2. " A natureza do homem é a mesma, seus hábitos que os mantém separados".
Confúcio
3. Em geral, ao se depararem com a
diversidade cultural a postura dos
pensadores e analistas da cultura varia
entre um olhar etnocêntrico, ou um
relativismo cultural.
4.
5. Etnocentrismo: característica de quem considera o seu grupo, nação ou cultura
mais importante do que os demais. O próprio grupo cultural como centro de tudo.
Os outros grupos são pensados a partir dos nossos valores, modelos e definições
do que é existência. Dificuldade em olhar a diferença trazendo a sensação de
estranheza, medo, hostilidade, etc.
Relativismo cultural: Ter uma visão neutra diante do conjunto de hábitos,
crenças e comportamentos que a princípio lhe parecem estranhos. A cultura só
pode ser considerada dentro de seu próprio contexto cultural. Foi desenvolvida
pela antropologia para romper com comparações que emitem um juízo de valor.
Crítica das abordagens evolucionistas que classificam culturas em primitivas ou
avançadas. Se afastar da própria cultura para entender o outro.
6. - Determinismo biológico e geográfico: Surgiu no
séc XIX como uma tentativa de justificar os
preconceitos e a violência contra grupos
minoritários.
- A antropologia defende que as diferenças biológicas
e geográficas não defendem as diferenças culturais
de uma sociedade. Não existe nenhum dado
científico que comprove que raças e grupos
humanos possuem diferenças ou superioridades
genéticas.
- O comportamento humano independe da genética,
mas depende da vivência e experiências - de sua
visão cultural.
7. - Cultura = conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes, ou qualquer
outra capacidade ou hábitos adquiridos por pessoas como membros de uma
sociedade.
- O ser humano é o resultado do meio cultural em que foi socializado.
- Os extintos são resultado da cultura e não da biologia, caso contrário todos
iriam responder da mesma maneira, e isso não acontece.
- Compreender a cultura é compreender a natureza humana.
- A cultura é como uma "lente", onde é usada para compreender o mundo.
Então cada cultura tem sua "lente", sua visão de mundo.
- Nenhum indivíduo conhece completamente o seu próprio sistema cultural,
mas é necessário ter pelo menos um conhecimento deste para conseguir agir
dentro da sociedade.
- Cada sistema cultural está sempre em mudança.
- É essencial entender que as diferenças sociais estão na sociedade.
8. A importância de se estudar a cultura
indígena se dá uma vez que temos
vários povos e grupos étnicos
diferentes, assim como diferentes
tradições e visões de mundo. De
maneira equivocada, é muito comum
achar que indígenas são um povo
único. Mas, há hoje 305 etnias
indígenas no Brasil, com diferentes
pontos de vista.
9. Etimologia - indígena
"Natural do lugar em que vive, gerado dentro da terra que lhe é própria". 'relativo a ou
população autóctone de um país ou que neste se estabeleceu anteriormente a um
processo colonizador» ou «relativo a ou indivíduo que habitava as Américas em
período anterior à sua colonização por europeus»; por extensão de sentido (uso
informal), é «que ou o que é originário do país, região ou localidade em que se
encontra; nativo».'
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-
iul.pt/consultorio/perguntas/a-etimologia-das-palavras-indigena-e-indigente/26406
[consultado em 31-10-2022]
10. Atualmente, segundo o ISA
(Instituto Socioambiental),
existem no Brasil 227 povos
indígenas, somando 600 mil
pessoas falantes de mais de
180 línguas e dialetos. Cada
povo tem sua cultura,
tradição, cosmologia,
arquitetura e arte.
11.
12. A casa indígena tradicional
As casas indígenas tradicionais são construídas segundo um projeto não
desenhado, porém existente na tradição.
- paredes-cobertura plana
- parede-cobertura curva
Em ambos a estrutura é de madeira e as peças são de roliça.
Arranjos estruturais: um principal e um secundário.
No arranjo secundário está fixada a trama de palha que forma o conjunto da
parede-cobertura.
13. Casa de parede-cobertura plana
- Pilares dispostos longitudinalmente, que
apoiam na viga-cumeeira
- A viga-cumeeira sustenta um sistema de
quadros transversais triangulares.
- Uma peça vertical sustenta sustenta
diretamente a cueeira e as duas peças
laterais inclinadas
14.
