O documento descreve a evolução do sistema de produção de gado de corte da Pecuária Balestra em Inhumas, GO. Ao longo de três ciclos, Igor Balestra intensificou a recria/engorda dos animais, reduzindo o tempo do ciclo de quase 2 anos para 12 meses. Isso aumentou a produtividade e a receita líquida por hectare, embora o preço da arroba tenha caído no último ciclo. Para o futuro, Igor planeja escalonar os abates conforme o potencial de ganho de
1. C
hegamos ao fim desta 3ª edição
do Vitrine Tecnológica DBO,
que acompanhou por seis meses
o projeto de intensificação da Pecuária
Balestra, em Inhumas, GO, focalizan-
do principalmente as estratégias nutri-
cionais adotadas. Foi uma experiência
de grande riqueza técnica, da qual,
esperamos, nossos leitores tenham ti-
rado proveito. Segundo Igor Balestra,
administrador da empresa, seu projeto
de intensificação está apenas começan-
do. “Tenho aprendido com meus erros
e aprimorado o que deu certo para fi-
car ainda melhor”, diz o pecuarista,
mostrando planilhas com projeções
para 2020. Nesta edição, que encerra
o Vitrine 2017, vamos fazer um balan-
Mônica Costa
Edição: Maristela Franco
ço econômico do sistema adotado pela
Pecuária Balestra.
A empresa faz ciclo completo, mas
analisaremos apenas a evolução da re-
cria/engorda, que tem peso decisivo na
rentabilidade da fazenda. Quando Igor
assumiu o projeto em 2013, os animais
eram mantidos em pastagens exten-
sivas, sem suplementação, até chegar
ao abate. Esse processo demorava dois
anos. Gradativamente, o produtor foi
intensificando a recria/engorda e en-
curtando o ciclo, que está próximo de
12 meses, o que lhe possibilitou produ-
zir mais arrobas por hectare e aumentar
sua receita líquida. “Hoje, a Pecuária
Balestra consegue identificar as neces-
sidades de cada categoria e utilizar re-
Reportagem final da série mostra as conquistas alcançadas por
Igor Balestra, que já pensa em novos desafios
Em busca do sistema ideal
cursos tecnológicos adequados a cada
uma”, afirma Gabriel Morais, técnico
da DSM, que acompanha o projeto des-
de o início. Segundo ele, o processo de
intensificação não tinha como dar erra-
do: “ótima gestão, manejo adequado e
suplementos de qualidade, são garantia
de sucesso”.
Mais competitivo a cada ciclo – O
uso de tecnologias nutricionais (creep
feeding; suplementação na recria tan-
to de fêmeas quanto de machos; se-
miconfinamento, utilizando insumos
de qualidade e aditivos de última ge-
ração) possibilita reduzir o ciclo, au-
mentar a produtividade por hectare e,
consequentemente, a receita do pecu-
arista por hectare, mesmo em momen-
tos de crise (veja tabela). Administrador
de empresas por formação, Igor tinha
convicção de que precisava investir
em pastagens e nutrição para garantir
à pecuária de corte uma posição mais
favorável dentro da empresa fundada
por seus avós há mais de 50 anos, cujo
principal negócio era (e ainda é) a ci-
tricultura. Para atingir seus objetivos,
ele traçou estratégias de intensificação
gradativa, por ciclo, investindo princi-
palmente na redução da recria, período
mais longo da produção animal.
Nos primeiros anos sob sua admi-
nistração, Igor ainda estava tomando
pé da situação das fazendas, por isso
ele não mexeu no sistema de produção.
O ciclo de recria/engorda de machos
iniciado em 1º de junho de 2013, ter-
minou apenas em 30 de abril de 2015,
durando quase dois anos. Os animais
ficaram em pastagens contínuas, sob
lotação de 1,09 UA/ha, recebendo ape-
nas 0,1% do peso vivo em proteinado
durante 21 meses. Na recria, ganha-
ram 526 g/cab/dia em média e depois
foram terminados em confinamento
por 60 dias, chegando ao abate com
20,8@/cabeça. Como a produção por
Animais jovens e pesados. Igor
atinge o objetivo do projeto
74 DBO julho 2017
PecuáriaBalestra
2. animal foi alta, Igor conseguiu obter
26,54@/ha ao final do ciclo, mas por
ter demorado a recriar os animais, sua
produtividade ficou em 13,88@/ha/
ano. Mesmo com custo baixo por arro-
ba produzida (R$ 101,43), sua receita
líquida por hectare foi de R$ 441 por
ciclo e R$ 230 por ano.
