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CANTO
NEGROEdição nº 2 do BiblioZine
organizado pela Cia Cantando Conto
SETEMBRO 2014
Ficha técnica
- C@ntadores de Histórias:
Ana Moreira, Odé Amorim e Rodrigo Scarcello
- Ilustrador e fotógrafo:
Daniel Freitas
- Oficina AfroPublicações:
Edson Ikê (dinamizador), Leandro Valquer,
Carolina Ortiz e Ana Luiza
- Oficina AfroCostura:
Juliana Ferraz (dinamizadora), Rosana
Delgado, Fabiana Araújo e Roberta Joanez
- Culinarista:
Maria Dias (COMIDA DE QUINTAL)
Parceria
AfroEscola Laboratório Urbano
(Espaço SocioCultural Ekedi Gracina
Eustachio dos Santos)
Avenida Atlântica, 904, Valparaíso
Santo André, SP
Telefone: 11 4425 4458
projetooficinativa@hotmail.com
www.oficinativa.blogspot.com.br
Projeto realizado com o apoio do
Governo do Estado de São
Paulo, Secretaria de Estado da
Cultura – Programa de Ação
Cultural de 2013 – Estímulo à
Leitura em Bibliotecas Públicas
Revistas que contam..............3
AfroContações em Cuba.........4
Entrevista / conversa com
Mirta Portillo............................6
“Lavando as más águas”........8
Comidas que contam............10
BiblioSARAU.........................12
Trajes que contam............….14
Histórias que ensinam..........15
O que contamos,
Onde contamos.....................16
AfroIMAGENS.......................18
CIA CANTANDO CONTO
Voz Doce do Mundo
CNPJ: 097.534.801/0001-79
telefones: (11) 9 9694 9142
(11) 4316 0813
e-mail: vozdocedomundo@gmail.com
www.cantandoconto.com
REVISTAS
que contam...
Oficina AfroPublicações com Edson Ikê
na AfroEscola Laboratório Urbano,
entre março e abril 2014
Um de nossos grandes prazeres é publicar
conteúdos e assim poder compartilhar
informações e experiências que vivenciamos
em nossas caminhadas pelo mundo. Há
tempos trazemos essa certeza e, quando
iniciamos o projeto CANTO NEGRO, sabíamos
que essa prática não poderia ficar de fora
desse novo e instigante processo criativo.
Pensamos a edição de uma revista e, em
princípio, chamaríamos um profissional para
“simplesmente” realizá-la. Logo percebemos
que era possível transformar a confecção
dessa mídia numa ação que agregasse
outros companheiros e companheiras
interessados no assunto.
Assim, convocamos o talentoso Edson Ikê,
que já conhecemos de longa data – desde
meados dos 90 – dos momentos áureos das
publicações independentes (Fanzines e
afins) aqui no ABC. Hoje, ele profissional da
área, presta serviços a grandes empresas e,
principalmente, fortalece os movimentos
sociais e ativistas com seus vastos
conhecimentos adquiridos nessa trajetória.
Foram 2 meses intensos de conversas,
trocas e descobertas sobre o universo da
editoração e da gráfica afrodescendentes. O
mestre Ikê tem pesquisado a fundo tais
temas e inovado ao fundir técnicas e
recursos tradicionais aos contemporâneos,
criando sua própria personalidade.
O primeiro número da revista CANTO
NEGRO saiu em abril passado e pode ser
acessada www.slideshare.net/oficinativa/
bibliozine-canto-negro-n-1-abr-2014 ou no
site do grupo, www.cantandoconto.com.
Vale ressaltar que a produção foi feita
durante a oficina e tem as preciosas
contribuições de Ana Luiza Frari, Leandro
Valquer e Carolina Ortiz.
Para conhecer mais sobre o belo e
importante trabalho de Edson Ikê - tanto
visual como musical - é só procurar sua
página pessoal no facebook.
- 3 -
AfroContaçõesQuando iniciamos esse percurso de
buscar nossas africanidades, nossas
raízes através das narrativas, não
tínhamos a mínima noção do que nos
reservava o futuro. Nem como Cuba e
suas estéticas nos inspirariam, nos
influenciariam.
A primeira visita a ainda misteriosa ilha
caribenha foi em julho de 2011. Um
contato que, em princípio, não tinha
exatamente um motivador afro. Mas já
sabíamos que seria inevitável esse tipo
de conexão.
Chegamos a Havana para participar
um Congresso Internacional de Meio
Ambiente e para apresentar dois
trabalhos “acadêmicos”: um sobre a
experiência do Quintal Orgânico,
coletivo situado em São Caetano do
Sul que tratava de investigar e praticar
no contexto urbano tecnologias
tradicionais e contemporâneas em prol
da sustentabilidade (compostagem,
agroecologia, etc), e outro sobre a
AfroEscola, na época em formato
itinerante e em sua perspectiva
arteducativa ambiental.
Porém, pouco antes de sair do Brasil,
tivemos informações sobre a Festa do
Fogo / Festival do Caribe. Falavam de
um encontro de afrodescendentes das
Américas, com três décadas de
existência, e que acontecia na outra
extremidade da ilha, em Santiago de
Cuba. Animados, inscrevemos o
trabalho da AfroEscola também num
de seus seminários.
Nesse ano, foram apenas 2 dias
“festejando o fogo”, o bastante para
nos fascinar e semear o desejo de retornar muitas
vezes mais. E assim foi feito em 2013 e 2014.
Obviamente não conseguiríamos apenas contemplar
as celebrações daquele místico local: nosso espírito
é por demais propositivo e anseia sempre por
interações mais humanas. Já na segunda viagem,
realizamos uma edição internacional do Festival de
AfroContação de Histórias HADITHI NJOO (criado
em agosto de 2012 na cidade de São Paulo). E foi
tudo bem MÁGICO!!!
Com o apoio dos amigos artistas e contadores
Débora e Júlio D'Zambê, da Cia Sansakroma e
representantes dos festivais culturais do Caribe aqui
em nosso país, ocupamos o Ateliê Cultural e o
transformamos na Casa do Brasil durante a Festa
do Fogo. Contações – em português e espanhol –
músicas, danças, bonecas, audiovisuais, oficinas e
farta confraternização entre adultos e crianças. De lá
trouxemos muitas lembranças, contatos, futuras
possibilidades e um valioso acervo de livros – eles
são muito acessíveis na ilha – que alimenta nossas
ações literárias até os dias de hoje.
Não resistimos muito e em 2014 novamente
propusemos outra edição das afrocontações. Desta
vez, o intercâmbio foi ainda mais especial porque
conhecemos figuras bastante representativas das
Lucas Nápoles, diretor do grupo Ceiba Obá e do
Festival Afropalabras, investigador de patakies
Havana, julho 2014
- 4 -
em Cuba
narrativas em terras cubanas e das
resistências populares: em Santiago estava
a fenomenal Fátima Patterson, que há
décadas impulsiona o Macubá e a cena
teatral de sua região; em Havana
encontramos o potente grupo Ceiba Obá,
com Lucas Nápoles, Irene Emilia, Mirta
Portillo e Lourdes Suarez (La Cimarrona
Sin Cadenas).
Com Fátima colaboramos no “cabaré”
organizado por seu grupo para reunir,
durante o evento principal na cidade,
pessoas de várias nacionalidades e suas
expressões culturais. A partir do próximo ano
este deve retornar a seu espaço próprio,
hoje em reconstrução após a destruição pelo
furacão Sandy em 2012.
Na capital, conhecemos o Ceiba Obá, seus
integrantes Mirta, Lucas, Irene e Lourdes e
suas inúmeras ações: editoração de livros,
Infelizmente, nem tudo foi positivo nesta
mais recente aventura / investida afro pelo
mundo: ao deixarmos Cuba rumo a Espanha
– para seguir propagando “enlaces
solidários” e nossas africanidades em outros
festivais e articulações – fomos impedidos
de ingressar na Europa ao fazer uma escala
em Frankfurt, Alemanha. O mais chocante
de tudo foi ver metade do avião, a de cor
negra, ser separada dos demais e ter de
passar por uma sessão humilhante de
averiguações por sermos considerados
suspeitos e perigosos à comunidade local.
Triste situação que, segundo relataram
algumas vítimas, é rotina na chegada “dos
diferentes” em terras alemãs.
Tal fato, traumático, apenas nos robustece
no ideal de continuar lutando e construindo,
com as poderosas armas da Arte + Cultura +
Educação, um outro mundo melhor.
Festival Afropalabras (em parceria
com a Casa África local), produção
poética, ocupação de espaços
públicos, investigações acadêmicas,
projetos sociais / comunitários, etc.
Também adquirimos várias publicações
(livros, revistas, CDs) pois esses itens
são bem baratos, permitindo o
consumo da população em geral.
