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1
V SIM_UFRJ 2014
As possibilidades pedagógicas artísticas na visão de Oscar Guanabarino
Maria Aparecida dos Reis Valiatti Passamae
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
aparecidavaliatti@hotmail.com
Resumo
Este trabalho sintetiza as possibilidades pedagógicas artísticas na visão de Oscar Guanabarino (1851-
1937) baseado nos seus textos publicados no Jornal do Commercio, no ano de 1922. O pensamento
pedagógico de Guanabarino se articula segundo três eixos de processos: a pedagogia para a manutenção
das práticas culturais da denominada arte erudita; a pedagogia para o desenvolvimento das práticas
culturais do gosto artístico intermediário e a pedagogia para o desenvolvimento das práticas culturais do
gosto artístico popular, na cidade do Rio de Janeiro.
Palavras-chave
Educação artística e musical – Pedagogia do ensino das artes – Oscar Guanabarino.
The artistic pedagogical possibilities in the point of view of Oscar Guanabarino
Abstract
This paper summarizes the artistic pedagogical possibilities in the point of view
of Oscar Guanabarino (1851-1937) based on his texts published in the Jornal do
Commercio in 1922. The pedagogical thought of Guanabarino is articulated
along three processes axes: a pedagogy to maintaining the cultural practices of
so-called classical art; a pedagogy to developing the intermediary level of artistic
appreciation and finally, a pedagogy to developing the popular artistic
appreciation based, the last two ones, on their own cultural practices in the city of
Rio de Janeiro.
Keywords
Artistic and musical education – Pedagogy of teaching the arts – Oscar Guanabarino.
Oscar Guanabarino (1851-1937) é reconhecido como um dos principais críticos
de arte do Brasil desde a segunda metade do século XIX até as três primeiras décadas do
século XX. Foi também escritor e educador. O objetivo deste trabalho é apresentar os
fundamentos de seu pensamento pedagógico e de idealizador de instrumentos e
mecanismos, para a educação artística tanto popular quanto erudita, utilizando-se, de um
lado, os costumes e habilidades das artes do povo e, por outro lado, de elevado padrão
de educação técnica e artística para os elementos da cultura erudita.
2
Articulando suas crenças nos princípios republicanos e alto grau de cultura
estética, firmou seu pensamento pedagógico na crença de que o gosto estético é
evolutivo e intimamente dependente da educação. Para alcançar estes objetivos, a
educação deveria ser alinhada com três fases ou momentos do desenvolvimento do
gosto: a manutenção dos altos padrões do gosto acessível apenas às elites, a busca deste
padrão por meio do desenvolvimento dos padrões intermediários do gosto estético e,
finalmente, o desenvolvimento do gosto estético, em sua visão, primário, para alcançar,
em etapas, os outros dois padrões.
A fase final do desenvolvimento do gosto artístico
A fase final do gosto estético pressupunha, em sua visão, um desenvolvimento
baseado em educação intensa e constante pela leitura dos clássicos – Virgílio, Dante,
Camões, Victor Hugo, Hegel, Taine, Spencer, Hanslick 1, por exemplo – sem o que, não
poderia haver o entendimento crítico da obra que se apresenta. Sem reflexão
comparativa com o que se conhece, não há progresso do conhecimento nem evolução
estética. Um bom exemplo dessa interface pode ser a ópera O Guarani. A possibilidade
de evoluir com ela significava conhecer a obra literária e a música dos grandes mestres
para se ter uma visão crítica da obra de Carlos Gomes, isto é, o desconhecimento não
permite a crítica particular, sem crítica não há reflexão e sem reflexão não há
desenvolvimento, qualquer que seja: científico, político, moral, estético.
Neste ponto, foi um educador rigoroso e disciplinado. Abordou, em diversas
oportunidades, as questões da educação artística e, em especial, a educação musical.
Argumentava com muita frequência a necessidade do desenvolvimento dos recursos
humanos capazes de proporcionar ao meio artístico carioca as condições de manutenção
de artistas profissionais para um processo permanente de produção das artes. Insistia
que, para se alcançar os objetivos ideais, seriam necessárias décadas de educação
estruturada e gerações para se desenvolver uma população com identidade própria.
Como professor de piano, manteve uma famosa escola, que aplicava de
maneira muito especial o método de estudo de técnica intensiva. A escola estava
localizada nos salões do sobrado do velho Teatro Lírico e funcionou ali até sua
demolição, em 1933. Como mestre do piano, tinha alunas durante todo o dia.
1 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
3
Acompanhava os “[...] exercícios das alunas com uma atenção que nada perdoava e a
que nada, a bem dizer, podia escapar”.2 Rigoroso do ponto de vista técnico-pedagógico,
mas, pessoalmente, bem humorado.
O foco pedagógico de Guanabarino era, sem dúvidas, o ensino do piano numa
abordagem acadêmica, erudita. Publicou, em 31 números, ao longo de 1880, na Revista
Musical e de Belas Artes, um conjunto de guias pedagógicos que foram intitulados pelo
autor de O professor de piano: a arte de educar um pianista desde os rudimentos até o
ensino transcendental, cujo subtítulo prossegue enunciando o propósito de servir de
guia aos professores novos e aos discípulos adiantados que queiram estudar por si só.
