Este boletim da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores contém um poema sobre um pequeno abrigo e a conexão com a natureza, informações sobre uma exposição sobre a natureza brasileira e um excerto literário que discute preconceito racial e como as cores de pele humana evoluíram em adaptação aos diferentes climas.
2. 2GRALHA
AZUL
-‐
No.
58
-‐
ABRIL
-‐
2016
-‐
SOCIEDADE
BRASILEIRA
DE
MÉDICOS
ESCRITORES
-‐
SOBRAMES
-‐
PR
TUGÚRIO
Sérgio
Pitaki
-‐
SOBRAMES
PR
Numa
choupana
pequenina
Onde
guardo
a
minh’alma,
Envolve-‐a
uma
bruma
Bina,
Na
manhã
pura
e
calma.
No
seguir
da
próxima
alvorada,
A
claridade
suave
pousa,
Com
a
sombra
nítida
bem
marcada,
Como
quem
vive
e
ousa.
No
dia
que
segue
longo
e
fresco,
Marca
mais
um
início
de
vida,
Com
desenho
de
um
novo
arabesco.
Na
pequena
casa,
no
aconchego,
Repouso
ao
canto
da
lareira,
Ao
destino
que
faço,
me
entrego.
“Natureza
brasileira:
olhares
e
inspirações”
exposição
realizada
pela
Casa
da
Cultura
Polônia
Brasil
integrará
a
programação
da
14ª
Semana
Nacional
de
Museus
promovida
pelo
IBRAM
em
CuriJba
Paraná,
no
dia
2
de
maio
de
2016.
3. 3
John
Coningham,
um
brasileiro
de
Santa
Catarina,
viveu
em
Santos
-‐
SP
e
foi
nos
anos
1960,
já
como
sargento,
servir
no
Mato
Grosso,
na
divisa
com
o
Paraguai.
Planejou
uma
viagem
de
motocicleta
–
do
Brasília
ao
Alaska,
com
data
de
partida
marcada
no
dia
de
inauguração
da
nova
capital
no
dia
22
de
abril
de
1960.
Escreveu
o
livro
54
anos
após,
descrevendo
com
muita
aventura
e
emoção
esse
périplo.
Vários
foram
os
pontos
altos
literários
do
livro
‘De
moto
pelas
Américas...na
contramão...”,
mas
transcrevo
um
capítulo
que
fala
contra
o
preconceito
racial,
muito
interessante
para
deixá-‐lo
inscrito
nos
anais
do
nosso
Boletim
Gralha
Azul.
As
cores
da
pele
"Não
me
lembro
onde
um
cabo
da
polícia,
fugindo
à
humildade
dos
seus
companheiros,
indicou
um
grupo
de
indígenas,
dizendo:
“lo
mejor
para
eses
es
RÁ-‐TÁTÁ-‐TÁ
e
imitou
o
gesto
de
quem
dispara
uma
metralhadora.
Olhei
bem
para
a
cara
dele:
tinha
os
mesmos
traços
faciais
da
gente
a
quem
se
referia...É
a
mesma
coisa
no
Brasil:
o
mais
racista
é
o
“melhorado”,
que
se
elevou
um
pouco
ainanceiramente
–
mas
só
ainanceiramente!
–
dos
seus
semelhantes,
e
passa
a
discriminá-‐los
–
“não
gosto
de
preto!”-‐
tentando
com
essa
postura
distinguir-‐se.
Felizmente
na
nossa
família
nunca
houve
esse
tipo
de
discriminação
besta.
Para
meu
avô,
Granz
Richard
Becker,
pintor
da
natureza
e
um
ecologista
quando
essa
palavra
ainda
não
adquirira
signiaicado,
os
rostos
diferentes
das
várias
raças
eram
motivo
do
maior
e
mais
respeitoso
interesse,
bem
assim
como
as
suas
culturas,
tanto
é
que
ele
conviveu
com
os
botocudos
no
interior
catarinense,
de
que
resultaram
belíssimos
quadros
dos
nossos
nativos.
Daí
que
me
foi
dado
“decifrar
o
genoma˜,
por
assim
dizer
das
cores
da
pele.
A
ser
verdade
que
o
berço
da
humanidade
foi
a
África,
então
também
é
verdade
que,
à
semelhança
do
camaleão,
somos
abençoados
com
a
capacidade
de
adaptar
o
nosso
couro
protetor
às
exigências
do
meio
ambiente,
embora
a
um
ritmo
muito
mais
lento,
envolvendo
milhares
de
gerações.
