1) O texto discute a importância de se preservar a língua portuguesa e criticar as políticas que promovem a mediocridade no ensino.
2) Defende que o conhecimento requer estudo e esforço, não podendo ser reduzido à superficialidade.
3) Argumenta que a ignorância ativa, patrocinada pelo Estado, coloca em risco a riqueza linguística de um povo.
A defesa da língua portuguesa contra a mediocridade
1. A ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO [MAIS] INCULTA E [MENOS] estudantes que não são brilhantes, mas,
BELA esforçam-se e conseguem atingir certo nível
de erudição, cuja tendência é o progresso em
É uma pena que, no momento, o MEC direção à plenitude de seu patrimônio
se responsabilize por distribuir livros de intelectivo. Infelizmente, não podemos
língua portuguesa, ferindo a preciosidade de “infunicar” a deficiência de anos a fio na
sua natureza gramatical, conforme a superficialidade do “empurrar com a barriga”,
estudamos com tanto empenho e afinco. É de modo a favorecer a incompetência e a
uma pena que os cultores de uma civilização, inabilidade linguística dos profissionais do
que se transmite pela perfeição da linguagem, porvir, considerando que a maturidade será
pensem-na como uma forma de discriminação produzida no chão sáfaro da burrice da
e vilipêndio, quando, ao ser pronunciada de acomodação à conveniência da lei do caminho
modo contrário às suas regras, não seja digna mais fácil, que, em síntese, é a lei da preguiça.
de correção. A prosódia sofre o malogro dos Ninguém aprende nada sem muito estudo e
dementes. Claro que há uma diferença entre fadiga. Assim, a graça de estado do estudante
quem foi à escola e teve a oportunidade de deve proporcionar a busca do
estudar e se aprofundar na arte da pronúncia aperfeiçoamento de suas qualidades, diante do
correta e a de quem nunca teve chance de que lhe é exigido nos meandros de sua
descobrir a lógica dos enredos dramáticos da formação.
costura solene da disposição das palavras no É difícil de entender ou aceitar, mas a
conteúdo de um texto, mesmo se coloquial. sociedade brasileira, contaminada pelas
Conversando com pessoas simples e circunstâncias mundiais de prevaricação e
humildes – o que fazemos todos os dias – miopia, quanto ao sentido do bem moral e
também detentoras da cultura que lhe foi metafísico da leveza da verdade das coisas,
proporcionada, dentro dos limites do acesso à tem institucionalizado a política anárquica do
escolaridade ou não, evidentemente, não “é proibido proibir”, em todas as dimensões
vamos exigir um português polido e humanas dos valores sagrados de sua alta
transparente, erudito, ou, até mesmo dignidade e prerrogativas de “homo sapiens”.
conforme as regras estabelecidas pelos Longe da insinuação coerente dos atributos
gramáticos para favorecer o alcance mais inerentes à nossa humanidade, estamos
harmônico do discurso. Mas, daí a patrocinar criando o “homo conveniens”, contanto que
a burrice estudantil ao nível da baixeza cada um dê vazão às quebras de sua falta de
minimalista da mediocridade, é outra coisa. brio, senso de decência e decoro na
Ainda bem que há setores universitários que legitimação da autobestificação. E muitos vão
não se deixarão levar pela fossilização por esse caminho, porque mais cômodo,
imposta do conceito digno do bom português, menos sofrido e mais politicamente correto.
