O documento descreve as atividades realizadas durante a segunda edição do Colóquio de Literatura Popular em Irará, Bahia, entre os dias 24 e 26 de novembro de 2006. O evento contou com recitais de poesia, apresentações de repentistas, debates, oficinas de xilogravura e cordel, shows musicais e culinária nordestina. O Colóquio teve grande sucesso e participação do público em todas as suas atividades, que ocorreram em diversos locais da cidade.
Revista do Coloquio de Literatura Popular - Ed. 2006
1. op
de c de a qu
P ularl ê folheto or l dur nte coló io
Colóquio de Literatura Popular tem segunda edição
Re c i t a l d e p o e s i a ,
contador de causo,
repentistas, debate,
xilogravura, culinária,
burrinha, samba-de-roda
e música fizeram a
programação do segundo
Colóquio de Literatura
Popular. O evento,
acontecido entre os dias
24 e 26 de novembro de
2006, na cidade de Irará,
situada a pouco mais de
120 km da capital baiana,
é uma realização da Casa
da Cultura de Irará.
O Colóquio, criado em
2005, tem como objetivo
chamar atenção para a
importância da leitura. No
intuito de cumprir sua
finalidade, o evento é
c o m p r e e n d i d o d e
atividades que estimulam
o pensamento crítico,
oficinas técnicas e ações,
cujo conteúdo valoriza a
cultura popular de caráter
nordestino.
Este ano de 2006, o
Colóquio de Literatura
Popular teve seu grande
momento de afirmação.
Dava para perceber a
satisfação no rosto das
pessoas presentes, em
todos os lugares onde
aconteciam as atividades.
No Sobrado, sede da Casa
da Cultura; no auditório da
Filarmônica; no meio da
feira-livre; no quintal do
Casarão dos Santana; ou
no Coreto da Praça. Onde
acontecia o Colóquio,
h a v i a p e s s o a s
interessadas. Quem não
conhecia a proposta
apoiou e quem já havia
participado da edição
anterior, parabenizou a
continuidade do projeto.
Acontecendo a todo canto
da cidade e a todo o
momento daquele fim de
semana, o Colóquio de
2006 deixou saudades.
Entre as lembranças, as
declamações no recital de
poesias Vinhos & Versos; os
causos absurdos de Seu
Cardeal; o fervoroso
debate entre Zeca de
Magalhães e Gustavo
F e l i c í s s i m o ; o s
repentistas, improvisando
em plena feira-livre; as
apresentações dos grupos
Farinha de Guerra, Nação
Karirí e Zaccatimuana.
Momentos inesquecíveis
d e c e l e b r a ç ã o e
reafirmação dos valores da
literatura e da cultura
popular.
Eles estavam mesmo bem à vontade.
Tocaram instrumentos, assistiram vídeo,
rabiscaram papel e fizeram a festa. Sob
orientação de Ubirajara Cordeiro (Birinha),
a atividade dedicada ao público infantil foi
o tom na manhã do domingo, 26 de
novembro, no segundo Colóquio de
Literatura Popular.
Em meio às diversas crianças, com idade
bastante variada, Ubirajara fez valer de
muito jogo de cintura para conduzir o seu
trabalho. Para ele, a presença da arte na
escola é muito importante porque trás o
sensível para a sala de aula. “Acaba com
aquela noção de que a criança é só o corpo,
é só o mental”, sintetizou.
Atividade dedica atenção
à público infantil
Zeca de Magalhães vendeu
cordel na feira
Ubirajara Cordeiro brincou com as crianças
E d i ç ã o I I - N o v e m b r o - 2 0 0 6
2. Vinhos & Versos
integra programação
A prática do Recital de
Poesias Vinhos & Versos foi
iniciada em Irará em julho de
2003, pela Casa da Cultura.
Desde então, volta e meia os
iraraenses, se reúnem para
recitar poesias e tomar
vinho. De caráter livre, o
recital não é dado a regras
específicas. Qualquer
pessoa pode recitar o poema
que lhe achar conveniente,
seja lido ou decorado.
O V i n h o s & V e r s o s
acontecido na programação
do Colóquio 2006 não fugiu
ao costume do evento. A sala
onde aconteceu o recital
esteve muito requisitada. Às
vezes as pessoas se
chocavam querendo recitar
ao mesmo tempo. A gana
por declamar poesia
também é variada. Tem
quem declame uma única
v e z e t e m o s m a i s
freqüentes. Entre eles: Juci
Freitas; Fábio Calisto;
Bartira Barreto; Roberto
Martins, Kitute de Licinho e
Sérgio Ramos.
“Esse Cardeal parece que veio de Itú”
P e n s e n u m h o m e m
exagerado!? O nome dele é
Seu Cardeal. “Na minha
plantação deu pimentão à
vontade, daí chamei o
pessoal para levar os
pimentões para a feira. Eram
doze homens para botar um
pimentão na kombi”. Contou
Seu Cardeal, para espanto e
riso geral da platéia,
presente no Sobrado dos
Nogueiras, na noite de sexta-
feira, 24 de novembro, data
de abertura do Colóquio de
Literatura Popular.
