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ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
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ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
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  Atlas da qualidade de água do Reservatório da Pampulha /
[coordenação de] Ricardo Motta Pinto-Coelho ; colaboradores
Simone Santos ...[et al.]. – Belo Horizonte: Recóleo, 2012.
45p. : il.
Inclui bibliografia.
ISBN:
1. Água – Qualidade - Pampulha, Lagoa da (Belo Horizonte, MG)
– Atlas. 2. Pampulha, Lagoa da (Belo Horizonte, MG) – Atlas. I.
Pinto-Coelho, Ricardo Motta. II. Santos, Simone.
CDU: 502.7(815.1)
978-85-61502-03-4
56p
ATLASd a Q u a l i d a d e d e Á g u a d o R e s e r v a t ó r i o d a P a m p u l h a
R i c a r d o M o t t a P i n t o - C o e l h o
( C o o r d e n a d o r )
C o l a b o r a d o r e s ( c o - a u t o r e s )
A l o i z i o P e l i n s o n
C i d A n t ô n i o M o r a i s J r.
D e n i s e P i r e s F e r n a n d e s
G a b r i e l a P i r e s F e r n a n d e s
E l i a n e C o r r ê a E l i a s
L a i l a d e O l i v e i r a R i b e i r o
S i m o n e S a n t o s
B e l o H o r i z o n t e , M i n a s G e r a i s
R e c ó l e o E d i t o r a
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ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
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ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
Sobre a obra e os autores		 6
Apresentação 		 7
História da Pampulha 		 8
Problemas ambientais da Pampulha 	 9
Degradação ambiental da Pampulha 	 10
Acúmulo de lixo na represa		 11
Bacia hidrográfica da Pampulha		 12
Compartimentação do ecossistema “Pampulha”	 13
Morfometria da Pampulha		 14
Monitoramento da represa da Pampulha (2011)	 15
Parâmetros básicos (temperatura, condutividade, potencial
REDOX e oxigênio dissolvido)		 16
Parâmetros (variáveis) básicos (tendências de longa duração)	 17
Condutividade elétrica na Pampulha	 18
Oxigênio dissolvido na Pampulha		 19
Impactos do homem no ciclo do fósforo	 20
Fósforo total na Pampulha		 21
Compartimentação do fósforo na represa	 22
Balanço de massa (fósforo) da represa	 23
Relação entre fósforo e oxigênio em reservatórios eutróficos	 24
Impactos do homem no ciclo do nitrogênio 	 25
Amônia na Pampulha (íon amônio)		 26
Nitritos na Pampulha		 27
Nitratos na Pampulha		 28
Nitrogênio total na Pampulha		 29
Radiação solar na coluna de água da represa da Pampulha	 30
A importância dos sólidos em suspensão, turbidez e
transparência para a qualidade da água	 31
Peso seco orgânico (material em suspensão – fração orgânica)	 32
Peso seco inorgânico (material em suspensão – fração inorgânica)	 33
Peso seco total (material em suspensão soma de todas as frações)	 34
Poluição por óleos e graxas		 35
Óleos e graxas na represa da Pampulha	 36
Contaminação por metais traços “ou metais pesados”	 37
O lago (reservatório) como um ecossistema	 38
A clorofila como indicador de microalgas e cianobactérias 	 39
Clorofila-a (monitoramento tradicional)	 40
Clorofila-a (uma nova ferramenta para o monitoramento das algas)	 41
O zooplâncton na represa da Pampulha	 42
Balanço entre produção primária e o consumo do zooplâncton
no represa da Pampulha		 43
Macrófitas aquáticas (plantas superiores) na Pampulha	 44
Macrófitas, zooplâncton e a ciclagem do fósforo na Pampulha	 45
Avifauna da Pampulha		 46-48
Ventos, hidrodinâmica e a verticalização da orla da Pampulha	 49
Medidas sugeridas para a recuperação ecológica da represa	 50
Considerações finais		 51
Literatura		 52
Índice
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
76
O Atlas da Qualidade de Água da Pampulha tem o objetivo central de fornecer uma informação atualizada sobre as
condições ambientais da represa da Pampulha, em Belo Horizonte. Esse lago artificial, cuja barragem foi inicialmente
completada em 1938 (mais tarde ela se romperia e seria novamente refeita), vem sofrendo um processo de degradação
ambiental que se acelerou muito a partir dos anos setenta.
O Atlas sintetiza uma notável gama de informações ambientais a partir de 1988 quando o coordenador da obra participa de
um artigo especializado no assunto (Giani et al. 1988). As informações são, sempre que possível, decodificadas do jargão
específico usado na Limnologia (ciência que estuda as águas interiores) e são apresentadas a um variado público-alvo sob
a forma de cartogramas (mapas temáticos), gráficos e esquemas que procuram ser bastante didáticos e fáceis de serem
entendidos por outros tipos de profissionais e estudantes.
A obra está destinada principalmente a estudantes e profissionais envolvidos diretamente na gestão, recuperação ou
mitigação de impactos ambientais que normalmente ocorrem em reservatórios urbanos. Todo profissional que necessita
atualizar-se em Limnologia Aplicada (advogados ambientais, cientistas sociais, geógrafos, engenheiros sanitaristas, etc.)
poderá beneficiar-se com a leitura do Atlas.
O objetivo central da obra não é somente o de chamar a atenção para a grande degradação que o reservatório da Pampulha
vem enfrentando nos últimos quarenta anos, mas, sobretudo, mostrar que é possível despoluir e recuperar essa jóia que
adorna a cidade se houver uma vontade da sociedade nesse sentido.
Não poderia deixar de mencionar que o Atlas é o resultado de um trabalho em equipe. Não somente a equipe diretamente
envolvida na redação da versão atual. A obra resulta também da participação de dezenas de estudantes de graduação,
pós-graduação, alunos de iniciação científica, monitores de cursos presenciais (Ecologia Geral, Ecologia de Comunidades,
Limnologia Aplicada, Bases Ecológicas para o Desenvolvimento Sustentável, etc.) e de cursos à distância (Fundamentos
em Ecologia) que coordenei ao longo de 32 anos de vida universitária na UFMG.
Belo Horizonte, janeiro de 2012.
Ricardo Motta Pinto Coelho
Coordenador da Obra
Apresentação
O Atlas é o resultado de um trabalho da equipe do LGAR(*)-UFMG. Essa equipe
foi composta de estudantes de graduação, mestrado e doutorado, bolsistas
de iniciação e aperfeiçoamento científicos. Outros atuaram no LGAR como
biólogos ou como estagiários voluntários. Foram centenas de horas em intenso
trabalho de laboratório, incontáveis dias e noites sob o sol e a chuva dentro de
um pequeno barco coletando ou realizando os mais diversos experimentos no
reservatório da Pampulha.
O professor Ricardo sempre fez questão absoluta de envolver os seus alunos
nas atividades de pesquisa. Muitos trabalhos importantes foram iniciados
durantes as aulas prática do professor. E muitos dos conhecimentos gerados na
Pampulha foram publicados não somente em artigos científicos, mas também
em livros didáticos de grande sucesso tais como o livro Fundamentos em
Ecologia, editado pela ARTMED de Porto Alegre em 2000 e o livro Reciclagem
e Desenvolvimento Sustentável, editado pela Recóleo em 2009. Uma das
preocupações mais constantes do professor Ricardo tem sido a divulgação
e aplicação dos conhecimentos adquiridos para a resolução de problemas
ambientais enfrentados pela sociedade. O curso à distância “Fundamentos em
Ecologia” é uma prova desse comprometimento, com suas centenas de ex-
alunos que hoje atuam nas mais diferentes atividades profissionais levando os
conhecimentos gerados na Pampulha e em outros locais estudados pelo LGAR
a várias outras aplicações.
A experiência acumulada pelo LGAR em muitos anos de pesquisas no
reservatório da Pampulha tem servido de base para uma série de cursos,
livros e várias outras publicações especializadas. A grande ênfase que o LGAR
sempre deu para a contínua divulgação dessas pesquisas a vários segmentos
da sociedade tem servido para desenvolver e ajustar programas de recuperação
ambiental em muitas outras áreas degradadas em todo o país. Estamos, assim,
contribuindo para um desenvolvimento mais sustentável do Brasil.
Sobre a obra e os autores Autores
Ricardo Motta Pinto-
Coelho
Cid Antônio Morais Jr
Eliane Corrêa Elias
Aloizio Pelinson Pereira
Gomes
Denise Pires Fernandes
Gabriela Pires Fernandes
Simone Paula dos
Santos
Laila de Oliveira Ribeiro
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
98
Quais são os problemas ambientais que assolam o reservatótio da Pampulha?
Quadro I- O esquema ilustrando alguns dos principais problemas ambientais que afetam a saúde ecológica do Reservatório da Pampulha, em Belo Horizonte. RMPC.
A represa da Pampulha foi construída na administração do prefeito
Octacílio Negrão de Lima sendo inaugurada em 1938. Durante a
administração do prefeito (1940-1945) e mais tarde governador
(1951-1955) Juscelino Kubitscheck, a represa foi o alvo de um grande
programa de desenvolvimento urbanístico que incluiu a construção
de um conjunto arquitetônico inovador e que marcou a história da
Arquitetura e do Urbanismo no Brasil. Nesse conjunto, podemos citar
o antigo cassino (hoje Museu de Arte da Pampulha), a famosa Igreja de
São Francisco e a Casa do Baile, dentre outros locais (Fig. 01).
A represa rompeu-se em abril de 1954 (Fig. 02) e foi reconstruída sendo
re-inaugurada com a presença do então presidente Getúlio Vargas.
Nos anos 50 e 60 ela voltou a ocupar o centro das atenções do belo-
horizontino atraindo não somente um grande número de visitantes,
mas tendo a sua orla habitada pela elite da cidade.
A partir da década de setenta, no entanto, a represa passa a sofrer
um processo de eutrofização que causa uma grande deterioração
ecológica da lagoa. Fenômenos tais como a proliferação de mosquitos,
caramujos transmissores da esquistossomose, de plantas aquáticas
(macrófitas) e os florescimentos (waterblooms) de cianobactérias vão
gradualmente criando uma atmosfera de decadência ecológica com
claros impactos na vida cultural e social de toda Belo Horizonte.
Após o ano 2000, a região da Pampulha passa a receber de volta toda
uma série de investimentos em saneamento e paisagismo. Acreditamos
que nos próximos anos a represa volte a ocupar o lugar de destaque
para o qual ela foi concebida pelos seus criadores.
O reservatório da Pampulha vem acumulando, ao longo dos últimos quarenta anos, uma série de graves problemas ambientais que afetam não só a qualidade
das águas, mas também os organismos que lá vivem. A degradação da represa também afeta, de várias maneiras, todos os cidadãos que freqüentam a sua
orla e, eventualmente, entram em contato direto com as suas águas (Quadro 1).
História da Pampulha
Fig. 01- “Anos dourados” da represa da Pampulha com o cassino (hoje museu) ao fundo.
Fig. 02- Rompimento da represa, em abril de 1954.
Deposição
inadequada
de lixo
Verticalização
da orla
da represa
Trânsito de
veículos
excessivo
na Orla
Doenças
de veiculação
hídrica
Eutrofização
Invasão de
espécies
exóticas
Assoreamento
Represa da
Pampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
1110
Represa da
Pampulha
acúmulo de lixo na orla
(Janeiro de 2009)
Fig. 04- Podemos falar de gestão de recursos hídricos
sem considerar a questão do lixo (resíduos sólidos)?
O livro “Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável
no Brasil” (Pinto-Coelho, 2009), investiga as relações
entre a gestão dos resíduos sólidos e a degradação
ambiental da Represa da Pampulha. A foto ilustra a
orla a represa após uma chuva intensa ocorrida em
Belo Horizonte, em Janeiro de 2009. Foto: RMPC.
Fig. 03- Foto aérea do processo de assoreamento
que já comprometeu mais de 30% da superfície origi-
nal da represa (SUDECAP, 1994).
A Pampulha
sofreu uma grande
degradação
ambiental a partir
de 1970.
Inicialmente, notou-se uma perda
da área inundada da represa devido
ao assoreamento (Fig. 03). Em
aproximadamente vinte anos, a represa
perdeu cerca de 20% de seu volume
acumulado. Numa segunda etapa, a
população passou a sofrer os efeitos
da eutrofização: super crescimento
de macrófitas, algas, proliferação das
tilápias e déficit permanente de oxigênio
dissolvido. Finalmente, o acúmulo do
lixo doméstico torna-se um grande
problema. O Quadro 1 (Pág. 7) sintetiza
os principais problemas da represa.
A deposição inadequada de lixo não
biodegradável é um dos maiores obstá-
culos a vencer pelos gestores da
represa da Pampulha. O combate ao
contínuo aporte de plásticos, vidros,
metais, baterias, óleos, gorduras, etc.
deve ser considerado seriamente pelas
autoridades. Esse lixo ainda contribui
para o entupimento da rede de drenagem
urbana e interfere seriamente no fun-
cionamento do ecossistema. O acúmulo de
lixo na represa da Pampulha só pode ser
evitado com ações de reciclagem ambiental,
coleta seletiva de lixo, mais campanhas de
Educação Ambiental nas escolas, clubes e
em setores da sociedade civil (Fig. 4).
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
1312
Fig. 06 – O reservatório da Pampulha pode ser dividido em cinco compartimentos (vide quadro em anexo). As áreas que ainda permanecem como
espelhos de água são as áreas (1), (2) e (5). As demais áreas foram completamente assoreadas (3) e (4).
Fig. 05 - A bacia hidrográfica da Pampulha conta com uma área de cerca de 97 km2 , distribuída entre os municípios de Belo Horizonte e
Contagem, MG. A área original do espelho de água da represa era de 2,1 km2, com a acumulação de um volume de cerca de 11 milhões
de m3. Hoje o volume acumulado pelo lago central é de 9,15 milhões de m3 e a área alagada está reduzida a 1,82 km2. Os principais tribu-
tários da represa são: Mergulhão (A), Tijuco (B), Ressaca (C), Sarandi (D), Água Suja (E), Baraúnas (F), Córrego da AABB e microbacias do
Córrego do Céu Azul (G, H). Cerca de 300 mil pessoas vivem nas suas diferentes sub-bacias (Fonte: SUDECAP).
Reservatório
da Pampulha
Bacia Hidrográfica
O Ecossistema do
reservatório da
Pampulha
Um complexo de três
lagos distintos, uma área
úmida (brejo) e um parque
ecológico.
Um grande especialista em Limnologia
(= estudo das águas interiores), o professor
José Galizia Tundisi, já definiu as represas e
os reservatórios como grandes “coletores de
eventos”. Quase todas atividades humanas
requerem intenso uso de água tratada.
Por outro lado, essas atividades geram
efluentes de diferentes tipos, com diferentes
cargas poluidoras. Esses efluentes (esgotos
domésticos e não domésticos) causam grandes
impactos na qualidade de água de uma represa,
caso não sejam tratados adequadamente.
Centros comerciais (shoppings centers),
universidades, garagens industriais, clubes,
condomínios, centros de esportes são alguns
exemplos de atividades que podem causar
consideráveis impactos na qualidade de água
de uma represa localizada em áreas urbanas.
A área da bacia hidrográfica da represa
da Pampulha é muito extensa em relação
à superfície alagada. Essa característica
contribui para que as atividades humanas
existentes nessa grande área possam causar
grandes impactos na qualidade de suas
águas (Fig. 5).
O reservatório da Pampulha apresenta-se,
hoje, como um conjunto de diferentes biótopos
tipicamente aquáticos ou característicos das
zonas de transição entre sistemas aquáticos
e terrestres. Esses biótopos exigem
diferentes ações de recuperação, manejo
e gestão ambiental (Fig. 6). A recuperação
ecológica da represa da Pampulha requer,
portanto, ações de saneamento, ações de
biomanipulação e manejo de fauna e flora,
projetos de recomposição e restauração
das diferentes comunidades ecológicas
envolvidas. A tabela, no encarte ao lado,
ilustra as características de cada um dos
compartimentos do “ecossistema” da Pam-
pulha.
