2. O que é Análise de Discurso (AD)
Para que serve
3. Linguagem
Segundo Kock (1997) há três concepções de linguagem no
decorrer da história da humanidade:
como representação(“espelho”) do mundo e do pensamento;”
como instrumento(“ferramenta”) de comunicação;”
como forma (“lugar”) de ação ou interação;”
linguagem seria fruto de uma interação entre enunciador/
enunciatário, falante/ouvinte, autor/leitor, etc.
4. Saussure e a concepção dicotômica da língua e da
fala. São coisas diferentes.
Estudos linguísticos entendiam a língua como um
fato social, mas excluíram a fala.
Saussure entendia que o enunciado era um ato
individual, não relevante linguisticamente.
5. Bakhtin também entendia a língua era um fato
social, cuja existência se funda na
necessidade de comunicação. No entanto, ele
vê a língua como algo concreto, fruto da
manifestação individual de cada falante,
valorizando, assim, a fala.
6. Bakhtin atribui um lugar privilegiado à
enunciação enquanto realidade da linguagem:
“A matéria linguística é apenas uma parte do
enunciado; existe também uma outra parte,
não verbal, que corresponde ao contexto da
enunciação”.
7. Bakhtin coloca o enunciado como objeto dos
estudos da linguagem e da a ele o Papel de
componente necessário para a compreensão e
explicação da estrutura semântica de qualquer ato
de comunicação verbal.
8. O interlocutor não é um elemento passivo na
constituição do significado
Nessa visão da linguagem como interação social,
em que o outro desempenha papel fundamental na
constituição do significado, integra todo o ato de
enunciação individual num contexto mais amplo,
revelando as relações intrínsecas entre o linguístico
e o social.
9. O percurso que o indivíduo faz da elaboração mental do
conteúdo a ser expresso à objetivação externa – a
enunciação – desse conteúdo é orientado socialmente,
buscando adaptar-se ao contexto imediato ao ato de fala,
sobretudo, a interlocutores concretos.
Nessa perspectiva, a linguagem é um distanciamento entre a
coisa representada e o signo que a representa.
10. A palavra é o lugar privilegiado para a manifestação
da ideologia; retrata as diferentes formas de
significar a realidade, segundo vozes e pontos de
vista daqueles que a empregam
Bakhtin: “Todo fenômeno que funciona como signo
ideológico tem uma encarnação material, seja como
som, como massa física, como cor, como movimento
do corpo ou como outra coisa qualquer.
11. Barthes : “O alcance ideológico dos
conteúdos é algo percebido desde há muito
tempo, mas o conteúdo ideológico das formas
constitui , de certo modo, uma das
possibilidades de trabalho do século”.
12. Entre a língua e a fala: o discurso.
O ponto de articulação dos processos ideológicos e dos
fenômenos linguísticos é o discurso.
Estudiosos passam a buscar uma compreensão do
fenômeno da linguagem não mais centrado apenas na
língua, que é um sistema ideologicamente neutro, mas
sim, num nível situado fora desse polo da dicotomia
saussuriana (língua X fala). Essa instância da linguagem
é o discurso.
13. O discurso opera a ligação entre o nível linguístico e o
extralinguístico.: “o liame que liga as significações de um
texto às condições sócio-históricas deste texto não é de
forma alguma secundário, mas constitutivo das próprias
significações”.
Para Eni Orlandi, o discurso “caracteriza-se como o que vem
a mais, o que vem depois, o que se acrescenta”. (Orlandi,
1986, p. 108)
14. A linguagem como discurso não é apenas uma
reunião de signos que servem como suporte ao
pensamento. A linguagem como discurso é
interação; um modo de produção social. Ela não é
neutra, inocente e nem natural – por isso, o lugar
privilegiado de manifestação da ideologia
15. A linguagem enquanto discurso é o lugar do conflito,
do confronto, não podendo ser estudada fora da
sociedade. Seu estudo, portanto, não pode estar
desvinculado das suas condições de produção. E é
esse pensamento que dará corpo à nova tendência
dos estudos da língua que inicia-se nos anos 1960 –
a análise do discurso.
16. Anos 50 – abordagem inicial (mas não definitiva) da análise de discurso.
Definida inicialmente como “o estudo linguístico das condições de
produção de um enunciado”, entendeu-se que a linguística, por si só, não
daria conta de marcar sua especificidade dentro dos estudos da
linguagem. Era necessário considerar outras dimensões (Mainguineau):
o quadro das instituições onde o discurso é produzido, as quais
delimitam a enunciação;
os embates históricos e sociais que se cristalizam no discurso;
o espaço prpoprio que cada discuros configura para si mesmo no
interior do interdiscurso
17. Harris (abordagem americana), por um lado. Jakobson e
Benveniste (europeia) por outro.
