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Arte e arquitetura indígena
" A natureza do homem é a mesma, seus hábitos que os mantém separados".
Confúcio
Em geral, ao se depararem com a
diversidade cultural a postura dos
pensadores e analistas da cultura varia
entre um olhar etnocêntrico, ou um
relativismo cultural.
Etnocentrismo: característica de quem considera o seu grupo, nação ou cultura
mais importante do que os demais. O próprio grupo cultural como centro de tudo.
Os outros grupos são pensados a partir dos nossos valores, modelos e definições
do que é existência. Dificuldade em olhar a diferença trazendo a sensação de
estranheza, medo, hostilidade, etc.
Relativismo cultural: Ter uma visão neutra diante do conjunto de hábitos,
crenças e comportamentos que a princípio lhe parecem estranhos. A cultura só
pode ser considerada dentro de seu próprio contexto cultural. Foi desenvolvida
pela antropologia para romper com comparações que emitem um juízo de valor.
Crítica das abordagens evolucionistas que classificam culturas em primitivas ou
avançadas. Se afastar da própria cultura para entender o outro.
- Determinismo biológico e geográfico: Surgiu no
séc XIX como uma tentativa de justificar os
preconceitos e a violência contra grupos
minoritários.
- A antropologia defende que as diferenças biológicas
e geográficas não defendem as diferenças culturais
de uma sociedade. Não existe nenhum dado
científico que comprove que raças e grupos
humanos possuem diferenças ou superioridades
genéticas.
- O comportamento humano independe da genética,
mas depende da vivência e experiências - de sua
visão cultural.
- Cultura = conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes, ou qualquer
outra capacidade ou hábitos adquiridos por pessoas como membros de uma
sociedade.
- O ser humano é o resultado do meio cultural em que foi socializado.
- Os extintos são resultado da cultura e não da biologia, caso contrário todos
iriam responder da mesma maneira, e isso não acontece.
- Compreender a cultura é compreender a natureza humana.
- A cultura é como uma "lente", onde é usada para compreender o mundo.
Então cada cultura tem sua "lente", sua visão de mundo.
- Nenhum indivíduo conhece completamente o seu próprio sistema cultural,
mas é necessário ter pelo menos um conhecimento deste para conseguir agir
dentro da sociedade.
- Cada sistema cultural está sempre em mudança.
- É essencial entender que as diferenças sociais estão na sociedade.
A importância de se estudar a cultura
indígena se dá uma vez que temos
vários povos e grupos étnicos
diferentes, assim como diferentes
tradições e visões de mundo. De
maneira equivocada, é muito comum
achar que indígenas são um povo
único. Mas, há hoje 305 etnias
indígenas no Brasil, com diferentes
pontos de vista.
Etimologia - indígena
"Natural do lugar em que vive, gerado dentro da terra que lhe é própria". 'relativo a ou
população autóctone de um país ou que neste se estabeleceu anteriormente a um
processo colonizador» ou «relativo a ou indivíduo que habitava as Américas em
período anterior à sua colonização por europeus»; por extensão de sentido (uso
informal), é «que ou o que é originário do país, região ou localidade em que se
encontra; nativo».'
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-
iul.pt/consultorio/perguntas/a-etimologia-das-palavras-indigena-e-indigente/26406
[consultado em 31-10-2022]
Atualmente, segundo o ISA
(Instituto Socioambiental),
existem no Brasil 227 povos
indígenas, somando 600 mil
pessoas falantes de mais de
180 línguas e dialetos. Cada
povo tem sua cultura,
tradição, cosmologia,
arquitetura e arte.
A casa indígena tradicional
As casas indígenas tradicionais são construídas segundo um projeto não
desenhado, porém existente na tradição.
- paredes-cobertura plana
- parede-cobertura curva
Em ambos a estrutura é de madeira e as peças são de roliça.
Arranjos estruturais: um principal e um secundário.
No arranjo secundário está fixada a trama de palha que forma o conjunto da
parede-cobertura.
Casa de parede-cobertura plana
- Pilares dispostos longitudinalmente, que
apoiam na viga-cumeeira
- A viga-cumeeira sustenta um sistema de
quadros transversais triangulares.
- Uma peça vertical sustenta sustenta
diretamente a cueeira e as duas peças
laterais inclinadas
Casa de parede-cobertura curva
- Possui o mesmo quadro longitudinal
formado pela cumeeira e por pilares
verticais de sustentação da cumeeita.