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
1514
Monitoramento
Plurianual da Represa
da Pampulha
Nossas pesquisas anteriores mostraram que a
qualidade de água na represa da Pampulha piora
muito durante a estação seca. Por outro lado, as
chuvas causam bruscas oscilações na qualidade
de água. Optamos, então, por apresentar os dados
obtidos durante a estação seca (maio-setembro).
Os dados que serão apresentados nesse Atlas
foram tomados, em grande parte, em maio de
2011, em um período que corresponde já ao início
da estação mais seca do ano (Fig. 08).
O objetivo do Atlas foi o de apresentar um panorama
detalhado da qualidade de água da represa da
Pampulha, antes do programa de despoluição que
será em breve iniciado. Será demonstrado que a
represa apresenta uma série de características
ambientais que a classificariam muito abaixo do
mínimo desejável sob quaisquer dos padrões
nacionais e internacionais normalmente usados
para a qualidade de água. Os dados de qualidade
de água estão concentrados em cinco diferentes
sub-grupos: (a) variáveis básicas (temperatura,
condutividade, oxigênio dissolvido e potencial
REDOX); (b) nutrientes (nitrogênio e fósforo); (c)
penetração de luz e sólidos em suspensão; (d)
poluentes (metais e óleos e graxas) e (e) clorofila-a,
fiitoplâncton e zooplâncton.
Fig. 07 - Carta batimétrica do Reservatório da Pampulha realizada a partir de um levantamento de profundidades em agosto de 2010 (Bezerra-
Neto & Pinto-Coelho, 2010).
Represa da Pampulha
Morfometria e
batimetria de precisão
Segundo as últimas pesquisas do LGAR (Resck
et al , 2008) e Bezerra-Neto & Pinto-Coelho,
2010), a represa perdeu pelo menos 20%
de seu volume acumulado nos últimos trinta
anos. A carta batimétrica apresentada na Fig.
7 ilustra que corpo central da represa possui
dois compartimentos distintos com diferentes
profundidades médias. O assoreamento
está continuamente comprometendo o
compartimento mais raso da represa e
obriga os gestores públicos a uma remoção
periódica dos sedimentos acumulados nessa
região mais rasa. A solução para diminuir
o assoreamento passa por uma melhor
gestão da construção civil em toda a bacia
hidrográfica da represa (Pinto-Coelho, 2009).
Além do assoreamento, a represa passa
a sentir os efeitos da eutrofização, da
poluição por metais tóxicos, acúmulo do lixo
doméstico, dentre outros tipos de problemas
ambientais
Região afetada por intenso assoreamento
com profundidades inferiores a 1.0 m.
Fig. 08- Localização dos pontos amostrados usados para a determinação da qualidade de água no Reservatório da Pampulha na estação
seca de 2011 (Data das coletas: 23 de maio de 2011).
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
1716
Parâmetros Básicos
Tendências de longa duração
Na figura ao lado (Fig. 10), estão representadas as tendências de longa
duração observadas na represa durante os anos noventa quando foi detectado
um contínuo aumento dos nutrientes (N e P) e da condutividade elétrica, um
decréscimo da transparência da água (medida pelo disco de Secchi) , além
de aumentos nos teores de carbono orgânico e de clorofila-a (Pinto-Coelho,
1998). É evidente que as medidas de melhoria da qualidade de água que foram
tomadas na última década deixaram muito a desejar...
Nas figuras 11 e 12, a seguir, o leitor irá encontrar os dados da condutividade
elétrica e oxigênio dissolvido, tomados na profundidade de 0,5m no dia 23 de
maio de 2011. A condutividade apresentou valores muito elevados em todo
o reservatório, com um nítido gradiente espacial caracterizado por valores
crescentes em direção ao compartimento mais raso do reservatório, próximo à
Ilha dos Amores (Fig. 11).
O oxigênio dissolvido também apresentou um padrão espacial similar ao
observado para a condutividade com valores bem mais elevados na porção mais
rasa da represa (Fig. 12). Uma das características observadas nos reservatórios
hipertróficos como a represa da Pampulha, é a ocorrência de valores muito
elevados de oxigênio junto a superfície nas horas mais quentes e ensolaradas do
dia. É interessante observar que as concentrações mais elevadas de clorofila-a
foram também observadas nessa região da represa (Figs. 33 e 34).
O elevado metabolismo existente na represa, causado pelo contínuo aporte de
elementos limitantes à produção primária (ex: fósforo), impõe um grande déficit
na oxigenação da coluna de água. Em decorrência, há uma grande flutuação
diurna nos níveis de oxigênio dissolvido. As concentrações desse gás que são
muito elevadas observadas durante o dia (principalmente junto a superfície)
podem dar lugar a valores bem menores durante o período noturno.
Fig. 10- Avanço da eutrofização do Reservatório da Pampulha nos anos 90. No painel superior, dados
de fósforo total (TP) e amônio; no painel central , dados de transparência medida pelo disco de Secchi
e de condutividade elétrica; no painel inferior, concentrações de carbono particulado (POC) e clorofila-a
(Pinto-Coelho, 1998).
Parâmetros Básicos
Temperatura, condutividade, potencial
REDOX e oxigênio dissolvido.
A coluna de água do reservatório apresenta-se quase sempre
estratificada. A superfície geralmente apresenta valores
mais elevados para a temperatura da água e para o oxigênio
dissolvido. Ambas as variáveis apresentam quedas expressivas
de seus valores com o aumento da profundidade, sendo que
o oxigênio dissolvido atinge valores quase nulos a partir de 6
metros (Fig. 09).
A condutividade elétrica geralmente aumenta seus valores
com a profundidade. A ausência de oxigênio, de luz aliadas a
maior riqueza de sais dissolvidos (refletida pelo aumento da
condutividade) criam um ambiente ideal para que bactérias
anaeróbicas dominem o metabolismo das regiões mais profundas
da Pampulha. Esse tipo de metabolismo causa forte alteração no
potencial REDOX na coluna de água. Para o leigo, o resultado
final dessas condições é a emissão de gases que causam
odores desagradáveis (ex: H2S), contribuindo, assim, para a má
qualidade de água do ambiente.
Outro ponto a ser observado é que o forte déficit de oxigenação
observado nas profundidades mais elevadas do que 6,0 metros
limitam muito a ocorrência de vários tipos de organismos nessas
regiões, tais como peixes e toda uma fauna de invertebrados
bentônicos e outros organismos que vivem nessas regiões. Essas
características contribuem para que a represa da Pampulha
seja um “ecossistema instável”, propenso a sofrer abruptas
oscilações em sua qualidade de água que podem, por exemplo,
causar a morte de plantas e animais em curto espaço de tempo.
Fig. 09 – Instrumentos e sondas usados no monitoramento
de um reservatório: garrafa de Van Dorn (A) uma sonda
limnológica Hidrolab (B). Acima, uma representação
gráfica dos dados obtidos com a sonda (B). ORP:
potencial REDOX, medido em mV.
A B
ORP (mV)
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
1918
Fig. 12 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de oxigênio dissolvido (mg.L-1 O2) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.Fig. 11 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de condutividade elétrica (µS.cm-1 ) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.
140
160
180
200
220
240
260
280
300
320
340
360
380
400
420
440
460
480
500
520
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
Condutividade
Reservatório da Pampulha
Dissolvido
6.8
7.1
7.4
7.7
8
8.3
8.6
8.9
9.2
9.5
9.8
10.1
10.4
10.7
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
Reservatório da Pampulha
Oxigênio
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
2120
Fig. 14 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de fósforo total (µg.L-1 P-PO4) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.
Fósforo
O Fósforo é um elemento químico que é
considerado um nutriente essencial para
a manutenção da vida nos ecossistemas.
Entretanto, o fenômeno da eutrofização se
estabelece quando há um aumento excessivo
nas concentrações médias de fósforo em um
reservatório, em decorrência das entradas
externas desse elemento. O aumento do aporte
externo de fósforo pode ser causado pelo aporte
de vários tipos de efluentes (esgotos tratados
parcialmente, esgotos “in natura”, efluentes
industriais e via escoamento associado a rede de
drenagem tanto superficial quanto subterrânea).
Assim, o fósforo é um dos mais poderosos
indicadores do processo eutrofização. Não resta
dúvida alguma que o processo de recuperação
da Pampulha requer uma redução considerável
dos níveis de fósforo na represa.
O homem interfere de várias formas no clico
biogeoquímico do fósforo. O uso excessivo
de fertilizantes, de detergentes domésticos
e o aporte descontrolado de matéria orgânica
podem causar um grande incremento das
concentrações médias desse nutriente nas águas
dos reservatórios. Ao lado, uma representação
dos principais impactos humanos no ciclo do
fósforo (Fig. 13). A Fig. 14, a seguir, demonstra
que o reservatório da Pampulha apresenta
concentrações muito elevadas desse nutriente.
Fig. 13 - O Fósforo geralmente ocorre em teores muito elevados nos ambientes altamente eutrofizados. O homem afeta a ciclagem do fósforo
nos recursos hídricos através do excesso de fertilizantes no solo, pelo contínuo aporte de esgotos não tratados ou via entrada de inúmeros
tipos de efluentes industriais. Uma fonte geralmente negligenciada decorre do uso de detergentes domésticos com alto conteúdo de fósforo.
No reservatório da Pampulha, o LGAR-UFMG vem observando um nítido gradiente espacial desse nutriente, caracterizado por valores cres-
centes em direção ao compartimento mais raso do reservatório, próximo à Ilha dos Amores. Na próxima figura, o leitor irá encontrar os dados
das concentrações de fósforo total, a partir de amostras tomadas na profundidade de 0,5m que confirmam essa tendência.
300
400
500
600
700
800
900
1000
1100
1200
1300
µg/L
Fósforo Total
Reservatório da Pampulha
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
2322
Deondevêma
poluiçãoeoexcesso
denutrientes
limitantesquechegam
naPampulha?
O reservatório da Pampulha atua como uma grande
“armadilha” para o fósforo. Assim, uma grande
parte desse nutriente que chega ao reservatório
fica retida nos principais compartimentos da biota
ou mesmo nos sedimentos. Um estudo conduzido
por integrantes do LGAR-UFMG determinou qual é
a contribuição relativa de cada um dos principais
tributários da represa em termos de aporte de fósforo
(Torres et AL. 2007).
O esquema ao lado (Fig. 16) demonstra que os ribeirões
Ressaca/Sarandi são os principais responsáveis pela
maior parte do aporte de fósforo que chega ao lago.
Esse tipo de resultado é importante, por exemplo,
para a tomada de decisões pelos gestores públicos
no sentido de priorizar ações de saneamento na
bacia hidrográfica da Pampulha.
É interessante observar que, apesar de existirem
uma série de estudos limnológicos indicando que o
fósforo é o elemento limitante da produção primária
para a maioria dos lagos e reservatórios, esse tipo
de informação não tem sido levado em consideração
nos planos de saneamento da represa da Pampulha.
Fig. 16 - “Balanço de massa” de fósforo na Pampulha (Torres et al. 2007). A contribuição relativa de cada tributário é fornecida
em termos reais (toneladas por ano) e relativos (% sobre o aporte total). Esse tipo de estudo é de fundamental importância para a
identificação dos tributários que mais poluem o reservatório.
Para onde vão os
nutrientes que chegam
na represa da Pampulha?
Durante a década de 90, o LGAR-UFMG realizou
uma série de estudos objetivando conhecer os
detalhes do complexo metabolismo do fósforo
que está muito ligado ao funcionamento de
várias comunidades da represa, principalmente
os organismos planctônicos.
Muitos estudos limnológicos têm enfatizado
o fato de que, ao contrário dos ecossistemas
temperados, a biota aquática existente nos
reservatórios tropicais tende a acumular
quantidades muito expressivas de nutrientes
em relação aos sedimentos. O LGAR-UFMG
realizou um estudo objetivando determinar o
acúmulo relativo de fósforo em determinados
compartimentos da biota aquática do reservatório
da Pampulha (Fig. 15). O estudo demonstrou, por
exemplo, que o zooplâncton acumula e recicla
grandes quantidades de fósforo no ambiente.
Essa característica torna o sistema muito mais
instável e propenso a abruptas flutuações
na qualidade da água. Por outro lado, essa
característica (uma maior “intrabiotização” dos
ciclos biogeoquímicos) permite ao gestor público
antever uma rápida melhora da qualidade da
água, uma vez tenham sido interrompidos os
aportes externos de fósforo ao ambiente.
Fig. 15 - A figura acima ilustra a “compartimentação” biótica do fósforo na represa da Pampulha. Deve ser destacado os elevados
teores relativos de fósforo existentes na biomassa de peixes (tilápias) e no zooplâncton (Ribeiro-Júnior, E.A. 2000 - redesenhado por
Cezar Costa).
Taboas
Plâncton Aguapés
Peixes
Sedimentos
P-sedimentos = 0,23% p.s.
P-zoop, lâncton = 1,28% p.s.
P-peixes = 0,97 - 1,07% p.s.
P-taboas = 0,25 - 0,39% p.s.
P-aguapé = 300 - 600 mg.m3 P-PO4
p.s. = peso seco
Compartimentação (biótica) do fósforo na Pampulha
(Tilápias)
Reservatório
(80.93%)
de retenção
AABB
(0.05%)
(0.03)
Baraúna
(0.07%)
(0.02)
Água Funda
(7.03%)
(3.86)
Olhos D’água
(0.13%)
(0.07)
Efluente
(19.07%)
(10.47)
Mergulhão
(0.56%)
(0.31)
Ressaca/Sarandi
(92.04%)
(50.52)
Tijuco
(0.11%)
(0.06)
Tributários=54.88 ton.ano-1
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
2524
Nitrogênio
O nitrogênio é, ao lado do fósforo,
um dos macro-nutrientes que mais
afetam a eutrofização de lagos,
rios e reservatórios (Fig. 18). Suas
principais formas inorgânicas são,
respectivamente os íons amônio, nitrito
e nitrato. Na represa da Pampulha,
todas as formas de nitrogênio inorgânico
foram encontradas em concentrações
elevadas e em padrões espaciais
diretamente associados à entrada de
córregos altamente poluídos (Figs.,
19,20, 21).
Os nitratos, nitritos e o nitrogênio total
(Fig. 22) foram mais elevados próximo
à entrada do Córrego Mergulhão. Esse
córrego sofreu uma canalização celular
com cobertura que impede a entrada
de luz. A escuridão aparentemente
favorece o processo de concentração
dessas formas de nitrogênio na água.
Fig. 18 – Ciclo biogeoquímico do nitrogênio com
indicações das principais interações entre as
diferentes atividades humanas e as vias de ciclagem
do nitrogênio na biosfera (original, RMPC). Os níveis
de nitratos têm aumentado em muitos aqüíferos
subterrâneos. Esse é um tipo de poluição que ainda
não é levada muito a sério no Brasil, apesar dos
graves problemas causados por esse poluente à
saúde humana.
Existe uma relação
entre o fósforo e o
oxigênio ?
A teoria ecológica indica que apenas
um elemento químico (limitante)
regula os processos de produção e
de consumo nos ecossistemas (Lei de
Liebig). O fósforo é, muitas vezes, o
fator limitante da produção primária em
muitos ecossistemas aquáticos. Isso
quer dizer que qualquer pulso (aumento)
na concentração desse nutriente causa
uma imediata aceleração de todo o
metabolismo do ecossistema. Esse
pulso resulta em um grande aumento
na demanda por oxigênio, ou seja a
D.B.O (Fig. 17). O aumento na D.B.O
aliado a um permanente déficit de
oxigênio tornam o ecossistema instável
e propenso a sofrer severas flutuações
ambientais.