Esse conjunto de textos se encontra tabulado no quadro apresentado na página seguinte.
Como pode ser observado no quadro referenciado, Guanabarino dividiu sua
pedagogia em quatro estágios denominados Épocas. O autor pretende abranger todo o
processo pedagógico do ensino do piano. Começa o trabalho com uma discussão
relativa à idade ideal para o início dos estudos do instrumento, chegando a sugerir
também um período de tempo adequado de dedicação para que o estudante pudesse
obter o melhor desempenho.
A leitura do trabalho mostra certa aderência às modernas técnicas pedagógicas.
Um exemplo da contemporaneidade das citadas técnicas pode ser verificado no capítulo
intitulado Da passagem da primeira para a segunda época. O autor recomenda que a
passagem do primeiro estágio para o segundo não deve ter um caráter exclusivamente
temporal (tempo de estudo), mas deve se pautar notadamente no desenvolvimento
físico-motor do aluno. De maneira geral, o procedimento pode ser expandido,
considerando-se as devidas diferenças no desenvolvimento físico-motor dos alunos em
seus diferentes estados de desenvolvimento, para os estágios seguintes de estudo. É um
guia completo e estruturado de forma progressiva.
Tratam-se, tanto o guia pedagógico quanto suas atividades de professor do
instrumento, de uma das principais contribuições de Oscar Guanabarino para a
consecução de seu ideal estético-pedagógico: formar recursos humanos capazes de
contribuírem para a manutenção do interesse em se frequentar os teatros para a audição
da música dos grandes mestres.
2 Jornal do Commercio: 17-1-1937, p. 10.
4
Fase Parte Lição Data Número Pagina
I Da idade em que se pode começar os estudos 27/03/1880 50 - 51
II Do Solfejo 27/03/1880 51
10/04/1880 8 58 - 59
24/04/1880 9 67 - 68
O Professor durante a primeira época 08/05/1880 10 74 - 75
Sem publicação de Oscar Guanabarino 22/05/1881 11
O Professor durante a primeira época 93
V Do Metrônomo 93 - 94
VI
Relação dos Estudos e peças recreativas ou instrutuvas que servem de
introdução à Segunda Época 19/06/1880 13 99 - 100
I Da passagem da Primeira para a Segunda Época 26/06/1880 14 107
03/07/1880 15 115 - 116
10/07/1880 16 123 - 124
17/07/1880 17 130 - 131
24/07/1880 18 141 - 142
31/07/1880 19 150
IV Dos Arpejos 31/07/1880 150
V Das Oitavas 31/07/1880 151
IV (sic) [VI](*) Das Coleções de execícios e estudos durante a presente Época 07/08/1880 20 160 - 161
VII Do tempo que se deve empregar no estudo 14/08/1880 21 167 - 168
21/08/1880 22 175 - 176
28/08/1880 23 183 - 184
II Tabela dos andamentos máximos dos execícios típicos de mecanismo 191
Das coleções dos estudos e exercícios para a Terceira Época 191 - 192
Das coleções dos estudos e exercícios para a Terceira Época: Estudos
Diários (jornaleiros) – Para desenvolver e conservar o mais alto grau de
perfeição no piano
92
Continuação 199 - 200
IV Do trinado 200
III Continuação 18/09/1880 26 207 - 208
Dos Acordes 25/09/1880 27 215 - 216
Sem publicação de Oscar Guanabarino 02/10/1880 28
Dos Acordes – Continuação 09/10/188 29 232 - 233
16/10/1880 30 239 - 240
247 - 248
VII Da execução de notas superabundantes contra notas regulares 248 - 249
VIII Da Mão esquerda 30/10/1880 32 257 - 258
I Da Sonoridade e dos pedais 06/11/1880 33 263 - 264
13/11/1880 34 271 - 272
279- 280
III Catálogo gradativo para a leitura à primeira vista 280
II Da Leitura à primeira vista – Continuação 287 - 288
III (sic) [IV](*) Da Música clássica 288
11/12/1880 37 296 - 297
303 - 304
VI Das Peças de diversos estilos que podem ser executadas na Quarta Época 304
25
7
PrimeiraÉpoca
II Das escalas
IV
12
TerceiraÉpoca
19
23/10/1880
Da Acentuação
SegundaÉpoca
I Do aperfeiçoamento do mecanismo
04/09/1880
III Das escalas em terças e sextas simultâneas
QuartaÉpoca
III
05/06/1880
II Da Leitura à primeira vista
11/09/1880
III
20/11/1880
27/11/1880
V
31
II Da Leitura à primeira vista – Continuação
Primeiros exercícios de mecanismo
25/12/1880
VI
38
24
35
36
Quadro 1 – O professor de piano: a arte de educar um pianista desde os rudimentos até o
ensino transcendental3 Fonte: BNRJ: PR- SOR_03317_146633. Sistematizado pela autora.
3 BNRJ: PR- SOR_03317_146633 (www.hermotecadigital.bn.br).
(*) Nota: A parte publicada em 7-8-1880, às páginas 160 e 161, do no. 20, encontra-se denominada parte IV.
