
É por isso: quem presta se presta!
cada gesto
ré-vê-lã.
85. 85
Sagarana.
“Descubro a coberta,
Ando a pé,
Miro na mira
Espirro para fora
Olho através dos olhos,
Penso pela mente
Respiro oxigênio dobrado.”
Reiterava o menino encimando o burrinho Pedrês, por aí.
86. 86 Ibirajubá da Silva
TANGANDO
Bate papo
Sem papas
Na língua.
Lembrando lembranças
Irrepetidas.
Conversas nem tão batidas.
A saliva na boca
Cabo de guarda chuva
Irei ser rei
Do terreno baldio
Na minha rua Paula, Frederico.
Lembrando lembranças
Além do além
E ficando aquém do aquém.
A vida vem pronta.
87. 87
poema
Tempo fora do relógio
Vivo preso ao tempo,
Apego no tempo
Fúria do tempo: entranhas de lembranças espalhadas ao vento
Escorregando ao relento
Presas ao tempo.
Mãos dadas à inércia
Segurando repetidamente o concreto escondido
Arremessado ao tempo.
Sensações, devaneios
Que me dão
noções do tempo.
88. 88 Ibirajubá da Silva
poema
sóis que vos já não sois.
Meu sol é redondo,
Parece uma bola.
Virgolando.
Meu sol é inverno
Aquece o frio
Retalhando.
Meu sol é sóis
Parece um siamês
Metadando.
Metadar é qualidade de metade:
Ação, movimento ou objeto que se metadeia.
[Meu sol é meta!]
É o meu sol numa metade de sol
Sem sombra na terra.
E sem sobra de dúvida.
89. 89
Qual a vantagem de se ter um sol?
A mesma de se ter paixão, razão,
à torto e a direito
Com defeitos...
Meu sol deixa de ser métrica tétrica
E vira nona.
Se virasse nas esquinas ou sentasse
Assentasse, levantasse
“aí se sesse”/Cordelando “tãobem”/O fogo encantado”
Revirado do avesso. nessa
Deixa o deslixo
No lixo.
E a travessa.
Através
De qualquer revês
Ao invés
Quem tu és?
Deste sol de doismiletreze.
90. 90 Ibirajubá da Silva
O FRUTO TANTO MAIS BELO TANTOMAISSE-
MENTE
O menino olha o chão
Sob o trovão da trovoada
Dá risada.
O aperto de mão
Dúvida ou não
A porta entreaberta...
Pessoas encabuladas
À frente corta
a visão enevoada.
91. 91
Chuvisco.
O bem e o mal
Cal
Sal
Mingau.
Leite
Peixe
Trigal
O mal e o bem
Sem olhar a quem
Sem determinar
O peso do pesar...
E de
Contentamentos & Apontamentos
Só rebentos e livramentos.
92. 92 Ibirajubá da Silva
De quem é o maniqueísmo dualista?
Movimento aparentemente dizendo a posição do real,
Amém
As
Misteriosas
Estrelas
Miram.
A eclíptica [terraço do céu fazendo ver o inimaginável].
Assim Seja
Astros
Seriais,
Salvaguarda
Incrível
Mexendo.
Sempre
Espetacularmente
Jazendo
Aqui:
Os elementos chegando pela força do universo
Todo o todo em todas as partes.
Absortus - Mergulho Maria.
93. 93
Todo tipo de entulhos
Descartados ou aglomerados pelo tempo
Feito memórias borradas,
céu acinzentado de inverno.
As águas correntes,
tecido de chumbo
tetricamente fluindo,
indo.
redemoinhos enrabichados;
A fúria da mansidão,
Desatando os nós
Resgatando os gritos abafados pelo barulho.
Compreensão da incompreensão.
94. 94 Ibirajubá da Silva
Sinestesiar
Ao tomar tomadas embotadas
No lastro devasso dos tropéis
Ancora o pau sem nau...
Ao tomar trompadas nas serras
Nas iscas ariscas das margens
Esconde aos às odes coloridas...
Ao tomar triscada de tinto
Esvai donde não se esprai
Singrando os rés unidos
Ao tomar o tomo amassado
Nas bibliotecas amontoadas
Nos andares de se encontrar
Esconde aos unidos singrando às odes coloridas sem nau os rés ancoram .
95. 95
PREPRAÇÃO DE PALAVRAS PARA SONETAR.
Algumas palavras significam exatamente o oposto do que intuitivamente pare-
cem.
Atitudes idem, inidem, inibem!
E paga-se o bis in idem.
Quando se sufraga se naufraga?
Ou quando se naufraga se sufraga?
Fragar, verdejar, firulilar...
Vou ser barão ou ladrão?
Nós estertores; nos estercos que fazem brotar, verdurar...
E não verdades.
Canduras, e não vaidades,
Sufragar ou naufragar?