- Arranjo de varas encurvadas ,
fincadas no terreno e apoiadas sobre
cumeeira.
- A curvatura das varas é obtida pela
flexão produzida ao tocarem em um
conjunto de pilaretes, que finalmente
definem o desenho da casa.
Casa de parede-cobertura curva
- Pilaretes de madeira são
independentes das coberturas-parede.
- Pilaretes feitos com peças de madeira
lavradas como pilares, fincadas
diretamente no solo, como se fossem
uma mureta.
- Pequena distância entre os pilaretes
amarrados em cipó.
- Não possui paredes verticais de
fechamento nem paredes no interior.
Outras características
- Pé direito alto, igual ou acima de 4,5m podendo chegar a 8m.
- Manutenção frequente da palha.
- Varredura diária do piso e arrumação do interior.
- Entre 4 a 8 anos a palha é completamente trocada.
- Impermeabilização interna por meio da fuligem das fogueiras formando uma
película interna e escura da palha.
- Não possui janelas.
- Duas portas.
- Piso seco de chão batido, sem desníveis, mantido sempre limpo.
Conforto ambiental
- Pé-direito alto: frescas durante o dia e aconchegantes durante a noite.
- Parede-cobertura: eficiente como isolante térmico, apresenta alguma
permeabilidade ao ar por meio de suas microfrestas.
- Fluxo de ar constante e sutil.
- Ausência de janelas: evita a incidência solar no interior da casa. Durante a
noite o calor do fogo é conservado e a temperatura interior fica mais
agradável que o exterior.
Materiais
- Madeiras utilizadas na estrutura.
- Folhas das palmas utilizadas como cobertura e vedação.
- madeiras mais duras utilizadas como esteios.
- Madeiras mais leves utilizadas como vigamento ou estrutura secundária, não
tendo geralmente contato com o solo.
- Principais palhas utilizadas: da palmeira do buriti, do babaçu, do acuri.
- O principal cipó utilizado é a embira.
O perigo de uma história única
Por Chimamanda Ngozi Adichie
https://valkirias.com.br/o-perigo-de-uma-historia-unica/
O perigo da história única do índio
O sentido da criação
Muitas criações indígenas marcam o estilo de seus diferentes grupos. São
materializações de complexas redes de interações que supõem conjuntos de
significados. São objetos que condensam ações, relações, emoções e sentidos,
porque é através do artefato que as pessoas agem, se relacionam, se produzem.
"O mundo é composto por muitas camadas, os diversos mundos são
pensados enquanto simultâneos, presentes e em contato, embora nem
sempre perceptíveis. O papel da arte é o de comunicar uma percepção
sintética dessa simultaneidade das diferentes realidades". (LAGROU,2013
p.93)
Aldeia Yawalapiti (Xingu)
Possui uma arquitetura feita a partir de
formas circulares e ovais. As casas são
dispostas ao redor de um espaço
central. Simbolizam a ideia de comunal
de sociedade, onde todos estão
integrados. Os espaços internos da
casa não possuem divisão, exceto os
gabinetes onde ficam os adolescentes
em reclusão pubertária, os casais com
filhos recém nascidos e os viúvos no
período de luto.
Liderança artística
Na maior parte das sociedades indígenas
brasileiras o papel do
artista/artesão/arquiteto não é uma
especialização. Ressalva para os povos
Kaxinawá (Amazônia), onde a mestre da
tecelagem é chamada de ainbu keneya:
"mulher com desenho" ou "dona dos japins".
Japim é um pássaro que tece elaborados
ninhos, serve como metáfora de excelência
na tecelagem. A tecelagem dos povos
Kaxinawá é vista como identidade no tecido
da vida.
Grafismos indígenas
- Meio de identificar grupos.
- Pode indicar a quantidade de
filhos, posição social,
cumprimento de ritos de
passagem dependendo da
cultura.
- Usados como pintura corporal,
tecelagem, cestaria, pintura em
tela e em utensílios.
O que é história decolonial?
Estudo decolonial
- O fim da colônia não significa o fim
das práticas coloniais.
- O que os pensadores decoloniais anunciam e denunciam é a
predominância de um tipo de pensamento criado apenas por europeus
que acabam dominando os currículos dentro da academia de países que
foram colonizados; excluindo ou exterminando outras vozes que podem
contribuir.
- Os pensadores coloniais não pensam a mesma coisa, vem de influências
muito distintas. O ponto em comum é a crítica e prática contra o sistema
colonial moderno.