Entretanto, pela lógica da estrutura do trabalho, deveria ser denominada de VI. Da mesma forma, o texto
publicado em 27-11-1880, à página 288 do no. 36, designado como parte III, pela lógica da estrutura do
trabalho, leva à conclusão de que deveria ser a parte IV.
6
A fase intermediária do desenvolvimento do gosto artístico
As possibilidades pedagógicas são também identificadas no teatro popular: o
cômico e de operetas. A manutenção constante desse contato da população com o belo,
independente do formato da manifestação, “[...] mesmo as de mais simples aparência”, é
um espaço a ser conquistado e uma política cultural a ser cultuada. Ora, como “[...] a
opereta e a revista são dois gêneros que atraem o público em massa”4, as obras ligeiras
seriam motivadoras de dois interesses básicos: frequentar o teatro e provocar o interesse
cada vez maior pela música, pela literatura e demais expressões artísticas pelas artes
acessórias a esses formatos: a pintura e a escultura por meio da cenografia, por exemplo.
Nessa perspectiva, Guanabarino identifica outras duas linhas, a título de
exemplo, de desenvolvimento da ação pedagógica: a decoração de ambientes e o
vitrinismo. A harmonização do ambiente decorado não “[...] se faz sem o gosto artístico,
nem com a ausência do artístico do belo da ordem”.5 Observa que uma vitrine apenas
expondo produtos não exerce atratividade ao transeunte. Aquela, porém, que contém
harmonia na disposição dos itens expostos, atrai. Atrai pelo gosto expresso “[...] pelas
combinações caprichosas”.6 Diferentemente de São Paulo, o Rio encontrava-se muito
atrasado nesse quesito. O escritor Rego Barros, que, além de escritor teatral também
gerenciava a empresa José Loureiro, informou a Oscar Guanabarino sobre um projeto
seu de estabelecer um concurso premiado “[...] de arrumação de vitrines”. O intento
declarado do escritor era estabelecer uma rivalidade entre expositores e entre os artistas
(pintores e desenhistas) “[...] de modo a generalizar o efeito artístico dessas
exposições”.7 São Paulo já contava com lojas que empregavam vitrinistas próprios
focados exclusivamente nessa tarefa.
O objetivo último, no entanto, é estabelecer um mecanismo subliminar de
educação artística com um método bastante simples consistindo em colocar o povo em
contacto com essa manifestação da arte com evidentes rebatimentos comerciais.
Portanto, ganham todos: expositor e transeunte. Guanabarino considera a relevância da
iniciativa, entretanto, para que os efeitos se tornem permanentes, observa que o
processo educativo, principalmente no campo das manifestações estéticas, requer “[...]
4 Jornal do Commercio: 22-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
5 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
6 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
7 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
7
tempo, ordem, método e evolução progressiva, aproveitando-se as lições do passado”8
para superá-los, o que só se consegue com persistência e altruísmo.
A fase inicial do desenvolvimento do gosto artístico
Guanabarino não se limitou a comentar a educação acadêmica formal em suas
reflexões. Via a possibilidade e grande potencial pedagógico em festividades de caráter
eminentemente popular. Essa visão traz o rebatimento de sua formação republicana e
envolvia as abordagens transformadoras propostas pelo novo regime instaurado em
1889, pois, a partir deste marco histórico, intensifica-se o “discurso [que] incluía
modernizar não só a política do país, mas também as mais variadas vertentes da
sociedade, como (...) a arte e a educação”. Neste contexto, “o ensino de Artes e Música
surgia como parte integrante da educação moderna” (LEMOS, 2010, p. 1-2).
Mas, além disso, “(...) tornava-se imprescindível um ensino para as massas,
necessário para a formação de uma República em busca de uma identidade nacional”
independentemente dos matizes ideológicos correntes (LEMOS, 2010, p. 4).
Guanabarino não se permitia influenciar por ideologias em seu trabalho. Na
perspectiva da educação, a artística como foco, alinhava-se com o pensamento de
diferentes vertentes ideológicas, por exemplo, com a dos liberais. Tomando-se Rui
Barbosa como “um dos mais fiéis intérpretes da corrente liberal brasileira”, para quem
não há liberdade sem democracia e esta não se sustenta sem educação, ou seja, liberdade
é igual a democracia que é igual à instrução do povo, verifica-se, então, uma perfeita
aderência com o pensamento de Guanabarino (BARBOSA, 2012, p. 44).
Em março de 1922, Guanabarino parece relatar o momento da transição das
antigas sociedades carnavalescas para o que atualmente se denominam escolas de
samba. A transição ocorreu em decorrência de uma forçada mudança de foco. As
sociedades carnavalescas se baseavam em críticas, sátiras e em “[...] carros que
simbolizavam uma ideia” – ou enredo, desde muito antes dessa época – 1922.9 As
críticas e sátiras enveredaram para a injúria de tal modo que os diferentes grupos
partiram para ataques mútuos. Resultado: intervenções policiais para se evitarem
agressões físicas e materiais aos carros. Em algumas circunstâncias, a própria polícia,
com elementos descaracterizados, promovia os distúrbios com agentes provocadores,
8 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
9 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
8
notadamente na época “[...] em que se fazia a propaganda da abolição do elemento
servil”.10
Com as restrições às críticas e sátiras, as sociedades carnavalescas mudaram de
foco e “[...] enveredaram pelos deslumbramentos, com os carros movimentados e com o
grande auxílio da eletricidade”.11 Para tanto, tiveram de contar, então, com artistas e
cenógrafos em substituição aos carpinteiros de teatro. Estabelecem, portanto, entre si
uma rivalidade que estimulava, a cada ano, a apresentação de carros cada vez mais belos
e criativos.
