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Jornal



   O Bandeirante
            Ano XVIII - no 203 - Outubro de 2009
            Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP




             São Paulo dos Paulistas e dos
                     Brasileiros*
                                                        “Non Ducor Duco – Não sou Conduzido, Conduzo”.
                                                               (Divisa do município de São Paulo)



 Helio Begliomini
 Médico urologista
 Presidente da SOBRAMES-SP (2009-2010).


                                                                                                                  trabalhar, passear, divertir-se, mas
                                                                                                                  também a nós que nascemos ou que
                                                                                                                  nela vivemos.
                                                                                                                      São Paulo assusta pela sua gran-
                                                                                                                  deza: são 10,5 milhões de pessoas
                                                                                                                  apenas no município e 19.616.000 na
                                                                                                                  região metropolitana, cujo entorno é
                                                                                                                  formado por 39 municípios interliga-
                                                                                                                  dos – inextrincáveis geograficamente
                                                                                                                  – que perfazem conjuntamente a
                                                                                                                  grande São Paulo, tornando-a a sexta
                                                                                                                  maior aglomeração urbana do mun-
                                                                                                                  do (!), superada apenas por Tóquio,
                                                                                                                  Cidade do México, Nova Iorque, Seul
                                                                                                                  e Bombaim.
                                                                                                                      Contudo, diferentemente dessas
    Confesso que a delegação paulista                     De início surgiu um impasse: Qual                       megalópoles, São Paulo possui a
composta por 8 participantes que                      cidade do interior seria mais propí-                        maior floresta urbana nativa do mun-
prestigiou o XXII Congresso Brasilei-                 cia? Após muita pesquisa e discussão,                       do! – O Parque Estadual da Cantareira
ro da Sociedade Brasileira de Médicos                 chegou-se a um consenso de que este                         tem 7.916 hectares, que equivalem
Escritores (Sobrames), realizado de 4 a               evento, por ter conotação nacional,                         a 8 mil campos de futebol, onde se
7 de junho de 2008, na belíssima cida-                deveria ser mesmo realizado na pau-                         encontram três opções saudáveis de
de de Fortaleza, ficou muito surpresa e               liceia. Isso tudo decidido ainda em                         lazer.
envaidecida quando foi sugerido que                   novembro do ano passado.                                        São Paulo também assusta pelo
a regional de São Paulo da Sobrames                       Daí para frente, a comissão organi-                     trânsito caótico e congestionado em
organizasse, em 2009, a V Jornada                     zadora trabalhou árdua e ininterrupta-                      decorrência dos seis milhões de carros
Nacional da Sobrames, evento esse                     mente, desdobrando-se em múltiplas                          que aqui trafegam e, como consequên-
que já tinha sido bem realizado nas                   reuniões para que tudo acontecesse da                       cia, pelo elevado número de acidentes
cidades em Salvador (2001), Belém                     melhor forma possível.                                      que nele ocorre, particularmente com
(2003), Fortaleza (2005) e Curitiba                                     (...)                                     motoqueiros que dirigem alucinada-
(2007).                                                   A cidade de São Paulo amedron-                          mente. Assusta pelo tempo em que
                   (...)                              ta não somente aos que aqui vêm                             se perde nos deslocamentos internos;
                                                                                                                                      (continua na última página)


* Discurso proferido na condição de presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores do Estado de São Paulo (Sobrames
– SP) por ocasião da abertura da V Jornada Nacional da Sobrames, X Jornada Médico-Literária Paulista e VI Sobramíada, even-
tos realizados conjuntamente de 17 a 19 de setembro de 2009, no Green Place Flat, situado na Vila Mariana da capital paulista
(Publicação parcial).
2   O BANDEIRANTE - Outubro de 2009

                                                                X Jornada Médico-Literária Paulista, V Jornada
    EXPEDIENtE                                                      Nacional da Sobrames e VI Sobramíada
Jornal O Bandeirante
ANO XVIII - no 203 - Outubro 2009                                                      Realizaram-se, de 17 a 19 de setembro deste ano, no Green
                                                                                   Place Flat, localizado na Vila Mariana, em São Paulo (SP) a
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos                               X Jornada Médico-Literária Paulista, a V Jornada Nacional
Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP   .
Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros                         da Sobrames e a VI Sobramíada, tendo sido um sucesso de
- São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editor:                       público e participação. Foram seis sessões literárias de duas
Helio Begliomini. Jornalista Responsável e revisora: Ligia
Terezinha Pezzuto (MTb 17.671 - SP). Colaboradores desta                           horas cada uma, em que 40 escritores apresentaram um total
edição: Carlos Augusto Ferreira Galvão, Flerts Nebó, José                          de 113 trabalhos de variados gêneros literários: contos, crôni-
Alberto Vieira, José Rodrigues Louzã, Ligia Terezinha
Pezzuto, Luiz Jorge Ferreira, Sergio Perazzo.Tiragem desta                         cas e poesias. Além dos autores, também estiveram presentes
edição: 300 exemplares (papel) e mais de 1.000 exemplares
PDF enviados por e-mail.
                                                                                   16 convidados, o que veio abrilhantar os eventos.
Diretoria - Gestão 2009/2010 - Presidente: Helio
                                                                                       Desde o início, a Diretoria foi cumprimentada pela notável
Begliomini. Vice-Presidente: Josyanne Rita de Arruda           organização, exemplo disso, os Anais distribuídos logo na chegada dos participan-
Franco. Primeiro-Secretário: Ligia Terezinha Pezzuto.
Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã.
                                                               tes, junto com o material organizado em uma pasta conseguida pela sócia Maria
Primeiro-Tesoureiro: Marcos Gimenes Salun. Segundo-            do Céu Coutinho Louzã. Os Anais impressos e fornecidos também em CD no
Tesoureiro: Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal
Efetivos: Flerts Nebó, Carlos Augusto Ferreira Galvão, Luiz    formato PDF, a emissão de Certificados e todo o suporte necessário para o bom
Jorge Ferreira. Conselho Fiscal Suplentes: Geovah Paulo        andamento dos trabalhos deveu-se ao associado Marcos Gimenes Salun, que em
da Cruz; Rodolpho Civile; Helmut Adolf Mataré.
                                                               conjunto com a Diretoria – cada um realizando o seu melhor –, contribuíram para
                                                               a realização dos eventos e acolheram os participantes como anfitriões.
    Matérias assinadas são de responsabilidade de seus             As Jornadas contaram com o apoio institucional de seis entidades: Academia
     autores e não representam, necessariamente, a
                  opinião da Sobrames-SP                       Paulista de História, Associação Médica Brasileira, Academia Ribeirãopretana
                                                               de Letras, Academia Paulista de Letras, Associação Paulista de Medicina e Mo-
                                                               vimento Poético Nacional, tendo este último sido convidado e aceitado julgar os
                 Editores de O Bandeirante                     trabalhos para a premiação, que contou com 1o, 2o e 3o lugares e duas menções
Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992
                                                               honrosas nas categorias poesia, conto e prosa, além de um prêmio oferecido
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994                pela Sobrames Nacional, a VI Sobramíada, para cada categoria.
Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996         Foi um momento único de congraçamento e enlevo, no qual pessoas de vários
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009
                                                               Estados (Minas Gerais, Bahia, Ceará, Alagoas, Santa Catarina, Pernambuco, Rio
Helio Begliomini – maio de 2009 -                              de Janeiro e São Paulo) e de outros países como Argentina e Angola brindaram
                                                               os eventos com textos de excelente qualidade. Nesse encontro cultural em que
                Presidentes da Sobrames – SP                   pessoas de regiões tão diversas colocaram em comum sua arte, seu estilo e sua
1 Flerts Nebó (1988-1990;1990-1992 e out/2005 a dez/2006)
    o
                                                               sensibilidade literária, fica a certeza de fazermos parte de um todo que vem
2o Helio Begliomini (1992-1994; 2007-2008 e 2009-2010)         crescendo, desenvolvendo-se e contribuindo para engrandecer a produção
3o Carlos Luiz Campana (1994-1996)                             cultural de nosso Brasil.
4o Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)                                                                          Ligia Terezinha Pezzuto
5o Walter Whitton Harris (1999-2000)
6o Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
                                                                                                              Jornalista e revisora em São Paulo
7o Luiz Giovani (2003-2004)

                                                                 Walter Whitton Harris
8o Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)


                                                                       Cirurgia do Pé e Tornozelo
                                                                           Ortopedia e Traumatologia Geral
    Editor: Helio Begliomini                                               CRM 18317
    Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto                                        Av. República do Líbano, 344          Rua Luverci Pereira de Souza, 1797 - Sala 3
    Diagramação: Mateus Marins Cardoso                                       04502-000 - São Paulo - SP         Cidade Universitária - Campinas (19) 3579-3833
    Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica                             Tel. 3885 8535                         www.veridistec.com.br
                                                                                Cel. 9932 5098


                       CUPOM DE ASSINATURAS*                                                                                     longevità
          Preço de 12 exemplares impressos: R$ 36,00                                                                            (11) 3531-6675
         Nome:___________________________________________________________                                       Estética facial, corporal e odontológica *
                                                                                                                Massagem * Drenagem * bronze Spray *
         End.completo: (Rua/Av./etc.) _______________________________________                                              Nutricionista * rPG
                                                                                                             Rua Maria Amélia L. de Azevedo, 147 - 1o. andar
         ________________________________ nº. _______ complemento _________

         Cidade:_____________ Estado:_____ E-mail:___________________________
                                                                                                                       Clínica Benatti
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SUPLEMENTO LITERÁRIO
                                                                            O BANDEIRANTE - Outubro de 2009   3