Tudo está no teu jeito de olhar.
08/09/2014.
96. 96 Ibirajubá da Silva
RETRATO CONSUBSTANCIADO NA RETA VE-
LHA.
Desde sempre
Sendo.
Abastecendo o tempo
Apesar dos...
Dos da vida.
Alegria,
Que não é sangria
Nem histeria.
Pinga-se o suor da testa,
Escorre aos olhos
Salga.
Dedos, dez
Medos, dos...
sentidos
Salutar...
97. 97
Releitura do Socorro.
...Gritos calados na garganta,
Ruídos
Gemidos.
Músculos contraídos,
Quase renidos.
A face oculta que ninguém vê
Frases estendidas,
Roupas no varal.
Na cidade grande não tem quintal.
Atrás o que ficou,
Na frente o que chegou,
Sinal amarelo...
...Gritos calados na garganta,
Ao redor
Ruídos e gemidos.
Raiva contida:
Músculos contraídos
Quase renidos.
No quintal se tem com o sol:
As roupas estendidas, Conversas compridas,
As horas esquecidas [face oculta que ninguém vê].
98. 98 Ibirajubá da Silva
Em apartamentos mal se tem janelas.
Passado
Futuro
Pre-sente...
99. 99
Está são de som.
Ou tudo, outono;
Ou nada,
De
nada.
Ou corro, ou morro,
Ou passo, ou
aço.
Ouve;
Ou Tão,
o Tao,
Ou
Vê.
Ou tudo,
outono
100. 100 Ibirajubá da Silva
RITU
Espiral:
Que chegou no mesmo ponto agora
Mais elevada.
Que RODOU...PIOU.
Espiral,
Passando por vezes universal
Outros tantos individual...
Espiritual:
Que chegou no mesmo ponto agora
Mais elevado.
Que MOTIVO...VOU.
Espiritual:
Passando por vezes ritual
Outras tantas espinhal.
E
S
PIRAL.
101. 101
TEIMOSINHA
Quando cheguei, estava frio, mas eu sorria.
Era novo o tempo que se começava.
Formas delineadas com esmero de uma mulher.
E o peão girava com impulso de barbante...
De manhã saia e conhecia as coisas do mundo a minha volta com o olhar do
ameno
[menos é mais] e mais só intensifica, além de somar.
E o mar, a esta altura, era agitado e falante.
Acho que ele espreguiça de manhã ao olhar dos transeuntes desatentos.
Ao meio dia me procurava, talvez nascia ou brotava.
Mas sol que não faz sombra olha pra baixo...
Gastava minhas pratas pagando passarinhos para cantar.
E como aquele Sábia careiro me transbordava para a vida eterna.
Dava a ele o preço desejado: nunca negociei o valor do seu canto!
Em outros lugares se escuta outras melodias, e como há bichos querendo cantar
como passarinhos...
Aqui a lua é mais forte e toma conta da noite.
Ela é branca, pálida, teimosinha...
E domina todo o meu amor.
Ela vem, passa, dá uma rodadinha, volta-emeia medeixalunático.
Se lua cantasse, pagaria para ouvir, tal qual os passarinhos.
E de certa maneira a lua voa como os bichinhos, em cimando.
Ela é branca, pálida, teimosinha...
E regala meus olhos.
BELEZA DA VIDA
A beleza da vida
escondida
Flutuando por ai...
102. 102 Ibirajubá da Silva
Toda a ideia de movimento
Confirmando a inércia...
Trotes e galopes
Varzeando o infinito...
Ligações de metais
Aguardando tensões...
Diferenças de potenciais
Inutilizando arestas
103. 103
Boneca.
Só hoje.
amanheço para brincar de boneca
reter cada movimento de seus braços e cabelos
parar...seguir...
manipular as diversões.
só hoje.
acredito em bonecas
no sorriso perene, no corpo perfeito e no doce perfume
[estar no controle.]
só hoje.
conservo-As. Jogo-As no fundo do Baú
retiro-lhes as roupas.
fico nu.
Só. hoje:
as bonecas não me ferem.
104. 104 Ibirajubá da Silva
FASES DA VIDA.
Fases da vida, da lua.
Brilho da noite, reflexamente sol.
O cheiro do ar.
O planeta vermelho, o azul.
A cor da terra e suas tessituras.
O frenesi.
As vozes que gritam;
Que calam.
Ideias [aparentemente] malucas.
Ecos...
...Sistemas
Vã e vãos!
Vãos abertos
105. 105
CAPÍTULO IV: DO ALICATE.
LAMENTO SERTANEJO.
Um dia voltaremos a ser quem somos:
Comedores de abrobrinha, taioba, mandioca,
Bebedores de limão cravo, abacaxi, manga,
Apreciadores de bolo de farinha de jatobá, doce de jaca,
E pra esquentar pinga de cana dura com castanha torrada da terra.