- Epistemicídio = não permitir o conhecimento sobre a cultura de outros povos,
predominância de um único repertório. Gravidade ética.
- A realidade não tem como ser compreendida a partir de um ângulo só, ela é
a síntese de múltiplas determinações.
- Repensar nossos cruzamentos culturais.
- Valorizar as diferenças culturais para mudar a realidade.
Por quê estudar arquitetura indígena?
- Rever a noção de "tecnologia avançada";
- Assimilar soluções sustentáveis;
- Adaptar às condições ambientais;
- A releitura das casas proporcionam conforto
térmico e praticidade estrutural;
- Adaptabilidade ao contexto;
- Interlocução com a comunidade.
https://www.archdaily.com.br/br/950675/criand
o-projetos-a-partir-de-um-olhar-decolonial
Bibliografia
https://www.caurn.gov.br/?p=10213&utm_medium=website&utm_source=archdaily.com.br
LAGROU, Els. "Arte indígena no Brasil: agência, alteridade e relação. Editora c/ Arte. Belo Horizonte, 2013.
PORTOCARRERO, José Afonso Botura. “Tecnologia indígena em Mato Grosso: habitação”. 2. ed. Cuiabá:
entrelinhas, 2018.
WAISMAN, Marina. “O interior da história: historiografia arquitetônica para uso de latino-americanos”. São Paulo,
SP: Perspectiva, 2019.
Casa Bororo
- Organização circular
- Modo tradicional com 100m
de diâmetro.
- Espaço igual entre uma casa
a outra.
- Baito ao centro: casa dos
homens.
- Bororos são os primeiros
habitantes indígenas do
Mato Grosso.
Baito ou bái Bororo (casa dos homens)
Casa Bororo atualmente
Casa Bororo com folhas de babaçu
Casa Bororo. Foto: Kim-
Ir-Sem, 1985. Fonte:
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:
Bororo
O desenho vernacular das casa
indígenas
Casa Bakairi (MT)
- Habitação tipo colmeia.
- Parecida com as casas
Xinguanas e Paresi,
porém um pouco mais
pontuda na cueeira.
- Piso duríssimo.
- Vegetação predominante:
cerrado.
- Vivem nas terras
indígenas Bakairi e em
Santana.
Casa Bakairi (MT)
Casa Bakairi (MT)
Casa Bakairi (MT)
Possível desenho de um ãtã circular (casa menor Bakairi)
Casa Bakairi tipo maior
Corte longitudinal
Corte transversal
Karajá/Javaé
. Tronco linguístico Macro-Jê, família linguística Karajá.
. Etnia dividida em 3 subgrupos: Karajá, Javaé e Xambioá.
. Sem registros iniciais, apenas habitações influenciadas pelo contato.
1) Casas pseudotradicionais: matéria prima é quase exclusivamente palha e
madeira.
2) Casas mistas: Uso de palha, madeira e outros materiais.
3) Casa de alvenaria, com tijolos cozidos e cobertura de fibrocimento.
4) Casa de pau-a-pique ou alvenaria e cobertura com telhas de barro.
5) Casa de alvenaria com cobertura de zinco.
6) Casa de alvenaria com cobertura de palha.
Casa Karajá pseudotradicional de seção ogival
Casa Karajá pseudotradicional
Casa Karajá pseudotradicional
Casa Karajá pseudotradicional
Casa Karajá pseudotradicional
Casa Karajá pseudotradicional
As Casas Karajás são construídas em duas fileiras paralelas ao rio.
A festa ritualística do
Hetohoky (Casa
Grande)é realizada
segundo a tradição
do povo Iny (Karajá)
para marcar o rito de
passagem dos
meninos ariranha
(jyrè) para o círculo
de convivência
masculino.
Casa Xavante
. Casa = rí
. Desenho original de planta circular.
. Diâmetro entre 5 e 6 metros, altura 4,5m.
. Porta voltada para o centro da aldeia.
. Casa abriga até 4 famílias.
. Quarta maior população indígena do
país. Cerca de 24 mil indivíduos.
Etapas de construção da casa
Xavante (desenho de Maria
Carolina Young Rodrigues)
*ler pág 188
Casa Xavante
tradicional
Planta baixa
Casa Xavante tradicional
Casa Xavante tradicional (rí)
Casa Xavante tradicional (rí)
Casa Xavante tradicional (rí)
Estas casas,
recentemente
construídas,
parecem retomar
o desenho de
planta circular que
havia sido
substituída pelas
plantas poligonais
ou retangulares.