                                                                                        Poesia
                                                                         José Alberto Vieira
                                                                         Médico anestesista em São Paulo
                        Meditando
                                                                         Poesia. Não vivamos sem ela
                                                                         A poesia está dentro de nossa alma
José Rodrigues Louzã                                                     E nos nutre.
Médico aposentado em São Paulo                                           Com música então;
                                                                         É como morrer e
À medida que passam os anos                                              Acordar no paraíso sem fim.
e as inflorescências da existência são menos fecundas,                   O mundo sem poesia
tornam-se maiores as saudades                                            É um deserto onde nada germina.
e mais fortes as lembranças do tempo que passou.                         Poesia é a ciência da alma
                                                                         Que a desnuda e por vezes a consola.
Sentado calmamente na varanda,                                           Nos permite ser a criança que vive dentro de
na cômoda cadeira de balanço,
                                                                         nós.
numa tarde quente de primavera
                                                                         Jamais deixemos que ela adormeça.
quando todas as flores do jardim
exalam um perfume embriagador,                                           Poeta é aquele que não tem vergonha de amar,
penso!...recordo!...medito!...sonho!...                                  de chorar,
                                                                         De errar, de beijar, de abraçar
Sonho como o velho jangadeiro que, cansado da lida,                      De mostrar-se frágil.
agora só se aventura a enfrentar o mar,                                  Poeta é a alma que desvenda a alma
quando este é manso e calmo.                                             Que atormenta e incomoda
Nos outros dias, fica a cismar balouçando tranquilamente na rede.
                                                                         Enaltece e desafia,
Já está por completar-se a sua missão.
Passou quase toda sua vida a lançar a rede ao mar.                       Questiona mas não responde
A buscar, nas águas sossegadas ou revoltas, o sustento para os seus.     Simula e por vezes dissimula.
Fechando os olhos, o velho jangadeiro revê e novamente sente             É o ser forte que se mostra fraco.
as emoções das procelas que teve que suportar,                           Diz o que não pode ser dito,
o medo que sentia nas ocasiões em que o mar parecia tragá-lo,            Não diz o que sente.
a felicidade que experimentava ao rever sua família,                     E até quando o poeta finge ser o que não é
esperando por ele temerosa, na praia, ao pôr do sol.                     Mostra aquilo que os outros são.
E lembra-se dos seus primeiros amores...
                                                                         Poeta...poesia...
do calor daquele beijo quente, roubado às escondidas...
e daquele abraço tão apertado... que ele ainda hoje sente.               Que será deste mundo
Como o velho jangadeiro... também sonho...                               Se um dia perecerem?
também revivo ilusões... também relembro tristezas...
também recordo as alegrias e a felicidade...

Mas é preciso despertar! A vida continua!
Não se pode permanecer inerte!
Enquanto vivemos, precisamos, e muito, ficar acordados...
estar alerta para enfrentarmos o futuro...
meditando sempre sobre o nosso porvir...

O que nos reservam os tempos que virão?
As flores ficarão, certamente, cada vez mais raras e menos perfumadas,
os obstáculos parecer-nos-ão cada vez maiores... intransponíveis...
mas devemos manter sempre a esperança
como farol aceso a aclarar o nosso futuro,
a iluminar a nossa trajetória.

E quando para nós cerrar-se definitivamente a cortina da existência,
iremos para um novo porvir, levando como única e rica bagagem
a certeza de termos seguido, com coragem, o nosso destino!
4     O BANDEIRANTE - Outubro de 2009
                                                                                                                      SUPLEMENTO LITERÁRIO




                                               O Forro e o Avesso
Sergio Perazzo
Médico Psiquiatra em São Paulo

    Ao que à primeira vista possa parecer, forro e avesso não são,          rua, bem em frente da casa da minha avó, aquela casa de pedra em estilo
aqui, sinônimos. Muito pelo contrário. Forro como estofo, substância,       normando (por sinal, esperei a vida inteira para encaixar estilo normando
base, calor e acolhimento. Avesso, o outro lado, a questão e a crítica,     no meio de uma frase e a oportunidade chegou aqui; na verdade, não
a exposição nua da costura, do chuleio, o contraponto da bainha, da         sei qual é o estilo normando nem se esse estilo combina com uma casa
linha e do nó que sustentam a face oculta do botão que escancara a face     de pedra ou de madeira, nem sei se uma casa é colonial, neoclássica ou
oculta da lua, que a encaixa na casa reta fechando as duas metades da       pós-moderna, quero mesmo é que vocês acreditem que sou um especia-
vestimenta. Avesso que revela o risco do bordado.                           lista em estilos arquitetônicos, faz parte da minha realidade suplementar
    Sei não, forro e avesso apenas partes distintas do mesmo casaco que     escancarando minha verdade psicodramática e poética).
me agasalha e me protege do frio das convicções vazias e das palavras vãs        E assim vivíamos na mesma rua, entre a Lagoa e o Corcovado, entre
que nada dizem do que eu vejo e do que eu sinto. Sinalização do nada.       pipas, bolas de gude e piões, e eu transitava inteiramente à vontade
Placas enferrujadas de beira-estrada, apontando caminhos sem volta.         entre as casinhas de fundos, assim como era a em que eu morava, mas
                                                                            com jardim e alguma flor, a casa de pedra e a do menino rico, e a casa
    INCONCLUSÕES                                                            de cômodos das famílias do Mário e do Valtinho, as mães eram lava-
                                                                            deiras, que fazia parede com a minha casa. Meu trânsito sociométrico
     A culpa é do Monteiro Lobato. Quando aprendi a ler, como todo          dessa minha infância democrática, criança às vezes é democrática e às
mundo da minha geração, ganhei a coleção completa de seus livros            vezes ditadora, todo mundo de pé descalço no chão. Casa de avó com
infantis. Devorei todos, a ponto de repetir a leitura do começo ao          galinheiro e porão. Aliás Seu Joca era o rei desse porão. Tinha nele
fim, cinco vezes, de Reinações de Narizinho, O Minotauro e Os doze          a sua oficina de sapateiro. Não tinha dia em que não carimbássemos
trabalhos de Hércules.                                                      uma visitinha ao sapateiro. Batíamos o ponto religiosamente. Não vão
     Passeava com a Emília, aquela contestadora que abria a todo mo-        pensar que era pelas barbas do Seu Joca ou por alguma perversão,
mento a sua torneirinha de asneiras, torneirinha da sua espontaneidade,     fetiche por salto alto ou chulé. Não. Era pelo calendário da Marilyn
entendi muito depois, pelo terreiro do Sítio do Pica-pau-amarelo, pelos     Monroe peladona, pendurado atrás do velho safado com a boca cheia
anéis de Saturno, pelas ruínas gregas ou pelo País da Gramática. Só ela     de tachinhas e as mãos cheias de calos. O ano do calendário devia ser
mesmo para apelidar Hércules de Lelé e de fazê-lo chorar na hora da         de dez anos antes. Quem teria coragem de tirar a Marilyn dali? Botar
despedida. Aquele brutamontes de coração de batata frita, que a tia         no lixo? Nem pensar.
Anastácia cozinhou para ele.                                                     Como contraponto desse compromisso com o descompromisso
     Tudo isso sob as vistas circunspectas do Visconde de Sabugosa, a       da vida que nos cercava, os dois loucos daquele pedaço de rua. Um, o
erudição conservada naquele corpo rígido e duro de sabugo de milho,         Carlinhos, epilético com convulsão e tudo, já demenciado, sempre de
encimado por uma cartola formal e fora de época.                            cabeça raspada como os egressos do manicômio do Engenho de Dentro,
     Não era à toa que, aos três anos de idade, sentado em uma cadeira      uma estação distante e suburbana da Central do Brasil.
de braços, eu apoiava a cabeça na mão direita e minha tia perguntava:            Provocávamos e caíamos na risada só pra vê-lo disparar atrás da
O que você está fazendo, Serginho? E eu: Estou pensando na vida. A          gente, com todo o tipo de palavrão. Uma crueldade inofensiva que já
vida pra mim, desde cedo, já era uma questão. Ou repetição. Nascia          fazia parte da paisagem diária. Tanto ele demonstrava gostar da gente
ali o que existe em mim de pensador.                                        apesar das risadas, afinal éramos o seu contato com o mundo, como a
     Não só de Monteiro Lobato eu me alimentava. Nem só de histórias        gente corria dele de mentirinha sem sentir medo de verdade.
vive o homem.Todo dia era dia de bicicleta e de futebol no meio da rua           A outra louca, seis casas depois, era a mãe do Pedrinho, coitado.
(quase não passava carro; quando passava, a gente parava segurando          Um menino triste que só podia ser triste. Um desastre no futebol que
a bola com o pé).                                                           sempre sobrava pra goleiro. Vivia humilhado pelos surtos delirantes e
     No final da tarde, chegava o pai de todo mundo: Meninos, pra           alucinatórios da mãe. Ninguém queria estar na pele dele. O pai, um
dentro. Depois da sobremesa, de novo na rua. Dessa vez com as meninas       homem resignado. Era tudo. Tínhamos um certo medo, pra não dizer
pra brincar de estátua, de pera, uva ou maçã, de batatinha-frita-um-        um medo danado de passar pela porta dela. Ninguém entrava na casa
dois-três, com as cigarras cantando o verão.                                do Pedrinho. De repente, ela saía de lá berrando, doida varrida como
     Foi nessa que senti bater no peito minhas primeiras paixões pla-       a mãe do Anthony Perkins em Psicose do Hitchcock. Só faltava a faca
tônicas. Primeiro a Regina, não sei que fim levou, depois a Silvinha,       e o sangue.
hoje avó e arquiteta.                                                            Era assim. A loucura também fazia parte da rua. Como todo o
     O Mário seguiu carreira de açougueiro e até hoje vive cercado de       resto.
contra-filés e alcatras, enquanto eu fui fazer medicina e me cerquei             Foi nesse caldo de cultura que nasci e cresci. Gravitando entre pobres
de pedaços formolizados de gente nas aulas de anatomia. Uma outra           e ricos, entre a irreverência da Emília e a formalidade do Visconde.
espécie de açougue.                                                         Sim, o que eu queria dizer é que tive mesmo uma infância muito, muito
     O Marcinho, que ganhava todas no botão, perdeu-se no mundo.            feliz, apesar dos inevitáveis acidentes de percurso.
O Beto virou repórter, o irmão do Valtinho saiu por aí roubando tudo             A música entrava pelas frestas, meu pai e minha tia cantavam tan-
o que podia, afanando mesmo, acabou preso e alcoólatra, morrendo            gos pela sala. Gardel reverberava nas paredes. Não havia aniversário
literalmente na sarjeta. O Tião, o craque do nosso time, que me ensinou     que não se dançasse ao som das big-bands dos anos 40. Glenn Miller.
a colocar a bola no ângulo, bem a salvo do goleiro, foi o mais coerente.    Tommy Dorsey. Duke Ellington. E a Rádio Nacional o dia inteiro na
Migrou pras Gerais e acabou ponta esquerda do Atlético Mineiro. Vi          cozinha da minha avó.
um dia na tevê o Tião fazer um gol de placa com camisa listrada preta            Um pouco mais tarde, no colégio de elite onde passei a estudar (meu
e branca por cima do coração carioca.                                       pai se matava em horas extras para pagar a mensalidade), tive como
     E como era mesmo o nome daquele menino rico e entediado?               colegas o Edu Lobo, o Marcos e o Paulo Sergio Valle, o Cacá Diegues,
Aquele que, por falta do que fazer, vivia estilhaçando os tomates-cerejas   o Nelsinho Motta, o Sidney Miller, o Francis Hime, o Arnaldo Jabor e
da horta da sua mãe, no fundo do quintal daquela casa enorme e super-       o Pedro Malan. Antes de se revelarem as vocações artísticas, literárias
moderna, cheia de tapetes, a mais nova da rua, com a sua espingarda         e políticas, a gente queria mesmo era jogar futebol ou basquete. A
de ar comprimido que nos fazia babar de inveja?                             fama veio depois.
     O Naldinho, irmão da Silvinha, menino estranho e calado, suicidou-          Verdade é que o artista que sempre viveu em mim só deixei que
se no fim da adolescência. Graças a Deus eu não morava mais lá, senão       viesse à tona depois dos meus papéis de obrigações.
teria que encarar aquela casa em que eles moravam, no outro lado da                                                            (continua na próxima página)
SUPLEMENTO LITERÁRIO
                                                                                                      O BANDEIRANTE - Outubro de 2009                 5
(continuação da página anterior)

