O documento discute como a dinâmica do aprendizado mudou e se tornou um processo contínuo ao longo da vida. Isso porque o conhecimento não é mais estático e pode evoluir, e as pessoas precisam aprender a aprender para continuamente adquirir novas habilidades. Por essa razão, bilionários como Gates, Lemann, Zuckerberg e Musk estão investindo em startups educacionais, reconhecendo que a educação é o setor com as maiores oportunidades neste século.
1. Gates, Lemann, Zuckerberg, Musk: Por que todos os principais
bilionários do mundo estão investindo em educação?
É quase meia noite. Volto do trabalho pois tinha dado aula naquela
noite. Minha esposa mostra a lição de casa da nossa filha de sete
anos em que a professora pediu para que os alunos desenhassem um
ser vivo e ela tinha desenhado um morango. O que acha? Pergunta
minha esposa. Bonito… – respondo. Não é isso. Leia o que a
professora pediu… – explicou. Hum? E daí? – emendo. Um morango
colhido está vivo ou morto? – questiona. Acho que está vivo ainda,
mas é uma reflexão muito profunda para este horário. – respondo
tentando terminar aquele assunto pois ainda precisa jantar. Vou
estudar mais sobre o assunto amanhã. Diz minha esposa, não se
dando por satisfeita.
Quando eu tinha sete anos (no século passado), esta resposta era
fácil. Era só procurar algo na Barsa ou Enciclopédia Britânica. Além
disso, a última palavra era do professor que era o detentor de todas
as verdades daquele assunto. Era uma época em que Plutão era um
planeta e ponto final. Um conhecimento era quase estático, passado
de geração para geração. Por esta razão, as enciclopédias eram muito
bem cuidadas e ficavam em lugar de destaque na sala de visitas. As
pessoas tinham duas fases de aprendizado na vida. Havia uma de
acúmulo e outra de utilização do aprendizado adquirido até se
aposentar. Um ou outro conhecimento deveria ser resposto ou
adquirido, como explica Fernando Reinach, um dos mais brilhantes
pensadores brasileiros.
2. Mas agora a dinâmica do aprendizado é completamente diferente.
Minha filha não deveria ir ao Google, Wikipedia, o Quora, o Reddit
ou Yahoo! Respostas como fazíamos com a Barsa para encontrar a
resposta certa. Só os futuros fracassados na sociedade do
conhecimento pegariam este atalho. Mesmo porque, “a” resposta
muitas vezes evolui ao longo do tempo (como ocorreu com Plutão)
ou é contextual; e a parte mais importante é entender a lógica que
sustenta aquele conhecimento para daí aprender e continuar
aprendendo pelo resto da vida. Esta é e será cada vez mais a
demanda de todas as pessoas, sejam crianças, adolescentes, adultos
e até os aposentados.
3. Assim, haverá cada vez menos espaço para instituições que ensinam
o conhecimento decorado, estático e fragmentado, em que se olha o
futuro utilizando retrovisores. E mais oportunidades para
questionar, refletir e aprender como aprender para daí desenvolver o
aprendiz curioso e autônomo que desenvolve relações evolutivas
entre os conhecimentos e constrói significados e aplicações que
devem ser úteis ao longo da sua vida.
É neste contexto que boa parte dos melhores empreendedores ao
redor do mundo está não apenas investindo, mas aumentando seus
aportes em startups de educação. O Khan Academy, talvez a startup
de educação mais conhecida do mundo, já recebeu aportes de Bill
Gates, dos fundadores do Google, do fundador do eBay e até de
Jorge Paulo Lemann. Mark Zuckerberg liderou um aporte de mais
de US$ 100 milhões na AltSchool, um conceito inovador de micro
escolas de ensino fundamental e foi acompanhado por diversos
investidores importantes como Andreessen Horowitz, John Doerr e
Laurene Jobs, viúva de Steve Jobs. Elon Musk fundou uma escola,
a Ad Astra, para seus filhos e filhos dos funcionários das suas
empresas. No Brasil, Jorge Paulo Lemann criou a Gera Ventures,
um fundo para investir apenas em negócios de educação.
E por que estão fazendo isto? Por que a educação é o segmento que
apresenta as maiores e melhores oportunidades neste século!
Marcelo Nakagawa é Professor de Inovação e Empreendedorismo do Insper