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Quem joga nas 11 dispensa resenhas, arrazoados. Douglas Germano é de
chutar de longe, cabecear de olhos abertos. Sabe o que desfaz. O adversário,
derrotado pelo próprio golpe de visão, vai cabisbaixo buscar a redonda, que
ainda gira sob a rede sem sair do lugar – ajeita o meião e chora sem lágrimas,
querendo ficar invisível.
Douglas se coloca então na posição do adversário, nem piedade nem exibição,
vestindo sua farda grená de goleiro: colocação de luvas e rito benzedeiro
debaixo das traves. Vem o tirambaço de média distância. Move lentamente a
cabeçaparaoladoesquerdo,observaabolabeliscarotravessão.Tirodemeta.
O Golpe não deixa retranqueiro pular faixa. Poucos comparsas neste disco,
valentia se mostra mesmo em menor número. Seu hino: plástico fino do maço
de cigarros amassado no bolso; espuma de saideira; passos estalando nas
calçadas da Vila Matilde; fantasia purpurinada de luar; mapa do tesouro
bordado em pano de cuíca.
Operário-despadrãodamúsicadoBrasil,arredioàscópiasecondescendências
de falsa humildade, não segue o jogo. Douglas Germano é um apanhador de
sonhos, que mira na sabedoria dos veteranos da Javari.
 Fez o que quis com seu Golpe de Vista.
Roberto Didio
Meu samba não fez juramento
mas serve pra me confessar.
Meu samba não é de lamento
é muito mais de atormentar.
Meu samba não porta bandeira,
meu samba não é pra rezar.
Meu samba não serve pra roda
pra outro sambista cantar.
Meu samba tem sua maneira,
meu samba é do jeito que dá
Meu samba não joga no ataque,
meu samba não sabe lançar.
Meu samba é de beira de campo:
de surdo, de nylon e ganzá.
Meu samba é juiz na gaveta
pro time da casa ganhar.
Meu samba é o couro que come
se o time de fora virar.
Meu samba é reserva que aquece
faltando 5 pra acabar.
Meu samba é quem manda na pena,
escrevo o que o samba pensar.
Meu samba é o sarro que sobra
na hora que ele atravessar.
Meu samba é o cavaquinista
quando a corda sol estourar.
Meu samba é um golpe de vista,
termina onde quer começar.
Meu samba é ruim da cabeça,
meu samba até manca pra andar.
Meu samba não faz cerimônia,
meu samba não pede pra entrar.
Meu samba é sem eira e nem beira,
meu samba se ajeita onde está.
Meu samba não vale o que pesa,
meu samba não pesa o que dá.
Meu samba é caminho sem volta
e a volta é o mundo a girar...
Meu samba é o que jorra do braço
do talho que o aço cortar.
Douglas Germano | 2013
Era linha de frente na ala de cuíca,
já viu muita cabrocha envelhecer.
O seu ronco encobria os “tarol” e as “ripa”,
no samba botava pra ferver.
No talabarte a cuíca cobria o coração,
num alguidá é que ele molhava o gorgurão.
Era linha de frente na ala de cuíca,
já viu muitos “apitador” cair.
Sua bronca era gente de classe mais rica
que vinha em fevereiro querendo sair.
Sua cuíca rugia, dizia:
— Não! “Tão” loteando
as “faixa” do nosso pavilhão.
“Nêgo”tirava:
—Semprearrumandoconfusão!
Outro calava e tirava a mesma conclusão.
Mas era Xogum Guia Cruzada
Pr’um lado Xangô, pro outro Ogum.
Você, desavisado, curtindo o seu reinado,
no “vende/compra” qualquer um...
No teu mapa da mina, o X em cada esquina
indica que tem lá mais um.
Igual a Xogum Guia Cruzada:
Oxé de Xangô na mão de Ogum.
Era linha de frente na ala de cuíca,
Anhembi, Tiradentes, São João...
Adorava contar como era bonita
a avenida antes da televisão.