Guanabarino considera soberbos os desfiles preparados pelas três mais
importantes sociedades carnavalescas para o carnaval de 1922. A denominada
Democráticos exibiu carros “[...] com agrupamentos belíssimos, linhas verdadeiramente
artísticas e corretas disposições de cores e luzes”.12
Oscar Guanabarino vislumbra nesse movimento uma enorme possibilidade
pedagógica: “[...] o povo que vai desenvolvendo o seu gosto pela arte ornamental e
exercitando a sua crítica”.13 O carnaval é tão envolvente que trafega pelas diferentes
classes sociais: “[...] nesses dias toda a gente canta pelas ruas, até as senhorinhas, das
mais finas, entoam as canções populares dentro de seus automóveis de luxo [...]. O povo
que canta é um povo alegre [...]”. Guanabarino identifica essa alegria “[...] na população
carioca, em estado latente, mas com grandes explosões em determinadas épocas”.14
Havia, nos desfiles das sociedades carnavalescas, os elementos de uma ópera:
música, cenografia da “idéia” – que, modernamente, se denomina de enredo –, dança,
figurinos, etc. Uma verdadeira ópera popular e nacional ao ar livre. O estabelecimento
de critérios de julgamento para esses elementos e a consequente premiação dos
melhores, poderia implicar em abordagens motivacionais para o desenvolvimento
artístico das populações envolvidas. Tratava-se, sob sua perspectiva, de excelente
instrumento para a educação e desenvolvimento artístico do povo.
Conclusão
10 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
11 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
12 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
13 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
14 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
9
Para Guanabarino, o gosto artístico se aprende. É, portanto, o resultado de um
processo evolutivo do aprendizado e intimamente vinculado à educação que também é
um processo em si. Resta, dessa forma, uma reflexão quanto aos métodos da
aprendizagem. Na sua visão, a pedagogia para o aprendizado do gosto artístico deveria
conter, pelo menos 3 estágios: no degrau mais elevado, o apreciador é educado e possui
conhecimento para compreender a obra que aprecia. O segundo estágio, num degrau um
pouco menos desenvolvido, o apreciador se encontra num grau intermediário e aspira
alcançar o primeiro estágio. Finalmente, encontra-se o estágio mais básico do
conhecimento e do gosto artístico.
Nenhuma das etapas prescinde de educação tanto para os que produzem a obra
artística quanto para os que as apreciam. Variam apenas os métodos e os instrumentos
da aprendizagem. Guanabarino preconiza, então, uma metodologia pedagógica para
cada uma das etapas. Dessa forma, para o estágio mais elevado, sua pedagogia
pressupõe forte formação técnica para os artistas, de um lado, e, por outro lado, a busca
da erudição dos apreciadores para a compreensão crítica da obra para manter e
desenvolver ainda mais o gosto artístico, estágio em que o conhecimento adquirido deve
ser continuamente cultivado.
No estágio intermediário, o desenvolvimento do gosto artístico passa pelas
obras menos densas como as comédias ligeiras e operetas. No estágio mais básico, a
utilização de instrumentos da cultura popular é de cabal importância para o
desenvolvimento do gosto artístico.
Esses processos requerem tempo para se sedimentarem e se consolidarem, caso
contrário, como prática de apreciação artística, os processos permaneceriam estáticos
como simples costume folclórico restrito aos grupos sociais regionais. A educação
formal, ao utilizar elementos populares já consolidados, mantém a identidade dos
grupos sociais dos quais utiliza as práticas culturais e torna-se, ao mesmo tempo, um
elemento aglutinador de uma identidade maior e universal dos grupamentos sociais
envolvidos, de uma nacionalidade. Assim, o processo pedagógico deve se apropriar
desses elementos para que o processo ocorra de forma gradual e consistente dos
diferentes grupos.
Guanabarino contribuiu muito para esses processos como teórico (o guia
pedagógico) e com reflexões e sugestões para um programa nacional de política
educacional inclusiva por meio da educação artística com elementos da cultura e
práticas populares.
10
Referências
BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação no Brasil, 7 ed. São Paulo: Perspectiva, 2012.
JORNAL DO COMMERCIO. Sítio do jornal. Disponível em:
<http://www.jcom.com.br/pagina/historia/2>. Acesso em: 13 fev. 2012.
LEMOS JUNIOR, Wilson. Os defensores do ensino de música na escola brasileira
durante a primeira metade do século XX. Revista eletrônica de musicologia.
Departamento de Artes da Universidade Federal do Paraná - UFPR, v. XIII, set. 2010.
Disponível em:
<http://www.rem.ufpr.br/REM/REMv14/01/os_defensores_do_ensino_da_musica.html>.
