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FACULDADE CÁSPER LÍBERO
MAÍRA MEDEIROS
Empreendedorismo feminino pela comunicação digital:
um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de
canais de educação a distância e redes sociais colaborativas
São Paulo
2016
1
MAÍRA MEDEIROS
Empreendedorismo feminino pela comunicação digital:
um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher pormeio de
canais de educação a distância e redes sociais colaborativas
Trabalho de conclusão de curso de Pós-
Graduação lato sensu apresentado à Faculdade
Cásper Líbero como requisito parcial para a
especialização em Teorias e Práticas da
Comunicação.
Orientadora: Profa. Dra. Roberta Brandalise
São Paulo
2016
2
Medeiros, Maíra Veloso
Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as
oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância
e redes sociais colaborativas / Maíra Veloso Medeiros. -- São Paulo, 2016.
268 f. ; 30 cm.
Orientadora: Profa. Dra. Roberta Brandalise
Monografia (lato sensu) – Faculdade Cásper Líbero, Programa de Pós-
Graduação em Teorias e Práticas da Comunicação
1. Empreendedorismo feminino. 2. Aprendizagem virtual. 3. Comunicação
digital. I. Brandalise, Roberta. II. Faculdade Cásper Líbero, Programa de Pós-
Graduação lato sensu em Teorias e Práticas da Comunicação. III. Título.
3
MAÍRA MEDEIROS
Empreendedorismo feminino pela comunicação digital:
um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher pormeio de
canais de educação a distância e redes sociais colaborativas
Trabalho de conclusão de curso de Pós-
Graduação lato sensu apresentado à Faculdade
Cásper Líbero como requisito parcial para a
especialização em Teorias e Práticas da
Comunicação.
Orientadora: Profa. Dra. Roberta Brandalise
__________________
Data da aprovação
Banca examinadora:
________________________________________
________________________________________
São Paulo
2016
4
AGRADECIMENTOS
À Lucitânia, mãe e incentivadora, responsável pelos maiores apoios em minha
trajetória acadêmica e profissional.
Aos professores da pós-graduação da Faculdade Cásper Libero, pelos
ensinamentos fundamentais para a conclusão do curso.
Em especial, à professora Dra. Roberta Brandalise, minha orientadora, por suas
aulas magníficas, aconselhamentos, incentivos e por ser um modelo de
inspiração profissional e acadêmico.
5
RESUMO
A pesquisa analisou o conteúdo e o impacto das ferramentas de comunicação digital que
apresentam às mulheres oportunidades de trabalho e as capacitam para o empreendedorismo,
por meio da investigação da apropriação da informação e da realização de cursos com foco
em negócios em seu dia a dia. As abordagens metodológicas adotadas foram: as contribuições
das escolas de administração, educação e comunicação para a investigação acerca do
empreendedorismo feminino, da aprendizagem virtual e da comunicação digital; as
colaborações de Dijk e Bakhtin sobre as discussões de discurso e poder e sobre dialogismo; e
a abordagem construtivista e fenomenológica para a interpretação das construções de mundo e
experiências das empreendedoras. Foram analisados os sentidos e efeitos de sentido
manifestados nos textos visuais e escritos extraídos dos sites Rede Mulher Empreendedora,
Escola de Você, Sebrae e revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, e exploradas as
compreensões a partir de pesquisas qualitativa e quantitativa com empreendedoras brasileiras.
Constatou-se que os conteúdos e cursos geram mais oportunidades para as mulheres ao
possibilitar o seu empoderamento e a sua independência financeira, e ao prepará-las em sua
educação técnica para o desenvolvimento dos seus negócios, fortalecendo a prática
empreendedora, e impulsionando economias mais fortes, justas e estáveis.
Palavras-chave: Empreendedorismo feminino. Aprendizagem virtual. Comunicação digital.
6
ABSTRACT
The research analyzed the content and the impact of digital communication tools that present
to women job opportunities and enable them to entrepreneurship, through research of
information ownership and of courses focused on business in their day to day. The adopted
methodological approaches were: the contributions of business, education and communication
schools for research on women's entrepreneurship, virtual learning and digital
communication; collaborations of Dijk and Bakhtin on the discourse discussions about power
and dialogism; and the constructivist and phenomenological approach to the interpretation of
the world of constructions and experiences of entrepreneurs. Sense and meaning effects were
analyzed manifested in the visual texts and writings extracted from the websites Woman
Entrepreneur Network (Rede Mulher Empreendedora), School of You (Escola de Você),
Sebrae and magazine Small Business & Big Business (revista Pequenas Empresas & Grandes
Negócios), and explored the insights from qualitative and quantitative research with Brazilian
entrepreneurs. It was found that the content and courses generate more opportunities for
women to enable their empowerment and financial independence, and to prepare them for
their technical education for the development of their business, strengthening the
entrepreneurial practice, and driving strongest, fairest and more and stable economies.
Keywords: Women's entrepreneurship. Virtual learning. Digital communication.
7
LISTA DE SIGLAS E DE ABREVIATURAS
ABED Associação Brasileira de Educação à Distância
AD Análise de discurso
AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
CSCL Computer Supported Cooperative Learning (Aprendizado cooperativo
suportado por computadores)
DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
EAD Educação a Distância
ECD Estudos críticos de discurso
FGV ou GV Fundação Getúlio Vargas
GEM Global Entrepreneurship Monitor (Monitor de Empreendedorismo Global)
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MEI Micro-empreendedor individual
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
P2P Peer to Peer (Processo de produção par a par – colaborativo)
PEGN Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios
Quali Pesquisa qualitativa
Quanti Pesquisa quantitativa
RME Rede Mulher Empreendedora
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
TEA Total Early Stage Entrepreneurship Activity (Taxa de atividade de
empreendimento em estágio inicial)
8
SUMÁRIO
1 Introdução 10
2 Empreendedorismo, aprendizagem virtual e comunicação digital – desafios,
paradigmas e novas perspectivas 18
2.1 Empreendedorismo feminino: abordagens administrativas, motivações e cenários
adversos 18
2.1.1 Empreendedorismo feminino: representações sociais e contexto econômico e
cultural 23
2.1.2 Principais impactos da atuação feminina no empreendedorismo 31
2.2 Aprendizagem virtual e educação à distância: desafios brasileiros, obstáculos à
equidade de gênero e principais plataformas de trabalho 50
2.2.1 Educação e qualificação profissional feminina: ferramenta de
empoderamento global 66
2.3 Comunicação digital: acessibilidade às tecnologias, fluxos e relações virtuais no
ciberespaço 68
2.3.1 Redes colaborativas e sociedade da informação: compartilhamento, criação
de conhecimento e educação 75
3 Os ambientes de aprendizagem: análise dos sites Rede Mulher Empreendedora, Escola
de Você, Sebrae e revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios 82
3.1 Rede Mulher Empreendedora 83
3.2 Escola de Você 91
3.3 Sebrae 98
3.4 Pequenas Empresas & Grandes Negócios (PEGN) 104
3.5 Ambientes virtuais em perspectiva 115
4 Análise de conteúdos de aprendizagem e interação nos ambientes virtuais 118
4.1 Análise de discurso nos artigos do site Rede Mulher Empreendedora 120
4.2 Análise de discurso nos artigos do site do Sebrae 128
4.3 Análise de discurso nos artigos do site da revista PEGN 130
4.4 Análise de discurso nos vídeos do site Escola de Você 135
4.5 Análise de discurso nos vídeos do site do Sebrae 144
9
4.6 Análise de discurso nos vídeos do site da revista PEGN 151
4.7 Considerações analíticas sobre os conteúdos analisados nos ambientes virtuais 156
5 Impacto das ferramentas de comunicação digital e efeitos de sentido nas
empreendedoras 159
5.1 Impactos das ferramentas de comunicação digital para o empreendedorismo feminino:
interpretações e compreensões de sentido 167
5.2 Análises das interpretações de pesquisas com empreendedoras: considerações
conclusivas 184
6 Considerações finais 187
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 196
APÊNDICE A - Roteiro das entrevistas em profundidade 203
APÊNDICE B - Transcrição das entrevistas em profundidade 204
APÊNDICE C - Questionário e resultados da pesquisa quantitativa 224
APÊNDICE D - Quadros de categorização das análises das entrevistas 230
ANEXO A - Artigos extraídos do site Rede Mulher Empreendedora 244
ANEXO B - Artigos extraídos do site do Sebrae 254
ANEXO C - Artigos extraídos do site da revista PEGN 260
10
1 Introdução
O estímulo ao empreendedorismo, principalmente em populações de baixa renda e
escolaridade, nas quais há, de maneira comum, o raro acesso à educação formal acadêmica e
técnica, tem sido uma das principais válvulas de crescimento da economia em países em
desenvolvimento, principalmente em ciclos de crise de empregos formais e desintegração de
setores tradicionais, como a indústria e o comércio. No entanto, ao observar o
empreendedorismo exclusivamente feminino, pode-se notar uma força complementar: seja
pela necessidade da criação dos filhos, ao liderar suas famílias, seja pela necessidade de
independência financeira, após a dissolução de um casamento ou relacionamento conjugal,
observa-se que as mulheres que encontram o caminho do empreendedorismo tornam-se
importantes mecanismos de oxigenação de suas economias locais, retomam sua auto-estima, e
constituem núcleos de fortalecimento de laços comunitários e familiares nos locais onde
residem e trabalham. Algumas pesquisas sobre o empreendedorismo, tanto global, quanto
brasileiro, como as desenvolvidas pelo GEM (Global Entrepreneurship Monitor) e pelo
Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) demonstram estas
conclusões.
