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1. TEMA: 6. Regulação, Comercialização, Meio Ambiente e Sustentabilidade
A IMPLANTAÇÃO DE UM PARQUE EÓLICO E A DESCOBERTA DE SÍTIOS
ARQUEOLÓGICOS
Almir do Carmo Bezerra
Diretor-Presidente / ANX Engenharia e Arqueologia LTDA
Rua Antônio Curado, nº937, CEP: 50730-180, Recife-PE
anx@anxengearq.com.br , arqueologia@anxengearq.com.br
Palavras-chave: Licenciamento Ambiental, Arqueologia Preventiva, Resgate de Sítios
Arqueológicos.
INTRODUÇÃO
Durante um diagnóstico realizado em 2014 a equipe de Arqueologia entrou cinco sítios
arqueológicos na área de implantação de um parque eólico, então em 2016 a ANX Engenharia e
Arqueologia foi a responsável pelo resgate desse patrimônio. Portanto, esta pesquisa arqueológica
tem sido norteada pelo objetivo de resgatar dados do registro arqueológico, artefatos, vestígios de
atividade antrópica em contextos deposicionais específicos (área de dunas) que possibilitasse a
construção de um quadro de referência quanto as ocupações humanas em termos espaço-temporais
e culturais.
Portanto, a atividade de campo realizada na área correspondente ao empreendimento eólico,
na forma de resgate arqueológico auxiliou na compreensão da ocupação pretérita nesse espaço
geoambiental que compreende a zona rural do atual município de Itarema-CE. As informações
adquiridas no estudo puderam indicar quais eram as formas de sobrevivência, estratégias de ação,
comunicação e expressão antrópica em períodos bem recuados. Assim como, estabelecer marcos
cronológicos que poderiam estar associados aos remanescentes culturais dos índios Tremembé
atualmente situados no povoado de Almofala no mesmo município.
Pesquisas como esta tem sido alavancadas devido ao licenciamento ambiental em parques
eólicos, já que com o advento de grandes obras no Brasil, sobretudo, voltadas ao setor elétrico na
região Nordeste, observa-se um completo quadro evolutivo das pesquisas arqueológicas executadas
na região. Anteriormente, a grande maioria dos pesquisadores dedicava-se primordialmente ao
desenvolvimento de pesquisas de cunho acadêmico.
Dentre os tipos de empreendimentos no Brasil que mais demandam sessas pesquisas são os
parques eólicos e consequentemente associados a energia gerada por eles estão os licenciamento das
linhas de transmissão, considerando-se a quantidade de portarias autorizativas emitidas pelo órgão
fiscalizador o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) nos últimos anos.
OBJETIVOS
O objetivo deste artigo é propor algumas reflexões em torno do tema Arqueologia Preventiva
nas áreas de implantação dos parques eólicos abordando um caso concreto evidenciado durante um
resgate no estado do Ceará.
Além disso, mostrar ao público em geral quais as etapas de campo e a complexidade que
cercam um resgate de vestígios arqueológicos, assim como produzir conhecimento sobre a História
da ocupação humana pretérita nas áreas dunares do município de Itarema - CE, com base no
conjunto de vestígios culturais que compõem os registros arqueológicos.
MÉTODOS E RESULTADOS
Nos estados do Nordeste, sobretudo, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, tem-
se observado uma grande quantidade de vestígios arqueológicos recuperados desde o advento da
comercialização da energia eólica. O Município de Itarema tem área total de 738,40km² e situa-se
na região litorânea norte do estado do Ceará. Limita-se ao norte com o Oceano Atlântico e o
município de Acaraú; ao sul com os municípios de Acaraú e Amontada; a leste com o município de
Amontada e a oeste também com o município de Acaraú. Está distante 220 km da capital Fortaleza.