Tivesse mil e uma noites,
ainda assim, não seria
suficiente para Seu Cardeal
contar todos os seus
“ c a u s o s ” . J u r a n d o
f r a n q u e z a , p o r q u e ,
conforme afirmou o próprio,
“ C a r d e a l s ó f a l a a
verdade!”; foram muitas as
histórias contadas naquela
noite. Desde a epopéia do
vaqueiro que foi engolido
por uma vaca até os casos
e n v o l v e n d o a s s u n t o s
diplomáticos.
Enquanto contava os seus
“causos”, Seu Cardel aos
poucos se lembrava dos seus
amigos. No seleto ciclo de
amizades mencionadas por
ele, foi revelada a sua
aproximação com políticos
como Amazonino Mendes e
Luís Inácio Lula da Silva,
artistas de televisão e até
com a Primeira Dama dos
Estados Unidos. Na sua
intimidade: “Comadre Laura
Bush”.
Nem só contando “causos” e
r e v e l a n d o a m i g o s
importantes Seu Cardeal
passou a noite. Aboiou,
cantou, fez rima e num dado
momento entrou numa
peleja improvisada com
Roberto Martins. É claro que
Cardeal, com sua eloqüente
verve, derrotou o rapaz que
acabou “pedindo pra 'cagar'
e saiu”.
Foram “causos” e momentos
super engraçados. Só mesmo
a mente criativa de um
nordestino para imaginar
s i t u a ç õ e s o n d e u m a
“camionete faz a curva e ela
mesma ver a placa dela”; a
“marca de pneu cavou um
poço artesiano de 400
metros”; “uma vaca deu
trinta litros de leite, só numa
teta!”. Como bem disse um
espectador: “Esse Cardeal
parece que veio de Itú”.
Cardeal contando das suas
Público prestigiou o recital
Maurício Pereira Recita
3. Gabriel Arcanjo expõe
e ensina xilogravura
Cordel é ensinado mais uma vez
Assim como na primeira vez,
a segunda edição do Colóquio
de Literatura Popular
também contou com uma
Oficina de Literatura de
Cordel. O trabalho foi
e f e t u a d o p e l o j o v e m
Gutembergue Santana,
membro da equipe do CRIA
(Centro de Referência da
Infância e Adolescência) de
Salvador.
A O f i c i n a d e C o r d e l
aconteceu na seqüência da
Oficina de Xilogravura, tendo
as mesmas crianças como
público. A expectativa é que
os pequenos alunos da
oficina, introduzidos à
técnica do cordel, tomem
gosto por esse tipo de
literatura.
Trata-se de um incentivo para
formação de gerações mais
novas de cordelistas. Quem
sabe no futuro, a arte de um
desses meninos e meninas
estará somada ao trabalho de
Kitute de Licinho, descoberto
em oficina realizada pela
Casa da Cultura.
Guthemberg ensinando cordel
Primeiro mostrou o resultado de seu trabalho com uma
exposição na cerimônia de abertura do Colóquio, sexta-
feira, dia 24. Cerca de 20 xilogravuras do artista estavam
expostas no Salão Térreo do Sobrado dos Nogueiras, para
apreciação do público enquanto não era iniciado o recital
de poesias. No dia seguinte, sábado, 25, Gabriel ensinou
para as crianças como se faz a xilogravura.
“Fiquei com receio”, confessou Arcanjo, lembrando do
público de sua oficina, composto de crianças, por temor
que alguma delas tivesse se machucado com as
ferramentas necessárias para o trabalho. “Mas no final
saiu tudo tranqüilo e as crianças gostaram muito”,
revelou o artista.
Um sujeito bastante calmo no
falar e de semblante sereno.Assim
é o comportamento de Gabriel.
Ele faz jus ao seu nome de anjo e
sobrenome Arcanjo. No Colóquio
de Literatura Popular de 2006, a
sua missão era mostrar como se
faz a arte da xilogravura.Arcanjo e sua xilo
Peleja de
feira-livre
Repentistas
na
João Ramos ataca Caboquinho. Este
não deixa passar barato. “João Ramos
não tem inspiração/ não tem verso,
nem rima e nem ação”, revida. Logo,
logo, vem o troco. “Não sou como o
colega enxerido/ que não sabe honrar
os seus cordéis/ cantador desse tipo eu
bato em dez/ só enquanto mamãe
troca o vestido”, revida João Ramos.
Os irmãos João Ramos e Caboquinho,
estão de viola na mão, em plena praça
pública, em meio à tradicional feira-
livre de Irará. Desta forma, verso
contra verso, eles se adentram numa
grande peleja.