Uma sensação boa dentro do peito diz
que ainda estaremos por aquela ilha
outras tantas vezes, estabelecendo e
fortalecendo laços, criando / recriando
culturas. Sem medo de errar, ela é
muito parecida com nosso próprio lar e
nos ensina bastante sobre nossas
ancestralidades e nossas
contemporaneidades. Ensina bastante
sobre o que somos nós mesmos...
Fátima Patterson
idealizadora e diretora do Teatro Macubá, Santiago de Cuba,
julho 2014
- 5 -
Entrevista / conversa com
Mirta PortilloEnfim nessa terceira viagem a Cuba – julho
de 2014 – sentimos realmente encontrar o
caminho que nos faz brilhar. Porque
contatamos personagens que transbordam
vitalidade, força, criatividade, inteligência,
empreendedorismo. Mesmo estando em
condições que não favorecem tais
características...
Uma delas é, inegavelmente, Mirta Portillo,
elegante senhora que representa de forma
magistral a cena afro ativista e artística
cubana. A seguir, um autorretrato descritivo
de Mirta e de sua prática:
“Comecei a narrar exatamente depois de me
aposentar do Magistério, porque ficava
bastante entediada. Primeiro escrevia textos
para jovens e os chamava para escutar.
Todos queriam saber o que havia redigido
na noite anterior. Logo fui ao parque local
dar início a um projeto voluntário (hoje com
17 anos de existência) e, depois de nove
meses, já estava totalmente metida
nesse universo: achei um curso de narração
no centro de Havana e a professora disse
que eu seria uma boa contadora. Então fui
participando de tudo que me parecia útil
para o ato de narrar – direção, espetáculo,
roteiro, manipulação de títeres, voz.
E assim fui contando, contando, um festival
aqui, outro acolá. Na Bienal de Oralidade,
presidida por Fátima Patterson, fui
convidada para ir à Colômbia. E fui. Nunca
imaginei o que podia acontecer comigo.
Segui estudando, me formei. Fiz até
formação de ator.
O crescimento de todo narrador só depende
dele mesmo. Depende da dedicação. E após
a atuação internacional, minha carreira
deslanchou em Cuba. Fui a muitos festivais,
em muitas províncias. E também a outros
países. Profissionalizei-me e hoje vivo dos
contos: narrando, ministrando vivências,
capacitações. E o que faz tudo se mover?
Muito AMOR! Nem tanto os recursos, mas
sempre AMOR. Contos espalhados aos
quatro ventos para impactar as relações
humanas, para educar e reeducar os
sentimentos, para aproximar e acolher.
- 6 -
Encontro na casa de Mirta,
seu irmão Hermínio e a companheira Lourdes Suarez,
Havana, julho 2014
- 7 -
Juntamente com o “Parquinho dos Contos”, o projeto
comunitário de tantos anos, independente e autogestionado,
meus 2 outros grandes projetos são o grupo Ceiba Obá e o
Festival Afropalabra.
Ceiba Obá, prática materializada com os companheiros
Lucas Nápoles, Irene Emilia e Lourdes Suarez, tem o
objetivo de contribuir com a difusão da Arte e da Cultura
através da oralidade de África e de sua diáspora,
valorizando os feitos históricos de resistência. Teatro,
Música, Dança, Narração, Poesia, entre outras linguagens,
são os caminhos utilizados. O nome vem da ideia de união
entre América e África, a ceiba, árvore tradicional no Caribe,
e o baobá, simbolo africano. Nasceu em 2000 em um
festival na localidade de Guanabacoa.
O Festival Afropalabra é um encontro anual sempre em
janeiro, um velho sonho concretizado, dedicado a palavra
viva em sua mais original raiz, também traçando essa ponte
necessária entre o novo e o antigo mundo. Acontece
simultaneamente ao Seminário Científico de Antropologia
e Cultura Afroamericana, organizado por Casa África de
Havana. Começou em 2008. A primeira edição teve a
presença de Hassane Kouyaté, um sucesso total. Depois
Boniface Ofogo e outros grandes narradores abrilhantaram
nosso evento. Infelizmente não temos ajuda financeira para
convidar outros artistas. Quem vem participar é porque
acredita na proposta.
E todas essas ações tem o vislumbre de dar continuidade
nas novas gerações do orgulho e da autoestima afro que
carregamos e que nos
permitem estar vivos a cada
dia. Já que nós estamos
passando e eles estão
ocupando esses espaços. E
temos atingido nossos
objetivos.
E assim seguimos lutando,
lutando, lutando. É impossível
chegar à perfeição, sabemos.
E as críticas são bem vindas e
nos ajudam a melhorar.
Estamos buscando sempre o
melhor. Por exemplo, gostaria
de ver como você faz o seu
festival – HADITHI NJOO –
para aprender outras maneiras
de atuar, para me estimular.
E mais: não tenho / temos a
verdade absoluta, mas sei /
sinto que os contos africanos
tem de ser contados de outras
formas, temos de inovar.
Deixo uma história que espero
possa ser útil em sua escola,
em sua trajetória. Foi-me
contada por umas garotas
nigerianas, que disseram
recebê-la da avó:
No meio da África e numa
clareira da floresta, havia uma
planta trepadeira, um pássaro e
uma tartaruga. O pássaro vivia
muito feliz e um dia aprendeu a
cantar. Todos os animais se
aproximaram para ouvi-lo. Mas
logo o canto era igual e todos
foram se afastando. Só que a
planta não podia se afastar...
obs.: a história em questão
está em espanhol e registrada
no BiblioRádio n° 5, publicada
em agosto; pode ser acessada
na página do projeto www.
cantandoconto.com.
Essa história foi escrita por Ana Moreira, contadora de
histórias no grupo Cantando Conto, durante o processo de
criação e execução do projeto Canto Negro. Tal história foi
inspirada no conto A Árvore da Palavra de Maritxell Seuba
e durante a contação é citada uma canção de Cristiane
Velasco.
Era uma vez, num lugar distante, um prado verde penteado
pelo vento. Podia-se andar por muito tempo entre as plantas
forrageiras e, embora elas parecessem todas iguais, ali
estavam várias famílias, todas primas entre si. Algumas
delas davam sorte, pois estavam perto de uma árvore
estranha.
Seus galhos retorcidos, pareciam raízes que invadiam o céu
durante a época da seca. Dentro do troco dela corria um rio
capaz de saciá-la e mantê-la viva mesmo que por fora tudo
estivesse seco. Aquele era o baobá.
Os homens daquelas terras gostavam de se reunir debaixo dela para compartilhar tempo e
sentimento. Alguns pediam conselhos sobre um assunto que preocupava. Outros só sentavam
para dialogar inquietudes. Os mais sonhadores confessavam seus desejos mais profundos. E
os aventureiros falavam de viagens, canções e histórias. As gramíneas que forravam o chão
perto do baobá se sentiam lisonjeadas por poder escutar tão belas histórias e canções.
Um dia um desses homens, que parecia muito preocupado, arrancou uma touceira de grama
verde e a plantou em um pequeno vaso de cerâmica. Levou consigo o vaso segurando-o perto
do coração para uma grande viajem. Eles embarcaram num grande navio e por muito tempo
ficaram no porão desse navio, ali eles não podiam ver a luz do sol e quando o homem ganhava
um punhadinho de água sempre dividia com sua plantinha. Mas os nutrientes contidos na terra
do vaso eram poucos, a água também era pouca e não sentir a luz do sol a aquecer as suas
folhas era muito triste para aquela pequena planta. A única coisa que a consolava é que o
homem continuava a contar histórias e cantar junto com outros companheiros de tão dura
viagem. Quando a plantinha achava que já não iria suportar tanta escassez, eles finalmente
chegaram em terra firme.
Lavando as
más águas
- 8 -
Assim que pode o homem retirou a planta do vaso e a plantou em terra nova. Porém o
homem logo teve que ir embora e a planta viu-se sozinha. Olhou ao redor e percebeu que
tudo era diferente. Não havia nenhuma árvore que ela conhecesse naquele lugar. Muitas
plantas diferentes, completamente diferentes entre si, ficavam perto uma das outras e ela já
não estava mais num vasto prado. Os pássaros tinham cores e cantos diferentes e, por mais
que ela olhasse ao redor, ela não viu nenhum animal parecido com a girafa ou com as
zebras. Ficou assustada, pensou em tentar falar com alguém, perguntar onde estava, dizer-
lhes o nome de sua família, os clorofitos, mas não teve coragem. O medo era maior e por
isso permaneceu calada.
Mas com o tempo percebeu que uma coisa esse lugar tinha de bom: o sol era forte, firme
como em sua terra antiga, e depois do calor a chuva vinha forte e caudalosa.
