O documento apresenta várias canções e poemas do poeta popular setubalense António Augusto Gravatinha, que viveu no início do século XX. As obras abordam temas locais como a inauguração da eletricidade em Setúbal e lugares como o Campo do Bomfim, e incluem observações sobre costumes e expressões populares da região de Setúbal da época.
17. V A I D A D E !!! QUADRA Está tudo desgraçado Cá no nosso Portugal, As mulheres quasi nuas, É uma vaidade geral. DÉCIMAS Nunca vi uma coisa assim, É mesmo um louvar a Deus, Fazerem os pobres plebeus, Fazerem cruzes sem fim. As damas com seu quindin. Inebriam o Zé pasmado Por elas ilucidado Vai no bote, cae na rede. Do amôr fazem parede, Está tudo desgraçado. Deusas da provocação, Cumulos da falsidade, Com a tolice e a vaidade, Nem sabem andar pelo chão. Empoadas até mais não, Até às vezes cheiram mal, Querem tanto que afinal, Arruinam a saúde, É esta a bôa atitude, Cá no nosso Portugal. Elas andam mesmo em braza, A verdade é nua e crua, Quem as vê ahi p´la rua, Não diz o que são em casa. Levam sempre grão na aza, Enchem-se de falcatruas, E então fazem das suas, Tratam pois de se pintarem, Para os homens enganarem, As mulheres quasi nuas. Dizem que é p´ra economia, E p´ra andarem mais fresquinhas E se mostram as perninhas, É p´ra terem simpatia. Quer de noite quer de dia, É poema triunfal, É costume habitual, Assim é que manda a moda. Na baixa e na alta roda, É uma vaidade geral.
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19. FRASES SETUBALENSES QUADRA Setúbal tem bôas frases, Algumas eu vou citar, P´ró costume não perder, Não deixo de criticar. DÉCIMAS Continuando a lenga-lenga, “ Comigo ninguém se mete”, Dizem ainda, grande frete, Nesta língua flamenga. Sem um dito nem arenga, Assim se fazem as pazes, “ Cuidado rapaz não cases”, Também se costuma dizer, Para ouvir e aprender, Setúbal tem bôas frases. Frazes de prima o cartel, Que às vezes trazem azares, Eis uma das mais vulgares: “ Ti Maria e Ti Manel”. Palavriado a granel, E linguado a fartar, E uma coisa de pasmar, Palavrinhas com richaço. Aqui em curto espaço, Algumas eu vou citar. Propondo a lei do Selo A todos os fideltras pêcos, É frase dos papos-sêcos: “ Joãosinho vai ao gelo”. Decerto não tem apêlo, Frazes, modas a valer, Já não se ouve dizer: “ O qué couve; antão que há”. “ Diz-se às vezes, ahi pá!...” P´ró costume não perder. E para que tudo acabe, Nesta lida tão perversa, Para pôr termo à conversa, “ Diz-se então: já se sabe”. Para que ninguém se gabe, “ Diz-se logo: põe-te a cavar”, “ Ou ver se tem água o mar”, “ Ou então vae ver se chove”. Não havendo quem me estorve, Não deixo de criticar.
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23. L.N. 2008 FIM (Música de Fado de Autor desconhecido) [email_address]