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AFINLÂNDIADEJEANSIBELIUS:AINFLUÊNCIA
DA MÚSICA NO NACIONALISMO FINLANDÊS
Gabriel de Souza Alencar7
RESUMO
Este artigo irá discorrer sobre como a influência de um elemento
cultural, a música, pode afetar a política do meio no qual está inserida.
E, para tanto, será utilizado o caso único da Finlândia no seu processo de
independência, que teve seu nacionalismo influenciado pela música de
seu compositor máximo, Jean Sibelius, através de uma de suas maiores
obras, a peça Finlândia, que teve importância fundamental na formação
do nacionalismo deste país.
Palavras-chave: Nacionalismo; música; Jean Sibelius; Finlândia; in-
dependência.
ABSTRACT
This article will address how the influence of a cultural element,
the music, can affect the politics of the environment in which it is in-
serted. And, to do so, it will be utilized the unique case of Finland in its
process of independence, which had its nationalism influenced by the
music of its utmost composer, Jean Sibelius, by one of his major works,
the piece Finland, which had fundamental importance on the formation
of Finnish nationalism.
Keywords: Nationalism; music; Sibelius; Finland; independence.
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Graduado com Láurea Acadêmica no curso de Relações Internacionais da Universi-
dade Federal de Roraima. Acadêmico do curso de Música da Universidade Federal de
Roraima.
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INTRODUÇÃO
N
a segunda metade do século XIX, o mundo passava por trans-
formações nunca antes vistas: o poderio britânico se expan-
dia sobremaneira sobre o continente europeu, instaurando o
liberalismo econômico, que mudaria para sempre o modo das
relações internacionais do continente; o sistema internacional passava
por uma mudança no equilíbrio de poder com o domínio europeu sobre
os outros continentes (com exceção da América da Norte), como a parti-
lha da África e as influências na América Latina. A partir desse momento
histórico, o mundo seria (re)construído pelos moldes europeus e os que
se recusavam a fazê-lo eram rechaçados.
Limitar-se-á no presente texto à abordagem de acontecimentos re-
ferentes a Finlândia. Pretende-se mostrar como se deu o processo de
independência desse país que se encontrava sob domínio russo e, prin-
cipalmente, como a música influenciou nesse processo que foi (como
aconteceu em tantos outros países) intensificado pelo nacionalismo. Es-
tará em foco o compositor finlandês Jean Sibelius, que através de sua
música, e em especial a peça Finlândia, foi responsável pelo alavanca-
mento do movimento quando este estava sob repressão do Império Rus-
so. É importante ainda destacar que a independência da Finlândia teve
importância no contexto geopolítico de sua época, pois se tornou mais
um ator no cenário internacional e, logo, influenciou na balança de po-
der da região.
FINLÂNDIA
U
ma pequena interação com a história finlandesa se faz neces-
sária para que seja possível entender com mais clareza a razão
da continuidade dos movimentos que se seguiram.
A História da Finlândia pode ser dividida em três capítu-
los: o período Sueco, que vai até 1809; o período de dominação russa,
entre 1809 e 1917 e o período que vai desde sua emancipação do Im-
pério Russo até os dias atuais. Aqui serão focados somente os dois pri-
meiros capítulos dessa história dando atenção especial ao segundo, pois
nele é que se desenvolveu o movimento nacionalista finlandês contra a
Rússia.
A Finlândia, através da História, foi um território disputado e con-
quistado por grandes reinos, em especial pela Rússia e Suécia, nunca
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tendo uma autonomia própria que a caracterizasse e identificasse. Entre
essas constantes disputas, em 1323 foi assinado um tratado de paz entre
o reino de Novgorod (Rússia) e Suécia, onde a Finlândia foi divida entre
as duas para findar as guerras, cabendo à Rússia a parte leste e à Suécia o
oeste.
Sob o poderio sueco então, é importante notar que não se estabeleceu
o regime feudalista nessa região, pois no sistema sueco tal forma de organi-
zação não existia; sendo assim, a sociedade fino-sueca sempre se baseou no
trabalho livre. A ascensão da cultura finlandesa começaria somente a partir
do século XVI com o advento da Reforma Protestante, que logo chegou à
Suécia, enfraquecendo a Igreja Católica. Mais tarde, foi lançado o Novo Tes-
tamento em finlandês, o que foi muito importante para a identidade finlan-
desa visto que os ocupantes dos altos cargos do governo do território eram
suecos, algo que favorecia o poderio opressor da língua sueca.
A conquista russa sobre a parte sueca da Finlândia se deu através da
Guerra Finlandesa em 1809, pela qual a Rússia conquista os territórios e
cria, a partir de então, o Grão-Ducado da Finlândia que é incorporado ao
Império Russo, inaugurando o segundo capítulo da história finlandesa.
Sob o título de Grão-Ducado, a Finlândia adquiriu relativa autonomia
graças ao prestígio que tinham os nobres suecos e pela instituição do Sena-
do finlandês como entidade parlamentar, contando inclusive com um Mi-
nistro Secretário de Estado que reportava assuntos finlandeses direto ao
Imperador Alexandre I; além disso, a capital e universidade foram movidas
para Helsinki em 1812 e 1828 respectivamente.
Porém, com o advento da intensificação do nacionalismo russo, as
políticas voltadas para os territórios anexados passaram a se tornar mais
intensas, como bem esclareceu o professor de história russo Marc Raeff:
“[...] o novo território deveria se tornar parte e parcela do território Russo e
aquela nova população deveria viver de acordo com o mesmo padrão social
e econômico que o povo russo.”8
(RAEFF, 1971, p. 30)
Conforme a intolerância por minorias não-russas crescia, também
aumentavam as imposições políticas para suprimi-los. A primeira dessas
imposições, que estabelece o começo da “Era de Russificação9
” sobre a Fin-
lândia, foi o Decreto do Idioma de 1863 emitido por Alexandre II, que im-
punha a língua sueca ao invés da finlandesa para trazer essas minorias para
a esfera de influência russa10
, garantindo maior controle político. Inclusive,
8 Texto original: “[...] the new territory had to become part and parcel of the Russian land
and that the new populations must live according to the same social pattern as did the
Russian people.” (tradução livre)
9 A Russificação, segundo Raeff, era um processo lento e gradual para imposição política
e econômica por parte do governo central russo sobre os territórios dominados; promo-
viam a uniformização das instituições internas e injunção de sua cultura em culturas mais
“fracas”.
10 Embora se instale a língua sueca como língua oficial, ainda considero esse ato como
parte da Russificação porque, ao agradar os nobres suecos, o governo russo conquistava
controle da população que era, de fato, finlandesa.
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para os russos mais conservadores, o Grão-Ducado da Finlândia era uma
anomalia do Império que deveria ser unificada por quatro razões prin-
cipais.
Primeiramente, o separatismo finlandês começava a tomar forma
com o crescimento do sentimento nacionalista, que possibilitaria uma
insurreição dos diversos territórios controlados pela Rússia. Em segun-
do lugar, a partir da década de 1880, a Finlândia começou a competir co-
mercialmente com a Rússia. Outro problema se dava por razões geopolí-
ticas da soberania russa, pois além de criar possíveis antecedentes para
rebeliões, a Finlândia nutria relações com a Alemanha, um tradicional
oponente político-militar da Rússia11
. Uma última razão seria a capaci-
dade da Rússia de incorporar jovens finlandeses às frentes de combate
russas, uma vantagem que não se poderia perder, pois ajudava a garan-
tir a influência russa no meio internacional.
É possível ainda subdividir o período da Russificação em duas
“eras de opressão” (ZETTERBERG, 2001, p.1), onde a primeira se daria
entre 1899 e 1905, iniciando-se com os Manifestos e terminando com a
Primeira Revolução Russa de 190512
, que ao final concedeu certo alívio
às imposições sobre a Finlândia; e a segunda entre 1909 e 1917, que
começa com o retomar das políticas de opressão russas e termina com
a Revolução Russa de 1917, que, ao final, concede a independência da
Finlândia.