O Lobo Guará virá conversá,
Urutu não vai amolá,
Macaco vai gritá
E tatu não vai faltá...
E a roça é de feijão,
Café com farinha de milho de Cunha,
Vinda de tropa.
A esperança dando leite,
A galinha botando ovo
E comendo escorpião no cisco preciso
Do redor...
106. 106 Ibirajubá da Silva
Para os dentes de Manuel B.
Quero o lirismo dos poucos
O vinho dos afogados
As mágoas dos desesperados.
Estou farto da fatura consumista
Do futebol com cerveja gelada
Do politicamente incorreto.
Basta de clamares indecência
Do inverso do certo como
O errado.
E dessa certeza ilíquida dos letrados:
Quero a ignorância que não respeita o Verbo,
Os títulos e brasões.
E a abolição da Hierarquia
107. 107
MINHA HOMENAGEM AO BARROCO,
Barrocar: Dia sim, dia não, dia sim, dia não, dia sim, dia não, dia sim, dia não...
Época de se escrever prosa,
Poesia proseada
[Presepada.]
É preciso saber, direitinho
Que é fantástico,
Não ridículo: substantivo feminino.
Época de se pensar em prosa,
Textos e mais textos, bem prolixo,
E acabar com a ditadura do simples.
Entendimentos extravasam
Sentimentos calam
Jogos rogados:
108. 108 Ibirajubá da Silva
Quando o tempo fluí,
Quando o tempo fruí
Quanto tempo fui...
Época de se pensar poesia,
Lê-las, obtê-las, querê-las...
É preciso que a verdade não se escape
Que a verdade não exista
Que a memória não persista.
É preciso precisar,
No sentido preciso de precisão;
Saber então a noção
De necessário.
109. 109
Fundo do Céu.
O que fazer com as casas vazias?
Casas abertas
Casas Bahia.
O que fazer com as casas cheias?
Castelos de areia?
Penitenciárias?
O que fazer?
Está tudo por aí...
O que fazer do santo ócio:
Sacerdócio ou negócio?
O quê?
O que fazer dos talentos:
Rebentos ou tormentos?
O que fazer do não-fazer:
Ter ou ser?
Tecer...
110. 110 Ibirajubá da Silva
ANGOLA.
Sinopse do Rosa: “de margem a margem, correnteza forte e violenta, atravessar
sem travessa, quando a tropa rodou rio abaixo só o burrinho cortou fio a fio o
inhã”.
Cavalo velho que não descansa no campo
Vira iguaria inglesa:
Bife espumando na frigideira
Cavalo velho que não ganha a liberdade no campo
De uma vida empurrando carroça
Não descansa
Cavalo velho que não regra
Nem nega
Só, trôpega.
Fazendeiro, de gado leiteiro:
conhece
uma dúzia
de tipos
De capim
111. 111
Poema
O direito de ser uma árvore
Sempre fulminado, transgredido, subvertido.
Sujando calçadas e avenidas, as folhas.
O direito de se edificar
Nunca respeitado, zelado, passado e picado
Manchando o repouso, do movimento.
A ladainha [da rainha ao flanelinha]
Dos arroubos democráticos,
Do jogo dramático
Da performance non sense.
O direito de ser uma árvore,
Ficar parado, edificado.
Garantir o direito de ir e vir.
E o sagrado, poder ficar parado...
112. 112 Ibirajubá da Silva
ANISTIA DA LEI
levantar o passado; injusto.
Buscar para o hoje. Aquilo que já deveria ter sido;
E vai ser.
Não há tempo que apague uma...
Não já
remédio que cure...
Não jaz paz ém
Espírito
inquieto.
Levantar o passado hoje,
Trazendo o justo descanso
dos homens de bem.
É um mergulho que se
Vale.
Desideratos alcançáveis
Restituição do que se tomou
O que Foi está feito e
Vai ser desfeito!
Levantar o passado para descansar.
E, assim, voltar para o presente-futuro
Modificado
Para se ficar.
113. 113
ESTAMOS VIVENDO A FEBRE DO GRILO
VERDE.
Um salto,
Distâncias percorridas.
Uma imensidão,
Tamanhos medonhos.
Um olhar,
Batidas sangrentas.
Um amor,
Dois amores, três tambores.
Infinitos (a)mares e sabores.
Um amor,
Um salto, uma imensidão, um olhar.
114. 114 Ibirajubá da Silva
Passar.
Hoje a chuva caiu
E levou
O meu desamor.
Nas manhãs frias e cafés quentes
Reluzentes
São os entes
Da esperança.
Muitas andanças pelos trilhos do caminho
E nesse ninho
Forrado de passarinho
Um graveto espanta...
115. 115
“NEM TANTO AO MAR/NEM TANTO A TERRA”
Neném tonto ao barco/ neném tonto ao trem...