Incomodado com isso, Igor resol-
veu encurtar a idade de abate dos no-
vilhos na safra seguinte, apostando em
um sistema semi-intensivo, que come-
çou em 1º de junho de 2015 e terminou
em 8 de setembro de 2016 (15,29 me-
ses). Os bezerros desmamados foram
recriados na seca em sistema extensi-
vo e nas águas em pastos rotacionados
e adubados. Nos dois períodos, foram
suplementados com proteinado na pro-
porção de 0,1% do peso vivo. Essa ace-
leração da recria no período de maior
oferta de capim já resultou em melho-
ria do ganho de peso (674 g/cab/dia,
em média), maior lotação (3,2 UA/ha)
e redução do ciclo, embora Igor tenha
sido obrigado a confinar os animais
por mais tempo (100 dias). Nesse siste-
ma, a produtividade triplicou, chegan-
do a 79,8@/ha por ciclo e 63@/ha por
ano. Com a redução da idade de aba-
te, o custo por @ produzida caiu para
R$ 93,19 e a receita líquida por hectare
quadruplicou, passado de R$ 441 para
R$ 1.919 durante o ciclo. Por ano, foi
seis vezes maior (R$ 1.506/ha).
Ainda mais rápido – Os bons resul-
tados da recria semi-intensiva estimu-
laram o produtor a dar um salto ainda
maior: trabalhar com ciclo de um ano
e intensificar a cria. Como mostramos
ao longo desta série de reportagens,
a pressão genética sobre o plantel de
fêmeas aumentou e as novilhas estão
sendo inseminadas com idade precoce
(14-15 meses), sem repasse com tou-
ros. Todas as vacas vazias estão sen-
do descartadas e o último lote de no-
vilhas convencionais da fazenda será
colocado em reprodução na próxima
estação de monta, sem segunda chan-
ce. Para viabilizar esse projeto, Igor
decidiu recriar tanto os machos quanto
as fêmeas desmamados em sistema de
“sequestro” (retirada do pasto para tra-
to em instalações específicas na seca).
As fêmeas, para que atinjam 300 kg
em idade precoce; os machos, para que
possam ser terminados em semiconfi-
namento.
O trabalho aumentou, mas o gestor
está feliz, porque encurtou o interva-
lo entre gerações, retirou uma catego-
ria do pasto na seca e liberou área para
mais matrizes. “Produzir barato não é
necessariamente gastar pouco. Às ve-
zes, o desembolso aumenta, mas o cus-
to por arroba produzida diminui”, diz
o pecuarista. Voltando à análise econô-
mica do terceiro ciclo de recria/engor-
da da Pecuária Balestra, iniciado dia 1º
de junho de 2016, os machos seques-
trados ganharam, em media, 3,15@ por
cabeça ao invés de 0,65/@ a pasto. Nas
águas, foram colocados em piquetes
rotacionados e adubados, recebendo
suplementação inicial de 0,5% do peso
vivo em proteico-energético até se che-
gar a 1,5% na fase de terminação.
Para trabalhar com ciclo de 12-13
meses como projetado, Igor deveria ter
abatido os animais no final de maio,
mas a queda da arroba atrapalhou seus
planos e ele precisou reter os animais
6
julho 2017 DBO 75
A cabeceira do lote entrou nas instalações do “sequestro”
com 300 kg e será abatida à partir de janeiro
Análise econômica da recria/engorda por nível tecnológico
Ciclo
Extensivo
2013/15
Semi-intensivo
2015/16
Intensivo 1*
2016/17
Intensivo 2**
2017-18 1
Número de animais 98 2014 308 340
Peso entrada (kg) 201 207 207 215
Peso saída (kg) 568,8 530 530 500
Período (meses) 22,95 15,29 15,29 15,29
GMD (g) 2 526 694 694 780
Peso de abate (@) 20,85 20,14 20,14 19
Produção @/ciclo 26.544 79.814 193.847 179.444
Produção @/ano 13,8 62,6 152 140
Faturamento (R$) 292.275 624.513 775.390 807.500
Imobilizado gado (R$) 3 117.600 256.800 369.600 306.000
Custeio (R$) 4 140.706 264.053 354.147 365.512
Lucro (R$) 33.969 103.659 51.642 135.988
Margem do ciclo (%) 13,15 19,90 7,14 20,25
Receita/ha/ciclo (R$) 441 1.919 1.613 3.777
Receita/ha/a.a (R$) 230,67 1.506 1.266 2.964
Obs: O primeiro ciclo foi de 1/6/2013 a 30/4/2015; o segundo ciclo de 1/6/2015 a 8/9/2016 e o terceiro ciclo de 1/6/2016 a 31/8/2017.
* Ciclo de 15 meses; ** Ciclo de 12 a 15 meses com base no potencial de ganho dos animais.