Fig. 17- Relação entre os pulsos de fósforo e a de-
manda bioquímica de oxigênio (D.B.O) é direta. A todo
aumento no aporte externo de fósforo corresponde
um incremento na demanda por oxigênio na represa.
Essa demanda, muitas vezes, não pode ser suprida
pela atividade fotossintética das plantas. Daí, temos
o aumento do déficit de oxigênio que pode causar a
mortandade de peixes, dentre outras formas de de-
gradação ambiental (RMPC, original).
Decomposição
Aumento
na D.B.O
Aumento na
matéria
orgânica em
suspensão
Déficit de
oxigênio
Elo
microbiano
Pulso de
Fósforo
Produção
primária
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
2726
Fig.20– Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de nitritos (µg.L-1 N-NO2) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.Fig. 19 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de amônio (µg.L-1 N-NH4) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.
80
84
88
92
96
100
104
108
112
116
120
124
128
132
µg/L
Amônia
Reservatório da Pampulha
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
3
3
3
8
-2
-1
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
µg/L
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
Nitrito
Reservatório da Pampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
2928
Fig. 22 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de nitrogênio total (mg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. Pode-se ver
claramente o efeito da canalização celular fechada no aumento dos níveis de nitrogênio total próximo a desembocadura do córrego Tijuco.
Fig. 21 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de nitratos (µg.L-1 N-NO3) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. Pode-se ver claramente
o efeito da canalização celular fechada no aumento dos níveis de nitratos próximo a desembocadura do córrego Tijuco.
-5
1
7
13
19
25
31
37
43
49
55
61
67
73
79
85
91
97
103
109
µg/L
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
Nitrato
Reservatório da Pampulha
Nitrogênio
Orgânico Total
3000
3300
3600
3900
4200
4500
4800
5100
5400
5700
6000
6300
6600
6900
7200
7500
7800
µg/L
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
Reservatório da Pampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
3130
As variáveis que medem a quantidade de matéria em
suspensão ou dissolvida na água de um reservatório
são: turbidez, o teor de sólidos em suspensão,
a transparência da água (disco de Secchi) e a
penetração da radiação solar na coluna de água.
Todas essas variáveis são de grande importância na
determinação da qualidade de água. Tanto a turbidez
quanto a penetração de radiação solar podem ser
determinadas “in situ” diretamente no local de coletas
(Fig. 24).
Nas figuras 25,26 e 27, a seguir, estão apresentadas
sob a forma de mapas temáticos as concentrações
de sólidos em suspensão na represa da Pampulha.
Esses dados também ilustram a grande degradação
das águas dessa represa já que os níveis de todas as
frações dos sólidos (principalmente a fração orgânica)
exibem valores muito elevados, incompatíveis com
uma água de boa qualidade que seria esperada para
um reservatório que é visto como um dos principais
“cartões postais” de Belo Horizonte (dados de maio
de 2011).
Fig. 24 – Metodologias para a determinação da transparência da
água, turbidez (turbidímetro), sólidos em suspensão (filtros usados no
método gravimétrico) e o sensor usado para se medir a radiação solar
na coluna de água de um reservatório (sensor de um radiômetro LiCor.
Fotos: RMPC.
Parâmetros Básicos
Radiação Solar
Parâmetros Básicos
Sólidos em Suspensão
Em virtude da grande degradação da qualidade de suas águas, a
luz mal consegue ultrapassar o primeiro metro da coluna de água
(Fig. 23). Essa característica física da água interfere na ecologia dos
organismos, limitando, por exemplo, a atividade fotossintética das
algas e, por conseguinte, a oxigenação de todo o ambiente. Essa
característica pode explicar, por exemplo, a grande queda observada
nos valores de oxigênio com o aumento da profundidade.
A elevada turbidez causada, sobretudo, pelo elevado conteúdo de
sólidos em suspensão (Figs. 25,26 e 27), é o fator responsável pela
baixa penetração da luz na coluna de água desse reservatório.
Fig.23 – Dois instrumentos usados para se medir a transparência da água: disco de Secchi (A) e o radiômetro PAR-UV (B). Essa última sonda é capaz de medir tanto a radiação usada pelas algas (PAR), ou seja,
aquela compreendida entre 400 e 700 nm de comprimento de onda. A sonda mede também a penetração de duas bandas de radiação UV na coluna (320 e 340 nm). A radiação UV pode causar uma série de
problemas genéticos nos organismos aquáticos.
Represa da Pampulha - 22 de maio de 2007
A B
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
3332
Fig. 26 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de sólidos em suspensão (fração inorgânica em mg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.Fig. 25 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de sólidos em suspensão (fração orgânica, em mg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.
8
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
mg/L
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
Reservatório da Pampulha
Orgânico
Peso Seco
2.2
2.6
3
3.4
3.8
4.2
4.6
5
5.4
5.8
6.2
6.6
7
7.4
7.8
8.2
mg/L
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
Reservatório da Pampulha
Peso Seco
Inorgânico
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
3534
Poluição por Óleos e Graxas
Os reservatórios e rios que se localizam em zonas urbanas são muito
afetados por esse tipo de poluição. As principais fontes de óleos e
graxas estão relacionadas ao descarte indevido de óleo de fritura
e gordura animal por domicílios, condomínios, restaurantes, bares,
hotéis e shopping centers. Outras fontes desses contaminantes estão
relacionadas ao descarte de lubrificantes automotores associados às
atividades de oficinas mecânicas, canteiros de obras, diversos tipos
de indústrias, minerações, empresas de transporte e outras atividades
onde seja intenso o uso de lubrificantes automotores (Fig. 28).
Uma pesquisa recente conduzida por uma bolsista de iniciação
científica, vinculada ao LGAR-UFMG e sob a orientação de Ricardo M.
Pinto-Coelho (Salviano, 2011), demonstrou que a represa da Pampulha
apresenta índices desse poluente acima do que é recomendado pelo
Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) (Fig. 29).
O controle da poluição por óleos e graxas requer ações coordenadas
dos gestores púbicos que passam pelo incentivo à reciclagem do óleo
de fritura, pela coleta sistemática dos lubrificantes automotores e por
melhorias no sistema de tratamento de esgotos bem como na gestão
de resíduos sólidos em toda a bacia hidrográfica da represa. Um
ponto a ser considerado: ao contrário do que acontece com os óleos
automotivos, a reciclagem do óleo de fritura é uma atividade que ainda
requer uma maior regulamentação do poder público. Trata-se de uma
atividade que gera resíduos potencialmente poluidores que devem
ter uma destinação adequada. Devido à falta de regulamentação,
muitas empresas de reciclagem de óleos vegetais atuam com licenças
precárias, não dão a correta destinação aos resíduos gerados e se
utilizam de tipo de artifícios ilegais para se manterem no mercado.
Fig. 28- Fontes mais comuns de poluição por “óleos e graxas” nos ecossistemas aquáticos
urbanos e peri-urbanos (RMPC, original).
Fig. 27 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de sólidos em suspensão (soma das frações inorgânica e orgânica, em mg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
40
42
mg/L
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
Reservatório da PampulhaReservatório da Pampulha
Peso
Seco Total
Óleos e Lubrificantes
Automotivos
Óleos Vegetais
Gorduras Animais
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
3736
Fig.30 - A má gestão do lixo urbano e resíduos industriais levaram a um quadro de
contaminação por metais traços (pesados) nesse ambiente (Pinto-Coelho, 2009). Os
dados de metais foram mesurados por Pinto-Coelho & Greco (1998). Todos os valores são
em m.g.t-1 (p.p.b.).
Reservatório
da Pampulha
Aporte de esgotos
domésticos não tratados
e a contaminação
por metais.
Pesquisas conduzidas pelo LGAR-
UFMG demonstraram que a deposição
inadequada de lixo industrial e ele-
trônico pode ser uma das causas da
contaminação persistente por metais
(Cd, Zn, Pb) em vários compartimentos
da represa (sedimentos, macrófitas,
organismos planctônicos, etc.) (Fig. 30).
Fig. 29 – Concentrações superficiais de óleos e graxas (mg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. Essas substâncias por terem uma
densidade menor do que a da água tendem a se concentrar na superfície o que facilita a sua dispersão pelos ventos (Salviano, 2011).
Óleos e Graxas
mg/L
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
Reservatório da Pampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
3938
Fig. 32 - O excesso de algas causa uma rápida depreciação na qualidade de água uma vez que interfere na transparência, no odor,
na oxigenação e na sedimentação, processos relevantes no metabolismo aquático. A clorofila-a é um pigmento algal que reflete
diretamente a densidade e biomassa desses organismos no ambiente. No encarte acima (A), a cianobactéria Microcystis que é muito
comum na Represa da Pampulha (Fotos: RMPC).
Microalgas, cianobatérias
e clorofila-a
O lago (ou reservatório)
como um ecossistema
A clorofila-a é talvez a variável biológica mais importante
em qualquer programa de monitoramento ambiental
da qualidade de água de um reservatório eutrófico.
Ela reflete diretamente a densidade das microalgas e
cianobactérias, presentes no ambiente. O excesso de
algas é um dos fatores que mais contribuem para uma
má qualidade de água nesse tipo de ambiente (Fig. 32).
Nas figuras 33 e 34, a seguir, apresentamos as
concentrações de clorofila-a medidas através de
duas metodologias distintas para o reservatório da
Pampulha. Na figura 33, o padrão espacial resultante
das medidas de clorofila-a tomadas em 19 deferentes
pontos e processadas com método tradicional
(Lorenzen).
Na figura 34, apresentamos o resultado das
mensurações de clorofila obtidas com uma nova
metodologia desenvolvida no LGAR-UFMG. Usamos
uma sonda fluorimétrica SCUFA (Turner, Inc.) que
permite a obtenção de milhares de dados, em poucas
horas, informações essas geo-referenciadas por meio
do acoplamento da sonda a um aparelho de D-GPS de
alta precisão. Um programa (software) desenvolvido
no LGAR-UFMG permite a sincronização dessas
informações e a obtenção de um arquivo de texto que
pode ser imediatamente usado em programas SIG
com o objetivo de gerar um mapa temático específico.
A recuperação da represa da Pampulha requer uma “visão
ecossistêmica” dos gestores públicos responsáveis pela sua
recuperação. Esse tipo de visão requer um conhecimento
do funcionamento e interações de todas as principais
comunidades que existem em um lago ou reservatório.
Esse tipo de conhecimento é ainda mais importante nos
ecossistemas tropicais onde existe uma interação ainda
mais intensa entre todas as comunidades, em decorrência
das maiores taxas de metabolismo de produção, consumo
e ciclagem de elementos.
Quais são as principais comunidades existentes em um
reservatório ou lago? A figura 31 ilustra que as principais
comunidades existentes nesse tipo de ecossistema seriam:
(a) organismos planctônicos (fito e zooplâncton); (b)
organismos litorâneos (macrófitas e mesofauna do litoral);
(c) fauna e flora bentônicas, associadas aos detritos e
sedimentos; (d) vertebrados (aves e peixes). As setas da figura
31 procuram ressaltar as interações bióticas existentes entre
esses compartimentos biológicos (predação, competição,
excreção, simbioses e outros antagonismos, etc.).
A qualidade de água de uma represa nada mais é do que a
resultante dos aportes externos em contínua interação com
os compartimentos biológicos acima assinalados. Sendo
assim, apenas tratar os esgotos que chegam à represa,
sem tratar dos males que afetam todas essas comunidades
pode não trazer os resultados finais esperados.
Fig. 31 - A luz e os nutrientes (N e P) permitem o desenvolvimento de inúmeras plantas aquáticas assim divididas: vegetação
litorânea (macrófitas) e o fitoplâncton (microorganismos que vivem nas águas abertas). Os principais consumidores dessa
matéria vegetal são: zooplâncton, bentos e meio fauna do litoral. A cadeia alimentar se completa com os peixes, aves, etc.
As bactérias, ao lado do zooplâncton, exercem um importante papel na reciclagem dos nutrientes essenciais (modificado de
Smith, 1999).
A
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
4140
Fig. 34 – Concentrações superficiais de clorofila-a (sonda fluorimétrica SCUFA, Turner ®) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. Super-amostragem com
1250 pontos. Unidades relativas equivalentes a µg.L-1. No encarte (A), a sonda fluorimétrica SCUFA que possibilitou a realização dessa pesquisa.
Fig. 33 – Concentrações superficiais de clorofila-a (método de Lorenzen em µg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
Clorofila
0
7.5
15
22.5
30
37.5
45
52.5
60
67.5
75
82.5
90
97.5
105
112.5
120
127.5
135
Reservatório da Pampulha
5
9
13
17
21
25
29
33
37
41
45
49
53
57
µg/L
605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000
7803500
7804000
7804500
7805000
7805500
7806000
Clorofila
Reservatório da Pampulha
Trajeto Realizado
para coletas
A
Fig. 34 – Concentrações superficiais de clorofila-a (sonda fluorimétrica SCUFA, Turner ®) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.
Super-amostragem com 1250 pontos. Unidades relativas equivalentes a µg.L-1. No encarte (A), a sonda fluorimétrica SCUFA que possibilitou a
realização dessa pesquisa.
38
A
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
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4342
Produção e consumo de carbono no reservatório da Pampulha
O zooplâncton assimila muito
mais carbono do que é produzido
pelas algas.
Fig. 36 - Uma das principais características ecológicas dos ecossistemas hipereutróficos é a falta de equilíbrio
entre produção primária (fotossíntese) e a produção secundária (assimilação do zooplâncton). No gráfico acima,
é demonstrado que a assimilação de alimento do zooplâncton é muito superior a quantidade de energia que
é fixada pelas algas no ambiente. A diferença é coberta pela matéria orgânica e nutrientes que entram pelos
tributários poluídos. A razão entre essas variáveis pode ser usada para um eficaz monitoramento do progresso da
despoluição da represa. (Araújo & Pinto-Coelho, 1998).
Zooplâncton da Pampulha:
Uma das comunidades mais importantes em lagos e
reservatórios é formada pelos organismos pertencentes
ao fito e zooplâncton. O zooplâncton não é importante
apenas por ser um elo intermediário na teia alimentar
que une os produtores primários aos consumidores de
topo de cadeia, tais como os peixes e as aves. Estudos
conduzidos pelo LGAR-UFMG com organismos
zooplanctônicos, coletados na represa da Pampulha,
comprovaram a sua importância como recicladores de
matéria orgânica e nutrientes para todo o ecossistema
(Pinto-Coelho et AL.1997).
O zooplâncton pode ainda ser usado ainda como
um importante indicador ambiental não somente de
agentes poluidores (metais traços ou pesticidas, por
exemplo). Essa assembleia de organismos, que possui
elevadas taxas metabólicas, é um excelente indicador
dos padrões gerais de fluxo de energia e transporte de
nutrientes adotados por todo o ecossistema.
O zooplâncton vem sofrendo com a degradação da
represa da Pampulha. Muitas espécies não resistiram
ao incremento da eutrofização e desapareceram do
sistema (Fig. 35).
Um dos estudos experimentais mais importantes
conduzidos pelo LGAR-UFMG foi o que comparou as
taxas de produção primária (fotossíntese) das algas da
represa com o consumo de alimentos pelo zooplâncton
(Araújo & Pinto-Coelho, 1998). Essa comparação foi
feita em termos de carbono assimilado pelas algas e
pelo zooplânton.
A figura 36 ilustra os resultados da comparação dos
metabolismos do fitoplâncton e do zooplâncton da
represa da Pampulha. Esse trabalho realizou essas
estimativas para todo um ano de estudos. O estudo
demonstrou claramente que as demandas energéticas
do zooplâncton superam a produção primária devida
às algas fitoplanctônicas (<50 µm). Esses resultados
nos permitem tirar duas conclusões muito importantes
para a gestão ambiental do ecossistema: (a) o
zooplâncton se alimenta de outras fontes energéticas,
provavelmente de bactérias que exploram a matéria
orgânica associada aos esgotos domésticos não
tratados; (b) uma grande parte da energia assimilada
pelas algas e outros produtores primários (> 50 µm)
não é metabolizada pelo zooplâncton o que traz
como conseqüência imediata o acúmulo de algas e
cianobactérias no ambiente, causando uma grande
queda na qualidade de água na represa.
