O documento discute o crescimento do mercado editorial digital no Brasil, com foco em três pontos: 1) A chegada de e-readers e tablets é um fator importante no desenvolvimento do mercado; 2) Os preços mais baixos de dispositivos digitais e livros eletrônicos podem estimular a mudança nos hábitos de leitura; 3) Embora o mercado esteja crescendo, ainda há desafios como falta de incentivos governamentais e preços altos de tecnologia.
1. TENDÊNCIA
EDITORIAL
TEXTO DE ANGELA MIGUEL
Leitura em tela de
cristal líquido
Em desenvolvimento
acelerado, o mercado
editorial digital no
Brasil torna-se uma
boa opção para
quem quer investir
em tecnologia,
evitar gastos com
impressão, alcançar
leitores em todos
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73
3. TENDÊNCIA
EDITORIAL
A chegada de e-readers e tablets é o
fator mais importante no desenvolvimento do mercado editorial digital, na
opinião de Elise Ambar, assim como o
acesso a serviços de internet de qualidade e preços atraentes, além do aperfeiçoamento de ferramentas mobile . Desde
janeiro de 2013, os lançamentos mensais
da editora acontecem simultaneamente
nas versões impressa e digital.
Dados da Gfk Custom Research Brasil
mostram que a comercialização de
tablets cresceu 267% entre janeiro e agosto de 2012. No final do ano passado, cerca de nove milhões de brasileiros já optavam pelas versões digitais. “Os preços
mais atrativos chamam a atenção e podem estimular uma mudança de comportamento de leitura pela novidade de
ler um livro ou revista por um meio inovador”, lembra a gerente de mídia da
Rae,MP Lígia Britto.
,
Há também alguns fatores que ajudam na lentidão de todo o processo, como a falta de incentivo governamental,
a pouca leitura no País e o preço da tecnologia para promover essa mudança,
da mão-de-obra aos preços dos gagdets.
Sabe-se que quase um terço do mercado
editorial é sustentado por compras governamentais. Ainda compram-se obras
em CD-Rom, mas a expectativa é que os
ministérios e secretarias passem a ver o
e-book com olhar mais atraente.
Ricardo Garrido é diretor de operações
do iba, primeira plataforma brasileira de
venda, distribuição e consumo de conteúdo digital, ligado à editora Abril. Em
pouco mais de um ano, a plataforma já
conta com mais de 500 mil usuários de livros, revistas e jornais digitais. Mas quem
pensa que foi um processo simples se
engana. O iba foi lançado em março de
2012 após um soft launch de sete meses
– e o projeto ainda não está completo. “O
grande desafio foi ter o foco em investir
sem concessões na experiência do usuário – e ter a paciência de aprender, testar, errar e melhorar o produto ao longo
do caminho. O iba abraçou esse caminho desde antes do seu lançamento: de74
“Lançamos
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agora já são
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crescimento
no mercado de
livros digitais
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ELISE AMBAR,
HARLEQUIN BRASIL
LIVROS VENDIDOS
PANORAMA
NACIONAL
DE LEITURA
469,5 milhões de livros em 2012, 7% a mais que em 2010
LIVROS EDITADOS
58.192 mil novos títulos em 2011, 6% a mais que em 2010
LIVROS DIGITAIS
5,2 mil novos títulos, correspondente a 9% do total
FATURAMENTO DO SETOR
R$ 4,8 bilhões em 2011, um aumento real de 0,8%
NÚMERO DE LEITORES
88,2 milhões, isto é, 50% da população
LEITORES DE E-BOOKS
Maioria é do sexo feminino
Entre 18 e 24 anos
Com ensino superior
FONTE: PESQUISAS “PRODUÇÃO E VENDAS DO SETOR EDITORIAL BRASILEIRO” (FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS
ECONÔMICAS (FIPE), CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO E SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS) E “RETRATOS
DA LEITURA NO BRASIL” (INSTITUTO PRÓ-LIVRO E IBOPE INTELIGÊNCIA).