Em outras aldeias xavante, permanece a casa com a planta retangular feita
totalmente de madeira e palha.
Filme realizado
pelos jovens
Xavante em
parceria com o
coletivo Raiz das
Imagens a partir
das oficinas
realizadas nas
aldeias Santa Cruz
e Belem durante o
projeto Tiba´uwe
nos meses de
agosto e setembro
de 2013.
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  • 1. Arte e arquitetura indígena
  • 2. " A natureza do homem é a mesma, seus hábitos que os mantém separados". Confúcio
  • 3. Em geral, ao se depararem com a diversidade cultural a postura dos pensadores e analistas da cultura varia entre um olhar etnocêntrico, ou um relativismo cultural.
  • 4.
  • 5. Etnocentrismo: característica de quem considera o seu grupo, nação ou cultura mais importante do que os demais. O próprio grupo cultural como centro de tudo. Os outros grupos são pensados a partir dos nossos valores, modelos e definições do que é existência. Dificuldade em olhar a diferença trazendo a sensação de estranheza, medo, hostilidade, etc. Relativismo cultural: Ter uma visão neutra diante do conjunto de hábitos, crenças e comportamentos que a princípio lhe parecem estranhos. A cultura só pode ser considerada dentro de seu próprio contexto cultural. Foi desenvolvida pela antropologia para romper com comparações que emitem um juízo de valor. Crítica das abordagens evolucionistas que classificam culturas em primitivas ou avançadas. Se afastar da própria cultura para entender o outro.
  • 6. - Determinismo biológico e geográfico: Surgiu no séc XIX como uma tentativa de justificar os preconceitos e a violência contra grupos minoritários. - A antropologia defende que as diferenças biológicas e geográficas não defendem as diferenças culturais de uma sociedade. Não existe nenhum dado científico que comprove que raças e grupos humanos possuem diferenças ou superioridades genéticas. - O comportamento humano independe da genética, mas depende da vivência e experiências - de sua visão cultural.
  • 7. - Cultura = conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes, ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos por pessoas como membros de uma sociedade. - O ser humano é o resultado do meio cultural em que foi socializado. - Os extintos são resultado da cultura e não da biologia, caso contrário todos iriam responder da mesma maneira, e isso não acontece. - Compreender a cultura é compreender a natureza humana. - A cultura é como uma "lente", onde é usada para compreender o mundo. Então cada cultura tem sua "lente", sua visão de mundo. - Nenhum indivíduo conhece completamente o seu próprio sistema cultural, mas é necessário ter pelo menos um conhecimento deste para conseguir agir dentro da sociedade. - Cada sistema cultural está sempre em mudança. - É essencial entender que as diferenças sociais estão na sociedade.
  • 8. A importância de se estudar a cultura indígena se dá uma vez que temos vários povos e grupos étnicos diferentes, assim como diferentes tradições e visões de mundo. De maneira equivocada, é muito comum achar que indígenas são um povo único. Mas, há hoje 305 etnias indígenas no Brasil, com diferentes pontos de vista.
  • 9. Etimologia - indígena "Natural do lugar em que vive, gerado dentro da terra que lhe é própria". 'relativo a ou população autóctone de um país ou que neste se estabeleceu anteriormente a um processo colonizador» ou «relativo a ou indivíduo que habitava as Américas em período anterior à sua colonização por europeus»; por extensão de sentido (uso informal), é «que ou o que é originário do país, região ou localidade em que se encontra; nativo».' in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte- iul.pt/consultorio/perguntas/a-etimologia-das-palavras-indigena-e-indigente/26406 [consultado em 31-10-2022]
  • 10. Atualmente, segundo o ISA (Instituto Socioambiental), existem no Brasil 227 povos indígenas, somando 600 mil pessoas falantes de mais de 180 línguas e dialetos. Cada povo tem sua cultura, tradição, cosmologia, arquitetura e arte.
  • 11.
  • 12. A casa indígena tradicional As casas indígenas tradicionais são construídas segundo um projeto não desenhado, porém existente na tradição. - paredes-cobertura plana - parede-cobertura curva Em ambos a estrutura é de madeira e as peças são de roliça. Arranjos estruturais: um principal e um secundário. No arranjo secundário está fixada a trama de palha que forma o conjunto da parede-cobertura.
  • 13. Casa de parede-cobertura plana - Pilares dispostos longitudinalmente, que apoiam na viga-cumeeira - A viga-cumeeira sustenta um sistema de quadros transversais triangulares. - Uma peça vertical sustenta sustenta diretamente a cueeira e as duas peças laterais inclinadas
  • 14.