A desigualdade de gênero intriga e incomoda, principalmente nos aspectos
relacionados ao mercado de trabalho, por registrar, ainda nos dias atuais, um abismo enorme
para as oportunidades que se apresentam para homens e mulheres. Por que, e até quando,
mulheres receberão menores salários do que os homens, ou terão acesso restrito às vagas de
trabalho apenas por serem mulheres? Neste sentido, uma vasta literatura científica, pesquisas
e cientistas já se debruçaram diretamente sobre o tema da desigualdade de gênero no trabalho.
No entanto, o que chama a atenção é que, apesar das adversidades encontradas em seus
ambientes, tanto culturais, quanto econômicas, há um contingente cada vez maior de mulheres
que não precisaram, e não precisam, aguardar pelas oportunidades: antes, elas são criadoras
de suas próprias histórias e de seus próprios destinos.
E, para que o empreendedorismo feminino se torne uma realidade, duas questões
tornam-se vitais para o seu sucesso: comunicação e acesso. Comunicação, pois há que se
formar e transmitir o conhecimento técnico e específico para cada ramo de negócio, além da
base mínima administrativa para dar suporte à empreendedora iniciante. Acesso, pois as
11
mulheres são, em sua imensa maioria, mães – muitas vezes de filhos em idade escolar –
esposas, ou cuidadoras de algum ente familiar – idosos, adultos com necessidades especiais –
e que, por isso, apresentam dificuldade de deslocamento (por não poderem se ausentar de suas
residências por longos períodos de tempo) ou de tempo (por realizarem muitas atividades
dentro e fora de casa) ou mesmo de ambos. Desta forma, a comunicação digital traz, para
estas mulheres, um vasto universo de oportunidades de empreendedorismo, ao possibilitar o
acesso a ferramentas de educação à distância e a redes sociais colaborativas.
O acesso à informação e à comunicação por meios digitais é, hoje, um dos fatores
essenciais para o desenvolvimento de comunidades em situação de limitação de recursos
financeiros ou em desenvolvimento. Segundo o estudo Value of Connectivity, realizado pela
consultoria Deloitte, e divulgado em fevereiro de 2014, há uma estimativa de que, caso fosse
possível o acesso à internet em países em desenvolvimento a níveis encontrados hoje em
economias desenvolvidas, seria possível incrementar a economia destes países em 25%1
.
E, sobre a questão do empoderamento feminino, segundo o site Weprinciples.org (que
une a sigla em inglês “wep” – ou Women’s Empowerment Principles - à palavra também em
inglês “principles”), desenvolvido pela UN Women, órgão das Nações Unidas voltado para as
questões da mulher,
empoderar a mulher para participar completamente da vida econômica em todos os
setores e níveis de atividade econômica é essencial para construir economias fortes,
estabelecer sociedades mais justas e estáveis, alcançar níveis internacionais para
desenvolvimento, sustentabilidade e direitos humanos, melhorar a qualidade de vida
para mulheres, homens, famílias e comunidades, e impulsionar negócios2
.
Em um relatório3
produzido também pela UN Women, a partir de sua iniciativa WEP
(Women’s Empowerment Principles)4
, alguns dados apresentados mostram a situação ainda
bastante vulnerável da mulher em todo o mundo, o que reforça, ainda mais, a necessidade
emergencial do estímulo ao empoderamento feminino. Entre as informações apresentadas,
estima-se que 70% de toda a população pobre mundial seja de mulheres; cerca de 72% dos 33
milhões de refugiados no mundo são de crianças e mulheres; em média, pelo menos 6 em
1
Value of Connectivity, 23/02/2014. Disponível em: <http://internet.org/press/value-of-connectivity>. Acesso
em: 22 abr. 2015.
2
Disponível em: <http://www.weprinciples.org/Site/Overview/>. Acesso em: 4 jan. 2016.
3
Dados extraídos do relatório “Princípios de Empoderamento das Mulheres – Igualdade significa negócios”,
segunda edição 2011. Disponível em: <http://www.weprinciples.org/Site/ToolsAndReportingWepMaterials/>.
Acesso em: 4 jan. 2016.
4
Princípios de Empoderamento das Mulheres, em tradução livre.
12
cada 10 mulheres são agredidas, forçadas a ter relações sexuais ou são vítimas de qualquer
outra forma de abuso por parte de um parceiro íntimo ao longo da vida; segundo relatório da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Banco de Desenvolvimento Asiático
(ADB) de 2011; 45% das mulheres permaneceram fora do mercado de trabalho, contra 19%
dos homens; segundo estimativa do Banco Goldman Sachs, de 2007, os países poderiam
aumentar seu PIB significativamente ao reduzir a diferença nas taxas de emprego entre
homens e mulheres: a Zona do Euro poderia aumentar o PIB em 13%; o Japão, em 16%; os
Estados Unidos, em 9%; sobre o tema educação, uma em cada cinco meninas matriculadas no
Ensino Fundamental não conclui o 1º. ciclo; e segundo cálculos da Parceria de Aprendizagem
para as Mulheres (Women’s Learning Partnership – WLP), para cada ano escolar que as
meninas frequentam depois da quarta série, os salários aumentam 20%, a mortalidade infantil
se reduz em 10%, e o tamanho da família diminui 20%.
Entre os principais problemas que podem ser analisados a partir destas questões, está a
alta incidência de mulheres fora do mercado de trabalho, explicitada por diversos fatores: a
falta de oportunidades em empregos formais; inflexibilidade em horários de expediente,
impossibilitando a conciliação com a maternidade ou cuidados especiais a idosos; número
menor de vagas oferecidas a mulheres pela não aceitação da possibilidade da maternidade ou
de afastamentos momentâneos para cuidados dos filhos.
Outra importante questão a ser observada é a desigualdade de acesso à informação
digital, que acarreta a impossibilidade de comunicação, formação continuada e educação para
o emprego e para o empreendedorismo.
A falta de oportunidades formais de trabalho para as mulheres, aliada às dificuldades
de acesso às conexões digitais, geram um entrave importante para dificultar o
empoderamento, a independência e a educação feminina, impossibilitando a criação de novos
negócios e, consequentemente, barrando o crescimento de um importante segmento da
economia.
Assim, pode-se observar que tanto as conexões digitais (aliada à educação à distância),
quanto o empoderamento feminino, são questões cruciais, hoje, para o desenvolvimento de
economias e para incrementar a qualidade de vida das populações, principalmente as que
habitam países em desenvolvimento.
Portanto, o objetivo geral desta monografia é analisar o conteúdo e o impacto de
ferramentas de comunicação digital (como sites, cursos de educação à distância e redes
13
sociais colaborativas) que apresentam às mulheres oportunidades de trabalho e as capacitam
para o empreendedorismo. Esta análise se deu, em primeiro lugar, a partir de uma profunda
análise de discurso (AD) para analisar os conteúdos de sites de educação a distância com foco
em cursos para mulheres empreendedoras. O principal objetivo desta estratégia foi
compreender os sentidos e os efeitos de sentido manifestados por meio dos discursos
apresentados nestes cursos. Nesse processo, elementos conceituais da semiótica também
serviram de base na análise da linguagem verbal e não-verbal, nos discursos ou textos
culturais diversos que integraram a amostra da pesquisa. Em segundo lugar, foram realizadas
duas pesquisas: uma de perfil quantitativo, realizado por meio de questionário eletrônico com
empreendedoras participantes da comunidade “Empreendedoras” no Facebook, e outra, de
perfil qualitativo, realizada por meio de entrevistas em profundidade com sete mulheres
empreendedoras, com o objetivo de analisar a apropriação da informação e o impacto da
realização dos cursos focados em empreendedorismo em seu dia a dia.
Ao longo da investigação, procurou-se verificar a hipótese de que o conteúdo dos
canais de comunicação digital gera mais oportunidades para o empreendedorismo feminino, e,
consequentemente, para o seu empoderamento e independência financeira, ao prepará-las em
sua educação técnica e gerencial para o desenvolvimento de seus negócios.
Neste sentido, a comunicação foi contributiva para esta investigação a partir do recorte
da análise das ferramentas de comunicação digital que podem possibilitar e incrementar o
acesso à educação à distância, e permitir o intercâmbio de informações por meio de conexões
colaborativas e que, em conjunto, tornam possíveis e reais as oportunidades de formação
empreendedora e a criação de novos negócios para mulheres.
O objeto de pesquisa proposto para estudo foi composto por sites brasileiros que se
dedicam ao desenvolvimento e divulgação de conteúdos educacionais focados no tema de
empreendedorismo – sendo ele global, ou, em alguns momentos, apresentado como conteúdo
exclusivo para mulheres. Foram estudados, especificamente, os seguintes sites: o Rede
Mulher Empreendedora, plataforma que reúne cursos e rede social de comunicação para
mulheres com pequenas empresas; o Escola de Você, site que oferece cursos gratuitos on-line
exclusivos para mulheres; e os sites do Sebrae e da revista PEGN (Pequenas Empresas &
Grandes Negócios, da Editora Globo). Para seleção destes sites para estudo, foram observados
quatro critérios: relevância e audiência; produção de conteúdos exclusivos para mulheres; e
apresentação de ambiente de relacionamento para construção de redes.
14
No caso do site Rede Mulher Empreendedora, o site foi selecionado pois ele se
constitui como um ambiente digital de relacionamento exclusivo para mulheres: além de
fornecer acesso à conteúdos educacionais sobre o empreendedorismo, permite a construção de
uma rede de relacionamentos entre as mulheres usuárias do site. É uma plataforma pioneira no
Brasil neste sentido, e, hoje, é reconhecido como um dos principais sites fomentadores do
empreendedorismo feminino no Brasil.
O site Escola de Você apresenta conteúdo de educação à distância voltado
exclusivamente para a audiência feminina. Além de cursos de empreendedorismo, apresenta
cursos e conteúdos que remetem a questões do universo da mulher – neste sentido, ele é
inovador, ao buscar foco no nicho de conteúdo feminino.