     Afinal de contas eu era o depositário das expectativas de duas                     Reconheço hoje que a minha verdade histórica naquele pedaço de
famílias de emigrantes em que se misturavam argentinos, uruguaios,                 meu átomo social que representava a minha rua, permitiu-me treinar
italianos, portugueses, franceses e negros, de modo que acabei sendo o             papéis sociais sem saber que estava treinando.
primeiro de todo esse bando a entrar numa faculdade. Abri a porteira e                  Fui deixando fluir uma força vital que Moreno chamaria esponta-
segui em frente e uma fila de irmãos e de primos me seguiu depois.                 neidade, como diriam os Beatles, with a litlle help of my friends. O psico-
     Muito depois de formado e já em São Paulo, fui aos poucos me                  drama foi decisivo em soltar minha criatividade em todas as direções.
permitindo ser poeta, cronista, contista, músico e cantor. De vez em               Em ser Deus sem quebrar o braço (qualquer psicodramatista entende
quando me perguntava o que seria se tivesse seguido alguma carreira                isso) (*) Em incorporar conscientemente esse Deus, esse brilho, essa
artística, mas olhava para trás e sempre via tanta gente que ajudei                força, essa chama, essa centelha ou o que mais quisermos chamar.
nessa minha profissão (tempos de pronto-socorro e tempos de ma-                         Por tudo isso, que quero dizer? Que a ciência não alcança e jamais
ternidade em que ajudei a botar no mundo uns duzentos bebês) e me                  alcançará a criatividade. Este é o mais profundo legado de Moreno. A
orgulhava de me sentir útil. Acabei achando espaço para as duas coisas.            criatividade é sempre um vir-a-ser. É um resultado. É sempre aberta.
O psicodrama foi decisivo para que eu fizesse a síntese e abarcasse a              É sempre para. É intraduzível. Não é sistematizável. Nem metodolo-
minha própria dimensão humana. Daí esses retalhos de memórias que                  gicamente enquadrável. Por isso a inconclusão.
compartilho com vocês.                                                                  Inconclusos nossos projetos dramáticos são.
     E se o Mário tivesse saído da casa de cômodos direto para os                       Inconclusos nossos projetos dramáticos estão.
bancos da universidade? Seria mais feliz? E se o Naldinho tivesse                       Escravos da nossa verdade histórica determinadora das conservas
encontrado uma Regina que gostasse dele, teria puxado o gatilho?                   ou libertos pela criação livre de uma realidade suplementar que restaure
E se ao irmão do Valtinho fosse dada uma oportunidade de sair da                   a nossa mais genuína verdade psicodramática e poética. Apoderar-se
quase miséria social, teria roubado? Seria preso? Encheria o caneco?               dela é o desafio a que nos lançamos.
Morreria na sarjeta?                                                                    Nós que somos produtos inconclusos de nós mesmos.
     Tudo depende de escolhas, é verdade, mas as escolhas transcen-
dem a simples vontade, pré-determinadas, em parte, pelas imposições
socio-culturais. Um certo jogo de cartas marcadas nesse mundo repleto                                                     São Paulo, 25 de outubro de 2009
de desigualdades que não se acertam nunca.                                                                                     (um domingo de primavera)


(*) O autor se refere a um episódio da vida de Moreno em que, ainda criança, brincando de ser Deus, despenca de uma pilha de cadeiras e quebra um braço.




Idealismo Universal

 Carlos Augusto Ferreira Galvão
 Médico psiquiatra em São Paulo




    Fazia algum tempo que nossos congressos e jornadas                                 A segunda consequência é bem doméstica e tem a ver
não contavam com a presença dos “hermanitos” argenti-                              com a surpresa de alguns colegas sobre os critérios usados
nos. Sentíamos falta dos velhos conhecidos como o Victor                           para a premiação de textos em língua estrangeira. Res-
José Fryc e suas hilárias crônicas, dos amigos que sempre                          pondi para alguns que o critério passa a ser o conteúdo da
trazia... Mas desta vez, em nossa última Jornada, os platinos                      obra, tendo como limite, óbvio, o entendimento do texto
vieram com tudo.                                                                   pelo julgador. Claro que se um colega alemão quisesse
    O trabalho de Victor Fryc sobre uma estátua é cósmico e                        apresentar um texto em nossa Jornada, haveria espaço,
provocará gargalhadas em quem conseguir um mínimo de                               educação em ouvir, mas nenhuma exigência para que os
entendimento do texto, em qualquer lugar do mundo. Nes-                            julgadores lessem alemão, e dificilmente seria premiado;
te contexto, afora a elegância glamorosa que os argentinos                         convenhamos, no entanto, que a língua dos “hermanitos”
sempre emprestam a nossas jornadas, é um privilégio poder                          é de bem mais fácil entendimento num país lusófono do
entendê-los, pois é comum nos brindarem com trabalhos literá-                      que a língua germânica.
rios extraordinários, plenos de sensibilidade e sentimentos.                           Somos médicos antes de sermos escritores, portanto de
    Um deles, o colega Miguel Angel Manzi, conquistou                              uma profissão que cuida do ser humano independente-
menção honrosa em conto e o 3o lugar em poesia, o que                              mente de suas características de raça ou de outra qualquer,
gerou duas consequências. A primeira é que tal premiação,                          inclusive da língua em que se expressa. Acredito que faz
por certo, estimulará a presença de mais colegas da nação                          parte dentre os ideais da SOBRAMES, e de entidades irmãs
irmã, quando um de seus filhos ganha um prêmio num                                 espalhadas pelo mundo, a ruptura das barreiras entre os
congresso literário em uma nação de língua diferente.                              seres humanos; o verdadeiro ideal da paz universal. Tratan-
Não sei não... Acredito que seja algo inédito. De parabéns                         do como iguais os textos dos colegas argentinos, estamos
o colega e toda a nação argentina.                                                 fazendo a nossa parte.
6   O BANDEIRANTE - Outubro de 2009
                                                                                                 SUPLEMENTO LITERÁRIO




                                                                    Agosto
                                                                      Prêmio SuperPizza
                                                                 Tema: Agosto, Mês de Desgosto




                                                Flerts Nebó
                                                Médico aposentado em São Paulo



                                                                 Dizem que agosto

             Valsinha                                           É mês de desgosto.
                                                                Também que é mês
                                                                De cachorro louco
                                                             Não ligo... e até faço pouco
                                                              Mas eu... ...Fico a gosto.
Luiz Jorge Ferreira
Médico Clínico em São Paulo                                  Agosto é mês de desgosto;
                                                              Pois nem sempre é assim,
                                                             Mas há quem diga que sim!
E se acontecer da dor acontecer                                Mas eu... ...Fico a gosto
E se esta dor em mim só for você
E se ela me fizer sangrar                                     Agosto tem dia dos pais,
E se eu desmaiar                                           Tem também os dias dos “ais”...
                                                          Tudo isto em pleno mês de agosto
E se acontecer de eu me esquecer                              Mas eu... ...Fico a gosto
E se você nunca se lembrar
E se de repente eu não existir                              Em agosto, tem dia de Maria,
E me ferir e me embriagar                                    Disto, todo mundo já sabia;
E de manhã for eu quem não chegar                             Mas agosto... ...é agosto.
                                                             E eu... ...Fico bem a gosto!
E se eu espalhar demais os meus pedaços
E se você por Deus não os juntar                              Tem o dia do soldado,
E por acaso eu nunca mais estando                         Tem também o dia do namorado
E acontecer em nós da dor voltar                            Tem dias que nem tem gosto
                                                            Mas eu... ...Fico bem a gosto.
E finde o dia e a gente não perceba.
E a vida fuja e a gente não esteja.                          Ele é o oitavo mês do ano
- Como poderemos. - Ser feliz.                               E nele se sofre desengano.
E se nos perdermos nas esquinas                             É ainda mês de vento louco
E se nos escondermos entre nós                             Mas eu... ...Fico sempre a gosto.
E se dormirmos em noites diferentes                           Vamos agora dar um fim
E se for outro o nome de alguém                                A esta poesia chinfrim,
E se fingirmos ter saudades.                                   Pois falamos de Agosto
E se um chegar depois                                        Mas eu... ...Fico bem a gosto.
E se desunirem as cidades
                                                                   E tudo isto é...
E se for frio na sala e o sol brilhar no hall                      Tão somente
E se envelhecermos no Outono                                     Para todo o vosso
E se diminuirmos a visão                                        Grande... ...desgosto!
E se desaparecer o seu sorriso
                                                                Pois tudo isto me deu,
E se o coração tiver razão
                                                               E porque não vou dizer,
E se você vier vestida                                           Um grande prazer
E se houver água no mar                                       E mesmo até, muito gosto
E se vier trazendo a vida
E se eu tiver ido banhar                                            Por ter enchido
                                                                    Vossa paciência
E se dançarmos uma valsa                                     Em pleno mês de AGOSTO
E se o som vier do luar                                      E eu... ...Fiquei bem a gosto!
E eu sonhar que foi um sonho.
SUPLEMENTO LITERÁRIO
                                                                        O BANDEIRANTE - Outubro de 2009      7

Premiados nos concursos da V Jornada Nacional
da Sobrames, X Jornada Médico-Literária
Paulista e VI Sobramíada.

