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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARTES COM
ÊNFASE EM MÚSICA
POLOS DE: BREJO SANTO, MAURITI, LIMOEIRO,
ITAPIPOCA, MERUOCA
2017.2
ARTE-EDUCAÇÃO NO BRASIL E
PROCESSO HISTÓRICO
Prof.ª MARIA ANGÉLICA RODRIGUES ELLERY
Fortaleza - 2017
SUMÁRIO DA DISCIPLINA
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 3
1. A ARTE COMO EDUCAÇÃO
2. O ENSINO DA ARTE NA EDUCAÇÃO BÁSICA
3. ARTE VISUAL NA ESCOLA
4. A DANÇA NA ESCOLA COMO ELEMENTO
LÚDICO E SUAS CONTRIBUIÇÕESPARA A
APRENDIZAGEM
5. A IMPORTÂNCIA DA VIVÊNCIA TEATRAL NA
ESCOLA
6. POR QUE MÚSICA NA ESCOLA
1. A ARTE COMO EDUCAÇÃO
• Neste curso será apresentada uma síntese da
evolução e do desenvolvimento do ensino da
Arte no Brasil, do Império aos nossos dias.
• A Arte como conteúdo didático-pedagógico
representava, para alguns, sua formação
profissional e, para outros, mero diletantismo
sem importância.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 4
1. A ARTE COMO EDUCAÇÃO
• O ensino da Arte teve início na implantação do
sistema escolar brasileiro pelos Jesuítas.
Entretanto, com o passar dos tempos e com a
evolução do povo e da nação, os educadores
brasileiros, perceberam que a Arte é uma
forma de manifestação dos mecanismos
psíquicos do ser humano, atuante, como meio
de comunicação, em sua vida doméstica,
social, política e religiosa.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 5
1. ARTE COMO EDUCAÇÃO
• https://1
• https://www.youtube.com/watch?v=MBhHRLPalWk&t=116s
• EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA PARTE 1
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 6
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• Entretanto na história do ensino da Arte no
ensino básico brasileiro, observa-se o pouco
interesse que tiveram muitos educadores e
responsáveis pela organização escolar, no que
diz respeito à compreensão da Arte como
conhecimento sensível-cognitivo, sendo um
dos meios pelos quais os alunos iriam se
preparar para refletir sobre sua história e os
contextos da sociedade em que vivem.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 7
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• Nesse contexto, o ensino da Arte tinha por
meta a formação do desenhista prático para
atender a indústria ou o comércio.
• A prática da arte restringia-se ao desenho de
letras para embalagens e cartazes para
propagandas, com o objetivo de preparar os
alunos para trabalhar nas fábricas e em outras
atividades que envolvessem o desenho.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 8
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• Nossos professores não tinham, por objetivo,
o ensino do conhecimento sensível, prático e
estético. Seguiam o pensamento positivista,
imediatista.
• Contrário ao do filósofo Herbert Spencer que,
já naquela época, insistia no seguinte:
“...a arte era um processo, importante para o
desenvolvimento individual”.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 9
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 10
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• Dominava até então o Modelo de ensino jesuítico, formado
por quatro cursos descritos no Ratio Studiorum , (Estudos
Racionais) obra do Padre Geral Jesuíta Cláudio Aquaviva,
publicada em 1599, que compreendiam o TRIVIUM e o
QUADRIVIUM.
• Porém, no Brasil, o que mais se propagou foi o curso de
letras humanas, dividido em três classes – gramática,
retórica e humanidades, que correspondiam ao TRIVIUM.
• O QUADRIVIUM, que se dedicava às ciências, era quase
inexplorado assim como as atividades manuais que não
eram muito utilizadas nas escolas de homens livres.
• Estas eram exploradas em função da demanda no
treinamento de escravos e nas missões indígenas.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 11
• https://www.youtube.com/watch?v=MBhHRLPalWk&t=116s
• EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA PARTE 1
• https://www.youtube.com/watch?v=txCW0KqTsM0
• EDUCAÇÃO NO BRASIL COLONIAL_0002.wmv
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 12
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• REFORMA POMBALINA E
AULAS RÉGIAS
• No início do Séc. XIX, antes de Portugal ser
invadido pelas forças napoleônicas, os
portugueses adotaram a reforma
educacional promovida pelo Marquês de
Pombal, a célebre Reforma Pombalina.
• Esse movimento reformista tirava, dos
Jesuítas, a responsabilidade quanto à
orientação educacional de todo o reino e os
expulsava das colônias portuguesas.
• Era uma reforma que procurava fazer uma
atualização metodológica para inserir as
Ciências, as Artes Manuais e a Técnica que
haviam sido esquecidas pelos Jesuítas em
seu contexto educacional e que agora
passavam para as mãos do Estado.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 13
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• Nas escolas para os filhos dos
ricos fazendeiros,
comerciantes, da alta
burguesia e para os
descendentes da antiga
nobreza, as preocupações
com o ensino da arte eram
fazer com que as sinhazinhas
tocassem piano,
declamassem belos e
românticos sonetos,
pintassem bucólicas
paisagens e naturezas
mortas.
• E aos meninos, cabia-lhes a
apreciação da música, da
literatura e a fruição dos belos
quadros e aquelas mesmas
atividades de desenhos de
letras.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 14
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• A estruturação da educação
no Brasil, no período colonial e
no Vice-Reino, se
preocupavam com a formação
de uma elite para defender a
Colônia e para movimentar
culturalmente a Corte.
• O modelo de ensino era o das
escolas jesuíticas. E assim
apareceram os primeiros
cursos superiores criados
como os de medicina e os das
escolas militares, no modelo
da universidade criada na
França sob o regime de
Napoleão Bonaparte, que
reunia então, o TRIVIUM e o
QUADRIVIUM.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 15
• FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA- 1808
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• No período que antecedeu a República, surgia a
necessidade de se formar profissionais que
atendessem às necessidades da época.
• Então, apareceram as primeiras Escolas Régias
Superiores, com uma supervalorização das ciências
exatas e tecnológicas e a consequente desvalorização
da filosofia, da teologia, das artes e das ciências
humanas.
• Foi então criada a Escola Real de Ciências, Artes e
Ofícios, pelo decreto de 12 de agosto de 1816, para
atender a nobreza recém-chegada de Portugal e as
necessidades da nova sociedade carioca. A Escola Real
foi estruturada a pedido de Dom João VI pelos artistas
que compunham a Missão Artística Francesa.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 16
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• A Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios era uma
escola polivalente e interdisciplinar, onde seriam
ministradas aulas de ciências, artes e atividades
manuais. Pelo decreto de 12 de outubro de 1820, seu
nome foi mudado para Academia Real de Desenho,
Pintura, Escultura e Arquitetura Civil. Um mês depois,
pelo decreto de 23 de novembro de 1820, essa
designação mudou para Academia de Artes. E como
essa escola tinha como função apenas o ensino das
Artes plásticas, em 1826 foi nomeada de Academia
Imperial de Belas-Artes e, depois da proclamação da
República, foi definitivamente denominada de Escola
Nacional de Belas-Artes em 8 de novembro de 1890.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 17
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 18
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• REFORMAS EDUCACIONAIS
• Rui Barbosa, sob a inspiração do educador inglês Walter
Smith, escreveu vários Pareceres sobre a Reforma do
Ensino Secundário e Superior de 1882 e sobre a Reforma
do Ensino Primário de Leôncio de Carvalho de 1883.
• Esses pareceres representaram novos projetos para a
Educação do Brasil, com uma base teórica em consonância
com as novas concepções pedagógicas da época.
• Seguindo este pensamento, de acordo com ANA MAE
BARBOSA, foi escrito o artigo 79 do Capítulo I do
regulamento do Imperial Liceu Pedro II, que disciplinava o
ensino de Artes naquela época. Esse artigo se transformou
no modelo que deveria ser seguido por todo o ensino
secundário no Brasil:
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 19
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• Art. 79 – As cadeiras de Desenho, Ginástica e
Música serão providas mediante contrato por
quatro anos, no máximo renováveis no fim deles,
se convier. Para as duas primeiras, o governo,
mediante os nossos agentes no estrangeiro, fará
contratar homens de merecimento superior
nessas especialidades e capazes de organizar no
país este ensino; preferindo quanto ao Desenho,
os Estados Unidos, a Inglaterra e a Áustria;
quanto à Ginástica, a Suécia, a Saxônia e a Suíça.
(ANA MAE BARBOSA, p.51, 1978).
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 20
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 21
Antigo Imperial Liceu Dom Pedro II
Atual Colégio Pedro II
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• Era o alvorecer do ensino da Educação Artística a ser
seguido no Brasil e que representava a sabedoria e o
conhecimento tanto para o povo quanto para a
burguesia.
• A metodologia defendida por Rui Barbosa para o
ensino da Arte no Brasil recomendava que deveria
acontecer através de uma disciplina ministrada desde a
escola primária .
• Apoiada em Pestalozzi recomendava também que essa
disciplina poderia vir antes do estudo das primeiras
letras, já que o desenho seria uma inclinação natural
do espírito humano, somente contribuindo para o
aprendizado sem jamais retardá-lo.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 22
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• 1. O professor nunca deve fazer correções no próprio desenho do aluno.
• 2. Todo ensino do Desenho deve ter por base as formas geométricas através do
traçado à mão livre.
• 3. Deve-se orientar o ensino do Desenho no sentido da estilização das formas.
• 3.1. Às formas convencionais – já que regulares – hão de preceder as naturais,
irregulares.
• 3.2. As formas naturais a desenhar hão de ser primeiramente reduzidas às formas
geométricas
• 4. É importante a utilização da rede estigmográfica para os desenhos de
reprodução de modelos de memória ou ditados dada a necessidade de um
desenho auxiliado antes do desenho a olho recorrer a régua ou compasso.
• (Nos primeiros exercícios, a rede estigmográfica deveria ser composta por linhas
traçadas a olho pelo próprio aluno, formando pequenos quadrados que depois
poderiam ser substituídos por pontos).
• 5. O desenho por modelos deve ser precedido de um estudo do objeto em sua
totalidade e nas suas partes, comparando-as.
• 6. Desenho a tempo fixo é essencial para vencer a inércia.
• 7. O desenho de invenção deve compreender a composição com os elementos já
apreendidos.
• 8. O desenho deve ser utilizado para auxiliar outras matérias, especialmente a
Geografia.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 23
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• Rui Barbosa – preocupado com a formação do
jovem brasileiro, seguiu o pensamento do filósofo
inglês Herbert Spencer que reconhecia o efeito
da arte sobre o desenvolvimento emocional,
racional e estético do indivíduo.