Sua cuíca era ferro com ronco de trovão
Por minha parte, Xogum tava sempre
com a razão.
Douglas Germano | 2009
Douglas Germano | 2014
Cadê meu celular?
Eu vou ligar pr’um, oito, zero!
Vou entregar teu nome e explicar meu endereço.
Aqui você não entra mais, eu digo que não te conheço
e jogo água fervendo se você se aventurar.
Eu solto o cachorro e, apontando pra você,
eu grito: — Péguix x x x...
Eu quero ver você pular, você correr na frente dos “vizim”.
“Cê” vai se arrepender de levantar a mão pra mim!
E quando o “Samango” chegar
eu mostro o roxo no meu braço!
Entrego teu baralho, teu bloco de pule,
teu dado chumbado, ponho água no bule,
passo e ofereço um “cafezim”.
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim!
E quando tua mãe ligar eu capricho no esculacho:
Digo que é mimado, que é cheio de dengo,
mal acostumado, tem nada no “quengo”,
deita, vira e dorme “rapidim”...
“Cê” vai se arrepender de levantar a mão pra mim!
...porqueseadaPenhaébrava,imagineadaVilaMatilde.
Douglas Germano | 2005 – Participação especial: Gui
O Samba que eu fiz pra você, Guiomar,
agora tem o selo Iso 9000.
O samba que eu fiz pra você,
pode-se dizer que é um dos melhores do Brasil.
Tá certo que eu fiz o maestro penar um bocado
e que paguei bem pouquinho pelo resultado.
O coitado sofreu, quase teve um enfarte...
Mas o samba tem introdução e tem segunda parte.
Tá certo que eu fiz o letrista cortar o riscado
e que ainda não paguei pelo bom resultado.
Gastou uma caixa de lápis, aquele infeliz,
mas quem ouve logo acredita que fui eu que fiz.
Sou fogo, sou Rai, pedreira, trovão.
Mourão que não cai.
Malandro é que vai de cara no chão
se eu gingo pra cá e giro pra lá,
se perde em meu turbilhão.
Que de um lado caminha Ogum e
do outro caminha Iansã
e no meio, “ca” minha cruz, vou eu.
Eu nasci, mas não vou Pará.
Eu saí me deixando lá...
Fiz do olho, uma seta de Alta mira
Jogo o jogo sem pio,
hora palco, hora meio-fio,
hora rio ou derramo um rio de chorar.
Samba, quimbanda, macumba,
batucada, atabaque, zabumba...
Enluarada me visto, me entrego de cantar.
Douglas Germano | 2007
Chora não, Oxum!
De quê chorar?
Sonha, viu Oxum?...
Sem lágrima!
Hoje eu não vou deixar ninguém sofrer
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Colho os prantos, sem deixar nenhum
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Douglas Germano | 2010
No fundo do olho, um fio de esperança
No fio da navalha, o fundo do poço
No fim do caminho, puro perigo
a roda da vida não para nunca,
a dança do tempo é um desafio.
No fio de esperança tem uma navalha
No fundo do poço tem sempre um caminho
No fundo do olho tem um desafio:
a dança da vida é puro perigo,
a roda do tempo não para nunca.
Se eu cismo, me sinto à beira do abismo,
com medo da bala da vida perdida
No meio do dia, um tiro no escuro
No meio da tarde penso no futuro
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Não posso me deixar levar!
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Não quero mais sonhar a pé
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vou fazer um Samba
pra cantar num canto qualquer,
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Douglas Germano | Carlinhos Vergueiro | 1996
Douglas Germano | 1998
Temos que nos separar.
Agora é assim:
Juro que vou te encontrar
tão logo chegue o fim.
Primeiro eu vou passar
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me esquecendo...
Eu posso até te esquecer:
esqueço até de mim.
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e eu de azul.
Na quarta-feira de cinzas
Douglas Germano | Everaldo F. Silva | 2007
Polidez:
Fino trato na plateia atroz.
