Este documento discute a relação entre educação ambiental e educação indígena, com foco na comunidade Terena da Aldeia Buriti. Ele explora como desenvolver uma educação ambiental que respeite os princípios da educação indígena diferenciada e fortaleça a autonomia indígena. Também destaca a necessidade de incluir discussões ambientais no currículo escolar indígena e de abordagens que reflitam as percepções e saberes locais sobre meio ambiente e território.
Práticas educativas em alternância de denize monteiro de lima
Ed. ambiental
1. Título: Educação ambiental e educação indígena: a emergência do diálogo
O texto oferece resultados parciais de uma investigação sobre a percepção de
ambiente e natureza entre os índios Terena da Aldeia Buriti em Mato Grosso do
Sul. O principal objetivo é apontar elementos para reflexões sobre possibilidades
e dificuldades no desenvolvimento de propostas de educação ambiental em
comunidades indígenas. O ponto focal da discussão que ora se apresenta é a
promoção de um diálogo entre a educação indígena e a educação ambiental,
tratadas, neste trabalho, como campos que permeiam o debate sobre a educação
brasileira.
As informações levantadas são fruto da aproximação realizada em função dessa
investigação desenvolvida junto aos professores da Escola Alexina Rosa
Figueiredo, localizada na Aldeia. A metodologia utilizada se pauta nos estudos
etnográficos em diálogo com os professores.
A partir da Constituição Federal de 1988 e das Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira - Lei N. 9394/1996, vem sendo desenhado um novo modelo de
educação formal para os povos indígenas, resultando, inclusive, no Referencial
Curricular Nacional da Educação Indígena (RCNEI/1998). Da mesma forma,
nesse período também se consolida uma proposta de educação ambiental no
Brasil, referendada pela Política Nacional de Educação Ambiental – Lei N.
9.795/1999.
Destaca-se que a educação indígena diferenciada é uma antiga reivindicação das
sociedades indígenas e sugere a escola como um espaço de construção de
relações sociais fundamentadas na interculturalidade e na autonomia política.
A educação ambiental, por sua vez, também tem sua gênese nas reivindicações
dos movimentos sociais e, na atualidade, caracteriza-se como proposta político-
pedagógica referendada por teóricos, educadores, administradores e diversas
organizações. Ao longo das últimas décadas emergiu um arcabouço teórico de
sustentação às ações de educação ambiental. Embora, ainda haja carências
substanciais em termos metodológicos para a sua efetivação, observa-se a cada
ano um aumento significativo da demanda por projetos e programas nessa
modalidade. Tal cenário traduz a crescente preocupação com os problemas
socioambientais vivenciados pela sociedade brasileira, de forma ampla e geral e,
também, de forma pontual, como o que se constata em diversas comunidades
indígenas, quilombolas, ribeirinhas, dentre outras.
Diante do presente esforço de aproximar e fazer dialogar as duas propostas,
questiona-se: como desenvolver uma educação ambiental de forma a contemplar
os princípios da educação indígena diferenciada, tendo como base, sobretudo, os
preceitos de uma educação ambiental crítica (LOUREIRO, 2004; CARVALHO,
2004), ancorada numa pedagogia ambiental (LEFF, 2006; MUÑOZ, 2003) capaz
de potencializar a autonomia indígena e, consequentemente, a educação própria
dessas comunidades.
Muñoz (2003) destaca a experiência comunitária como um aspecto central na
pedagogia indígena, pela qual são compartilhados saberes e habilidades. Esta
2. capacidade fortalece a possibilidade real dos indígenas desenvolverem uma
educação diferenciada.
Na concepção de Leff (2006) a pedagogia ambiental se baseia em uma nova ética
que deve ser vivida no âmbito dos processos educativos. A imaginação criativa e
a visão prospectiva são necessárias para provocar um novo saber e uma nova
racionalidade conveniente para fecundar o desejo e provocar ações solidárias que
transformam o ambiente.
O contato com a comunidade Terena da Aldeia Buriti forneceu pistas para
provocar o debate sobre a relação entre a educação indígena e a educação
ambiental.
Embora em andamento, a pesquisa revela a necessidade absoluta de a escola
indígena inserir a discussão ambiental em seu currículo. Resultados parciais
revelam um desejo dos professores pela abordagem da temática e uma
insegurança na forma de efetivá-la.
Também se constata que, nessa comunidade, assim como na sociedade
envolvente, prevalecem concepções e abordagens simplistas de educação
ambiental, voltadas a questões pontuais carentes de reflexões sobre as principais
causas da degradação socioambiental.
Nesse sentido, a representação de um mundo pedagógico próprio dos indígenas
pode contribuir para uma educação ambiental mais efetiva, na medida em que
permita que os atores reflitam sobre seu mundo vivido e protagonizem suas
práticas educativas.
A investigação revela ainda que as questões territoriais emergem como centrais
no currículo da educação indígena. Assim, os conceitos de território,
territorialidade e pertencimento são fundamentais (HAESBAERT, 2004). Tratar da
exigüidade dos territórios indígenas e da conseqüente precariedade das
condições de vida vigentes nesses espaços é função de uma educação
comprometida com a transformação socioambiental.
Dessa forma, desvelar a percepção do ambiente e de natureza dos Terena e os
saberes próprios dessa cultura são aspectos importantes para uma educação
etnoambiental, ou seja, uma educação que reúna os preceitos da educação
ambiental e da educação indígena.
Referências:
CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico.
São Paulo: Cortez, 2004.
HAESBERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à
multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
LEFF, E. Complejidad, racionalidad ambiental y diálogo de saberes: hacia
una pedagogía ambiental. In: Anais do V Congresso Iberoamericano de Educação
Ambiental. Joinville, Brasil, 4-8 de abril de 2006.
LOUREIRO, C. F. B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. São
Paulo: Cortez, 2004.
MUÑOZ, M. G. Saber indígena e meio ambiente: experiências de aprendizagem
comunitária. In: LEFF, E. (org.) A complexidade ambiental. São Paulo: Cortez,
2003 (p. 282-322).