Não gosto de artes,
Nem dos arteiros.
Tenho queda pela...
...LI – BERDADE.
Não gosto de pontos de inflexão,
Da tensão da corda,
Do véu que esconde o rosto...
Não gosto da falta dos cristãos,
Da não redenção da perdição.
Da fome desesperada por miséria
ALHEIA.
G
O
St
O
Pelo INU
SITADO
116. 116 Ibirajubá da Silva
LEDAR.
Dom de Karis
Graça recebida:
CARISMÁTICO.
Dádiva, presente...
Ardente é o que é iminente.
E se vem de repente
Façamos um repente:
Se o belo é bom
E o bom é belo
O que adianta a foice e o martelo?
Ponteiro e dinheiro
Cadê o lixeiro?
Eminente é o que é prepotente.
No nascente ou poente;
Façamos outro repente:
Roupas de marca
Pisante novo
Corra: já começou a novela da Globo.
117. 117
USUFRUTO pessoal.
Sempre gostei de memória,
Tenho a plena noção de que meu gosto
É exacerbado.
Mas são as memórias que me mostram,
Ensinam e me guiam...
Se não fosse a memória de cristo,
Eu não seria cristão.
Se não fosse a memória,
Dos Clóvis,
Eu não seria um Hummel Capucho.
Se não fosse a memória da queimadura,
estaria botando minha mão no fogo
por qualquer demônio.
Eu respeito as minhas memórias,
E lembro de cada palavra dita nos últimos vinte anos.
20 anos!
É o peso do pesar
O marco na vida aqui em casa.
E as memórias são minhas,
A fala também.
E o cromossomo y!
O cromossomo Y.
118. 118 Ibirajubá da Silva
SER: “CADÁVER ADIADO QUE PROCRIA”
Obrigado pela Vida.
[Viver se aprende vivendo.]
Obrigado pela família.
[Pelos valores de Pai e de Mãe.]
Muito obrigado pelos Irmãos:
A lição de dividir e servir.
Obrigado por me livrar do inferno da preguiça!
Obrigado pela minha loucura: sustento da lucidez.
Obrigado por me ensinar lavar, passar e cozinhar.
Obrigado por me permitir limpar meus próprios “panos de chão” sujos.
Obrigado pela minha sede: pelo meu ímpeto, pela minha intolerância!
Obrigado por me dar Jesus e seus Desertos.
Obrigado pela minha Fé e meu Descontentamento
Obrigado pelas Estrelas.
Obrigado por me fazer gostar de Milho, Trigo, de Andar a Pé.
Obrigado por não me fazer escravo do sal, açúcar, fast food, carros, Ipod, celular,
vaidade, roupas de marca, imagem, rede Globo, PT, PSDB...
Obrigado por me fazer enxergar que toda carne que se come é morta!
Obrigado pelos velhos
[Segredo da juventude]
Obrigado pelas crianças.
119. 119
poema
De certa maneira todos somos atropelados todos os dias por todos.
E o que faz suporte não pode ser apenas suportado:
Sementes caem pelo chão
Ventos sopram mansidão
O som tilintando.
Árvores imóveis
Ronrosnando vitera
A lajear.
Dois e dois
Um e um
Dois são um
Arma dura,
Santa cruz!
Arar,
Trepidar,
Almuvucar,
Escravotinar.
De certa maneira todos somos atropelados todos os dias por todos
E o que faz suporte não pode ser apenas suportado:
Mansidão escravidão
Escrivão
Trovão
Soar
Suar
Testemunhar
Lavrar
Escavulcar
120. 120 Ibirajubá da Silva
Escamurchar
Levantar
Vaticínio
Pequenino
Do além
121. 121
POEMA
sem título
cresce padece de vida
morre parece brotar
brota parece que vinga
vinga e padece de força
força parece que volta
e volta parece não ser
parece padece que sente.
122. 122 Ibirajubá da Silva
MUIRAQUITÃ.
Como é doce o ano que chega
E passou o ano que finda.
Olhares atentos ao menor
Olhares remotos ao vagar
Como é doce o ano que chega.
Equilíbrio para ter
Coragem
E não tropeçar nas miragens
Como é doce o ano que chega.
Chega trazendo dias
Vários deles
Poças de tempo que se renovam com gotas de esperança
Perpetua-se a vida longa
De longos tempos
Deixa gueixa...
Finco fato consumado
Apalavrado sempre está
Nessa comunidade que só sabe falar falar...
Como é doce o ano que chega
Talvez remédios afetem a emoção ou a lucidez
Não sou médico e nem rei.
Tenho em mim o mesmo do mesmo.
Quem sabe dos medos alheios, carapálida?!
Quem sabe o que se passa fora dos próprios julgamentos?
“Deus-meproteja da maldade de gente BOA/dá bondade da pessoa ruim”.