Já os sites do Sebrae e da revista PEGN foram selecionados por sua relevância,
alcance nacional, grande audiência e reconhecimento – construídos principalmente por sua
atuação extra-site: o Sebrae é a principal instituição brasileira de apoio ao micro e pequeno
empreendedor, reconhecido internacionalmente; já a revista PEGN é a principal revista
mensal brasileira dedicada exclusivamente à conteúdos para o pequeno empresário
(disponível no formato impresso e digital). Apesar de não serem dedicados exclusivamente à
audiência feminina, ambos apresentam conteúdos exclusivos para as mulheres, e apresentam
conteúdos em diversos formatos: vídeo-aulas, podcasts, textos, entrevistas, entre outros.
Apresentam uma oferta maior e mais diversificada de conteúdos sobre o empreendedorismo,
quando comparados com a Rede Mulher Empreendedora e a Escola de Você.
Todos os sites citados são brasileiros, desenvolvidos para populações que vivem no
Brasil e no idioma português. Todos também são de acesso gratuito, mediante cadastro prévio
do usuário.
E, para concretizar esta pesquisa, foi realizada investigação e pesquisa de literatura
acadêmica nos três temas focais de estudo: empreendedorismo, aprendizagem virtual e
comunicação digital, contemplando nestes tópicos uma análise aprofundada das questões
femininas que marcam relevantes discrepâncias na comparação entre os gêneros. Foram
analisadas as principais conceituações teóricas sobre a importância do empreendedorismo
feminino na economia, do papel da educação à distância e ambientes virtuais de
aprendizagem e seu consequente impacto na educação feminina, e para entender o papel
social e educativo da acessibilidade e da comunicação digital, principalmente com relação a
questões de uso colaborativo da rede. Para tal, além da análise teórica, foi feito o
15
levantamento sobre dados de educação à distância e empreendedorismo feminino no Brasil
nos últimos dez anos.
O empreendedorismo, de maneira geral, tem exercido papel essencial no
desenvolvimento das economias de diversos países, em distintos setores produtivos e camadas
sociais. E, quando mencionamos o empreendedorismo feminino, pode-se perceber de forma
ainda mais clara o seu papel transformador para a qualidade de vida e para o crescimento
econômico dos locais onde ele é implementado.
Relatórios elaborados pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM)5
indicam dados
importantes sobre a participação da mulher brasileira na atividade empreendedora. Segundo o
relatório de 2005 deste instituto, o Brasil ocupava a 15ª. posição no empreendedorismo por
oportunidade (quando a motivação para abrir o negócio é espontânea, gerada por um cenário
favorável da economia e de maneira geral instigada pelo perfil de um empreendedor
capacitado e conhecedor da atividade econômica). No entanto, o país ocupava a 4ª. posição
em empreendimentos abertos por necessidade (quando a atividade empreendedora é iniciada
diante da dificuldade do profissional em manter-se ou inserir-se no mercado de trabalho, tanto
com relação à adequação das atividades, quanto com relação à renda).
Outro dado importante, também extraído a partir do relatório do GEM de 2002,
indicava que as mulheres brasileiras representavam, já naquela década, 42% de todos os
empreendedores. Entretanto, as mulheres brasileiras se situam com 16,1% no
empreendedorismo por sobrevivência, contra um percentual masculino de 12,1%.
Ainda segundo dados do GEM, do ano de 2005, quando comparado a outros países no
globo, o Brasil alcança o 3º lugar em número de mulheres empreendedoras, (6,3 milhões),
ficando atrás apenas das norte-americanas e das chinesas.
E, para atingir alcance em locais remotos, ou ainda populações femininas com
restrições de deslocamento, a comunicação digital, por meio dos canais de educação a
distância e redes sociais, torna-se fator crucial para que seja possível formar e capacitar
mulheres para que criem e conduzam seus negócios próprios, e para que possam
retroalimentar economias antes estagnadas ou, minimamente, suprir financeiramente famílias
e comunidades em situação de fragilidade de emprego.
5
In: NATIVIDADE, Daise Rosas da. Empreendedorismo feminino no Brasil: políticas públicas sob análise.
Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro , v. 43, n. 1, p. 231-256, fev. 2009 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122009000100011&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 6 jan. 2016.
16
Esta pesquisa buscou contribuir para os estudos da comunicação com um olhar sobre
as oportunidades de desenvolvimento econômico, por meio da geração de novos negócios,
possibilitadas pela comunicação digital e pelo acesso à capacitação via sites e redes sociais.
Compreender e avaliar iniciativas já desenvolvidas para empoderar as mulheres representa
tornar visíveis as possíveis soluções de geração de trabalho e renda, aliadas a estratégias de
comunicação digital, e vislumbrar economias ativas em ambientes que, sem a força do
empreendedorismo, estariam estagnadas e pouco produtivas.
No entanto, investigar o empoderamento feminino alcançado por meio do
empreendedorismo e das plataformas digitais é não somente estudar possibilidades de
desenvolvimento econômico, mas, sobretudo, possibilitar uma análise sobre os possíveis
caminhos para a independência financeira e a melhoria na qualidade de vida de milhares de
mulheres em todo o país.
E para compreender todo o espectro apresentado para a presente pesquisa, o texto está
organizado em cinco capítulos: no segundo (uma vez que o primeiro é esta introdução),
apresentaram-se as conceituações e os principais dados globais e brasileiros a respeito do
empreendedorismo – e empreendedorismo feminino; da aprendizagem virtual e educação à
distância; e da comunicação digital. Este capítulo apresenta os temas acima nesta ordem, por
haver, nela, certa lógica no entendimento do contexto da pesquisa: primeiro, será apresentado
o tema do empreendedorismo, pois, dentro do macro e micro-ambiente de atuação da mulher,
o empoderamento da mulher (tanto econômico, quanto cultural), é possibilitado a partir do
empreendedorismo. Na sequência, segue a análise sobre educação à distância e aprendizagem
virtual, pois estes são os canais que permitem o empoderamento e o acesso das mulheres para
a educação e formação técnica a respeito do empreendedorismo. E, por último, apresenta-se a
análise sobre a comunicação digital, uma vez que ela torna possível a mediação dos ambientes
virtuais de aprendizagem, por meio dos canais de comunicação, como os sites, as redes sociais
e os conteúdos adaptados para o meio on-line.
A interrelação entre estes três campos de estudo fundamentou o recorte de análises
apresentadas na pesquisa, apresentando as possíveis conexões interdisciplinares entre os
temas e suas principais correntes estudadas até o presente momento.
No terceiro capítulo, apresentou-se a análise dos ambientes onde se encontram os
conteúdos educacionais: os Sites Rede Mulher Empreendedora, Escola de Você, Sebrae e
revista PEGN.
17
Já no quarto capítulo apresentou-se a descrição e análise do conteúdo dos sites (com
foco no tema de empreendedorismo) e suas linguagens, separados por site e por tipo de
discurso (visual ou textual), contemplando a observação a respeito da narrativa do material
selecionado, e entendimento do perfil de temas abordados nos vídeos e artigos. E, por fim, no
quinto capítulo, apresentou-se a análise das pesquisas quantitativa e qualitativa, onde o
objetivo maior foi compreender e interpretar os significados trazidos a partir das entrevistas e
dos dados numéricos obtidos nestas investigações.
18
2 Empreendedorismo, aprendizagem virtual e comunicação digital – desafios,
paradigmas e novas perspectivas
2.1 Empreendedorismo feminino: abordagens administrativas, motivações e cenários
adversos
A literatura a respeito do empreendedorismo é vasta e amplamente estudada por
algumas correntes de saber. No entanto, cada uma delas apresenta um enfoque diferenciado,
de acordo com os seus objetivos e público-alvo analisado.
Entre as ciências que analisam o empreendedorismo, observa-se que a administração
apresenta um foco muito mais generalista da questão, e preocupa-se, principalmente, em
apresentar as suas definições, além de oferecer, na maioria das obras pesquisadas, orientações
e guias para a gestão da abertura de novas empresas. Seu enfoque é, majoritariamente, a
didática das ciências administrativas: o que é uma empresa, o que é missão, o que é
planejamento estratégico, etc. Sua leitura está moldada para a conceituação mecanicista e
técnica sobre o tema, explorando o empreendedorismo fora de seus contextos ambientais e
culturais.
Já para as ciências sociais (e, aqui, pode-se considerar a sociologia e a psicologia
como exemplos), o foco se dá nas relações, nos perfis empreendedores, e, acima de tudo, nas
características do ambiente e da cultura que influenciam na formação e no desenvolvimento
dos empreendedores.
Para esta pesquisa, será analisada a seguir a conceituação do empreendedorismo de
maneira genérica, não a segmentando incialmente pelas questões específicas do gênero
feminino – ponto que será abordado na sequência. Além disso, serão apresentados os
principais aspectos relacionais do empreendedorismo: perfil social do empreendedor,
ambiente, entraves e dificuldades encontradas em seu meio, aspectos educacionais,
econômicos e culturais, e comparativo de oportunidades entre os gêneros.
O conceito de empreendedorismo é apresentado na literatura científica de diversas
formas, mas encontra-se em Chiavenato (2012) uma definição clara e objetiva e que abarca a
maior parte dos tipos de negócios e perfis de empresários. Para o autor,
O empreendedor é a pessoa que inicia e/ou dinamiza um negócio para realizar uma
ideia ou projeto pessoal assumindo riscos e responsabilidades e inovando
continuamente. Essa definição envolve não apenas os fundadores de empresas e
criadores de novos negócios, mas também os membros da segunda ou terceira
19
geração de empresas familiares e os gerentes-proprietários que compram empresas
já existentes de seus fundadores6
.