Conto:

1o – Maria do Céu Coutinho Louzã (São Paulo – SP)
2o – Rodolpho Civile (São José dos Campos – SP)
3o – Vilma Clóris de Carvalho (Recife – PE)                                        PUBLICIDADE
Menções honrosas: Fátima Calife (Recife – PE)                                      TABELA DE PREÇOS 2009
	                   Miguel Angel Manzi (Buenos Aires – Argentina)                (valor do anúncio por edição)
                                                                              1 módulo horizontal      R$ 30,00
                                                                              2 módulos horizontais    R$ 60,00
Prosa (não conto):
                                                                              3 módulos horizontais    R$ 90,00
                                                                              2 módulos verticais      R$ 60,00
1o – Sebastião Abrão Salim (Belo Horizonte – MG)                              4 módulos               R$ 120,00
2o – José Warmuth Teixeira (Tubarão – SC)                                     6 módulos               R$ 180,00
3o – José Warmuth Teixeira (Tubarão – SC)                                     Outros tamanhos       sob consulta
Menções honrosas: Nelson Jacintho (Ribeirão Preto – SP)                            heomini.ops@terra.com.br
	                  Zilda Cormack (Rio de Janeiro – RJ)                             ligiapezzuto@terra.com.br


Poesia:

1o – José Jucovsky (São Paulo – SP)                                           REVISÃO
2o – Josef Tock (São Paulo – SP)                                              de textos em geral
3o – Miguel Angel Manzi (Buenos Aires – Argentina)
Menções honrosas: Josyanne Rita de Arruda Franco (Jundiaí – SP)               Ligia Pezzuto
                                                                              Especialista em Língua Portuguesa
	                   Márcia Etelli (São Paulo – SP)
                                                                               (11) 3864-4494 ou 8546-1725
Prêmio VI Sobramíada

Conto: 1o – Josyanne Rita de Arruda Franco (Jundiaí – SP)
                                                                               ROBERTO CAETANO MIRAGLIA
Prosa: 2o – Marco Aurélio Baggio (Belo Horizonte – MG)                          ADVOGADO - OAB-SP 51.532
Poesia: 3o – Nelson Jacintho (Ribeirão Preto – SP)
                                                                              ADVOCACIA – ADMINISTRAÇÃO DE BENS
                                                                               NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS – LOCAÇÃO
                                                                                 COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS
                                                                              ASSESSORIA E CONSULTORIA JURÍDICA
Gratidão da Sobrames à Empresa                                                TELEFONES: (11) 3277-1192 – 3207-9224

Implacil de Bortoli
                                                                              Terminou de
   A Sobrames de São Paulo agradece à empresa de implantes dentários          escrever seu
Implacil De Bortoli ao nos ter ofertado gentilmente canetas e blocos, muito
úteis nos nossos eventos e que foram distribuídos nas pastas entregues aos    livro? Então
participantes da X Jornada Médico-Literária Paulista, V Jornada Nacional da   publique!
Sobrames e VI Sobramíada, eventos que se realizaram em São Paulo, nos dias
17 a 19 de setembro de 2009.
                                                                              Nesta hora importante, não deixe de
   A Implacil De Bortoli é uma empresa que há mais de 20 anos se destaca
por oferecer o melhor em implantes dentários, instrumentais cirúrgicos e      consultar a RUMO EDITORIAL.
                                                                              Publicações com qualidade impecável,
componentes protéticos, e vem investindo em aprimoramento tecnológico
                                                                              dedicação, cuidado artesanal e preço
em toda a sua linha de produtos. Situada à rua Vicente de Carvalho, 182, no   justo. Você não tem mais desculpas
Cambuci – telefone 3203-0991, tem o e-mail: contato@implacil.com.br.          para deixar seu talento na gaveta.
   À Implacil De Bortoli, mais uma vez, nossos agradecimentos e os melhores
                                                                                 rumoeditorial@uol.com.br
votos de muito sucesso.
                                                                                      (11) 9182-4815
   Diretoria da Sobrames – SP
8     O BANDEIRANTE - Outubro de 2009
                                                                                                 SUPLEMENTO LITERÁRIO




                                   São Paulo dos Paulistas e dos
                                            Brasileiros
(continuação da primeira página)

pelo número de assaltos e mortes de-      ponte estaiada no mundo com duas          assim como oriundos de cidades do
les decorridas; pela selva de pedras      pistas em curva conectadas a um mes-      interior do Estado de São Paulo.
formada com seus inúmeros edifícios;      mo mastro (!), dentre tantos outros           Ah! Igualmente não posso me es-
pela obsessão de trabalhar de sua gen-    símbolos e cimélios.                      quecer de mencionar que muitos che-
te; pela maneira apressada do povo se         Faz-se mister abrir parêntesis: o     fes de serviços, assistentes, enfermei-
deslocar nos logradouros, sendo por       lema da divisa da cidade (em epígrafe,    ras e funcionários que lá trabalham
isso já chamada de “neurópolis”...        non ducor duco) não sintetiza presun-     são de diferentes rincões deste imenso
    Por outro lado, São Paulo encanta     ção, acinte, arrogância ou cabotina-      país. Tenho colegas meus – contempo-
pelo convívio de antigos e novos edifí-   gem de seus munícipes perante os          râneos de residência médica – naturais
cios e pelo urbanismo de suas praças,     demais brasileiros, mas explicita sua     da Bahia e de Minas Gerais que são da
parques e avenidas; extasia pela ousa-    missão, assim como enaltece a inde-       atual diretoria do Conselho Regional
dia e vanguardismo de sua arquitetura     pendência e a liderança que a cidade      de Medicina do Estado de São Paulo,
contemporânea, bem como pelo triun-       galgou, fruto do trabalho de sua gente    em cujas últimas eleições participaram
fo de ter vencido a gigantesca poluição   e de uma miríade de imigrantes de         diversas chapas.
visual há pouco ostentada em placas       dentro e de fora do País.                     Não posso também me olvidar
e outdoors de todos os matizes que,           A propósito, particularmente, esta    de mencionar que a nossa querida
quando não emporcalhava, escondia         metrópole fascina pela acolhida des-      Sobrames do Estado de São Paulo é
seu contorno e sua beleza. São Paulo,     medida não somente a uma grande           muitíssimo enriquecida pela presença
outrossim, deleita por possuir uma        diversidade de irmãos de todos os Esta-   de profícuos e destacados escritores
das mais diversificadas e deliciosas      dos da nação, como também de povos        oriundos do Pará, Bahia, Maranhão,
gastronomias do planeta; maravilha        de etnias dos mais remotos rincões do     Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas
pelo número, dimensões e variedade        planeta. Assim, São Paulo se orgulha      Gerais, Amapá e até do Equador e
de seus museus, parques de diversão,      por não ser provinciana, situação que     de Moçambique, que escolheram as
centros de exposição e shopping cen-      privilegia a poucos que estão ligados     terras bandeirantes para viver e con-
ters; surpreende pela sua significativa   direta ou indiretamente ao centro         tribuir com seu desenvolvimento.
produção científica, tecnológica e pela   do poder em muitos municípios. Ao             Por fim, São Paulo também sur-
pluralidade cultural; e espanta pela      contrário, dá oportunidade a ambos        preende pela sua imensa genero-
sua capacidade de realizar negócios e     os sexos: ao mais preparado, ao mais      sidade, quer no voluntariado exer-
movimentar o comércio.                    competente, ao mais oportuno, ao mais     cido em igrejas, organizações não
    São Paulo é uma megalópole mul-       trabalhador e ao mais dedicado. Ainda     governamentais, clubes de serviço,
ticultural e multiétnica, constituindo-   que sempre existam influências polí-      quer no auxílio a vítimas de catás-
se na maior cidade japonesa fora do       ticas e pessoais, naturalmente muito      trofes naturais que ultimamente,
Japão; na maior cidade portuguesa de      diluídas em seu oceano populacional,      infelizmente, têm-se tornado muito
além-mar; na maior cidade libanesa        não se vê desbragada e acintosamente      frequentes em nosso país. Nesta terra
fora do Líbano e na terceira maior        a discriminação a favor de seus conter-   viveram e trabalharam padre José de
cidade italiana fora da Itália!           râneos em detrimento de outros brasi-     Anchieta (1534-1597), frei Antônio
    Dentre tantos marcos que carac-       leiros na disputa de empregos e cargos    de Sant’Anna Galvão (1739-1822),
terizam este município sui generis        como ocorre em outras plagas.             madre Paulina (1865-1942), assim
têm-se o Pátio do Colégio, local de           Gostaria de citar alguns exemplos     como uma miríade de santas e santos
sua fundação; o Museu do Ipiranga,        próximos a mim: No Hospital do Ser-       anônimos que em seus 455 anos de
onde começou o Brasil independente;       vidor Público de Estado de São Paulo,     existência a tem fertilizado e tornado
a Estação da Luz, onde abriga o inu-      hospital-escola a que muito me orgulho    melhor com sua abnegação irrestrita,
sitado Museu da Língua Portuguesa;        de pertencer – referência nacional no     caridade produtiva e altruísmo não
o Parque do Ibirapuera, o Mercado         ensino e na especialização médica –,      espalhafatoso.
Municipal, o Masp (Museu de Arte          a grande maioria dos internos e resi-         Prezados amigos e amigas! Esta é a
de São Paulo), o Terraço Itália, a        dentes que lá entram por meio de con-     cidade que os acolhe de braços esten-
Pinacoteca, o Teatro Municipal, o Me-     curso desprovido de favorecimento         didos e de coração aberto. Sejam todos
morial da América Latina, a Catedral      através de entrevistas, é formada por     muito bem-vindos a este encontro de
metropolitana, o fabuloso Museu do        colegas forasteiros, muitos de longín-    literatura e de congraçamento frater-
Futebol, o Mosteiro de São Bento; o       quas cidades e Estados. O serviço de      no. Sintam-se em casa, pois a pauli-
Museu de Arte Sacra; a Santa Casa de      urologia no qual sou o responsável        ceia, também imortalizada na música
Misericórdia; os túneis subaquáticos;     pelo departamento de endourologia         “Sampa” do baianíssimo Caetano Ve-
os complexos viários, destacando-se       tem dois pernambucanos, sendo um          loso, gravada em 1975, não pertence
a mais paulista das avenidas; a ponte     deles o diretor. O chefe da enferma-      apenas a nós, paulistanos e paulistas
Octávio Frias de Oliveira, a única        ria é mineiro; há assistentes do Piauí,   – Ela é de todos os brasileiros!