A presença dos repentistas na manhã
do sábado, dia de feira na cidade, foi
mais uma inovação do Colóquio em
2006. No ano anterior, a única atração
era a leitura dos folhetos de cordéis.
Agora, acrescida da apresentação dos
repentistas, a leitura dos cordéis ia
cativando e chamando a atenção de
transeuntes e feirantes, criando um
momento de arte. Assim “de repente”,
em plena feira-livre.
4. Debate entre Zeca e Gustavo “esquenta” o clima
“A noite de Irará é frienta”.
D i z e m o s v i s i t a n t e s ;
concordam os moradores. A
pedida para esquentar, pode
ser uma dose de licor, um
casaco adequado, um
chamego... ou quem sabe até,
um debate literário.
Se quer saber? A noite nem
estava tão frienta assim. E
mesmo se estivesse, não
haveria frio que resistisse
quando o clima do debate
esquentou entre Zeca de
M a g a l h ã e s e G u s t a v o
Felicíssimo.
Postos numa mesma mesa,
para tecer suas considerações
sobre literatura marginal, os
dois concordaram em alguns
pontos e divergiram em outros
tantos. Forma, conteúdo e
ritmo estavam entre os
temas. Zeca relembra da
Odisséia e da Ilíada e provoca:
“qual é a forma que você tem
pra guardar na sua cabeça
tantas informações se não
através do ritmo?”.
O andamento do debate
despertou a atenção da
platéia, crescendo a sua
bagagem cultural, diante dos
argumentos de cada um deles.
O público que se dispôs a ir à
sede da Filarmônica 25 de
Dezembro naquela noite
sentiu-se muito e bem
contemplado.
Falas mornas até certo ponto
Música e culinária nordestina
encerram noite do sábado, 25
Após o debate da noite de
sábado, as pessoas se
dirigiram ao Casarão dos
Santana para saborear pratos
da culinária nordestina ao
som do repertório de MPB e
Música Regional tocado pelo
grupo Farinha de Guerra.
Na mesa, caruru, maniçoba,
andu tropeiro, entre outras
delícias. No palco o Farinha
dava o ritmo com seu estilo
acústico, apesar da presença
de um baixo elétrico,
acompanhando a percussão,
o vilão e a voz de Ricardo
Pacheco. O som fazia ainda
mais agradável o ambiente,
entre as árvores no quintal do
C a s a r ã o , o n d e t o d o s
estavam.
Como se diz que “no Brasil
tudo acaba em samba”, ao
final de sua apresentação, a
percussão do Farinha de
Guerra, improvisou o samba e
quem ainda estava no
C a s a r ã o , m a d r u g a d a
adentro, caiu na roda para
sambar.
Grupo Farinha de Guerra foi a atração
Jotacê Freitas
Cordelista
Convidado
5. Música e folguedos populares encerram a programação
Há muito que o Coreto da
Praça da Bandeira em Irará,
n ã o v i a a q u e l a
movimentação. Eles, os
Coretos, andam esquecidos,
desde quando as pequenas
cidades começaram a
preferir os mega-palcos,
armados para bandas do
showbussines, em suas
praças. O Colóquio de
Literatura Popular buscou
fazer diferente.
A Capoeira do Grupo Porto da
Barra, o Samba-de-Roda do
Pisadinha do Pé Firme e Dinê
com a Burrinha de Irará,
deram início à festa de
encerramento do Colóquio
de Literatura Popular 2006.
Após a apresentação destes
grupos populares, foi a vez de
Nação Karirí, Zaccatimuana e
Eletrofole, subir ao Coreto da
Praça para tocar e contagiar
os presentes.
A Nação karirí, grupo local de
Irará, fez a sua estréia no
Colóquio. Os “guerreiros
Karirís”, como são chamados
os componentes da banda,
superaram expectativas com
o seu reggae, no qual até um
poema de Castro Alves foi
adaptado e musicado para o
ritmo mais popular da
Jamaica.
Depois da estréia da Nação,
foi a vez da Zaccatimuana
subir ao palco. Nativos do
Bairro de Itapoã em Salvador,
o pessoal da Zacca tocou o
som batizado por eles de MCB
(Música Cultural Brasileira).A
música do grupo, na
definição deles próprios, é
uma “misturada”, que
envolve samba-de-roda,
xaxado, ciranda, samba,
xula, xote, cavalo marinho,
umbigada...
Esse sincretismo musical de
modo algum desagradou ao
público. Os presentes
d a n ç a r a m b a s t a n t e ,
elogiaram a banda e até
fizeram uma ciranda, quando
solicitados pela vocalista
Juliana Ribeiro. Pedido
atendido, todos giravam e
cantavam de mãos dadas
numa grande roda em volta
do Coreto.
O grupo de forró Eletrofole,
composto por músicos de
Irará, encerrou a festa. O
relógio marcava mais de 22
horas, quando a tocata foi
encerrada. Na Praça do
Coreto estavam pessoas
M o m e n t o s
Nação Kariri Zaccatimuana
05