O contexto dessas pesquisas arqueológicas indica a presença de sítios localizados em áreas de
estuários, nas regiões da planície litorânea de Sabiaguaba; na foz do Rio Jaguaribe; planície costeira
de Jericoacoara; município de Trairi; vale do Cariri; município de Mauriti; na Serra de Baturité; na
localidade de Taperuaba; e nos municípios de Taua, Viçosa do Ceará e Granja. Durante a
prospecção arqueológica de superfície na ADA (Área Diretamente Afetada) pelo Complexo Eólico
Pedra Cheirosa no município de Itarema-CE, empreendimento de responsabilidade da CPFL
Renováveis, foram identificados vestígios arqueológicos de atividade humana pretérita, que
compunha cinco Sítios Arqueológicos denominados: Lagoa; Correntes; Morro dos Patos; Rocha e
Patos I.
Foto 01 – Sítio arqueológico nas dunas de Itarema-CE
Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016
Sabe-se que o território cearense antes da ocupação colonial era habitado por diversos grupos
indígenas. No capítulo do Livro III dos Desagravos do Brasil e Glórias de Pernambuco capítulo X,
obra oferecida ao Marquês em 1757, registrados entre os diversos povos estavam os Tremembé. No
capítulo que tem por epígrafe “Relação das Aldeias povoadas de índios que estão situadas nas
Capitanias de Pernambuco”, diz ele: “As do Ceará são as Aldeias dos Tramambés, Caucaia,
Parangaba, Paupina, Paiacu no distrito da Vila dos Aquiraz, Palma na Ribeira do Quixeramobim,
Aldeia Velha na Ribeira do Quixelou, Aldeia do Miranda, Cariris Novos, e Aldeia da Serra da
Ibiapava na Ribeira do Acaracu” [1].
Os Tremembé, segundo Studart Filho [2] , eram migrantes e já perambulavam nas
proximidades dos rios Camocim e Parnaíba, eventualmente estendendo os passos até a foz do
Itapicuru. Ainda, havia uma forte presença dessas tribos nas praias do Meio - Norte entre Lençóis e
Almofala, e algumas notícias de ocupação nos manguezais que cobrem o delta do Parnaíba e
margeiam o baixo curso dos rios Timonha, Camocim e Acaraú. Segundo Pompeu Sobrinho [3], os
Tremembés acabaram compondo a área litorânea composta pelos atuais estados do Maranhão e
Piauí, além do Ceará. No encontro desses limites pela costa, essa etnia tinha como subsistência as
atividades ligadas principalmente à pesca, à coleta e à caça, além do comércio realizado com outros
grupos indígenas e com os estrangeiros que aportavam nas suas praias para negociações.
Durante o século XVIIII acentuou-se o interesse dos portugueses de ocupar o território
cearense, com a criação de gado, o que intensificou o surgimento de numerosas fazendas de gado
para suprir as demandas do mercado interno abastecendo, de sobremaneira, regiões confinantes
como Pernambuco e Maranhão. Esse processo de ocupação dos sertões pelo gado foi ocasionado
pela necessidade de manter distantes das faixas litorâneas destinadas, fundamentalmente, ao cultivo
da cana, a agricultura, da criação de gado e outras atividades como a pecuária.
Buscando remanescentes desse período, a atividade de campo realizada na área
correspondente ao empreendimento, na forma de caminhamento; abertura de sondagens e
trincheiras auxiliou na compreensão da ocupação pretérita do espaço geoambiental que compreende
as proximidades do atual município de Itarema, que contava apenas com poucos sítios no Cadastro
Nacional de Sítios Arqueológicos – CNSA do IPHAN.
A escavação arqueológica foi orientada pelo método desenvolvido por Sir Robert Eric
Mortimer Wheeler, devidamente adaptado. Para Wheeler [4], uma escavação em área deve seguir
uma série de parâmetros, dentre eles destacam-se: ser clara e convenientemente subdivisível para
realizar o registro e manter o controle; ser capaz de se estender progressiva e facilmente em
qualquer direção e ser capaz de conservar até o fim da escavação os cortes verticais, para uma
referência constante.