“Quanta gota, gota d’água
Vai lavando minhas mágoas
Conta gotas de minha alma
Lavadeira das más águas”
E com esse ir e vir entre sol e chuva a planta começou a sentir-se mais confiante, pois pelo
menos o sol e a chuva ela conhecia bem. Conforme o conforto e a confiança aumentavam a
plantinha estendeu um ramo e nesse ramo nasceu uma pequena folha. Ela passou então a
dedicar todo seu amor e atenção aquela folhinha. Esticava cada vez mais o seu ramo para
que a pequena folha recebesse mais raios de sol, esforçava-se para carregar de suas raízes
o alimento para a nova vida. E assim dentro de pouco tempo, novas folhas começaram a
crescer em volta da primeira. E sem se dar ela conta ela havia criado um milagre, uma nova
planta, pequena mas igual em tudo a ela. Com folhas longilíneas, verde escuro no centro e
com uma margem branca contornando finamente cada folha. Sua alegria foi aumentando e
logo, no mesmo ramo, nasceu mais uma pequena folhinha. Com grande entusiasmo, ela
cuidou mais e mais e mais nova vida apareceu. Dentro de pouco tempo, ao seu redor estava
uma nova família. Ela olhou para o céu e agradeceu por estar naquela terra tão farta
sentindo-se novamente em casa.
“Essa chuva benfazeja
Esse sol que me alumeia
Nesta terra parideira
Nascem novas plantas, brasileiras”
- 9 -
Lavando as
más águas
COMIDAS
que contam...
- 10 -
BiblioSARAU CANTO NEGRO,
Paranapiacaba, agosto 2014
“Participar do projeto CANTO NEGRO foi
uma experiência maravilhosa e profunda.
Não só pelas atuações, pelas apresentações
e degustações dos pratos: todo o processo
solicitou de nós uma bela pesquisa de
ingredientes, modos de preparos, contextos
históricos de cada uma de nossas receitas.
O que inevitavelmente nos fez aprender e
compreender ainda mais a importância das
influências de África em nossas rotinas,
também alimentares. Sua presença é forte e
marcante nas tradições culinárias baianas
mas se espalha por todo o país, em maior
ou menor escala.
Apresentamos durante o projeto, 2 pratos
relacionados às religiosidades de matriz
afro, dedicados às divindades: o acarajé e o
xinxim de galinha.
Outra grande – e deliciosa! – novidade de
nossa iniciativa em afrocontação de histórias
foi trazer a alimentação para compor
ativamente a programação proposta e
melhor ilustrar a participação africana em
nossa diversificada personalidade nacional.
Além de surpreender os participantes, nos
fez enxergar mais amplamente as conexões
e as possibilidades de diálogo entre Arte e
outras práticas sociais.
Como sempre, necessitamos do auxílio de
um especialista na área para nos conduzir
nesses saborosos experimentos e
aprendizados. Convidamos então a
culinarista Maria Dias que, em seu
empreendimento COMIDA DE QUINTAL,
tem resgatado muitas histórias através de
pratos, temperos, cores, sabores...
Para comer
contando...
BiblioSARAU CANTO NEGRO,
Paranapiacaba, agosto 2014
- 11 -
Cozinhar é uma forma
excepcional de comunicar,
transmitir a cultura de nossos
ancestrais para as demais
pessoas. Diria que a mais
atraente maneira de cativar a
atenção para África e suas
histórias, diminuindo os
incontáveis preconceitos que
ainda persistem em tempos
atuais. Nada melhor que apelar
para algo que é indispensável
para a sobrevivência humana”.
por Maria Dias
Para saber mais sobre o COMIDA
DE QUINTAL, outros trabalhos e
nossa frutífera parceria, acesse
www.marianicodemos.wix.com/
comidadequintal ou diretamente
em (11) 9 7233 0282.
ACARAJÉ
Ingredientes:
- 1 kg de feijão fradinho
- 4 cebolas picadas
- Sal a gosto
- Azeite de dendê a gosto
Molho:
- Pimenta malagueta
- Azeite de dendê
- 100 g de camarão
MODO DE PREPARO
- Bata o feijão seco só para quebrar no liquidificador
- Coloque de molho em bastante água, por mais ou menos 1
hora e meia para soltar a casca e os pontinhos pretos
- Mude sempre a água e tire a casca e os pontinhos pretos
que ficam boiando, escorra a água
- Bata no liquidificador o feijão com as cebolas e o sal
- Se precisar, ponha um pouco de água para bater melhor
- Coloque a massa em uma vasilha e bata bem para ficar
bem macia
- Para bater, use uma colher de pau
- Acrescente dendê em uma frigideira para esquentar bem
- Com uma colher, pegue a massa e coloque para fritar
- Depois de frito, coloque-os em uma vasilha forrada com
papel absorvente
Molho:
- Machuque umas pimentas
malaguetas
- Ponha um pouco de dendê para
esquentar e frite um pouco as
pimentas machucadas
- Acrescente o camarão e frite um
pouco mais, tire do fogo e misture
com um pouco de vatapá
- É maravilhoso, vale apena
experimentar!!!
BiblioSARAU
Sob o pretexto de um encantador encontro
nas bibliotecas entre artistas que viram
público e vice-versa, sem nada para separar,
deixando que todos se aproximem para
interagir e aprender - uma bela troca de
saberes, de sentimentos - o nosso
BiblioSARAU CANTO NEGRO revela-se
sob diversas maneiras: histórias, músicas,
danças, comidas, figurinos...
Para o público da biblioteca – espaço
considerado como o templo da leitura
individual, do silêncio – viemos mesmo para
ressignificar a sua dinâmica!
Contemplar integralmente a sensibilidade de
quem participa é a característica marcante
de nosso BiblioSARAU que quer estimular
através de narrativas a expressão de
diversas linguagens culturais, criando um
magnífico misturalismo sinestésico.
Na atual época em que estamos, o estímulo
a leitura se faz urgentemente necessário e,
já para contemplar esta lacuna, desejamos
que o formato de um BiblioSARAU torne-se
outra possibilidade para conquistar o gosto
das pessoas por histórias, livros, encontros
presenciais, artes, etc.
Intervenção Ba Kimbuta
no BiblioSARAU CANTO NEGRO,
Ribeirão Pires, maio 2014
- 12 -
Oralidade de
tod@s, com tod@s
O BiblioSARAU pode se definir como um
“encontro de oportunidades”, no qual o seu
público, um grupo interativo de pessoas, se
expressa e conhece a si e ao outro através
de narrativas, de intercâmbio de saberes, de
partilha de sentimentos e de pensamentos.
Cada indivíduo participa do momento com
sua arte, com sua habilidade, com sua
vontade de ser coletivo, e o que se vê como
resultado é o misturalismo, característica
que contempla os diversos sentidos do ser
humano. Com nossos contos cantados /
cantos contados, dançados, declamados,
brincados, dramatizados, degustados, entre
tantos formatos, vemos o aprendizado
acontecer pela satisfação do estar junto e
pela interatividade do grupo que participa.
As histórias desenvolvidas em nosso
BiblioSARAU apresentam possibilidades de
aprendizados enraizados nas culturas de
matrizes africanas que valorizam a
oralidade, o encontro, a corporalidade, a
culinária, a visualidade e as sonoridades de
modo integral.
A dinâmica de cada encontro acontece de
maneira particular e única, sempre com
convidados especiais diferenciados e se
apresentando sempre de modo criativo e
solidário.
Queremos com nossos ideais e propostas
de atividades interlinguagens e nossos
trabalhos de pesquisa por histórias de
diversos países africanos, semear o gosto
pela leitura e incitar a curiosidade das
pessoas para o universo tão rico e
importante para a formação do Brasil. E
acreditamos estar realizando isso...
BiblioSARAU CANTO NEGRO,
Paranapiacaba, agosto 2014
- 13 -
Texto colaborativo feito por Fabi Menassi, artista
visual e professora da rede pública de ensino, que
participou do BiblioSARAU CANTO NEGRO em
Paranapiacaba, agosto 2014.
Agradecimentos especiais:
Ba Kimbuta, Juliana Ferraz,
PretoDio, Nayê Mello + Bartyra Flor,
Eita Ação Cultural!, Aboubacar
Sidibé, Escola Municipal Professora
Lavínia de Figueredo Arnoni
(Ribeirão Pires), Juliana Flamínio e a
todos os participantes de nossos
encontros experimentais...
TRAJES
que contam...
Oficina AfroCostura com Juliana Ferraz
na AfroEscola Laboratório Urbano,
entre março e abril 2014
São muitos os jeitos de se contar, comunicar
histórias. E nesta maravilhosa afrojornada de
descobertas do CANTO NEGRO, isso se
reafirmou como característica que, se bem
utilizada, pode ser um dos pontos atraentes e
originais de nossa ação. Assim, sem temores
estéticos, “arregaçamos as mangas” e encaramos
o trabalho...