Fig. 35 - Exemplos de espécies que compõem o zooplâncton do Reservatório
da Pampulha. Algumas espécies ilustradas foram extintas em decorrência
do avanço da eutrofização. Fotos: RMPC. Maiores informações no website:
http://ecologia.icb.ufmg.br/~rpcoelho/atlas.htm (Jaramillo & Pinto-Coelho,
2011).
Extinto
Extinto
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4544
Podem os organismos
interferir na ciclagem de
nutrientes?
Zooplâncton e macrófitas como
“engenheiros do ambiente”
Como já foi dito anteriormente, o fósforo é um
elemento limitante para a produção primária. O fósforo
tem o potencial de regular todo o metabolismo de uma
represa eutrófica, desde que seu metabolismo geral
esteja sendo limitado por esse nutriente. Considerando
esse princípio geral da teoria ecológica, seria muito
importante conhecermos os papéis desempenhados
por alguns dos organismos presentes no ecossistema
na ciclagem do fósforo. Esse foi o objetivo de um
estudo realizado por integrantes do LGAR-UFMG
(Pinto-Coelho & Greco, 1999).
A pesquisa comparou as taxas de excreção de fósforo
devidas ao zooplâncton com as taxas de decomposição
(expressas em termos de fósforo) devidas às macrófitas
presentes na represa da Pampulha (Fig. 38). O estudo
demonstrou que ambas as comunidades biológicas
podem ter um papel relevante na ciclagem de fósforo
dentro do ecossistema. Em conclusão, a represa da
Pampulha, mesmo tendo uma péssima qualidade de
água, hospeda em suas águas plantas e organismos
que realizam um importante “trabalho” para o meio
ambiente.
Fig. 38 - Tanto o zooplâncton quanto as macrófitas aquáticas são importantes na ciclagem de fósforo no
ambiente. O gráfico acima ilustra as taxas de liberação de fósforo associadas ao metabolismo de decomposição
das macrófitas e da excreção do zooplâncton. Essas taxas demonstram o grande potencial desses organismos
em liberar o nutriente para o ecossistema. Ao contrário dos sistemas temperados, a ciclagem de elementos é
influenciada intensamente por organismos nos trópicos. (Pinto-Coelho & Greco, 1999).
Fig. 37 - A represa da Pampulha vem sofrendo ao longo dos últimos anos, vários episódios caracterizados por um crescimento acima do normal de diversos tipos de plantas aquáticas (macrófitas). Na foto, um desses
eventos que ocorreu em 2006. A Prefeitura de Belo Horizonte instalou redes de contenção para impedir que as plantas ocupem todo o espelho de água da represa (foto).
Macrófitas aquáticas na Pampulha
As macrófitas são plantas aquáticas que se beneficiam muito das condições ambientais dominantes em um reservatório eutrófico. O excesso de
nutrientes, a abundância de luz permitem um rápido desenvolvimento dessas plantas. Um reservatório eutrófico, com águas muito turvas, como
a represa da Pampulha, favorece o crescimento de plantas aquáticas flutuantes tais como o jacinto ou o príncipe d´água (Eichhornia crassipes).
A presença de macrófitas em quantidades excessivas causa uma série de problemas ambientais graves tais como a proliferação de mosquitos,
de moluscos e outros organismos alguns dos quais potencialmente transmissores de doenças de veiculação hídrica.
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Aves pernaltas
encontradas na
represa da
Pampulha (2001).
1 - Gallinula chloropus (Frango-d’água-comum)
2 - Podilymbus podiceps (Mergulhão) - Plumagem reprodutiva
2a - Plumagem de descanso
3 - Tringa solitaria (Maçarico-solitário)
4 - Vanellus chilensis (Quero-quero)
5 - Jacana jacana (Jaçanã) - Adulto
5a - Jovem
6 - Phalacrocorax brasilianus (Biguá)
7 - Aramus guarauna (Carão)
8 - Dendrocygna bicolor (Marreca-caneleira)
9 - Dendrocygna viduata (Irerê)
10 - Dendrocygna autumnalis (Asa-branca)
11 - Netta erythrophthalma (Paturi-preta)
12 - Amazonetta brasiliensis (Ananaí)
13 - Casmerodius albus (Garça-branca-grande)
14 - Egretta thula (Garça-branca-pequena)
15 - Nycticorax nycticorax (Savacu)
16 - Butorides striatus (Socozinho)
17 - Tringa flavipes (Maçarico-de-perna-amarela)
Fig. 40 – Aves pernaltas encontradas no Reservatório
da Pampulha (Pinto-Coelho, Rull e Lopes, 1998.
A eutrofização
favoreceu o
aumento da
riqueza e
biomassa de aves
Fig. 39 - A foto ilustra um banco de garças próximo a
entrada do canal dos ribeirões Ressaca e Sarandi no
lago. Foto: RMPC.
O assoreamento e a eutrofização
ocorridos nas duas últimas décadas
do século XX formaram novos biótopos
que foram rapidamente colonizados por
uma rica comunidade de aves pernaltas
(Fig. 39).
O programa de recuperação do
reservatório impõe uma correta gestão
dessa comunidade de vertebrados.
Nas figuras seguintes (Figs. 40 e 41),
trazemos uma relação com desenhos
das principais espécies da avifauna que
está presente nos diversos biótopos
que compõem a lagoa da Pampulha
(Pinto-Coelho et AL. 1998).
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Aves passeriformes mais relevantes encontradas na represa da Pampulha.
Fig. 41 – Aves passeriformes comumente encontradas no
Reservatório da Pampulha (Pinto-Coelho, Rull & Lopes, 1998).
1 - Furnarius figulus (Casaca-de-couro-da-lama)
2 - Certhiaxis cinnamomea (Curutié)
3 - Arundinicola leucocephala (Lavadeira-de-cara-branca)
4 - Donacobius atricapillus (Jacapanim)
5 - Agelaius cyanopus (Carretão)
6 - Agelaius ruficapillus (Garibaldi)
Ventos,
hidrodinâmica e a
verticalização da orla
da Pampulha.
Uma nova pesquisa mostra
porque a verticalização da
orla pode contribuir ainda
mais para a baixa qualidade
de água do reservatório.
Fig. 42 – Padrão de circulação hidrodinâmica da Lagoa da Pampulha às 16hs do dia 15/09/2009. No encarte, o tempo de residência da
água da Lagoa da Pampulha medido em dias em Setembro de 2009. Simulações obtidas com o software SISBAHIA da COPPETEC, UFRJ.
Os dados de batimetria foram fornecidos pelo LGAR-UFMG. Modelagens realizadas por Campos (2010).
Os gradientes espaciais em reservatórios
refletem a ação das forças controladoras dos
processos ecológicos. O uso de modelos
hidrodinâmicos pode ser útil para se investigar
os efeitos dos movimentos induzidos pelo
vento nos padrões de distribuição de diversas
variáveis biológicas. Assim, a turbidez, os
sólidos em suspensão ou a quantidade de
clorofila-a podem formar gradientes espaciais
em resposta à ação do vento. Uma pesquisa
recente (Campos, 2010) demonstrou que
os ventos podem, ao longo do dia, diminuir
sensivelmente as zonas de estagnação da água
na Pampulha. A construção de prédios altos
junto à orla pode interferir nesse processo,
impedindo a ação benéfica dos ventos sobre
a qualidade de água do reservatório.
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5150
A equipe do LGAR-UFMG vem pesquisando no reservatório da Pampulha desde 1988. Durante todo esse período, pudem-
os constatar a contínua depreciação da qualidade ambiental desse corpo d’água, apesar das inúmeras medidas já tomadas
por diversas administrações.
A literatura internacional contém numerosos exemplos de casos bem-sucedidos de recuperação de corpos de água com
dimensões até muito mais expressivas do que o reservatório da Pampulha. Acreditamos, assim, que é perfeitamente pos-
sível recuperarmos esse patrimônio ecológico da cidade.
A recuperação da represa não exige apenas obras de hidráulica, saneamento e de paisagismo. Ela passa por programas de
biomanipulação da ictiofauna, de recomposição da fauna nativa, de reabilitação dos habitats destruídos por canalizações
inadequadas e por intervenções mais sustentáveis sob o ponto de vista ambiental.
É muito importante que todo e qualquer programa de recuperação ambiental da represa seja acompanhado de um monito-
ramento ambiental que seja executado por profissionais do mais alto nível técnico-científico. A população e a sociedade,
em geral, devem ter acesso aos dados do monitoramento, se possível em tempo real. E, considerando a grande com-
plexidade das ações a serem desenvolvidas, propomos que o programa de recuperação da represa seja coordenado não
somente por um especialista, mas que essa coordenação seja composta por uma equipe de alto nível, composta por sani-
taristas, ecólogos, zoólogos, botânicos e, principalmente, por limnólogos, todos com comprovada experiência no assunto.
Belo Horizonte, 31 de janeiro de 2012
Ricardo M. Pinto-Coelho
Considerações Finais
Quadro II – Sugestões de ações integradas que podem levar a uma rápida melhoria da qualidade de água do Reservatório da Pampulha.
Salve a Pampulha
Medidas para a
recuperação da represa
da Pampulha
Todos cidadãos de Belo Horizonte
desejam um dia desfrutar da represa
da Pampulha totalmente despoluí-
da. Será isso possível? A equipe do
LGAR-UFMG acredita que sim, mas
isso irá depender da implementa-
ção de um programa multidisciplinar,
transversal, que tenha um foco (recu-
peração da represa), mas com múlti-
plos objetivos e metas em paralelo.
Não acreditamos que medidas de
saneamento por si só sejam suficien-
tes. Obras de infra-estrutura urbana,
embora necessárias, não devem ser
elencadas como sendo metas de um
projeto de recuperação em si. A re-
cuperação da Pampulha requer a
adoção de uma variedade de ações
sintetizadas no Quadro II, ao lado.
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5352
Literatura
Araújo, M. A. & R. M. Pinto-Coelho. 1998. Produção e consumo de carbono orgânico na comunidade planctônica da represa da Pampulha - Belo
Horizonte - MG. Revista Brasileira de Biologia 58(3):403-414.
Bezerra-Neto, J. F. & R. M. Pinto-Coelho. 2010. Nova batimetria do Reservatório da Pampulha com estimativa do volume de dragagem do
compartimento z<1,0m. Relatório Técnico-Científico. AMBITEC, São Paulo (SP), 23 pgs.
Campos, M. O. 2010. Fatores que influenciam a distribuição espacial do fitoplâncton na Lagoa da Pampulha - BH,MG. Dissertação de Mestrado, PG
Saneamento. Meio Ambiente e Recursos Hídricos, UFMG, Belo Horizonte, 75 pgs.
Giani, A. R. M. Pinto-Coelho, S. J. M.Oliveira & A. Pelli. 1988. Ciclo sazonal de parâmetros físico-químicos da água e distribuição horizontal de
nitrogênio e fósforo no reservatório da Pampulha (Belo Horizonte, MG, Brasil). Ciência e Cultura 40: 60-77.
Jaramillo, J. C. & R. M. Pinto-Coelho. 2011. Novo Atlas dos Organismos Zooplanctônicos do Reservatório da Pampulha, Belo Horizonte, MG.
URL: http://ecologia.icb.ufmg.br/~rpcoelho/atlas/atlas.htm.
Pinto-Coelho, R. M. 2000. Fundamentos em Ecologia.Soc. Ed. Artes Médicas - ARTMED, Porto Alegre (RS). 252 pgs.
Pinto-Coelho, R. M. 2009. Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Recóleo Coleta e Reciclagem de Óleos Vegetais Editora, Ltda. Belo
Horizonte, (MG), ISBN 978-85-61502-01-0, 340 pgs.
Pinto-Coelho, R. M., R. T. Moura & A. Moreira. 1997. Zooplankton and Bacteria contribution to phosphorus and nitrogen internal cycling in a tropical
and eutrophic reservoir: Pampulha Lake, Brazil. Int. Revue ges. Hydrobiologie 82(2):195-200.
Pinto-Coelho, R. M. 1998. Effects of eutrophication effects on seasonal patterns of mesozooplankton in a tropical reservoir: a four years study in
Pampulha Lake, Brazil. Freshwater Biology 40: 159-174.
Pinto-Coelho, R. M. & M. B. Greco. 1998. Teores de metais pesados em organismos zooplanctônicos e na macrófita Eichhornia crassipes na represa
da Pampulha, Belo Horizonte, MG. A Água em Revista (CPRM), 12:64-69.
Pinto-Coelho, R. M. & M. B. Greco. 1999. The contribution of water hyacinth (Eichhornia crassipes) and zooplankton to the internal cycling of
phosphorus in the eutrophic Pampulha Reservoir. Hydrobiologia 411:115-127.
Pinto-Coelho, R.M., L. Rull & E. Lopes. 2001. Recuperação Ambiental do Espelho de Água da Lagoa da Pampulha. Dragagem de longa distância
(DLD).
Relatório Técnico-Centífico para instrução de termo de referência do Licenciamento Ambiental da obra (CONAM). Belo Horizonte, (MG), 32 pgs.
Ribeiro-Júnior, E. A. 2000. Teores de lipídeos e conteúdo de fósforo em componentes da biota da Represa da Pampulha. Bolsa PROBIC Fapemig
Vigência: março de 1999 a fevereiro de 2000.
Resck, R., J. F. Bezerra-Neto & R. M. Pinto-Coelho. 2008. Nova batimetria e avaliação de parâmetros morfométricos da Lagoa da Pampulha (Belo
Horizonte, Brasil). Geografias, Revista do Departamento de Geografia -UFMG ISSN 1808-8058, 3(2):24-27.
Salviano, D. A. 2011. Teores de óleos e graxas em alguns reservatórios da região metropolitana de Belo Horizonte. Relatório Final, Bolsa IC PROBIC-
FAPEMIG. Belo Horizonte (MG).
Torres, I. C., R. P. Resck & R. M. Pinto-Coelho. 2007. Mass balance estimation of nitrogen, carbon, phosphorus and total suspended solids in the
urban eutrophic Pampulha reservoir, Brazil. Acta Limnol. Bras. 19(1):79-91.
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5554
Equipe de Trabalho
- Biol. Simone Santos (PG ECMVS-UFMG)
- Biol. Denise Pires Fernandes (PG ECMVS)
- Aqc. Gabriela Pires Fernandes (Aquicultura, UFMG)
- Biol. Laila de Oliveira Ribeiro (C. Biológicas, UFMG)
- Biol. Esp. Cid Antônio Morais Jr. (Coordenador de Laboratório)
- Biol. Eliane Corrêa Elias (C. Biológicas, UFMG)
- Ecol. Aloizio Pelinson Pereira Gomes (Ecologia, Uni-BH)
- Prof. Dr. Ricardo Motta Pinto Coelho 							
(Coordenador Geral, Fundação UNESCO-HidroEX
Laboratório de Gestão de Reservatórios
ICB – UFMG
Av. Antônio Carlos, 6627
http://ecologia.icb.ufmg.br/lgar/
E-mail: rmpc@icb.ufmg.br
Tel (031) 3409 2574
Créditos
Projeto Gráfico e Diagramação:
CZ Design&Publicidade - Cezar Costa
Ilustrações dos gráficos:
Cezar Costa
Impressão:
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Tiragem:
1ª edição - 1.000 exemplares
Rua Flor da Paixão, 35 - Jardim Alvorada
Belo Horizonte - MG - Brasil
CEP 30810-250
www.recoleo.com.br
• e d i t o r a •
ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha
56
O Atlas da Qualidade de Água da Represa da Pampulha traz uma síntese de mais de vinte anos de
pesquisas realizadas na represa da Pampulha pelo Laboratório de Gestão de Reservatórios da UFMG
(LGAR). Foram dois os principais objetivos dessa obra: (a) documentar o avanço da degradação ambiental
da qualidade de água da represa; (b) chamar a atenção para a necessidade urgente de se recuperar esse
que é um dos principais cartões-postais de Belo Horizonte.