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Palidez:
Engomada da cabeça aos pés.
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Teu silêncio do início ao fim:
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Sisudez:
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A lacuna preenche com: “inglês”
Rejeitando quem tu és.
Avidez:
Reverência no auditório após
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Renegando-te ao algoz
Douglas Germano | 2015
Vila do Calvário, campo do Cruzeiro
foi tanta gente lá pra ver Jesus...
Nosso capitão, nossa contenção,
Só joga na bola: nunca viu cartão!
Maria, sua mãe, a lavadeira;
ria de orgulho de seu rebento:
— Jesus nunca sujou o fardamento...
Que ela bordou à mão há mais de mês:
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A Vila “tava” toda lá
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“Nêgo” apertava um atrás do bar
Verô trouxe bandeira pra enfeitar,
Leninha puxa o canto pra empurrar
Começa o jogo em pleno lê lê ô... Zeirô, Zeirô!!!
Ele grita, marca, puxa, rouba, faz a linha burra.
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— Toca fácil, André!!!
— Corre, João!!!
— Tá 2 a 1 pra nós, pros cara, só falta 1 !!!
42...
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Sem opção toca atrás pra Jesus,
que erra ao fazer um corta-luz!
Tomé, o goleirão, no “sai-não-sai”, não foi.
O centro-avante antecipou...
Gol
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E como xingaram Jesus!
E como bateram em Jesus.
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Foi tanta gente lá matar Jesus.
Cansei
De ver o melhor perder.
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De fingir liberdade.
De ver tanta ironia
invertendo a verdade.
E a verdade trancada
Com quem deveria soltar.
Cansei
Mas quem não vai se cansar?
Vendo tudo terminar
sem nem ter começado.
Sem nem ter resistido.
Sem sequer um passado.
E o futuro guardado
Com que quer nos guiar.
Tanta solidão,
tanta servidão!
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Tanta ingratidão,
tanta incompreensão...
E a gente mais perto
do que nunca quis.
Douglas Germano | 1995
Douglas Germano | 1995
Um samba que fale das coisas do mundo.
Um samba que ninguém precisa explicar.
Há de vir com a simplicidade
de qualquer amor,
de qualquer suor,
de qualquer dor, dessas de verdade!
Há de vir carregado de história de vida e de morte.
Há de vir no garrancho das mãos calejadas que há por aí.
Há de vir com a simplicidade
de quem tem paixão,
de quem não tem vez,
de uma cicatriz feita de verdade.
Há de vir carregado de história,
há de vir carregado de mágoa...
Vai ser feito de lama: que molda, que quebra,
mas nunca se acaba.
Gravado em Bueno Estúdio | Santo André | 11/2015
Técnico de Som | Mixagem e Masterização: Nandu Valverde
Faixa “Golpe de Vista”
Gravada por Guilherme Ramos em SP | 2014
Direção de arte: Deiverson Ribeiro
Imagens: Arnon Gonçalves
Agradecimentos
Darkon Vieira Roque,
Eliane Weinfurter, Ildo Silva, João Poleto, Stela Handa, Pedruska, Guima Ramos, Deiverson, Nandu Valverde,
Dênia, Vat, Diego, José, Rai, Márcia, Marimari, Stefânia Gola, Rafa Y Castro, Júlio César, Juliana Amaral,
Roberto Didio, Renato Martins, Everaldo F. Silva, Maysa Aguiar, Carlinhos Vergueiro, Rubão.
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Violão, cavaquinho e percussão | Douglas Germano
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Encarte - Douglas Germano

  • 1.