  • 15. Casa de parede-cobertura curva - Possui o mesmo quadro longitudinal formado pela cumeeira e por pilares verticais de sustentação da cumeeita. - Arranjo de varas encurvadas , fincadas no terreno e apoiadas sobre cumeeira. - A curvatura das varas é obtida pela flexão produzida ao tocarem em um conjunto de pilaretes, que finalmente definem o desenho da casa.
  • 16. Casa de parede-cobertura curva - Pilaretes de madeira são independentes das coberturas-parede. - Pilaretes feitos com peças de madeira lavradas como pilares, fincadas diretamente no solo, como se fossem uma mureta. - Pequena distância entre os pilaretes amarrados em cipó. - Não possui paredes verticais de fechamento nem paredes no interior.
  • 17.
  • 18. Outras características - Pé direito alto, igual ou acima de 4,5m podendo chegar a 8m. - Manutenção frequente da palha. - Varredura diária do piso e arrumação do interior. - Entre 4 a 8 anos a palha é completamente trocada. - Impermeabilização interna por meio da fuligem das fogueiras formando uma película interna e escura da palha. - Não possui janelas. - Duas portas. - Piso seco de chão batido, sem desníveis, mantido sempre limpo.
  • 19. Conforto ambiental - Pé-direito alto: frescas durante o dia e aconchegantes durante a noite. - Parede-cobertura: eficiente como isolante térmico, apresenta alguma permeabilidade ao ar por meio de suas microfrestas. - Fluxo de ar constante e sutil. - Ausência de janelas: evita a incidência solar no interior da casa. Durante a noite o calor do fogo é conservado e a temperatura interior fica mais agradável que o exterior.
  • 20. Materiais - Madeiras utilizadas na estrutura. - Folhas das palmas utilizadas como cobertura e vedação. - madeiras mais duras utilizadas como esteios. - Madeiras mais leves utilizadas como vigamento ou estrutura secundária, não tendo geralmente contato com o solo. - Principais palhas utilizadas: da palmeira do buriti, do babaçu, do acuri. - O principal cipó utilizado é a embira.
  • 21. O perigo de uma história única Por Chimamanda Ngozi Adichie https://valkirias.com.br/o-perigo-de-uma-historia-unica/
  • 22. O perigo da história única do índio
  • 23. O sentido da criação Muitas criações indígenas marcam o estilo de seus diferentes grupos. São materializações de complexas redes de interações que supõem conjuntos de significados. São objetos que condensam ações, relações, emoções e sentidos, porque é através do artefato que as pessoas agem, se relacionam, se produzem. "O mundo é composto por muitas camadas, os diversos mundos são pensados enquanto simultâneos, presentes e em contato, embora nem sempre perceptíveis. O papel da arte é o de comunicar uma percepção sintética dessa simultaneidade das diferentes realidades". (LAGROU,2013 p.93)
  • 24. Aldeia Yawalapiti (Xingu) Possui uma arquitetura feita a partir de formas circulares e ovais. As casas são dispostas ao redor de um espaço central. Simbolizam a ideia de comunal de sociedade, onde todos estão integrados. Os espaços internos da casa não possuem divisão, exceto os gabinetes onde ficam os adolescentes em reclusão pubertária, os casais com filhos recém nascidos e os viúvos no período de luto.
  • 25. Liderança artística Na maior parte das sociedades indígenas brasileiras o papel do artista/artesão/arquiteto não é uma especialização. Ressalva para os povos Kaxinawá (Amazônia), onde a mestre da tecelagem é chamada de ainbu keneya: "mulher com desenho" ou "dona dos japins". Japim é um pássaro que tece elaborados ninhos, serve como metáfora de excelência na tecelagem. A tecelagem dos povos Kaxinawá é vista como identidade no tecido da vida.
  • 26. Grafismos indígenas - Meio de identificar grupos. - Pode indicar a quantidade de filhos, posição social, cumprimento de ritos de passagem dependendo da cultura. - Usados como pintura corporal, tecelagem, cestaria, pintura em tela e em utensílios.
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  • 31. O que é história decolonial?
  • 32. Estudo decolonial - O fim da colônia não significa o fim das práticas coloniais. - O que os pensadores decoloniais anunciam e denunciam é a predominância de um tipo de pensamento criado apenas por europeus que acabam dominando os currículos dentro da academia de países que foram colonizados; excluindo ou exterminando outras vozes que podem contribuir.