Acesso em: 16 maio. 2014.

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As visões pedagógicas artísticas de Oscar Guanabarino (1851-1937

  • 1. 1 V SIM_UFRJ 2014 As possibilidades pedagógicas artísticas na visão de Oscar Guanabarino Maria Aparecida dos Reis Valiatti Passamae Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ aparecidavaliatti@hotmail.com Resumo Este trabalho sintetiza as possibilidades pedagógicas artísticas na visão de Oscar Guanabarino (1851- 1937) baseado nos seus textos publicados no Jornal do Commercio, no ano de 1922. O pensamento pedagógico de Guanabarino se articula segundo três eixos de processos: a pedagogia para a manutenção das práticas culturais da denominada arte erudita; a pedagogia para o desenvolvimento das práticas culturais do gosto artístico intermediário e a pedagogia para o desenvolvimento das práticas culturais do gosto artístico popular, na cidade do Rio de Janeiro. Palavras-chave Educação artística e musical – Pedagogia do ensino das artes – Oscar Guanabarino. The artistic pedagogical possibilities in the point of view of Oscar Guanabarino Abstract This paper summarizes the artistic pedagogical possibilities in the point of view of Oscar Guanabarino (1851-1937) based on his texts published in the Jornal do Commercio in 1922. The pedagogical thought of Guanabarino is articulated along three processes axes: a pedagogy to maintaining the cultural practices of so-called classical art; a pedagogy to developing the intermediary level of artistic appreciation and finally, a pedagogy to developing the popular artistic appreciation based, the last two ones, on their own cultural practices in the city of Rio de Janeiro. Keywords Artistic and musical education – Pedagogy of teaching the arts – Oscar Guanabarino. Oscar Guanabarino (1851-1937) é reconhecido como um dos principais críticos de arte do Brasil desde a segunda metade do século XIX até as três primeiras décadas do século XX. Foi também escritor e educador. O objetivo deste trabalho é apresentar os fundamentos de seu pensamento pedagógico e de idealizador de instrumentos e mecanismos, para a educação artística tanto popular quanto erudita, utilizando-se, de um lado, os costumes e habilidades das artes do povo e, por outro lado, de elevado padrão de educação técnica e artística para os elementos da cultura erudita.
  • 2. 2 Articulando suas crenças nos princípios republicanos e alto grau de cultura estética, firmou seu pensamento pedagógico na crença de que o gosto estético é evolutivo e intimamente dependente da educação. Para alcançar estes objetivos, a educação deveria ser alinhada com três fases ou momentos do desenvolvimento do gosto: a manutenção dos altos padrões do gosto acessível apenas às elites, a busca deste padrão por meio do desenvolvimento dos padrões intermediários do gosto estético e, finalmente, o desenvolvimento do gosto estético, em sua visão, primário, para alcançar, em etapas, os outros dois padrões. A fase final do desenvolvimento do gosto artístico A fase final do gosto estético pressupunha, em sua visão, um desenvolvimento baseado em educação intensa e constante pela leitura dos clássicos – Virgílio, Dante, Camões, Victor Hugo, Hegel, Taine, Spencer, Hanslick 1, por exemplo – sem o que, não poderia haver o entendimento crítico da obra que se apresenta. Sem reflexão comparativa com o que se conhece, não há progresso do conhecimento nem evolução estética. Um bom exemplo dessa interface pode ser a ópera O Guarani. A possibilidade de evoluir com ela significava conhecer a obra literária e a música dos grandes mestres para se ter uma visão crítica da obra de Carlos Gomes, isto é, o desconhecimento não permite a crítica particular, sem crítica não há reflexão e sem reflexão não há desenvolvimento, qualquer que seja: científico, político, moral, estético. Neste ponto, foi um educador rigoroso e disciplinado. Abordou, em diversas oportunidades, as questões da educação artística e, em especial, a educação musical. Argumentava com muita frequência a necessidade do desenvolvimento dos recursos humanos capazes de proporcionar ao meio artístico carioca as condições de manutenção de artistas profissionais para um processo permanente de produção das artes. Insistia que, para se alcançar os objetivos ideais, seriam necessárias décadas de educação estruturada e gerações para se desenvolver uma população com identidade própria. Como professor de piano, manteve uma famosa escola, que aplicava de maneira muito especial o método de estudo de técnica intensiva. A escola estava localizada nos salões do sobrado do velho Teatro Lírico e funcionou ali até sua demolição, em 1933. Como mestre do piano, tinha alunas durante todo o dia. 1 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