15. Casa de parede-cobertura curva
- Possui o mesmo quadro longitudinal
formado pela cumeeira e por pilares
verticais de sustentação da cumeeita.
- Arranjo de varas encurvadas ,
fincadas no terreno e apoiadas sobre
cumeeira.
- A curvatura das varas é obtida pela
flexão produzida ao tocarem em um
conjunto de pilaretes, que finalmente
definem o desenho da casa.
16. Casa de parede-cobertura curva
- Pilaretes de madeira são
independentes das coberturas-parede.
- Pilaretes feitos com peças de madeira
lavradas como pilares, fincadas
diretamente no solo, como se fossem
uma mureta.
- Pequena distância entre os pilaretes
amarrados em cipó.
- Não possui paredes verticais de
fechamento nem paredes no interior.
17.
18. Outras características
- Pé direito alto, igual ou acima de 4,5m podendo chegar a 8m.
- Manutenção frequente da palha.
- Varredura diária do piso e arrumação do interior.
- Entre 4 a 8 anos a palha é completamente trocada.
- Impermeabilização interna por meio da fuligem das fogueiras formando uma
película interna e escura da palha.
- Não possui janelas.
- Duas portas.
- Piso seco de chão batido, sem desníveis, mantido sempre limpo.
19. Conforto ambiental
- Pé-direito alto: frescas durante o dia e aconchegantes durante a noite.
- Parede-cobertura: eficiente como isolante térmico, apresenta alguma
permeabilidade ao ar por meio de suas microfrestas.
- Fluxo de ar constante e sutil.
- Ausência de janelas: evita a incidência solar no interior da casa. Durante a
noite o calor do fogo é conservado e a temperatura interior fica mais
agradável que o exterior.
20. Materiais
- Madeiras utilizadas na estrutura.
- Folhas das palmas utilizadas como cobertura e vedação.
- madeiras mais duras utilizadas como esteios.
- Madeiras mais leves utilizadas como vigamento ou estrutura secundária, não
tendo geralmente contato com o solo.
- Principais palhas utilizadas: da palmeira do buriti, do babaçu, do acuri.
- O principal cipó utilizado é a embira.
21. O perigo de uma história única
Por Chimamanda Ngozi Adichie
https://valkirias.com.br/o-perigo-de-uma-historia-unica/
23. O sentido da criação
Muitas criações indígenas marcam o estilo de seus diferentes grupos. São
materializações de complexas redes de interações que supõem conjuntos de
significados. São objetos que condensam ações, relações, emoções e sentidos,
porque é através do artefato que as pessoas agem, se relacionam, se produzem.
"O mundo é composto por muitas camadas, os diversos mundos são
pensados enquanto simultâneos, presentes e em contato, embora nem
sempre perceptíveis. O papel da arte é o de comunicar uma percepção
sintética dessa simultaneidade das diferentes realidades". (LAGROU,2013
p.93)
24. Aldeia Yawalapiti (Xingu)
Possui uma arquitetura feita a partir de
formas circulares e ovais. As casas são
dispostas ao redor de um espaço
central. Simbolizam a ideia de comunal
de sociedade, onde todos estão
integrados. Os espaços internos da
casa não possuem divisão, exceto os
gabinetes onde ficam os adolescentes
em reclusão pubertária, os casais com
filhos recém nascidos e os viúvos no
período de luto.
25. Liderança artística
Na maior parte das sociedades indígenas
brasileiras o papel do
artista/artesão/arquiteto não é uma
especialização. Ressalva para os povos
Kaxinawá (Amazônia), onde a mestre da
tecelagem é chamada de ainbu keneya:
"mulher com desenho" ou "dona dos japins".
Japim é um pássaro que tece elaborados
ninhos, serve como metáfora de excelência
na tecelagem. A tecelagem dos povos
Kaxinawá é vista como identidade no tecido
da vida.
26. Grafismos indígenas
- Meio de identificar grupos.
- Pode indicar a quantidade de
filhos, posição social,
cumprimento de ritos de
passagem dependendo da
cultura.
- Usados como pintura corporal,
tecelagem, cestaria, pintura em
tela e em utensílios.
32. Estudo decolonial
- O fim da colônia não significa o fim
das práticas coloniais.