123. 123
Deus me proteja!
Dá.
Maldade
De GENTE boa!
Talvez fosse o remédio, talvez o medo...
Fico com a pre-sun-ção e Prepotência da gente de falsa ciência; e com a bonda-
de da pessoa ruim,
de preferência da pessoa Ru(i)m.
124. 124 Ibirajubá da Silva
Rosa.
Ando pastando memórias:
Visões invisíveis
Nunca apagadas.
Ando pastando energias,
Colocando para dentro
Incontáveis possibilidades
Ando pastando saudade
Do que já foi,
Foi.
Ando pastando...
Como burrinho Pedrês
“Por um caminho que só me leva
Nunca me traz”
125. 125
Escritos entre o Amor e do desAmor.
Política está entre ambos,
Fascinando os dois lados.
Mais amor no desamor político
Inéditos são as feiurinhas repetidas
Ainda tidas
E não varridas
Do meu verso que se repete,
Repetindo uso da palavra repetir
Sem competir
E nem transmitir
Nada.
Entre o amor e o desamor
Cabe a dor
A fama
O engano.
Entram o riso
O guiso
E tudo mais...
Entre o amor e o desamor
Está o projeto de vida
Pendulando.
126. 126 Ibirajubá da Silva
Mulheres Escritoras & Sedutoras.
Pensou assim que estaria longe de qualquer vagar,
Retesado, amuado, despreparado, sem lar...
Pensou em Amaros, caros personagens com tantos desamores;
Pensou em “nomedepaidofilhoedoespíritosantoamém”,
Retesou à hora da estrela,
Amuou o triste fim sem fim,
Despreparou o preparado,
E pensou assim que estaria longe de qualquer vagar.
Vagando pensando em ler nos dicionários os neologismos do João,
Pensando imaginando o sentir de todos os troços destroçados de sentido vulgar.
Aquela fala de pai dos burros sempre me ofendeu,
Aquela violência destemperada pelo dicionário sempre me ofendeu,
Aquele riso satânico, maledicente, sempre me ofendeu.
Raro é para o destempero assimilar que esfregando na ponta dos dedos o oré-
gano ele funciona melhor,
Botas calçadas, ruas lavadas, costas queimadas:
o andar, com qualquer vagar.
127. 127
O SONHO, O PESO E O REAL.
Reunião de assombração medonha dá nisso, Sonhador!
- não me importa! Eu sonho e berro:
“Eu quero revolução,
No meu modo de pensar
Aprender a exaltar
E a perdoar...”
Você mais pia do que arrepia!
Dias que se passam,
No inverno, verão;
Nas sombras, mansidão.
[mas poderia ser solidão. Tudo uma questão de ilusão e sonorização. Os senti-
mentos aflorados ou reprimidos não passam, nas palavras, de palavras.]
- Tudo bem, realista tosco!
Pois que:
“Eu quero prestar atenção
Nas borras de café
Aprender a ler
E a escrever...
Eu quero apenas comemorar
Cinqüenta anos de memória
Passada da forma que foi
Interpretar...”
-então diga-me, sonhador:
O vaguear do vaqueiro ou o letreiro do matreiro?
Os passos:
Com joelhos calcificados já não produzem o mesmo sentido de caminhar. [ou
numa linguagem mais bonita para alienados, progredir...
128. 128 Ibirajubá da Silva
- hmm, a corda sempre arrebenta em mim:
“Eu quero traduzir
Todo sentir
E me eximir
De ter que reprimir
E poder
Dormir ...”
Sonhador, preste atenção:
Nada muda nem se transforma.
Nada vem e nada passa.
- Sim, senhor:
“Eu quero o não-querer
Sem ter que ter
Nada do ser
Que me propuseram aparecer...”
Olha só! Tudo é uma constante estática que nosso polegar opositor e o encéfalo
desenvolvido obsta ver.
-Nada, eu vou é:
“Findar este tecer
E bem no alvorecer
Sumir.”
Daí, eis que chega o realista e bota fim no diálogo:
“Nisso tudo é baboseira, nem sonhador nem pessimista!
Sabe o quê e o por quê?
Na
Aldeia universal:
Quem vende produto superfaturado para a cidade é responsável pelo genocídio
de pobres e pretos em curso no país do futebol.
129. 129
O PROFETA DITA UMA MENSAGEM DIVINA: A
TERRA GIROU E O NORTE VIROU SUL.
Quantos mundos existem no meu mundo?
lógicas a serem apreendidas e repetidas
quantos mundos existem
no meu mundo...
Aparências e aquiescências sem sapiência
não há lutas a brigar
nem discursos a defender
E mesmo não havendo nada a que se rezar
há pregadores do mundo,
mas nem se sabe qual mundo...
quantos mundos existem no mundo?