Vislumbramos que cada detalhe deveria
afrocontar, contribuindo para que as mensagens
fossem melhor assimiladas. Assim, quando
começamos a esboçar os figurinos do grupo,
buscar as africanidades nas cores, formas,
materiais, foi uma vontade imediata.
Solicitamos o olhar preciso de alguém experiente
no assunto: a companheira Juliana Ferraz que
com sua ideia empreendedora Arte Identidade
tem criado vestuário – saias, calças, blusas,
bolsas, turbantes e outros acessórios – que
trazem à tona as influências e as inspirações de
África para o dia a dia de homens e mulheres
negros contemporâneos.
Nas trocas, sempre bem informativas,
conhecemos artistas brasileiros atuais,
referências e produções do continente mãe,
tendências mundiais, a indústria têxtil, etc.
Confeccionamos batás, calças envelope e
turbantes para a utilização em nossos
espetáculos do 1º semestre.
Mais informações sobre o trabalho em Moda da
Juliana (mas ela é polivalente e também dança)
acesse www.arteidentidadelivre.
blogspot.com.br.
Trechos da oficina:
- “retalhos podem se transformar em
detalhes muito especiais que dão novos
significados às peças”;
- “é étnico pelo estilo, não pela estampa”;
- “os tecidos feitos para os africanos não
diferenciam frente e verso pois,
culturalmente, eles vão utilizar ambos os
lados em suas produções estéticas para
vestir”;
- “capulanas são tecidos utilizados em
Moçambique e região”;
- “mulheres muçulmanas africanas se
comunicam através de seus lenços, já
que seu diálogo é limitado socialmente”;
- “extravagância na moda é necessária
para que atinja o público e a vida”.
- 14 -
Histórias que ensinam
“A escrita é uma coisa e o saber é outra.
A escrita é a fotografia do saber, mas não
o saber em si. O saber é uma luz que
existe no homem. A herança de tudo
aquilo que nossos ancestrais vieram a
conhecer e que se encontra latente em
tudo o que nos transmitiram, assim como
o baobá já existe em potencial
em sua semente.”
Tierno Bokar,
tradicionalista e mestre muçulmano;
trecho inicial do texto
“A tradição viva”, Amadou Hampaté Bâ
Há tempos, existe a discussão, até
encarada com desconfiança, sobre a
efetividade das tradições orais como
formas de transmissão de conhecimentos
de boca a ouvido, entre os povos que
elegeram essa dinâmica ao invés dos
registros escritos.
Ao contrário do que se propaga ampla e
abertamente, a oralidade é uma escolha,
extremamente consciente, por uma
relação social que privilegia a interação
humana, a aproximação, o aprender e o se
desenvolver junto, no qual o pessoal é parte do
comunitário. E um interdepende do outro.
A palavra é poder, a palavra está impregnada de
intenções, de energias, de vibrações que
estimulam todos os que estão envolvidos. Como
dizem, as palavras provocam a paz mas também
podem provocar a guerra. As palavras são o bem
mais genuíno do ser e, por séculos, foram o
suficiente para selar acordos. Afinal, os primeiros
arquivos ou bibliotecas do mundo, antes de serem
impressos em papel, não foram os cérebros
humanos?
Foi a crença esperançosa e curiosa
de novamente tornar divina a palavra
em nossas conexões atuais que nos
trouxe a esse universo das histórias
contadas e recontadas. E agora nos
sentimos realizados sendo agentes
dessa transformação.
workshop com educadoras
na Biblioteca do Riacho Grande,
São Bernardo do Campo, setembro 2014
workshop com educadoras
na Biblioteca do CESA Vila Floresta,
Santo André, abril 2014
- 15 -
O que contamos...
Com o coração e as portas da casa – ou melhor, da tenda –
abertas, fizemos o CANTO NEGRO circular e encantar as
cidades do ABC paulista e também espaços culturais na capital. E
definitivamente nos reencantamos com nossa região.
Contar histórias tem se confirmado uma espécie de função social
de relevante importância, temperada pela magia ancestral do
encontro que só a Arte pode proporcionar. AfroContar histórias,
por sua vez, se tornou um dever cidadão assumido por esse
projeto, misturando nosso sincero desejo artístico por investigar e
compartilhar com profundidade as africanidades que pulsam em
nossas veias e a urgente necessidade educadora de comunicar
mais e mais, a diferentes públicos / platéias, o quanto África está
em nós e o quanto pode auxiliar em nossas (re)evoluções,
individuais e coletivas.
Foram incríveis e inesquecíveis 7 meses – março a setembro de
2014 – repletos de trocas de energias vitais, nos quais a essência
afro nos permeou e nos conduziu a novas paisagens. Tantas e
tantas rodas propusemos, em tantas e tantas rodas fomos
acolhidos, narrando, ouvindo, jogando, dançando, cantando,
celebrando, perguntando. Alguns passos adiante na apreciação,
na compreensão e, por consequência, no respeito a essa
conexão com um passado tão presente, um presente tão futuro.
Tivemos com o CANTO
NEGRO a chance de
descobrir mais sobre o
continente africano e sua
diáspora mundo afora. E
tivemos felizmente a
oportunidade de
redescobrir o ABC, região
onde plantamos nosso
AXÉ cultural. Visitamos e
interagimos em quase
todos os municípios daqui
– apenas a administração
de São Caetano do Sul
não se colocou disponível
ao diálogo – e ainda
passamos as fronteiras e
chegamos à capital. Em
nenhuma dessas
localidades, África foi
miserável, doente, feia,
medrosa, pouco
inteligente, como insistem
em nos mostrar a mídia
convencional, a História
oficial, a Educação, etc.
Olhos brilhando e muito
atentos, sorrisos de
amizade e abraços
agradecidos foram
constantes, em nossas
cheganças e andanças.
Os relatos de princesas e
príncipes, de rainhas e
reis, de guerreiras e
guerreiros, de gente do
campo, de animais da
florestas, de divindades
desse e de outro mundo,
de provérbios e filosofias
tradicionais, de
cosmovisões particulares,
preencheram algumas
das valas vazias – em
algumas pessoas já
encharcadas de
preconceitos – nas ideias
e nos pensamentos
- 16 -
Onde contamos...quando o assunto é o continente
mãe. Essa mãe que gerou os
primeiros habitantes desse planeta e
da qual podemos sim nos orgulhar
de ser descendentes. Somos todos
afrodescendentes!!!
Hoje, após tão significativa
experiência, podemos entender e
concordar com o que nos contaram
há pouco tempo e que nos faz
refletir bastante sobre quais são os
valores que devemos exaltar:
“No continente africano, em muitas
etnias, o conto aparece nos
momentos mais importantes de cada
povo. Não apenas como
passatempo, diversão, recurso
festivo ou lúdico. O conto surge
quando a comunidade passa por
dificuldades. Por exemplo, se
alguém comete um erro grave e se
arrepende, ao invés de ser
castigado, punido, é acolhido por
meio de histórias que o façam
recordar e valorizar suas origens,
seu entorno e sua responsabilidade
para a manutenção saudável de seu
próprio ambiente, de seu habitat”.
África e suas tantas Histórias tem,
sem equívocos, muito a nos ensinar.
Relação dos espaços culturais e atividades realizadas:
- Biblioteca do CESA Vila Floresta, Santo André
(contações, vivências, instalação lúdica + workshop com
educadores)
- Biblioteca Central Nair Lacerda, Santo André
(contações, vivências, instalação lúdica)
- Biblioteca Ábia Ferreira Francisco, Paranapiacaba
(bibliosarau)
- Biblioteca Olavo Bilac, Ribeirão Pires (bibliosarau)
- Biblioteca Monteiro Lobato, Rio Grande da Serra
(contações, vivências, instalação lúdica + workshop com
educadores)
- Biblioteca Comunitária Paulo Freire, Sônia Maria, Mauá
(contações, vivências, instalação lúdica)
- Biblioteca Paineiras, Campanário,
Diadema (contações, vivências,
instalação lúdica)
- Biblioteca Machado de Assis, Riacho
Grande, São Bernardo do Campo
(workshop com educadores)
- Biblioteca do CEU Sapopemba, São
Paulo (contações, vivências,
instalação lúdica)
- Biblioteca do CEU Parque Bristol,
São Paulo (contações, vivências,
instalação lúdica)
- 17 -
AfroIMAGENS
- 18 -
Vivência musical com Nayê Mello
BiblioSARAU em Paranapiacaba,
agosto 2014
Workshop com educadoras,
Riacho Grande, São Bernardo do Campos,
setembro 2014
Apresentação CANTO NEGRO
Campánario, Diadema,
maio 2014
Oficina AfroCostura
na AfroEscola Laboratório Urbano,
entre março e abril 2014
AfroIMAGENS
- 19 -
Apresentação do Eita Ação Cultural!