Em resumo, o empreendedorismo é a prática de criar novos negócios, ou, ainda,
revitalizar negócios já existentes (CHIAVENATO, 2012). Já em Robbins (2001) encontramos
outra definição:
O empreendedorismo é um processo pelo qual os indivíduos buscam oportunidades,
organizam os recursos necessários e, por meio da inovação, abrem seu próprio
negócio, assumindo os respectivos riscos e recompensas do empreendimento e
satisfazendo suas necessidades e desejos.7
Considerando esta definição, pode-se definir como empreendedor não apenas o novo
empresário, o que provoca a abertura de uma empresa (o que seria o conceito primário), mas,
antes, todo aquele que atua de forma inovadora e assume riscos na criação não apenas de
negócios, mas de projetos, ideias e processos. Nesta questão, cabe o conceito de
intraempreendedorismo: atitude de criação para assumir riscos e inovar continuamente
exercida por funcionários dentro de uma empresa na qual não são donas ou sócias
majoritárias.
Na análise da definição do termo empreendedorismo, as palavras risco e incerteza são
as que permeiam a grande maioria das conceituações, além de estarem presentes na quase
totalidade da definição do “perfil empreendedor”. Não à toa, estas palavras estão na base da
palavra que deu origem ao termo. “Empreendedor” tem origem na palavra francesa
“entrepreneur” – e significa aquele que assume riscos e começa algo inteiramente novo
(CHIAVENATO, 2012).
De fato, por assumir os aspectos de risco e incerteza, a palavra deriva adjetivos que
fogem da atividade gerencial ou negocial em si. Segundo o dicionário Melhoramentos, a
definição de empreendedor é “1. Que, ou o que empreende. 2. Ativo, arrojado.”8
. Ainda
segundo o mesmo dicionário, a definição do ato de empreender é “1. Tentar realizar algo
difícil. 2. Pôr em execução. 3. Fazer.”9
O ato de empreender, então, delimita, de alguma forma, o próprio perfil do ator que
busca a atividade empreendedora: é, de certa forma, um realizador, um executor, mas não de
atividades rotineiras e que já sejam desenvolvidas – antes, ele é criador de uma nova
6
LONGENECKER, J. G; MOORE, C.W.; PETTY, W. J. Administração de pequenas empresas. São Paulo:
Makron Books, 1998. P. 3. In: CHIAVENATO, Idalberto. Empreendedorismo: dando asas ao espiríto
empreendedor. Barueri: Manole, 2012. P. 3.
7
GIMENEZ, Fernando, FERREIRA, Jane Mendes, RAMOS, Simone Cristina (org.). Empreendedorismo e
estratégia de empresas de pequeno porte – 3Es2Ps. Curitiba: Champagnat, 2010.
8
BORBA, Francisco da Silva, BAZZOLI, Marina Bortolatti, BORBA, Márcia Rodrigues. Minidicionário da
língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1988. P. 365.
9
_______________________.
20
atividade, de um novo negócio, de um novo processo. Sua atuação se dá, sobretudo, pelo
aspecto da inovação, e, frequentemente, tendo como base contextos adversos e críticos.
Podemos ainda caracterizar o empreendedor em suas tipologias para a condução do
negócio: executor e administrador. O primeiro, executor, caracteriza-se por aquele que
empreende em atividades que atestam as suas habilidades profissionais técnicas: sua
experiência na produção e execução do material ou serviço que será vendido o validam para a
abertura de um negócio. Por exemplo, o caso de um pizzaiolo, que decide abrir sua própria
pizzaria; ou de uma manicure, que abre um salão de beleza. Nestes casos, a habilidade do
profissional está na atividade-fim de seu negócio. Este tipo de empreendimento é o mais
comum encontrado na realidade brasileira. Já para o segundo caso, o administrador, a
habilidade profissional está centrada na gestão e administração do negócio como um todo: o
empreendedor poderá conhecer ou não a atividade-fim da empresa, mas terá conhecimentos
aprofundados nos aspectos gerenciais, tais como abertura de capital, tomada de empréstimos,
mercado, concorrência, contratação de recursos humanos, controle orçamentário, cenário
econômico, entre outras questões. Este perfil de empreendedor é mais comumente encontrado
entre profissionais com renda alta, maior qualificação educacional, ou ainda o que é
comumente chamado na literatura econômica de “investidor”, ou seja, pessoas com capital
disponível para investimento em empresas ou setores da economia que estejam em
crescimento, independentemente do setor de atuação (CHIAVENATO, 2012).
Com relação aos perfis empreendedores, Chiavenato destaca ainda o que seriam as três
características que os identificariam: a necessidade de realização, a disposição para assumir
riscos, e a autoconfiança. No entanto, percebe-se, pelos estudos de Chiavenato, que o foco se
dá apenas no estudo do empreendedor motivado pela oportunidade, ou seja, o indivíduo que
opta pelo empreendedorismo por opção, e que conta, como fatores motivacionais para esta
atuação, intenções de espectro positivo, como inovação e realização. Sabe-se, porém, que a
atividade empreendedora é composta também por aqueles que criam novos negócios por
necessidade – então, por encontrar no empreendedorismo sua última opção para o
recebimento de renda, seja por falta de qualificação para exercer uma atividade como
empregado, seja por cenário econômico com alto índice de desemprego (BRITO; WEVER,
2004; DORNELAS, 2005).
Esta divisão na tipologia – empreendedorismo por necessidade e empreendedorismo
por oportunidade – é apresentada nos estudos do GEM, e é considerada em pesquisas sobre o
tema desenvolvidas pelo Sebrae e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos). Esta divisão, que é, sobretudo, o indicador motivacional da
21
atividade empreendedora, é extremamente relevante, uma vez que o perfil do empreendedor,
de acordo com a sua base motivadora, muda acentuadamente. Assim, apesar de ser importante
a definição objetiva do termo empreendedorismo, sua análise não poderá estar desvinculada
de sua relação com o meio e com o perfil motivacional dos atores participantes, bem como do
contexto econômico, social e cultural em que as atividades são desenvolvidas.
Retomando o enfoque das ciências administrativas, que observam a atividade
empreendedora apartada de seu contexto, encontra-se na literatura algumas das principais
motivações da atividade empreendedora. Entre elas, pode-se listar o forte desejo pela
independência trabalhista, para uma atuação sem chefes; a oportunidade de trabalhar com o
que se mais gosta, no lugar da segurança financeira; possibilidade de desenvolvimento de
iniciativas próprias, sem entraves ou negativas; desejo pessoal de reconhecimento;
possibilidade de ganhos maiores que os alcançados pela atividade empregadora; desafio de
criação de algo novo; etc (CHIAVENATO, 2012).
Além dos aspectos motivacionais, ainda dentro do espectro administrativo,
descontextualizante, encontra-se em McClelland a definição das características do
“empreendedor bem-sucedido”: iniciativa própria, perseverança, determinação,
comprometimento, busca de qualidade e eficiência, coragem para assumir riscos,
planejamento, capacidade de persuasão, estabelecimento de redes de relacionamento,
independência, autonomia e autocontrole (CHIAVENATO, 2012).
Souza, Trindade e Freire (2010) ressaltam alguns autores que abordaram a vertente das
características psicológicas para traçar o perfil do empreendedor. Eles lembram que
McClelland e Weber defendem essa linha de estudo, ao mencionarem que existem traços de
personalidade que seriam próprios de indivíduos empreendedores. No entanto, estes autores
também mencionam que há ainda uma linha de estudos do empreendedorismo que enfatiza a
abordagem sociológica, defendida por autores como Guimarães (2002) e Feuerschutte (2006),
que levam em consideração o contexto em que os indivíduos estão inseridos em grupos
sociais, e que as experiências vividas influenciam a escolha dos que empreendem. Já outros
autores, como Carland, Carland e Hoy (1992), Gimenez e Inácio Júnior (2002) e Gimenez,
Ferreira e Ramos (2008) deram ênfase a uma abordagem multidimensional, que une, para
traçar o perfil do empreendedor, ao mesmo tempo as suas características individuais, os
fatores econômicos e ambientais, e as características do futuro empreendimento (FERREIRA,
2005).
Ao analisar estes três tipos de abordagem, pode-se inferir que a última, de caráter
multidimensional, seria a mais completa e que poderia apontar, com maior clareza, o perfil do
22
empreendedor, e os locais onde há maior probabilidade para o desenvolvimento do
empreendedorismo.
Entretanto, é importante enfatizar que tais definições, sem uma abordagem científica
ou dotada da apresentação de pesquisas que as embasem, são altamente criticadas,
principalmente por sua ausência de validade para conclusões, e, como já comentado
anteriormente, por sua total separação do ambiente onde se dá a atividade empreendedora, e
descaracterização dos aspectos sociais, culturais e econômicos que influenciam fortemente a
formação e o estabelecimento do empreendedorismo em um dado local. Embora na
comunidade científica tais caracterizações sejam menosprezadas, faz-se importante mencionar
os autores da linha administrativa que o fazem sem embasamento em pesquisas, uma vez que
é justamente esta literatura a que é absorvida majoritariamente em ambientes acadêmicos no
nível de graduação, principalmente em cursos de administração, finanças e economia.
Apesar das limitações das análises de abordagem administrativa, é importante
mencionar que ela ressalta os aspectos que inibem a atividade empreendedora no Brasil, e, no
entanto, se resumem a questões relacionadas aos ambientes macro-econômico e legal, e,
novamente, desconsidera aspectos culturais e sociais. Entre estes pontos limitantes, destacam-
se a existência de uma grande lacuna nas questões de transferência tecnológica; a ausência de
uma estrutura tributária e trabalhista orientada para pequenos negócios; falta de opções de
micro-crédito; ausência de políticas educacionais voltadas ao estímulo da atividade
empreendedora; sistema altamente burocratizado para abertura, desenvolvimento e
fechamento de empresas; sistema tributário complexo e ineficaz; ausência de políticas
públicas de apoio ao pequeno empresário (CHIAVENATO, 2012).