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Jornal da Sociedade de Médicos Escritores relata eventos literários

  • 1. Jornal O Bandeirante Ano XVIII - no 203 - Outubro de 2009 Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP São Paulo dos Paulistas e dos Brasileiros* “Non Ducor Duco – Não sou Conduzido, Conduzo”. (Divisa do município de São Paulo) Helio Begliomini Médico urologista Presidente da SOBRAMES-SP (2009-2010). trabalhar, passear, divertir-se, mas também a nós que nascemos ou que nela vivemos. São Paulo assusta pela sua gran- deza: são 10,5 milhões de pessoas apenas no município e 19.616.000 na região metropolitana, cujo entorno é formado por 39 municípios interliga- dos – inextrincáveis geograficamente – que perfazem conjuntamente a grande São Paulo, tornando-a a sexta maior aglomeração urbana do mun- do (!), superada apenas por Tóquio, Cidade do México, Nova Iorque, Seul e Bombaim. Contudo, diferentemente dessas Confesso que a delegação paulista De início surgiu um impasse: Qual megalópoles, São Paulo possui a composta por 8 participantes que cidade do interior seria mais propí- maior floresta urbana nativa do mun- prestigiou o XXII Congresso Brasilei- cia? Após muita pesquisa e discussão, do! – O Parque Estadual da Cantareira ro da Sociedade Brasileira de Médicos chegou-se a um consenso de que este tem 7.916 hectares, que equivalem Escritores (Sobrames), realizado de 4 a evento, por ter conotação nacional, a 8 mil campos de futebol, onde se 7 de junho de 2008, na belíssima cida- deveria ser mesmo realizado na pau- encontram três opções saudáveis de de de Fortaleza, ficou muito surpresa e liceia. Isso tudo decidido ainda em lazer. envaidecida quando foi sugerido que novembro do ano passado. São Paulo também assusta pelo a regional de São Paulo da Sobrames Daí para frente, a comissão organi- trânsito caótico e congestionado em organizasse, em 2009, a V Jornada zadora trabalhou árdua e ininterrupta- decorrência dos seis milhões de carros Nacional da Sobrames, evento esse mente, desdobrando-se em múltiplas que aqui trafegam e, como consequên- que já tinha sido bem realizado nas reuniões para que tudo acontecesse da cia, pelo elevado número de acidentes cidades em Salvador (2001), Belém melhor forma possível. que nele ocorre, particularmente com (2003), Fortaleza (2005) e Curitiba (...) motoqueiros que dirigem alucinada- (2007). A cidade de São Paulo amedron- mente. Assusta pelo tempo em que (...) ta não somente aos que aqui vêm se perde nos deslocamentos internos; (continua na última página) * Discurso proferido na condição de presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores do Estado de São Paulo (Sobrames – SP) por ocasião da abertura da V Jornada Nacional da Sobrames, X Jornada Médico-Literária Paulista e VI Sobramíada, even- tos realizados conjuntamente de 17 a 19 de setembro de 2009, no Green Place Flat, situado na Vila Mariana da capital paulista (Publicação parcial).
  • 2. 2 O BANDEIRANTE - Outubro de 2009 X Jornada Médico-Literária Paulista, V Jornada EXPEDIENtE Nacional da Sobrames e VI Sobramíada Jornal O Bandeirante ANO XVIII - no 203 - Outubro 2009 Realizaram-se, de 17 a 19 de setembro deste ano, no Green Place Flat, localizado na Vila Mariana, em São Paulo (SP) a Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos X Jornada Médico-Literária Paulista, a V Jornada Nacional Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP . Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros da Sobrames e a VI Sobramíada, tendo sido um sucesso de - São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editor: público e participação. Foram seis sessões literárias de duas Helio Begliomini. Jornalista Responsável e revisora: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671 - SP). Colaboradores desta horas cada uma, em que 40 escritores apresentaram um total edição: Carlos Augusto Ferreira Galvão, Flerts Nebó, José de 113 trabalhos de variados gêneros literários: contos, crôni- Alberto Vieira, José Rodrigues Louzã, Ligia Terezinha Pezzuto, Luiz Jorge Ferreira, Sergio Perazzo.Tiragem desta cas e poesias. Além dos autores, também estiveram presentes edição: 300 exemplares (papel) e mais de 1.000 exemplares PDF enviados por e-mail. 16 convidados, o que veio abrilhantar os eventos. Diretoria - Gestão 2009/2010 - Presidente: Helio Desde o início, a Diretoria foi cumprimentada pela notável Begliomini. Vice-Presidente: Josyanne Rita de Arruda organização, exemplo disso, os Anais distribuídos logo na chegada dos participan- Franco. Primeiro-Secretário: Ligia Terezinha Pezzuto. Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. tes, junto com o material organizado em uma pasta conseguida pela sócia Maria Primeiro-Tesoureiro: Marcos Gimenes Salun. Segundo- do Céu Coutinho Louzã. Os Anais impressos e fornecidos também em CD no Tesoureiro: Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal Efetivos: Flerts Nebó, Carlos Augusto Ferreira Galvão, Luiz formato PDF, a emissão de Certificados e todo o suporte necessário para o bom Jorge Ferreira. Conselho Fiscal Suplentes: Geovah Paulo andamento dos trabalhos deveu-se ao associado Marcos Gimenes Salun, que em da Cruz; Rodolpho Civile; Helmut Adolf Mataré. conjunto com a Diretoria – cada um realizando o seu melhor –, contribuíram para a realização dos eventos e acolheram os participantes como anfitriões. Matérias assinadas são de responsabilidade de seus As Jornadas contaram com o apoio institucional de seis entidades: Academia autores e não representam, necessariamente, a opinião da Sobrames-SP Paulista de História, Associação Médica Brasileira, Academia Ribeirãopretana de Letras, Academia Paulista de Letras, Associação Paulista de Medicina e Mo- vimento Poético Nacional, tendo este último sido convidado e aceitado julgar os Editores de O Bandeirante trabalhos para a premiação, que contou com 1o, 2o e 3o lugares e duas menções Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992 honrosas nas categorias poesia, conto e prosa, além de um prêmio oferecido Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994 pela Sobrames Nacional, a VI Sobramíada, para cada categoria. Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996 Foi um momento único de congraçamento e enlevo, no qual pessoas de vários Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000 Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009 Estados (Minas Gerais, Bahia, Ceará, Alagoas, Santa Catarina, Pernambuco, Rio Helio Begliomini – maio de 2009 - de Janeiro e São Paulo) e de outros países como Argentina e Angola brindaram os eventos com textos de excelente qualidade. Nesse encontro cultural em que Presidentes da Sobrames – SP pessoas de regiões tão diversas colocaram em comum sua arte, seu estilo e sua 1 Flerts Nebó (1988-1990;1990-1992 e out/2005 a dez/2006) o sensibilidade literária, fica a certeza de fazermos parte de um todo que vem 2o Helio Begliomini (1992-1994; 2007-2008 e 2009-2010) crescendo, desenvolvendo-se e contribuindo para engrandecer a produção 3o Carlos Luiz Campana (1994-1996) cultural de nosso Brasil. 4o Paulo Adolpho Leierer (1996-1998) Ligia Terezinha Pezzuto 5o Walter Whitton Harris (1999-2000) 6o Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002) Jornalista e revisora em São Paulo 7o Luiz Giovani (2003-2004) Walter Whitton Harris 8o Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005) Cirurgia do Pé e Tornozelo Ortopedia e Traumatologia Geral Editor: Helio Begliomini CRM 18317 Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto Av. República do Líbano, 344 Rua Luverci Pereira de Souza, 1797 - Sala 3 Diagramação: Mateus Marins Cardoso 04502-000 - São Paulo - SP Cidade Universitária - Campinas (19) 3579-3833 Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica Tel. 3885 8535 www.veridistec.com.br Cel. 9932 5098  CUPOM DE ASSINATURAS* longevità Preço de 12 exemplares impressos: R$ 36,00 (11) 3531-6675 Nome:___________________________________________________________ Estética facial, corporal e odontológica * Massagem * Drenagem * bronze Spray * End.completo: (Rua/Av./etc.) _______________________________________ Nutricionista * rPG Rua Maria Amélia L. de Azevedo, 147 - 1o. andar ________________________________ nº. _______ complemento _________ Cidade:_____________ Estado:_____ E-mail:___________________________ Clínica Benatti Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante Ginecologia receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF) Obstetrícia *Disponível para o público em geral e para não-sócios da SOBRAMES-SP Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal a SOBRAMES-SP para REDAÇÃO Mastologia “O Bandeirante” R. Bias, 234 - Tremembé - CEP 02371-020 - São Paulo - SP Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega (11) 2215-2951