A primeira medida tomada pelo governo russo para “russificar” a
Finlândia, foi o Manifesto de Fevereiro de 1899, que dava ao czar pode-
res para governar a Finlândia como bem o aprouvesse sem consultar o
Senado ou a Dieta Finlandesa; além de tornar a Finlândia uma mera pro-
víncia. Em resposta, os finlandeses fizeram um grande abaixo-assinado,
com mais de 500.000 assinaturas. Tal abaixo-assinado foi ignorado pelo
governo russo que, logo em seguida passou o Manifesto do Idioma de
1900, tornando o idioma russo o idioma administrativo obrigatório em
escritórios governamentais.
Ambas as medidas resultaram num sentimento de revolta por par-
te do povo finlandês, que se encontrava dividido sobre como deveriam
11 Mais tarde, esse fator provaria ser verdadeiro, pois em 1917, os russos precisaram
pôr tropas na Finlândia para impedir a entrada dos alemães e a Finlândia foi co-belig-
erante com a Alemanha quando esta invadiu a Rússia em 1941.
12 Para maior elucidação vide VIANA, Nildo. A Revolução Russa de 1905 e os Con-
selhos Operários. Revista Digital “Em Debate”. MENDONÇA, José Carlos (editor).Flori-
anópolis: 2010, 2º semestre, p 42-58. Disponível em <http://periodicos.incubadora.
ufsc.br/index.php/emdebate/article/view/430/487>. Acessado 27 de Outubro de
2010.
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reagir, pois havia um grupo que queria resistir e outros que queriam
cumprir com os objetivos da Russificação. Porém houve uma terceira
medida por parte do governo russo que resultou na união do movimen-
to de resistência finlandês em um movimento de massa: foi a Lei do Re-
crutamento promulgada em 1901, que extinguia o Exército da Finlândia,
incorporando-o ao russo. Tal lei resultou numa série de greves e protes-
tos até que foi suspendida em 190413
.
Quando então se dá a Primeira Revolução Russa de 1905, com suas
greves gerais e protestos (que logo encontram campo fértil na Finlân-
dia), o governo russo se vê na necessidade de rapidamente conter essa
possível revolução, gerando o Manifesto de Outubro de 1905, onde ins-
titui pela primeira vez uma monarquia constitucional, que não vigorou,
pois a Constituição tinha pouca capacidade jurídica para limitar as ações
do czar, sendo que este último detinha ainda um grande poder de veto.
É então que em 1906 o czar propõe que a antiquada Dieta Finlande-
sa seja substituída por um parlamento unicameral; tal proposta foi bem
recebida e aceita pelos finlandeses que logo instauraram a Eduskunta
onde reinava um espírito de solidariedade nacional contando com su-
frágio universal inclusive. Esse foi o intervalo que se deu entre as duas
eras de opressão, onde o povo finlandês teve certa estabilidade com a
redução das medidas de russificação.
Porém, findados os problemas internos russos e garantindo certo
controle interno, o czar volta ao programa de russificação dos territó-
rios dominados e em 1914 a Finlândia estava enfraquecida e não era
mais relevante do que uma província russa qualquer.
Com a chegada da I Guerra Mundial, embora a Finlândia não tivesse
sido atacada diretamente, a sua economia foi fortemente afetada, já que
era grande exportadora de madeira e teve que passar a produzir ferro
para a guerra. Sofreu com racionamento de comida em seu território,
como aconteceu em grande parte da Europa.
Um grande fator que intensificou o descontentamento finlandês
13 Enquanto isso, a perseguição russa sobre oficiais finlandeses e a imprensa continu-
ava ativa; além disso, o governo russo deu poderes ditatoriais ao Governador Geral Bo-
brikov, que gerou muita tensão interna, resultando no seu assassinato em 1904. Para
melhor esclarecimento, confira POLVINEN, Tuomo. Imperial Borderland: Bobrikov
and the Attempted Russification of Finland, 1898–1904. HUXLEY, Steven (trad.). North
Caroline: Duke University Press, 1995.
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com a Rússia foi o fato de que tropas russas ocuparam grande parte do
território da Finlândia, pois temiam uma invasão alemã através desse
território14
. Essa ocupação desagradou grandemente os finlandeses, até
que, em 1917, apesar das divergências internas da Finlândia, começou a
emergir um sentimento de unanimidade que dizia que a Finlândia deve-
ria obter sua independência da Rússia.
Foi então que em março de 1917 ocorre uma revolução na Rússia,
o regime czarista cai e dentro de poucas semanas essa revolução já era
sentida não só nos territórios finlandeses mas também na Europa toda.
E em dezembro desse mesmo ano, a Finlândia redige sua Declaração de
Independência aprovada pelo seu senado e é proclamada a independên-
cia da Finlândia, encerrando o segundo capítulo de sua história.
JEAN SIBELIUS
P
oucos compositores conseguem alcançar grande renome nacio-
nal e internacional quando vivos. Jean Sibelius, um grande com-
positor finlandês, não só alcançou todos esses privilégios como
também foi alguém que influenciou na História de seu país para
sempre.
Johan Julius Christian Sibelius nasceu em oito de dezembro de
1865 na cidade de Hameenlina no então Grão-Ducado da Finlândia, fi-
lho de Suecos com ascendência alemã15
. Mesmo quando criança, já de-
monstrava certa aptidão musical para piano e violino. Nos seus estudos
aprendeu também sobre as antigas lendas nórdicas que influenciariam
suas composições.
Decidindo-se pela música, foi estudar no Conservatório de Hel-
sinki, onde esteve em contanto com os bons professores da época. Seu
grande interesse em composições fez com que aprofundasse seus estu-
dos em Berlim e Viena.
Casado com Aino Jarnefelt em 1892 e já sendo conhecido como
“Jean” Sibelius graças ao seu poema sinfônico Kullervo, Sibelius já era
considerado o maior compositor da Finlândia. Continuou fazendo su-
cesso com suas composições, em especial com a altamente nacionalista
Finlandia que clamava contra o domínio russo que ainda imperava no
território finlandês16
.
14 Esse pensamento tinha, de fato, embasamento na realidade, pois os finlandeses em
1914 já tinham certeza dos planos de russificação finlandesa orquestrados pelo Im-
pério Russo e viam nos alemães uma forma de obter independência. Foi tão verdadeiro
tal pensamento que, em 1915, cerca de dois mil jovens finlandeses foram enviados
para a Alemanha a fim de receber treinamento militar.
15 Esse é um fato interessante e paradoxal: é interessante, pois é graças a essa as-
cendência que Sibelius falava sueco mais fluente e frequentemente que finlandês; e
paradoxal porque Sibelius tinha todos os requisitos para se tornar e consolidar um
membro da aristocracia sueca na Finlândia, mas optou por assumir a defesa de sua
pátria.
16 Essa composição foi banida pelo império Russo, tal a influência que exercia sobre
os finlandeses, mas continuou a ser tocada sob o nome Impromptu.
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Sibelius sempre teve problemas com bebidas e em 1904, por insis-
tência de sua mulher, mudou-se para o interior do país, estabelecendo-
se na sua nova casa chamada “Villa Ainola”. Nesse lugar, encontrou tran-
quilidade e contato direto com a beleza da natureza, o que ajudou nas
suas composições.
A partir de 1914, com sua fama consolidada como um nacionalista,
Sibelius começa a voltar sua música para a música em si e não somente
temas nacionalistas. Em 1917, com a independência da Finlândia do po-
derio russo, Sibelius consolida totalmente sua carreira de compositor,
contando inclusive com uma pensão vitalícia do governo finlandês, que
garantiu a ele sua “Villa Ainola”17
.
É bem verdade que Sibelius foi consagrado como um compositor
nacionalista e, de fato, suas composições influenciaram no sentimento
nacionalista finlandês não somente em seu período pré-independência,
mas também nos anos que se seguiram como afirmação da identidade
finlandesa perante o cenário internacional. Porém, é válido destacar que
o próprio Sibelius, por muitas vezes, viu-se sufocado por essa rotula-
ção, pois o mundo fechava os olhos e ouvidos para outras belíssimas
composições suas que não tinham aquele ardor nacionalista, mas eram
também cheias da essência musical.