• Rui Barbosa não só se preocupou com a
educação dos jovens como também com a
formação dos professores de arte, que, no início,
deveriam vir do exterior, mas, com o passar do
tempo, passaram a ser brasileiros, reconhecendo
a capacidade daqueles já formados pelas Escolas
de Belas Artes, Colégios e Liceus que se
espalharam pelo Brasil.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 24
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• Esses fatos representaram uma transição muito
difícil para as artes e o ensino das artes no Brasil.
Os novos conceitos e os ‘modernismos’
neoclássicos provocaram muitos afastamentos e
descréditos por parte da população, contra a Arte
e o ensino da Arte.
• Havia um movimento de tentativa de
modernização do ensino das artes, que se
manifestava dentro da Academia Imperial de
Belas-Artes. Lá, dois grupos se opunham em
função das práticas e dos modelos do ensino
artístico no país. Eram os MODERNOS e os
POSITIVISTAS.
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2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
 Os modernos:
• Defendiam a importância da renovação do ensino
acadêmico, o qual eles queriam atualizar,
• Exigiam que se devesse dar ênfase às belas artes e
continuidade aos concursos com prêmios de viagem à Europa.
• Eram representados por Eliseu Visconti, França Junior,
Henrique Bernardelli, Rodolfo Amoedo e Zeferino da Costa.
 E os positivistas:
• Queriam que permanecesse o processo de aprendizagem
pela imitação de modelos de verdadeiros artistas.
• A escola para atender, num duplo papel, o aprendizado
de ofícios e das belas-artes.
• representados por Montenegro Cordeiro, Décio Villares
e Aurélio de Figueiredo.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 26
2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX
• Esse movimento mostrava o conceito que caracterizava o
ensino das Artes desde quando, em 1816, Dom João decretou
a fundação da Escola de Ciências, Artes e Ofícios...
• ...se promova e difunda a instrução e conhecimentos
indispensáveis aos homens destinados não só aos
empregos públicos de administração do Estado, mas
também ao progresso da agricultura, mineralogia,
indústria e comércio de que resulta a subsistência,
comodidade e civilização dos povos, mormente neste
continente, cuja extensão não tendo ainda o devido e
correspondente número de braços indispensáveis ao
aproveitamento do terreno, precisa de grandes socorros da
estética para aproveitar os produtos cujo valor e
preciosidades podem vir a formar do Brasil o mais rico e
opulento dos reinos conhecidos (Apud BARBOSA, 1978, p.
20).
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 27
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA
REPÚBLICA E DO SÉCULO XX
• As mudanças pelas quais passou a sociedade brasileira não
podem ser comparadas nem postas ao lado dos
acontecimentos que marcaram as mudanças na educação.
• Ideologias procuravam atender aos ideais da Abolição
(1888) e da República (1889) e se prolongaram até depois
da Primeira Guerra Mundial (1914).
• Esses pensamentos eram orientados pelas filosofias,
políticas, pedagogias e estéticas que deram força ao
movimento republicano do século XIX e refletiram-se nos
objetivos do ensino da arte na escola primária e secundária
partir do fim da Primeira Guerra Mundial em 1918 e da
explosão da Semana de Arte Moderna em 1922.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 28
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Nos inícios do século XX, era notória a preocupação
com a obrigatoriedade do ensino da arte nas escolas
primárias e secundárias. Os modelos de implantação
eram baseados nas ideias de Rui Barbosa e no ideal
positivista do ensino do Desenho.
• O elemento principal desse ideal, o ato de desenhar,
levava à precisão da linha e do modelo da forma onde
estavam refletidas as influências da escultura, que era
utilizada com maior frequência como modelo.
• E para os professores de arte do século XIX e início do
século XX, o artista que desenhava era “...um gênio, era
uma inteligência superior ...”
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 29
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA
REPÚBLICA E DO SÉCULO XX
• No último decênio do século XIX, o governo lutava para
consolidar a República. Grandes mudanças eram
necessárias para montar a estrutura do novo governo.
Precisava-se dar continuidade às reformas militar,
política, religiosa e educacional, que vinham em
andamento desde 1890.
• Como a República era formada por positivistas, foi
escolhido o Professor Benjamin Constant, da Escola
Politécnica e Militar, para o MINISTÉRIO DA
INSTRUÇÃO, CORREIO E TELÉGRAFO.
• Foi ele que elaborou a primeira reforma educacional
republicana, denominada REFORMA BENJAMIN
CONSTANT e aprovada em 22/11/1890 pelo Decreto-
Lei nº 1075, atingindo todas as instituições de Ensino
do país.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 30
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Baseando-se nos princípios
filosóficos de August Comte,
os positivistas brasileiros
acreditavam que a arte
possuía importância na
medida em que contribuía
para o estudo da ciência.
Acreditavam que a arte era
um poderoso veículo para
alcançar o desenvolvimento
do raciocínio e da emoção,
desde que ensinada através
do método positivista, que
subordinava a imaginação à
observação.
• Ramon Rocha – Esc. Sucata
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 31
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• REFORMAS DE ENSINO
• A Reforma Educacional de Benjamin Constant se
fundamentava no pensamento do filósofo francês Auguste
Comte, o mestre do positivismo. Valorizava as funções
humanísticas da arte e defendia a relação entre o “gênio
estético” e o “gênio científico”.
• Para Comte, a formação científica baseia-se na formação
estética que predispõe a todos os modos da idealização,
tornando os homens capazes de pensar e melhor organizar
sua vida em sociedade.
• Essa Reforma terminou eliminando o caráter preparatório do
ensino secundário, conferindo-lhe o sentido de uma
verdadeira formação educativa.
• Depois da Reforma o Colégio D. Pedro II passou a ser
denominado Ginásio Nacional, convertido em
estabelecimento padrão de estudos secundários, com um
novo currículo, de concepção positivista e organizado em 7
anos.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 32
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Com a morte de Benjamin Constant, a Reforma por ele
aprovada em 1890 foi reconfigurada pelo Código Fernando
Lobo, que vigorou de 1892 até 1899.
• Nessa nova Lei, o currículo passava a ter por objetivo a
preparação do aluno para a escola superior, ministrando
apenas conteúdos formativos para o desenvolvimento do
raciocínio, e diminuição nos conteúdos da Geometria.
• Isso provocou a aparição do Desenho geométrico, que
passou a exercer a função propedêutica da Geometria, ou
seja, desenvolver a inteligência e considerar a Arte como
Beleza.
• Na realidade, essa reforma de 1892 a 1899 foi modificada e
descaracterizada por inúmeras sub-reformas.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 33
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• SUB-REFORMAS
• Com base na análise das referidas sub-reformas,
foi decretado o Código Epitácio Pessoa (Decreto
nº 3.890 de 1º de janeiro de 1901) e o novo
regulamento do Ginásio Nacional (Decreto nº
3.914 de 26 janeiro de 1901), originalmente
Colégio Pedro II.
• A Reforma Epitácio Pessoa buscou uniformizar o
ensino secundário, para a equiparação de todas
as escolas do Brasil ao Ginásio Nacional antigo
Colégio Pedro II consolidando-o como modelo.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 34
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• O Código Epitácio Pessoa, de influência positivista,
propunha como objetivos e métodos para o ensino do
Desenho, uma pedagogia eclética que reunia princípios
positivistas e liberais, cujo objetivo primordial era o
desenvolvimento das ideias e do raciocínio, assim como a
manutenção dos exames de madureza, em substituição
aos exames parcelados dos preparatórios.
• A Lei, segundo ANA MAE BARBOSA (1978, p.78),
recomendava, para o curso de Desenho, representante
das Artes, o seguinte:
 O curso, começando por simples combinações lineares deverá
passar, mediante a mais rígida gradação, à cópia expressiva, a mão
livre, do desenho executado pelo professor, à execução do desenho
ditado, de desenho de memória e de invenção ao desenho de
modelos naturais ou em relevo.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 35
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Nessa ocasião já estava implantado um
sistema dual de educação que compreendiam
a escola primária, a escola normal e as
chamadas profissionais (e posteriormente
industriais), e como outro sistema a escola
secundária de tipo acadêmico, preparatória
ao ensino superior.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 36
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Em 1910, Rivadavia Correia, então Ministro da Justiça e
Negócios Interiores fez severas críticas à realidade do
ensino brasileiro e que esse tinha problemas crônicos, e
que apesar de tantas Reformas não estavam resolvidos.
• Por isso, sob sua aprovação em 5 de Abril de 1911 foi
promulgada a LEI ORGÂNICA DO ENSINO SUPERIOR E DO
FUNDAMENTAL NA REPÚBLICA, Decreto nº 8659,
conhecida como Lei Rivadavia, pautada no mais completo
liberalismo, que permitia dentre outras coisas, a criação de
estabelecimentos de ensino superior pertencentes à
iniciativa privada. Instituiu a livre-docência no país e a
partir desta lei surgiram várias instituições de ensino
superior.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 37
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• A Lei Rivadavia recupera o nome Colégio Pedro II e o
define como modelo do ensino Secundário no Brasil.
• Esta Lei não fez nenhuma citação a preparação para o
acesso ao ensino superior, da mesma forma não
fortaleceu a função formativa, posto que estabelecesse
o “exame de entrada” (o tão conhecido vestibular) para
admissão ao ensino superior, sem a necessidade de
certificado dos estudos secundários anteriores. Esse
exame que ficou conhecido como exame de admissão
entre qualquer nível de ensino perdurou até 1971.
• Em nome da liberdade e da autonomia a Lei Rivadavia
liberava o governo da sua responsabilidade pela
educação, tornando esta descentralizada e
independente.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 38
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• O Desenho constava no currículo das quatro primeiras
séries das seis que compunham o curso secundário.
Como não havia escolas para a formação de
professores, estes eram quase todos autodidatas.
• O curso secundário procurava dar um cunho mais
cultural ao Desenho, então procurava ministrar o
estudo dos ornatos (formas decorativas) aos alunos.
Mesmo existindo uma radicalização entre as escolas de
correntes liberais, entre às escolas profissionais
primárias e normais e as de origem evolucionista e
positivista que atuavam nas escolas secundárias. Era o
conflito entre as linhas da matemática e a linha da
estética, a técnica e o humanismo, ligado à Escola
Nacional de Belas Artes.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 39
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• FAIXAS
• DECORATIVAS
• ORNATOS
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3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Em 1915 é aprovada a Reforma Carlos Maximiliano
que vigorou até 1925. Foi o Decreto nº 11.530, de 8 de
março de 1915.
• Esse novo decreto restabelecia a responsabilidade do
Estado e a ação fiscalizadora do governo federal sobre
o ensino secundário e o superior, respeitando a
autonomia administrativa e didática das secretarias
estaduais, e mantendo os exames de admissão ao
ginásio e o vestibular para as escolas superiores.