Foto 02 – Escavação por trincheira
Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016
A grande maioria dos exemplares de cultura material que foram resgatados nos sítios
dispostos na ADA foi composta primordialmente por conjuntos de artefatos líticos e cerâmicos.
Estes são universalmente encontrados, sendo os mais numerosos vestígios que indicam a ocupação
humana pretérita, em sítios arqueológicos pré-coloniais e coloniais no território brasileiro. Todos
foram levados e analisados no laboratório onde o arqueólogo realiza o tombamento das peças, a
higienização e análise dos materiais.
Complementarmente e buscando ampliar e tornar mais ágil a experiência de conhecer e
entender as diversas facetas de nosso patrimônio cultural, tentou-se estimular a realização de uma
oficina interativa com a comunidade, abordando temas que envolvam a identificação de bens
patrimoniais como uma das etapas da pesquisa.
Educar para e pelo patrimônio cultural é extremamente necessário para desmistificar o
universo do patrimônio cultural, muitas vezes tratado como assunto para “especialistas” e distante
do cotidiano, a oficina de Educação Patrimonial voltado à formação do público sobre este tema com
exemplos, casos e situações dos quais o patrimônio cultural pode integrar o contexto educativo.
Fotos 03 e 04 – Visita guiada dos alunos ao sítio resgatado e oficina de pintura
Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016
TABELA 01 – Relação dos Sítios Arqueológicos Resgatados
NOME DO SÍTIO MUNICÍPIO PONTO CENTRAL
(COORDENADAS – UTM)
Sítio da Lagoa Itarema - CE 24 M 416713 / 9669881
Sítio Correntes Itarema - CE 24 M 416728 / 9670357
Sítio Morro dos Patos Itarema - CE 24 M 417647 / 9669204
Sítio do Rocha Itarema - CE 24 M 416972 / 9669719
Sítio Patos I Itarema - CE 24 M 418885 / 9619423
Fotos 05 e 06 – Visão geral da área escavada.
Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016
Foram aplicadas algumas técnicas inovadoras buscando ampliar os resultados da pesquisa.
Referindo-se às datações empregadas, por exemplo, optou-se por utilizar Acelerador de
Espectrometria de Massa – AMS, uma das duas técnicas que permitem aos pesquisadores datar
amostras arqueológicas utilizando o método carbono. Ao contrário da técnica convencional baseada
na medição da proporção de partículas beta irradiadas numa amostra, a AMS faz a contagem do
número de átomos de C14 presente em uma amostra [5]. Uma das datações obteve 1700 anos BP
com variação de 30 anos para mais ou para menos, já a segunda coleta apresentou uma idade de
1220 anos BP com a mesma variação. Ambas as amostras foram datadas pelo Laboratório Beta
Analitic em Miami – EUA.
Portanto, os dados apontam que a área pode ter sido ocupada por gerações distintas de um
mesmo grupo étnico, tendo, inclusive, cerâmicas tipologicamente idênticas resgatadas das
trincheiras escavadas, o que de certo contribui para embasar essa linha de raciocínio, considerando
que as técnicas de fabrico podem perdurar através dos séculos.
Foto 07: Coleta de sedimentos para datações na quadrícula.
Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016.
Outra inovação aplicada nesta pesquisa arqueológica coordenada pela ANX Engenharia e
Arqueologia foi a utilização de um drone que contribuiu com a documentação imagética aérea dos
sítios o que se mostrou uma ferramenta fundamental para uma melhor compreensão da distribuição
espacial dos vestígios e da relação inter-sítios.
Foto 08 – Imagem aérea de um dos sítios escavados.
Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016.
Foto 09 – Imagem aérea dos sítios na paisagem (contexto ambiental).
Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016.