pelo menos, a fim de que seu corpo discente No entanto, esquecemo-nos de que “cada
não se prejudique no futuro, por confundir a homem tem o seu preço”, como, tantas vezes,
elegância plástica do “bem falado” com o lembrou-me um amigo que, também, já pagou
prognóstico da “boa falácia”. Na verdade, se a o seu preço com as arbitrariedades, nem
situação do português desprendido da boca e sempre conscientes, de suas escolhas. O
do lápis dos estudantes já não é tão boa assim problema é que, com frequência, caminhamos
– mesmo em conjunturas universitárias, e, tanto nos trilhos errados de nossa falsa
portanto, no âmbito do Ensino Superior – o liberdade que, quando nos damos conta, não
que poderíamos dizer, ou esperar, se a cancela temos mais tempo de voltar atrás. De fato, o
da “bestificação social”, como afirmou arrependimento é insuficiente para refazer o
Alexandre Garcia, for escancarada à percurso torto de nossas decisões insistentes e
“preguicite” aguda de nossos acadêmicos? teimosas. Há estragos vitais de nossa
Será que o conhecimento chega à inteligência existência que não podem ser, jamais,
por “infusão”? Sim, porque há alguns reparados. A estrada curta da negligência
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2. intelectual alarga-se nos tropeços incautos do de quem deveria aperfeiçoar, sempre mais, a
comodismo que nos precipita, “língua que sua boca tem a honra [e o mérito]
paulatinamente, na perdição sinuosa dos de falar”. Já perdemos tanto com a estúpida
conceitos. O que vale para formação bem iniciativa de, por longos anos, tirar o latim do
estruturada de uma personalidade forte, que ensino das escolas, que também querem
não se sedimenta do dia para a noite, vale sacrificar o português, fomentando a sede de
também para a aquisição dos benefícios do domínio que o Estado possui em não permitir
saber. que as comportas da inteligência de seus
Há pessoas que passaram a vida inteira patriotas sejam abertas o suficiente, a ponto
na esterilidade de sua própria apreciação, de contradizê-lo no azedume irrefreável de
conformadas com a mesmice burra de sua sua tirania. Se o latinista e primoroso
presunção, e não deram um passo adiante na romancista francês, Charles Péguy, disse tão
solidificação de sua personalidade nem da poeticamente bem: “O professor que, pela
construção adequada de suas pretensões. primeira vez, abre a gramática na declinação
Viveram como folhas secas levadas pelo de rosa, rosae, não sabe sobre que canteiro de
vento instantâneo do “tanto faz como tanto flores abre a alma do jovem”, o que diríamos
fez”. Daqui a pouco, vão considerar que tanto da pobre e maltratada língua portuguesa? Se o
faz dizer “masculação” quanto “musculação”; professor não incentiva o aluno na conquista
“olhos embaçados”, quanto “olhos permanente do encanto pelo “canteiro de
embalsamados; “colesterol” quanto flores” da própria língua mater, que tipo de
“cloresterol”, e assim vai descendo, ladeira perfume será exalado de seus conhecimentos?
abaixo, a verborréia delinquente da O investimento deve ser a longo prazo,
desintegração do saber. Mentalidades assim, mas, como diz um adágio russo, por mais
estagnadas na infantilidade tímida do longa que seja a caminhada, sempre se inicia
conhecimento, tanto assustam quanto pelos primeiros passos. Ninguém vai aprender
preocupam. Então, como poderia uma nação a gramática num piscar de olhos. Então,
melhorar seu coeficiente de educação coragem aos estudantes, aos professores e aos
aceitando o errado como se fosse o certo? A curiosos da linguística, e... Mãos à obra. Com
mentira como se fosse a verdade? O falso certeza, terá maior êxito quem não se deixar
como se fosse o verdadeiro? As trevas como levar pela minoria que julga o saber apenas
se fossem a luz? Enfim, a demência como se uma questão de estilo, do estilo da
fosse a lucidez? A ignorância não se nivela mediocridade que não leva ninguém a lugar
por baixo nem pela máxima expressão do nenhum. Somente o saber qualificado,
minimalismo. Como diria Cantù, um escritor segundo as exigências da pesquisa e do labor
italiano do século XIX, o ignorante não é intelectual, poderá abrir as portas do
apenas um lastro, mas um perigo na profissionalismo à superação da parvoíce
embarcação social, ou, para citar Goethe, insana dos dementes.
nada é mais terrível do que uma ignorância
ativa. Pior ainda, a ignorância ativada e Pe. Gilvan Rodrigues, Pós-graduado
homologada pelo Estado, que deveria tutelar e em Didática e Metodologia do Ensino
salvaguardar a riqueza hereditária mais Superior pela FSLF, Mestre em Teologia
preciosa de um povo, que é a sua língua. Bíblica pela Pontifícia Universidade
Pobre poema de Olavo Bilac, que Gregoriana de Roma, Professor de Sagrada
eleva, com estilo, elegância e garbosidade, a Escritura, Chanceler do Arcebispado de
riqueza imperiosa da “última flor do Lácio, Aracaju e Escritor.
inculta e bela”, isto é, a língua portuguesa,
esse derradeiro rebento da árvore neolatina,
com que temos a honra solene de nos
comunicar!. Agora, sim, “os cascalhos da
bruta mina” serão velados pelo desinteresse
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