  • 3. 3 Acompanhava os “[...] exercícios das alunas com uma atenção que nada perdoava e a que nada, a bem dizer, podia escapar”.2 Rigoroso do ponto de vista técnico-pedagógico, mas, pessoalmente, bem humorado. O foco pedagógico de Guanabarino era, sem dúvidas, o ensino do piano numa abordagem acadêmica, erudita. Publicou, em 31 números, ao longo de 1880, na Revista Musical e de Belas Artes, um conjunto de guias pedagógicos que foram intitulados pelo autor de O professor de piano: a arte de educar um pianista desde os rudimentos até o ensino transcendental, cujo subtítulo prossegue enunciando o propósito de servir de guia aos professores novos e aos discípulos adiantados que queiram estudar por si só. Esse conjunto de textos se encontra tabulado no quadro apresentado na página seguinte. Como pode ser observado no quadro referenciado, Guanabarino dividiu sua pedagogia em quatro estágios denominados Épocas. O autor pretende abranger todo o processo pedagógico do ensino do piano. Começa o trabalho com uma discussão relativa à idade ideal para o início dos estudos do instrumento, chegando a sugerir também um período de tempo adequado de dedicação para que o estudante pudesse obter o melhor desempenho. A leitura do trabalho mostra certa aderência às modernas técnicas pedagógicas. Um exemplo da contemporaneidade das citadas técnicas pode ser verificado no capítulo intitulado Da passagem da primeira para a segunda época. O autor recomenda que a passagem do primeiro estágio para o segundo não deve ter um caráter exclusivamente temporal (tempo de estudo), mas deve se pautar notadamente no desenvolvimento físico-motor do aluno. De maneira geral, o procedimento pode ser expandido, considerando-se as devidas diferenças no desenvolvimento físico-motor dos alunos em seus diferentes estados de desenvolvimento, para os estágios seguintes de estudo. É um guia completo e estruturado de forma progressiva. Tratam-se, tanto o guia pedagógico quanto suas atividades de professor do instrumento, de uma das principais contribuições de Oscar Guanabarino para a consecução de seu ideal estético-pedagógico: formar recursos humanos capazes de contribuírem para a manutenção do interesse em se frequentar os teatros para a audição da música dos grandes mestres. 2 Jornal do Commercio: 17-1-1937, p. 10.
  • 4. 4
  • 5. Fase Parte Lição Data Número Pagina I Da idade em que se pode começar os estudos 27/03/1880 50 - 51 II Do Solfejo 27/03/1880 51 10/04/1880 8 58 - 59 24/04/1880 9 67 - 68 O Professor durante a primeira época 08/05/1880 10 74 - 75 Sem publicação de Oscar Guanabarino 22/05/1881 11 O Professor durante a primeira época 93 V Do Metrônomo 93 - 94 VI Relação dos Estudos e peças recreativas ou instrutuvas que servem de introdução à Segunda Época 19/06/1880 13 99 - 100 I Da passagem da Primeira para a Segunda Época 26/06/1880 14 107 03/07/1880 15 115 - 116 10/07/1880 16 123 - 124 17/07/1880 17 130 - 131 24/07/1880 18 141 - 142 31/07/1880 19 150 IV Dos Arpejos 31/07/1880 150 V Das Oitavas 31/07/1880 151 IV (sic) [VI](*) Das Coleções de execícios e estudos durante a presente Época 07/08/1880 20 160 - 161 VII Do tempo que se deve empregar no estudo 14/08/1880 21 167 - 168 21/08/1880 22 175 - 176 28/08/1880 23 183 - 184 II Tabela dos andamentos máximos dos execícios típicos de mecanismo 191 Das coleções dos estudos e exercícios para a Terceira Época 191 - 192 Das coleções dos estudos e exercícios para a Terceira Época: Estudos Diários (jornaleiros) – Para desenvolver e conservar o mais alto grau de perfeição no piano 92 Continuação 199 - 200 IV Do trinado 200 III Continuação 18/09/1880 26 207 - 208 Dos Acordes 25/09/1880 27 215 - 216 Sem publicação de Oscar Guanabarino 02/10/1880 28 Dos Acordes – Continuação 09/10/188 29 232 - 233 16/10/1880 30 239 - 240 247 - 248 VII Da execução de notas superabundantes contra notas regulares 248 - 249 VIII Da Mão esquerda 30/10/1880 32 257 - 258 I Da Sonoridade e dos pedais 06/11/1880 33 263 - 264 13/11/1880 34 271 - 272 279- 280 III Catálogo gradativo para a leitura à primeira vista 280 II Da Leitura à primeira vista – Continuação 287 - 288 III (sic) [IV](*) Da Música clássica 288 11/12/1880 37 296 - 297 303 - 304 VI Das Peças de diversos estilos que podem ser executadas na Quarta Época 304 25 7 PrimeiraÉpoca II Das escalas IV 12 TerceiraÉpoca 19 23/10/1880 Da Acentuação SegundaÉpoca I Do aperfeiçoamento do mecanismo 04/09/1880 III Das escalas em terças e sextas simultâneas QuartaÉpoca III 05/06/1880 II Da Leitura à primeira vista 11/09/1880 III 20/11/1880 27/11/1880 V 31 II Da Leitura à primeira vista – Continuação Primeiros exercícios de mecanismo 25/12/1880 VI 38 24 35 36 Quadro 1 – O professor de piano: a arte de educar um pianista desde os rudimentos até o ensino transcendental3 Fonte: BNRJ: PR- SOR_03317_146633. Sistematizado pela autora. 3 BNRJ: PR- SOR_03317_146633 (www.hermotecadigital.bn.br). (*) Nota: A parte publicada em 7-8-1880, às páginas 160 e 161, do no. 20, encontra-se denominada parte IV. Entretanto, pela lógica da estrutura do trabalho, deveria ser denominada de VI. Da mesma forma, o texto publicado em 27-11-1880, à página 288 do no. 36, designado como parte III, pela lógica da estrutura do trabalho, leva à conclusão de que deveria ser a parte IV.