Fotos 10 a 13 – Vestígios arqueológicos – Cerâmica; cachimbo, lítico e louça.
Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016.
CONCLUSÕES
Após os resgastes arqueológicos efetuados nos 5 sítios arqueológicos foi possível coletar um
acervo pretérito com um montante de 1.146 vestígios culturais com a seguinte composição
tipológica: 289 líticos, 659 fragmentos cerâmicos, 78 fragmentos de louças, 51 fragmentos de
olarias (restos construtivos), 62 fragmentos vítreos, 6 fragmentos ferrosos e 1 fragmento de grés.
Embora os indícios sejam bem consistentes, não é possível afirmar que os vestígios
arqueológicos coletados e analisados nesses relatórios estejam diretamente relacionados ao grupo
indígena dos Tremembés, entretanto, é uma hipótese plausível que não pode ser descartada.
De maneira geral, ao passo das pesquisas acadêmicas, a arqueologia poderia passar muitos
anos até alcançar essas áreas, porém, os estudos voltados ao licenciamento de parques eólicos vêm
gerando oportunidades escassas de acesso e conhecimento dos grupos humanos durante a formação
do nosso povo. Portanto, o licenciamento dos projetos eólicos vem gerando processos de
responsabilidade compartilhada na gestão e salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro.
REFERÊNCIAS
[1] COUTO, Domingos Loreto. Desagravos do Brasil e Glórias de Pernambuco. Rio de
Janeiro: Biblioteca Nacional, 1904, p.170.
[2] STUDART FILHO, Carlos. Aborígenes do Ceará. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1965,
p.72.
[3] POMPEU SOBRINHO, Thomaz. Índios Tremembés. In: Revista do Instituto do
Ceará. Tomo LXV. Fortaleza: Instituto do Ceará. 1951.
[4] WHEELER, M. 1995. Arqueología de campo. Fondo de cultura Económica, Madrid-
Espanha.
[5] MACARIO, K. C. D. PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS DE RADIOCARBONO E
APLICAÇÕES DE AMS EM ARQUEOLOGIA E GEOLOGIA MARINHA. Tese de
doutorado do Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2003.

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A implantacao-de-um-parque-eolico-e-a-descoberta-de-sitios-arqueologicos

  • 1. 1. TEMA: 6. Regulação, Comercialização, Meio Ambiente e Sustentabilidade A IMPLANTAÇÃO DE UM PARQUE EÓLICO E A DESCOBERTA DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS Almir do Carmo Bezerra Diretor-Presidente / ANX Engenharia e Arqueologia LTDA Rua Antônio Curado, nº937, CEP: 50730-180, Recife-PE anx@anxengearq.com.br , arqueologia@anxengearq.com.br Palavras-chave: Licenciamento Ambiental, Arqueologia Preventiva, Resgate de Sítios Arqueológicos. INTRODUÇÃO Durante um diagnóstico realizado em 2014 a equipe de Arqueologia entrou cinco sítios arqueológicos na área de implantação de um parque eólico, então em 2016 a ANX Engenharia e Arqueologia foi a responsável pelo resgate desse patrimônio. Portanto, esta pesquisa arqueológica tem sido norteada pelo objetivo de resgatar dados do registro arqueológico, artefatos, vestígios de atividade antrópica em contextos deposicionais específicos (área de dunas) que possibilitasse a construção de um quadro de referência quanto as ocupações humanas em termos espaço-temporais e culturais. Portanto, a atividade de campo realizada na área correspondente ao empreendimento eólico, na forma de resgate arqueológico auxiliou na compreensão da ocupação pretérita nesse espaço geoambiental que compreende a zona rural do atual município de Itarema-CE. As informações adquiridas no estudo puderam indicar quais eram as formas de sobrevivência, estratégias de ação, comunicação e expressão antrópica em períodos bem recuados. Assim como, estabelecer marcos cronológicos que poderiam estar associados aos remanescentes culturais dos índios Tremembé atualmente situados no povoado de Almofala no mesmo município. Pesquisas como esta tem sido alavancadas devido ao licenciamento ambiental em parques eólicos, já que com o advento de grandes obras no Brasil, sobretudo, voltadas ao setor elétrico na região Nordeste, observa-se um completo quadro evolutivo das pesquisas arqueológicas executadas na região. Anteriormente, a grande maioria dos pesquisadores dedicava-se primordialmente ao desenvolvimento de pesquisas de cunho acadêmico. Dentre os tipos de empreendimentos no Brasil que mais demandam sessas pesquisas são os parques eólicos e consequentemente associados a energia gerada por eles estão os licenciamento das