• O ensino da Geometria passou a ser enfatizado na
escola primária com o ensino do Desenho porque nos
exames de admissão exigiam prova de Geometria e
não de Desenho.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 41
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
E assim sendo estabelecido um programa específico para as
aulas de Desenho:
• 1. Linha reta; Polígono;
• 2. Triângulo, quadrilátero, pentágono, hexágono,
octógono, decágono, dodecágono, pentadecágono;
• 3. Retas paralelas, perpendiculares e oblíquas;
• 4. Triângulo isósceles, equilátero, retângulo;
• 5. Ângulos, vértices de um ângulo, lados de um ângulo,
ângulos opostos pelo vértice, bissetriz de ângulo;
• 6. Quadrilátero, paralelogramo, retângulo. Losango,
quadrado, trapézio;
• 7. Circunferência, círculo, uso do compasso, raio,
diâmetro, arco, corda, setor, segmento;
• 8. Cone, cilindro, esfera.
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3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Os primeiros movimentos contra a intelectualização do ensino do
Desenho na Escola Primária tiveram as suas manifestações com os
artistas Theodoro Braga e Aníbal Mattos, que trabalhavam no
ensino primário e normal. Apesar de terem ideias diferentes
Theodoro se ligava a um programa baseado nas aplicações
industriais e Aníbal defendia um programa de Desenho que
formasse os valores estéticos.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 43
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Outro fato que também veio corroborar com essa
desmistificação do Desenho foi a criação na Escola
Normal de São Paulo, a partir de 1914, dos Gabinetes
de Psicologia Científica e de Psicologia Pedagógica,
permitindo o desenvolvimento de estudos e pesquisas
sobre Psicologia aplicada à educação.
• Era a aplicação da pedagogia experimental no Brasil,
quando pela primeira vez o desenho infantil foi
considerado como uma livre expressão da criança, uma
representação do seu processo mental, podendo ser
investigado e interpretado.
• Foi um grande feito educacional, pois apesar de ter
sido iniciado em São Paulo ele passou a influenciar
todo o Brasil.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 44
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Em 1921, aconteceu a Conferência Interestadual
de Ensino Primário, talvez o primeiro encontro
nacional de professores do Brasil, realizado em
Piracicaba-SP, sob convocação do Presidente da
República Dr. Epitácio Pessoa, realizado de 12 de
outubro a 16 de novembro. Durante este grande
evento, foi retirado do currículo primário e
normal o decorativismo, devendo todos os
trabalhos passarem a serem feitos do natural, e o
uso da modelagem em argila, cera, e outras
massas serem aplicadas às crianças para terem a
sensação material das formas.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 45
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Como se percebe os novos valores estéticos para o desenho,
principalmente da criança estavam em evolução, desde a criação dos
Gabinetes de Psicologia Científica e Psicologia Pedagógica na Escola
Normal de São Paulo.
• Por ocasião da Semana de Arte Moderna de 1922 essas novas ideias
passaram a ser reconhecidas e valorizadas como produto estético por
meio do surgimento das novas tendências importadas da Europa e
implantadas na cultura brasileira, como as correntes artísticas
expressionistas, futuristas e dadaístas.
• Entre os modernistas brasileiros, Anita Malfatti e Mário de Andrade
desempenharam atividades de grande importância para a valoração
estética da arte infantil e para a introdução de novos métodos de ensino
de Arte baseados no deixar fazer que explorava e valorizava o
expressionismo e espontaneísmo da criança, levando a uma busca e
enriquecimento de modelos internos. (Barbosa, 1978, p.112).
• https://www.youtube.com/watch?v=qo66TSNfEDs&t=257s
• ASSIM SE FAZ ARTE
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 46
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Tais modelos internos significavam que os desenhos
deveriam ser feitos então sem copiar de nenhum
modelo. As crianças passaram a desenhar evocando as
imagens que já possuíam sobre um tema. Habituando-
se a pensar, fazer os desenhos pelas referências do
domínio do desenho – pelas ideias internalizadas,
mentalizadas e evocadas.
• Confirmando os novos caminhos do ensino da Arte na
Educação, em que sua finalidade principal na educação
infantil é que por meio dela a criança expresse seus
sentimentos. Surgindo assim uma fase na Arte da
Educação brasileira em que o sentimento e a expressão
dominam a concepção do ensino da Arte.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 47
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Entre os educadores brasileiros que se
dedicaram e defenderam essas ideias, estão
os professores Lourenço Filho, Alice Meirelles
Reis e Zuleica Ferreira que lutaram para
implantar essa ideia de influência na formação
da personalidade do educando.
• Fundamentados nos princípios de Decroly que
inovara a educação técnica na Bélgica do seu
departamento de Psicologia e Orientação
Profissional, em 1921.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 48
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Desde a fase anterior a 1920 e à Semana de Arte Moderna no Brasil surge uma
nova realidade que suscita expectativas em relação ao ensino, ficando a década de
1920 caracterizada por discussões que reuniram os educadores do ensino
secundário que promoveram o movimento denominado “escolanovista”.
• O governo federal é pressionado pelo ensino secundário para que busque soluções
em relação à organização e objetivo em relação à formação de adolescentes.
• Para fortalecer e assegurar o movimento que era encetado por todo o país, foi
aprovada a Reforma João Luís Alves, sob Decreto nº 16782-A, em 13 de janeiro de
1925. Foi a última Reforma da Educação na Primeira República.
• A Reforma João Luís Alves procurava dar objetivos ao curso secundário que
ultrapassasse a preparação fragmentária exigida para ingresso no curso superior.
• Para fazer a implantação das reformas para o curso secundário, foi organizado o
ensino seriado que visava organizar as matérias a ensinar, a definição dos
dispositivos de avaliação para acesso a série seguinte e a frequência obrigatória,
além de ressaltar o papel fiscalizador e normalizador do Governo Federal em
relação ao ensino secundário
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 49
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• A ESCOLA NOVA
• Na década de 1930 surge no Brasil, como um dos
resultantes da democratização política do país, um
movimento inspirado no pensamento filosófico do
americano John Dewey que visava implantar uma
renovação educacional a qual foi denominada “Escola
Nova” e que se opunha ao modelo pedagógico
tradicional vigente. Esse movimento foi trazido para o
Brasil pelos educadores Anísio Teixeira, Fernando de
Azevedo, Lourenço Filho e Nereu Sampaio que
influenciaram o ambiente educacional brasileiro.
• Como se pode perceber o ensino da Arte tornou-se
obrigatório, numa concepção de permitir que a criança
expresse seus sentimentos, que a Arte não é ensinada,
mas deixada fluir como liberação emocional.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 50
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• A MÚSICA NAS ESCOLAS
• A Arte estava incluída no currículo escolar como
atividade de apoio ao aprendizado de outras disciplinas.
E a música era vista como educação estética, com função
principal de “embelezamento” e “elevação” do ser
humano para a alegria das escolas.
• O ensino da Música sempre passou por trajetórias lentas
e reformistas, ainda mais na década de 1930 quando se
instala no país uma política educacional nacionalista e
autoritária visando desenvolver o espírito da
“coletividade”, da “disciplina” e do “patriotismo”.
• Nessa época retornava de Paris o compositor brasileiro
Heitor Villa Lobos, de “estética nacionalista derivada do
movimento modernista”, após haver se consagrado como
compositor nos maiores centros cultural da Europa.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 51
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA
REPÚBLICA E DO SÉCULO XX
• Aqui chegando, Villa Lobos
admirou-se do modo como a
música estava sendo tratada
nas escolas brasileiras então
apresentou à Secretaria de
Educação do Estado de São
Paulo um plano audacioso,
revolucionário. Após trabalhar
dois anos em São Paulo, Villa
Lobos organizou uma grande
concentração conclamando
representantes de todas as
classes da sociedade paulista,
a qual denominou “Exortação
Cívica” com a participação de
quase 12 mil vozes.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 52
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA
REPÚBLICA E DO SÉCULO XX
• Devido a sua personalidade marcante, lutadora,
exuberante e afetada, o compositor chamou para
si a atenção de Getúlio Vargas, (1930-1945), que
o convidou para organizar a educação musical no
Brasil. E por meio do Decreto nº 19.891, de 11 de
abril de 1931, liderado por Villa Lobos, foi
instituído a obrigatoriedade do ensino de música
nas escolas primárias, secundárias e do ensino
pedagógico do país, para atender aos objetivos
da nova república, com implicações diretas com a
política.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 53
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA
REPÚBLICA E DO SÉCULO XX
• No ano de 1942 foi criado o Conservatório
Nacional de Canto Orfeônico no Distrito Federal,
Rio de Janeiro, para dar formação especializada
ao magistério para o ensino do Canto Orfeônico,
promover estudos e pesquisas de musicologia
brasileira, gravações de trabalhos etnográficos.
• Nessa mesma época foi criada a
Superintendência de Educação Musical e Artística
(SEMA), no Distrito Federal, destinado à
supervisão, orientação e implantação do
programa de ensino de música, reforçando a
formação dos professores para os cursos
primário, ginasial e normal.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 54
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E
DO SÉCULO XX
• Um novo episódio veio reabrir as antigas discussões da
liberação emocional nos desenhos infantis. Foi a, exclusão de
desenhos de crianças brasileiras de uma amostra de arte
infantil ocorrida na Europa, por estarem impregnadas de
clichês e interferências dos adultos.
• Tal acontecimento levou o artista plástico Augusto Rodrigues
e suas colegas Margareth Spencer e Lúcia Valentim a
repensarem o processo da renovação educacional desde a
década de 1930. Criaram então a Escolinha de Arte do Brasil
em 1948 sob influências de Viktor Lowenfeld que rejeita a
cópia de imagens por crianças, Rudolf Arnheim que uniu a
Teoria Formalista à Psicologia da Gestalt numa publicação
intitulada “Arte e Percepção Visual – Uma Psicologia da Visão
Criadora” e Herbert Read com sua obra Educação Pela Arte.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 55
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• A Escolinha de Arte do Brasil passou a representar o
desenvolvimento da capacidade criadora. Ela expandiu-se por
todo o território nacional num total de 140 e mais as que
foram abertas em outros países.
• A Escolinha de Arte do Brasil serviu de ponte entre o ensino
da Arte como expressão e o ensino da Arte como Atividade.
Ela educava por meio da arte, fazendo a livre expressão na
liberdade criadora. A Escolinha colocava o foco nas distintas
expressões artísticas como música, dança pintura, teatro,
desenho, poesia etc. Se voltada fundamentalmente para o
público infantil, porém com o passar do tempo foi aceitando
também adolescentes e adultos.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 56
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Em relação à educação musical, durante a Segunda Guerra Mundial, surgiu a
partir de 1939 em São Paulo o “Grupo Música Viva”, coordenado pelo prof.