130. 130 Ibirajubá da Silva
ALmato
Tenho alma de mato
Que quase me mata.
Nariz de cheirar capim cortado
Seja angola, napiê ou a praga Braquiária.
Olhos que só ouvem barulhos
Árvores balançando, águas correndo,
[E aquele zunido do tempo escorrendo.]
Em outros tempos montava no burrinho Pedrês
[emprestado do Rosa]
E saía pelos sertões adentro...
Nos espigões respirava e sentia o tamanho do que se vê!
A poeira do estradão era vermelha.
As folhas de taioba eram pau pra toda obra.
Certa vez senti o cheiro da candeia estalando no ar,
Hoje não se usa mais as candeias,
Viraram cercas caídas
Em desuso...
Rezava para São Francisco, mas a beira do Parahyba.
Alembro dos animais de tração escondidos no Chico Lopes para as tropas em
revolução não requisitarem.
Como foi dura à época – Bela époque.
No mato não se carece de calçados.
Lá, adidas e nike são menos que a sola do pé
E pé descalço não tem chulé!
131. 131
FOGO
queimei minha perna na brasa
a alma no inferno
e os olhos te olhando
queimei a boca no café
o corpo na fogueira
e os olhos te olhando
queimei o cigarro dando uns tragos
a vida nos desejos
e os olhos te olhando
queimei as mãos segurando firme
a razão a defendendo
e os olhos te olhando
queimei, como incêndio que não respeita acero algum, como gole de pinga,
como o sol no verão
queimei como plástico derretendo, como mudança de matéria...
queimei como se esgota o oxigênio, se sente o calor e a sede
queimei e fui queimado com trapaça.
132. 132 Ibirajubá da Silva
Ao poeta, da lição: AMAR verbo intransitivo.
Mergulho no mar
Escuro.
Rodo, intensamente, pulsando, pulsando.
Sinto, sinto, sinto
Sinto muito.
Escrevo para Netuno,
Que me põe nos dedos incompreensão
Ta-ma-nha
Menino:
ânsia e nuanças de escrever palavras
de saber das limitações desse eterno jogo de posições
ânsia de descobrir sozinho
de manchar de tinta
dores, saudades, tristezas.
[Vivo de enxergar, fundo]
Bem fundo:
ânsia de deixar a fortaleza
e cicatrizar o papel com fraquezas
[Raiz de caule cortado.]
Menino-homem:
um dia as decisões serão minhas,
só minha, minha alma, meu corpo.
ânsia das ansiedades, da pressa sem perfeição.
as palavras, na essência, são meios de se fazer não pensar:
vamos vomitar o mundo!
vamos salvar o mundo!
sendo homem, sendo menino:
Parto de cada hora.
133. 133
SER
Somos leituras:
folhas que enrolam versos,
que traduzem a vida.
Somos notícias,
[indignações conosco via representantes]
Somos emoções,
brigas, discussões.
Somos amores:
maternos, fraternos e namoradores...
Somos esperanças,
sonhos, estradas...
Somos lembranças
amigos, falas, momentos...
Somos o vento, o sol e galhos:
galhos troncos, galhos folhas
galhos e galos...
Os jornais nos dizem
[os bares também!]
Somos preocupações individuais e temporais,
somos os outros, somos dois, três, infinitos...
somos quem queremos ser:
somos cubos, quadrados ou bolinhas
rolamos, quebramos
somos vidros!
134. 134 Ibirajubá da Silva
às vezes rolamos e quebramos: somos cacos,
somos vontade, desejo e reparação
Somos estudos, pensamentos e torcida
Somos preocupações, diálogo e blá-blá blá
somos mais torcida, mais tudo
somos nada...
somos cópia, reprodução...
somos gotas, rios, neve...
somos cadáveres? somos vida?
vida morta? morta vida?
somos bobagens, coisa séria...
somos o universo, somos o peculiar
somos dicotomias e multifaces...
somos pensamentos, palavras...
somos sempre mais de um...
135. 135
“Lá vai o trem com o menino...”
E os trilhos sempre levam a algum lugar
E, na essência, já se tem o destino;
As bitolas são que podem variar
sopesar...
e os trilhos nos guiam,
nos move rapidamente,
e cantam:
piuí piuí...
não como pássaro, que não são,
mas como trilhos
que guiam...
136. 136 Ibirajubá da Silva
V - CAPÍTULO: DO TRITURADOR
Para o velho Carlos Drummond
Daquela vez era brilho o meu talento
E o sorriso dela gratuito.
Minha fala caipira diferente e sonora, apetecia-a.
O comportamento certo e errado, ou tudo ou nada
Era ímpar e forte como imã.
Mudou-se a percepção, do que se vê
EU:
Objeto, direto, sem preposições.
Verbo, de ligação, estado de não ação.
Espelho, distorcido, da imagem refletida.