  • 2. linhas de transmissão, considerando-se a quantidade de portarias autorizativas emitidas pelo órgão fiscalizador o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) nos últimos anos. OBJETIVOS O objetivo deste artigo é propor algumas reflexões em torno do tema Arqueologia Preventiva nas áreas de implantação dos parques eólicos abordando um caso concreto evidenciado durante um resgate no estado do Ceará. Além disso, mostrar ao público em geral quais as etapas de campo e a complexidade que cercam um resgate de vestígios arqueológicos, assim como produzir conhecimento sobre a História da ocupação humana pretérita nas áreas dunares do município de Itarema - CE, com base no conjunto de vestígios culturais que compõem os registros arqueológicos. MÉTODOS E RESULTADOS Nos estados do Nordeste, sobretudo, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, tem- se observado uma grande quantidade de vestígios arqueológicos recuperados desde o advento da comercialização da energia eólica. O Município de Itarema tem área total de 738,40km² e situa-se na região litorânea norte do estado do Ceará. Limita-se ao norte com o Oceano Atlântico e o município de Acaraú; ao sul com os municípios de Acaraú e Amontada; a leste com o município de Amontada e a oeste também com o município de Acaraú. Está distante 220 km da capital Fortaleza. O contexto dessas pesquisas arqueológicas indica a presença de sítios localizados em áreas de estuários, nas regiões da planície litorânea de Sabiaguaba; na foz do Rio Jaguaribe; planície costeira de Jericoacoara; município de Trairi; vale do Cariri; município de Mauriti; na Serra de Baturité; na localidade de Taperuaba; e nos municípios de Taua, Viçosa do Ceará e Granja. Durante a prospecção arqueológica de superfície na ADA (Área Diretamente Afetada) pelo Complexo Eólico Pedra Cheirosa no município de Itarema-CE, empreendimento de responsabilidade da CPFL Renováveis, foram identificados vestígios arqueológicos de atividade humana pretérita, que compunha cinco Sítios Arqueológicos denominados: Lagoa; Correntes; Morro dos Patos; Rocha e Patos I. Foto 01 – Sítio arqueológico nas dunas de Itarema-CE Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016
  • 3. Sabe-se que o território cearense antes da ocupação colonial era habitado por diversos grupos indígenas. No capítulo do Livro III dos Desagravos do Brasil e Glórias de Pernambuco capítulo X, obra oferecida ao Marquês em 1757, registrados entre os diversos povos estavam os Tremembé. No capítulo que tem por epígrafe “Relação das Aldeias povoadas de índios que estão situadas nas Capitanias de Pernambuco”, diz ele: “As do Ceará são as Aldeias dos Tramambés, Caucaia, Parangaba, Paupina, Paiacu no distrito da Vila dos Aquiraz, Palma na Ribeira do Quixeramobim, Aldeia Velha na Ribeira do Quixelou, Aldeia do Miranda, Cariris Novos, e Aldeia da Serra da Ibiapava na Ribeira do Acaracu” [1]. Os Tremembé, segundo Studart Filho [2] , eram migrantes e já perambulavam nas proximidades dos rios Camocim e Parnaíba, eventualmente estendendo os passos até a foz do Itapicuru. Ainda, havia uma forte presença dessas tribos nas praias do Meio - Norte entre Lençóis e Almofala, e algumas notícias de ocupação nos manguezais que