4. senvolvemos uma plataforma que serviu
para ser colocada à prova e nos ajudar a
desenhar como seria o iba que o consumidor deseja”, conta Garrido.
COMO ENTRAR NESSE NICHO
Como em qualquer outro segmento,
o empreendedor deve entender como é
o mercado e quem é o seu cliente. A regra é se diferenciar. Encontre um público
ou um tema específico e desenvolva suas
ideias editoriais. Ricardo Garrido diz que
a entrada no digital deve ser feita sem
receio: deve-se pesquisar, encontrar os
melhores exemplos e entender como se
inserir no ecossistema. “No mundo digital, ninguém joga sozinho ou tem estratégias particulares: sempre se está inserido em um ecossistema. Deve-se, portanto, estudar bem e conhecer todo mundo
no mercado – e então lançar seu melhor
produto, de maneira rápida e pronta a
receber melhorias”, emenda.
Mas não pense que apostar em plataformas digitais é simples. Ou barato,
já que não há preocupação com impressão de milhares de cópias físicas. Os gastos comuns a uma editora convencional
são transferidos para outras áreas no digital. É preciso investir em mão-de-obra,
em tecnologia e em criatividade. “Além
da competência de profissionais qualificados, sempre aponto para a questão
de usabilidade. O mundo digital deve ser
interativo e prático. Usabilidade mirabolante não casa com o meio digital. Além
disso, o aplicativo deve ter uma função
ativa para o usuário. Criar um aplicativo onde você terá um grande número de
downloads, mas que não terá usabilidade frequente com o usuário, não é efetivo”, opina Lígia Britto.
A tecnologia não é apenas um “viabilizador” no mundo digital, é parte central
do produto. De acordo com Garrido, deve-se mergulhar de cabeça na tecnologia,
ainda que a mão-de-obra seja mais cara
e o contexto de negócio mais complexo.
Esperto o pequeno empresário que consegue identificar o que os grandes do ramo não fazem e buscar algo novo.
“Em um trabalho recente para o segmento de construção e decoração, para um determinado target, chegamos à
conclusão, por pesquisas, que as revistas impressas do segmento ainda tinham
mais apelo e geravam mais interesse do
que o digital. Isso não significa que leitores que estão decorando ou construindo
não acessam a internet, mas que, de repente, as revistas digitais poderiam oferecer mais do que simplesmente ver fotos de apartamentos. Deve-se criar um
diferencial para atrair esse público para
a leitura digital”, atesta Lígia.
Para o diretor de operações do iba, as
barreiras de entrada comuns do mundo
impresso, como a tiragem mínima em
uma gráfica, estão eliminadas no mundo
digital. Segundo ele, é muito mais barato lançar algo e testar antes de comprometer um time em torno de um projeto
maior. “Por outro lado, ainda está longe de chegarmos ao momento em que
as publicações digitais terão escala su-
“Os preços mais atrativos chamam a
atenção e podem estimular uma mudança de
comportamento de leitura pela novidade de
ler um livro ou revista por um meio inovador.”
LÍGIA BRITTO, RAE,MP
75
5. TENDÊNCIA
EDITORIAL
ficiente para rentabilizar o negócio.
O momento ainda é de investimento
e de descoberta – mas quem não estiver atuando agora estará perdendo
um tempo precioso de aprendizado,
além de deixar o campo aberto para
outros conquistarem os leitores”, opina Garrido.
O QUE ESPERAR
Nos Estados Unidos e na Europa está
surgindo uma corrida entre os empreendedores desse setor, com o objetivo
de reinventar cada passo da cadeia produtiva de livros ou revistas. Há empresas voltadas para a criação de e-books
repletos de efeitos cinematográficos,
outras que abrem obras antes do fim
para que leitores participem do processo de edição (buscando revelar best-sellers sem o apoio – e o investimento – de
grandes editoras). Há ainda as que investem no chamado crowdfunding publishing , que incentivam “vaquinhas”
para a publicação de títulos inéditos.