Por isso, faz-se necessária uma análise ampla e aprofundada a respeito do macro e do
micro-ambiente empreendedor – características e perfil da mulher que trabalha e que
empreende; análise do ambiente (no Brasil e no mundo); e os aspectos motivacionais do ato
de empreender – falta de oportunidades no mercado de trabalho, descoberta de uma
oportunidade de venda para um produto ou serviço, entre outros.
23
2.1.1 Empreendedorismo feminino: representações sociais e contexto econômico e
cultural
A atividade empreendedora feminina apresenta aspectos sociais, econômicos e
culturais bastante peculiares e diferenciados da ação masculina. Questões como a
maternidade, a responsabilidade pelos afazeres domésticos, a educação dos filhos e condições
desiguais de salários e oportunidades de emprego trafegam entre as principais questões de
entrave para o desenvolvimento do empreendedorismo pelas mulheres no Brasil e no mundo.
Observa-se pela análise de pesquisas realizadas globalmente que as dificuldades,
apesar de apresentarem diferenças regionais, são localizadas em todas as partes do planeta
pelas mulheres que buscam atuar como empresárias; além disso, aspectos culturais e
educacionais reforçam os empecilhos para a plena atividade empreendedora nacionalmente,
principalmente devido a questões relacionadas ao machismo, à debilidade no sistema
educacional, à burocracia e a desigualdade de gênero nas relações trabalhistas (salários
menores, quando comparado aos dos homens; poucas oportunidades na direção das empresas;
assédio sexual e moral; acesso restrito a determinadas funções consideradas “masculinas”).
Desta forma, faz-se importante a análise da caracterização do empreendedorismo
feminino brasileiro e internacional, seus aspectos críticos, seu perfil diferenciador, e dos
dados de contextualização sobre os fatores motivacionais e sobre os entraves à atividade
empreendedora pelas mulheres.
No entanto, antes da análise dos dados a respeito do empreendedorismo feminino, uma
investigação a respeito da representação social da mulher no trabalho torna-se essencial para
entender o contexto do ambiente onde se constroem as motivações, as inibições, as
expectativas e as frustrações femininas com relação ao trabalho. Não seria possível construir
uma investigação aprofundada sobre o tema analisando os dados sem considerar a
significação do feminino no trabalho e seus aspectos relacionais (família, sociedade, escola,
auto-estima).
As relações de trabalho para as mulheres representam um ambiente arenoso e com
uma série de barreiras há séculos, principalmente pela sua imersão, no mundo ocidental, em
atividades previamente estabelecidas como masculinas, a partir da Revolução Industrial, e
depois, com maior força, da Segunda Guerra Mundial.
24
No início do século XX, a segregação entre os distintos tipos de empregos para
homens e mulheres já estava bastante estabelecido. Alguns estudos demonstram que, nessa
época, nenhuma atividade era exercida tanto por homens quanto por mulheres; se isso
acontecia, havia diferenças na qualidade e na quantidade apresentada no resultado final dos
produtos e serviços realizados. De maneira geral, as mulheres executavam tarefas
consideradas “inferiores”, geralmente recusadas pelos homens, e recebiam salários menores.
No Brasil, a consolidação da cidadania feminina é exemplificada por Penna (1981): o direito
ao voto para as mulheres só foi concedido depois de 1930; na família, a submissão feminina
diante do ente familiar masculino, consolidado no Código Civil desde 1916 – e revisado
apenas em 2003. Além disso, seu acesso ao mercado de trabalho era obstruído ou pela
dependência familiar, ou pelos inúmeros obstáculos legais existentes. Segundo Camargo,
Brolesi, Meza, Cunha e Bulgacov (2010),
As liberdades burguesas não a atingiam [à mulher] e o Estado lhe foi sempre
autoritário. A mulher brasileira, desde o Império, esteve submetida, na sociedade,
por meio da legalidade, à submissão de sua família; seu acesso ao mundo público se
deu por meio de seu marido.10
Nas indústrias nos anos de 1920 a 1950, as mulheres se concentraram em algumas
tarefas, e não tinham acesso a outras, exclusivamente masculinas, assim, o gênero
caracterizava um atributo quase definitivo para o tipo de ocupação a ser exercida. Em
fábricas, por exemplo, as mulheres eram alocadas em atividades consideradas “leves”, mais
lentas e mais rotineiras (CAMARGO, Et al, 2010).
O crescimento das oportunidades de trabalho para as mulheres está amplamente ligado
ao momento durante a Segunda Guerra Mundial, influenciado principalmente pelo ambiente
europeu, no qual havia uma grande necessidade de ocupação de postos de trabalho que antes
estavam ocupados exclusivamente pelos homens – e, que em uma situação de guerra, no qual
a ausência masculina nas cidades gerou oportunidades de emprego para as mulheres. Além
disso, já no pós-guerra, houve um crescimento vertiginoso do mercado de trabalho feminino
por algumas questões econômicas: a necessidade de complementação salarial, devido à
deterioração dos salários reais dos trabalhadores homens, e também pelo incentivo ocorrido
pelas expectativas de maior consumo (CAMARGO Et al., 2010). É importante mencionar
ainda o fortalecimento dos movimentos feministas, principalmente nas décadas de 30 até os
10
CAMARGO, Denise, Et al. O significado da atividade empreendedora: as práticas da mulher brasileira em
2008. In: GIMENEZ, Fernando, FERREIRA, Jane Mendes, RAMOS, Simone Cristina (org.).
Empreendedorismo e estratégia de empresas de pequeno porte – 3Es2Ps. Curitiba: Champagnat, 2010.
25
anos 60, e, em seguida, da emancipação feminina (tanto do pai, quanto do cônjuge) a partir do
maior acesso às universidades e à formação técnica, que permitiram com que a mulher
pudesse estar tanto ou melhor qualificada do que o homem para o mercado de trabalho. Seria
incoerente deixar de mencionar ainda outros dois elementos que contribuíram para a
independência feminina, e para que a mulher dispusesse de mais tempo para os estudos e para
o trabalho: a invenção da pílula contraceptiva, nos anos 60, e as novas tecnologias do
ambiente doméstico, tais como máquina de lavar, micro-ondas e itens descartáveis (como
fraldas e absorventes), que possibilitaram com que os afazeres domésticos fossem
drasticamente reduzidos em tempo.
Desde então, houve a necessidade de desconstruir estereótipos sociais e culturais, que
ainda permanecem nos dias de hoje, e se apresentam como os mais difíceis de serem
superados (CRAMER Et al., 2012).
Apesar de não haver mais espaços e papéis atribuídos em definitivo a um gênero ou
outro (BELLE, 1987, 1993), nota-se que há ainda uma segregação disfarçada, e que atinge as
mulheres, no denominado fenômeno do “teto de vidro” (STEIL, 1997). Este fenômeno
consiste em uma barreira sutil, mas transparente e suficientemente forte para bloquear a
ascensão das mulheres a níveis hierárquicos mais altos.11
Outro aspecto importante é a desconsideração de interpretações biologistas, e
considerar que as representações sociais, atributos e características construídas para os
gêneros são social, histórica e linguisticamente elaboradas (LOURO, 2000; SCOTT, 1995; e
MEDRADO, 1996). Uma definição importante sobre gênero é dada por Louro (2000), quando
apresenta que ele é uma construção social feita sobre as diferenças sociais – ou seja, ele
representa a forma como estas diferenças são entendidas numa sociedade e em um contexto, e
como elas são trazidas para a prática social.12
Para a ação empreendedora, faz-se necessário que o profissional desenvolva algumas
habilidades e competências gerenciais, importantes para a abertura e o pleno desenvolvimento
11
CRAMER, Luciana, CAPELLE, Mônica, ANDRADE, Áurea, BRITO, Mozar. Representações femininas da
ação empreendedora: uma análise da trajetória das mulheres no mundo dos negócios. Revista de
Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas - REGEPE, v.1, n.1, jan/abril de 2012. Disponível em:
<file:///C:/Users/Ma%C3%ADra/Downloads/14-54-1-PB%20(1).pdf>. Acesso em: 10 jan. 2016.
12
CRAMER, Luciana, CAPELLE, Mônica, ANDRADE, Áurea, BRITO, Mozar. Representações femininas da
ação empreendedora: uma análise da trajetória das mulheres no mundo dos negócios. Revista de
Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas - REGEPE, v.1, n.1, jan/abril de 2012. Disponível em:
<file:///C:/Users/Ma%C3%ADra/Downloads/14-54-1-PB%20(1).pdf>. Acesso em: 10 jan. 2016.
26
de seu negócio. Alguns autores defendem que existem, sim, algumas características gerenciais
observadas com maior frequência nas mulheres (BUTTNER, 2001). Segundo Mendell (1997),
as mulheres consideram a situação em seu contexto próprio, enquanto que os homens tendem
a perceber cada situação segundo suas próprias regras.
Em outros estudos, específicos sobre o estilo gerencial feminino, apresentam que as
mulheres empreendedoras traçam objetivos culturais e sociais em suas empresas – além do
objetivo meramente financeiro. Além disso, há uma preocupação mais acentuada com as
equipes envolvidas, e uma tendência para que os objetivos sejam claros para todos os
funcionários (TURNER, 1993).
Entretanto, entre os aspectos limitadores da atividade empreendedora feminina, nota-
se que as questões relacionadas ao âmbito familiar apresentam um dos seus principais
inibidores. O tempo gasto com afazeres domésticos, a criação dos filhos, e a falta de suporte
dos cônjuges estão entre os maiores fatores de desestímulo ao trabalho feminino, não apenas à
ação empreendedora. Em pesquisa realizada por Cramer et al. (2012), foi evidenciado que há
um conflito na busca da independência financeira pelo trabalho: ao mesmo tempo em que ele
é benéfico para a mulher, resta ainda um sentimento de culpa – tanto em relação a abrir mão
da carreira para cuidar da família, quanto no caminho contrário, ao se desvincular da família
para a dedicação aos negócios (CRAMER et al., 2012). Com relação ao menor tempo
dedicado à família, a mesma pesquisa observou que, além da culpa, já sentida pela mulher, há
uma cobrança dos familiares para que a mulher esteja em casa.