Harris X Benveniste
Harris – ainda mais próximo da linguística tradicional
Benveniste: “o locutor se apropria do aparelho formal da
língua e anuncia sua posição de locutor por índices
específicos”
18. Ao falar em “posição “ do locutor, ele levanta a questão que
se estabelece entre locutor, seu enunciado e o mundo;
relação que estará no centro das reflexões da análise de
discurso, em que o enfoque da posição sócio-histórica dos
enunciadores ocupa um lugar primordial.
Orlandi (1986) destaca essa tendência europeia , que ,
partindo “de uma relação necessária entre o dizer e as
condições da produção desse dizer”, coloca a exterioridade
como marca fundamental da AD
19. ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA ANGLO-AMERICANA
a vertente anglo-americana teve uma perspectiva mais intervencionista sobre o
discurso. Acreditavam na análise do discurso para mudar certas práticas. Para, a
partir do conhecimento de como os discursos circulam e se estruturam, poder
transformar em algo prático.
ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA
Procura entender como os discurso se constroem, são distribuídos na sociedade,
como eles falam sobre nós, sobre a história, sobre as condições de sua produção
sem, necessariamente, querer intervir nessas condições. Não cabe ao analista
produzir qualquer intervenção.
20. Mainguineau, representante da escola francesa da
análise do discurso, defende a AD como uma
articulação multidisciplinar entre linguistas,
historiadores e psicólogos (elementos da linguística,
marxismo e psicanálise)
21. AD - desenvolvimento da escola francesa criou duas vertentes
–
A da ideologia – Althusser (funções de mediadora da integração social/coesão do
grupo; dominação; deformação
A do discurso – Foucault – (o discurso como jogo estratégico de ação e reação; de
dominação e esquiva; de luta).
22. Foucault: O discurso é o espaço em que saber e poder se
articulam, pois quem fala, fala de algum lugar, a partir de um
direito reconhecido institucionalmente. Esse discurso, que
passa por verdadeiro, que veicula o saber institucional, é
gerador de poder.
Foucault : a produção desse discurso gerador de poder é
controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certos
procedimentos que têm por função eliminar toda e qualquer
ameaça à permanência desse poder.
Pêcheux, um dos expoentes da AD da escola francesa,
absorveu conceitos dos dois autores.
23. Sentido e sujeito na AD
Relação deixa de estar centrada no EU ou no TU, assumindo
uma dinâmica entre identidade e alteridade.
Para a AD, o que importa não é o EU ou o TU, mas o espaço
discursivo criado entre ambos.
O domínio de cada interlocutor é parcial é só tem unidade no
texto, e só adquire significação no espaço discursivo entre os
dois locutores.
Esta concepção mostra que tanto sentido como sujeito não
são dados à priori (toujours déjà donné),mas constituídos no
discurso. Não existe um “ponto de partida”.
24. Segundo Pêcheux “ o sentido de uma palavra, expressão,
proposição não existe em si mesmo, (isto é, em sua relação
transparente com a literalidade do significante), mas é determinada
pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-
histórico em que palavras, expressões, proposições são
produzidas”.
“as palavras, expressões, proposições, mudam de sentido segundo
posições sustentadas por aqueles que as empregam, o que
significa que elas tomam o seu sentido em referência a estas
posições, isto é, em referência às formações ideológicas nas quais
essas posições se inscrevem”.
25. Principais conceitos
a) Assujeitamento Ideológico: consiste em fazer com que cada indivíduo,
inconscientemente, seja levado a ocupar seu lugar na sociedade,
identificando, assim, com grupos ou classes sociais.
b) Autor: função social do sujeito que pode e deve ser definido.
c) Condições de Produção: instância verbal da produção do discurso,
determinadas pelo contexto sócio-histórico-ideológico, os interlocutores, o
lugar de onde falam à imagem que fazem de si e do outro e do referente.
26. Principais conceitos
d) Diálogo: em sentido estrito, comunicação verbal entre duas pessoas; em
sentido amplo, é toda comunicação verbal, qualquer forma de interação.
Compreende, assim, estritamente, um enunciado, um enunciador e um
enunciatário.
e) Enunciação: emissão de um conjunto de enunciados que é produto da
interação verbal de indivíduos socialmente organizados. A enunciação se dá
no aqui e agora sem jamais se repetir, marca-se, exclusivamente, embora
não somente, pela singularidade.
f) Enunciador: é o produtor do enunciado, isto é, o ponto de vista do locutor
dependendo da posição social que ocupa.