  • 2. Quem joga nas 11 dispensa resenhas, arrazoados. Douglas Germano é de chutar de longe, cabecear de olhos abertos. Sabe o que desfaz. O adversário, derrotado pelo próprio golpe de visão, vai cabisbaixo buscar a redonda, que ainda gira sob a rede sem sair do lugar – ajeita o meião e chora sem lágrimas, querendo ficar invisível. Douglas se coloca então na posição do adversário, nem piedade nem exibição, vestindo sua farda grená de goleiro: colocação de luvas e rito benzedeiro debaixo das traves. Vem o tirambaço de média distância. Move lentamente a cabeçaparaoladoesquerdo,observaabolabeliscarotravessão.Tirodemeta. O Golpe não deixa retranqueiro pular faixa. Poucos comparsas neste disco, valentia se mostra mesmo em menor número. Seu hino: plástico fino do maço de cigarros amassado no bolso; espuma de saideira; passos estalando nas calçadas da Vila Matilde; fantasia purpurinada de luar; mapa do tesouro bordado em pano de cuíca. Operário-despadrãodamúsicadoBrasil,arredioàscópiasecondescendências de falsa humildade, não segue o jogo. Douglas Germano é um apanhador de sonhos, que mira na sabedoria dos veteranos da Javari.  Fez o que quis com seu Golpe de Vista. Roberto Didio
  • 3. Meu samba não fez juramento mas serve pra me confessar. Meu samba não é de lamento é muito mais de atormentar. Meu samba não porta bandeira, meu samba não é pra rezar. Meu samba não serve pra roda pra outro sambista cantar. Meu samba tem sua maneira, meu samba é do jeito que dá Meu samba não joga no ataque, meu samba não sabe lançar. Meu samba é de beira de campo: de surdo, de nylon e ganzá. Meu samba é juiz na gaveta pro time da casa ganhar. Meu samba é o couro que come se o time de fora virar. Meu samba é reserva que aquece faltando 5 pra acabar. Meu samba é quem manda na pena, escrevo o que o samba pensar. Meu samba é o sarro que sobra na hora que ele atravessar. Meu samba é o cavaquinista quando a corda sol estourar. Meu samba é um golpe de vista, termina onde quer começar. Meu samba é ruim da cabeça, meu samba até manca pra andar. Meu samba não faz cerimônia, meu samba não pede pra entrar. Meu samba é sem eira e nem beira, meu samba se ajeita onde está. Meu samba não vale o que pesa, meu samba não pesa o que dá. Meu samba é caminho sem volta e a volta é o mundo a girar... Meu samba é o que jorra do braço do talho que o aço cortar. Douglas Germano | 2013
  • 4. Era linha de frente na ala de cuíca, já viu muita cabrocha envelhecer. O seu ronco encobria os “tarol” e as “ripa”, no samba botava pra ferver. No talabarte a cuíca cobria o coração, num alguidá é que ele molhava o gorgurão. Era linha de frente na ala de cuíca, já viu muitos “apitador” cair. Sua bronca era gente de classe mais rica que vinha em fevereiro querendo sair. Sua cuíca rugia, dizia: — Não! “Tão” loteando as “faixa” do nosso pavilhão. “Nêgo”tirava: —Semprearrumandoconfusão! Outro calava e tirava a mesma conclusão. Mas era Xogum Guia Cruzada Pr’um lado Xangô, pro outro Ogum. Você, desavisado, curtindo o seu reinado, no “vende/compra” qualquer um... No teu mapa da mina, o X em cada esquina indica que tem lá mais um. Igual a Xogum Guia Cruzada: Oxé de Xangô na mão de Ogum. Era linha de frente na ala de cuíca, Anhembi, Tiradentes, São João... Adorava contar como era bonita a avenida antes da televisão. Sua cuíca era ferro com ronco de trovão Por minha parte, Xogum tava sempre com a razão. Douglas Germano | 2009
  • 5. Douglas Germano | 2014 Cadê meu celular? Eu vou ligar pr’um, oito, zero! Vou entregar teu nome e explicar meu endereço. Aqui você não entra mais, eu digo que não te conheço e jogo água fervendo se você se aventurar. Eu solto o cachorro e, apontando pra você, eu grito: — Péguix x x x... Eu quero ver você pular, você correr na frente dos “vizim”. “Cê” vai se arrepender de levantar a mão pra mim! E quando o “Samango” chegar eu mostro o roxo no meu braço! Entrego teu baralho, teu bloco de pule, teu dado chumbado, ponho água no bule, passo e ofereço um “cafezim”. Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim! E quando tua mãe ligar eu capricho no esculacho: Digo que é mimado, que é cheio de dengo, mal acostumado, tem nada no “quengo”, deita, vira e dorme “rapidim”... “Cê” vai se arrepender de levantar a mão pra mim! ...porqueseadaPenhaébrava,imagineadaVilaMatilde.