O conflito família-trabalho é uma questão importante para ser considerada na análise
da atividade empreendedora, uma vez que ele interfere diretamente na qualidade e no
desempenho do negócio e do trabalho feminino. Shelton (2006) destaca que a gestão deste
conflito (gerados por demandas advindas tanto do trabalho, quanto da família) colabora para o
bem-estar da empreendedora e, consequentemente, para o desempenho do empreendimento
(STROBINO, TEIXEIRA, 2010). No quadro abaixo, desenvolvido por Grennhaus e Beutell
(1985), apresenta-se de maneira mais clara alguns dos principais motivos de conflito e tensão
nas relações família versus trabalho – antagonismo que aparece em sua grande maioria das
vezes para as mulheres, mas não para os homens, que, a priori, não enfrentam estas
dificuldades na condução de suas rotinas de trabalho.
27
Tabela 1. Incompatibilidade de pressões entre o trabalho e a família. Fonte: GRENNHAUS, BEUTEL, 1985, p.
78. In: STROBINO, Marcia, TEIXEIRA, Rivanda. O empreendedorismo feminino e o conflito trabalho-família:
estudo de caso no setor da construção civil da cidade de Curitiba. In: GIMENEZ, Fernando, FERREIRA, Jane
Mendes, RAMOS, Simone Cristina (org.). Empreendedorismo e estratégia de empresas de pequeno porte –
3Es2Ps. Curitiba: Champagnat, 2010.
Um aspecto interessante, desta vez, demonstrado pelos pesquisadores acima, mas
também na pesquisa Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras em Micro e
Pequenas Empresas, elaborado pelo Sebrae em parceria com o Dieese, é que a composição
familiar influencia na atividade empreendedora. Nas famílias em que o casal não tem filhos, a
mulher tem mais tempo para dedicar-se ao trabalho, uma vez que a exigência familiar é
menor; já nas famílias com filhos, há uma cobrança maior, e a dedicação ao trabalho fica
prejudicada. Talvez, por isso, a média de número de filhos de mulheres empreendedoras não
alcance o segundo filho. O próprio acesso à creche é um fator importante para a participação
feminina no trabalho: segundo pesquisa do IBGE, entre mulheres com filhos de 0 a 3 anos de
idade que frequentam creche, 71,7% estavam ocupadas, e, consequentemente, a participação
das mulheres no mercado de trabalho é bastante reduzida quando nenhum filho frequenta
creche (43,9%) ou algum outro não frequenta (43,4%).13
13
IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em:
<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/defa
ult.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.
28
Gráfico 1. Média de filhos entre mulheres empreendedoras. Fonte: DIEESE. Anuário das mulheres
empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela
elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso
em: 20 fev. 2016.
Na análise da tão chamada “dupla jornada” enfrentada pelas mulheres, nota-se que ela
é real. Segundo dados do IBGE, o trabalho doméstico no Brasil ainda é tarefa
predominantemente feminina. A jornada média semanal das mulheres nessas atividades é 2,5
vezes maior que a masculina. Em 2011, as mulheres dedicavam, em média, 27,7 horas
semanais a afazeres domésticos, enquanto os homens destinavam somente 11,2 horas de seu
tempo para tais atividades. Assim, pode-se afirmar que não há no Brasil, ainda, uma divisão
equânime das tarefas domésticas, cabendo às mulheres a responsabilidade pela maior parte
deste tipo de trabalho.14
14
Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em:
<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/defa
ult.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.
29
Gráfico 2. Horas gastas em afazeres domésticos, segundo o sexo. Fonte: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais:
uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em:
<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/def
ault.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.
A característica “multi-tarefa” da mulher, tão amplamente aceita e naturalizada em
diversas sociedades – tanto ocidentais quanto orientais – é fruto, na verdade, de uma
construção social, arraigada a partir de um passado no qual a mulher era apenas uma
trabalhadora doméstica, e que, a partir da maior participação da mulher no mercado de
trabalho, houve apenas uma espécie de complementação de afazeres – agora, dentro e fora do
lar. No lugar de uma estrutura compartilhada de responsabilidades domésticas com o homem,
a mulher apenas acumulou as duas atividades (domésticas e externas), acarretando-lhe uma
sobrecarga física e psicológica. Como bem menciona Jonathan (2005, p. 373-382),
A multiplicidade de papéis tende a ser considerada uma característica do universo
feminino, levando ao reconhecimento de um talento nas mulheres para fazer e
pensar várias coisas simultaneamente. No entanto, o acúmulo de tarefas – públicas e
privadas – rotulado de “dupla jornada” é, frequentemente, considerado causa ou
origem de conflitos e desgastes (Jablonski, 1996; Rocha-Coutinho, 2003). Em uma
perspectiva naturalista, as dificuldades seriam inerentes à multiplicidade de papéis
envolvendo demandas concebidas como inconciliáveis em sua natureza.
Como conclusão, pode-se inferir que a consolidação do espaço feminino no meio
empresarial depende da dedicação e do seu posicionamento tanto em relação à família, quanto
em relação ao lado profissional (CRAMER et al., 2012).
30
O contexto e o ambiente influenciam positiva ou negativamente o desenvolvimento do
empreendedorismo em uma dada região, dependendo das percepções e atitudes da sociedade
local com relação ao trabalho feminino e à atuação da mulher no mercado laboral. Estas
atitudes fortalecem, ou enfraquecem, as motivações e intenções das mulheres para que se
tornem empreendedoras, e podem ser exemplificadas por apoio cultural e social,
financiamento e políticas públicas de micro-crédito, redes de afiliações e associações que
propiciam relacionamento entre as participantes, assistência e formação educacional sobre
temas relacionados ao empreendedorismo, entre outras. Segundo a OCDE (Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 2004), as mulheres são menos estimuladas a
atuarem como empreendedoras do que os homens pois elas encontram barreiras sociais e
culturais que são inexistentes para eles. Entre essas barreiras, pode-se mencionar os níveis
elevados de responsabilidade doméstica, menores níveis de educação, falta de exemplos
femininos nos negócios, poucas redes (ou inexistência delas) de relacionamento em suas
comunidades, falta de financiamento e crédito, e falta de assertividade e confiança, induzidas
culturalmente, em suas habilidades para ter êxito nos negócios.15
Em pesquisa realizada por GOMES (2004) na cidade de Vitória da Conquista (BA)
também foi levantada, junto a cem empresárias entrevistadas, as principais dificuldades
enfrentadas para uma mulher que pretende montar seu próprio negócio. Segundo o autor, a
mulher que trabalha fora tem uma grande dificuldade de conciliar trabalho e família, e essa
dificuldade não costuma se apresentar para o universo masculino na mesma frequência. Já a
dificuldade de obtenção de financiamentos parece ser uma dificuldade de qualquer gestor,
independente de sexo, e que atinge mais as empresas de micro e pequeno porte (GOMES,
SANTANA, SILVA, 2004).16
15
GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.
Acesso em: 6 jan. 2016.
16
GOMES, Ferraz Almiralva, SANTANA, Piau Gusmão Weslei, SILVA, Moreira Jovino. Mulheres
Empreendedoras: Desafios e Competências. Disponível em: <http://www.cyta.com.ar/ta0406/v4n6a1.htm>.
Acesso em: 10 jan. 2016.
31
Gráfico 3. Dificuldades enfrentadas para ser empreendedora. Fonte: GOMES (2004). In: GOMES, Ferraz Almiralva,
SANTANA, Piau Gusmão Weslei, SILVA, Moreira Jovino. Mulheres Empreendedoras: Desafios e
Competências. Disponível em: <http://www.cyta.com.ar/ta0406/v4n6a1.htm>. Acesso em: 10 jan. 2016.
2.1.2 Principais impactos da atuação feminina no empreendedorismo
Hoje, o incentivo ao empreendedorismo é visto como uma das principais alavancas
com força capaz de desenvolver e fazer crescer a economia ao redor do globo. Em países
desenvolvidos e em desenvolvimento, o desafio da geração de emprego e renda é crítico,
considerando o cenário macroeconômico de ajustes fiscais, crises ambientais (que afetam
diretamente a agricultura e setores industriais ligados à alimentação), a geração de recursos
sustentáveis e a cada vez maior demanda pela geração de empregos. Assim, é imperativo
capacitar as mulheres para que elas possam participar plenamente do mercado de trabalho, e,
ainda, possam ser capacitadas para que transmitam o seu potencial produtivo na forma de
criação de novos negócios e empresas.
Segundo dados do relatório especial sobre empreendedorismo feminino desenvolvido
pelo GEM em 2015, o GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015, há notícias
positivas a respeito da atividade empreendedora no mundo, mas há também muitos gargalos –
principalmente em regiões onde ainda há uma barreira bastante visível com relação à
participação da mulher no mercado de trabalho. Nesta pesquisa, verificou-se que a taxa de
atividade de empreendimento em estágio inicial (TEA – Total Early Stage Entrepreneurship
Activity) aumentou 7% desde 2012, e a distância entre os gêneros na participação em
atividades empreendedoras diminuiu 6%. Este relatório analisou 83 países, e observou que,
em 10 deles (sendo o Brasil um destes) as mulheres são tão ou mais propensas a atuar como
empreendedoras. De modo geral, este ambiente favorável ao empreendedorismo se deve a
alguns fatores que nem sempre são positivos: de certa forma, a atividade empreendedora é
estimulada nestes países (todos em desenvolvimento) pela necessidade das mulheres em gerar
renda para as suas famílias – ou porque são as líderes em seus núcleos familiares, ou pela
ausência do suporte do cônjuge, ou ainda pela ausência de emprego formal e qualificação
adequada para encontrar trabalho no mercado de trabalho formal.