1 Projeção baseada no valor da @ a R$125 para setembro/17; 2 Ganho médio de peso; 3 Valor do bezerro (R$1.200); 4 Valor dos
insumos+mão de obra+ operações+frete. Fonte: Pecuária Balestra. Adaptado DBO.
3. ADBO março 2015
Mais uma
barreira superada
Outro problema que Igor Bales-
tra quer superar é a insegurança na
comercialização. “Formei uma par-
ceria que promete recompensar o
trabalho que realizamos até aqui”,
afirma. Essa parceria é com o Fri-
gorífico Cooperbeef, arrendado pelo
médico veterinário Heraldo Júnior,
amigo de infância de Igor. A empresa
fica em Corumbá de Goiás, a 150 km
de Inhumas, e pretende trabalhar de
forma diferenciada com os pecuaris-
tas da região, inclusive fornecendo
adiantamento para compra de insu-
mos, condicionado à entrega de ar-
robas. “Será um trabalho com mais
transparência, o que significa que
vou receber pelo rendimento real das
carcaças dos bovinos entregues”,
afirma. O primeiro abate que fez nes-
se frigorífico, dia 20 de junho, foi de
um lote de fêmeas, que apresentou
rendimento de 53%, ante a média de
50% normalmente obtida nos outros
frigoríficos. Para os machos que vão
para o gancho no mês que vem, Igor
espera rendimento de 58%.
no pasto. O primeiro lote de novilhos irá
para o gancho em agosto com peso de
550 kg e acabamento de gordura entre
mediano e uniforme (3 mm a 10 mm).
Igor havia projetado futurar bem mais
nesse terceiro ciclo, pensando que a ar-
roba ficaria em pelo menos R$ 145 na
praça goiana, mas o preço do boi gordo
despencou devido à crise que assola o
setor, estacionando em R$ 125/@, e ele
deverá ter receita líquida 15% menor do
que no ciclo passado (R$ 1.613/ha). “O
resultado seria pior se minha produtivi-
dade não tivesse aumentado 144%, pas-
sando de 79 para 193@ na recria/engor-
da”, explica o produtor.
O que vem por aí – Igor ainda quer
fazer pecuária de ciclo curto (12-13
meses), mas não exatamente como
pensou de início. Vai escalonar o aba-
te, conforme o potencial de ganho de
peso dos animais. Alguns vão ser re-
criados/terminados em oito meses e
outros com 15-16 meses. Os bezerros
de “cabeceira”, por exemplo, foram
desmamados com 300 kg. Como es-
tão ganhando uma média de 700 g/cab/
dia no sequestro e Igor pretende redu-
zir seu peso mínimo de abate para 500
kg, eles vão poder ser comercializados
em janeiro, por exemplo, possivelmen-
te com 18,5 a 19@, se a parceria de
Igor com a Cooperbeef realmente re-
sultar em maior rendimento de carcaça
(veja box). “Isso me dará flexibilidade,
além de possibilitar maior produção de
animais, pois assim que os lotes forem
sendo enviados ao frigorífico, pode-
rei comprar garrotes no mercado para
substitui-los”, diz Igor. Essa estratégia
somente dará certo se parte dos bezer-
ros desmamarem pesados e engorda-
rem bem no “sequestro”, cuja dieta foi
reformulada, como mostrou a reporta-
gem anterior.
A meta, para este ano, é fazer com
que os bezerros ganhem 4,25@ na
seca, uma @ a mais do que no ano pas-
sado. Quando forem para o rotaciona-
do, na Fazenda Boa Esperança, já se-
rão suplementados em níveis altos (1%
a 1,2% do peso vivo, perante 0,5% no
ano passado). “Agora conhecemos a fi-
siologia do pasto e poderemos aprovei-
tá-lo em toda sua potencialidade para
fazer os garrotes mais pesados termi-
narem rápido”, diz Igor. Com essa es-
tratégia de “descascar” o lote (ir ven-
dendo os mais pesados), o produtor
acredita que conseguirá aumentar sua
produção para 400 ou 420 bois em
2018. Os animais serão adquiridos de
terceiros já com 13@, o que encurta a
terminação. Igor prevê que o grupo de
garrotes crioulos com potencial médio
de ganho deverá ser abatido em maio/
junho e o de “fundo” será semiconfi-
nado na seca para venda em agosto/se-
tembro, com cerca de 530 kg. Sua ex-
pectativa é de que os 420 bois que vai
abater lhe dêm 7.980@, ante 6.800@
do sistema anterior. “Em 2018, tam-
bém vamos colocar a Boa Esperança
na Lista Traces e nos habilitar para a
Cota Hilton, o que aumentará a receita
por animal”, diz o produtor. n
Próximo passo é aumentar a
produção de arrobas por hectare