Hans Joachin Koellreutter e um pequeno grupo de jovens músicos compositores
cuja preocupação seria uma contribuição na revisão de dois problemas que
diziam respeito ao ensino da composição musical, com a atividade musical em
conjunto (incentivando a criação e formação de grupos de câmera) e com a
organização de concertos para incentivar plateias, instrumentistas e
compositores.
• Esse movimento “Grupo Música Viva” teve o apoio de uma importante geração
de compositores brasileiros, entre eles: Frutuoso Viana, Basílio Itiberê e Luís
Cosme, logo no início. Depois vieram Cláudio Santoro, César Guerra Peixe, Edino
Kriger, Heitor Alimonda, Eunice Katunda, Esther Scliar. E também nomes de
professores que ainda atuam nos centros musicais do país como Carlos Kater,
Alda Oliveira, Jamary Oliveira, Maria Teresa Alencar de Brito, Sergio Cunha e
muitos outros que seguiram os conselhos do sábio professor.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 57
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA
REPÚBLICA E DO SÉCULO XX
• O prof. Hans Joachin Koellreutter em 1946
apresentou um Manifesto em forma de
“Declaração de Princípios” sobre cinco pontos
básicos que motivavam a luta do Grupo pela
música:
1 – a música como produto da vida social;
2 – a música como expressão de uma cultura
e de uma época;
3 – a necessidade de se educar para a nova
música;
4 – a concepção utilitária da arte;
5 – a postura revolucionária essencial.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 58
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• No período entre 1950 e 1960 o Brasil parece estagnar nos projetos
educacionais. Tudo gira em torno de fazer o Brasil um grande
parque industrial, tal como vimos no final do Império para o início
da República. Voltar ao ensino profissionalizante, tornar apto o
brasileiro para trabalhar nas fábricas, nas construções. Construir
Brasília junto com o Presidente Juscelino Kubistchek.
• Surge uma nova maneira de pensar a educação, visando à
preparação de homens mais competentes e produtivos. O professor
torna-se um técnico responsável por um competente planejamento
curricular da escola. Passa a planejar objetivos, conteúdos,
estratégias, técnicas, avaliações, tudo explicitado em planos de
curso e de aulas.
• Nessa fase os conteúdos escolares e os métodos de ensino, são
uma mistura do que foi utilizado na pedagogia tradicional e na
escola nova, agora adaptados aos objetivos comportamentais
utilizados no processo ensino aprendizagem da pedagogia
tecnicista.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 59
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Em relação à Educação Musical a década de 1960 foi muito
influenciada pelas várias filosofias de épocas anteriores, de
movimentos educacionais e estéticos, demonstrando
práticas diversas, que levou ao interesse e desenvolvimento
da criatividade, improvisação e da percepção auditiva.
• Até 1971 o ensino da Arte continuou nesse misto de
didáticas, metodologias e práticas que deixavam o aluno
muito livre ou sob completa influência do professor. Tudo
era válido.
• Porém no dia 11 de agosto de 1971 foi sancionada pelo
Presidente da República Emílio Garrastazu Médici e
publicada no Diário Oficial no dia 12 de agosto de 1971, a
Lei Nº 5692 que fixa Diretrizes e Bases para o Ensino de 1º
e 2º Graus, e dá outras providências como novas
nomenclaturas para os Art. 176 e 178 da Constituição então
vigente de 1969, que acolheu esta nova Lei:
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 60
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• § 1º - Para efeito do que dispõe os art. 176 e 178
da Constituição entende-se por ensino primário a
educação correspondente ao ensino de primeiro
grau e por ensino médio, o de segundo grau.
(NISKIER,1971, p.18).
E determinou no Art. 7º da mesma Lei:
• ...a obrigatoriedade e inclusão de Educação Moral
e Cívica, Educação Física, Educação Artística e
Programas de Saúde nos currículos plenos dos
estabelecimentos de 1º e 2º graus, observando
quanto a primeira, Educação Moral e Cívica, o
disposto no Decreto-Lei nº 869, de 12 de
setembro de 1969. (NISKIER,1971, p.19).
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 61
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA
REPÚBLICA E DO SÉCULO XX
• Após a aprovação da nova LDB, quando o ensino tinha muita
flexibilidade para os conteúdos e metodologias escolares, entramos
numa fase complicada porque a nova Lei permite então muitas
interpretações, exige uma polivalência do professor já que a
Educação Artística então incluída no currículo vai envolver as
modalidades de artes plásticas, artes cênicas e educação musical.
• Como se pôde observar aconteceu uma mudança no ensino da
Arte. Foi criada uma nova concepção de ensino como lazer, auto
expressão e catarse. Descaracterizando a Arte como fato cognitivo,
que pode ser ensinado e aprendido, indispensável à formação do
educando das gerações presentes e futuras. E ao montarem os
componentes curriculares, classificaram os mesmos em Disciplinas
e Atividades:
• 1 – Disciplinas: áreas de conhecimento com objetivos,
conteúdos, metodologias e processo de avaliação específica.
• 2 – Atividades: com desenvolvimento de práticas e
procedimentos.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 62
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• O Brasil estava em pleno Regime Militar, e assim as Artes passaram
a ter uma função altamente ideológica, mostrando uma abertura
para o trabalho criativo. Essas atividades artísticas não eram
planejadas, eram apenas para cumprir a carga horária ou preparar
as “festinhas” das escolas e o mais sério foi que elas podiam ser
ministradas por professores de outras áreas que não
compreendiam os objetivos da Arte na Educação.
• E assim novamente a conceituação de ensino tecnicista da arte é
implantado no Brasil, dentro de uma metodologia do “fazer
artístico” simplesmente pelo fazer, sem a preocupação com a
importância do desenvolvimento integral cognitivo e psicológico da
criança ou do adolescente.
• O ensino da Arte passou a ser apenas:
– 
Cantar as músicas da rotina escolar e/ou o canto pelo canto;
– 
Preparar apresentações artísticas e objetos para as comemorações
escolares;
– 
Fazer a decoração escolar para as festas cívicas e religiosas.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 63
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Devido a essas más interpretações e versões no ensino da Arte nas
escolas brasileiras, algumas escolas retiraram o ensino da Educação
Artística do currículo, outras deixaram em algumas séries. Os
professores, porém certos da necessidade do ensino de Arte para o
desenvolvimento intelectual dos educandos, se organizaram como
arte/educadores e passaram a lutar politicamente para garantir a
presença da Arte no currículo das escolas.
• Em 20 de dezembro de 1996, os arte educadores brasileiros
conquistaram o retorno, a obrigatoriedade do ensino da Arte para
toda a Educação Básica, por meio da nova LDBN, de nº 9.394 que
finalmente revogou os dispositivos anteriores e oficializou a
concepção de que ensinar Arte é dar conhecimento, à medida que
promove o desenvolvimento cultural e estético dos alunos.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 64
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Porém o ensino da música ficou sempre ligado às demais
manifestações artísticas e numa condição de responsável pelas
“festinhas” da escola, não preenchendo sua verdadeira função para
o desenvolvimento cognitivo, psicomotor, emocional e afetivo. Sem
esquecer o estético e o cultural.
• Um projeto foi apresentado como Relatório para uma nova Lei que
surgiu em 21 de maio de 2008. O projeto de lei citado, que teve
origem em iniciativa da Senadora Roseana Sarney, acrescenta os
parágrafos 6º e 7º ao art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional para tornar obrigatório o ensino de música na
educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino
médio), além de estabelecer que a disciplina seja ministrada por
professores com formação específica. Estipulando o prazo de três
anos para que os sistemas de ensino se adaptem à exigência legal.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 65
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• A proposição foi distribuída à Comissão de Educação e
Cultura, tendo como Relator o Deputado Frank Aguiar.(
CÂMARA DOS DEPUTADOS, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO E
CULTURA, PROJETO DE LEI N o 2.732, DE 2008).
• Em agosto de 2008 foi aprovada a nova Lei Nº 2.732, que
estabelece a obrigatoriedade do ensino da Música em todo o
ensino básico das escolas brasileiras, como conteúdo
necessário, mas não exclusivo, do ensino de arte.
• Não se ignora que a eventual aprovação deste Projeto de Lei é
apenas um começo, pois é necessário cultivar o valor da arte
e da música, em geral, como elemento fundamental na
formação dos alunos, para além dos interesses pragmáticos
imediatos de sucesso no vestibular ou de integração ao
mercado de trabalho.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 66
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Ainda são necessários muitos estudos para a implantação
dessa Lei, em cada Estado, pelas associações como a ABEM e
outras entidades ligadas à educação e artes.
• Foi um longo caminho percorrido, cheio de lutas, vitórias,
compreensões e incompreensões, mas o ensino a Arte tem
mostrado a sua força na educação infantil, básica, técnica e
superior do nosso país.
• E se realmente as instâncias governamentais tirarem do papel
tudo aquilo que está escrito no PCN –ARTE, atualizarem e
motivarem os professores com formação específica ou
reconhecidamente habilitados e competentes, então a Arte
deixa de ser aquele assunto das elites e passa a ser da
vivência de cada um.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 67
3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA
E DO SÉCULO XX
• Então, a Arte na educação representa dar oportunidade, ao
educando, de poder apropriar-se de saberes estéticos e
culturais contidos na apreciação do fazer artístico e das
produções artesanais, bem como de conhecer a construção
de sua própria nação. Contudo, esse fato não é de todo
respeitado, pois, no Brasil, a obrigatoriedade da inclusão da
disciplina de Arte no currículo escolar não é levada em
consideração, para dar aos estudantes, a capacidade de
entender, conceber e fruir a Arte.
MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 68
REFERÊNCIAS
• BARBOSA, Ana Mae. (Org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez,
2002, p.19.
• BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares nacionais: arte/
Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
• NEVES, José Maria das. Música Contemporânea Brasileira. 1 ed. São Paulo: Ricordi, 1981,
p.53.
• NISKIER, Arnaldo. A NOVA ESCOLA .Reforma do ensino de 1º e 2º graus.2 ed. Rio de Janeiro:
Bruguera, 1971, p.18-19.
• Paz, Ermelinda A. Pedagogia Musical Brasileira no Século XX - Metodologias e Tendências.
Brasília: Musimed, 2000, p.13-23.
• SOUZA, Jusamara. Política na prática da Educação Musical nos anos trinta. In: Revista Em
Pauta. Porto Alegre, v. 3, n.4, dez. 1991, p.17.
