1. "Não se ensina Filosofia, ensina-se a filosofar" (Kant)
PARA QUE SERVE ENSINAR FILOSOFIA?
Em nossa sociedade e cultura, costumamos considerar que
alguma coisa
só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática muito
visível e de utilidade imediata.
Verdade, pensamento racional, procedimentos especiais para
conhecer fatos, aplicação prática de conhecimentos teóricos,
correção e acúmulo de saberes: esses objetivos e propósitos das
ciências não são científicos, são filosóficos e dependem de
questões filosóficas.
Assim, o trabalho das ciências pressupõe como condição, o
trabalho da Filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. No
entanto, como apenas o cientista e o filósofo sabem disso, a maioria
das pessoas continua afirmando que a Filosofia não serve para
nada.
A Filosofia, por suas características, tem condições de contribuir
de forma bastante efetiva no processo de aprimoramento do
educando como pessoa e na sua formação cidadã.
Inúmeras são as razões que justificam a importância desta
disciplina no ensino médio, dentre elas, pela sua especificidade, a
Filosofia:
Abre o espaço por excelência para tematizar e explicitar os
conceitos que permeiam todas as outras disciplinas, e o faz de
forma radical;
Discute os fins últimos da razão humana e os fins a que se
orientam todas s formas de ação humanas, e sob esse aspecto,
levanta a questão dos valores;
Examina os problemas sob a perspectiva de conjunto – enquanto
as ciências particulares abordam “recortes” da realidade – o que
permite à Filosofia elaborar uma visão globalizante, interdisciplinar e
mesmo transdisciplinar (metadisciplinar).
Ao refletir sobre os pressupostos das ciências, da técnica, das
artes, da ação política, do comportamento moral, a Filosofia auxilia
o educando a lançar outro olhar sobre o mundo e a transformar a
experiência vivida em uma experiência compreendida.
Na reflexão sobre os fundamentos e fins do conhecimento, a
Filosofia investiga os instrumentos do pensar, como a lógica e a
metodologia; distingue e compara as diversas formas de apreensão
do real, tais como mito, religião, senso comum, ciência, filosofia
2. etc.; elabora a teoria do conhecimento, indagando sobre as
possibilidades e os limites desse conhecimento.
A Filosofia também desempenha o papel de crítica da cultura.
Para o historiador da Filosofia François Châtelet:
(...) a “contribuição específica da Filosofia que se coloca ao
serviço da liberdade, de todas as liberdades, é a de minar, pelas
análises que ela opera e pelas ações que desencadeia, as
instituições repressivas e simplificadoras: quer se trate da ciência,
do ensino, da pesquisa, da medicina, da família, da política, do fato
carcerário, dos sistemas burocráticos, o que importa é fazer
aparecer a máscara, deslocá-la, arrancá-la...”
O objetivo da disciplina no Ensino Médio é ampliar a capacidade
de reflexão do aluno, articulando temas (sem ignorar a História da
Filosofia) e sistematizando noções que lhe forem apresentados, de
forma coerente e articulada e a reflexão surge após a identificação
do “problema” proposto (existente no texto filosófico), isto é, como
ele foi expresso em conceitos e propor sua reelaboração (pelos
alunos, ou qualquer pessoa que se interesse)
“Não se ensina filosofia, ensina-se a filosofar” (Kant). Filosofar é,
também, não aceitar como verdadeira qualquer idéia sem antes
submetê-la à dúvida, à investigação, à reflexão crítica e rigorosa.
Isso significa que para demonstrar com consistência a utilidade ou
inutilidade de Filosofia, ou de qualquer outra coisa, já teríamos de
filosofar. Portanto, durante toda a nossa vida iremos filosofar, pois
filosofar é viver.