Nada, ausência tão grande de mistério,
Vão de porta.
O peso do.
E a medição de um cigarro em chamas sobre a balança.
Milimetria.
E tudo diferente,
Pontuações e mais pontuações
E a questão de problemas gramaticais
Escondendo os erros n’estão inerentemente na própria ortografia.
137. 137
“Sê, não sendo.
Taí
A questão!”
Levantou-se e caminhou derrepentemente pelas palavras não ditas,
Pelos verbos mal empregados
Olhando a fúria que gera-
Geração.
E o desespero, gosto de destempero das escolhas erradas.
Na diagonal
Reta
do acento
Agudo.
138. 138 Ibirajubá da Silva
Poema
Palavras nunca se perdem,
Só se ganham.
Palavras vêm da mente,
Passam pela boca.
Palavras são olhos de Capitu,
Umcasmusrrandoaalma.
Palavras são ditas, escritas Pensadas...
E as piores,
Fazem-se caladas.
139. 139
DIZER O DITO E REPITO.
As conversas:
O tempo passando,
Os dias se acabando.
O poema não se Findar.
As palavras
Simplesmente não vieram por inteireza...
140. 140 Ibirajubá da Silva
POEMA NOVO, para a Dama que julga a clari-
dade dos poemas pela própria cabeça escurecida,
com carinho:
Retratar a meta
Linguagem
Da poesia.
Nas beiras das
Horas
Do tempo.
Dos sentidos
Vividos
Percorridos...
Ah...
I
Retratar a meta
Linguagem
Da vida.
Nos segundos
Das horas
Que passam.
Dos ditos
Momentos
Do giro duplo
141. 141
Da terra por ela
Ou em torno
Do sol...
Dos ditos
Dos ouvidos
De todos os grunhidos.
Minha terra tem palmeira,
Donde se escuta os cantos.
[Mas a terra não tem cantos
E o bicho sabiá canta em outros lugares, Camará!]
Dias de sol,
Noites não mais tão compridas,
É chegado o equinócio.
II
Nada pára,
Nada continua
III
Lá vem o trem
Da saudade: Mocidade,
Fraternal tudo aquilo...
IV
São tempos de tempo
Como sempre o som...
V
Pincelou nos desenhos,
Barulhou nos ruídos
E apartou o ship
Do nada claro
Escuro.
142. 142 Ibirajubá da Silva
Poema
O quão é uma pataca na algibeira?
a coisa mais bonita do mundo é um grão
nulado ou não
embrionado ou sim
de sal de tigre de terra
grão de pão, grão de não, grão de vão
granus
grati
areia.
aretê
Ulisses ou Aquiles ?
143. 143
Para Armando Soares.
As palavras são poesia,
Simples. Inconcusso:
Ser firme
É inabalável
Estar incontestável
Viver Incorruptível
E, em linguagem figurada,
Austero.
144. 144 Ibirajubá da Silva
Semana da arte Moderna
Não gosto da palavra Ode,
Primeiro pela simetria que exige para tirar da não-existência a própria composi-
ção métrica das estrofes.
Segundo. para se fazer significado precisa Ser cantada.
Odeio a Ode ao Burguês, ao inimigo.
Ode unanimidade, brusca, contundente.
Ode que pega o inimigo pelo braço e o aniquila.
Ode de projeção de achar os culpados e se fazer os mocinhos.
Ode aqueles que se preocupam com a vida alheia
Que querem tecer a teia
E enrolar as presas.
Ode ao lirismo que Não pára para averiguar no dicionário o cunho vernáculo de
um vocábulo.
Ode aos pseudo-modernistas
Ode aos preocupados
Ode aos normais.
145. 145
nAS ACRÓPOLES CIdaDÃos POlítiCOS de
nãOS:
ACROASE
A:
Acrossemia!
Acre:
Acrologia?
Acro:
Acrossofia
Acrotica... de
a.
146. 146 Ibirajubá da Silva
MINHA NOÇÃO DA PALAVRA.
“Quando os movimentos parecem planejados,
Alerto: ninguém vê o trovão, seu vão...
só som: Temperamento invisível.”
“Funda a ação
No fundo
Do baú.”
Mimetismo eclético das
Palavras que não sei o
Signo fincado.
Atroz em ânimo
Da mente poluente
O fluente fleumático
Beijos bafosos-raivosos
Da raça humana
Sobre-vivência
Aula, que não seja trauma
Mestre, que não seja aprendiz
Fuga, que não seja luta
Seje, que não seja bege
Se jê que
Se que Jô
I ou u
Ao
O som do trovão:
Raio sem luz
Não se vÊ.
147. 147
Imagens
Pai e Mãe na cozinha
lavando, descascando
a porta aberta.
O passarinho avisa
portão batendo
janela ventando.
a ponta do lápis
traço a traço
rabisco.