cobrem o delta do Parnaíba e margeiam o baixo curso dos rios Timonha, Camocim e Acaraú. Segundo Pompeu Sobrinho [3], os Tremembés acabaram compondo a área litorânea composta pelos atuais estados do Maranhão e Piauí, além do Ceará. No encontro desses limites pela costa, essa etnia tinha como subsistência as atividades ligadas principalmente à pesca, à coleta e à caça, além do comércio realizado com outros grupos indígenas e com os estrangeiros que aportavam nas suas praias para negociações. Durante o século XVIIII acentuou-se o interesse dos portugueses de ocupar o território cearense, com a criação de gado, o que intensificou o surgimento de numerosas fazendas de gado para suprir as demandas do mercado interno abastecendo, de sobremaneira, regiões confinantes como Pernambuco e Maranhão. Esse processo de ocupação dos sertões pelo gado foi ocasionado pela necessidade de manter distantes das faixas litorâneas destinadas, fundamentalmente, ao cultivo da cana, a agricultura, da criação de gado e outras atividades como a pecuária. Buscando remanescentes desse período, a atividade de campo realizada na área correspondente ao empreendimento, na forma de caminhamento; abertura de sondagens e trincheiras auxiliou na compreensão da ocupação pretérita do espaço geoambiental que compreende as proximidades do atual município de Itarema, que contava apenas com poucos sítios no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos – CNSA do IPHAN. A escavação arqueológica foi orientada pelo método desenvolvido por Sir Robert Eric Mortimer Wheeler, devidamente adaptado. Para Wheeler [4], uma escavação em área deve seguir uma série de parâmetros, dentre eles destacam-se: ser clara e convenientemente subdivisível para realizar o registro e manter o controle; ser capaz de se estender progressiva e facilmente em qualquer direção e ser capaz de conservar até o fim da escavação os cortes verticais, para uma referência constante.
  • 4. Foto 02 – Escavação por trincheira Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016 A grande maioria dos exemplares de cultura material que foram resgatados nos sítios dispostos na ADA foi composta primordialmente por conjuntos de artefatos líticos e cerâmicos. Estes são universalmente encontrados, sendo os mais numerosos vestígios que indicam a ocupação humana pretérita, em sítios arqueológicos pré-coloniais e coloniais no território brasileiro. Todos foram levados e analisados no laboratório onde o arqueólogo realiza o tombamento das peças, a higienização e análise dos materiais. Complementarmente e buscando ampliar e tornar mais ágil a experiência de conhecer e entender as diversas facetas de nosso patrimônio cultural, tentou-se estimular a realização de uma oficina interativa com a comunidade, abordando temas que envolvam a identificação de bens patrimoniais como uma das etapas da pesquisa. Educar para e pelo patrimônio cultural é extremamente necessário para desmistificar o universo do patrimônio cultural, muitas vezes tratado como assunto para “especialistas” e distante do cotidiano, a oficina de Educação Patrimonial voltado à formação do público sobre este tema com exemplos, casos e situações dos quais o patrimônio cultural pode integrar o contexto educativo. Fotos 03 e 04 – Visita guiada dos alunos ao sítio resgatado e oficina de pintura Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016