• AUAD, Ronaldo. Ensino da Arte no Brasil – Tendências Pedagógicas. In
www.simaodemiranda.com.br. Acesso a Internet em dezembro de 2008.
• FUSARI, Maria F. de Resende e FERRAZ, Maria Heloisa C. de T. Arte na Educação Escolar. São
Paulo: Cortez Editora, 1993, p.37.
• OLIVEIRA, Alda de Jesus. A educação musical no Brasil: ABEM. In Revista da ABEM, Nº 1, Ano
I, Maio/1992.
• ZOTTI, Solange Aparecida. UnC/UNICAMP. O CURRÍCULO DO ENSINO SECUNDÁRIO E A
FORMAÇÃO DAS ELITES. REPUBLICANAS www.anpuh.uepg.br/xxiii-
Simposio/anais/textos/SOLANGE%20APARECIDA%20ZOTTI.pdf. (Acessado em 15 de janeiro
de 2009). MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 69
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  • 1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARTES COM ÊNFASE EM MÚSICA POLOS DE: BREJO SANTO, MAURITI, LIMOEIRO, ITAPIPOCA, MERUOCA 2017.2
  • 2. ARTE-EDUCAÇÃO NO BRASIL E PROCESSO HISTÓRICO Prof.ª MARIA ANGÉLICA RODRIGUES ELLERY Fortaleza - 2017
  • 3. SUMÁRIO DA DISCIPLINA MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 3 1. A ARTE COMO EDUCAÇÃO 2. O ENSINO DA ARTE NA EDUCAÇÃO BÁSICA 3. ARTE VISUAL NA ESCOLA 4. A DANÇA NA ESCOLA COMO ELEMENTO LÚDICO E SUAS CONTRIBUIÇÕESPARA A APRENDIZAGEM 5. A IMPORTÂNCIA DA VIVÊNCIA TEATRAL NA ESCOLA 6. POR QUE MÚSICA NA ESCOLA
  • 4. 1. A ARTE COMO EDUCAÇÃO • Neste curso será apresentada uma síntese da evolução e do desenvolvimento do ensino da Arte no Brasil, do Império aos nossos dias. • A Arte como conteúdo didático-pedagógico representava, para alguns, sua formação profissional e, para outros, mero diletantismo sem importância. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 4
  • 5. 1. A ARTE COMO EDUCAÇÃO • O ensino da Arte teve início na implantação do sistema escolar brasileiro pelos Jesuítas. Entretanto, com o passar dos tempos e com a evolução do povo e da nação, os educadores brasileiros, perceberam que a Arte é uma forma de manifestação dos mecanismos psíquicos do ser humano, atuante, como meio de comunicação, em sua vida doméstica, social, política e religiosa. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 5
  • 6. 1. ARTE COMO EDUCAÇÃO • https://1 • https://www.youtube.com/watch?v=MBhHRLPalWk&t=116s • EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA PARTE 1 MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 6
  • 7. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • Entretanto na história do ensino da Arte no ensino básico brasileiro, observa-se o pouco interesse que tiveram muitos educadores e responsáveis pela organização escolar, no que diz respeito à compreensão da Arte como conhecimento sensível-cognitivo, sendo um dos meios pelos quais os alunos iriam se preparar para refletir sobre sua história e os contextos da sociedade em que vivem. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 7
  • 8. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • Nesse contexto, o ensino da Arte tinha por meta a formação do desenhista prático para atender a indústria ou o comércio. • A prática da arte restringia-se ao desenho de letras para embalagens e cartazes para propagandas, com o objetivo de preparar os alunos para trabalhar nas fábricas e em outras atividades que envolvessem o desenho. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 8
  • 9. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • Nossos professores não tinham, por objetivo, o ensino do conhecimento sensível, prático e estético. Seguiam o pensamento positivista, imediatista. • Contrário ao do filósofo Herbert Spencer que, já naquela época, insistia no seguinte: “...a arte era um processo, importante para o desenvolvimento individual”. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 9
  • 10. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 10
  • 11. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • Dominava até então o Modelo de ensino jesuítico, formado por quatro cursos descritos no Ratio Studiorum , (Estudos Racionais) obra do Padre Geral Jesuíta Cláudio Aquaviva, publicada em 1599, que compreendiam o TRIVIUM e o QUADRIVIUM. • Porém, no Brasil, o que mais se propagou foi o curso de letras humanas, dividido em três classes – gramática, retórica e humanidades, que correspondiam ao TRIVIUM. • O QUADRIVIUM, que se dedicava às ciências, era quase inexplorado assim como as atividades manuais que não eram muito utilizadas nas escolas de homens livres. • Estas eram exploradas em função da demanda no treinamento de escravos e nas missões indígenas. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 11
  • 12. • https://www.youtube.com/watch?v=MBhHRLPalWk&t=116s • EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA PARTE 1 • https://www.youtube.com/watch?v=txCW0KqTsM0 • EDUCAÇÃO NO BRASIL COLONIAL_0002.wmv MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 12
  • 13. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • REFORMA POMBALINA E AULAS RÉGIAS • No início do Séc. XIX, antes de Portugal ser invadido pelas forças napoleônicas, os portugueses adotaram a reforma educacional promovida pelo Marquês de Pombal, a célebre Reforma Pombalina. • Esse movimento reformista tirava, dos Jesuítas, a responsabilidade quanto à orientação educacional de todo o reino e os expulsava das colônias portuguesas. • Era uma reforma que procurava fazer uma atualização metodológica para inserir as Ciências, as Artes Manuais e a Técnica que haviam sido esquecidas pelos Jesuítas em seu contexto educacional e que agora passavam para as mãos do Estado. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 13
  • 14. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • Nas escolas para os filhos dos ricos fazendeiros, comerciantes, da alta burguesia e para os descendentes da antiga nobreza, as preocupações com o ensino da arte eram fazer com que as sinhazinhas tocassem piano, declamassem belos e românticos sonetos, pintassem bucólicas paisagens e naturezas mortas. • E aos meninos, cabia-lhes a apreciação da música, da literatura e a fruição dos belos quadros e aquelas mesmas atividades de desenhos de letras. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 14
  • 15. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • A estruturação da educação no Brasil, no período colonial e no Vice-Reino, se preocupavam com a formação de uma elite para defender a Colônia e para movimentar culturalmente a Corte. • O modelo de ensino era o das escolas jesuíticas. E assim apareceram os primeiros cursos superiores criados como os de medicina e os das escolas militares, no modelo da universidade criada na França sob o regime de Napoleão Bonaparte, que reunia então, o TRIVIUM e o QUADRIVIUM. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 15 • FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA- 1808
  • 16. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • No período que antecedeu a República, surgia a necessidade de se formar profissionais que atendessem às necessidades da época. • Então, apareceram as primeiras Escolas Régias Superiores, com uma supervalorização das ciências exatas e tecnológicas e a consequente desvalorização da filosofia, da teologia, das artes e das ciências humanas. • Foi então criada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, pelo decreto de 12 de agosto de 1816, para atender a nobreza recém-chegada de Portugal e as necessidades da nova sociedade carioca. A Escola Real foi estruturada a pedido de Dom João VI pelos artistas que compunham a Missão Artística Francesa. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 16
  • 17. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • A Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios era uma escola polivalente e interdisciplinar, onde seriam ministradas aulas de ciências, artes e atividades manuais. Pelo decreto de 12 de outubro de 1820, seu nome foi mudado para Academia Real de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil. Um mês depois, pelo decreto de 23 de novembro de 1820, essa designação mudou para Academia de Artes. E como essa escola tinha como função apenas o ensino das Artes plásticas, em 1826 foi nomeada de Academia Imperial de Belas-Artes e, depois da proclamação da República, foi definitivamente denominada de Escola Nacional de Belas-Artes em 8 de novembro de 1890. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 17
  • 18. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 18
  • 19. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • REFORMAS EDUCACIONAIS • Rui Barbosa, sob a inspiração do educador inglês Walter Smith, escreveu vários Pareceres sobre a Reforma do Ensino Secundário e Superior de 1882 e sobre a Reforma do Ensino Primário de Leôncio de Carvalho de 1883. • Esses pareceres representaram novos projetos para a Educação do Brasil, com uma base teórica em consonância com as novas concepções pedagógicas da época. • Seguindo este pensamento, de acordo com ANA MAE BARBOSA, foi escrito o artigo 79 do Capítulo I do regulamento do Imperial Liceu Pedro II, que disciplinava o ensino de Artes naquela época. Esse artigo se transformou no modelo que deveria ser seguido por todo o ensino secundário no Brasil: MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 19
  • 20. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • Art. 79 – As cadeiras de Desenho, Ginástica e Música serão providas mediante contrato por quatro anos, no máximo renováveis no fim deles, se convier. Para as duas primeiras, o governo, mediante os nossos agentes no estrangeiro, fará contratar homens de merecimento superior nessas especialidades e capazes de organizar no país este ensino; preferindo quanto ao Desenho, os Estados Unidos, a Inglaterra e a Áustria; quanto à Ginástica, a Suécia, a Saxônia e a Suíça. (ANA MAE BARBOSA, p.51, 1978). MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 20
  • 21. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 21 Antigo Imperial Liceu Dom Pedro II Atual Colégio Pedro II
  • 22. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • Era o alvorecer do ensino da Educação Artística a ser seguido no Brasil e que representava a sabedoria e o conhecimento tanto para o povo quanto para a burguesia. • A metodologia defendida por Rui Barbosa para o ensino da Arte no Brasil recomendava que deveria acontecer através de uma disciplina ministrada desde a escola primária . • Apoiada em Pestalozzi recomendava também que essa disciplina poderia vir antes do estudo das primeiras letras, já que o desenho seria uma inclinação natural do espírito humano, somente contribuindo para o aprendizado sem jamais retardá-lo. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 22
  • 23. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • 1. O professor nunca deve fazer correções no próprio desenho do aluno. • 2. Todo ensino do Desenho deve ter por base as formas geométricas através do traçado à mão livre. • 3. Deve-se orientar o ensino do Desenho no sentido da estilização das formas. • 3.1. Às formas convencionais – já que regulares – hão de preceder as naturais, irregulares. • 3.2. As formas naturais a desenhar hão de ser primeiramente reduzidas às formas geométricas • 4. É importante a utilização da rede estigmográfica para os desenhos de reprodução de modelos de memória ou ditados dada a necessidade de um desenho auxiliado antes do desenho a olho recorrer a régua ou compasso. • (Nos primeiros exercícios, a rede estigmográfica deveria ser composta por linhas traçadas a olho pelo próprio aluno, formando pequenos quadrados que depois poderiam ser substituídos por pontos). • 5. O desenho por modelos deve ser precedido de um estudo do objeto em sua totalidade e nas suas partes, comparando-as. • 6. Desenho a tempo fixo é essencial para vencer a inércia. • 7. O desenho de invenção deve compreender a composição com os elementos já apreendidos. • 8. O desenho deve ser utilizado para auxiliar outras matérias, especialmente a Geografia. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 23