Sibelius não teria como escapar às maravilhosas paisagens finlan-
desas e da paixão que seria gerada por esse ambiente. Ele mesmo des-
creve-se como um sonhador e poeta da natureza, revelando seu grande
amor pelo seu país. E esse sentimento é tão forte que ele buscava impri-
mir seu sentimento em tudo que compunha.
MÚSICA E POLÍTICA
M
arcel Merle define cultura como “um conjunto de sistemas
de valores e representações que determinam o comporta-
mento dos membros de um grupo permitindo que esse gru-
po afirme sua identidade” (1985, apud RIBEIRO, 2011, p.
30). A música é parte integrante da cultura, sendo assim esta também
está permeando diversos aspectos da sociedade, podendo atuar em vá-
rios campos, como a política. Ao analisar-se a influência da música no
meio político, é possível concordar com o que diz o etnomusicólogo Al-
berto Ikeda no que se refere à atuação da música na sociedade:
17 Mais tarde, no aniversário de Sibelius em 1945, o governo finlandês mais uma vez
mostra seu apreço pelo compositor, que tem sua pensão (já generosa) triplicada.
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[...] De um lado, como elemento de distinção e identidade classista,
servindo aos processos de dominação ideológica, de outro, como
contestação destas e/ou como motivação para ações que visam a
transformação da sociedade e também como forma de identidade
e resistência, ou, ainda, apenas para o desvelamento da realidade.
(IKEDA, 2001, p. 5)
Ikeda não é o único a tratar sobre o tema da relação entre música
e política, há muitos estudos que ligam os campos. Estevão de Rezende
Martins, em seu livro “Relações Internacionais: Cultura e Poder” (2004),
chama atenção para o fato de que a cultura é um fator dinâmico de ação,
transformação e formação. Para ele, são as ideias que movem o processo
cultural; mas, ora, há muitos tipos de ideias, logo tal processo não pode
ocorrer homogeneamente. Ele categoriza as ideias em três tipos: cosmo-
visões, convicções normativas e crença nas relações causa-efeito, tendo
a primeira um caráter estrutural, a segunda uma característica conjun-
tural e a terceira tendo abordagem mais imediata.
Dentre estas, o que nos interessa são as cosmovisões, pois, de
acordo com Rezende Martins, elas estão nos símbolos de uma cultura,
moldando concepções de mundo, ideias, etc. Elas estão presentes em
substratos mais profundos da sociedade, influenciando-a em nível es-
trutural; junto com as outras duas, as cosmovisões formam a força cul-
tural das ideias, que passam a ser fator decisivo da ação concreta, ou
seja, são as ideias, formando uma cultura, que irão consolidar e difundir
as práticas. Não há como negar que a cultura permeia todos os aspectos
de uma sociedade, tanto que a diplomacia cultural já passa a ser parte
integrante da prática diplomática como um todo.
Assim, perde-se o mito de que a música tem unicamente função es-
tética no sentido de expressão do pensamento humano, mostrando que
tal arte é – e de certa forma sempre foi – um instrumento político nas
mãos tanto dos mais fortes quanto dos mais fracos. Sendo assim, é possí-
vel afirmar que a música sempre esteve presente nos movimentos polí-
ticos porquanto estava influenciando a sociedade enquanto ferramenta
de ideologia de massas, fortalecendo movimentos através do mundo.
Muitos, se não todos, os grandes compositores são exemplos disso,
pode-se citar os exemplos de Tchaikovsky e sua 1812, onde ele retrata
a batalha de Waterloo e a vitória sobre Napoleão; Beethoven e sua Sin-
fonia n° 3: Eroica, uma alusão ao poderio napoleônico, e tantos outros
como Dvoràk e Rimsky-Korsakov.
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FINLÂNDIA E O NACIONALISMO ATRAVÉS DA
MÚSICA DE SIBELIUS
F
inlândia é o nome de uma das composições mais famosas de
Jean Sibelius. Sua fama decorre não somente da beleza que ema-
na quando é ouvida, mas também das consequências que trouxe
ao mundo e ao povo finlandês quando foi escrita e executada.
Mas não é somente através dessa música que se pode ver o nacionalismo
de Sibelius.
A escritora e musicóloga finlandesa Anni Heinno externou que: “As
origens da legitimidade especial de Sibelius podem ser traçadas para a
estreia da sua Sinfonia Kullervo em 1892.18
” (HEINNO, 2007, p.1) Nela,
Sibelius faz grande uso do idioma finlandês, baseando-se na própria tra-
dição cultural finlandesa19
e criando um espírito heroico finlandês numa
época de controle opressivo da Rússia.
Embora haja tão grande expressão do nacionalismo de Sibelius em
muitas de suas músicas, é na sua peça Finlândia que se encontra a maior
repercussão do nacionalismo por ele proposto. Depois da sua sinfonia
Kullervo, Sibelius foi convidado a escrever mais composições de cunho
nacionalista, o que ele fez20
. O “selo” de “nacionalista” ficou tão bem im-
presso em Sibelius que:
[...] os concertos que ele organizava para ganhar dinheiro trans-
formavam-se em celebrações patrióticas. Obedientemente, ele ga-
rantiu que seus programas incluíssem peças e canções patrióticas,
mesmo se estas tendessem ao roubo da atenção da atração princi-
pal, suas sinfonias.21
(HEINNO, 2007, p. 1).
18 Texto original: “The origins of Sibelius’s special standing in Finland can be traced to
the premiere of his Kullervo Synphony in 1892” (tradução livre).
19 Na época de Sibelius, a ligação entre texto e música era muito profunda, podendo
um elemento influenciar o outro na composição de uma peça. A sinfonia Kullervo de
Sibelius foi baseada na epopéia nacional da Finlândia denominado Kalevala. O Kalevala
é um conjunto de poesias populares antigas dos povos originais da Finlândia, reuni-
das através de diversas peregrinações e compilações de canções ouvidas na região da
Carélia – uma espécie de “arca do tesouro da poesia, o museu idílico da antiguidade”
(METTOMÄKI: 2008). Com o subjugo da língua finlandesa no século XIX, Sibelius uti-
liza palavras finlandesas para exaltar o idioma e fortalecer a cultura da Finlândia em
tempos de opressão.
20 Embora alguns autores digam que Sibelius não foi totalmente um nacionalista ou
um cidadão politicamente ativo, não se pode negar que muitos dos seus trabalhos (em
especial os primeiros) eram um protesto contra o domínio russo.
21 Texto original: “The concerts that he organized to earn money turned into patriotic
celebrations. Dutifully he made sure that the programs included patriotic songs, even
if these tended to steal the attention from the main fare, his symphonies.” (tradução
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Ora, não há como ver mais claramente que a música de Sibelius foi
um fator essencial na influência do sentimento nacionalista finlandês.
Mais uma vez cita-se Anni Heino quando ela diz que: “Depois da inde-
pendência da Finlândia em 1917, a significância política da música de
Sibelius mudou. Ele se tornou um embaixador cultural não oficial por
seu país. Uma correnteza sem fim de cartas de fãs e convidados começou
a encontrar seu caminho para Ainola.22
” (IDEM, 2007, p. 1)
Sibelius, através de sua música, é então encarado não somente
como um jovem entusiasta contra o domínio russo, mas também como
um heroi nacional. Bem disse o famoso produtor discográfico de música
clássica Walter Legge: “Não é sempre que uma nação ou governo trata
seus grandes homens com a consideração que a Finlândia mostra para
Sibelius.23
” (LEGGE, 1935, p. 218).