O Atlas recebeu esse nome porque decidimos abordar o assunto principalmente através de cartas temáticas
(mapas) que fornecem uma visão espacial dos processos de eutrofização e contaminação ambiental que
ocorrem na represa. Toda a sua problemática ambiental é abordada com grande detalhamento, através de
dados recentes de monitoramento ambiental.
A obra foi escrita visando atingir um variado público-alvo, composto por estudantes pré-universitários e
universitários, professores, gestores ambientais, lideranças políticas e membros de ONG´s que atuam na
região da Pampulha e também o público em geral.
Finalmente, gostaríamos de agradecer a RECÓLEO EDITORA pelo apoio financeiro, que permitiu a edição
da obra e a distribuição gratuita de parte de sua primeira edição a escolas públicas da bacia hidrográfica
da represa da Pampulha.
Ricardo M. Pinto-Coelho
ATLAS da Qualidade de Água do Reservatório da Pampulha
• e d i t o r a •

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  • 2. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 32                                          Atlas da qualidade de água do Reservatório da Pampulha / [coordenação de] Ricardo Motta Pinto-Coelho ; colaboradores Simone Santos ...[et al.]. – Belo Horizonte: Recóleo, 2012. 45p. : il. Inclui bibliografia. ISBN: 1. Água – Qualidade - Pampulha, Lagoa da (Belo Horizonte, MG) – Atlas. 2. Pampulha, Lagoa da (Belo Horizonte, MG) – Atlas. I. Pinto-Coelho, Ricardo Motta. II. Santos, Simone. CDU: 502.7(815.1) 978-85-61502-03-4 56p ATLASd a Q u a l i d a d e d e Á g u a d o R e s e r v a t ó r i o d a P a m p u l h a R i c a r d o M o t t a P i n t o - C o e l h o ( C o o r d e n a d o r ) C o l a b o r a d o r e s ( c o - a u t o r e s ) A l o i z i o P e l i n s o n C i d A n t ô n i o M o r a i s J r. D e n i s e P i r e s F e r n a n d e s G a b r i e l a P i r e s F e r n a n d e s E l i a n e C o r r ê a E l i a s L a i l a d e O l i v e i r a R i b e i r o S i m o n e S a n t o s B e l o H o r i z o n t e , M i n a s G e r a i s R e c ó l e o E d i t o r a • 2 0 1 2 •
  • 3. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 5 ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha Sobre a obra e os autores 6 Apresentação 7 História da Pampulha 8 Problemas ambientais da Pampulha 9 Degradação ambiental da Pampulha 10 Acúmulo de lixo na represa 11 Bacia hidrográfica da Pampulha 12 Compartimentação do ecossistema “Pampulha” 13 Morfometria da Pampulha 14 Monitoramento da represa da Pampulha (2011) 15 Parâmetros básicos (temperatura, condutividade, potencial REDOX e oxigênio dissolvido) 16 Parâmetros (variáveis) básicos (tendências de longa duração) 17 Condutividade elétrica na Pampulha 18 Oxigênio dissolvido na Pampulha 19 Impactos do homem no ciclo do fósforo 20 Fósforo total na Pampulha 21 Compartimentação do fósforo na represa 22 Balanço de massa (fósforo) da represa 23 Relação entre fósforo e oxigênio em reservatórios eutróficos 24 Impactos do homem no ciclo do nitrogênio 25 Amônia na Pampulha (íon amônio) 26 Nitritos na Pampulha 27 Nitratos na Pampulha 28 Nitrogênio total na Pampulha 29 Radiação solar na coluna de água da represa da Pampulha 30 A importância dos sólidos em suspensão, turbidez e transparência para a qualidade da água 31 Peso seco orgânico (material em suspensão – fração orgânica) 32 Peso seco inorgânico (material em suspensão – fração inorgânica) 33 Peso seco total (material em suspensão soma de todas as frações) 34 Poluição por óleos e graxas 35 Óleos e graxas na represa da Pampulha 36 Contaminação por metais traços “ou metais pesados” 37 O lago (reservatório) como um ecossistema 38 A clorofila como indicador de microalgas e cianobactérias 39 Clorofila-a (monitoramento tradicional) 40 Clorofila-a (uma nova ferramenta para o monitoramento das algas) 41 O zooplâncton na represa da Pampulha 42 Balanço entre produção primária e o consumo do zooplâncton no represa da Pampulha 43 Macrófitas aquáticas (plantas superiores) na Pampulha 44 Macrófitas, zooplâncton e a ciclagem do fósforo na Pampulha 45 Avifauna da Pampulha 46-48 Ventos, hidrodinâmica e a verticalização da orla da Pampulha 49 Medidas sugeridas para a recuperação ecológica da represa 50 Considerações finais 51 Literatura 52 Índice
  • 4. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 76 O Atlas da Qualidade de Água da Pampulha tem o objetivo central de fornecer uma informação atualizada sobre as condições ambientais da represa da Pampulha, em Belo Horizonte. Esse lago artificial, cuja barragem foi inicialmente completada em 1938 (mais tarde ela se romperia e seria novamente refeita), vem sofrendo um processo de degradação ambiental que se acelerou muito a partir dos anos setenta. O Atlas sintetiza uma notável gama de informações ambientais a partir de 1988 quando o coordenador da obra participa de um artigo especializado no assunto (Giani et al. 1988). As informações são, sempre que possível, decodificadas do jargão específico usado na Limnologia (ciência que estuda as águas interiores) e são apresentadas a um variado público-alvo sob a forma de cartogramas (mapas temáticos), gráficos e esquemas que procuram ser bastante didáticos e fáceis de serem entendidos por outros tipos de profissionais e estudantes. A obra está destinada principalmente a estudantes e profissionais envolvidos diretamente na gestão, recuperação ou mitigação de impactos ambientais que normalmente ocorrem em reservatórios urbanos. Todo profissional que necessita atualizar-se em Limnologia Aplicada (advogados ambientais, cientistas sociais, geógrafos, engenheiros sanitaristas, etc.) poderá beneficiar-se com a leitura do Atlas. O objetivo central da obra não é somente o de chamar a atenção para a grande degradação que o reservatório da Pampulha vem enfrentando nos últimos quarenta anos, mas, sobretudo, mostrar que é possível despoluir e recuperar essa jóia que adorna a cidade se houver uma vontade da sociedade nesse sentido. Não poderia deixar de mencionar que o Atlas é o resultado de um trabalho em equipe. Não somente a equipe diretamente envolvida na redação da versão atual. A obra resulta também da participação de dezenas de estudantes de graduação, pós-graduação, alunos de iniciação científica, monitores de cursos presenciais (Ecologia Geral, Ecologia de Comunidades, Limnologia Aplicada, Bases Ecológicas para o Desenvolvimento Sustentável, etc.) e de cursos à distância (Fundamentos em Ecologia) que coordenei ao longo de 32 anos de vida universitária na UFMG. Belo Horizonte, janeiro de 2012. Ricardo Motta Pinto Coelho Coordenador da Obra Apresentação O Atlas é o resultado de um trabalho da equipe do LGAR(*)-UFMG. Essa equipe foi composta de estudantes de graduação, mestrado e doutorado, bolsistas de iniciação e aperfeiçoamento científicos. Outros atuaram no LGAR como biólogos ou como estagiários voluntários. Foram centenas de horas em intenso trabalho de laboratório, incontáveis dias e noites sob o sol e a chuva dentro de um pequeno barco coletando ou realizando os mais diversos experimentos no reservatório da Pampulha. O professor Ricardo sempre fez questão absoluta de envolver os seus alunos nas atividades de pesquisa. Muitos trabalhos importantes foram iniciados durantes as aulas prática do professor. E muitos dos conhecimentos gerados na Pampulha foram publicados não somente em artigos científicos, mas também em livros didáticos de grande sucesso tais como o livro Fundamentos em Ecologia, editado pela ARTMED de Porto Alegre em 2000 e o livro Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável, editado pela Recóleo em 2009. Uma das preocupações mais constantes do professor Ricardo tem sido a divulgação e aplicação dos conhecimentos adquiridos para a resolução de problemas ambientais enfrentados pela sociedade. O curso à distância “Fundamentos em Ecologia” é uma prova desse comprometimento, com suas centenas de ex- alunos que hoje atuam nas mais diferentes atividades profissionais levando os conhecimentos gerados na Pampulha e em outros locais estudados pelo LGAR a várias outras aplicações. A experiência acumulada pelo LGAR em muitos anos de pesquisas no reservatório da Pampulha tem servido de base para uma série de cursos, livros e várias outras publicações especializadas. A grande ênfase que o LGAR sempre deu para a contínua divulgação dessas pesquisas a vários segmentos da sociedade tem servido para desenvolver e ajustar programas de recuperação ambiental em muitas outras áreas degradadas em todo o país. Estamos, assim, contribuindo para um desenvolvimento mais sustentável do Brasil. Sobre a obra e os autores Autores Ricardo Motta Pinto- Coelho Cid Antônio Morais Jr Eliane Corrêa Elias Aloizio Pelinson Pereira Gomes Denise Pires Fernandes Gabriela Pires Fernandes Simone Paula dos Santos Laila de Oliveira Ribeiro
  • 5. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 98 Quais são os problemas ambientais que assolam o reservatótio da Pampulha? Quadro I- O esquema ilustrando alguns dos principais problemas ambientais que afetam a saúde ecológica do Reservatório da Pampulha, em Belo Horizonte. RMPC. A represa da Pampulha foi construída na administração do prefeito Octacílio Negrão de Lima sendo inaugurada em 1938. Durante a administração do prefeito (1940-1945) e mais tarde governador (1951-1955) Juscelino Kubitscheck, a represa foi o alvo de um grande programa de desenvolvimento urbanístico que incluiu a construção de um conjunto arquitetônico inovador e que marcou a história da Arquitetura e do Urbanismo no Brasil. Nesse conjunto, podemos citar o antigo cassino (hoje Museu de Arte da Pampulha), a famosa Igreja de São Francisco e a Casa do Baile, dentre outros locais (Fig. 01). A represa rompeu-se em abril de 1954 (Fig. 02) e foi reconstruída sendo re-inaugurada com a presença do então presidente Getúlio Vargas. Nos anos 50 e 60 ela voltou a ocupar o centro das atenções do belo- horizontino atraindo não somente um grande número de visitantes, mas tendo a sua orla habitada pela elite da cidade. A partir da década de setenta, no entanto, a represa passa a sofrer um processo de eutrofização que causa uma grande deterioração ecológica da lagoa. Fenômenos tais como a proliferação de mosquitos, caramujos transmissores da esquistossomose, de plantas aquáticas (macrófitas) e os florescimentos (waterblooms) de cianobactérias vão gradualmente criando uma atmosfera de decadência ecológica com claros impactos na vida cultural e social de toda Belo Horizonte. Após o ano 2000, a região da Pampulha passa a receber de volta toda uma série de investimentos em saneamento e paisagismo. Acreditamos que nos próximos anos a represa volte a ocupar o lugar de destaque para o qual ela foi concebida pelos seus criadores. O reservatório da Pampulha vem acumulando, ao longo dos últimos quarenta anos, uma série de graves problemas ambientais que afetam não só a qualidade das águas, mas também os organismos que lá vivem. A degradação da represa também afeta, de várias maneiras, todos os cidadãos que freqüentam a sua orla e, eventualmente, entram em contato direto com as suas águas (Quadro 1). História da Pampulha Fig. 01- “Anos dourados” da represa da Pampulha com o cassino (hoje museu) ao fundo. Fig. 02- Rompimento da represa, em abril de 1954. Deposição inadequada de lixo Verticalização da orla da represa Trânsito de veículos excessivo na Orla Doenças de veiculação hídrica Eutrofização Invasão de espécies exóticas Assoreamento Represa da Pampulha
  • 6. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 1110 Represa da Pampulha acúmulo de lixo na orla (Janeiro de 2009) Fig. 04- Podemos falar de gestão de recursos hídricos sem considerar a questão do lixo (resíduos sólidos)? O livro “Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil” (Pinto-Coelho, 2009), investiga as relações entre a gestão dos resíduos sólidos e a degradação ambiental da Represa da Pampulha. A foto ilustra a orla a represa após uma chuva intensa ocorrida em Belo Horizonte, em Janeiro de 2009. Foto: RMPC. Fig. 03- Foto aérea do processo de assoreamento que já comprometeu mais de 30% da superfície origi- nal da represa (SUDECAP, 1994). A Pampulha sofreu uma grande degradação ambiental a partir de 1970. Inicialmente, notou-se uma perda da área inundada da represa devido ao assoreamento (Fig. 03). Em aproximadamente vinte anos, a represa perdeu cerca de 20% de seu volume acumulado. Numa segunda etapa, a população passou a sofrer os efeitos da eutrofização: super crescimento de macrófitas, algas, proliferação das tilápias e déficit permanente de oxigênio dissolvido. Finalmente, o acúmulo do lixo doméstico torna-se um grande problema. O Quadro 1 (Pág. 7) sintetiza os principais problemas da represa. A deposição inadequada de lixo não biodegradável é um dos maiores obstá- culos a vencer pelos gestores da represa da Pampulha. O combate ao contínuo aporte de plásticos, vidros, metais, baterias, óleos, gorduras, etc. deve ser considerado seriamente pelas autoridades. Esse lixo ainda contribui para o entupimento da rede de drenagem urbana e interfere seriamente no fun- cionamento do ecossistema. O acúmulo de lixo na represa da Pampulha só pode ser evitado com ações de reciclagem ambiental, coleta seletiva de lixo, mais campanhas de Educação Ambiental nas escolas, clubes e em setores da sociedade civil (Fig. 4).
  • 7. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 1312 Fig. 06 – O reservatório da Pampulha pode ser dividido em cinco compartimentos (vide quadro em anexo). As áreas que ainda permanecem como espelhos de água são as áreas (1), (2) e (5). As demais áreas foram completamente assoreadas (3) e (4). Fig. 05 - A bacia hidrográfica da Pampulha conta com uma área de cerca de 97 km2 , distribuída entre os municípios de Belo Horizonte e Contagem, MG. A área original do espelho de água da represa era de 2,1 km2, com a acumulação de um volume de cerca de 11 milhões de m3. Hoje o volume acumulado pelo lago central é de 9,15 milhões de m3 e a área alagada está reduzida a 1,82 km2. Os principais tribu- tários da represa são: Mergulhão (A), Tijuco (B), Ressaca (C), Sarandi (D), Água Suja (E), Baraúnas (F), Córrego da AABB e microbacias do Córrego do Céu Azul (G, H). Cerca de 300 mil pessoas vivem nas suas diferentes sub-bacias (Fonte: SUDECAP). Reservatório da Pampulha Bacia Hidrográfica O Ecossistema do reservatório da Pampulha Um complexo de três lagos distintos, uma área úmida (brejo) e um parque ecológico. Um grande especialista em Limnologia (= estudo das águas interiores), o professor José Galizia Tundisi, já definiu as represas e os reservatórios como grandes “coletores de eventos”. Quase todas atividades humanas requerem intenso uso de água tratada. Por outro lado, essas atividades geram efluentes de diferentes tipos, com diferentes cargas poluidoras. Esses efluentes (esgotos domésticos e não domésticos) causam grandes impactos na qualidade de água de uma represa, caso não sejam tratados adequadamente. Centros comerciais (shoppings centers), universidades, garagens industriais, clubes, condomínios, centros de esportes são alguns exemplos de atividades que podem causar consideráveis impactos na qualidade de água de uma represa localizada em áreas urbanas. A área da bacia hidrográfica da represa da Pampulha é muito extensa em relação à superfície alagada. Essa característica contribui para que as atividades humanas existentes nessa grande área possam causar grandes impactos na qualidade de suas águas (Fig. 5). O reservatório da Pampulha apresenta-se, hoje, como um conjunto de diferentes biótopos tipicamente aquáticos ou característicos das zonas de transição entre sistemas aquáticos e terrestres. Esses biótopos exigem diferentes ações de recuperação, manejo e gestão ambiental (Fig. 6). A recuperação ecológica da represa da Pampulha requer, portanto, ações de saneamento, ações de biomanipulação e manejo de fauna e flora, projetos de recomposição e restauração das diferentes comunidades ecológicas envolvidas. A tabela, no encarte ao lado, ilustra as características de cada um dos compartimentos do “ecossistema” da Pam- pulha.