27. Principais conceitos
g) Formação Discursiva: é o que pode e deve ser dito a partir de um lugar
social historicamente determinado e atravessado por uma formação
ideológica. Num mesmo texto podem aparecer formações discursivas
diferentes, acarretando, dessa forma, variações de sentido.
h) Formação Social: é o lugar onde se estabelecem as relações entre as
classes sociais historicamente definidas, mantendo entre si relações de
aliança, antagonismo ou dominação.
i) Interdiscursividade: relação de um discurso com outros discursos.
28. Principais conceitos
j) Interlocução: processo de interação entre os indivíduos os quais podem usar
tanto a linguagem verbal, quanto a não-verbal.
k) Intertexto: relação de um texto com outros textos.
l) Língua: sob uma perspectiva discursiva, seria a realização concreta da fala,
resultante de uma relação não-excludente, ou seja, porque não há língua sem
fala, e nem fala sem língua, uma depende da outra para existir, a saber; a
língua está para a fala, assim como a fala está para a língua.
m) Linguagem: sob uma perspectiva do discurso, seria fruto da interação entre
sujeitos socialmente, historicamente e ideologicamente constituídos.
29. Principais conceitos
n) Locutor: função enunciativa que o sujeito falante exerce.
o) Polifonia: conceito criado, inicialmente, por Bakhtin que o aplicou à
literatura, retomado, posteriormente, por Ducrot que lhe deu um tratamento
linguístico, ou melhor, refere-se ao fato de todo discurso está construído
pelo discurso do outro, toda fala atravessada pela fala do outro.
p) Pré-construído: todo discurso pressupõe outro discurso que lhe é
anterior.
30. Principais conceitos
q) Regras de formação: regras constitutivas de uma formação discursiva,
conceitos e diversas estratégias capazes de explicitar, descrever uma
formação discursiva, permitindo ou excluindo certos temas ou teorias.
r) Sentido: está intrinsecamente ligado com a formação discursiva da qual
participa, produzido no processo de interlocução e atravessado pelas
condições de produção (contexto sócio-histórico-ideológico) do discurso.
s) Sujeito: o sujeito da linguagem não é o sujeito em si, mas tal como existe
socialmente e interpelado pela ideologia, ou seja, não há ideologia sem
sujeito, nem sujeito sem ideologia. Por isso, o sujeito não é a fonte.
31. Principais conceitos
t) Forma sujeito: conceito criado por Pêcheux para indicar
que o sujeito é afetado pela ideologia.
u) Superfície discursiva: constituída por um conjunto de
enunciados pertencentes a uma mesma formação discursiva.
32. Principais conceitos
v) Texto: unidade complexa constituída de regularidades e
irregularidades cuja análise implica suas condições de produção
(contexto sócio-histórico-ideológico, situação, interlocução).
Conforme Orlandi de natureza intervalar.
33. Análise de discurso francesa
Procura no discurso os prováveis sentidos
que assume ou pode assumir, sem deixar de
considerar o sujeito, sua história, a ideologia e
o contexto social no qual este sujeito está
inserido.
34. Procedimentos da AD francesa
a - através de paráfrases e metáforas, tentar-se-á mostrar os prováveis e até
“improváveis” efeitos de sentidos do discurso (matéria prima do analista). No que
se refere principalmente à pluralidade, várias possibilidades de leituras que um
discurso pode assumir ou não;
b- através da compreensão e do entendimento das relações de inserção e de
inter-ação estabelecidas do sujeito com o Contexto sócio-histórico-ideológico, ou
seja, a história de cada sujeito, o papel que desempenha na sociedade, a posição
social e a ideologia que permeia as relações humanas, influenciando os sujeitos a
tomarem certas atitudes e não outras.
35. “Não é só a cabeça do leitor da
Folha que é mais aberta.
A mão também.”
(Imprensa, ano V, mês 11, nº 51, P 101. Folha de São Paulo).
Paráfrase
Metáfora
Contexto sócio-histórico-ideológico (quem escreveu, lugar da escrita, sobre quem,
para quem)
36. o discurso dessa propaganda pretende atingir o sujeito/Leitor que está inserido na
história da humanidade, concomitantemente, com a sua própria história.
Sendo assim, torna-se imprescindível e relevante que este sujeito esteja
(supostamente) bem informado e não se importe com o preço que tem de pagar
por informações de alto nível e de excelente qualidade que (talvez) só poderão ser
encontradas na Folha de São Paulo, além disso o que se pretende, praticamente,
é aumentar de forma significativa o número de assinantes desse Jornal, ou seja, a
vendagem desse periódico.
37. Aplicação da AD em minha pesquisa
Análises das entrevistas com os presidentes de três conselhos de classe.
Medicina
Enfermagem
Fisioterapia
38. Referências
MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. Cortez:São
Paulo. 2008.
MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em análise do discurso.
Pontes: Campinas. 1997.