É mui clara então a relação que se dá entre o espírito da música
e o espírito do nacionalismo finlandês. Ao ouvir os primeiros acordes
desafiantes em Finlândia, o cidadão que era oprimido pelo império Rus-
so logo sentia um calor acender dentro de si, e conforme a música se
desenvolve, ele se vê envolvido naquela batalha e naquele ardor que a
música clama; quando ouve a belíssima melodia tocada pelas flautas,
logo se lembra da neve, dos pinheiros, do céu finlandês e sente como
ama sua casa, sua pátria, seu lar; é então que retomada a batalha, ele se
vê confiante e seguro para seguir o caminho da vitória.24
FINLÂNDIA E A BALANÇA DE PODER DE SEU
TEMPO
L
ogo após a independência da Finlândia, seguiu-se uma guerra
civil por causa também da Revolução Russa e das influências
que tinha o comunismo naquele meio e naquela época.
Torna-se muito importante destacar, que, assim que foi in-
serida no meio internacional, a Finlândia já desenvolveu relações diplo-
máticas com a Alemanha25
. Foi com a ajuda alemã que a Finlândia pôde
aproveitar o momento de colapso que ocorria na Rússia e declarar sua
livre)
22 Texto original: “After Finnish independence in 1917, the political significance of
Sibelius’s music changed. He became an unofficial cultural ambassador for his country.
An endless stream of guests and fan letters started to find its way to Ainola.” (tradução
livre)
23 Texto original: “It is not often that a nation or government treats its great men with
the consideration that Finland shows to Sibelius” (tradução livre)
24 Aqui, recomenda-se fortemente que o leitor ouça à peça Finlândia para entender
com mais clareza a relação que é feita nesse parágrafo.
25 Paradoxalmente, a Rússia foi uma das primeiras a reconhecer a independência da
Finlândia, abrindo antecedentes para que outras nações seguissem o exemplo.
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independência. Como disse o professor Harding Ganz: “A nova Finlândia
amarrou-se a Alemanha sem constrangimento26
.” (GANZ, 1978, p. 88).
Ganz vai ainda um pouco mais além quando diz que:
Enquanto historiadores finlandeses estão compreensivelmente
relutantes em admitir o impacto da intervenção alemã, historia-
dores comunistas vêem aquela intervenção como decisiva: ‘Com
esse passo, a contra-revolução alcançou uma esmagadora superio-
ridade, a qual tornou possível quebrar o exército revolucionário em
apenas poucas semanas.27
’” (IDEM, 1978, p. 87)
É importante ainda lembrar qual foi o período histórico no qual
a Finlândia alcançou sua independência: Primeira Guerra Mundial. Em
meio ao caos que reinava na Europa, surge um novo país que já conta,
inclusive, com a ajuda da Alemanha – um país que era um dos maiores
atores da Guerra e, consequentemente, um inimigo da Rússia, o país que
controlou o território finlandês por séculos e tentou impor sobre eles o
seu regime imperialista. Portanto, pelo simples fato de sua independên-
cia se dar em meio a um cenário tão conturbado e por causa das ligações
que fez logo após seu nascimento, a Finlândia torna-se um fator impor-
tante no novo cenário internacional que se configura.28
CONCLUSÃO
J
ean Sibelius disse que: “Se nós entendêssemos o mundo, nós per-
ceberíamos que há uma lógica de harmonia fundamentando suas
múltiplas dissonâncias aparentes.”29
(LEE, 2006, p. 197) Após uma
sucinta contextualização histórica sobre a Finlândia e o compositor
Jean Sibelius e uma análise de sua música, em especial da peça Finlân-
26 Texto original: “The new Finland unabashedly tied itself to Germany.” (tradução
livre)
27 Texto original: “While Finnish historians are understandably reluctant to admit
the impact of the German intervention, Communist historians see that intervention as
decisive: ‘With this step, the counter-revolution achieved an overwhelming superior-
ity, which made it possible to shatter the revolutionary army within a few weeks.’”
(tradução livre)
28 Mais tarde, a Finlândia continuaria a um país chave no cenário em que se encontra-
va; o exemplo mais claro disso é observado na Guerra Soviético-Finlandesa ou “Guerra
de Inverno” como foi popularizada (Winter War), onde a Finlândia prova mais uma vez
sua capacidade de lutar e resistir ao domínio russo. Para mais detalhes, vide ENGLE,
Eloise; PAANANEN, Eloise; PAANANEN, Lauri. The Winter War: the Soviet attack on
Finland, 1939-1940. Pennsylvania: Stackpole Books, 1992.
29 Texto original: “If we understood the world, we would realize that there is a logic of
harmony underlying its manifold apparent dissonances” (tradução livre).
Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 |
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dia, foi possível compreender como a música foi capaz de influenciar
uma sociedade, impulsionada pelo movimento nacionalista, a ponto de
ser instrumento no processo de reestruturação desta mesma sociedade,
como aconteceu através da música de Sibelius.
Sibelius afirma que “Arte é a assinatura das civilizações”, ora, a in-
dependência da Finlândia é fruto do nacionalismo que aflorou no co-
ração e nas mentes dos finlandeses, que se tornaram dispostos a lutar
pelo que é seu, livrando-se das garras dos dominadores, e a música foi
a principal fonte desse sentimento. Jean Sibelius, um compositor que
podia ter escolhido manter-se alheio aos movimentos políticos que o
circundava, optou por não somente defender a sua terra, a sua pátria,
mas também levar seus compatriotas a fazer o mesmo através de sua
música, tornando-se, merecidamente, um herói nacional como poucos
foram na história.
Em 1924, uma pergunta surgia: “O que é ‘Finlândia’?”. “Até 1939
muito mais pessoas estavam indagando a mesma pergunta. Repentina-
mente, a Finlândia era um peão muito importante na política mundial.”30
(ENGLE et al: 1992, p. xi). E, de fato, o era. Com o primeiro impulso da
música, aquela pequena província alcançou sua independência e ganhou
proeminência no cenário internacional.
Assim, conclui-se que a música, parte essencial de uma sociedade
– já que é parte da cultura que compõe tal sociedade –, no processo de
independência da Finlândia foi de grande importante na consolidação e
até mesmo formação de tal processo, pois o país, logo após sua indepen-
dência, já se insere como um Estado de grande importância, reconfigu-
rando a balança de poder de sua época.
30 Texto original: “By 1939, a great many more people were asking the same question.
Suddenly Finland was a very important pawn in worlds politics.” (tradução livre)
Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 |
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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nals: The 	 Journal of Modern History, Vol. 13, No. 4 (Dec., 1941), pp.
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fault.aspx?contentid=160058&nodeid=41806&culture=en-US.> Aces-
sado em 13 de Agosto de 2010.

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  • 1. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 43 AFINLÂNDIADEJEANSIBELIUS:AINFLUÊNCIA DA MÚSICA NO NACIONALISMO FINLANDÊS Gabriel de Souza Alencar7 RESUMO Este artigo irá discorrer sobre como a influência de um elemento cultural, a música, pode afetar a política do meio no qual está inserida. E, para tanto, será utilizado o caso único da Finlândia no seu processo de independência, que teve seu nacionalismo influenciado pela música de seu compositor máximo, Jean Sibelius, através de uma de suas maiores obras, a peça Finlândia, que teve importância fundamental na formação do nacionalismo deste país. Palavras-chave: Nacionalismo; música; Jean Sibelius; Finlândia; in- dependência. ABSTRACT This article will address how the influence of a cultural element, the music, can affect the politics of the environment in which it is in- serted. And, to do so, it will be utilized the unique case of Finland in its process of independence, which had its nationalism influenced by the music of its utmost composer, Jean Sibelius, by one of his major works, the piece Finland, which had fundamental importance on the formation of Finnish nationalism. Keywords: Nationalism; music; Sibelius; Finland; independence. 7 ������������������������������������������������������������������������������ Graduado com Láurea Acadêmica no curso de Relações Internacionais da Universi- dade Federal de Roraima. Acadêmico do curso de Música da Universidade Federal de Roraima.