no BiblioSARAU em Paranapiacaba,
agosto 2014
Maria Dias (culinarista)
BiblioSARAU em Ribeirão Pires,
maio 2014
Oficina AfroPublicações comEdson Ikê
na AfroEscola Laboratório Urbano,
entre março e abril 2014
Conversa com Irene Emilia,
editora e membro do grupo Ceiba Obá,
Havana, julho 2014
Detalhes do figurino e do cenário
“E se uma história me foi contada por alguém, minha memória não registrou somente
seu conteúdo, mas toda a cena: a atitude do narrador, sua roupa, seus gestos, sua
mímica e os ruídos do ambiente”
AMADOU HAMPATÉ BÂ (1990 – 1991)
etnólogo, filósofo, historiador, poeta e contador do Mali

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A contadora Mirta Portillo e sua trajetória de afrocontações em Cuba

  • 1. CANTO NEGROEdição nº 2 do BiblioZine organizado pela Cia Cantando Conto SETEMBRO 2014
  • 2. Ficha técnica - C@ntadores de Histórias: Ana Moreira, Odé Amorim e Rodrigo Scarcello - Ilustrador e fotógrafo: Daniel Freitas - Oficina AfroPublicações: Edson Ikê (dinamizador), Leandro Valquer, Carolina Ortiz e Ana Luiza - Oficina AfroCostura: Juliana Ferraz (dinamizadora), Rosana Delgado, Fabiana Araújo e Roberta Joanez - Culinarista: Maria Dias (COMIDA DE QUINTAL) Parceria AfroEscola Laboratório Urbano (Espaço SocioCultural Ekedi Gracina Eustachio dos Santos) Avenida Atlântica, 904, Valparaíso Santo André, SP Telefone: 11 4425 4458 projetooficinativa@hotmail.com www.oficinativa.blogspot.com.br Projeto realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura – Programa de Ação Cultural de 2013 – Estímulo à Leitura em Bibliotecas Públicas Revistas que contam..............3 AfroContações em Cuba.........4 Entrevista / conversa com Mirta Portillo............................6 “Lavando as más águas”........8 Comidas que contam............10 BiblioSARAU.........................12 Trajes que contam............….14 Histórias que ensinam..........15 O que contamos, Onde contamos.....................16 AfroIMAGENS.......................18 CIA CANTANDO CONTO Voz Doce do Mundo CNPJ: 097.534.801/0001-79 telefones: (11) 9 9694 9142 (11) 4316 0813 e-mail: vozdocedomundo@gmail.com www.cantandoconto.com
  • 3. REVISTAS que contam... Oficina AfroPublicações com Edson Ikê na AfroEscola Laboratório Urbano, entre março e abril 2014 Um de nossos grandes prazeres é publicar conteúdos e assim poder compartilhar informações e experiências que vivenciamos em nossas caminhadas pelo mundo. Há tempos trazemos essa certeza e, quando iniciamos o projeto CANTO NEGRO, sabíamos que essa prática não poderia ficar de fora desse novo e instigante processo criativo. Pensamos a edição de uma revista e, em princípio, chamaríamos um profissional para “simplesmente” realizá-la. Logo percebemos que era possível transformar a confecção dessa mídia numa ação que agregasse outros companheiros e companheiras interessados no assunto. Assim, convocamos o talentoso Edson Ikê, que já conhecemos de longa data – desde meados dos 90 – dos momentos áureos das publicações independentes (Fanzines e afins) aqui no ABC. Hoje, ele profissional da área, presta serviços a grandes empresas e, principalmente, fortalece os movimentos sociais e ativistas com seus vastos conhecimentos adquiridos nessa trajetória. Foram 2 meses intensos de conversas, trocas e descobertas sobre o universo da editoração e da gráfica afrodescendentes. O mestre Ikê tem pesquisado a fundo tais temas e inovado ao fundir técnicas e recursos tradicionais aos contemporâneos, criando sua própria personalidade. O primeiro número da revista CANTO NEGRO saiu em abril passado e pode ser acessada www.slideshare.net/oficinativa/ bibliozine-canto-negro-n-1-abr-2014 ou no site do grupo, www.cantandoconto.com. Vale ressaltar que a produção foi feita durante a oficina e tem as preciosas contribuições de Ana Luiza Frari, Leandro Valquer e Carolina Ortiz. Para conhecer mais sobre o belo e importante trabalho de Edson Ikê - tanto visual como musical - é só procurar sua página pessoal no facebook. - 3 -
  • 4. AfroContaçõesQuando iniciamos esse percurso de buscar nossas africanidades, nossas raízes através das narrativas, não tínhamos a mínima noção do que nos reservava o futuro. Nem como Cuba e suas estéticas nos inspirariam, nos influenciariam. A primeira visita a ainda misteriosa ilha caribenha foi em julho de 2011. Um contato que, em princípio, não tinha exatamente um motivador afro. Mas já sabíamos que seria inevitável esse tipo de conexão. Chegamos a Havana para participar um Congresso Internacional de Meio Ambiente e para apresentar dois trabalhos “acadêmicos”: um sobre a experiência do Quintal Orgânico, coletivo situado em São Caetano do Sul que tratava de investigar e praticar no contexto urbano tecnologias tradicionais e contemporâneas em prol da sustentabilidade (compostagem, agroecologia, etc), e outro sobre a AfroEscola, na época em formato itinerante e em sua perspectiva arteducativa ambiental. Porém, pouco antes de sair do Brasil, tivemos informações sobre a Festa do Fogo / Festival do Caribe. Falavam de um encontro de afrodescendentes das Américas, com três décadas de existência, e que acontecia na outra extremidade da ilha, em Santiago de Cuba. Animados, inscrevemos o trabalho da AfroEscola também num de seus seminários. Nesse ano, foram apenas 2 dias “festejando o fogo”, o bastante para nos fascinar e semear o desejo de retornar muitas vezes mais. E assim foi feito em 2013 e 2014. Obviamente não conseguiríamos apenas contemplar as celebrações daquele místico local: nosso espírito é por demais propositivo e anseia sempre por interações mais humanas. Já na segunda viagem, realizamos uma edição internacional do Festival de AfroContação de Histórias HADITHI NJOO (criado em agosto de 2012 na cidade de São Paulo). E foi tudo bem MÁGICO!!! Com o apoio dos amigos artistas e contadores Débora e Júlio D'Zambê, da Cia Sansakroma e representantes dos festivais culturais do Caribe aqui em nosso país, ocupamos o Ateliê Cultural e o transformamos na Casa do Brasil durante a Festa do Fogo. Contações – em português e espanhol – músicas, danças, bonecas, audiovisuais, oficinas e farta confraternização entre adultos e crianças. De lá trouxemos muitas lembranças, contatos, futuras possibilidades e um valioso acervo de livros – eles são muito acessíveis na ilha – que alimenta nossas ações literárias até os dias de hoje. Não resistimos muito e em 2014 novamente propusemos outra edição das afrocontações. Desta vez, o intercâmbio foi ainda mais especial porque conhecemos figuras bastante representativas das Lucas Nápoles, diretor do grupo Ceiba Obá e do Festival Afropalabras, investigador de patakies Havana, julho 2014 - 4 -
  • 5. em Cuba narrativas em terras cubanas e das resistências populares: em Santiago estava a fenomenal Fátima Patterson, que há décadas impulsiona o Macubá e a cena teatral de sua região; em Havana encontramos o potente grupo Ceiba Obá, com Lucas Nápoles, Irene Emilia, Mirta Portillo e Lourdes Suarez (La Cimarrona Sin Cadenas). Com Fátima colaboramos no “cabaré” organizado por seu grupo para reunir, durante o evento principal na cidade, pessoas de várias nacionalidades e suas expressões culturais. A partir do próximo ano este deve retornar a seu espaço próprio, hoje em reconstrução após a destruição pelo furacão Sandy em 2012. Na capital, conhecemos o Ceiba Obá, seus integrantes Mirta, Lucas, Irene e Lourdes e suas inúmeras ações: editoração de livros, Infelizmente, nem tudo foi positivo nesta mais recente aventura / investida afro pelo mundo: ao deixarmos Cuba rumo a Espanha – para seguir propagando “enlaces solidários” e nossas africanidades em outros festivais e articulações – fomos impedidos de ingressar na Europa ao fazer uma escala em Frankfurt, Alemanha. O mais chocante de tudo foi ver metade do avião, a de cor negra, ser separada dos demais e ter de passar por uma sessão humilhante de averiguações por sermos considerados suspeitos e perigosos à comunidade local. Triste situação que, segundo relataram algumas vítimas, é rotina na chegada “dos diferentes” em terras alemãs. Tal fato, traumático, apenas nos robustece no ideal de continuar lutando e construindo, com as poderosas armas da Arte + Cultura + Educação, um outro mundo melhor. Festival Afropalabras (em parceria com a Casa África local), produção poética, ocupação de espaços públicos, investigações acadêmicas, projetos sociais / comunitários, etc. Também adquirimos várias publicações (livros, revistas, CDs) pois esses itens são bem baratos, permitindo o consumo da população em geral. Uma sensação boa dentro do peito diz que ainda estaremos por aquela ilha outras tantas vezes, estabelecendo e fortalecendo laços, criando / recriando culturas. Sem medo de errar, ela é muito parecida com nosso próprio lar e nos ensina bastante sobre nossas ancestralidades e nossas contemporaneidades. Ensina bastante sobre o que somos nós mesmos... Fátima Patterson idealizadora e diretora do Teatro Macubá, Santiago de Cuba, julho 2014 - 5 -
