1. UNIVERSIDADE CAMILO CASTELO BRANCO
Licenciatura em Artes Visuais
Identidade Surda: Cultura e Língua de Sinais.
Setembro/2012
2. UNIVERSIDADE CAMILO CASTELO BRANCO
Licenciatura em Artes Visuais
Identidade Surda: Cultura e Língua de Sinais.
Trabalho apresentada como
exigência parcial do Curso
de Artes Visuais, matutino,
da disciplina de Linguagem
brasileira de sinais, sob
orientação da Professora
Daniela Silva Klemp.
Setembro/2012
Introdução
3. Este artigo falará a respeito de dois tipos de Surdez á pré-lingüística e a pós-
lingüística também falará sobre a importância da Cultura Surda e o uso da
Língua de Sinais nesse processo. Sabendo que o desenvolvimento auditivo é
o processo pelo qual a criança aprende a reconhecer e compreender os sinais
auditivos existentes no ambiente. Sendo assim, a criança ouvinte desenvolve
espontaneamente a sua comunicação, propiciando uma interação automática
com o meio em que está inserida. Por outro lado, a criança surda tornar-se-á
prejudicada no seu desenvolvimento comunicativo por não ter acesso às
informações auditivas que são importantes para a aquisição da fala e da
linguagem. Desta forma, se faz necessário o uso de uma amplificação
adequada, tão logo o problema auditivo seja detectado.
Falará também sobre A despeito de os surdos não terem dúvidas quanto a
suas identidades culturalmente distintas, as pessoas não-surdas têm muita
dificuldade em admitir que os surdos têm processos culturais específicos,
então, muitos continuam a tratar os surdos apenas como um grupo de
deficientes ou incapacitados. Este texto trata da existência da cultura surda,
cultura esta geralmente desconhecida e ignorada, tida como uma cultura
patológica, uma sub-cultura ou não-cultura. Estas representações geralmente
embasam as perspectivas comuns nas quais os surdos são narrados de forma
negativa, como se fossem menos que “normal”. “Cultura”, neste texto, é
definida como um campo de forças subjetivas que dá sentido(s) ao grupo. É
através das interpretações baseadas na cultura majoritária que, na construção
social da surdez, ocorre a valorização do modelo ouvinte, principalmente no
processo educativo dos surdos. Trata-se de uma imposição subjetiva (às vezes
até objetiva) sobre as identidades dos surdos, sobre sua subjetividade, sobre
sua auto-imagem, ou seja, poderes são exercidos para influenciar os surdos a
perderem sua identidade de surdo, para que sua diferença seja assimilada,
disfarçada, torne-se invisível. As culturas são recriadas em função de cada
grupo que nelas se inserem. Os surdos são um grupo minoritário que está
lutando para que sua cultura seja incluída, no contexto social, como legítima.
Assim, neste embate, a cultura dos surdos se recria todos os dias, mas é
desconhecida e ignorada, como uma forma de abafar o que é vivido e visto.
Como o problema da surdez está localizado num corpo individual, a taxonomia
médica é reproduzida e assegurada, perpetuando interpretações da surdez
4. enquanto a experiência de uma falta ou enquanto uma incapacidade ou
deficiência. A despeito de a surdez ser algo comum, a cultura surda é vista
como “uma espécie exótica cuja identidade é destinada a decair e a
desaparecer”.
Desenvolvimento
Os dois tipos de surdez a pré lingüística e a pós lingüística
5. Quando se faz uma pesquisa relativa à surdez é necessário, também,
considerar em que fase da vida ela se manifestou, ou seja, antes da formação
da linguagem – surdez pré-linguística – ou depois da aquisição da linguagem –
surdez pós-linguística. Considerar estas etapas se faz necessário, pois, a
linguagem possui um papel determinante, conforme Vigotski (2005), no
desenvolvimento do pensamento e, portanto, na compreensão do mundo.
Deste modo, um surdo pós-linguístico ainda possui experiências e imagens
auditivas para recorrer, facilitando suas interações com o meio ambiente, o que
não acontece com um sujeito surdo pré-linguístico.
Sacks (1998) relata as vozes e sons “fantasmagóricos” que algumas pessoas
com surdez pós-linguística pensam ouvir. O autor explica que este fato decorre
em função das experiências e associações auditivas anteriores. De modo
semelhante, é possível compreender como pessoas acidentadas ainda sentem
o membro amputado. Acrescenta ainda: “Não se trata de imaginar no sentido
usual, mas de uma tradução instantânea e automática da experiência visual
para uma experiência auditiva correlata. Da mesma forma, acontece com
ouvintes e falantes quando estes imaginam alguém falando, há uma voz
concebida na mente. Porém, parece muito difícil para uma pessoa surda pré-
linguística conceber este tipo de voz ou som, uma vez que ela não tem o
mínimo entendimento de como seria um som, tão pouco, o imagina. Vivem,
assim, num mundo de absoluto silêncio, sem perspectivas sonoras.