  • 2. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 44 INTRODUÇÃO N a segunda metade do século XIX, o mundo passava por trans- formações nunca antes vistas: o poderio britânico se expan- dia sobremaneira sobre o continente europeu, instaurando o liberalismo econômico, que mudaria para sempre o modo das relações internacionais do continente; o sistema internacional passava por uma mudança no equilíbrio de poder com o domínio europeu sobre os outros continentes (com exceção da América da Norte), como a parti- lha da África e as influências na América Latina. A partir desse momento histórico, o mundo seria (re)construído pelos moldes europeus e os que se recusavam a fazê-lo eram rechaçados. Limitar-se-á no presente texto à abordagem de acontecimentos re- ferentes a Finlândia. Pretende-se mostrar como se deu o processo de independência desse país que se encontrava sob domínio russo e, prin- cipalmente, como a música influenciou nesse processo que foi (como aconteceu em tantos outros países) intensificado pelo nacionalismo. Es- tará em foco o compositor finlandês Jean Sibelius, que através de sua música, e em especial a peça Finlândia, foi responsável pelo alavanca- mento do movimento quando este estava sob repressão do Império Rus- so. É importante ainda destacar que a independência da Finlândia teve importância no contexto geopolítico de sua época, pois se tornou mais um ator no cenário internacional e, logo, influenciou na balança de po- der da região. FINLÂNDIA U ma pequena interação com a história finlandesa se faz neces- sária para que seja possível entender com mais clareza a razão da continuidade dos movimentos que se seguiram. A História da Finlândia pode ser dividida em três capítu- los: o período Sueco, que vai até 1809; o período de dominação russa, entre 1809 e 1917 e o período que vai desde sua emancipação do Im- pério Russo até os dias atuais. Aqui serão focados somente os dois pri- meiros capítulos dessa história dando atenção especial ao segundo, pois nele é que se desenvolveu o movimento nacionalista finlandês contra a Rússia. A Finlândia, através da História, foi um território disputado e con- quistado por grandes reinos, em especial pela Rússia e Suécia, nunca
  • 3. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 45 tendo uma autonomia própria que a caracterizasse e identificasse. Entre essas constantes disputas, em 1323 foi assinado um tratado de paz entre o reino de Novgorod (Rússia) e Suécia, onde a Finlândia foi divida entre as duas para findar as guerras, cabendo à Rússia a parte leste e à Suécia o oeste. Sob o poderio sueco então, é importante notar que não se estabeleceu o regime feudalista nessa região, pois no sistema sueco tal forma de organi- zação não existia; sendo assim, a sociedade fino-sueca sempre se baseou no trabalho livre. A ascensão da cultura finlandesa começaria somente a partir do século XVI com o advento da Reforma Protestante, que logo chegou à Suécia, enfraquecendo a Igreja Católica. Mais tarde, foi lançado o Novo Tes- tamento em finlandês, o que foi muito importante para a identidade finlan- desa visto que os ocupantes dos altos cargos do governo do território eram suecos, algo que favorecia o poderio opressor da língua sueca. A conquista russa sobre a parte sueca da Finlândia se deu através da Guerra Finlandesa em 1809, pela qual a Rússia conquista os territórios e cria, a partir de então, o Grão-Ducado da Finlândia que é incorporado ao Império Russo, inaugurando o segundo capítulo da história finlandesa. Sob o título de Grão-Ducado, a Finlândia adquiriu relativa autonomia graças ao prestígio que tinham os nobres suecos e pela instituição do Sena- do finlandês como entidade parlamentar, contando inclusive com um Mi- nistro Secretário de Estado que reportava assuntos finlandeses direto ao Imperador Alexandre I; além disso, a capital e universidade foram movidas para Helsinki em 1812 e 1828 respectivamente. Porém, com o advento da intensificação do nacionalismo russo, as políticas voltadas para os territórios anexados passaram a se tornar mais intensas, como bem esclareceu o professor de história russo Marc Raeff: “[...] o novo território deveria se tornar parte e parcela do território Russo e aquela nova população deveria viver de acordo com o mesmo padrão social e econômico que o povo russo.”8 (RAEFF, 1971, p. 30) Conforme a intolerância por minorias não-russas crescia, também aumentavam as imposições políticas para suprimi-los. A primeira dessas imposições, que estabelece o começo da “Era de Russificação9 ” sobre a Fin- lândia, foi o Decreto do Idioma de 1863 emitido por Alexandre II, que im- punha a língua sueca ao invés da finlandesa para trazer essas minorias para a esfera de influência russa10 , garantindo maior controle político. Inclusive, 8 Texto original: “[...] the new territory had to become part and parcel of the Russian land and that the new populations must live according to the same social pattern as did the Russian people.” (tradução livre) 9 A Russificação, segundo Raeff, era um processo lento e gradual para imposição política e econômica por parte do governo central russo sobre os territórios dominados; promo- viam a uniformização das instituições internas e injunção de sua cultura em culturas mais “fracas”. 10 Embora se instale a língua sueca como língua oficial, ainda considero esse ato como parte da Russificação porque, ao agradar os nobres suecos, o governo russo conquistava controle da população que era, de fato, finlandesa.
  • 4. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 46 para os russos mais conservadores, o Grão-Ducado da Finlândia era uma anomalia do Império que deveria ser unificada por quatro razões prin- cipais. Primeiramente, o separatismo finlandês começava a tomar forma com o crescimento do sentimento nacionalista, que possibilitaria uma insurreição dos diversos territórios controlados pela Rússia. Em segun- do lugar, a partir da década de 1880, a Finlândia começou a competir co- mercialmente com a Rússia. Outro problema se dava por razões geopolí- ticas da soberania russa, pois além de criar possíveis antecedentes para rebeliões, a Finlândia nutria relações com a Alemanha, um tradicional oponente político-militar da Rússia11 . Uma última razão seria a capaci- dade da Rússia de incorporar jovens finlandeses às frentes de combate russas, uma vantagem que não se poderia perder, pois ajudava a garan- tir a influência russa no meio internacional. É possível ainda subdividir o período da Russificação em duas “eras de opressão” (ZETTERBERG, 2001, p.1), onde a primeira se daria entre 1899 e 1905, iniciando-se com os Manifestos e terminando com a Primeira Revolução Russa de 190512 , que ao final concedeu certo alívio às imposições sobre a Finlândia; e a segunda entre 1909 e 1917, que começa com o retomar das políticas de opressão russas e termina com a Revolução Russa de 1917, que, ao final, concede a independência da Finlândia. A primeira medida tomada pelo governo russo para “russificar” a Finlândia, foi o Manifesto de Fevereiro de 1899, que dava ao czar pode- res para governar a Finlândia como bem o aprouvesse sem consultar o Senado ou a Dieta Finlandesa; além de tornar a Finlândia uma mera pro- víncia. Em resposta, os finlandeses fizeram um grande abaixo-assinado, com mais de 500.000 assinaturas. Tal abaixo-assinado foi ignorado pelo governo russo que, logo em seguida passou o Manifesto do Idioma de 1900, tornando o idioma russo o idioma administrativo obrigatório em escritórios governamentais. Ambas as medidas resultaram num sentimento de revolta por par- te do povo finlandês, que se encontrava dividido sobre como deveriam 11 Mais tarde, esse fator provaria ser verdadeiro, pois em 1917, os russos precisaram pôr tropas na Finlândia para impedir a entrada dos alemães e a Finlândia foi co-belig- erante com a Alemanha quando esta invadiu a Rússia em 1941. 12 Para maior elucidação vide VIANA, Nildo. A Revolução Russa de 1905 e os Con- selhos Operários. Revista Digital “Em Debate”. MENDONÇA, José Carlos (editor).Flori- anópolis: 2010, 2º semestre, p 42-58. Disponível em <http://periodicos.incubadora. ufsc.br/index.php/emdebate/article/view/430/487>. Acessado 27 de Outubro de 2010.