148. 148 Ibirajubá da Silva
O ÍNDIO MOSTRA UMA NOVA REALIDADE
CONCRETA AGARRADO NUMA ÁRVORE DE
MIL ANOS.
Eu nunca li um livro que valesse a pena
Livros são folhas mortas
Palavra por palavra sendo ditas por um autor provavelmente defunto.
Livros não valem um tostão.
São borrões da percepção alheia.
São Li,
São vros,
São os
Culpados de tantos tantos e
medonhos modos de se vi-ver
Índios não tinham
livros
nem terras...
pois eram
da
TER---RA..
149. 149
A LITERATURA DA SUBLITERATURA DOXADA.
Tenho gosto pela rima pobre,
Pela poesia lixo
Execrável...
As falas robustas,
Cheias de densidades
Nascidas lapidadas
[Não me fazem admiração.]
O boi rumina
E sua fonte é mina.
O amor rima com dor ou flor
As consoantes adoram as vogais
Será que isso são sinais ou sílabas?
Tenho predileção pela rima tentação
Só porque fujo às tentações...
O poeta inveja o ourives
O poeta é um fingidor
O poeta poeta!
do verbo poetar.
E quando naufraga
Tem êxito
De tão profundo.
150. 150 Ibirajubá da Silva
Soneto travesso desleixo deixo.
Sonetar a qualquer hora
Nada me impede da demora
?O que me passa e me esmaga
Sonetar a qualquer hora
Não importa à beca
Nada que peca,
Nem um TIM TIM que teca
Sonetar a qualquer hora
A métrica faia
A visão atrapáia
!A faísca risca
Dar o tom em ritmo bom
Dar o bom em rítmico
Sonetar a qualquer hora...
151. 151
PALAVRA DANÇA.
Brincando
com palavras
e brindando as horas.
Brindando com palavras
e brincando as horas.
(h)orando com brincadeiras
e palavreando os brindes
Palavreando com as horas
e brindando as
brincadeiras.
152. 152 Ibirajubá da Silva
Provocação para a lua cheia.
A vida poesia,
Nem tão romântica
E seca;
E Pelos cantos se escondem
Saudade e tristeza,
[Há também beleza.]
A vida poesia
Nem tão ruim
E estopim;
E pelos cantos se deprimem
Orgulho e vaidade,
Deveras falsidade!
Há sentimento sim?
153. 153
poema
Inspirações erradas
Motivadas por falso intuito.
Intuindo a vontade sem razão.
Olhos arrancados
Por olhares mal dado
Pensei ter
O que não tinha.
Fazer
O que não sabia.
Tentar sem estar...
A pressa é a fome
A miséria secando
Lagos ...
...Lagoas de sereno em plena estação seca.
Troncos e trovões
Arrebentando salões e balões
Rimas são senões
Palavrões criados por entes
Despersonalizados.
154. 154 Ibirajubá da Silva
MEXENDO
Novas formas de expressão,
De comunicação
Formas de entendimentos múltiplos
De ambos os ambos lados
Não amputados.
Nova forma de criar gramáticas
Manuelando o horizonte tão alinhado
E pequeno.
Barrificando pedras, que podem rolar ou
Voar.
Novas formas de técnica,
Procurando o rito
Acendendo a lamparina...
Formas de entendimentos múltiplos
De ambos os ambos lados
Des-fragmenta-do o mal pensado
Desponteirada as estrelas errantes
Des,
De
E
Us.
155. 155
poema
Poemas são inquietações:
Sintetizam noites mal dormidas
O desgosto do paladar...
Poemas são atordoantes
Crus
Sem sal...
Poemas são faróis desregulados
Asas quebradas
Flores partidas
poemas são palavras pretensiosamente combinadas
choradas em volta de sangue
156. 156 Ibirajubá da Silva
Oposições
As palavras não saem da cabeça,
Não entram na folha de papel.
Sinto, sinto, sinto.
Nada se traduz. Nada.
Instante de incompreensão
Inquieto, reto.
As palavras não cabem na boca.
Estouram no peito; [com a força inexorável da palavra inexorável.]
Hoje não canto o medo,
Não canto o amor, que se escondeu;
Não canto a vida
[No canto da sala a porta vazia]
O coração vazio,
Os mistérios tão misteriosos,
A sensação de nó.
Engodos, lixos, pá-pel...
157. 157
Ideologia.
A poesia me transforma;
Tal qual a compaixão,
Ajuda que se dá com paixão.
Ter irmãos,
(Com)paixão:
Transforma minha poesia;
Novos irmãos, sãos;
E salvos.
Do perigo de ter de haver compaixão.
(Sentimentos falsos, que o espelho revela:
Em cada gota que se bebe a mais.)
Quando falta a compaixão,
Não se tem irmão!
Ectoplasma passageiro.