Como características da empreendedora mundial, podemos mencionar que a idade é
um fator comum neste grupo: em geral, a faixa entre 25 a 34 anos de idade apresenta os
32
maiores índices de mulheres empreendedoras. Com relação à educação, 33% delas tinham ao
menos o nível secundário ou ainda um nível maior de educação.
Outro dado interessante é com relação às interrelações entre os dados: de modo geral,
em países onde há taxas maiores de empreendedorismo, consequentemente há mais mulheres
que conhecem outra que é empreendedora. Isso se explica facilmente, porque o número
absoluto de empreendedoras presentes na economia é maior. Além disso, com altas taxas de
empreendedorismo, há uma maior tendência à formação de redes de associações, que
oferecem apoio, suporte, modelos, orientação e conselhos, fortalecendo e estimulando
mulheres não-empreendedoras, em um efeito cascata que potencializa a força do
empreendedorismo ainda mais nestes locais.
Com relação à tipologia de negócios estabelecidos, o comércio se destaca
mundialmente na preferência das empreendedoras: mais de 2/3 das empreendedoras
trabalham no setor comercial.
A atividade empreendedora, sem caracterização por gênero, é uma mola propulsora de
empregos e de oxigenação da economia, ao estimular a geração de renda e o consumo. No
entanto, uma série de pesquisas comprova que a atuação da mulher no empreendedorismo é
capaz de melhorar índices de educação e saúde, e fomentam a melhoria da economia como
um todo.
Ainda segundo o relatório da GEM17
, elas são importantes para a economia porque
elas investem em suas comunidades, educam as crianças, e investem o que recebem ajudando
aos outros. No mundo todo, as mulheres controlam aproximadamente 20 trilhões de dólares
em consumo na economia mundialmente, um número que poderá chegar a 28 trilhões nos
próximos cinco anos. Hoje, as mulheres já representam cerca de 40% da força de trabalho
global. O relatório World Employment and Social Outlook: Trends 2015 report (WESO
Report) apresenta alguns dados que reforçam os benefícios da elevada participação feminina
no mercado de trabalho: economias com níveis elevados de mulheres trabalhadoras são mais
resilientes e experimentam menos quedas; a força de trabalho feminino é uma poderosa
ferramenta anti-pobreza, pois quando a renda familiar não depende unicamente de um único
membro, e é compartilhada por duas pessoas, o risco da unidade familiar perder todos os seus
ganhos é reduzido drasticamente; em regiões com os maiores abismos entre os gêneros há
17
GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em <http://www.gemconsortium.org/>.
Acesso em: 6 jan. 2016.
33
geralmente a perda de ganhos de até 30% da renda per capita18
. Outro estudo, desta vez
realizado pela Goldman Sachs 10,000 Women Initiative19
demonstrou que, entre as mulheres
que participaram deste programa de incentivos, realizado em 43 países, os negócios
proporcionaram um crescimento de 50% entre os empregos das empresas participantes com
apenas seis meses de atuação no projeto, e os lucros cresceram 480% após um ano e meio da
finalização da participação no programa. E, adicionalmente, 87% das mulheres
empreendedoras foram mentoras de outras mulheres em suas comunidades. Segundo este
mesmo estudo, as mulheres empreendedoras tendem a ter níveis mais elevados de educação
do que as mulheres não-empreendedoras. Como resultado, educação e treinamento tendem a
trazer crescimento para os negócios, bem como o fortalecimento da auto-confiança e das
habilidades de liderança para estas mulheres.20
Outro estudo recente aponta que as mulheres investem 90 centavos de cada dólar que
elas ganham em recursos humanos, o que pode ser traduzido por educação em sua família,
saúde e nutrição – em comparação, os homens investem de 30 a 40 centavos, no máximo. As
mulheres empreendedoras também estão mais predispostas a investir em educação e em suas
comunidades, usando os lucros gerados pelos seus negócios.21
18
GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.
Acesso em: 6 jan. 2016.
19
BABSON COLLEGE. Investing in the Power of Women; Progress Report on the Goldman Sachs 10,000
Women Initiative. Desenvolvido pela Babson College, Wellesley, EUA, 2014.
20
GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.
Acesso em: 6 jan. 2016.
21
GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.
Acesso em: 6 jan. 2016.
34
Tabela 2. Média das intenções de empreender por região e gênero, em porcentagem. Fonte: GEM Special
Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org>/. Acesso em: 6 jan.
2016.
Gráfico 4. Taxas de Empreendedorismo em estágio inicial (TEA rates) por região e por faixa etária. Fonte:
GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.
Acesso em: 6 jan. 2016.
Além da análise do macro e do micro-ambiente que circundam a mulher
empreendedora, faz-se necessário o estudo a respeito das percepções que as mulheres tem de
si mesmas, tendo em vista que a auto-avaliação das empresárias sobre suas capacidades e
habilidades para gerir seus negócios impactará diretamente na evolução e na crença de que
sua empresa poderá crescer e se expandir. Neste sentido, países dos continentes africano e sul-
35
americano tem uma grande vantagem: neles, o índice de mulheres que acreditam ter as
capacidades necessárias para abrir um negócio alcança mais de 50%.22
. No entanto, é possível
perceber neste mesmo dado uma grande diferença entre os gêneros: quando a amostra
feminina total do globo é comparada com as respostas masculinas, pode-se perceber que o
grau de auto-confiança no empreendedorismo masculino é substancialmente maior – no
mundo todo, o índice alcança 46%, enquanto que os homens que acreditam serem capazes de
gerir um negócio próprio somam 59%. No Brasil, a diferença permanece significativa entre os
gêneros: as mulheres auto-confiantes são 55%; já os homens são 65%.
Gráfico 5. Porcentagem de Adultos que acreditam ter capacidade para iniciar um negócio, por região e por
gênero. Fonte: GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em:
<http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016.
22
GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.
Acesso em: 6 jan. 2016.
36
Em continuidade às auto-percepções relacionadas ao empreendedorismo, é importante
mencionar a questão relacionada à aversão ao risco, já que este fator é item inerente à
atividade empreendedora – ou seja, não há empreendedorismo sem assumir riscos, e a
predisposição a aceitá-los é fator condicionante para que uma pessoa se torne empreendedora
ou não. E aí novamente as mulheres (com base em dados globais) estão em desvantagem com
relação aos homens. As mulheres tem mais aversão ao risco do que os homens: 41% delas não
iniciariam um negócio por medo do fracasso, contra 34% dos homens.23
Estes dados
demonstram que as mulheres tem menos confiança em si mesmas e em suas capacidades para
empreender, afetando assim de maneira significativa o número de negócios que serão abertos.
Apesar do abismo ainda existente entre as oportunidades de negócios geradas por
homens e mulheres, ou ainda pelas dificuldades encontradas em economias em
desenvolvimento, como burocracia e falta de suporte da família e dos governos locais (como
ausência de micro-crédito ou dificuldades de acesso a financiamentos), o empreendedorismo
feminino expande-se gradualmente em todos os países do globo. De 2012 para 2015, a taxa de
empreendedorismo inicial cresceu 7%, e distância entre homens e mulheres que exercem
atividades empreendedoras ficou 6% menor. 24
Ainda assim, as dificuldades enfrentadas pelas
mulheres no empreendedorismo ainda são fortemente arraigadas, e contam com barreiras em
seus contextos sociais, culturais e econômicos. Apesar dos progressos, as mulheres continuam
a enfrentar discriminação, marginalização e exclusão25
. Além disso, um fator importante para
que a atividade empreendedora feminina se estabeleça e cresça é o suporte e apoio não apenas
para que as mulheres iniciem novos negócios, mas também para que estes empreendimentos
sejam mantidos e se desenvolvam de maneira sustentável em suas economias, gerando
benefícios de longo prazo às suas comunidades. Neste sentido, o microcrédito, oferecido por
empresas privadas ou governos, torna-se importante ferramenta para que o empreendedorismo
feminino se estabeleça como mola propulsora em economias de baixa renda.
Mas antes de analisar alguns casos relacionados a experiências de microcrédito,
importantes para contextualizar a necessidade fundamental deste tipo de financiamento para
prestar suporte a economias com elevado grau de atividade empreendedora, é necessário
23
GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.
Acesso em: 6 jan. 2016.
24
__________________.
25
ONU MULHERES E ESCRITÓRIO DO PACTO GLOBAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Princípios de
Empoderamento das Mulheres – Igualdade significa negócios”, segunda edição 2011. Disponível em:
<http://www.weprinciples.org/Site/ToolsAndReportingWepMaterials/>. Acesso em: 4 jan. 2016.
37
apresentar a composição do perfil da população afetada diretamente por este tipo de atividade
financeira.
O público-alvo ao qual se destina o financiamento de microcrédito é, de maneira geral,
o que pode ser conceitualizado como “mercado emergente”, ou “mercado de consumo
emergente”. Prahalad (2010) traz luz ao conceito, ao identificar que este grupo da população,
antes estigmatizado e tratado de forma generalista por empresas e estrategistas de marketing,
é, antes de tudo, um grupo heterogêneo, composto por pessoas das mais diversas etnias, faixas
de renda e formação acadêmica. Antes, era comum a definição desta população pelo limite de
ganhos anuais ou mensais; hoje, esta definição é vista já como arcaica, pelos diversos estudos
econômicos já realizados a respeito deste grupo. Entretanto, seria possível segmentar ou
classificar corretamente quais seriam as pessoas que compõem a chamada “base da pirâmide”,
termo firmado por Prahalad?
O conceito da “base da pirâmide” foi estabelecido para identificar os cerca de quatro
bilhões de pobres não atendidos ou mal atendidos pelas grandes organizações do setor privado
(PRAHALAD, 2010). No entanto, segundo Prahalad, não seria possível estabelecer a
classificação para “pobre”, o que muitos economistas e instituições se debateram durante
décadas em definir – por exemplo, se seriam pessoas que vivem com menos de dois ou com
menos de um dólar por dia. Estas classificações se mostraram completamente dúbias, pois
cada país e cada localidade apresentam especificidades locais, e a composição da população
economicamente emergente pode passar por questões educacionais e culturais, por exemplo.