  • 5. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 47 reagir, pois havia um grupo que queria resistir e outros que queriam cumprir com os objetivos da Russificação. Porém houve uma terceira medida por parte do governo russo que resultou na união do movimen- to de resistência finlandês em um movimento de massa: foi a Lei do Re- crutamento promulgada em 1901, que extinguia o Exército da Finlândia, incorporando-o ao russo. Tal lei resultou numa série de greves e protes- tos até que foi suspendida em 190413 . Quando então se dá a Primeira Revolução Russa de 1905, com suas greves gerais e protestos (que logo encontram campo fértil na Finlân- dia), o governo russo se vê na necessidade de rapidamente conter essa possível revolução, gerando o Manifesto de Outubro de 1905, onde ins- titui pela primeira vez uma monarquia constitucional, que não vigorou, pois a Constituição tinha pouca capacidade jurídica para limitar as ações do czar, sendo que este último detinha ainda um grande poder de veto. É então que em 1906 o czar propõe que a antiquada Dieta Finlande- sa seja substituída por um parlamento unicameral; tal proposta foi bem recebida e aceita pelos finlandeses que logo instauraram a Eduskunta onde reinava um espírito de solidariedade nacional contando com su- frágio universal inclusive. Esse foi o intervalo que se deu entre as duas eras de opressão, onde o povo finlandês teve certa estabilidade com a redução das medidas de russificação. Porém, findados os problemas internos russos e garantindo certo controle interno, o czar volta ao programa de russificação dos territó- rios dominados e em 1914 a Finlândia estava enfraquecida e não era mais relevante do que uma província russa qualquer. Com a chegada da I Guerra Mundial, embora a Finlândia não tivesse sido atacada diretamente, a sua economia foi fortemente afetada, já que era grande exportadora de madeira e teve que passar a produzir ferro para a guerra. Sofreu com racionamento de comida em seu território, como aconteceu em grande parte da Europa. Um grande fator que intensificou o descontentamento finlandês 13 Enquanto isso, a perseguição russa sobre oficiais finlandeses e a imprensa continu- ava ativa; além disso, o governo russo deu poderes ditatoriais ao Governador Geral Bo- brikov, que gerou muita tensão interna, resultando no seu assassinato em 1904. Para melhor esclarecimento, confira POLVINEN, Tuomo. Imperial Borderland: Bobrikov and the Attempted Russification of Finland, 1898–1904. HUXLEY, Steven (trad.). North Caroline: Duke University Press, 1995.
  • 6. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 48 com a Rússia foi o fato de que tropas russas ocuparam grande parte do território da Finlândia, pois temiam uma invasão alemã através desse território14 . Essa ocupação desagradou grandemente os finlandeses, até que, em 1917, apesar das divergências internas da Finlândia, começou a emergir um sentimento de unanimidade que dizia que a Finlândia deve- ria obter sua independência da Rússia. Foi então que em março de 1917 ocorre uma revolução na Rússia, o regime czarista cai e dentro de poucas semanas essa revolução já era sentida não só nos territórios finlandeses mas também na Europa toda. E em dezembro desse mesmo ano, a Finlândia redige sua Declaração de Independência aprovada pelo seu senado e é proclamada a independên- cia da Finlândia, encerrando o segundo capítulo de sua história. JEAN SIBELIUS P oucos compositores conseguem alcançar grande renome nacio- nal e internacional quando vivos. Jean Sibelius, um grande com- positor finlandês, não só alcançou todos esses privilégios como também foi alguém que influenciou na História de seu país para sempre. Johan Julius Christian Sibelius nasceu em oito de dezembro de 1865 na cidade de Hameenlina no então Grão-Ducado da Finlândia, fi- lho de Suecos com ascendência alemã15 . Mesmo quando criança, já de- monstrava certa aptidão musical para piano e violino. Nos seus estudos aprendeu também sobre as antigas lendas nórdicas que influenciariam suas composições. Decidindo-se pela música, foi estudar no Conservatório de Hel- sinki, onde esteve em contanto com os bons professores da época. Seu grande interesse em composições fez com que aprofundasse seus estu- dos em Berlim e Viena. Casado com Aino Jarnefelt em 1892 e já sendo conhecido como “Jean” Sibelius graças ao seu poema sinfônico Kullervo, Sibelius já era considerado o maior compositor da Finlândia. Continuou fazendo su- cesso com suas composições, em especial com a altamente nacionalista Finlandia que clamava contra o domínio russo que ainda imperava no território finlandês16 . 14 Esse pensamento tinha, de fato, embasamento na realidade, pois os finlandeses em 1914 já tinham certeza dos planos de russificação finlandesa orquestrados pelo Im- pério Russo e viam nos alemães uma forma de obter independência. Foi tão verdadeiro tal pensamento que, em 1915, cerca de dois mil jovens finlandeses foram enviados para a Alemanha a fim de receber treinamento militar. 15 Esse é um fato interessante e paradoxal: é interessante, pois é graças a essa as- cendência que Sibelius falava sueco mais fluente e frequentemente que finlandês; e paradoxal porque Sibelius tinha todos os requisitos para se tornar e consolidar um membro da aristocracia sueca na Finlândia, mas optou por assumir a defesa de sua pátria. 16 Essa composição foi banida pelo império Russo, tal a influência que exercia sobre os finlandeses, mas continuou a ser tocada sob o nome Impromptu.
  • 7. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 49 Sibelius sempre teve problemas com bebidas e em 1904, por insis- tência de sua mulher, mudou-se para o interior do país, estabelecendo- se na sua nova casa chamada “Villa Ainola”. Nesse lugar, encontrou tran- quilidade e contato direto com a beleza da natureza, o que ajudou nas suas composições. A partir de 1914, com sua fama consolidada como um nacionalista, Sibelius começa a voltar sua música para a música em si e não somente temas nacionalistas. Em 1917, com a independência da Finlândia do po- derio russo, Sibelius consolida totalmente sua carreira de compositor, contando inclusive com uma pensão vitalícia do governo finlandês, que garantiu a ele sua “Villa Ainola”17 . É bem verdade que Sibelius foi consagrado como um compositor nacionalista e, de fato, suas composições influenciaram no sentimento nacionalista finlandês não somente em seu período pré-independência, mas também nos anos que se seguiram como afirmação da identidade finlandesa perante o cenário internacional. Porém, é válido destacar que o próprio Sibelius, por muitas vezes, viu-se sufocado por essa rotula- ção, pois o mundo fechava os olhos e ouvidos para outras belíssimas composições suas que não tinham aquele ardor nacionalista, mas eram também cheias da essência musical. Sibelius não teria como escapar às maravilhosas paisagens finlan- desas e da paixão que seria gerada por esse ambiente. Ele mesmo des- creve-se como um sonhador e poeta da natureza, revelando seu grande amor pelo seu país. E esse sentimento é tão forte que ele buscava impri- mir seu sentimento em tudo que compunha. MÚSICA E POLÍTICA M arcel Merle define cultura como “um conjunto de sistemas de valores e representações que determinam o comporta- mento dos membros de um grupo permitindo que esse gru- po afirme sua identidade” (1985, apud RIBEIRO, 2011, p. 30). A música é parte integrante da cultura, sendo assim esta também está permeando diversos aspectos da sociedade, podendo atuar em vá- rios campos, como a política. Ao analisar-se a influência da música no meio político, é possível concordar com o que diz o etnomusicólogo Al- berto Ikeda no que se refere à atuação da música na sociedade: 17 Mais tarde, no aniversário de Sibelius em 1945, o governo finlandês mais uma vez mostra seu apreço pelo compositor, que tem sua pensão (já generosa) triplicada.