- O que os pensadores decoloniais anunciam e denunciam é a
predominância de um tipo de pensamento criado apenas por europeus
que acabam dominando os currículos dentro da academia de países que
foram colonizados; excluindo ou exterminando outras vozes que podem
contribuir.
33. - Os pensadores coloniais não pensam a mesma coisa, vem de influências
muito distintas. O ponto em comum é a crítica e prática contra o sistema
colonial moderno.
- Epistemicídio = não permitir o conhecimento sobre a cultura de outros povos,
predominância de um único repertório. Gravidade ética.
- A realidade não tem como ser compreendida a partir de um ângulo só, ela é
a síntese de múltiplas determinações.
- Repensar nossos cruzamentos culturais.
- Valorizar as diferenças culturais para mudar a realidade.
34. Por quê estudar arquitetura indígena?
- Rever a noção de "tecnologia avançada";
- Assimilar soluções sustentáveis;
- Adaptar às condições ambientais;
- A releitura das casas proporcionam conforto
térmico e praticidade estrutural;
- Adaptabilidade ao contexto;
- Interlocução com a comunidade.
https://www.archdaily.com.br/br/950675/criand
o-projetos-a-partir-de-um-olhar-decolonial
35. Bibliografia
https://www.caurn.gov.br/?p=10213&utm_medium=website&utm_source=archdaily.com.br
LAGROU, Els. "Arte indígena no Brasil: agência, alteridade e relação. Editora c/ Arte. Belo Horizonte, 2013.
PORTOCARRERO, José Afonso Botura. “Tecnologia indígena em Mato Grosso: habitação”. 2. ed. Cuiabá:
entrelinhas, 2018.
WAISMAN, Marina. “O interior da história: historiografia arquitetônica para uso de latino-americanos”. São Paulo,
SP: Perspectiva, 2019.
36. Casa Bororo
- Organização circular
- Modo tradicional com 100m
de diâmetro.
- Espaço igual entre uma casa
a outra.
- Baito ao centro: casa dos
homens.
- Bororos são os primeiros
habitantes indígenas do
Mato Grosso.
50. Casa Bakairi (MT)
- Habitação tipo colmeia.
- Parecida com as casas
Xinguanas e Paresi,
porém um pouco mais
pontuda na cueeira.
- Piso duríssimo.
- Vegetação predominante:
cerrado.
- Vivem nas terras
indígenas Bakairi e em
Santana.
63. Karajá/Javaé
. Tronco linguístico Macro-Jê, família linguística Karajá.
. Etnia dividida em 3 subgrupos: Karajá, Javaé e Xambioá.
. Sem registros iniciais, apenas habitações influenciadas pelo contato.
1) Casas pseudotradicionais: matéria prima é quase exclusivamente palha e
madeira.
2) Casas mistas: Uso de palha, madeira e outros materiais.
3) Casa de alvenaria, com tijolos cozidos e cobertura de fibrocimento.
4) Casa de pau-a-pique ou alvenaria e cobertura com telhas de barro.
5) Casa de alvenaria com cobertura de zinco.
6) Casa de alvenaria com cobertura de palha.
70. As Casas Karajás são construídas em duas fileiras paralelas ao rio.
71. A festa ritualística do
Hetohoky (Casa
Grande)é realizada
segundo a tradição
do povo Iny (Karajá)
para marcar o rito de
passagem dos
meninos ariranha
(jyrè) para o círculo
de convivência
masculino.
72.
73.
74. Casa Xavante
. Casa = rí
. Desenho original de planta circular.
. Diâmetro entre 5 e 6 metros, altura 4,5m.
. Porta voltada para o centro da aldeia.
. Casa abriga até 4 famílias.
. Quarta maior população indígena do
país. Cerca de 24 mil indivíduos.
75. Etapas de construção da casa
Xavante (desenho de Maria
Carolina Young Rodrigues)
*ler pág 188
82. Em outras aldeias xavante, permanece a casa com a planta retangular feita
totalmente de madeira e palha.
83. Filme realizado
pelos jovens
Xavante em
parceria com o
coletivo Raiz das
Imagens a partir
das oficinas
realizadas nas
aldeias Santa Cruz
e Belem durante o
projeto Tiba´uwe
nos meses de
agosto e setembro
de 2013.