  • 24. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • Rui Barbosa – preocupado com a formação do jovem brasileiro, seguiu o pensamento do filósofo inglês Herbert Spencer que reconhecia o efeito da arte sobre o desenvolvimento emocional, racional e estético do indivíduo. • Rui Barbosa não só se preocupou com a educação dos jovens como também com a formação dos professores de arte, que, no início, deveriam vir do exterior, mas, com o passar do tempo, passaram a ser brasileiros, reconhecendo a capacidade daqueles já formados pelas Escolas de Belas Artes, Colégios e Liceus que se espalharam pelo Brasil. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 24
  • 25. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • Esses fatos representaram uma transição muito difícil para as artes e o ensino das artes no Brasil. Os novos conceitos e os ‘modernismos’ neoclássicos provocaram muitos afastamentos e descréditos por parte da população, contra a Arte e o ensino da Arte. • Havia um movimento de tentativa de modernização do ensino das artes, que se manifestava dentro da Academia Imperial de Belas-Artes. Lá, dois grupos se opunham em função das práticas e dos modelos do ensino artístico no país. Eram os MODERNOS e os POSITIVISTAS. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 25
  • 26. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX  Os modernos: • Defendiam a importância da renovação do ensino acadêmico, o qual eles queriam atualizar, • Exigiam que se devesse dar ênfase às belas artes e continuidade aos concursos com prêmios de viagem à Europa. • Eram representados por Eliseu Visconti, França Junior, Henrique Bernardelli, Rodolfo Amoedo e Zeferino da Costa.  E os positivistas: • Queriam que permanecesse o processo de aprendizagem pela imitação de modelos de verdadeiros artistas. • A escola para atender, num duplo papel, o aprendizado de ofícios e das belas-artes. • representados por Montenegro Cordeiro, Décio Villares e Aurélio de Figueiredo. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 26
  • 27. 2.O ENSINO DA ARTE NO BRASIL DO SEC. XIX • Esse movimento mostrava o conceito que caracterizava o ensino das Artes desde quando, em 1816, Dom João decretou a fundação da Escola de Ciências, Artes e Ofícios... • ...se promova e difunda a instrução e conhecimentos indispensáveis aos homens destinados não só aos empregos públicos de administração do Estado, mas também ao progresso da agricultura, mineralogia, indústria e comércio de que resulta a subsistência, comodidade e civilização dos povos, mormente neste continente, cuja extensão não tendo ainda o devido e correspondente número de braços indispensáveis ao aproveitamento do terreno, precisa de grandes socorros da estética para aproveitar os produtos cujo valor e preciosidades podem vir a formar do Brasil o mais rico e opulento dos reinos conhecidos (Apud BARBOSA, 1978, p. 20). MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 27
  • 28. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • As mudanças pelas quais passou a sociedade brasileira não podem ser comparadas nem postas ao lado dos acontecimentos que marcaram as mudanças na educação. • Ideologias procuravam atender aos ideais da Abolição (1888) e da República (1889) e se prolongaram até depois da Primeira Guerra Mundial (1914). • Esses pensamentos eram orientados pelas filosofias, políticas, pedagogias e estéticas que deram força ao movimento republicano do século XIX e refletiram-se nos objetivos do ensino da arte na escola primária e secundária partir do fim da Primeira Guerra Mundial em 1918 e da explosão da Semana de Arte Moderna em 1922. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 28
  • 29. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Nos inícios do século XX, era notória a preocupação com a obrigatoriedade do ensino da arte nas escolas primárias e secundárias. Os modelos de implantação eram baseados nas ideias de Rui Barbosa e no ideal positivista do ensino do Desenho. • O elemento principal desse ideal, o ato de desenhar, levava à precisão da linha e do modelo da forma onde estavam refletidas as influências da escultura, que era utilizada com maior frequência como modelo. • E para os professores de arte do século XIX e início do século XX, o artista que desenhava era “...um gênio, era uma inteligência superior ...” MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 29
  • 30. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • No último decênio do século XIX, o governo lutava para consolidar a República. Grandes mudanças eram necessárias para montar a estrutura do novo governo. Precisava-se dar continuidade às reformas militar, política, religiosa e educacional, que vinham em andamento desde 1890. • Como a República era formada por positivistas, foi escolhido o Professor Benjamin Constant, da Escola Politécnica e Militar, para o MINISTÉRIO DA INSTRUÇÃO, CORREIO E TELÉGRAFO. • Foi ele que elaborou a primeira reforma educacional republicana, denominada REFORMA BENJAMIN CONSTANT e aprovada em 22/11/1890 pelo Decreto- Lei nº 1075, atingindo todas as instituições de Ensino do país. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 30
  • 31. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Baseando-se nos princípios filosóficos de August Comte, os positivistas brasileiros acreditavam que a arte possuía importância na medida em que contribuía para o estudo da ciência. Acreditavam que a arte era um poderoso veículo para alcançar o desenvolvimento do raciocínio e da emoção, desde que ensinada através do método positivista, que subordinava a imaginação à observação. • Ramon Rocha – Esc. Sucata MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 31
  • 32. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • REFORMAS DE ENSINO • A Reforma Educacional de Benjamin Constant se fundamentava no pensamento do filósofo francês Auguste Comte, o mestre do positivismo. Valorizava as funções humanísticas da arte e defendia a relação entre o “gênio estético” e o “gênio científico”. • Para Comte, a formação científica baseia-se na formação estética que predispõe a todos os modos da idealização, tornando os homens capazes de pensar e melhor organizar sua vida em sociedade. • Essa Reforma terminou eliminando o caráter preparatório do ensino secundário, conferindo-lhe o sentido de uma verdadeira formação educativa. • Depois da Reforma o Colégio D. Pedro II passou a ser denominado Ginásio Nacional, convertido em estabelecimento padrão de estudos secundários, com um novo currículo, de concepção positivista e organizado em 7 anos. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 32
  • 33. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Com a morte de Benjamin Constant, a Reforma por ele aprovada em 1890 foi reconfigurada pelo Código Fernando Lobo, que vigorou de 1892 até 1899. • Nessa nova Lei, o currículo passava a ter por objetivo a preparação do aluno para a escola superior, ministrando apenas conteúdos formativos para o desenvolvimento do raciocínio, e diminuição nos conteúdos da Geometria. • Isso provocou a aparição do Desenho geométrico, que passou a exercer a função propedêutica da Geometria, ou seja, desenvolver a inteligência e considerar a Arte como Beleza. • Na realidade, essa reforma de 1892 a 1899 foi modificada e descaracterizada por inúmeras sub-reformas. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 33
  • 34. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • SUB-REFORMAS • Com base na análise das referidas sub-reformas, foi decretado o Código Epitácio Pessoa (Decreto nº 3.890 de 1º de janeiro de 1901) e o novo regulamento do Ginásio Nacional (Decreto nº 3.914 de 26 janeiro de 1901), originalmente Colégio Pedro II. • A Reforma Epitácio Pessoa buscou uniformizar o ensino secundário, para a equiparação de todas as escolas do Brasil ao Ginásio Nacional antigo Colégio Pedro II consolidando-o como modelo. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 34
  • 35. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • O Código Epitácio Pessoa, de influência positivista, propunha como objetivos e métodos para o ensino do Desenho, uma pedagogia eclética que reunia princípios positivistas e liberais, cujo objetivo primordial era o desenvolvimento das ideias e do raciocínio, assim como a manutenção dos exames de madureza, em substituição aos exames parcelados dos preparatórios. • A Lei, segundo ANA MAE BARBOSA (1978, p.78), recomendava, para o curso de Desenho, representante das Artes, o seguinte:  O curso, começando por simples combinações lineares deverá passar, mediante a mais rígida gradação, à cópia expressiva, a mão livre, do desenho executado pelo professor, à execução do desenho ditado, de desenho de memória e de invenção ao desenho de modelos naturais ou em relevo. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 35
  • 36. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Nessa ocasião já estava implantado um sistema dual de educação que compreendiam a escola primária, a escola normal e as chamadas profissionais (e posteriormente industriais), e como outro sistema a escola secundária de tipo acadêmico, preparatória ao ensino superior. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 36
  • 37. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Em 1910, Rivadavia Correia, então Ministro da Justiça e Negócios Interiores fez severas críticas à realidade do ensino brasileiro e que esse tinha problemas crônicos, e que apesar de tantas Reformas não estavam resolvidos. • Por isso, sob sua aprovação em 5 de Abril de 1911 foi promulgada a LEI ORGÂNICA DO ENSINO SUPERIOR E DO FUNDAMENTAL NA REPÚBLICA, Decreto nº 8659, conhecida como Lei Rivadavia, pautada no mais completo liberalismo, que permitia dentre outras coisas, a criação de estabelecimentos de ensino superior pertencentes à iniciativa privada. Instituiu a livre-docência no país e a partir desta lei surgiram várias instituições de ensino superior. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 37
  • 38. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • A Lei Rivadavia recupera o nome Colégio Pedro II e o define como modelo do ensino Secundário no Brasil. • Esta Lei não fez nenhuma citação a preparação para o acesso ao ensino superior, da mesma forma não fortaleceu a função formativa, posto que estabelecesse o “exame de entrada” (o tão conhecido vestibular) para admissão ao ensino superior, sem a necessidade de certificado dos estudos secundários anteriores. Esse exame que ficou conhecido como exame de admissão entre qualquer nível de ensino perdurou até 1971. • Em nome da liberdade e da autonomia a Lei Rivadavia liberava o governo da sua responsabilidade pela educação, tornando esta descentralizada e independente. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 38
  • 39. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • O Desenho constava no currículo das quatro primeiras séries das seis que compunham o curso secundário. Como não havia escolas para a formação de professores, estes eram quase todos autodidatas. • O curso secundário procurava dar um cunho mais cultural ao Desenho, então procurava ministrar o estudo dos ornatos (formas decorativas) aos alunos. Mesmo existindo uma radicalização entre as escolas de correntes liberais, entre às escolas profissionais primárias e normais e as de origem evolucionista e positivista que atuavam nas escolas secundárias. Era o conflito entre as linhas da matemática e a linha da estética, a técnica e o humanismo, ligado à Escola Nacional de Belas Artes. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 39
  • 40. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • FAIXAS • DECORATIVAS • ORNATOS MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 40