  • 6. Entrevista / conversa com Mirta PortilloEnfim nessa terceira viagem a Cuba – julho de 2014 – sentimos realmente encontrar o caminho que nos faz brilhar. Porque contatamos personagens que transbordam vitalidade, força, criatividade, inteligência, empreendedorismo. Mesmo estando em condições que não favorecem tais características... Uma delas é, inegavelmente, Mirta Portillo, elegante senhora que representa de forma magistral a cena afro ativista e artística cubana. A seguir, um autorretrato descritivo de Mirta e de sua prática: “Comecei a narrar exatamente depois de me aposentar do Magistério, porque ficava bastante entediada. Primeiro escrevia textos para jovens e os chamava para escutar. Todos queriam saber o que havia redigido na noite anterior. Logo fui ao parque local dar início a um projeto voluntário (hoje com 17 anos de existência) e, depois de nove meses, já estava totalmente metida nesse universo: achei um curso de narração no centro de Havana e a professora disse que eu seria uma boa contadora. Então fui participando de tudo que me parecia útil para o ato de narrar – direção, espetáculo, roteiro, manipulação de títeres, voz. E assim fui contando, contando, um festival aqui, outro acolá. Na Bienal de Oralidade, presidida por Fátima Patterson, fui convidada para ir à Colômbia. E fui. Nunca imaginei o que podia acontecer comigo. Segui estudando, me formei. Fiz até formação de ator. O crescimento de todo narrador só depende dele mesmo. Depende da dedicação. E após a atuação internacional, minha carreira deslanchou em Cuba. Fui a muitos festivais, em muitas províncias. E também a outros países. Profissionalizei-me e hoje vivo dos contos: narrando, ministrando vivências, capacitações. E o que faz tudo se mover? Muito AMOR! Nem tanto os recursos, mas sempre AMOR. Contos espalhados aos quatro ventos para impactar as relações humanas, para educar e reeducar os sentimentos, para aproximar e acolher. - 6 -
  • 7. Encontro na casa de Mirta, seu irmão Hermínio e a companheira Lourdes Suarez, Havana, julho 2014 - 7 - Juntamente com o “Parquinho dos Contos”, o projeto comunitário de tantos anos, independente e autogestionado, meus 2 outros grandes projetos são o grupo Ceiba Obá e o Festival Afropalabra. Ceiba Obá, prática materializada com os companheiros Lucas Nápoles, Irene Emilia e Lourdes Suarez, tem o objetivo de contribuir com a difusão da Arte e da Cultura através da oralidade de África e de sua diáspora, valorizando os feitos históricos de resistência. Teatro, Música, Dança, Narração, Poesia, entre outras linguagens, são os caminhos utilizados. O nome vem da ideia de união entre América e África, a ceiba, árvore tradicional no Caribe, e o baobá, simbolo africano. Nasceu em 2000 em um festival na localidade de Guanabacoa. O Festival Afropalabra é um encontro anual sempre em janeiro, um velho sonho concretizado, dedicado a palavra viva em sua mais original raiz, também traçando essa ponte necessária entre o novo e o antigo mundo. Acontece simultaneamente ao Seminário Científico de Antropologia e Cultura Afroamericana, organizado por Casa África de Havana. Começou em 2008. A primeira edição teve a presença de Hassane Kouyaté, um sucesso total. Depois Boniface Ofogo e outros grandes narradores abrilhantaram nosso evento. Infelizmente não temos ajuda financeira para convidar outros artistas. Quem vem participar é porque acredita na proposta. E todas essas ações tem o vislumbre de dar continuidade nas novas gerações do orgulho e da autoestima afro que carregamos e que nos permitem estar vivos a cada dia. Já que nós estamos passando e eles estão ocupando esses espaços. E temos atingido nossos objetivos. E assim seguimos lutando, lutando, lutando. É impossível chegar à perfeição, sabemos. E as críticas são bem vindas e nos ajudam a melhorar. Estamos buscando sempre o melhor. Por exemplo, gostaria de ver como você faz o seu festival – HADITHI NJOO – para aprender outras maneiras de atuar, para me estimular. E mais: não tenho / temos a verdade absoluta, mas sei / sinto que os contos africanos tem de ser contados de outras formas, temos de inovar. Deixo uma história que espero possa ser útil em sua escola, em sua trajetória. Foi-me contada por umas garotas nigerianas, que disseram recebê-la da avó: No meio da África e numa clareira da floresta, havia uma planta trepadeira, um pássaro e uma tartaruga. O pássaro vivia muito feliz e um dia aprendeu a cantar. Todos os animais se aproximaram para ouvi-lo. Mas logo o canto era igual e todos foram se afastando. Só que a planta não podia se afastar... obs.: a história em questão está em espanhol e registrada no BiblioRádio n° 5, publicada em agosto; pode ser acessada na página do projeto www. cantandoconto.com.
  • 8. Essa história foi escrita por Ana Moreira, contadora de histórias no grupo Cantando Conto, durante o processo de criação e execução do projeto Canto Negro. Tal história foi inspirada no conto A Árvore da Palavra de Maritxell Seuba e durante a contação é citada uma canção de Cristiane Velasco. Era uma vez, num lugar distante, um prado verde penteado pelo vento. Podia-se andar por muito tempo entre as plantas forrageiras e, embora elas parecessem todas iguais, ali estavam várias famílias, todas primas entre si. Algumas delas davam sorte, pois estavam perto de uma árvore estranha. Seus galhos retorcidos, pareciam raízes que invadiam o céu durante a época da seca. Dentro do troco dela corria um rio capaz de saciá-la e mantê-la viva mesmo que por fora tudo estivesse seco. Aquele era o baobá. Os homens daquelas terras gostavam de se reunir debaixo dela para compartilhar tempo e sentimento. Alguns pediam conselhos sobre um assunto que preocupava. Outros só sentavam para dialogar inquietudes. Os mais sonhadores confessavam seus desejos mais profundos. E os aventureiros falavam de viagens, canções e histórias. As gramíneas que forravam o chão perto do baobá se sentiam lisonjeadas por poder escutar tão belas histórias e canções. Um dia um desses homens, que parecia muito preocupado, arrancou uma touceira de grama verde e a plantou em um pequeno vaso de cerâmica. Levou consigo o vaso segurando-o perto do coração para uma grande viajem. Eles embarcaram num grande navio e por muito tempo ficaram no porão desse navio, ali eles não podiam ver a luz do sol e quando o homem ganhava um punhadinho de água sempre dividia com sua plantinha. Mas os nutrientes contidos na terra do vaso eram poucos, a água também era pouca e não sentir a luz do sol a aquecer as suas folhas era muito triste para aquela pequena planta. A única coisa que a consolava é que o homem continuava a contar histórias e cantar junto com outros companheiros de tão dura viagem. Quando a plantinha achava que já não iria suportar tanta escassez, eles finalmente chegaram em terra firme. Lavando as más águas - 8 -