  • 6. 6 A fase intermediária do desenvolvimento do gosto artístico As possibilidades pedagógicas são também identificadas no teatro popular: o cômico e de operetas. A manutenção constante desse contato da população com o belo, independente do formato da manifestação, “[...] mesmo as de mais simples aparência”, é um espaço a ser conquistado e uma política cultural a ser cultuada. Ora, como “[...] a opereta e a revista são dois gêneros que atraem o público em massa”4, as obras ligeiras seriam motivadoras de dois interesses básicos: frequentar o teatro e provocar o interesse cada vez maior pela música, pela literatura e demais expressões artísticas pelas artes acessórias a esses formatos: a pintura e a escultura por meio da cenografia, por exemplo. Nessa perspectiva, Guanabarino identifica outras duas linhas, a título de exemplo, de desenvolvimento da ação pedagógica: a decoração de ambientes e o vitrinismo. A harmonização do ambiente decorado não “[...] se faz sem o gosto artístico, nem com a ausência do artístico do belo da ordem”.5 Observa que uma vitrine apenas expondo produtos não exerce atratividade ao transeunte. Aquela, porém, que contém harmonia na disposição dos itens expostos, atrai. Atrai pelo gosto expresso “[...] pelas combinações caprichosas”.6 Diferentemente de São Paulo, o Rio encontrava-se muito atrasado nesse quesito. O escritor Rego Barros, que, além de escritor teatral também gerenciava a empresa José Loureiro, informou a Oscar Guanabarino sobre um projeto seu de estabelecer um concurso premiado “[...] de arrumação de vitrines”. O intento declarado do escritor era estabelecer uma rivalidade entre expositores e entre os artistas (pintores e desenhistas) “[...] de modo a generalizar o efeito artístico dessas exposições”.7 São Paulo já contava com lojas que empregavam vitrinistas próprios focados exclusivamente nessa tarefa. O objetivo último, no entanto, é estabelecer um mecanismo subliminar de educação artística com um método bastante simples consistindo em colocar o povo em contacto com essa manifestação da arte com evidentes rebatimentos comerciais. Portanto, ganham todos: expositor e transeunte. Guanabarino considera a relevância da iniciativa, entretanto, para que os efeitos se tornem permanentes, observa que o processo educativo, principalmente no campo das manifestações estéticas, requer “[...] 4 Jornal do Commercio: 22-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes]. 5 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes]. 6 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes]. 7 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
  • 7. 7 tempo, ordem, método e evolução progressiva, aproveitando-se as lições do passado”8 para superá-los, o que só se consegue com persistência e altruísmo. A fase inicial do desenvolvimento do gosto artístico Guanabarino não se limitou a comentar a educação acadêmica formal em suas reflexões. Via a possibilidade e grande potencial pedagógico em festividades de caráter eminentemente popular. Essa visão traz o rebatimento de sua formação republicana e envolvia as abordagens transformadoras propostas pelo novo regime instaurado em 1889, pois, a partir deste marco histórico, intensifica-se o “discurso [que] incluía modernizar não só a política do país, mas também as mais variadas vertentes da sociedade, como (...) a arte e a educação”. Neste contexto, “o ensino de Artes e Música surgia como parte integrante da educação moderna” (LEMOS, 2010, p. 1-2). Mas, além disso, “(...) tornava-se imprescindível um ensino para as massas, necessário para a formação de uma República em busca de uma identidade nacional” independentemente dos matizes ideológicos correntes (LEMOS, 2010, p. 4). Guanabarino não se permitia influenciar por ideologias em seu trabalho. Na perspectiva da educação, a artística como foco, alinhava-se com o pensamento de diferentes vertentes ideológicas, por exemplo, com a dos liberais. Tomando-se Rui Barbosa como “um dos mais fiéis intérpretes da corrente liberal brasileira”, para quem não há liberdade sem democracia e esta não se sustenta sem educação, ou seja, liberdade é igual a democracia que é igual à instrução do povo, verifica-se, então, uma perfeita aderência com o pensamento de Guanabarino (BARBOSA, 2012, p. 44). Em março de 1922, Guanabarino parece relatar o momento da transição das antigas sociedades carnavalescas para o que atualmente se denominam escolas de samba. A transição ocorreu em decorrência de uma forçada mudança de foco. As sociedades carnavalescas se baseavam em críticas, sátiras e em “[...] carros que simbolizavam uma ideia” – ou enredo, desde muito antes dessa época – 1922.9 As críticas e sátiras enveredaram para a injúria de tal modo que os diferentes grupos partiram para ataques mútuos. Resultado: intervenções policiais para se evitarem agressões físicas e materiais aos carros. Em algumas circunstâncias, a própria polícia, com elementos descaracterizados, promovia os distúrbios com agentes provocadores, 8 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes]. 9 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