  • 6. Douglas Germano | 2005 – Participação especial: Gui O Samba que eu fiz pra você, Guiomar, agora tem o selo Iso 9000. O samba que eu fiz pra você, pode-se dizer que é um dos melhores do Brasil. Tá certo que eu fiz o maestro penar um bocado e que paguei bem pouquinho pelo resultado. O coitado sofreu, quase teve um enfarte... Mas o samba tem introdução e tem segunda parte. Tá certo que eu fiz o letrista cortar o riscado e que ainda não paguei pelo bom resultado. Gastou uma caixa de lápis, aquele infeliz, mas quem ouve logo acredita que fui eu que fiz.
  • 7. Sou fogo, sou Rai, pedreira, trovão. Mourão que não cai. Malandro é que vai de cara no chão se eu gingo pra cá e giro pra lá, se perde em meu turbilhão. Que de um lado caminha Ogum e do outro caminha Iansã e no meio, “ca” minha cruz, vou eu. Eu nasci, mas não vou Pará. Eu saí me deixando lá... Fiz do olho, uma seta de Alta mira Jogo o jogo sem pio, hora palco, hora meio-fio, hora rio ou derramo um rio de chorar. Samba, quimbanda, macumba, batucada, atabaque, zabumba... Enluarada me visto, me entrego de cantar. Douglas Germano | 2007
  • 8. Chora não, Oxum! De quê chorar? Sonha, viu Oxum?... Sem lágrima! Hoje eu não vou deixar ninguém sofrer Não quero ver a minha Oxum chorar Colho os prantos, sem deixar nenhum para lhe acordar. Douglas Germano | 2010
  • 9. No fundo do olho, um fio de esperança No fio da navalha, o fundo do poço No fim do caminho, puro perigo a roda da vida não para nunca, a dança do tempo é um desafio. No fio de esperança tem uma navalha No fundo do poço tem sempre um caminho No fundo do olho tem um desafio: a dança da vida é puro perigo, a roda do tempo não para nunca. Se eu cismo, me sinto à beira do abismo, com medo da bala da vida perdida No meio do dia, um tiro no escuro No meio da tarde penso no futuro Começo da noite, “tô” meio desnorteado. Não posso me deixar levar! Angustia, solidão sem fé. Não quero mais sonhar a pé Pela madrugada, vou fazer um Samba pra cantar num canto qualquer, esperando o dia raiar. Douglas Germano | Carlinhos Vergueiro | 1996
  • 10. Douglas Germano | 1998 Temos que nos separar. Agora é assim: Juro que vou te encontrar tão logo chegue o fim. Primeiro eu vou passar e você, depois de mim, vai, por ser tão bela, distrair corações por aí, me esquecendo... Eu posso até te esquecer: esqueço até de mim. Mas, já tomei meu lugar e vou até o fim. e, quando tudo acabar, naquele butiquim, a gente se encontra: Você de verde e branco e eu de azul. Na quarta-feira de cinzas
  • 11. Douglas Germano | Everaldo F. Silva | 2007 Polidez: Fino trato na plateia atroz. O aplauso satisfeito à vez De quem cala a tua voz. Palidez: Engomada da cabeça aos pés. O discurso prega sensatez, Condenando-te ao revés Outra vez, holofotes à evolução. Teu espanto diz que “não”, é “sim”! Um cinismo sem igual... Sem ‘talvez’, o sucesso à disposição. Teu silêncio do início ao fim: Invenção gerencial Sisudez: Embalando a tese e o viés. A lacuna preenche com: “inglês” Rejeitando quem tu és. Avidez: Reverência no auditório após aclamarem o bem do freguês, Renegando-te ao algoz