São empreendedores que veem na inovação uma nova maneira de se trabalhar no mercado editorial.
Ainda que de maneira tímida, o
Brasil começa a despontar na área
editorial digital. E é preciso que mentes criativas embarquem na busca por
reinvenções no setor. Para Ricardo
Garrido, se é possível dizer que em alguns países o mercado de livros digitais está maduro, no Brasil poderemos
ver um crescimento enorme nos próximos anos.
“Outros tipos de conteúdo, como as
revistas e os vídeos, crescerão muito a
partir do aumento da base de tablets e
do avanço da banda larga. Além disso, o consumo de conteúdo nos tablets
traz em sua natureza uma proximidade muito grande com a ideia da assinatura: pagamentos recorrentes para ter
acesso contínuo a algo que lhe interessa. Acredito que as revistas terão muito
sucesso nas assinaturas digitais”, finaliza o diretor de operações do iba.
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“No mundo
digital, ninguém
joga sozinho ou
tem estratégias
particulares:
sempre se está
inserido em um
ecossistema.”
RICARDO GARRIDO, IBA
O ROSTO DO FUTURO
Economista e apaixonado pela escrita, Marcelo Antinori já havia publicado
dois livros (“Os Enfrentantes” e “O Voo do Condor”) da maneira convencional até descobrir a autopublicação. Em 2013, já lançou dois e-books pela
Amazon, “O Labirinto de Mariana” e “O Húngaro que Partiu sem Avisar”.
Após ter dificuldades para distribuir seu segundo livro por meio de uma
editora do Panamá, arriscou-se no mundo digital - e não se arrepende.
1) COMO FUNCIONA O PROCESSO DA AUTOPUBLICAÇÃO?
É simples. Primeiro, o trabalho de pré–publicação que tradicionalmente era feito pelas
editoras: revisão de conteúdo, revisão ortográfica e gramatical, preparação da capa. O
passo seguinte é subir em uma das plataformas, uso a Amazon e a Kobo. Depois,
vem a promoção e isso é tão difícil quanto
com o livro impresso. É necessário o contato
com a imprensa, participação em eventos,
divulgação nos meios. Apenas, no caso da
autopublicação, isso é feito sem o apoio da
editora.
2) VIVENDO NOS ESTADOS UNIDOS, ACHA
QUE SE TORNAR ESCRITOR AÍ FOI MAIS
FÁCIL DO QUE NO BRASIL?
Tanto no mercado americano como no mercado editorial em espanhol existem muitos
serviços à disposição dos escritores, mas é
impressionante como este mercado está
se desenvolvendo rapidamente no Brasil. Já
existem vários lugares na internet onde um
autor pode encontrar revisores, capistas, diagramadores, enfim, tudo aquilo que necessita para
publicar e divulgar suas obras.
3) QUAL FOI O IMPACTO DA REVOLUÇÃO DO E-BOOK EM SUA VIDA?
Como leitor, o livro digital reduziu significativamente o peso da minha bagagem. Hoje não tenho mais
de carregar livros na mala, levo meu equipamento
de leitura no bolso da calça e compro o livro que
quero quando quero por um preço bem inferior.
Como escritor, ele reduziu dramaticamente o custo
da publicação e me permitiu atingir leitores em milhares de locais e países onde nem existem livrarias.
4) ACHA AINDA IMPORTANTE TER SEUS LIVROS IMPRESSOS?
Os dois mercados se complementam. Existe um
leitor que vive nas grandes cidades e está acostumado a comprar seus livros na mesma livraria
onde toma o seu café e, para este leitor, a edição
impressa ainda é importante. Por esta razão, estou por assinar um contrato com uma editora brasileira para edição de meus livros impressos.