  • 9. Assim que pode o homem retirou a planta do vaso e a plantou em terra nova. Porém o homem logo teve que ir embora e a planta viu-se sozinha. Olhou ao redor e percebeu que tudo era diferente. Não havia nenhuma árvore que ela conhecesse naquele lugar. Muitas plantas diferentes, completamente diferentes entre si, ficavam perto uma das outras e ela já não estava mais num vasto prado. Os pássaros tinham cores e cantos diferentes e, por mais que ela olhasse ao redor, ela não viu nenhum animal parecido com a girafa ou com as zebras. Ficou assustada, pensou em tentar falar com alguém, perguntar onde estava, dizer- lhes o nome de sua família, os clorofitos, mas não teve coragem. O medo era maior e por isso permaneceu calada. Mas com o tempo percebeu que uma coisa esse lugar tinha de bom: o sol era forte, firme como em sua terra antiga, e depois do calor a chuva vinha forte e caudalosa. “Quanta gota, gota d’água Vai lavando minhas mágoas Conta gotas de minha alma Lavadeira das más águas” E com esse ir e vir entre sol e chuva a planta começou a sentir-se mais confiante, pois pelo menos o sol e a chuva ela conhecia bem. Conforme o conforto e a confiança aumentavam a plantinha estendeu um ramo e nesse ramo nasceu uma pequena folha. Ela passou então a dedicar todo seu amor e atenção aquela folhinha. Esticava cada vez mais o seu ramo para que a pequena folha recebesse mais raios de sol, esforçava-se para carregar de suas raízes o alimento para a nova vida. E assim dentro de pouco tempo, novas folhas começaram a crescer em volta da primeira. E sem se dar ela conta ela havia criado um milagre, uma nova planta, pequena mas igual em tudo a ela. Com folhas longilíneas, verde escuro no centro e com uma margem branca contornando finamente cada folha. Sua alegria foi aumentando e logo, no mesmo ramo, nasceu mais uma pequena folhinha. Com grande entusiasmo, ela cuidou mais e mais e mais nova vida apareceu. Dentro de pouco tempo, ao seu redor estava uma nova família. Ela olhou para o céu e agradeceu por estar naquela terra tão farta sentindo-se novamente em casa. “Essa chuva benfazeja Esse sol que me alumeia Nesta terra parideira Nascem novas plantas, brasileiras” - 9 - Lavando as más águas
  • 10. COMIDAS que contam... - 10 - BiblioSARAU CANTO NEGRO, Paranapiacaba, agosto 2014 “Participar do projeto CANTO NEGRO foi uma experiência maravilhosa e profunda. Não só pelas atuações, pelas apresentações e degustações dos pratos: todo o processo solicitou de nós uma bela pesquisa de ingredientes, modos de preparos, contextos históricos de cada uma de nossas receitas. O que inevitavelmente nos fez aprender e compreender ainda mais a importância das influências de África em nossas rotinas, também alimentares. Sua presença é forte e marcante nas tradições culinárias baianas mas se espalha por todo o país, em maior ou menor escala. Apresentamos durante o projeto, 2 pratos relacionados às religiosidades de matriz afro, dedicados às divindades: o acarajé e o xinxim de galinha. Outra grande – e deliciosa! – novidade de nossa iniciativa em afrocontação de histórias foi trazer a alimentação para compor ativamente a programação proposta e melhor ilustrar a participação africana em nossa diversificada personalidade nacional. Além de surpreender os participantes, nos fez enxergar mais amplamente as conexões e as possibilidades de diálogo entre Arte e outras práticas sociais. Como sempre, necessitamos do auxílio de um especialista na área para nos conduzir nesses saborosos experimentos e aprendizados. Convidamos então a culinarista Maria Dias que, em seu empreendimento COMIDA DE QUINTAL, tem resgatado muitas histórias através de pratos, temperos, cores, sabores...
  • 11. Para comer contando... BiblioSARAU CANTO NEGRO, Paranapiacaba, agosto 2014 - 11 - Cozinhar é uma forma excepcional de comunicar, transmitir a cultura de nossos ancestrais para as demais pessoas. Diria que a mais atraente maneira de cativar a atenção para África e suas histórias, diminuindo os incontáveis preconceitos que ainda persistem em tempos atuais. Nada melhor que apelar para algo que é indispensável para a sobrevivência humana”. por Maria Dias Para saber mais sobre o COMIDA DE QUINTAL, outros trabalhos e nossa frutífera parceria, acesse www.marianicodemos.wix.com/ comidadequintal ou diretamente em (11) 9 7233 0282. ACARAJÉ Ingredientes: - 1 kg de feijão fradinho - 4 cebolas picadas - Sal a gosto - Azeite de dendê a gosto Molho: - Pimenta malagueta - Azeite de dendê - 100 g de camarão MODO DE PREPARO - Bata o feijão seco só para quebrar no liquidificador - Coloque de molho em bastante água, por mais ou menos 1 hora e meia para soltar a casca e os pontinhos pretos - Mude sempre a água e tire a casca e os pontinhos pretos que ficam boiando, escorra a água - Bata no liquidificador o feijão com as cebolas e o sal - Se precisar, ponha um pouco de água para bater melhor - Coloque a massa em uma vasilha e bata bem para ficar bem macia - Para bater, use uma colher de pau - Acrescente dendê em uma frigideira para esquentar bem - Com uma colher, pegue a massa e coloque para fritar - Depois de frito, coloque-os em uma vasilha forrada com papel absorvente Molho: - Machuque umas pimentas malaguetas - Ponha um pouco de dendê para esquentar e frite um pouco as pimentas machucadas - Acrescente o camarão e frite um pouco mais, tire do fogo e misture com um pouco de vatapá - É maravilhoso, vale apena experimentar!!!
  • 12. BiblioSARAU Sob o pretexto de um encantador encontro nas bibliotecas entre artistas que viram público e vice-versa, sem nada para separar, deixando que todos se aproximem para interagir e aprender - uma bela troca de saberes, de sentimentos - o nosso BiblioSARAU CANTO NEGRO revela-se sob diversas maneiras: histórias, músicas, danças, comidas, figurinos... Para o público da biblioteca – espaço considerado como o templo da leitura individual, do silêncio – viemos mesmo para ressignificar a sua dinâmica! Contemplar integralmente a sensibilidade de quem participa é a característica marcante de nosso BiblioSARAU que quer estimular através de narrativas a expressão de diversas linguagens culturais, criando um magnífico misturalismo sinestésico. Na atual época em que estamos, o estímulo a leitura se faz urgentemente necessário e, já para contemplar esta lacuna, desejamos que o formato de um BiblioSARAU torne-se outra possibilidade para conquistar o gosto das pessoas por histórias, livros, encontros presenciais, artes, etc. Intervenção Ba Kimbuta no BiblioSARAU CANTO NEGRO, Ribeirão Pires, maio 2014 - 12 -
  • 13. Oralidade de tod@s, com tod@s O BiblioSARAU pode se definir como um “encontro de oportunidades”, no qual o seu público, um grupo interativo de pessoas, se expressa e conhece a si e ao outro através de narrativas, de intercâmbio de saberes, de partilha de sentimentos e de pensamentos. Cada indivíduo participa do momento com sua arte, com sua habilidade, com sua vontade de ser coletivo, e o que se vê como resultado é o misturalismo, característica que contempla os diversos sentidos do ser humano. Com nossos contos cantados / cantos contados, dançados, declamados, brincados, dramatizados, degustados, entre tantos formatos, vemos o aprendizado acontecer pela satisfação do estar junto e pela interatividade do grupo que participa. As histórias desenvolvidas em nosso BiblioSARAU apresentam possibilidades de aprendizados enraizados nas culturas de matrizes africanas que valorizam a oralidade, o encontro, a corporalidade, a culinária, a visualidade e as sonoridades de modo integral. A dinâmica de cada encontro acontece de maneira particular e única, sempre com convidados especiais diferenciados e se apresentando sempre de modo criativo e solidário. Queremos com nossos ideais e propostas de atividades interlinguagens e nossos trabalhos de pesquisa por histórias de diversos países africanos, semear o gosto pela leitura e incitar a curiosidade das pessoas para o universo tão rico e importante para a formação do Brasil. E acreditamos estar realizando isso... BiblioSARAU CANTO NEGRO, Paranapiacaba, agosto 2014 - 13 - Texto colaborativo feito por Fabi Menassi, artista visual e professora da rede pública de ensino, que participou do BiblioSARAU CANTO NEGRO em Paranapiacaba, agosto 2014. Agradecimentos especiais: Ba Kimbuta, Juliana Ferraz, PretoDio, Nayê Mello + Bartyra Flor, Eita Ação Cultural!, Aboubacar Sidibé, Escola Municipal Professora Lavínia de Figueredo Arnoni (Ribeirão Pires), Juliana Flamínio e a todos os participantes de nossos encontros experimentais...