Assim,
aqueles
que
migraram
para
as
terras
de
neves
e
gelos
no
norte
acabaram
se
tornando
brancos
–
como
o
urso-‐polar,
a
coruja-‐das-‐neves
e
a
raposa-‐do-‐ártico;
por
constituir
a
cor
alva
a
melhor
camualagem
nos
invernos
brancos.
Já
os
que
atravessaram
o
estreito
de
Bering
e
rumaram
para
o
sul
através
das
Américas,
gradativamente
perderam
sua
cor
branca
conforme
foram
deixando
para
trás
aquele
mundo
gelado,
para
matizes
mais
escuros
e
protetores
da
irradiação
solar.
Portanto
nossos
indígenas
tropicais
adquiriram
pele
marrom,
como
a
anta,
a
capivara,
o
quati,
a
cutia:
a
cor
dos
troncos
e
da
folhagem
morta
sob
a
aloresta
tropical.
As
prioridades
do
homem
também
tiveram
que
adaptar-‐se,
conforme
suas
andanças
o
levaram
para
novos
ambientes,
às
exigências
dos
mesmos.
4. 4GRALHA AZUL - No. 58 - ABRIL - 2016 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES - SOBRAMES - PR
Editor Responsável: Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki. sergiopitaki@gmail.com
O
africano
das
savanas
não
podiam
aicar
sentado,
sonhando
acordado,
enquanto
feras
grandes
demais
para
o
indivíduo
enfrentar
com
suas
armas
da
idade-‐da-‐pedra
se
precipitavam
para
cima
dele...
elefantes,
rinocerontes,
búfalos-‐do-‐cabo
e
alcatéias
de
leões.
Sua
prioridade
número
um
era
pernas-‐para-‐que-‐te-‐quero,
a
aim
de
conseguir
correr
mais
do
que
o
bicho!
Consequentemente,
os
seus
descendentes
são
hoje
os
maiores
atletas
do
mundo.
Mas
ao
adentar
o
norte
frio,
o
homem
caminheiro
se
viu
confrontado
com
condições
inteiramente
diferentes:
ele
teve
que
aprender
a
estocar
lenha
e
comida
para
o
inverno.
Isto
exigiu
o
desenvolvimento
da
capacidade
de
previsão
–
a
habilidade
de
pensar
para
encontrar
soluções,
para
o
que
ele
dispunha
de
amplo
tempo
enquanto,
acocorado
em
sua
caverna,
aguardava
a
passagem
do
inverno.
Aqueles
que
não
conseguiram
adaptar-‐se
a
essas
novas
exigências
morreram
de
frio
ou
de
fome
nos
invernos
mais
severos,
assim
como
na
África
morreram
os
que
não
conseguiram
correr
mais
que
as
feras.
Já
o
nosso
indígena
da
América
tropical
não
tinha
utilidade
para
pernas
velozes
nos
emaranhados
de
cipoais,
espinheiros,
tranqueiras
e
pântanos
das
selvas.
Nem
tampouco
precisava
fazer
provisões
para
estocagem
de
comida
ou
lenha,
pois
tinha
caça,
peixes,
frutas,
lavoura
e
lenha
à
disposição
o
ano
todo,
visto
não
serem
praticamente
conainantes
os
nossos
invernos
equatoriais.
Contudo,
a
América
tropical,
especialmente
a
do
Sul,
nunca
teve
abundância
de
vida
selvagem
da
África.
Daí,
a
caça
nas
nossas
selvas
exigia
paciente
espera
pela
fauna
junto
às
fruteiras,
barreiros,
bebedouros
e
pelo
peixe
até
que
boiasse
ou
viesse
às
águas
rasas,
para
se
lhe
meter
a
alecha
ou
tomasse
o
anzol
iscado.”
PAULO CAMELO
“Eis mais um livro atestando que o escritor
Cassiano Ricardo errou redondamente
quando na Academia Brasileira de Letras,
bramiu: “Os sonetos e os discursos puramente
ornamentais morreram. Os que hoje dispõem
de tempo para fazer um soneto negam a sua
época. O soneto seria uma limitação num
momento em que venceu o ilimitado.”
Assim o médico escritor pernambucano Luiz
Coutinho inicia o brilhante prefácio do livro
de sonetos ‘Filigranas' do também médico
escritor Paulo Camelo.
“E no verso o poeta alivia essa dor
de viver sua vida ao sabor de ninguém
de viver sem razão, sem saber quem é quem.”