  • 3. SUPLEMENTO LITERÁRIO O BANDEIRANTE - Outubro de 2009 3 Poesia José Alberto Vieira Médico anestesista em São Paulo Meditando Poesia. Não vivamos sem ela A poesia está dentro de nossa alma José Rodrigues Louzã E nos nutre. Médico aposentado em São Paulo Com música então; É como morrer e À medida que passam os anos Acordar no paraíso sem fim. e as inflorescências da existência são menos fecundas, O mundo sem poesia tornam-se maiores as saudades É um deserto onde nada germina. e mais fortes as lembranças do tempo que passou. Poesia é a ciência da alma Que a desnuda e por vezes a consola. Sentado calmamente na varanda, Nos permite ser a criança que vive dentro de na cômoda cadeira de balanço, nós. numa tarde quente de primavera Jamais deixemos que ela adormeça. quando todas as flores do jardim exalam um perfume embriagador, Poeta é aquele que não tem vergonha de amar, penso!...recordo!...medito!...sonho!... de chorar, De errar, de beijar, de abraçar Sonho como o velho jangadeiro que, cansado da lida, De mostrar-se frágil. agora só se aventura a enfrentar o mar, Poeta é a alma que desvenda a alma quando este é manso e calmo. Que atormenta e incomoda Nos outros dias, fica a cismar balouçando tranquilamente na rede. Enaltece e desafia, Já está por completar-se a sua missão. Passou quase toda sua vida a lançar a rede ao mar. Questiona mas não responde A buscar, nas águas sossegadas ou revoltas, o sustento para os seus. Simula e por vezes dissimula. Fechando os olhos, o velho jangadeiro revê e novamente sente É o ser forte que se mostra fraco. as emoções das procelas que teve que suportar, Diz o que não pode ser dito, o medo que sentia nas ocasiões em que o mar parecia tragá-lo, Não diz o que sente. a felicidade que experimentava ao rever sua família, E até quando o poeta finge ser o que não é esperando por ele temerosa, na praia, ao pôr do sol. Mostra aquilo que os outros são. E lembra-se dos seus primeiros amores... Poeta...poesia... do calor daquele beijo quente, roubado às escondidas... e daquele abraço tão apertado... que ele ainda hoje sente. Que será deste mundo Como o velho jangadeiro... também sonho... Se um dia perecerem? também revivo ilusões... também relembro tristezas... também recordo as alegrias e a felicidade... Mas é preciso despertar! A vida continua! Não se pode permanecer inerte! Enquanto vivemos, precisamos, e muito, ficar acordados... estar alerta para enfrentarmos o futuro... meditando sempre sobre o nosso porvir... O que nos reservam os tempos que virão? As flores ficarão, certamente, cada vez mais raras e menos perfumadas, os obstáculos parecer-nos-ão cada vez maiores... intransponíveis... mas devemos manter sempre a esperança como farol aceso a aclarar o nosso futuro, a iluminar a nossa trajetória. E quando para nós cerrar-se definitivamente a cortina da existência, iremos para um novo porvir, levando como única e rica bagagem a certeza de termos seguido, com coragem, o nosso destino!
  • 4. 4 O BANDEIRANTE - Outubro de 2009 SUPLEMENTO LITERÁRIO O Forro e o Avesso Sergio Perazzo Médico Psiquiatra em São Paulo Ao que à primeira vista possa parecer, forro e avesso não são, rua, bem em frente da casa da minha avó, aquela casa de pedra em estilo aqui, sinônimos. Muito pelo contrário. Forro como estofo, substância, normando (por sinal, esperei a vida inteira para encaixar estilo normando base, calor e acolhimento. Avesso, o outro lado, a questão e a crítica, no meio de uma frase e a oportunidade chegou aqui; na verdade, não a exposição nua da costura, do chuleio, o contraponto da bainha, da sei qual é o estilo normando nem se esse estilo combina com uma casa linha e do nó que sustentam a face oculta do botão que escancara a face de pedra ou de madeira, nem sei se uma casa é colonial, neoclássica ou oculta da lua, que a encaixa na casa reta fechando as duas metades da pós-moderna, quero mesmo é que vocês acreditem que sou um especia- vestimenta. Avesso que revela o risco do bordado. lista em estilos arquitetônicos, faz parte da minha realidade suplementar Sei não, forro e avesso apenas partes distintas do mesmo casaco que escancarando minha verdade psicodramática e poética). me agasalha e me protege do frio das convicções vazias e das palavras vãs E assim vivíamos na mesma rua, entre a Lagoa e o Corcovado, entre que nada dizem do que eu vejo e do que eu sinto. Sinalização do nada. pipas, bolas de gude e piões, e eu transitava inteiramente à vontade Placas enferrujadas de beira-estrada, apontando caminhos sem volta. entre as casinhas de fundos, assim como era a em que eu morava, mas com jardim e alguma flor, a casa de pedra e a do menino rico, e a casa INCONCLUSÕES de cômodos das famílias do Mário e do Valtinho, as mães eram lava- deiras, que fazia parede com a minha casa. Meu trânsito sociométrico A culpa é do Monteiro Lobato. Quando aprendi a ler, como todo dessa minha infância democrática, criança às vezes é democrática e às mundo da minha geração, ganhei a coleção completa de seus livros vezes ditadora, todo mundo de pé descalço no chão. Casa de avó com infantis. Devorei todos, a ponto de repetir a leitura do começo ao galinheiro e porão. Aliás Seu Joca era o rei desse porão. Tinha nele fim, cinco vezes, de Reinações de Narizinho, O Minotauro e Os doze a sua oficina de sapateiro. Não tinha dia em que não carimbássemos trabalhos de Hércules. uma visitinha ao sapateiro. Batíamos o ponto religiosamente. Não vão Passeava com a Emília, aquela contestadora que abria a todo mo- pensar que era pelas barbas do Seu Joca ou por alguma perversão, mento a sua torneirinha de asneiras, torneirinha da sua espontaneidade, fetiche por salto alto ou chulé. Não. Era pelo calendário da Marilyn entendi muito depois, pelo terreiro do Sítio do Pica-pau-amarelo, pelos Monroe peladona, pendurado atrás do velho safado com a boca cheia anéis de Saturno, pelas ruínas gregas ou pelo País da Gramática. Só ela de tachinhas e as mãos cheias de calos. O ano do calendário devia ser mesmo para apelidar Hércules de Lelé e de fazê-lo chorar na hora da de dez anos antes. Quem teria coragem de tirar a Marilyn dali? Botar despedida. Aquele brutamontes de coração de batata frita, que a tia no lixo? Nem pensar. Anastácia cozinhou para ele. Como contraponto desse compromisso com o descompromisso Tudo isso sob as vistas circunspectas do Visconde de Sabugosa, a da vida que nos cercava, os dois loucos daquele pedaço de rua. Um, o erudição conservada naquele corpo rígido e duro de sabugo de milho, Carlinhos, epilético com convulsão e tudo, já demenciado, sempre de encimado por uma cartola formal e fora de época. cabeça raspada como os egressos do manicômio do Engenho de Dentro, Não era à toa que, aos três anos de idade, sentado em uma cadeira uma estação distante e suburbana da Central do Brasil. de braços, eu apoiava a cabeça na mão direita e minha tia perguntava: Provocávamos e caíamos na risada só pra vê-lo disparar atrás da O que você está fazendo, Serginho? E eu: Estou pensando na vida. A gente, com todo o tipo de palavrão. Uma crueldade inofensiva que já vida pra mim, desde cedo, já era uma questão. Ou repetição. Nascia fazia parte da paisagem diária. Tanto ele demonstrava gostar da gente ali o que existe em mim de pensador. apesar das risadas, afinal éramos o seu contato com o mundo, como a Não só de Monteiro Lobato eu me alimentava. Nem só de histórias gente corria dele de mentirinha sem sentir medo de verdade. vive o homem.Todo dia era dia de bicicleta e de futebol no meio da rua A outra louca, seis casas depois, era a mãe do Pedrinho, coitado. (quase não passava carro; quando passava, a gente parava segurando Um menino triste que só podia ser triste. Um desastre no futebol que a bola com o pé). sempre sobrava pra goleiro. Vivia humilhado pelos surtos delirantes e No final da tarde, chegava o pai de todo mundo: Meninos, pra alucinatórios da mãe. Ninguém queria estar na pele dele. O pai, um dentro. Depois da sobremesa, de novo na rua. Dessa vez com as meninas homem resignado. Era tudo. Tínhamos um certo medo, pra não dizer pra brincar de estátua, de pera, uva ou maçã, de batatinha-frita-um- um medo danado de passar pela porta dela. Ninguém entrava na casa dois-três, com as cigarras cantando o verão. do Pedrinho. De repente, ela saía de lá berrando, doida varrida como Foi nessa que senti bater no peito minhas primeiras paixões pla- a mãe do Anthony Perkins em Psicose do Hitchcock. Só faltava a faca tônicas. Primeiro a Regina, não sei que fim levou, depois a Silvinha, e o sangue. hoje avó e arquiteta. Era assim. A loucura também fazia parte da rua. Como todo o O Mário seguiu carreira de açougueiro e até hoje vive cercado de resto. contra-filés e alcatras, enquanto eu fui fazer medicina e me cerquei Foi nesse caldo de cultura que nasci e cresci. Gravitando entre pobres de pedaços formolizados de gente nas aulas de anatomia. Uma outra e ricos, entre a irreverência da Emília e a formalidade do Visconde. espécie de açougue. Sim, o que eu queria dizer é que tive mesmo uma infância muito, muito O Marcinho, que ganhava todas no botão, perdeu-se no mundo. feliz, apesar dos inevitáveis acidentes de percurso. O Beto virou repórter, o irmão do Valtinho saiu por aí roubando tudo A música entrava pelas frestas, meu pai e minha tia cantavam tan- o que podia, afanando mesmo, acabou preso e alcoólatra, morrendo gos pela sala. Gardel reverberava nas paredes. Não havia aniversário literalmente na sarjeta. O Tião, o craque do