  • 8. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 50 [...] De um lado, como elemento de distinção e identidade classista, servindo aos processos de dominação ideológica, de outro, como contestação destas e/ou como motivação para ações que visam a transformação da sociedade e também como forma de identidade e resistência, ou, ainda, apenas para o desvelamento da realidade. (IKEDA, 2001, p. 5) Ikeda não é o único a tratar sobre o tema da relação entre música e política, há muitos estudos que ligam os campos. Estevão de Rezende Martins, em seu livro “Relações Internacionais: Cultura e Poder” (2004), chama atenção para o fato de que a cultura é um fator dinâmico de ação, transformação e formação. Para ele, são as ideias que movem o processo cultural; mas, ora, há muitos tipos de ideias, logo tal processo não pode ocorrer homogeneamente. Ele categoriza as ideias em três tipos: cosmo- visões, convicções normativas e crença nas relações causa-efeito, tendo a primeira um caráter estrutural, a segunda uma característica conjun- tural e a terceira tendo abordagem mais imediata. Dentre estas, o que nos interessa são as cosmovisões, pois, de acordo com Rezende Martins, elas estão nos símbolos de uma cultura, moldando concepções de mundo, ideias, etc. Elas estão presentes em substratos mais profundos da sociedade, influenciando-a em nível es- trutural; junto com as outras duas, as cosmovisões formam a força cul- tural das ideias, que passam a ser fator decisivo da ação concreta, ou seja, são as ideias, formando uma cultura, que irão consolidar e difundir as práticas. Não há como negar que a cultura permeia todos os aspectos de uma sociedade, tanto que a diplomacia cultural já passa a ser parte integrante da prática diplomática como um todo. Assim, perde-se o mito de que a música tem unicamente função es- tética no sentido de expressão do pensamento humano, mostrando que tal arte é – e de certa forma sempre foi – um instrumento político nas mãos tanto dos mais fortes quanto dos mais fracos. Sendo assim, é possí- vel afirmar que a música sempre esteve presente nos movimentos polí- ticos porquanto estava influenciando a sociedade enquanto ferramenta de ideologia de massas, fortalecendo movimentos através do mundo. Muitos, se não todos, os grandes compositores são exemplos disso, pode-se citar os exemplos de Tchaikovsky e sua 1812, onde ele retrata a batalha de Waterloo e a vitória sobre Napoleão; Beethoven e sua Sin- fonia n° 3: Eroica, uma alusão ao poderio napoleônico, e tantos outros como Dvoràk e Rimsky-Korsakov.
  • 9. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 51 FINLÂNDIA E O NACIONALISMO ATRAVÉS DA MÚSICA DE SIBELIUS F inlândia é o nome de uma das composições mais famosas de Jean Sibelius. Sua fama decorre não somente da beleza que ema- na quando é ouvida, mas também das consequências que trouxe ao mundo e ao povo finlandês quando foi escrita e executada. Mas não é somente através dessa música que se pode ver o nacionalismo de Sibelius. A escritora e musicóloga finlandesa Anni Heinno externou que: “As origens da legitimidade especial de Sibelius podem ser traçadas para a estreia da sua Sinfonia Kullervo em 1892.18 ” (HEINNO, 2007, p.1) Nela, Sibelius faz grande uso do idioma finlandês, baseando-se na própria tra- dição cultural finlandesa19 e criando um espírito heroico finlandês numa época de controle opressivo da Rússia. Embora haja tão grande expressão do nacionalismo de Sibelius em muitas de suas músicas, é na sua peça Finlândia que se encontra a maior repercussão do nacionalismo por ele proposto. Depois da sua sinfonia Kullervo, Sibelius foi convidado a escrever mais composições de cunho nacionalista, o que ele fez20 . O “selo” de “nacionalista” ficou tão bem im- presso em Sibelius que: [...] os concertos que ele organizava para ganhar dinheiro trans- formavam-se em celebrações patrióticas. Obedientemente, ele ga- rantiu que seus programas incluíssem peças e canções patrióticas, mesmo se estas tendessem ao roubo da atenção da atração princi- pal, suas sinfonias.21 (HEINNO, 2007, p. 1). 18 Texto original: “The origins of Sibelius’s special standing in Finland can be traced to the premiere of his Kullervo Synphony in 1892” (tradução livre). 19 Na época de Sibelius, a ligação entre texto e música era muito profunda, podendo um elemento influenciar o outro na composição de uma peça. A sinfonia Kullervo de Sibelius foi baseada na epopéia nacional da Finlândia denominado Kalevala. O Kalevala é um conjunto de poesias populares antigas dos povos originais da Finlândia, reuni- das através de diversas peregrinações e compilações de canções ouvidas na região da Carélia – uma espécie de “arca do tesouro da poesia, o museu idílico da antiguidade” (METTOMÄKI: 2008). Com o subjugo da língua finlandesa no século XIX, Sibelius uti- liza palavras finlandesas para exaltar o idioma e fortalecer a cultura da Finlândia em tempos de opressão. 20 Embora alguns autores digam que Sibelius não foi totalmente um nacionalista ou um cidadão politicamente ativo, não se pode negar que muitos dos seus trabalhos (em especial os primeiros) eram um protesto contra o domínio russo. 21 Texto original: “The concerts that he organized to earn money turned into patriotic celebrations. Dutifully he made sure that the programs included patriotic songs, even if these tended to steal the attention from the main fare, his symphonies.” (tradução
  • 10. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 52 Ora, não há como ver mais claramente que a música de Sibelius foi um fator essencial na influência do sentimento nacionalista finlandês. Mais uma vez cita-se Anni Heino quando ela diz que: “Depois da inde- pendência da Finlândia em 1917, a significância política da música de Sibelius mudou. Ele se tornou um embaixador cultural não oficial por seu país. Uma correnteza sem fim de cartas de fãs e convidados começou a encontrar seu caminho para Ainola.22 ” (IDEM, 2007, p. 1) Sibelius, através de sua música, é então encarado não somente como um jovem entusiasta contra o domínio russo, mas também como um heroi nacional. Bem disse o famoso produtor discográfico de música clássica Walter Legge: “Não é sempre que uma nação ou governo trata seus grandes homens com a consideração que a Finlândia mostra para Sibelius.23 ” (LEGGE, 1935, p. 218). É mui clara então a relação que se dá entre o espírito da música e o espírito do nacionalismo finlandês. Ao ouvir os primeiros acordes desafiantes em Finlândia, o cidadão que era oprimido pelo império Rus- so logo sentia um calor acender dentro de si, e conforme a música se desenvolve, ele se vê envolvido naquela batalha e naquele ardor que a música clama; quando ouve a belíssima melodia tocada pelas flautas, logo se lembra da neve, dos pinheiros, do céu finlandês e sente como ama sua casa, sua pátria, seu lar; é então que retomada a batalha, ele se vê confiante e seguro para seguir o caminho da vitória.24 FINLÂNDIA E A BALANÇA DE PODER DE SEU TEMPO L ogo após a independência da Finlândia, seguiu-se uma guerra civil por causa também da Revolução Russa e das influências que tinha o comunismo naquele meio e naquela época. Torna-se muito importante destacar, que, assim que foi in- serida no meio internacional, a Finlândia já desenvolveu relações diplo- máticas com a Alemanha25 . Foi com a ajuda alemã que a Finlândia pôde aproveitar o momento de colapso que ocorria na Rússia e declarar sua livre) 22 Texto original: “After Finnish independence in 1917, the political significance of Sibelius’s music changed. He became an unofficial cultural ambassador for his country. An endless stream of guests and fan letters started to find its way to Ainola.” (tradução livre) 23 Texto original: “It is not often that a nation or government treats its great men with the consideration that Finland shows to Sibelius” (tradução livre) 24 Aqui, recomenda-se fortemente que o leitor ouça à peça Finlândia para entender com mais clareza a relação que é feita nesse parágrafo. 25 Paradoxalmente, a Rússia foi uma das primeiras a reconhecer a independência da Finlândia, abrindo antecedentes para que outras nações seguissem o exemplo.