  • 8. 8 notadamente na época “[...] em que se fazia a propaganda da abolição do elemento servil”.10 Com as restrições às críticas e sátiras, as sociedades carnavalescas mudaram de foco e “[...] enveredaram pelos deslumbramentos, com os carros movimentados e com o grande auxílio da eletricidade”.11 Para tanto, tiveram de contar, então, com artistas e cenógrafos em substituição aos carpinteiros de teatro. Estabelecem, portanto, entre si uma rivalidade que estimulava, a cada ano, a apresentação de carros cada vez mais belos e criativos. Guanabarino considera soberbos os desfiles preparados pelas três mais importantes sociedades carnavalescas para o carnaval de 1922. A denominada Democráticos exibiu carros “[...] com agrupamentos belíssimos, linhas verdadeiramente artísticas e corretas disposições de cores e luzes”.12 Oscar Guanabarino vislumbra nesse movimento uma enorme possibilidade pedagógica: “[...] o povo que vai desenvolvendo o seu gosto pela arte ornamental e exercitando a sua crítica”.13 O carnaval é tão envolvente que trafega pelas diferentes classes sociais: “[...] nesses dias toda a gente canta pelas ruas, até as senhorinhas, das mais finas, entoam as canções populares dentro de seus automóveis de luxo [...]. O povo que canta é um povo alegre [...]”. Guanabarino identifica essa alegria “[...] na população carioca, em estado latente, mas com grandes explosões em determinadas épocas”.14 Havia, nos desfiles das sociedades carnavalescas, os elementos de uma ópera: música, cenografia da “idéia” – que, modernamente, se denomina de enredo –, dança, figurinos, etc. Uma verdadeira ópera popular e nacional ao ar livre. O estabelecimento de critérios de julgamento para esses elementos e a consequente premiação dos melhores, poderia implicar em abordagens motivacionais para o desenvolvimento artístico das populações envolvidas. Tratava-se, sob sua perspectiva, de excelente instrumento para a educação e desenvolvimento artístico do povo. Conclusão 10 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes]. 11 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes]. 12 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes]. 13 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes]. 14 Jornal do Commercio: 8-3-1922, quarta-feira, p. 2. [Pelo Mundo das Artes].
  • 9. 9 Para Guanabarino, o gosto artístico se aprende. É, portanto, o resultado de um processo evolutivo do aprendizado e intimamente vinculado à educação que também é um processo em si. Resta, dessa forma, uma reflexão quanto aos métodos da aprendizagem. Na sua visão, a pedagogia para o aprendizado do gosto artístico deveria conter, pelo menos 3 estágios: no degrau mais elevado, o apreciador é educado e possui conhecimento para compreender a obra que aprecia. O segundo estágio, num degrau um pouco menos desenvolvido, o apreciador se encontra num grau intermediário e aspira alcançar o primeiro estágio. Finalmente, encontra-se o estágio mais básico do conhecimento e do gosto artístico. Nenhuma das etapas prescinde de educação tanto para os que produzem a obra artística quanto para os que as apreciam. Variam apenas os métodos e os instrumentos da aprendizagem. Guanabarino preconiza, então, uma metodologia pedagógica para cada uma das etapas. Dessa forma, para o estágio mais elevado, sua pedagogia pressupõe forte formação técnica para os artistas, de um lado, e, por outro lado, a busca da erudição dos apreciadores para a compreensão crítica da obra para manter e desenvolver ainda mais o gosto artístico, estágio em que o conhecimento adquirido deve ser continuamente cultivado. No estágio intermediário, o desenvolvimento do gosto artístico passa pelas obras menos densas como as comédias ligeiras e operetas. No estágio mais básico, a utilização de instrumentos da cultura popular é de cabal importância para o desenvolvimento do gosto artístico. Esses processos requerem tempo para se sedimentarem e se consolidarem, caso contrário, como prática de apreciação artística, os processos permaneceriam estáticos como simples costume folclórico restrito aos grupos sociais regionais. A educação formal, ao utilizar elementos populares já consolidados, mantém a identidade dos grupos sociais dos quais utiliza as práticas culturais e torna-se, ao mesmo tempo, um elemento aglutinador de uma identidade maior e universal dos grupamentos sociais envolvidos, de uma nacionalidade. Assim, o processo pedagógico deve se apropriar desses elementos para que o processo ocorra de forma gradual e consistente dos diferentes grupos. Guanabarino contribuiu muito para esses processos como teórico (o guia pedagógico) e com reflexões e sugestões para um programa nacional de política educacional inclusiva por meio da educação artística com elementos da cultura e práticas populares.
  • 10. 10 Referências BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação no Brasil, 7 ed. São Paulo: Perspectiva, 2012. JORNAL DO COMMERCIO. Sítio do jornal. Disponível em: <http://www.jcom.com.br/pagina/historia/2>. Acesso em: 13 fev. 2012. LEMOS JUNIOR, Wilson. Os defensores do ensino de música na escola brasileira durante a primeira metade do século XX. Revista eletrônica de musicologia. Departamento de Artes da Universidade Federal do Paraná - UFPR, v. XIII, set. 2010. Disponível em: <http://www.rem.ufpr.br/REM/REMv14/01/os_defensores_do_ensino_da_musica.html>. Acesso em: 16 maio. 2014.