  • 14. TRAJES que contam... Oficina AfroCostura com Juliana Ferraz na AfroEscola Laboratório Urbano, entre março e abril 2014 São muitos os jeitos de se contar, comunicar histórias. E nesta maravilhosa afrojornada de descobertas do CANTO NEGRO, isso se reafirmou como característica que, se bem utilizada, pode ser um dos pontos atraentes e originais de nossa ação. Assim, sem temores estéticos, “arregaçamos as mangas” e encaramos o trabalho... Vislumbramos que cada detalhe deveria afrocontar, contribuindo para que as mensagens fossem melhor assimiladas. Assim, quando começamos a esboçar os figurinos do grupo, buscar as africanidades nas cores, formas, materiais, foi uma vontade imediata. Solicitamos o olhar preciso de alguém experiente no assunto: a companheira Juliana Ferraz que com sua ideia empreendedora Arte Identidade tem criado vestuário – saias, calças, blusas, bolsas, turbantes e outros acessórios – que trazem à tona as influências e as inspirações de África para o dia a dia de homens e mulheres negros contemporâneos. Nas trocas, sempre bem informativas, conhecemos artistas brasileiros atuais, referências e produções do continente mãe, tendências mundiais, a indústria têxtil, etc. Confeccionamos batás, calças envelope e turbantes para a utilização em nossos espetáculos do 1º semestre. Mais informações sobre o trabalho em Moda da Juliana (mas ela é polivalente e também dança) acesse www.arteidentidadelivre. blogspot.com.br. Trechos da oficina: - “retalhos podem se transformar em detalhes muito especiais que dão novos significados às peças”; - “é étnico pelo estilo, não pela estampa”; - “os tecidos feitos para os africanos não diferenciam frente e verso pois, culturalmente, eles vão utilizar ambos os lados em suas produções estéticas para vestir”; - “capulanas são tecidos utilizados em Moçambique e região”; - “mulheres muçulmanas africanas se comunicam através de seus lenços, já que seu diálogo é limitado socialmente”; - “extravagância na moda é necessária para que atinja o público e a vida”. - 14 -
  • 15. Histórias que ensinam “A escrita é uma coisa e o saber é outra. A escrita é a fotografia do saber, mas não o saber em si. O saber é uma luz que existe no homem. A herança de tudo aquilo que nossos ancestrais vieram a conhecer e que se encontra latente em tudo o que nos transmitiram, assim como o baobá já existe em potencial em sua semente.” Tierno Bokar, tradicionalista e mestre muçulmano; trecho inicial do texto “A tradição viva”, Amadou Hampaté Bâ Há tempos, existe a discussão, até encarada com desconfiança, sobre a efetividade das tradições orais como formas de transmissão de conhecimentos de boca a ouvido, entre os povos que elegeram essa dinâmica ao invés dos registros escritos. Ao contrário do que se propaga ampla e abertamente, a oralidade é uma escolha, extremamente consciente, por uma relação social que privilegia a interação humana, a aproximação, o aprender e o se desenvolver junto, no qual o pessoal é parte do comunitário. E um interdepende do outro. A palavra é poder, a palavra está impregnada de intenções, de energias, de vibrações que estimulam todos os que estão envolvidos. Como dizem, as palavras provocam a paz mas também podem provocar a guerra. As palavras são o bem mais genuíno do ser e, por séculos, foram o suficiente para selar acordos. Afinal, os primeiros arquivos ou bibliotecas do mundo, antes de serem impressos em papel, não foram os cérebros humanos? Foi a crença esperançosa e curiosa de novamente tornar divina a palavra em nossas conexões atuais que nos trouxe a esse universo das histórias contadas e recontadas. E agora nos sentimos realizados sendo agentes dessa transformação. workshop com educadoras na Biblioteca do Riacho Grande, São Bernardo do Campo, setembro 2014 workshop com educadoras na Biblioteca do CESA Vila Floresta, Santo André, abril 2014 - 15 -
  • 16. O que contamos... Com o coração e as portas da casa – ou melhor, da tenda – abertas, fizemos o CANTO NEGRO circular e encantar as cidades do ABC paulista e também espaços culturais na capital. E definitivamente nos reencantamos com nossa região. Contar histórias tem se confirmado uma espécie de função social de relevante importância, temperada pela magia ancestral do encontro que só a Arte pode proporcionar. AfroContar histórias, por sua vez, se tornou um dever cidadão assumido por esse projeto, misturando nosso sincero desejo artístico por investigar e compartilhar com profundidade as africanidades que pulsam em nossas veias e a urgente necessidade educadora de comunicar mais e mais, a diferentes públicos / platéias, o quanto África está em nós e o quanto pode auxiliar em nossas (re)evoluções, individuais e coletivas. Foram incríveis e inesquecíveis 7 meses – março a setembro de 2014 – repletos de trocas de energias vitais, nos quais a essência afro nos permeou e nos conduziu a novas paisagens. Tantas e tantas rodas propusemos, em tantas e tantas rodas fomos acolhidos, narrando, ouvindo, jogando, dançando, cantando, celebrando, perguntando. Alguns passos adiante na apreciação, na compreensão e, por consequência, no respeito a essa conexão com um passado tão presente, um presente tão futuro. Tivemos com o CANTO NEGRO a chance de descobrir mais sobre o continente africano e sua diáspora mundo afora. E tivemos felizmente a oportunidade de redescobrir o ABC, região onde plantamos nosso AXÉ cultural. Visitamos e interagimos em quase todos os municípios daqui – apenas a administração de São Caetano do Sul não se colocou disponível ao diálogo – e ainda passamos as fronteiras e chegamos à capital. Em nenhuma dessas localidades, África foi miserável, doente, feia, medrosa, pouco inteligente, como insistem em nos mostrar a mídia convencional, a História oficial, a Educação, etc. Olhos brilhando e muito atentos, sorrisos de amizade e abraços agradecidos foram constantes, em nossas cheganças e andanças. Os relatos de princesas e príncipes, de rainhas e reis, de guerreiras e guerreiros, de gente do campo, de animais da florestas, de divindades desse e de outro mundo, de provérbios e filosofias tradicionais, de cosmovisões particulares, preencheram algumas das valas vazias – em algumas pessoas já encharcadas de preconceitos – nas ideias e nos pensamentos - 16 -
  • 17. Onde contamos...quando o assunto é o continente mãe. Essa mãe que gerou os primeiros habitantes desse planeta e da qual podemos sim nos orgulhar de ser descendentes. Somos todos afrodescendentes!!! Hoje, após tão significativa experiência, podemos entender e concordar com o que nos contaram há pouco tempo e que nos faz refletir bastante sobre quais são os valores que devemos exaltar: “No continente africano, em muitas etnias, o conto aparece nos momentos mais importantes de cada povo. Não apenas como passatempo, diversão, recurso festivo ou lúdico. O conto surge quando a comunidade passa por dificuldades. Por exemplo, se alguém comete um erro grave e se arrepende, ao invés de ser castigado, punido, é acolhido por meio de histórias que o façam recordar e valorizar suas origens, seu entorno e sua responsabilidade para a manutenção saudável de seu próprio ambiente, de seu habitat”. África e suas tantas Histórias tem, sem equívocos, muito a nos ensinar. Relação dos espaços culturais e atividades realizadas: - Biblioteca do CESA Vila Floresta, Santo André (contações, vivências, instalação lúdica + workshop com educadores) - Biblioteca Central Nair Lacerda, Santo André (contações, vivências, instalação lúdica) - Biblioteca Ábia Ferreira Francisco, Paranapiacaba (bibliosarau) - Biblioteca Olavo Bilac, Ribeirão Pires (bibliosarau) - Biblioteca Monteiro Lobato, Rio Grande da Serra (contações, vivências, instalação lúdica + workshop com educadores) - Biblioteca Comunitária Paulo Freire, Sônia Maria, Mauá (contações, vivências, instalação lúdica) - Biblioteca Paineiras, Campanário, Diadema (contações, vivências, instalação lúdica) - Biblioteca Machado de Assis, Riacho Grande, São Bernardo do Campo (workshop com educadores) - Biblioteca do CEU Sapopemba, São Paulo (contações, vivências, instalação lúdica) - Biblioteca do CEU Parque Bristol, São Paulo (contações, vivências, instalação lúdica) - 17 -
  • 18. AfroIMAGENS - 18 - Vivência musical com Nayê Mello BiblioSARAU em Paranapiacaba, agosto 2014 Workshop com educadoras, Riacho Grande, São Bernardo do Campos, setembro 2014 Apresentação CANTO NEGRO Campánario, Diadema, maio 2014 Oficina AfroCostura na AfroEscola Laboratório Urbano, entre março e abril 2014
  • 19. AfroIMAGENS - 19 - Apresentação do Eita Ação Cultural! no BiblioSARAU em Paranapiacaba, agosto 2014 Maria Dias (culinarista) BiblioSARAU em Ribeirão Pires, maio 2014 Oficina AfroPublicações comEdson Ikê na AfroEscola Laboratório Urbano, entre março e abril 2014 Conversa com Irene Emilia, editora e membro do grupo Ceiba Obá, Havana, julho 2014 Detalhes do figurino e do cenário
  • 20. “E se uma história me foi contada por alguém, minha memória não registrou somente seu conteúdo, mas toda a cena: a atitude do narrador, sua roupa, seus gestos, sua mímica e os ruídos do ambiente” AMADOU HAMPATÉ BÂ (1990 – 1991) etnólogo, filósofo, historiador, poeta e contador do Mali