  • 12. Douglas Germano | 2015 Vila do Calvário, campo do Cruzeiro foi tanta gente lá pra ver Jesus... Nosso capitão, nossa contenção, Só joga na bola: nunca viu cartão! Maria, sua mãe, a lavadeira; ria de orgulho de seu rebento: — Jesus nunca sujou o fardamento... Que ela bordou à mão há mais de mês: Jesus, camisa 33 A Vila “tava” toda lá Cachorro, moleque, malandro e batucada “Nêgo” apertava um atrás do bar Verô trouxe bandeira pra enfeitar, Leninha puxa o canto pra empurrar Começa o jogo em pleno lê lê ô... Zeirô, Zeirô!!! Ele grita, marca, puxa, rouba, faz a linha burra. Antecipa, rasga, lança, fala com o juiz. Jesus dá sermão no meio campo: — Chega, Pedro! — Toca fácil, André!!! — Corre, João!!! — Tá 2 a 1 pra nós, pros cara, só falta 1 !!! 42... Pedro domina marcado. Sem opção toca atrás pra Jesus, que erra ao fazer um corta-luz! Tomé, o goleirão, no “sai-não-sai”, não foi. O centro-avante antecipou... Gol E como culparam Jesus... E como xingaram Jesus! E como bateram em Jesus. Vila do Calvário, Campo do Cruzeiro: Foi tanta gente lá matar Jesus.
  • 13. Cansei De ver o melhor perder. De ver o fraco morrer. De fingir liberdade. De ver tanta ironia invertendo a verdade. E a verdade trancada Com quem deveria soltar. Cansei Mas quem não vai se cansar? Vendo tudo terminar sem nem ter começado. Sem nem ter resistido. Sem sequer um passado. E o futuro guardado Com que quer nos guiar. Tanta solidão, tanta servidão! E a gente cada dia mais feliz... Tanta ingratidão, tanta incompreensão... E a gente mais perto do que nunca quis. Douglas Germano | 1995
  • 14. Douglas Germano | 1995 Um samba que fale das coisas do mundo. Um samba que ninguém precisa explicar. Há de vir com a simplicidade de qualquer amor, de qualquer suor, de qualquer dor, dessas de verdade! Há de vir carregado de história de vida e de morte. Há de vir no garrancho das mãos calejadas que há por aí. Há de vir com a simplicidade de quem tem paixão, de quem não tem vez, de uma cicatriz feita de verdade. Há de vir carregado de história, há de vir carregado de mágoa... Vai ser feito de lama: que molda, que quebra, mas nunca se acaba.
  • 15. Gravado em Bueno Estúdio | Santo André | 11/2015 Técnico de Som | Mixagem e Masterização: Nandu Valverde Faixa “Golpe de Vista” Gravada por Guilherme Ramos em SP | 2014 Direção de arte: Deiverson Ribeiro Imagens: Arnon Gonçalves Agradecimentos Darkon Vieira Roque, Eliane Weinfurter, Ildo Silva, João Poleto, Stela Handa, Pedruska, Guima Ramos, Deiverson, Nandu Valverde, Dênia, Vat, Diego, José, Rai, Márcia, Marimari, Stefânia Gola, Rafa Y Castro, Júlio César, Juliana Amaral, Roberto Didio, Renato Martins, Everaldo F. Silva, Maysa Aguiar, Carlinhos Vergueiro, Rubão. Gui e Tantan: meu amores. SP, 2016 FORA TEMER! Violão, cavaquinho e percussão | Douglas Germano Flauta, Sax | João Poleto Trombone | Pedro Moreira Coro Tânia Viana, Dênia Campos, Negravat, Márcia Fernandes, Railídia, Mariana Laura, Diego Maurílio, José