  • 41. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Em 1915 é aprovada a Reforma Carlos Maximiliano que vigorou até 1925. Foi o Decreto nº 11.530, de 8 de março de 1915. • Esse novo decreto restabelecia a responsabilidade do Estado e a ação fiscalizadora do governo federal sobre o ensino secundário e o superior, respeitando a autonomia administrativa e didática das secretarias estaduais, e mantendo os exames de admissão ao ginásio e o vestibular para as escolas superiores. • O ensino da Geometria passou a ser enfatizado na escola primária com o ensino do Desenho porque nos exames de admissão exigiam prova de Geometria e não de Desenho. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 41
  • 42. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX E assim sendo estabelecido um programa específico para as aulas de Desenho: • 1. Linha reta; Polígono; • 2. Triângulo, quadrilátero, pentágono, hexágono, octógono, decágono, dodecágono, pentadecágono; • 3. Retas paralelas, perpendiculares e oblíquas; • 4. Triângulo isósceles, equilátero, retângulo; • 5. Ângulos, vértices de um ângulo, lados de um ângulo, ângulos opostos pelo vértice, bissetriz de ângulo; • 6. Quadrilátero, paralelogramo, retângulo. Losango, quadrado, trapézio; • 7. Circunferência, círculo, uso do compasso, raio, diâmetro, arco, corda, setor, segmento; • 8. Cone, cilindro, esfera. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 42
  • 43. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Os primeiros movimentos contra a intelectualização do ensino do Desenho na Escola Primária tiveram as suas manifestações com os artistas Theodoro Braga e Aníbal Mattos, que trabalhavam no ensino primário e normal. Apesar de terem ideias diferentes Theodoro se ligava a um programa baseado nas aplicações industriais e Aníbal defendia um programa de Desenho que formasse os valores estéticos. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 43
  • 44. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Outro fato que também veio corroborar com essa desmistificação do Desenho foi a criação na Escola Normal de São Paulo, a partir de 1914, dos Gabinetes de Psicologia Científica e de Psicologia Pedagógica, permitindo o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre Psicologia aplicada à educação. • Era a aplicação da pedagogia experimental no Brasil, quando pela primeira vez o desenho infantil foi considerado como uma livre expressão da criança, uma representação do seu processo mental, podendo ser investigado e interpretado. • Foi um grande feito educacional, pois apesar de ter sido iniciado em São Paulo ele passou a influenciar todo o Brasil. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 44
  • 45. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Em 1921, aconteceu a Conferência Interestadual de Ensino Primário, talvez o primeiro encontro nacional de professores do Brasil, realizado em Piracicaba-SP, sob convocação do Presidente da República Dr. Epitácio Pessoa, realizado de 12 de outubro a 16 de novembro. Durante este grande evento, foi retirado do currículo primário e normal o decorativismo, devendo todos os trabalhos passarem a serem feitos do natural, e o uso da modelagem em argila, cera, e outras massas serem aplicadas às crianças para terem a sensação material das formas. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 45
  • 46. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Como se percebe os novos valores estéticos para o desenho, principalmente da criança estavam em evolução, desde a criação dos Gabinetes de Psicologia Científica e Psicologia Pedagógica na Escola Normal de São Paulo. • Por ocasião da Semana de Arte Moderna de 1922 essas novas ideias passaram a ser reconhecidas e valorizadas como produto estético por meio do surgimento das novas tendências importadas da Europa e implantadas na cultura brasileira, como as correntes artísticas expressionistas, futuristas e dadaístas. • Entre os modernistas brasileiros, Anita Malfatti e Mário de Andrade desempenharam atividades de grande importância para a valoração estética da arte infantil e para a introdução de novos métodos de ensino de Arte baseados no deixar fazer que explorava e valorizava o expressionismo e espontaneísmo da criança, levando a uma busca e enriquecimento de modelos internos. (Barbosa, 1978, p.112). • https://www.youtube.com/watch?v=qo66TSNfEDs&t=257s • ASSIM SE FAZ ARTE MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 46
  • 47. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Tais modelos internos significavam que os desenhos deveriam ser feitos então sem copiar de nenhum modelo. As crianças passaram a desenhar evocando as imagens que já possuíam sobre um tema. Habituando- se a pensar, fazer os desenhos pelas referências do domínio do desenho – pelas ideias internalizadas, mentalizadas e evocadas. • Confirmando os novos caminhos do ensino da Arte na Educação, em que sua finalidade principal na educação infantil é que por meio dela a criança expresse seus sentimentos. Surgindo assim uma fase na Arte da Educação brasileira em que o sentimento e a expressão dominam a concepção do ensino da Arte. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 47
  • 48. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Entre os educadores brasileiros que se dedicaram e defenderam essas ideias, estão os professores Lourenço Filho, Alice Meirelles Reis e Zuleica Ferreira que lutaram para implantar essa ideia de influência na formação da personalidade do educando. • Fundamentados nos princípios de Decroly que inovara a educação técnica na Bélgica do seu departamento de Psicologia e Orientação Profissional, em 1921. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 48
  • 49. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Desde a fase anterior a 1920 e à Semana de Arte Moderna no Brasil surge uma nova realidade que suscita expectativas em relação ao ensino, ficando a década de 1920 caracterizada por discussões que reuniram os educadores do ensino secundário que promoveram o movimento denominado “escolanovista”. • O governo federal é pressionado pelo ensino secundário para que busque soluções em relação à organização e objetivo em relação à formação de adolescentes. • Para fortalecer e assegurar o movimento que era encetado por todo o país, foi aprovada a Reforma João Luís Alves, sob Decreto nº 16782-A, em 13 de janeiro de 1925. Foi a última Reforma da Educação na Primeira República. • A Reforma João Luís Alves procurava dar objetivos ao curso secundário que ultrapassasse a preparação fragmentária exigida para ingresso no curso superior. • Para fazer a implantação das reformas para o curso secundário, foi organizado o ensino seriado que visava organizar as matérias a ensinar, a definição dos dispositivos de avaliação para acesso a série seguinte e a frequência obrigatória, além de ressaltar o papel fiscalizador e normalizador do Governo Federal em relação ao ensino secundário MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 49
  • 50. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • A ESCOLA NOVA • Na década de 1930 surge no Brasil, como um dos resultantes da democratização política do país, um movimento inspirado no pensamento filosófico do americano John Dewey que visava implantar uma renovação educacional a qual foi denominada “Escola Nova” e que se opunha ao modelo pedagógico tradicional vigente. Esse movimento foi trazido para o Brasil pelos educadores Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Nereu Sampaio que influenciaram o ambiente educacional brasileiro. • Como se pode perceber o ensino da Arte tornou-se obrigatório, numa concepção de permitir que a criança expresse seus sentimentos, que a Arte não é ensinada, mas deixada fluir como liberação emocional. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 50
  • 51. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • A MÚSICA NAS ESCOLAS • A Arte estava incluída no currículo escolar como atividade de apoio ao aprendizado de outras disciplinas. E a música era vista como educação estética, com função principal de “embelezamento” e “elevação” do ser humano para a alegria das escolas. • O ensino da Música sempre passou por trajetórias lentas e reformistas, ainda mais na década de 1930 quando se instala no país uma política educacional nacionalista e autoritária visando desenvolver o espírito da “coletividade”, da “disciplina” e do “patriotismo”. • Nessa época retornava de Paris o compositor brasileiro Heitor Villa Lobos, de “estética nacionalista derivada do movimento modernista”, após haver se consagrado como compositor nos maiores centros cultural da Europa. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 51
  • 52. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Aqui chegando, Villa Lobos admirou-se do modo como a música estava sendo tratada nas escolas brasileiras então apresentou à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo um plano audacioso, revolucionário. Após trabalhar dois anos em São Paulo, Villa Lobos organizou uma grande concentração conclamando representantes de todas as classes da sociedade paulista, a qual denominou “Exortação Cívica” com a participação de quase 12 mil vozes. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 52
  • 53. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Devido a sua personalidade marcante, lutadora, exuberante e afetada, o compositor chamou para si a atenção de Getúlio Vargas, (1930-1945), que o convidou para organizar a educação musical no Brasil. E por meio do Decreto nº 19.891, de 11 de abril de 1931, liderado por Villa Lobos, foi instituído a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas primárias, secundárias e do ensino pedagógico do país, para atender aos objetivos da nova república, com implicações diretas com a política. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 53
  • 54. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • No ano de 1942 foi criado o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico no Distrito Federal, Rio de Janeiro, para dar formação especializada ao magistério para o ensino do Canto Orfeônico, promover estudos e pesquisas de musicologia brasileira, gravações de trabalhos etnográficos. • Nessa mesma época foi criada a Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA), no Distrito Federal, destinado à supervisão, orientação e implantação do programa de ensino de música, reforçando a formação dos professores para os cursos primário, ginasial e normal. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 54
  • 55. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Um novo episódio veio reabrir as antigas discussões da liberação emocional nos desenhos infantis. Foi a, exclusão de desenhos de crianças brasileiras de uma amostra de arte infantil ocorrida na Europa, por estarem impregnadas de clichês e interferências dos adultos. • Tal acontecimento levou o artista plástico Augusto Rodrigues e suas colegas Margareth Spencer e Lúcia Valentim a repensarem o processo da renovação educacional desde a década de 1930. Criaram então a Escolinha de Arte do Brasil em 1948 sob influências de Viktor Lowenfeld que rejeita a cópia de imagens por crianças, Rudolf Arnheim que uniu a Teoria Formalista à Psicologia da Gestalt numa publicação intitulada “Arte e Percepção Visual – Uma Psicologia da Visão Criadora” e Herbert Read com sua obra Educação Pela Arte. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 55
  • 56. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • A Escolinha de Arte do Brasil passou a representar o desenvolvimento da capacidade criadora. Ela expandiu-se por todo o território nacional num total de 140 e mais as que foram abertas em outros países. • A Escolinha de Arte do Brasil serviu de ponte entre o ensino da Arte como expressão e o ensino da Arte como Atividade. Ela educava por meio da arte, fazendo a livre expressão na liberdade criadora. A Escolinha colocava o foco nas distintas expressões artísticas como música, dança pintura, teatro, desenho, poesia etc. Se voltada fundamentalmente para o público infantil, porém com o passar do tempo foi aceitando também adolescentes e adultos. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 56