  • 8. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 1514 Monitoramento Plurianual da Represa da Pampulha Nossas pesquisas anteriores mostraram que a qualidade de água na represa da Pampulha piora muito durante a estação seca. Por outro lado, as chuvas causam bruscas oscilações na qualidade de água. Optamos, então, por apresentar os dados obtidos durante a estação seca (maio-setembro). Os dados que serão apresentados nesse Atlas foram tomados, em grande parte, em maio de 2011, em um período que corresponde já ao início da estação mais seca do ano (Fig. 08). O objetivo do Atlas foi o de apresentar um panorama detalhado da qualidade de água da represa da Pampulha, antes do programa de despoluição que será em breve iniciado. Será demonstrado que a represa apresenta uma série de características ambientais que a classificariam muito abaixo do mínimo desejável sob quaisquer dos padrões nacionais e internacionais normalmente usados para a qualidade de água. Os dados de qualidade de água estão concentrados em cinco diferentes sub-grupos: (a) variáveis básicas (temperatura, condutividade, oxigênio dissolvido e potencial REDOX); (b) nutrientes (nitrogênio e fósforo); (c) penetração de luz e sólidos em suspensão; (d) poluentes (metais e óleos e graxas) e (e) clorofila-a, fiitoplâncton e zooplâncton. Fig. 07 - Carta batimétrica do Reservatório da Pampulha realizada a partir de um levantamento de profundidades em agosto de 2010 (Bezerra- Neto & Pinto-Coelho, 2010). Represa da Pampulha Morfometria e batimetria de precisão Segundo as últimas pesquisas do LGAR (Resck et al , 2008) e Bezerra-Neto & Pinto-Coelho, 2010), a represa perdeu pelo menos 20% de seu volume acumulado nos últimos trinta anos. A carta batimétrica apresentada na Fig. 7 ilustra que corpo central da represa possui dois compartimentos distintos com diferentes profundidades médias. O assoreamento está continuamente comprometendo o compartimento mais raso da represa e obriga os gestores públicos a uma remoção periódica dos sedimentos acumulados nessa região mais rasa. A solução para diminuir o assoreamento passa por uma melhor gestão da construção civil em toda a bacia hidrográfica da represa (Pinto-Coelho, 2009). Além do assoreamento, a represa passa a sentir os efeitos da eutrofização, da poluição por metais tóxicos, acúmulo do lixo doméstico, dentre outros tipos de problemas ambientais Região afetada por intenso assoreamento com profundidades inferiores a 1.0 m. Fig. 08- Localização dos pontos amostrados usados para a determinação da qualidade de água no Reservatório da Pampulha na estação seca de 2011 (Data das coletas: 23 de maio de 2011).
  • 9. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 1716 Parâmetros Básicos Tendências de longa duração Na figura ao lado (Fig. 10), estão representadas as tendências de longa duração observadas na represa durante os anos noventa quando foi detectado um contínuo aumento dos nutrientes (N e P) e da condutividade elétrica, um decréscimo da transparência da água (medida pelo disco de Secchi) , além de aumentos nos teores de carbono orgânico e de clorofila-a (Pinto-Coelho, 1998). É evidente que as medidas de melhoria da qualidade de água que foram tomadas na última década deixaram muito a desejar... Nas figuras 11 e 12, a seguir, o leitor irá encontrar os dados da condutividade elétrica e oxigênio dissolvido, tomados na profundidade de 0,5m no dia 23 de maio de 2011. A condutividade apresentou valores muito elevados em todo o reservatório, com um nítido gradiente espacial caracterizado por valores crescentes em direção ao compartimento mais raso do reservatório, próximo à Ilha dos Amores (Fig. 11). O oxigênio dissolvido também apresentou um padrão espacial similar ao observado para a condutividade com valores bem mais elevados na porção mais rasa da represa (Fig. 12). Uma das características observadas nos reservatórios hipertróficos como a represa da Pampulha, é a ocorrência de valores muito elevados de oxigênio junto a superfície nas horas mais quentes e ensolaradas do dia. É interessante observar que as concentrações mais elevadas de clorofila-a foram também observadas nessa região da represa (Figs. 33 e 34). O elevado metabolismo existente na represa, causado pelo contínuo aporte de elementos limitantes à produção primária (ex: fósforo), impõe um grande déficit na oxigenação da coluna de água. Em decorrência, há uma grande flutuação diurna nos níveis de oxigênio dissolvido. As concentrações desse gás que são muito elevadas observadas durante o dia (principalmente junto a superfície) podem dar lugar a valores bem menores durante o período noturno. Fig. 10- Avanço da eutrofização do Reservatório da Pampulha nos anos 90. No painel superior, dados de fósforo total (TP) e amônio; no painel central , dados de transparência medida pelo disco de Secchi e de condutividade elétrica; no painel inferior, concentrações de carbono particulado (POC) e clorofila-a (Pinto-Coelho, 1998). Parâmetros Básicos Temperatura, condutividade, potencial REDOX e oxigênio dissolvido. A coluna de água do reservatório apresenta-se quase sempre estratificada. A superfície geralmente apresenta valores mais elevados para a temperatura da água e para o oxigênio dissolvido. Ambas as variáveis apresentam quedas expressivas de seus valores com o aumento da profundidade, sendo que o oxigênio dissolvido atinge valores quase nulos a partir de 6 metros (Fig. 09). A condutividade elétrica geralmente aumenta seus valores com a profundidade. A ausência de oxigênio, de luz aliadas a maior riqueza de sais dissolvidos (refletida pelo aumento da condutividade) criam um ambiente ideal para que bactérias anaeróbicas dominem o metabolismo das regiões mais profundas da Pampulha. Esse tipo de metabolismo causa forte alteração no potencial REDOX na coluna de água. Para o leigo, o resultado final dessas condições é a emissão de gases que causam odores desagradáveis (ex: H2S), contribuindo, assim, para a má qualidade de água do ambiente. Outro ponto a ser observado é que o forte déficit de oxigenação observado nas profundidades mais elevadas do que 6,0 metros limitam muito a ocorrência de vários tipos de organismos nessas regiões, tais como peixes e toda uma fauna de invertebrados bentônicos e outros organismos que vivem nessas regiões. Essas características contribuem para que a represa da Pampulha seja um “ecossistema instável”, propenso a sofrer abruptas oscilações em sua qualidade de água que podem, por exemplo, causar a morte de plantas e animais em curto espaço de tempo. Fig. 09 – Instrumentos e sondas usados no monitoramento de um reservatório: garrafa de Van Dorn (A) uma sonda limnológica Hidrolab (B). Acima, uma representação gráfica dos dados obtidos com a sonda (B). ORP: potencial REDOX, medido em mV. A B ORP (mV)
  • 10. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 1918 Fig. 12 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de oxigênio dissolvido (mg.L-1 O2) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.Fig. 11 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de condutividade elétrica (µS.cm-1 ) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 520 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 Condutividade Reservatório da Pampulha Dissolvido 6.8 7.1 7.4 7.7 8 8.3 8.6 8.9 9.2 9.5 9.8 10.1 10.4 10.7 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 Reservatório da Pampulha Oxigênio
  • 11. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 2120 Fig. 14 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de fósforo total (µg.L-1 P-PO4) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. Fósforo O Fósforo é um elemento químico que é considerado um nutriente essencial para a manutenção da vida nos ecossistemas. Entretanto, o fenômeno da eutrofização se estabelece quando há um aumento excessivo nas concentrações médias de fósforo em um reservatório, em decorrência das entradas externas desse elemento. O aumento do aporte externo de fósforo pode ser causado pelo aporte de vários tipos de efluentes (esgotos tratados parcialmente, esgotos “in natura”, efluentes industriais e via escoamento associado a rede de drenagem tanto superficial quanto subterrânea). Assim, o fósforo é um dos mais poderosos indicadores do processo eutrofização. Não resta dúvida alguma que o processo de recuperação da Pampulha requer uma redução considerável dos níveis de fósforo na represa. O homem interfere de várias formas no clico biogeoquímico do fósforo. O uso excessivo de fertilizantes, de detergentes domésticos e o aporte descontrolado de matéria orgânica podem causar um grande incremento das concentrações médias desse nutriente nas águas dos reservatórios. Ao lado, uma representação dos principais impactos humanos no ciclo do fósforo (Fig. 13). A Fig. 14, a seguir, demonstra que o reservatório da Pampulha apresenta concentrações muito elevadas desse nutriente. Fig. 13 - O Fósforo geralmente ocorre em teores muito elevados nos ambientes altamente eutrofizados. O homem afeta a ciclagem do fósforo nos recursos hídricos através do excesso de fertilizantes no solo, pelo contínuo aporte de esgotos não tratados ou via entrada de inúmeros tipos de efluentes industriais. Uma fonte geralmente negligenciada decorre do uso de detergentes domésticos com alto conteúdo de fósforo. No reservatório da Pampulha, o LGAR-UFMG vem observando um nítido gradiente espacial desse nutriente, caracterizado por valores cres- centes em direção ao compartimento mais raso do reservatório, próximo à Ilha dos Amores. Na próxima figura, o leitor irá encontrar os dados das concentrações de fósforo total, a partir de amostras tomadas na profundidade de 0,5m que confirmam essa tendência. 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 µg/L Fósforo Total Reservatório da Pampulha 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000
  • 12. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 2322 Deondevêma poluiçãoeoexcesso denutrientes limitantesquechegam naPampulha? O reservatório da Pampulha atua como uma grande “armadilha” para o fósforo. Assim, uma grande parte desse nutriente que chega ao reservatório fica retida nos principais compartimentos da biota ou mesmo nos sedimentos. Um estudo conduzido por integrantes do LGAR-UFMG determinou qual é a contribuição relativa de cada um dos principais tributários da represa em termos de aporte de fósforo (Torres et AL. 2007). O esquema ao lado (Fig. 16) demonstra que os ribeirões Ressaca/Sarandi são os principais responsáveis pela maior parte do aporte de fósforo que chega ao lago. Esse tipo de resultado é importante, por exemplo, para a tomada de decisões pelos gestores públicos no sentido de priorizar ações de saneamento na bacia hidrográfica da Pampulha. É interessante observar que, apesar de existirem uma série de estudos limnológicos indicando que o fósforo é o elemento limitante da produção primária para a maioria dos lagos e reservatórios, esse tipo de informação não tem sido levado em consideração nos planos de saneamento da represa da Pampulha. Fig. 16 - “Balanço de massa” de fósforo na Pampulha (Torres et al. 2007). A contribuição relativa de cada tributário é fornecida em termos reais (toneladas por ano) e relativos (% sobre o aporte total). Esse tipo de estudo é de fundamental importância para a identificação dos tributários que mais poluem o reservatório. Para onde vão os nutrientes que chegam na represa da Pampulha? Durante a década de 90, o LGAR-UFMG realizou uma série de estudos objetivando conhecer os detalhes do complexo metabolismo do fósforo que está muito ligado ao funcionamento de várias comunidades da represa, principalmente os organismos planctônicos. Muitos estudos limnológicos têm enfatizado o fato de que, ao contrário dos ecossistemas temperados, a biota aquática existente nos reservatórios tropicais tende a acumular quantidades muito expressivas de nutrientes em relação aos sedimentos. O LGAR-UFMG realizou um estudo objetivando determinar o acúmulo relativo de fósforo em determinados compartimentos da biota aquática do reservatório da Pampulha (Fig. 15). O estudo demonstrou, por exemplo, que o zooplâncton acumula e recicla grandes quantidades de fósforo no ambiente. Essa característica torna o sistema muito mais instável e propenso a abruptas flutuações na qualidade da água. Por outro lado, essa característica (uma maior “intrabiotização” dos ciclos biogeoquímicos) permite ao gestor público antever uma rápida melhora da qualidade da água, uma vez tenham sido interrompidos os aportes externos de fósforo ao ambiente. Fig. 15 - A figura acima ilustra a “compartimentação” biótica do fósforo na represa da Pampulha. Deve ser destacado os elevados teores relativos de fósforo existentes na biomassa de peixes (tilápias) e no zooplâncton (Ribeiro-Júnior, E.A. 2000 - redesenhado por Cezar Costa). Taboas Plâncton Aguapés Peixes Sedimentos P-sedimentos = 0,23% p.s. P-zoop, lâncton = 1,28% p.s. P-peixes = 0,97 - 1,07% p.s. P-taboas = 0,25 - 0,39% p.s. P-aguapé = 300 - 600 mg.m3 P-PO4 p.s. = peso seco Compartimentação (biótica) do fósforo na Pampulha (Tilápias) Reservatório (80.93%) de retenção AABB (0.05%) (0.03) Baraúna (0.07%) (0.02) Água Funda (7.03%) (3.86) Olhos D’água (0.13%) (0.07) Efluente (19.07%) (10.47) Mergulhão (0.56%) (0.31) Ressaca/Sarandi (92.04%) (50.52) Tijuco (0.11%) (0.06) Tributários=54.88 ton.ano-1
  • 13. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 2524 Nitrogênio O nitrogênio é, ao lado do fósforo, um dos macro-nutrientes que mais afetam a eutrofização de lagos, rios e reservatórios (Fig. 18). Suas principais formas inorgânicas são, respectivamente os íons amônio, nitrito e nitrato. Na represa da Pampulha, todas as formas de nitrogênio inorgânico foram encontradas em concentrações elevadas e em padrões espaciais diretamente associados à entrada de córregos altamente poluídos (Figs., 19,20, 21). Os nitratos, nitritos e o nitrogênio total (Fig. 22) foram mais elevados próximo à entrada do Córrego Mergulhão. Esse córrego sofreu uma canalização celular com cobertura que impede a entrada de luz. A escuridão aparentemente favorece o processo de concentração dessas formas de nitrogênio na água. Fig. 18 – Ciclo biogeoquímico do nitrogênio com indicações das principais interações entre as diferentes atividades humanas e as vias de ciclagem do nitrogênio na biosfera (original, RMPC). Os níveis de nitratos têm aumentado em muitos aqüíferos subterrâneos. Esse é um tipo de poluição que ainda não é levada muito a sério no Brasil, apesar dos graves problemas causados por esse poluente à saúde humana. Existe uma relação entre o fósforo e o oxigênio ? A teoria ecológica indica que apenas um elemento químico (limitante) regula os processos de produção e de consumo nos ecossistemas (Lei de Liebig). O fósforo é, muitas vezes, o fator limitante da produção primária em muitos ecossistemas aquáticos. Isso quer dizer que qualquer pulso (aumento) na concentração desse nutriente causa uma imediata aceleração de todo o metabolismo do ecossistema. Esse pulso resulta em um grande aumento na demanda por oxigênio, ou seja a D.B.O (Fig. 17). O aumento na D.B.O aliado a um permanente déficit de oxigênio tornam o ecossistema instável e propenso a sofrer severas flutuações ambientais. Fig. 17- Relação entre os pulsos de fósforo e a de- manda bioquímica de oxigênio (D.B.O) é direta. A todo aumento no aporte externo de fósforo corresponde um incremento na demanda por oxigênio na represa. Essa demanda, muitas vezes, não pode ser suprida pela atividade fotossintética das plantas. Daí, temos o aumento do déficit de oxigênio que pode causar a mortandade de peixes, dentre outras formas de de- gradação ambiental (RMPC, original). Decomposição Aumento na D.B.O Aumento na matéria orgânica em suspensão Déficit de oxigênio Elo microbiano Pulso de Fósforo Produção primária
  • 14. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 2726 Fig.20– Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de nitritos (µg.L-1 N-NO2) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.Fig. 19 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de amônio (µg.L-1 N-NH4) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. 80 84 88 92 96 100 104 108 112 116 120 124 128 132 µg/L Amônia Reservatório da Pampulha 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 3 3 3 8 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 µg/L 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 Nitrito Reservatório da Pampulha
  • 15. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 2928 Fig. 22 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de nitrogênio total (mg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. Pode-se ver claramente o efeito da canalização celular fechada no aumento dos níveis de nitrogênio total próximo a desembocadura do córrego Tijuco. Fig. 21 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de nitratos (µg.L-1 N-NO3) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. Pode-se ver claramente o efeito da canalização celular fechada no aumento dos níveis de nitratos próximo a desembocadura do córrego Tijuco. -5 1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79 85 91 97 103 109 µg/L 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 Nitrato Reservatório da Pampulha Nitrogênio Orgânico Total 3000 3300 3600 3900 4200 4500 4800 5100 5400 5700 6000 6300 6600 6900 7200 7500 7800 µg/L 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 Reservatório da Pampulha