  • 33. - Os pensadores coloniais não pensam a mesma coisa, vem de influências muito distintas. O ponto em comum é a crítica e prática contra o sistema colonial moderno. - Epistemicídio = não permitir o conhecimento sobre a cultura de outros povos, predominância de um único repertório. Gravidade ética. - A realidade não tem como ser compreendida a partir de um ângulo só, ela é a síntese de múltiplas determinações. - Repensar nossos cruzamentos culturais. - Valorizar as diferenças culturais para mudar a realidade.
  • 34. Por quê estudar arquitetura indígena? - Rever a noção de "tecnologia avançada"; - Assimilar soluções sustentáveis; - Adaptar às condições ambientais; - A releitura das casas proporcionam conforto térmico e praticidade estrutural; - Adaptabilidade ao contexto; - Interlocução com a comunidade. https://www.archdaily.com.br/br/950675/criand o-projetos-a-partir-de-um-olhar-decolonial
  • 35. Bibliografia https://www.caurn.gov.br/?p=10213&utm_medium=website&utm_source=archdaily.com.br LAGROU, Els. "Arte indígena no Brasil: agência, alteridade e relação. Editora c/ Arte. Belo Horizonte, 2013. PORTOCARRERO, José Afonso Botura. “Tecnologia indígena em Mato Grosso: habitação”. 2. ed. Cuiabá: entrelinhas, 2018. WAISMAN, Marina. “O interior da história: historiografia arquitetônica para uso de latino-americanos”. São Paulo, SP: Perspectiva, 2019.
  • 36. Casa Bororo - Organização circular - Modo tradicional com 100m de diâmetro. - Espaço igual entre uma casa a outra. - Baito ao centro: casa dos homens. - Bororos são os primeiros habitantes indígenas do Mato Grosso.
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  • 39. Baito ou bái Bororo (casa dos homens)
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  • 42. Casa Bororo com folhas de babaçu
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  • 47. Casa Bororo. Foto: Kim- Ir-Sem, 1985. Fonte: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo: Bororo
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  • 49. O desenho vernacular das casa indígenas
  • 50. Casa Bakairi (MT) - Habitação tipo colmeia. - Parecida com as casas Xinguanas e Paresi, porém um pouco mais pontuda na cueeira. - Piso duríssimo. - Vegetação predominante: cerrado. - Vivem nas terras indígenas Bakairi e em Santana.
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  • 55. Possível desenho de um ãtã circular (casa menor Bakairi)
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  • 63. Karajá/Javaé . Tronco linguístico Macro-Jê, família linguística Karajá. . Etnia dividida em 3 subgrupos: Karajá, Javaé e Xambioá. . Sem registros iniciais, apenas habitações influenciadas pelo contato. 1) Casas pseudotradicionais: matéria prima é quase exclusivamente palha e madeira. 2) Casas mistas: Uso de palha, madeira e outros materiais. 3) Casa de alvenaria, com tijolos cozidos e cobertura de fibrocimento. 4) Casa de pau-a-pique ou alvenaria e cobertura com telhas de barro. 5) Casa de alvenaria com cobertura de zinco. 6) Casa de alvenaria com cobertura de palha.
  • 64. Casa Karajá pseudotradicional de seção ogival
  • 70. As Casas Karajás são construídas em duas fileiras paralelas ao rio.
  • 71. A festa ritualística do Hetohoky (Casa Grande)é realizada segundo a tradição do povo Iny (Karajá) para marcar o rito de passagem dos meninos ariranha (jyrè) para o círculo de convivência masculino.
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  • 74. Casa Xavante . Casa = rí . Desenho original de planta circular. . Diâmetro entre 5 e 6 metros, altura 4,5m. . Porta voltada para o centro da aldeia. . Casa abriga até 4 famílias. . Quarta maior população indígena do país. Cerca de 24 mil indivíduos.
  • 75. Etapas de construção da casa Xavante (desenho de Maria Carolina Young Rodrigues) *ler pág 188
  • 81. Estas casas, recentemente construídas, parecem retomar o desenho de planta circular que havia sido substituída pelas plantas poligonais ou retangulares.
  • 82. Em outras aldeias xavante, permanece a casa com a planta retangular feita totalmente de madeira e palha.
  • 83. Filme realizado pelos jovens Xavante em parceria com o coletivo Raiz das Imagens a partir das oficinas realizadas nas aldeias Santa Cruz e Belem durante o projeto Tiba´uwe nos meses de agosto e setembro de 2013.