  • 5. TABELA 01 – Relação dos Sítios Arqueológicos Resgatados NOME DO SÍTIO MUNICÍPIO PONTO CENTRAL (COORDENADAS – UTM) Sítio da Lagoa Itarema - CE 24 M 416713 / 9669881 Sítio Correntes Itarema - CE 24 M 416728 / 9670357 Sítio Morro dos Patos Itarema - CE 24 M 417647 / 9669204 Sítio do Rocha Itarema - CE 24 M 416972 / 9669719 Sítio Patos I Itarema - CE 24 M 418885 / 9619423 Fotos 05 e 06 – Visão geral da área escavada. Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016 Foram aplicadas algumas técnicas inovadoras buscando ampliar os resultados da pesquisa. Referindo-se às datações empregadas, por exemplo, optou-se por utilizar Acelerador de Espectrometria de Massa – AMS, uma das duas técnicas que permitem aos pesquisadores datar amostras arqueológicas utilizando o método carbono. Ao contrário da técnica convencional baseada na medição da proporção de partículas beta irradiadas numa amostra, a AMS faz a contagem do número de átomos de C14 presente em uma amostra [5]. Uma das datações obteve 1700 anos BP com variação de 30 anos para mais ou para menos, já a segunda coleta apresentou uma idade de 1220 anos BP com a mesma variação. Ambas as amostras foram datadas pelo Laboratório Beta Analitic em Miami – EUA. Portanto, os dados apontam que a área pode ter sido ocupada por gerações distintas de um mesmo grupo étnico, tendo, inclusive, cerâmicas tipologicamente idênticas resgatadas das trincheiras escavadas, o que de certo contribui para embasar essa linha de raciocínio, considerando que as técnicas de fabrico podem perdurar através dos séculos.
  • 6. Foto 07: Coleta de sedimentos para datações na quadrícula. Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016. Outra inovação aplicada nesta pesquisa arqueológica coordenada pela ANX Engenharia e Arqueologia foi a utilização de um drone que contribuiu com a documentação imagética aérea dos sítios o que se mostrou uma ferramenta fundamental para uma melhor compreensão da distribuição espacial dos vestígios e da relação inter-sítios. Foto 08 – Imagem aérea de um dos sítios escavados. Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016. Foto 09 – Imagem aérea dos sítios na paisagem (contexto ambiental).
  • 7. Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016. Fotos 10 a 13 – Vestígios arqueológicos – Cerâmica; cachimbo, lítico e louça. Fonte: ANX Engenharia e Arqueologia, 2016. CONCLUSÕES Após os resgastes arqueológicos efetuados nos 5 sítios arqueológicos foi possível coletar um acervo pretérito com um montante de 1.146 vestígios culturais com a seguinte composição tipológica: 289 líticos, 659 fragmentos cerâmicos, 78 fragmentos de louças, 51 fragmentos de olarias (restos construtivos), 62 fragmentos vítreos, 6 fragmentos ferrosos e 1 fragmento de grés. Embora os indícios sejam bem consistentes, não é possível afirmar que os vestígios arqueológicos coletados e analisados nesses relatórios estejam diretamente relacionados ao grupo indígena dos Tremembés, entretanto, é uma hipótese plausível que não pode ser descartada. De maneira geral, ao passo das pesquisas acadêmicas, a arqueologia poderia passar muitos anos até alcançar essas áreas, porém, os estudos voltados ao licenciamento de parques eólicos vêm gerando oportunidades escassas de acesso e conhecimento dos grupos humanos durante a formação do nosso povo. Portanto, o licenciamento dos projetos eólicos vem gerando processos de responsabilidade compartilhada na gestão e salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro.
  • 8. REFERÊNCIAS [1] COUTO, Domingos Loreto. Desagravos do Brasil e Glórias de Pernambuco. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1904, p.170. [2] STUDART FILHO, Carlos. Aborígenes do Ceará. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1965, p.72. [3] POMPEU SOBRINHO, Thomaz. Índios Tremembés. In: Revista do Instituto do Ceará. Tomo LXV. Fortaleza: Instituto do Ceará. 1951. [4] WHEELER, M. 1995. Arqueología de campo. Fondo de cultura Económica, Madrid- Espanha. [5] MACARIO, K. C. D. PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS DE RADIOCARBONO E APLICAÇÕES DE AMS EM ARQUEOLOGIA E GEOLOGIA MARINHA. Tese de doutorado do Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2003.