  • 16. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 3130 As variáveis que medem a quantidade de matéria em suspensão ou dissolvida na água de um reservatório são: turbidez, o teor de sólidos em suspensão, a transparência da água (disco de Secchi) e a penetração da radiação solar na coluna de água. Todas essas variáveis são de grande importância na determinação da qualidade de água. Tanto a turbidez quanto a penetração de radiação solar podem ser determinadas “in situ” diretamente no local de coletas (Fig. 24). Nas figuras 25,26 e 27, a seguir, estão apresentadas sob a forma de mapas temáticos as concentrações de sólidos em suspensão na represa da Pampulha. Esses dados também ilustram a grande degradação das águas dessa represa já que os níveis de todas as frações dos sólidos (principalmente a fração orgânica) exibem valores muito elevados, incompatíveis com uma água de boa qualidade que seria esperada para um reservatório que é visto como um dos principais “cartões postais” de Belo Horizonte (dados de maio de 2011). Fig. 24 – Metodologias para a determinação da transparência da água, turbidez (turbidímetro), sólidos em suspensão (filtros usados no método gravimétrico) e o sensor usado para se medir a radiação solar na coluna de água de um reservatório (sensor de um radiômetro LiCor. Fotos: RMPC. Parâmetros Básicos Radiação Solar Parâmetros Básicos Sólidos em Suspensão Em virtude da grande degradação da qualidade de suas águas, a luz mal consegue ultrapassar o primeiro metro da coluna de água (Fig. 23). Essa característica física da água interfere na ecologia dos organismos, limitando, por exemplo, a atividade fotossintética das algas e, por conseguinte, a oxigenação de todo o ambiente. Essa característica pode explicar, por exemplo, a grande queda observada nos valores de oxigênio com o aumento da profundidade. A elevada turbidez causada, sobretudo, pelo elevado conteúdo de sólidos em suspensão (Figs. 25,26 e 27), é o fator responsável pela baixa penetração da luz na coluna de água desse reservatório. Fig.23 – Dois instrumentos usados para se medir a transparência da água: disco de Secchi (A) e o radiômetro PAR-UV (B). Essa última sonda é capaz de medir tanto a radiação usada pelas algas (PAR), ou seja, aquela compreendida entre 400 e 700 nm de comprimento de onda. A sonda mede também a penetração de duas bandas de radiação UV na coluna (320 e 340 nm). A radiação UV pode causar uma série de problemas genéticos nos organismos aquáticos. Represa da Pampulha - 22 de maio de 2007 A B
  • 17. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 3332 Fig. 26 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de sólidos em suspensão (fração inorgânica em mg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011.Fig. 25 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de sólidos em suspensão (fração orgânica, em mg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 mg/L 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 Reservatório da Pampulha Orgânico Peso Seco 2.2 2.6 3 3.4 3.8 4.2 4.6 5 5.4 5.8 6.2 6.6 7 7.4 7.8 8.2 mg/L 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 Reservatório da Pampulha Peso Seco Inorgânico
  • 18. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 3534 Poluição por Óleos e Graxas Os reservatórios e rios que se localizam em zonas urbanas são muito afetados por esse tipo de poluição. As principais fontes de óleos e graxas estão relacionadas ao descarte indevido de óleo de fritura e gordura animal por domicílios, condomínios, restaurantes, bares, hotéis e shopping centers. Outras fontes desses contaminantes estão relacionadas ao descarte de lubrificantes automotores associados às atividades de oficinas mecânicas, canteiros de obras, diversos tipos de indústrias, minerações, empresas de transporte e outras atividades onde seja intenso o uso de lubrificantes automotores (Fig. 28). Uma pesquisa recente conduzida por uma bolsista de iniciação científica, vinculada ao LGAR-UFMG e sob a orientação de Ricardo M. Pinto-Coelho (Salviano, 2011), demonstrou que a represa da Pampulha apresenta índices desse poluente acima do que é recomendado pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) (Fig. 29). O controle da poluição por óleos e graxas requer ações coordenadas dos gestores púbicos que passam pelo incentivo à reciclagem do óleo de fritura, pela coleta sistemática dos lubrificantes automotores e por melhorias no sistema de tratamento de esgotos bem como na gestão de resíduos sólidos em toda a bacia hidrográfica da represa. Um ponto a ser considerado: ao contrário do que acontece com os óleos automotivos, a reciclagem do óleo de fritura é uma atividade que ainda requer uma maior regulamentação do poder público. Trata-se de uma atividade que gera resíduos potencialmente poluidores que devem ter uma destinação adequada. Devido à falta de regulamentação, muitas empresas de reciclagem de óleos vegetais atuam com licenças precárias, não dão a correta destinação aos resíduos gerados e se utilizam de tipo de artifícios ilegais para se manterem no mercado. Fig. 28- Fontes mais comuns de poluição por “óleos e graxas” nos ecossistemas aquáticos urbanos e peri-urbanos (RMPC, original). Fig. 27 – Concentrações sub-superficiais (0,5 m) de sólidos em suspensão (soma das frações inorgânica e orgânica, em mg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 mg/L 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 Reservatório da PampulhaReservatório da Pampulha Peso Seco Total Óleos e Lubrificantes Automotivos Óleos Vegetais Gorduras Animais
  • 19. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 3736 Fig.30 - A má gestão do lixo urbano e resíduos industriais levaram a um quadro de contaminação por metais traços (pesados) nesse ambiente (Pinto-Coelho, 2009). Os dados de metais foram mesurados por Pinto-Coelho & Greco (1998). Todos os valores são em m.g.t-1 (p.p.b.). Reservatório da Pampulha Aporte de esgotos domésticos não tratados e a contaminação por metais. Pesquisas conduzidas pelo LGAR- UFMG demonstraram que a deposição inadequada de lixo industrial e ele- trônico pode ser uma das causas da contaminação persistente por metais (Cd, Zn, Pb) em vários compartimentos da represa (sedimentos, macrófitas, organismos planctônicos, etc.) (Fig. 30). Fig. 29 – Concentrações superficiais de óleos e graxas (mg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. Essas substâncias por terem uma densidade menor do que a da água tendem a se concentrar na superfície o que facilita a sua dispersão pelos ventos (Salviano, 2011). Óleos e Graxas mg/L 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 Reservatório da Pampulha
  • 20. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 3938 Fig. 32 - O excesso de algas causa uma rápida depreciação na qualidade de água uma vez que interfere na transparência, no odor, na oxigenação e na sedimentação, processos relevantes no metabolismo aquático. A clorofila-a é um pigmento algal que reflete diretamente a densidade e biomassa desses organismos no ambiente. No encarte acima (A), a cianobactéria Microcystis que é muito comum na Represa da Pampulha (Fotos: RMPC). Microalgas, cianobatérias e clorofila-a O lago (ou reservatório) como um ecossistema A clorofila-a é talvez a variável biológica mais importante em qualquer programa de monitoramento ambiental da qualidade de água de um reservatório eutrófico. Ela reflete diretamente a densidade das microalgas e cianobactérias, presentes no ambiente. O excesso de algas é um dos fatores que mais contribuem para uma má qualidade de água nesse tipo de ambiente (Fig. 32). Nas figuras 33 e 34, a seguir, apresentamos as concentrações de clorofila-a medidas através de duas metodologias distintas para o reservatório da Pampulha. Na figura 33, o padrão espacial resultante das medidas de clorofila-a tomadas em 19 deferentes pontos e processadas com método tradicional (Lorenzen). Na figura 34, apresentamos o resultado das mensurações de clorofila obtidas com uma nova metodologia desenvolvida no LGAR-UFMG. Usamos uma sonda fluorimétrica SCUFA (Turner, Inc.) que permite a obtenção de milhares de dados, em poucas horas, informações essas geo-referenciadas por meio do acoplamento da sonda a um aparelho de D-GPS de alta precisão. Um programa (software) desenvolvido no LGAR-UFMG permite a sincronização dessas informações e a obtenção de um arquivo de texto que pode ser imediatamente usado em programas SIG com o objetivo de gerar um mapa temático específico. A recuperação da represa da Pampulha requer uma “visão ecossistêmica” dos gestores públicos responsáveis pela sua recuperação. Esse tipo de visão requer um conhecimento do funcionamento e interações de todas as principais comunidades que existem em um lago ou reservatório. Esse tipo de conhecimento é ainda mais importante nos ecossistemas tropicais onde existe uma interação ainda mais intensa entre todas as comunidades, em decorrência das maiores taxas de metabolismo de produção, consumo e ciclagem de elementos. Quais são as principais comunidades existentes em um reservatório ou lago? A figura 31 ilustra que as principais comunidades existentes nesse tipo de ecossistema seriam: (a) organismos planctônicos (fito e zooplâncton); (b) organismos litorâneos (macrófitas e mesofauna do litoral); (c) fauna e flora bentônicas, associadas aos detritos e sedimentos; (d) vertebrados (aves e peixes). As setas da figura 31 procuram ressaltar as interações bióticas existentes entre esses compartimentos biológicos (predação, competição, excreção, simbioses e outros antagonismos, etc.). A qualidade de água de uma represa nada mais é do que a resultante dos aportes externos em contínua interação com os compartimentos biológicos acima assinalados. Sendo assim, apenas tratar os esgotos que chegam à represa, sem tratar dos males que afetam todas essas comunidades pode não trazer os resultados finais esperados. Fig. 31 - A luz e os nutrientes (N e P) permitem o desenvolvimento de inúmeras plantas aquáticas assim divididas: vegetação litorânea (macrófitas) e o fitoplâncton (microorganismos que vivem nas águas abertas). Os principais consumidores dessa matéria vegetal são: zooplâncton, bentos e meio fauna do litoral. A cadeia alimentar se completa com os peixes, aves, etc. As bactérias, ao lado do zooplâncton, exercem um importante papel na reciclagem dos nutrientes essenciais (modificado de Smith, 1999). A
  • 21. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 4140 Fig. 34 – Concentrações superficiais de clorofila-a (sonda fluorimétrica SCUFA, Turner ®) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. Super-amostragem com 1250 pontos. Unidades relativas equivalentes a µg.L-1. No encarte (A), a sonda fluorimétrica SCUFA que possibilitou a realização dessa pesquisa. Fig. 33 – Concentrações superficiais de clorofila-a (método de Lorenzen em µg.L-1) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 Clorofila 0 7.5 15 22.5 30 37.5 45 52.5 60 67.5 75 82.5 90 97.5 105 112.5 120 127.5 135 Reservatório da Pampulha 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 µg/L 605000 605500 606000 606500 607000 607500 608000 7803500 7804000 7804500 7805000 7805500 7806000 Clorofila Reservatório da Pampulha Trajeto Realizado para coletas A Fig. 34 – Concentrações superficiais de clorofila-a (sonda fluorimétrica SCUFA, Turner ®) no Reservatório da Pampulha, em 23 de maio de 2011. Super-amostragem com 1250 pontos. Unidades relativas equivalentes a µg.L-1. No encarte (A), a sonda fluorimétrica SCUFA que possibilitou a realização dessa pesquisa. 38 A
  • 22. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 4342 Produção e consumo de carbono no reservatório da Pampulha O zooplâncton assimila muito mais carbono do que é produzido pelas algas. Fig. 36 - Uma das principais características ecológicas dos ecossistemas hipereutróficos é a falta de equilíbrio entre produção primária (fotossíntese) e a produção secundária (assimilação do zooplâncton). No gráfico acima, é demonstrado que a assimilação de alimento do zooplâncton é muito superior a quantidade de energia que é fixada pelas algas no ambiente. A diferença é coberta pela matéria orgânica e nutrientes que entram pelos tributários poluídos. A razão entre essas variáveis pode ser usada para um eficaz monitoramento do progresso da despoluição da represa. (Araújo & Pinto-Coelho, 1998). Zooplâncton da Pampulha: Uma das comunidades mais importantes em lagos e reservatórios é formada pelos organismos pertencentes ao fito e zooplâncton. O zooplâncton não é importante apenas por ser um elo intermediário na teia alimentar que une os produtores primários aos consumidores de topo de cadeia, tais como os peixes e as aves. Estudos conduzidos pelo LGAR-UFMG com organismos zooplanctônicos, coletados na represa da Pampulha, comprovaram a sua importância como recicladores de matéria orgânica e nutrientes para todo o ecossistema (Pinto-Coelho et AL.1997). O zooplâncton pode ainda ser usado ainda como um importante indicador ambiental não somente de agentes poluidores (metais traços ou pesticidas, por exemplo). Essa assembleia de organismos, que possui elevadas taxas metabólicas, é um excelente indicador dos padrões gerais de fluxo de energia e transporte de nutrientes adotados por todo o ecossistema. O zooplâncton vem sofrendo com a degradação da represa da Pampulha. Muitas espécies não resistiram ao incremento da eutrofização e desapareceram do sistema (Fig. 35). Um dos estudos experimentais mais importantes conduzidos pelo LGAR-UFMG foi o que comparou as taxas de produção primária (fotossíntese) das algas da represa com o consumo de alimentos pelo zooplâncton (Araújo & Pinto-Coelho, 1998). Essa comparação foi feita em termos de carbono assimilado pelas algas e pelo zooplânton. A figura 36 ilustra os resultados da comparação dos metabolismos do fitoplâncton e do zooplâncton da represa da Pampulha. Esse trabalho realizou essas estimativas para todo um ano de estudos. O estudo demonstrou claramente que as demandas energéticas do zooplâncton superam a produção primária devida às algas fitoplanctônicas (<50 µm). Esses resultados nos permitem tirar duas conclusões muito importantes para a gestão ambiental do ecossistema: (a) o zooplâncton se alimenta de outras fontes energéticas, provavelmente de bactérias que exploram a matéria orgânica associada aos esgotos domésticos não tratados; (b) uma grande parte da energia assimilada pelas algas e outros produtores primários (> 50 µm) não é metabolizada pelo zooplâncton o que traz como conseqüência imediata o acúmulo de algas e cianobactérias no ambiente, causando uma grande queda na qualidade de água na represa. Fig. 35 - Exemplos de espécies que compõem o zooplâncton do Reservatório da Pampulha. Algumas espécies ilustradas foram extintas em decorrência do avanço da eutrofização. Fotos: RMPC. Maiores informações no website: http://ecologia.icb.ufmg.br/~rpcoelho/atlas.htm (Jaramillo & Pinto-Coelho, 2011). Extinto Extinto Extinto
  • 23. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 4544 Podem os organismos interferir na ciclagem de nutrientes? Zooplâncton e macrófitas como “engenheiros do ambiente” Como já foi dito anteriormente, o fósforo é um elemento limitante para a produção primária. O fósforo tem o potencial de regular todo o metabolismo de uma represa eutrófica, desde que seu metabolismo geral esteja sendo limitado por esse nutriente. Considerando esse princípio geral da teoria ecológica, seria muito importante conhecermos os papéis desempenhados por alguns dos organismos presentes no ecossistema na ciclagem do fósforo. Esse foi o objetivo de um estudo realizado por integrantes do LGAR-UFMG (Pinto-Coelho & Greco, 1999). A pesquisa comparou as taxas de excreção de fósforo devidas ao zooplâncton com as taxas de decomposição (expressas em termos de fósforo) devidas às macrófitas presentes na represa da Pampulha (Fig. 38). O estudo demonstrou que ambas as comunidades biológicas podem ter um papel relevante na ciclagem de fósforo dentro do ecossistema. Em conclusão, a represa da Pampulha, mesmo tendo uma péssima qualidade de água, hospeda em suas águas plantas e organismos que realizam um importante “trabalho” para o meio ambiente. Fig. 38 - Tanto o zooplâncton quanto as macrófitas aquáticas são importantes na ciclagem de fósforo no ambiente. O gráfico acima ilustra as taxas de liberação de fósforo associadas ao metabolismo de decomposição das macrófitas e da excreção do zooplâncton. Essas taxas demonstram o grande potencial desses organismos em liberar o nutriente para o ecossistema. Ao contrário dos sistemas temperados, a ciclagem de elementos é influenciada intensamente por organismos nos trópicos. (Pinto-Coelho & Greco, 1999). Fig. 37 - A represa da Pampulha vem sofrendo ao longo dos últimos anos, vários episódios caracterizados por um crescimento acima do normal de diversos tipos de plantas aquáticas (macrófitas). Na foto, um desses eventos que ocorreu em 2006. A Prefeitura de Belo Horizonte instalou redes de contenção para impedir que as plantas ocupem todo o espelho de água da represa (foto). Macrófitas aquáticas na Pampulha As macrófitas são plantas aquáticas que se beneficiam muito das condições ambientais dominantes em um reservatório eutrófico. O excesso de nutrientes, a abundância de luz permitem um rápido desenvolvimento dessas plantas. Um reservatório eutrófico, com águas muito turvas, como a represa da Pampulha, favorece o crescimento de plantas aquáticas flutuantes tais como o jacinto ou o príncipe d´água (Eichhornia crassipes). A presença de macrófitas em quantidades excessivas causa uma série de problemas ambientais graves tais como a proliferação de mosquitos, de moluscos e outros organismos alguns dos quais potencialmente transmissores de doenças de veiculação hídrica.