nosso time, que me ensinou que não se dançasse ao som das big-bands dos anos 40. Glenn Miller. a colocar a bola no ângulo, bem a salvo do goleiro, foi o mais coerente. Tommy Dorsey. Duke Ellington. E a Rádio Nacional o dia inteiro na Migrou pras Gerais e acabou ponta esquerda do Atlético Mineiro. Vi cozinha da minha avó. um dia na tevê o Tião fazer um gol de placa com camisa listrada preta Um pouco mais tarde, no colégio de elite onde passei a estudar (meu e branca por cima do coração carioca. pai se matava em horas extras para pagar a mensalidade), tive como E como era mesmo o nome daquele menino rico e entediado? colegas o Edu Lobo, o Marcos e o Paulo Sergio Valle, o Cacá Diegues, Aquele que, por falta do que fazer, vivia estilhaçando os tomates-cerejas o Nelsinho Motta, o Sidney Miller, o Francis Hime, o Arnaldo Jabor e da horta da sua mãe, no fundo do quintal daquela casa enorme e super- o Pedro Malan. Antes de se revelarem as vocações artísticas, literárias moderna, cheia de tapetes, a mais nova da rua, com a sua espingarda e políticas, a gente queria mesmo era jogar futebol ou basquete. A de ar comprimido que nos fazia babar de inveja? fama veio depois. O Naldinho, irmão da Silvinha, menino estranho e calado, suicidou- Verdade é que o artista que sempre viveu em mim só deixei que se no fim da adolescência. Graças a Deus eu não morava mais lá, senão viesse à tona depois dos meus papéis de obrigações. teria que encarar aquela casa em que eles moravam, no outro lado da (continua na próxima página)
  • 5. SUPLEMENTO LITERÁRIO O BANDEIRANTE - Outubro de 2009 5 (continuação da página anterior) Afinal de contas eu era o depositário das expectativas de duas Reconheço hoje que a minha verdade histórica naquele pedaço de famílias de emigrantes em que se misturavam argentinos, uruguaios, meu átomo social que representava a minha rua, permitiu-me treinar italianos, portugueses, franceses e negros, de modo que acabei sendo o papéis sociais sem saber que estava treinando. primeiro de todo esse bando a entrar numa faculdade. Abri a porteira e Fui deixando fluir uma força vital que Moreno chamaria esponta- segui em frente e uma fila de irmãos e de primos me seguiu depois. neidade, como diriam os Beatles, with a litlle help of my friends. O psico- Muito depois de formado e já em São Paulo, fui aos poucos me drama foi decisivo em soltar minha criatividade em todas as direções. permitindo ser poeta, cronista, contista, músico e cantor. De vez em Em ser Deus sem quebrar o braço (qualquer psicodramatista entende quando me perguntava o que seria se tivesse seguido alguma carreira isso) (*) Em incorporar conscientemente esse Deus, esse brilho, essa artística, mas olhava para trás e sempre via tanta gente que ajudei força, essa chama, essa centelha ou o que mais quisermos chamar. nessa minha profissão (tempos de pronto-socorro e tempos de ma- Por tudo isso, que quero dizer? Que a ciência não alcança e jamais ternidade em que ajudei a botar no mundo uns duzentos bebês) e me alcançará a criatividade. Este é o mais profundo legado de Moreno. A orgulhava de me sentir útil. Acabei achando espaço para as duas coisas. criatividade é sempre um vir-a-ser. É um resultado. É sempre aberta. O psicodrama foi decisivo para que eu fizesse a síntese e abarcasse a É sempre para. É intraduzível. Não é sistematizável. Nem metodolo- minha própria dimensão humana. Daí esses retalhos de memórias que gicamente enquadrável. Por isso a inconclusão. compartilho com vocês. Inconclusos nossos projetos dramáticos são. E se o Mário tivesse saído da casa de cômodos direto para os Inconclusos nossos projetos dramáticos estão. bancos da universidade? Seria mais feliz? E se o Naldinho tivesse Escravos da nossa verdade histórica determinadora das conservas encontrado uma Regina que gostasse dele, teria puxado o gatilho? ou libertos pela criação livre de uma realidade suplementar que restaure E se ao irmão do Valtinho fosse dada uma oportunidade de sair da a nossa mais genuína verdade psicodramática e poética. Apoderar-se quase miséria social, teria roubado? Seria preso? Encheria o caneco? dela é o desafio a que nos lançamos. Morreria na sarjeta? Nós que somos produtos inconclusos de nós mesmos. Tudo depende de escolhas, é verdade, mas as escolhas transcen- dem a simples vontade, pré-determinadas, em parte, pelas imposições socio-culturais. Um certo jogo de cartas marcadas nesse mundo repleto São Paulo, 25 de outubro de 2009 de desigualdades que não se acertam nunca. (um domingo de primavera) (*) O autor se refere a um episódio da vida de Moreno em que, ainda criança, brincando de ser Deus, despenca de uma pilha de cadeiras e quebra um braço. Idealismo Universal Carlos Augusto Ferreira Galvão Médico psiquiatra em São Paulo Fazia algum tempo que nossos congressos e jornadas A segunda consequência é bem doméstica e tem a ver não contavam com a presença dos “hermanitos” argenti- com a surpresa de alguns colegas sobre os critérios usados nos. Sentíamos falta dos velhos conhecidos como o Victor para a premiação de textos em língua estrangeira. Res- José Fryc e suas hilárias crônicas, dos amigos que sempre pondi para alguns que o critério passa a ser o conteúdo da trazia... Mas desta vez, em nossa última Jornada, os platinos obra, tendo como limite, óbvio, o entendimento do texto vieram com tudo. pelo julgador. Claro que se um colega alemão quisesse O trabalho de Victor Fryc sobre uma estátua é cósmico e apresentar um texto em nossa Jornada, haveria espaço, provocará gargalhadas em quem conseguir um mínimo de educação em ouvir, mas nenhuma exigência para que os entendimento do texto, em qualquer lugar do mundo. Nes- julgadores lessem alemão, e dificilmente seria premiado; te contexto, afora a elegância glamorosa que os argentinos convenhamos, no entanto, que a língua dos “hermanitos” sempre emprestam a nossas jornadas, é um privilégio poder é de bem mais fácil entendimento num país lusófono do entendê-los, pois é comum nos brindarem com trabalhos literá- que a língua germânica. rios extraordinários, plenos de sensibilidade e sentimentos. Somos médicos antes de sermos escritores, portanto de Um deles, o colega Miguel Angel Manzi, conquistou uma profissão que cuida do ser humano independente- menção honrosa em conto e o 3o lugar em poesia, o que mente de suas características de raça ou de outra qualquer, gerou duas consequências. A primeira é que tal premiação, inclusive da língua em que se expressa. Acredito que faz por certo, estimulará a presença de mais colegas da nação parte dentre os ideais da SOBRAMES, e de entidades irmãs irmã, quando um de seus filhos ganha um prêmio num espalhadas pelo mundo, a ruptura das barreiras entre os congresso literário em uma nação de língua diferente. seres humanos; o verdadeiro ideal da paz universal. Tratan- Não sei não... Acredito que seja algo inédito. De parabéns do como iguais os textos dos colegas argentinos, estamos o colega e toda a nação argentina. fazendo a nossa parte.
  • 6. 6 O BANDEIRANTE - Outubro de 2009 SUPLEMENTO LITERÁRIO Agosto Prêmio SuperPizza Tema: Agosto, Mês de Desgosto Flerts Nebó Médico aposentado em São Paulo Dizem que agosto Valsinha É mês de desgosto. Também que é mês De cachorro louco Não ligo... e até faço pouco Mas eu... ...Fico a gosto. Luiz Jorge Ferreira Médico Clínico em São Paulo Agosto é mês de desgosto; Pois nem sempre é assim, Mas há quem diga que sim! E se acontecer da dor acontecer Mas eu... ...Fico a gosto E se esta dor em mim só for você E se ela me fizer sangrar Agosto tem dia dos pais, E se eu desmaiar Tem também os dias dos “ais”... Tudo isto em pleno mês de agosto E se acontecer de eu me esquecer Mas eu... ...Fico a gosto E se você nunca se lembrar E se de repente eu não existir Em agosto, tem dia de Maria, E me ferir e me embriagar Disto, todo mundo já sabia; E de manhã for eu quem não chegar Mas agosto... ...é agosto. E eu... ...Fico bem a gosto! E se eu espalhar demais os meus pedaços E se você por Deus não os juntar Tem o dia do soldado, E por acaso eu nunca mais estando Tem também o dia do namorado E acontecer em nós da dor voltar Tem dias que nem tem gosto Mas eu... ...Fico bem a gosto. E finde o dia e a gente não perceba. E a vida fuja e a gente não esteja. Ele é o oitavo mês do ano - Como poderemos. - Ser feliz. E nele se sofre desengano. E se nos perdermos nas esquinas É ainda mês de vento louco E se nos escondermos entre nós Mas eu... ...Fico sempre a gosto. E se dormirmos em noites diferentes Vamos agora dar um fim E se for outro o nome de alguém A esta poesia chinfrim, E se fingirmos ter saudades. Pois falamos de Agosto E se um chegar depois Mas eu... ...Fico bem a gosto. E se desunirem as cidades E tudo isto é... E se for frio na sala e o sol brilhar no hall Tão somente E se envelhecermos no Outono Para todo o vosso E se diminuirmos a visão Grande... ...desgosto! E se desaparecer o seu sorriso Pois tudo isto me deu, E se o coração tiver razão E porque não vou dizer, E se você vier vestida Um grande prazer E se houver água no mar E mesmo até, muito gosto E se vier trazendo a vida E se eu tiver ido banhar Por ter enchido Vossa paciência E se dançarmos uma valsa Em pleno mês de AGOSTO E se o som vier do luar E eu... ...Fiquei bem a gosto! E eu sonhar que foi um sonho.