  • 57. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Em relação à educação musical, durante a Segunda Guerra Mundial, surgiu a partir de 1939 em São Paulo o “Grupo Música Viva”, coordenado pelo prof. Hans Joachin Koellreutter e um pequeno grupo de jovens músicos compositores cuja preocupação seria uma contribuição na revisão de dois problemas que diziam respeito ao ensino da composição musical, com a atividade musical em conjunto (incentivando a criação e formação de grupos de câmera) e com a organização de concertos para incentivar plateias, instrumentistas e compositores. • Esse movimento “Grupo Música Viva” teve o apoio de uma importante geração de compositores brasileiros, entre eles: Frutuoso Viana, Basílio Itiberê e Luís Cosme, logo no início. Depois vieram Cláudio Santoro, César Guerra Peixe, Edino Kriger, Heitor Alimonda, Eunice Katunda, Esther Scliar. E também nomes de professores que ainda atuam nos centros musicais do país como Carlos Kater, Alda Oliveira, Jamary Oliveira, Maria Teresa Alencar de Brito, Sergio Cunha e muitos outros que seguiram os conselhos do sábio professor. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 57
  • 58. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • O prof. Hans Joachin Koellreutter em 1946 apresentou um Manifesto em forma de “Declaração de Princípios” sobre cinco pontos básicos que motivavam a luta do Grupo pela música: 1 – a música como produto da vida social; 2 – a música como expressão de uma cultura e de uma época; 3 – a necessidade de se educar para a nova música; 4 – a concepção utilitária da arte; 5 – a postura revolucionária essencial. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 58
  • 59. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • No período entre 1950 e 1960 o Brasil parece estagnar nos projetos educacionais. Tudo gira em torno de fazer o Brasil um grande parque industrial, tal como vimos no final do Império para o início da República. Voltar ao ensino profissionalizante, tornar apto o brasileiro para trabalhar nas fábricas, nas construções. Construir Brasília junto com o Presidente Juscelino Kubistchek. • Surge uma nova maneira de pensar a educação, visando à preparação de homens mais competentes e produtivos. O professor torna-se um técnico responsável por um competente planejamento curricular da escola. Passa a planejar objetivos, conteúdos, estratégias, técnicas, avaliações, tudo explicitado em planos de curso e de aulas. • Nessa fase os conteúdos escolares e os métodos de ensino, são uma mistura do que foi utilizado na pedagogia tradicional e na escola nova, agora adaptados aos objetivos comportamentais utilizados no processo ensino aprendizagem da pedagogia tecnicista. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 59
  • 60. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Em relação à Educação Musical a década de 1960 foi muito influenciada pelas várias filosofias de épocas anteriores, de movimentos educacionais e estéticos, demonstrando práticas diversas, que levou ao interesse e desenvolvimento da criatividade, improvisação e da percepção auditiva. • Até 1971 o ensino da Arte continuou nesse misto de didáticas, metodologias e práticas que deixavam o aluno muito livre ou sob completa influência do professor. Tudo era válido. • Porém no dia 11 de agosto de 1971 foi sancionada pelo Presidente da República Emílio Garrastazu Médici e publicada no Diário Oficial no dia 12 de agosto de 1971, a Lei Nº 5692 que fixa Diretrizes e Bases para o Ensino de 1º e 2º Graus, e dá outras providências como novas nomenclaturas para os Art. 176 e 178 da Constituição então vigente de 1969, que acolheu esta nova Lei: MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 60
  • 61. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • § 1º - Para efeito do que dispõe os art. 176 e 178 da Constituição entende-se por ensino primário a educação correspondente ao ensino de primeiro grau e por ensino médio, o de segundo grau. (NISKIER,1971, p.18). E determinou no Art. 7º da mesma Lei: • ...a obrigatoriedade e inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus, observando quanto a primeira, Educação Moral e Cívica, o disposto no Decreto-Lei nº 869, de 12 de setembro de 1969. (NISKIER,1971, p.19). MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 61
  • 62. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Após a aprovação da nova LDB, quando o ensino tinha muita flexibilidade para os conteúdos e metodologias escolares, entramos numa fase complicada porque a nova Lei permite então muitas interpretações, exige uma polivalência do professor já que a Educação Artística então incluída no currículo vai envolver as modalidades de artes plásticas, artes cênicas e educação musical. • Como se pôde observar aconteceu uma mudança no ensino da Arte. Foi criada uma nova concepção de ensino como lazer, auto expressão e catarse. Descaracterizando a Arte como fato cognitivo, que pode ser ensinado e aprendido, indispensável à formação do educando das gerações presentes e futuras. E ao montarem os componentes curriculares, classificaram os mesmos em Disciplinas e Atividades: • 1 – Disciplinas: áreas de conhecimento com objetivos, conteúdos, metodologias e processo de avaliação específica. • 2 – Atividades: com desenvolvimento de práticas e procedimentos. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 62
  • 63. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • O Brasil estava em pleno Regime Militar, e assim as Artes passaram a ter uma função altamente ideológica, mostrando uma abertura para o trabalho criativo. Essas atividades artísticas não eram planejadas, eram apenas para cumprir a carga horária ou preparar as “festinhas” das escolas e o mais sério foi que elas podiam ser ministradas por professores de outras áreas que não compreendiam os objetivos da Arte na Educação. • E assim novamente a conceituação de ensino tecnicista da arte é implantado no Brasil, dentro de uma metodologia do “fazer artístico” simplesmente pelo fazer, sem a preocupação com a importância do desenvolvimento integral cognitivo e psicológico da criança ou do adolescente. • O ensino da Arte passou a ser apenas: –  Cantar as músicas da rotina escolar e/ou o canto pelo canto; –  Preparar apresentações artísticas e objetos para as comemorações escolares; –  Fazer a decoração escolar para as festas cívicas e religiosas. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 63
  • 64. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Devido a essas más interpretações e versões no ensino da Arte nas escolas brasileiras, algumas escolas retiraram o ensino da Educação Artística do currículo, outras deixaram em algumas séries. Os professores, porém certos da necessidade do ensino de Arte para o desenvolvimento intelectual dos educandos, se organizaram como arte/educadores e passaram a lutar politicamente para garantir a presença da Arte no currículo das escolas. • Em 20 de dezembro de 1996, os arte educadores brasileiros conquistaram o retorno, a obrigatoriedade do ensino da Arte para toda a Educação Básica, por meio da nova LDBN, de nº 9.394 que finalmente revogou os dispositivos anteriores e oficializou a concepção de que ensinar Arte é dar conhecimento, à medida que promove o desenvolvimento cultural e estético dos alunos. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 64
  • 65. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Porém o ensino da música ficou sempre ligado às demais manifestações artísticas e numa condição de responsável pelas “festinhas” da escola, não preenchendo sua verdadeira função para o desenvolvimento cognitivo, psicomotor, emocional e afetivo. Sem esquecer o estético e o cultural. • Um projeto foi apresentado como Relatório para uma nova Lei que surgiu em 21 de maio de 2008. O projeto de lei citado, que teve origem em iniciativa da Senadora Roseana Sarney, acrescenta os parágrafos 6º e 7º ao art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para tornar obrigatório o ensino de música na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), além de estabelecer que a disciplina seja ministrada por professores com formação específica. Estipulando o prazo de três anos para que os sistemas de ensino se adaptem à exigência legal. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 65
  • 66. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • A proposição foi distribuída à Comissão de Educação e Cultura, tendo como Relator o Deputado Frank Aguiar.( CÂMARA DOS DEPUTADOS, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA, PROJETO DE LEI N o 2.732, DE 2008). • Em agosto de 2008 foi aprovada a nova Lei Nº 2.732, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da Música em todo o ensino básico das escolas brasileiras, como conteúdo necessário, mas não exclusivo, do ensino de arte. • Não se ignora que a eventual aprovação deste Projeto de Lei é apenas um começo, pois é necessário cultivar o valor da arte e da música, em geral, como elemento fundamental na formação dos alunos, para além dos interesses pragmáticos imediatos de sucesso no vestibular ou de integração ao mercado de trabalho. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 66
  • 67. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Ainda são necessários muitos estudos para a implantação dessa Lei, em cada Estado, pelas associações como a ABEM e outras entidades ligadas à educação e artes. • Foi um longo caminho percorrido, cheio de lutas, vitórias, compreensões e incompreensões, mas o ensino a Arte tem mostrado a sua força na educação infantil, básica, técnica e superior do nosso país. • E se realmente as instâncias governamentais tirarem do papel tudo aquilo que está escrito no PCN –ARTE, atualizarem e motivarem os professores com formação específica ou reconhecidamente habilitados e competentes, então a Arte deixa de ser aquele assunto das elites e passa a ser da vivência de cada um. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 67
  • 68. 3- O ENSINO DA ARTE NO ALVORECER DA REPÚBLICA E DO SÉCULO XX • Então, a Arte na educação representa dar oportunidade, ao educando, de poder apropriar-se de saberes estéticos e culturais contidos na apreciação do fazer artístico e das produções artesanais, bem como de conhecer a construção de sua própria nação. Contudo, esse fato não é de todo respeitado, pois, no Brasil, a obrigatoriedade da inclusão da disciplina de Arte no currículo escolar não é levada em consideração, para dar aos estudantes, a capacidade de entender, conceber e fruir a Arte. MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 68
  • 69. REFERÊNCIAS • BARBOSA, Ana Mae. (Org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002, p.19. • BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares nacionais: arte/ Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. • NEVES, José Maria das. Música Contemporânea Brasileira. 1 ed. São Paulo: Ricordi, 1981, p.53. • NISKIER, Arnaldo. A NOVA ESCOLA .Reforma do ensino de 1º e 2º graus.2 ed. Rio de Janeiro: Bruguera, 1971, p.18-19. • Paz, Ermelinda A. Pedagogia Musical Brasileira no Século XX - Metodologias e Tendências. Brasília: Musimed, 2000, p.13-23. • SOUZA, Jusamara. Política na prática da Educação Musical nos anos trinta. In: Revista Em Pauta. Porto Alegre, v. 3, n.4, dez. 1991, p.17. • AUAD, Ronaldo. Ensino da Arte no Brasil – Tendências Pedagógicas. In www.simaodemiranda.com.br. Acesso a Internet em dezembro de 2008. • FUSARI, Maria F. de Resende e FERRAZ, Maria Heloisa C. de T. Arte na Educação Escolar. São Paulo: Cortez Editora, 1993, p.37. • OLIVEIRA, Alda de Jesus. A educação musical no Brasil: ABEM. In Revista da ABEM, Nº 1, Ano I, Maio/1992. • ZOTTI, Solange Aparecida. UnC/UNICAMP. O CURRÍCULO DO ENSINO SECUNDÁRIO E A FORMAÇÃO DAS ELITES. REPUBLICANAS www.anpuh.uepg.br/xxiii- Simposio/anais/textos/SOLANGE%20APARECIDA%20ZOTTI.pdf. (Acessado em 15 de janeiro de 2009). MARIA ANGÉLICA R. ELLERY 69
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