  • 11. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 53 independência. Como disse o professor Harding Ganz: “A nova Finlândia amarrou-se a Alemanha sem constrangimento26 .” (GANZ, 1978, p. 88). Ganz vai ainda um pouco mais além quando diz que: Enquanto historiadores finlandeses estão compreensivelmente relutantes em admitir o impacto da intervenção alemã, historia- dores comunistas vêem aquela intervenção como decisiva: ‘Com esse passo, a contra-revolução alcançou uma esmagadora superio- ridade, a qual tornou possível quebrar o exército revolucionário em apenas poucas semanas.27 ’” (IDEM, 1978, p. 87) É importante ainda lembrar qual foi o período histórico no qual a Finlândia alcançou sua independência: Primeira Guerra Mundial. Em meio ao caos que reinava na Europa, surge um novo país que já conta, inclusive, com a ajuda da Alemanha – um país que era um dos maiores atores da Guerra e, consequentemente, um inimigo da Rússia, o país que controlou o território finlandês por séculos e tentou impor sobre eles o seu regime imperialista. Portanto, pelo simples fato de sua independên- cia se dar em meio a um cenário tão conturbado e por causa das ligações que fez logo após seu nascimento, a Finlândia torna-se um fator impor- tante no novo cenário internacional que se configura.28 CONCLUSÃO J ean Sibelius disse que: “Se nós entendêssemos o mundo, nós per- ceberíamos que há uma lógica de harmonia fundamentando suas múltiplas dissonâncias aparentes.”29 (LEE, 2006, p. 197) Após uma sucinta contextualização histórica sobre a Finlândia e o compositor Jean Sibelius e uma análise de sua música, em especial da peça Finlân- 26 Texto original: “The new Finland unabashedly tied itself to Germany.” (tradução livre) 27 Texto original: “While Finnish historians are understandably reluctant to admit the impact of the German intervention, Communist historians see that intervention as decisive: ‘With this step, the counter-revolution achieved an overwhelming superior- ity, which made it possible to shatter the revolutionary army within a few weeks.’” (tradução livre) 28 Mais tarde, a Finlândia continuaria a um país chave no cenário em que se encontra- va; o exemplo mais claro disso é observado na Guerra Soviético-Finlandesa ou “Guerra de Inverno” como foi popularizada (Winter War), onde a Finlândia prova mais uma vez sua capacidade de lutar e resistir ao domínio russo. Para mais detalhes, vide ENGLE, Eloise; PAANANEN, Eloise; PAANANEN, Lauri. The Winter War: the Soviet attack on Finland, 1939-1940. Pennsylvania: Stackpole Books, 1992. 29 Texto original: “If we understood the world, we would realize that there is a logic of harmony underlying its manifold apparent dissonances” (tradução livre).
  • 12. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 54 dia, foi possível compreender como a música foi capaz de influenciar uma sociedade, impulsionada pelo movimento nacionalista, a ponto de ser instrumento no processo de reestruturação desta mesma sociedade, como aconteceu através da música de Sibelius. Sibelius afirma que “Arte é a assinatura das civilizações”, ora, a in- dependência da Finlândia é fruto do nacionalismo que aflorou no co- ração e nas mentes dos finlandeses, que se tornaram dispostos a lutar pelo que é seu, livrando-se das garras dos dominadores, e a música foi a principal fonte desse sentimento. Jean Sibelius, um compositor que podia ter escolhido manter-se alheio aos movimentos políticos que o circundava, optou por não somente defender a sua terra, a sua pátria, mas também levar seus compatriotas a fazer o mesmo através de sua música, tornando-se, merecidamente, um herói nacional como poucos foram na história. Em 1924, uma pergunta surgia: “O que é ‘Finlândia’?”. “Até 1939 muito mais pessoas estavam indagando a mesma pergunta. Repentina- mente, a Finlândia era um peão muito importante na política mundial.”30 (ENGLE et al: 1992, p. xi). E, de fato, o era. Com o primeiro impulso da música, aquela pequena província alcançou sua independência e ganhou proeminência no cenário internacional. Assim, conclui-se que a música, parte essencial de uma sociedade – já que é parte da cultura que compõe tal sociedade –, no processo de independência da Finlândia foi de grande importante na consolidação e até mesmo formação de tal processo, pois o país, logo após sua indepen- dência, já se insere como um Estado de grande importância, reconfigu- rando a balança de poder de sua época. 30 Texto original: “By 1939, a great many more people were asking the same question. Suddenly Finland was a very important pawn in worlds politics.” (tradução livre)
  • 13. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHERNIAVSKY, David. Sibelius and Finland. The Musical Times, Vol. 91, n° 1283 (Jan., 1950), pp 15-17. Disponível em <http://www.jstor. org/stable/934053>. Acessado em 10 de Novembro de 2010. ENGLE, Eloise; PAANANEN, Eloise; PAANANEN, Lauri. The Winter War: the Soviet attack on Finland, 1939-1940. Mechanicsburg: Stackpo- le Books, 1992. Finland. The American Political Science Review, Vol. 4, n° 3 (Agosto 1910), pp. 350-364. American Political Science Association. Disponível em <http://www.jstor.org/stable/1945868>. Acessado em 28 de No- vembro de 2010. GANZ, A. Harding. The German Expedition to Finland, 1918. Mili- tary Affairs, Vol. 44, n° 2 (Abril 1980), pp. 84-91. Society for Military History: 1980. Disponível em < http://www.jstor.org/stable/1986604 >. Acessado em 28 de Novembro de 2010. HEINNO, Anni. The Real Jean Sibelius. The Australian Financial Re- view : September 14, 2007. Disponível em <www.anniheino.com/real- sibelius.htm>. Acessado em 15 de Setembro de 2010. IKEDA, Alberto T. MÚSICA, POLÍTICA E IDEOLOGIA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES. V Simpósio Latino-Americano de Musicologia. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2001. Disponível em <www. ia.unesp.br/@rquivo@/pdf/artigo-01-Ikeda.pdf.> Acessado em 01 de outubro de 2010. JOHNSON, Sir Knight Peter H. Jr. Jean Sibelius: Patriotic Son of Finland and Masonic Recluse. Knight Templar Magazine. March 2007. Disponível em <www.kinghtstemplar.org/articles/0307/Sibelius.pdf>. Acessado em 12 de Setembro de 2010. LEE, M. Owen. The Great Instrumental Works: Unlocking the Mas- ters Series, No. 7. Portland: Amadeus Press, 2006.
  • 14. Revista Eletrônica EXAMÃPAKU | ISSN 1983-9065 | V. 08 – N. 02 | /2015 | http://revista.ufrr.br/index.php/examapaku 56 LEGGE, Walter; SIBELIUS, Jean. Conversarions with Sibelius. The Musical Times, Vol. 76, n° 1105 (Mar., 1935), pp. 218-220. Disponível em <http://www.jstor.org/stable/919223>. Acessado em 10 de No- vembro de 2010. METTOMÄKI, Sirkka-Liisa; ASPLUND, Anneli. Kaleva – a epopeia nacional da Finlândia. Ministério de Relações Exteriores da Finlândia: 2008. Disponível em <http://www.finlandia.org.br/public/default. aspx?contentid=124149>. Acessado em 03 de Novembro de 2010. RAEFF, Marc. Patterns of Russian Imperial Policy Toward the Na- tionalities. IN: ALLWORTH Edward (editor), Soviet Nationality Proble- ms. New York and London: Columbia University Press, 1971. (pp. 23-42). Disponível em <http://www.neiu.edu/~circill/F673O.pdf>. Acessado em 25 de Setembro de 2010. RIBEIRO, Edgard Telles. Diplomacia cultural: seu papel na política externa brasileira. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2011. STRAKHOVSKY, Leonid I. Constitutional Aspects of the Imperial Russian Government’s Policy toward National Minorities. Chicago Jour- nals: The Journal of Modern History, Vol. 13, No. 4 (Dec., 1941), pp. 467-492. The University of Chicago Press: 1941. Disponível em <http://www.jstor.org/stable/1874244>. Acessado em 10 de Novem- bro de 2010. The Era of Russification. IN: SOLSTEN, Eric; MEDITZ, Sandra W. (editors). Finland: A Country Study.. Washington: Library of Con- gress, 1988. Disponível em <http://www.country-data.com/cgi-bin/ query/r-4575.html>. Acessado em 19 de Setembro de 2010. WEIBULL, Jörgen; HENRIKSSON, Markku Ilmari; LARSON, Susan Ruth. Finland. History.com. Disponível em <http://www.history.com/ topics/finland>. Acessado em 03 de Novembro de 2010. ZETTERBERG, Seppo. Main outlines of Finnish History. November 2001, uptaded May 2010. Disponível em <http://finland.fi/Public/de- fault.aspx?contentid=160058&nodeid=41806&culture=en-US.> Aces- sado em 13 de Agosto de 2010.