  • 7. SUPLEMENTO LITERÁRIO O BANDEIRANTE - Outubro de 2009 7 Premiados nos concursos da V Jornada Nacional da Sobrames, X Jornada Médico-Literária Paulista e VI Sobramíada. Conto: 1o – Maria do Céu Coutinho Louzã (São Paulo – SP) 2o – Rodolpho Civile (São José dos Campos – SP) 3o – Vilma Clóris de Carvalho (Recife – PE) PUBLICIDADE Menções honrosas: Fátima Calife (Recife – PE) TABELA DE PREÇOS 2009 Miguel Angel Manzi (Buenos Aires – Argentina) (valor do anúncio por edição) 1 módulo horizontal R$ 30,00 2 módulos horizontais R$ 60,00 Prosa (não conto): 3 módulos horizontais R$ 90,00 2 módulos verticais R$ 60,00 1o – Sebastião Abrão Salim (Belo Horizonte – MG) 4 módulos R$ 120,00 2o – José Warmuth Teixeira (Tubarão – SC) 6 módulos R$ 180,00 3o – José Warmuth Teixeira (Tubarão – SC) Outros tamanhos sob consulta Menções honrosas: Nelson Jacintho (Ribeirão Preto – SP) heomini.ops@terra.com.br Zilda Cormack (Rio de Janeiro – RJ) ligiapezzuto@terra.com.br Poesia: 1o – José Jucovsky (São Paulo – SP) REVISÃO 2o – Josef Tock (São Paulo – SP) de textos em geral 3o – Miguel Angel Manzi (Buenos Aires – Argentina) Menções honrosas: Josyanne Rita de Arruda Franco (Jundiaí – SP) Ligia Pezzuto Especialista em Língua Portuguesa Márcia Etelli (São Paulo – SP) (11) 3864-4494 ou 8546-1725 Prêmio VI Sobramíada Conto: 1o – Josyanne Rita de Arruda Franco (Jundiaí – SP) ROBERTO CAETANO MIRAGLIA Prosa: 2o – Marco Aurélio Baggio (Belo Horizonte – MG) ADVOGADO - OAB-SP 51.532 Poesia: 3o – Nelson Jacintho (Ribeirão Preto – SP) ADVOCACIA – ADMINISTRAÇÃO DE BENS NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS – LOCAÇÃO COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS ASSESSORIA E CONSULTORIA JURÍDICA Gratidão da Sobrames à Empresa TELEFONES: (11) 3277-1192 – 3207-9224 Implacil de Bortoli Terminou de A Sobrames de São Paulo agradece à empresa de implantes dentários escrever seu Implacil De Bortoli ao nos ter ofertado gentilmente canetas e blocos, muito úteis nos nossos eventos e que foram distribuídos nas pastas entregues aos livro? Então participantes da X Jornada Médico-Literária Paulista, V Jornada Nacional da publique! Sobrames e VI Sobramíada, eventos que se realizaram em São Paulo, nos dias 17 a 19 de setembro de 2009. Nesta hora importante, não deixe de A Implacil De Bortoli é uma empresa que há mais de 20 anos se destaca por oferecer o melhor em implantes dentários, instrumentais cirúrgicos e consultar a RUMO EDITORIAL. Publicações com qualidade impecável, componentes protéticos, e vem investindo em aprimoramento tecnológico dedicação, cuidado artesanal e preço em toda a sua linha de produtos. Situada à rua Vicente de Carvalho, 182, no justo. Você não tem mais desculpas Cambuci – telefone 3203-0991, tem o e-mail: contato@implacil.com.br. para deixar seu talento na gaveta. À Implacil De Bortoli, mais uma vez, nossos agradecimentos e os melhores rumoeditorial@uol.com.br votos de muito sucesso. (11) 9182-4815 Diretoria da Sobrames – SP
  • 8. 8 O BANDEIRANTE - Outubro de 2009 SUPLEMENTO LITERÁRIO São Paulo dos Paulistas e dos Brasileiros (continuação da primeira página) pelo número de assaltos e mortes de- ponte estaiada no mundo com duas assim como oriundos de cidades do les decorridas; pela selva de pedras pistas em curva conectadas a um mes- interior do Estado de São Paulo. formada com seus inúmeros edifícios; mo mastro (!), dentre tantos outros Ah! Igualmente não posso me es- pela obsessão de trabalhar de sua gen- símbolos e cimélios. quecer de mencionar que muitos che- te; pela maneira apressada do povo se Faz-se mister abrir parêntesis: o fes de serviços, assistentes, enfermei- deslocar nos logradouros, sendo por lema da divisa da cidade (em epígrafe, ras e funcionários que lá trabalham isso já chamada de “neurópolis”... non ducor duco) não sintetiza presun- são de diferentes rincões deste imenso Por outro lado, São Paulo encanta ção, acinte, arrogância ou cabotina- país. Tenho colegas meus – contempo- pelo convívio de antigos e novos edifí- gem de seus munícipes perante os râneos de residência médica – naturais cios e pelo urbanismo de suas praças, demais brasileiros, mas explicita sua da Bahia e de Minas Gerais que são da parques e avenidas; extasia pela ousa- missão, assim como enaltece a inde- atual diretoria do Conselho Regional dia e vanguardismo de sua arquitetura pendência e a liderança que a cidade de Medicina do Estado de São Paulo, contemporânea, bem como pelo triun- galgou, fruto do trabalho de sua gente em cujas últimas eleições participaram fo de ter vencido a gigantesca poluição e de uma miríade de imigrantes de diversas chapas. visual há pouco ostentada em placas dentro e de fora do País. Não posso também me olvidar e outdoors de todos os matizes que, A propósito, particularmente, esta de mencionar que a nossa querida quando não emporcalhava, escondia metrópole fascina pela acolhida des- Sobrames do Estado de São Paulo é seu contorno e sua beleza. São Paulo, medida não somente a uma grande muitíssimo enriquecida pela presença outrossim, deleita por possuir uma diversidade de irmãos de todos os Esta- de profícuos e destacados escritores das mais diversificadas e deliciosas dos da nação, como também de povos oriundos do Pará, Bahia, Maranhão, gastronomias do planeta; maravilha de etnias dos mais remotos rincões do Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas pelo número, dimensões e variedade planeta. Assim, São Paulo se orgulha Gerais, Amapá e até do Equador e de seus museus, parques de diversão, por não ser provinciana, situação que de Moçambique, que escolheram as centros de exposição e shopping cen- privilegia a poucos que estão ligados terras bandeirantes para viver e con- ters; surpreende pela sua significativa direta ou indiretamente ao centro tribuir com seu desenvolvimento. produção científica, tecnológica e pela do poder em muitos municípios. Ao Por fim, São Paulo também sur- pluralidade cultural; e espanta pela contrário, dá oportunidade a ambos preende pela sua imensa genero- sua capacidade de realizar negócios e os sexos: ao mais preparado, ao mais sidade, quer no voluntariado exer- movimentar o comércio. competente, ao mais oportuno, ao mais cido em igrejas, organizações não São Paulo é uma megalópole mul- trabalhador e ao mais dedicado. Ainda governamentais, clubes de serviço, ticultural e multiétnica, constituindo- que sempre existam influências polí- quer no auxílio a vítimas de catás- se na maior cidade japonesa fora do ticas e pessoais, naturalmente muito trofes naturais que ultimamente, Japão; na maior cidade portuguesa de diluídas em seu oceano populacional, infelizmente, têm-se tornado muito além-mar; na maior cidade libanesa não se vê desbragada e acintosamente frequentes em nosso país. Nesta terra fora do Líbano e na terceira maior a discriminação a favor de seus conter- viveram e trabalharam padre José de cidade italiana fora da Itália! râneos em detrimento de outros brasi- Anchieta (1534-1597), frei Antônio Dentre tantos marcos que carac- leiros na disputa de empregos e cargos de Sant’Anna Galvão (1739-1822), terizam este município sui generis como ocorre em outras plagas. madre Paulina (1865-1942), assim têm-se o Pátio do Colégio, local de Gostaria de citar alguns exemplos como uma miríade de santas e santos sua fundação; o Museu do Ipiranga, próximos a mim: No Hospital do Ser- anônimos que em seus 455 anos de onde começou o Brasil independente; vidor Público de Estado de São Paulo, existência a tem fertilizado e tornado a Estação da Luz, onde abriga o inu- hospital-escola a que muito me orgulho melhor com sua abnegação irrestrita, sitado Museu da Língua Portuguesa; de pertencer – referência nacional no caridade produtiva e altruísmo não o Parque do Ibirapuera, o Mercado ensino e na especialização médica –, espalhafatoso. Municipal, o Masp (Museu de Arte a grande maioria dos internos e resi- Prezados amigos e amigas! Esta é a de São Paulo), o Terraço Itália, a dentes que lá entram por meio de con- cidade que os acolhe de braços esten- Pinacoteca, o Teatro Municipal, o Me- curso desprovido de favorecimento didos e de coração aberto. Sejam todos morial da América Latina, a Catedral através de entrevistas, é formada por muito bem-vindos a este encontro de metropolitana, o fabuloso Museu do colegas forasteiros, muitos de longín- literatura e de congraçamento frater- Futebol, o Mosteiro de São Bento; o quas cidades e Estados. O serviço de no. Sintam-se em casa, pois a pauli- Museu de Arte Sacra; a Santa Casa de urologia no qual sou o responsável ceia, também imortalizada na música Misericórdia; os túneis subaquáticos; pelo departamento de endourologia “Sampa” do baianíssimo Caetano Ve- os complexos viários, destacando-se tem dois pernambucanos, sendo um loso, gravada em 1975, não pertence a mais paulista das avenidas; a ponte deles o diretor. O chefe da enferma- apenas a nós, paulistanos e paulistas Octávio Frias de Oliveira, a única ria é mineiro; há assistentes do Piauí, – Ela é de todos os brasileiros!