Serão essas pessoas, os surdos pré-linguísticos, o foco desta reflexão,
considerando aqui o objetivo desta investigação, para tanto, faz-se necessário
abordar e esclarecer características deste sujeito, pois, pode haver uma
dificuldade para os ouvintes e falantes em compreender a surdez em toda sua
complexidade.
Sacks (1998) diz que as pessoas tendem a avaliar a surdez como um
incômodo ou uma desvantagem, “mas quase nunca como algo devastador,
num sentido radical.” (p.22). A vista disto, os ouvintes tendem a considerar a
surdez menos grave do que a cegueira, porém, conforme o autor, a surdez
pode se tornar extremamente grave, pois, os surdos pré-linguísticos podem
sofrer danos irreversíveis se sua linguagem não for suficientemente trabalhada,
6. de modo a atender suas capacidades e necessidades intelectuais, do contrário
parecerão “deficientes mentais”
Construção da Identidade Surda: Cultura Surda e Língua de Sinais
7. A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – recebeu o status de L1, ou seja,
primeira língua da minoria surda brasileira através da Lei 10.436 de 24 de abril
de 2002. Fato que se deu pelo esforço e conquista da comunidade surda no
Brasil, após anos de empenho em prol do reconhecimento de sua língua
materna diante da língua majoritária de nosso país – o Português. Porém, este
percurso não se deu de maneira pacífica, mas com resistência. Marcado entre
outras coisas pela diferença. Sobre a diferença diz Skliar (2010, p. 6):
A diferença, como significação política, é construída historicamente e
socialmente; é um processo e um produto de conflitos e movimentos sociais,
de resistência as simetrias de poder e de saber, de outra interpretação sobre a
alteridade e sobre o significado dos outros no discurso dominante.
Como bem colocou o autor citado, esta construção histórica da diferença como
significação política ocorreu com os movimentos empreendidos entre as
décadas de 1950 à 1960. Partiu primeiramente como iniciativa de
pesquisadores ouvintes, que tinham como objetivo a observação do modo
próprio de ser dos surdos e de sua maneira específica de comunicação e
interação com seus pares.
Posteriormente, a partir da década de 1980, os próprios surdos se mobilizaram
na defesa de seus direitos como o respeito a sua cultura, sua língua e sua
cosmo visão. Assim, o movimento surdo foi ganhando força e abrindo espaço
através de pesquisadores, desta feita, empreendidas por alguns líderes surdos
(BURKE , 2005).
Strobel ressalta que mais do que apenas o reconhecimento à “diferença
cultural do povo surdo”, é necessário aos ouvintes perceberem “a cultura surda
através do reconhecimento de suas diferentes identidades, suas histórias, suas
subjetividades, suas línguas, valorização de suas formas de viver e de se
relacionar” (STROBEL, 2008, p.11). Constata-se, porém, que na sociedade
brasileira, assim como em outras em todo o mundo, há um desconhecimento
no que se refere não só à cultura, mas também à língua utilizada pela
comunidade surda. E esse desconhecimento faz com que muitos concebam os
sinais como mímica gestual ou uma forma de imitação de outra língua, sem
estatuto de língua. O não conhecimento da língua de sinais como língua natural
8. dos surdos contribui para gerar uma série de falsos conceitos, como considerar
que indivíduos surdos são inferiores.
Conclusão
9. A identidade pode ser evocada tanto pelo próprio indivíduo, como pelo grupo
do qual faz parte. A palavra utilizada no momento encontra-se no plural–
identidades. Portanto, temos várias identidades, a depender do papel que
desempenhamos no grupo que estamos inseridos. Foi a partir destas
constatações, que se desenvolveu a analise do processo de busca da
comunidade surda por sua própria identidade e respeito a sua cultura, a partir
do discurso da escritora surda Strobel (2008), a qual deixa clara a importância
da língua de sinais como uma das principais marcas da identidade surda.
Embora o movimento surdo tenha iniciado na década de 1960, ou seja, há 40
anos, percebe-se que ainda hoje o desconhecimento da sua cultura, e língua
ainda é uma realidade em alguns estados brasileiros. A literatura na área da
Antropologia sobre o tema é escassa se compararmos a outros temas.
Geralmente a maior parte desta literatura encontra-se na área educacional,
com a abordagem do tema deficiência. Acredito que a abordagem do tema
identidade surda não é relevante e de interesse apenas para os surdos, mas
principalmente para que nós, ouvintes do meio acadêmico, possamos conhecer
melhor este discurso identitário e reivindicação ao reconhecimento da cultura
surda. Trazendo este novo “nativo” que surge na pósmodernidade – o surdo,
temos o interesse de nos aprofundarmos melhor neste tema e assim contribuir
na pesquisa antropológica da atualidade.
Referências bibliográficas
10. SKLIAR, de Carlos de. (Org.) A surdez: um olhar sobre a diferença. 4ª ed.
Porto Alegre: Mediação, 2010.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1998.
BOTELHO, Paula. Linguagem e Letramento na Educação dos Surdos. Belo
Horizonte: Autêntica, 2002.
SACKS, Oliver. Vendo vozes. Uma viagem ao mundo dos surdos. Ed.
Companhia das letras, São Paulo, 1998. Tradução: Laura Teixeira Motta.