  • 24. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 4746 Aves pernaltas encontradas na represa da Pampulha (2001). 1 - Gallinula chloropus (Frango-d’água-comum) 2 - Podilymbus podiceps (Mergulhão) - Plumagem reprodutiva 2a - Plumagem de descanso 3 - Tringa solitaria (Maçarico-solitário) 4 - Vanellus chilensis (Quero-quero) 5 - Jacana jacana (Jaçanã) - Adulto 5a - Jovem 6 - Phalacrocorax brasilianus (Biguá) 7 - Aramus guarauna (Carão) 8 - Dendrocygna bicolor (Marreca-caneleira) 9 - Dendrocygna viduata (Irerê) 10 - Dendrocygna autumnalis (Asa-branca) 11 - Netta erythrophthalma (Paturi-preta) 12 - Amazonetta brasiliensis (Ananaí) 13 - Casmerodius albus (Garça-branca-grande) 14 - Egretta thula (Garça-branca-pequena) 15 - Nycticorax nycticorax (Savacu) 16 - Butorides striatus (Socozinho) 17 - Tringa flavipes (Maçarico-de-perna-amarela) Fig. 40 – Aves pernaltas encontradas no Reservatório da Pampulha (Pinto-Coelho, Rull e Lopes, 1998. A eutrofização favoreceu o aumento da riqueza e biomassa de aves Fig. 39 - A foto ilustra um banco de garças próximo a entrada do canal dos ribeirões Ressaca e Sarandi no lago. Foto: RMPC. O assoreamento e a eutrofização ocorridos nas duas últimas décadas do século XX formaram novos biótopos que foram rapidamente colonizados por uma rica comunidade de aves pernaltas (Fig. 39). O programa de recuperação do reservatório impõe uma correta gestão dessa comunidade de vertebrados. Nas figuras seguintes (Figs. 40 e 41), trazemos uma relação com desenhos das principais espécies da avifauna que está presente nos diversos biótopos que compõem a lagoa da Pampulha (Pinto-Coelho et AL. 1998).
  • 25. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 4948 Aves passeriformes mais relevantes encontradas na represa da Pampulha. Fig. 41 – Aves passeriformes comumente encontradas no Reservatório da Pampulha (Pinto-Coelho, Rull & Lopes, 1998). 1 - Furnarius figulus (Casaca-de-couro-da-lama) 2 - Certhiaxis cinnamomea (Curutié) 3 - Arundinicola leucocephala (Lavadeira-de-cara-branca) 4 - Donacobius atricapillus (Jacapanim) 5 - Agelaius cyanopus (Carretão) 6 - Agelaius ruficapillus (Garibaldi) Ventos, hidrodinâmica e a verticalização da orla da Pampulha. Uma nova pesquisa mostra porque a verticalização da orla pode contribuir ainda mais para a baixa qualidade de água do reservatório. Fig. 42 – Padrão de circulação hidrodinâmica da Lagoa da Pampulha às 16hs do dia 15/09/2009. No encarte, o tempo de residência da água da Lagoa da Pampulha medido em dias em Setembro de 2009. Simulações obtidas com o software SISBAHIA da COPPETEC, UFRJ. Os dados de batimetria foram fornecidos pelo LGAR-UFMG. Modelagens realizadas por Campos (2010). Os gradientes espaciais em reservatórios refletem a ação das forças controladoras dos processos ecológicos. O uso de modelos hidrodinâmicos pode ser útil para se investigar os efeitos dos movimentos induzidos pelo vento nos padrões de distribuição de diversas variáveis biológicas. Assim, a turbidez, os sólidos em suspensão ou a quantidade de clorofila-a podem formar gradientes espaciais em resposta à ação do vento. Uma pesquisa recente (Campos, 2010) demonstrou que os ventos podem, ao longo do dia, diminuir sensivelmente as zonas de estagnação da água na Pampulha. A construção de prédios altos junto à orla pode interferir nesse processo, impedindo a ação benéfica dos ventos sobre a qualidade de água do reservatório.
  • 26. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 5150 A equipe do LGAR-UFMG vem pesquisando no reservatório da Pampulha desde 1988. Durante todo esse período, pudem- os constatar a contínua depreciação da qualidade ambiental desse corpo d’água, apesar das inúmeras medidas já tomadas por diversas administrações. A literatura internacional contém numerosos exemplos de casos bem-sucedidos de recuperação de corpos de água com dimensões até muito mais expressivas do que o reservatório da Pampulha. Acreditamos, assim, que é perfeitamente pos- sível recuperarmos esse patrimônio ecológico da cidade. A recuperação da represa não exige apenas obras de hidráulica, saneamento e de paisagismo. Ela passa por programas de biomanipulação da ictiofauna, de recomposição da fauna nativa, de reabilitação dos habitats destruídos por canalizações inadequadas e por intervenções mais sustentáveis sob o ponto de vista ambiental. É muito importante que todo e qualquer programa de recuperação ambiental da represa seja acompanhado de um monito- ramento ambiental que seja executado por profissionais do mais alto nível técnico-científico. A população e a sociedade, em geral, devem ter acesso aos dados do monitoramento, se possível em tempo real. E, considerando a grande com- plexidade das ações a serem desenvolvidas, propomos que o programa de recuperação da represa seja coordenado não somente por um especialista, mas que essa coordenação seja composta por uma equipe de alto nível, composta por sani- taristas, ecólogos, zoólogos, botânicos e, principalmente, por limnólogos, todos com comprovada experiência no assunto. Belo Horizonte, 31 de janeiro de 2012 Ricardo M. Pinto-Coelho Considerações Finais Quadro II – Sugestões de ações integradas que podem levar a uma rápida melhoria da qualidade de água do Reservatório da Pampulha. Salve a Pampulha Medidas para a recuperação da represa da Pampulha Todos cidadãos de Belo Horizonte desejam um dia desfrutar da represa da Pampulha totalmente despoluí- da. Será isso possível? A equipe do LGAR-UFMG acredita que sim, mas isso irá depender da implementa- ção de um programa multidisciplinar, transversal, que tenha um foco (recu- peração da represa), mas com múlti- plos objetivos e metas em paralelo. Não acreditamos que medidas de saneamento por si só sejam suficien- tes. Obras de infra-estrutura urbana, embora necessárias, não devem ser elencadas como sendo metas de um projeto de recuperação em si. A re- cuperação da Pampulha requer a adoção de uma variedade de ações sintetizadas no Quadro II, ao lado.
  • 27. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 5352 Literatura Araújo, M. A. & R. M. Pinto-Coelho. 1998. Produção e consumo de carbono orgânico na comunidade planctônica da represa da Pampulha - Belo Horizonte - MG. Revista Brasileira de Biologia 58(3):403-414. Bezerra-Neto, J. F. & R. M. Pinto-Coelho. 2010. Nova batimetria do Reservatório da Pampulha com estimativa do volume de dragagem do compartimento z<1,0m. Relatório Técnico-Científico. AMBITEC, São Paulo (SP), 23 pgs. Campos, M. O. 2010. Fatores que influenciam a distribuição espacial do fitoplâncton na Lagoa da Pampulha - BH,MG. Dissertação de Mestrado, PG Saneamento. Meio Ambiente e Recursos Hídricos, UFMG, Belo Horizonte, 75 pgs. Giani, A. R. M. Pinto-Coelho, S. J. M.Oliveira & A. Pelli. 1988. Ciclo sazonal de parâmetros físico-químicos da água e distribuição horizontal de nitrogênio e fósforo no reservatório da Pampulha (Belo Horizonte, MG, Brasil). Ciência e Cultura 40: 60-77. Jaramillo, J. C. & R. M. Pinto-Coelho. 2011. Novo Atlas dos Organismos Zooplanctônicos do Reservatório da Pampulha, Belo Horizonte, MG. URL: http://ecologia.icb.ufmg.br/~rpcoelho/atlas/atlas.htm. Pinto-Coelho, R. M. 2000. Fundamentos em Ecologia.Soc. Ed. Artes Médicas - ARTMED, Porto Alegre (RS). 252 pgs. Pinto-Coelho, R. M. 2009. Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Recóleo Coleta e Reciclagem de Óleos Vegetais Editora, Ltda. Belo Horizonte, (MG), ISBN 978-85-61502-01-0, 340 pgs. Pinto-Coelho, R. M., R. T. Moura & A. Moreira. 1997. Zooplankton and Bacteria contribution to phosphorus and nitrogen internal cycling in a tropical and eutrophic reservoir: Pampulha Lake, Brazil. Int. Revue ges. Hydrobiologie 82(2):195-200. Pinto-Coelho, R. M. 1998. Effects of eutrophication effects on seasonal patterns of mesozooplankton in a tropical reservoir: a four years study in Pampulha Lake, Brazil. Freshwater Biology 40: 159-174. Pinto-Coelho, R. M. & M. B. Greco. 1998. Teores de metais pesados em organismos zooplanctônicos e na macrófita Eichhornia crassipes na represa da Pampulha, Belo Horizonte, MG. A Água em Revista (CPRM), 12:64-69. Pinto-Coelho, R. M. & M. B. Greco. 1999. The contribution of water hyacinth (Eichhornia crassipes) and zooplankton to the internal cycling of phosphorus in the eutrophic Pampulha Reservoir. Hydrobiologia 411:115-127. Pinto-Coelho, R.M., L. Rull & E. Lopes. 2001. Recuperação Ambiental do Espelho de Água da Lagoa da Pampulha. Dragagem de longa distância (DLD). Relatório Técnico-Centífico para instrução de termo de referência do Licenciamento Ambiental da obra (CONAM). Belo Horizonte, (MG), 32 pgs. Ribeiro-Júnior, E. A. 2000. Teores de lipídeos e conteúdo de fósforo em componentes da biota da Represa da Pampulha. Bolsa PROBIC Fapemig Vigência: março de 1999 a fevereiro de 2000. Resck, R., J. F. Bezerra-Neto & R. M. Pinto-Coelho. 2008. Nova batimetria e avaliação de parâmetros morfométricos da Lagoa da Pampulha (Belo Horizonte, Brasil). Geografias, Revista do Departamento de Geografia -UFMG ISSN 1808-8058, 3(2):24-27. Salviano, D. A. 2011. Teores de óleos e graxas em alguns reservatórios da região metropolitana de Belo Horizonte. Relatório Final, Bolsa IC PROBIC- FAPEMIG. Belo Horizonte (MG). Torres, I. C., R. P. Resck & R. M. Pinto-Coelho. 2007. Mass balance estimation of nitrogen, carbon, phosphorus and total suspended solids in the urban eutrophic Pampulha reservoir, Brazil. Acta Limnol. Bras. 19(1):79-91.
  • 28. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 5554 Equipe de Trabalho - Biol. Simone Santos (PG ECMVS-UFMG) - Biol. Denise Pires Fernandes (PG ECMVS) - Aqc. Gabriela Pires Fernandes (Aquicultura, UFMG) - Biol. Laila de Oliveira Ribeiro (C. Biológicas, UFMG) - Biol. Esp. Cid Antônio Morais Jr. (Coordenador de Laboratório) - Biol. Eliane Corrêa Elias (C. Biológicas, UFMG) - Ecol. Aloizio Pelinson Pereira Gomes (Ecologia, Uni-BH) - Prof. Dr. Ricardo Motta Pinto Coelho (Coordenador Geral, Fundação UNESCO-HidroEX Laboratório de Gestão de Reservatórios ICB – UFMG Av. Antônio Carlos, 6627 http://ecologia.icb.ufmg.br/lgar/ E-mail: rmpc@icb.ufmg.br Tel (031) 3409 2574 Créditos Projeto Gráfico e Diagramação: CZ Design&Publicidade - Cezar Costa Ilustrações dos gráficos: Cezar Costa Impressão: XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX Tiragem: 1ª edição - 1.000 exemplares Rua Flor da Paixão, 35 - Jardim Alvorada Belo Horizonte - MG - Brasil CEP 30810-250 www.recoleo.com.br • e d i t o r a •
  • 29. ATLAS•daQualidadedeÁguadoReservatóriodaPampulha 56 O Atlas da Qualidade de Água da Represa da Pampulha traz uma síntese de mais de vinte anos de pesquisas realizadas na represa da Pampulha pelo Laboratório de Gestão de Reservatórios da UFMG (LGAR). Foram dois os principais objetivos dessa obra: (a) documentar o avanço da degradação ambiental da qualidade de água da represa; (b) chamar a atenção para a necessidade urgente de se recuperar esse que é um dos principais cartões-postais de Belo Horizonte. O Atlas recebeu esse nome porque decidimos abordar o assunto principalmente através de cartas temáticas (mapas) que fornecem uma visão espacial dos processos de eutrofização e contaminação ambiental que ocorrem na represa. Toda a sua problemática ambiental é abordada com grande detalhamento, através de dados recentes de monitoramento ambiental. A obra foi escrita visando atingir um variado público-alvo, composto por estudantes pré-universitários e universitários, professores, gestores ambientais, lideranças políticas e membros de ONG´s que atuam na região da Pampulha e também o público em geral. Finalmente, gostaríamos de agradecer a RECÓLEO EDITORA pelo apoio financeiro, que permitiu a edição da obra e a distribuição gratuita de parte de sua primeira edição a escolas públicas da bacia hidrográfica da represa da Pampulha. Ricardo M. Pinto-Coelho ATLAS da Qualidade de Água do Reservatório da Pampulha • e d i t o r a •