Assim, a categorização em classes de A a E, com C, D e E construindo a “base da pirâmide”,
não seria a classificação mais aceita atualmente, ainda segundo Prahalad. Embora não se
possa classificar esta população por perfis de renda, uma questão é comum a todas estas
populações no globo: estas pessoas constituem um segmento invisível (com raras exceções)
para o direcionamento de produtos e serviços, tanto privados quanto estatais. Trata-se de um
segmento cujas necessidades não são atendidas ou não são sequer contempladas no
planejamento de mercado das empresas – não são objeto de estudo para a adequação e criação
de preços, produtos, embalagens, pontos de venda, financiamento e comunicação dirigidos
para atender às necessidades deste público. Itens como oferta dos produtos ou serviços em
locais sem lojas, como favelas, parcelamento da compra em cotas limites analisadas para
atender a rendas mensais flutuantes e sem possibilidade de comprovação, ou ainda
embalagens pequenas, previstas para atender a um ou dois momentos de uso (como xampús
ou sabões em pó para lavar roupa) são raros e muitas vezes desconsiderados em
38
planejamentos de marketing de empresas privadas. Segundo estudo publicado pela parceria
World Resources Institute e pela International Finance Corporation, os consumidores da “base
da pirâmide” representam cerca de US$ 5 trilhões em termos de paridade de poder de
compra.26
A menção a este mercado de consumidores emergentes é importante dentro do
contexto da análise do empreendedorismo feminino pois ele constitui uma base importante de
origem da grande maioria das empreendedoras, principalmente aquelas em estágio inicial. Por
isso, serão apresentados a seguir alguns casos de iniciativas destinadas a operações de
microcrédito voltadas a este público, pois caracterizam importantes exemplos de experiências
a respeito de possibilidades de empoderamento27
de populações da base da pirâmide.
Um dos casos apresentados por Prahalad (2010) é o do Banco Grameen, que é voltado
a operações de financiamento de populações de baixa renda. A média de valor dos
empréstimos, por pessoa, é de aproximadamente 20 dólares. Outro caso mencionado pelo
mesmo autor é o do ING Vysya Bank, que atende também ao público de
microempreendedores. Suas principais operações consistem no financiamento a grupos de
auto-ajuda, composto basicamente por mulheres empreendedoras. Em dezembro de 2008, o
volume total em empréstimos concedidos a este perfil de público era de 10,3 milhões de
euros.
Outra experiência relatada por Prahalad, ainda no setor financeiro, é a do Banco ICICI,
mas, desta vez, voltada para o atendimento a pequenos agricultores. Esta instituição dispõe de
um produto de financiamento baseado no sistema de recibo de armazéns, utilizado para
compor os fundos dos agricultores nas épocas logo após a colheita, quando os preços das
mercadorias tendem a cair bruscamente. Assim, o produtor rural obtém o empréstimo tendo
como base o cálculo do produto estocado em seu armazém, possibilitando que ele mantenha o
produto estocado até que o preço no mercado se estabilize.
Mas um dos principais casos relacionados ao microcrédito, relatado também por
Prahalad, não se encontra no setor financeiro, mas sim no setor da construção civil. A Cemex,
26
PRAHALAD, C.K. A riqueza na base da pirâmide: como erradicar a pobreza com o lucro. Porto Alegre:
Bookman, 2010. P. 29.
27
Empoderamento significa que as pessoas podem assumir o controle das suas vidas: definir os seus objetivos,
adquirir habilidades, aumentar a autoconfiança, resolver problemas e desenvolver a sua independência. In: ONU
MULHERES E ESCRITÓRIO DO PACTO GLOBAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Princípios de Empoderamento
das Mulheres – Igualdade significa negócios”, segunda edição 2011. Disponível em:
<http://www.weprinciples.org/Site/ToolsAndReportingWepMaterials/>. Acesso em: 4 jan. 2016.
39
a maior fabricante de cimento do México e a terceira maior do mundo, inovou ao criar
iniciativas voltadas para o atendimento ao público consumidor de baixa renda.
A população mexicana, público atingido pela experiência a ser mencionada, tem perfil
semelhante à brasileira com relação a indicadores sócio-econômicos. Uma das características
que se assemelham nas duas populações é a de que ambas não costumam ter a prática corrente
de poupar dinheiro – quando ela acontece, é na forma de “tandas” (espécie de cooperativas de
familiares e vizinhos que se reúnem para juntar dinheiro, no formato que se assemelha a um
consórcio). Além disso, no México as mulheres são, de maneira geral, as principais
responsáveis pela poupança nas famílias, e são dotadas de espírito empreendedor. Em
pesquisa conduzida pela empresa CEMEX, revelou-se que 70% das mulheres que poupavam
o faziam pelo sistema de tandas para construir suas casas. Assim, a empresa criou o projeto
Patrimonio Hoy (PH), que possibilita a famílias de baixa renda adquirir serviços e materiais
de construção a crédito, mediante um esquema de poupança realizado pelas próprias famílias,
liderado geralmente por mulheres. Além disso, o projeto desenvolve iniciativas de apoio a
microempreendedores, que são fabricantes de tijolos cerâmicos de baixa renda, para que
possam se tornar produtores de tijolos de concreto. Estes produtores de tijolos enfrentam de
modo geral algumas dificuldades, tais como processos de produção poluidores e perigosos
para os profissionais; produtividade ineficiente e ciclos sazonais de produção, devido à
interrupção da atividade em períodos de chuva.
Em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a CEMEX criou
um projeto que investe no treinamento e capacitação destes produtores de tijolos, para que
possam aprender práticas mais eficazes e sustentáveis para seus negócios, e fornece
microcrédito para que os produtores possam atuar de maneira mais competitiva e equilibrada
sazonalmente no mercado. Além disso, a empresa fornece maquinários e ferramentas
necessárias para a produção dos tijolos a estes produtores. De 2006 até dezembro de 2008,
1.200 famílias de baixa renda haviam sido beneficiadas, 550 mil tijolos haviam sido
produzidos, e 1.800 cômodos foram construídos, de 10 metros quadrados cada (PRAHALAD,
2010).
As experiências aqui apresentadas compõem importantes relatos para o entendimento
do contexto social de grande parcela da população empreendedora, principalmente daqueles
que dependem fundamentalmente do microcrédito para sua atuação no ambiente de negócios.
Iniciativas como as relatadas desenvolvidas por empresas privadas demonstram que não
apenas o governo ou instituições públicas são capazes de gerar possibilidades de micro-
40
financiamento; antes, há um mercado potencial enorme que pode ser explorado por setores
privados, desde que haja um planejamento para a criação de frentes de apoio aos pequenos
empreendedores e suporte para as condições sociais das famílias que se engajam neste tipo de
atividade.
A atividade empreendedora no Brasil concentra boa parte das características
encontradas na maioria dos países, ressaltadas no tópico anterior, mas apresenta algumas
peculiaridades que dialogam com aspectos específicos de sua economia e de sua sociedade.
Muitas de suas características se assemelham ao perfil empreendedor de outras populações da
América Latina; outras estão atreladas a questões inerentes ao perfil da população brasileira.
Segundo dados do GEM, o Brasil apresenta uma atividade empreendedora típica dos
países em desenvolvimento: altos índices de empreendedorismo inicial, mas
fundamentalmente por motivações de necessidade (quando a atividade empresarial é o último
ou único recurso para obtenção de renda) do que por motivações de oportunidade (quando a
atividade empreendedora é uma escolha planejada e colocada em prática pela análise
organizada das oportunidades de mercado existentes). Além disso, o índice de famílias
dependentes da renda advinda da mulher é crescente, tanto pelo desemprego do cônjuge,
quanto pela existência de famílias monoparentais (isto é, com a liderança única da mãe na
família, e ausência do pai – seja por abandono, seja por separação ou divórcio).
Na análise do gráfico da figura xx, pode-se observar que o Brasil apresenta taxas
acima das médias da América Latina e do mundo com relação aos negócios estabelecidos
pelas mulheres. Já com relação aos níveis de fracasso dos negócios femininos, e às taxas de
empreendedorismo inicial (TEA rates), sua média está muito similar ao dos seus vizinhos
continentais e dos demais países avaliados pela pesquisa do GEM. No entanto, com relação às
intenções para a atividade empreendedora, o percentual brasileiro está consideravelmente
abaixo dos demais países de sua região e do mundo (20% contra 30%).
41
Gráfico 6. Comparativo entre taxas de intenção de empreender, taxas iniciais de empreendedorismo (TEA
rates), negócios estabelecidos e taxas de fracasso em negócios, exclusivamente femininas, no Brasil, na média
da América Latina e Caribe, e média de todos os países pesquisados pelo GEM Special Report 2015. Fonte:
GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.
Acesso em: 6 jan. 2016.
Entretanto, antes de lançar um olhar aprofundado a respeito das características do
empreendedorismo feminino no Brasil, há que se observar os principais dados sociais e
demográficos comparativos entre os gêneros no país, tendo em vista que este contexto será
capaz de propiciar uma análise mais completa a respeito da condição da mulher brasileira e as
suas relações com o trabalho.
Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios) 2012,
realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população brasileira
ocupada era composta por 62,1% de empregados (58,3 milhões), 20,8% de trabalhadores por
conta própria (19,5 milhões), 6,8% de trabalhadores domésticos (6,4 milhões) e 3,8% de
empregadores (3,6 milhões).
42
Gráfico 7. Distribuição percentual de pessoas de 15 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência,
segundo a posição na ocupação de trabalho principal no Brasil, comparativo entre dados de 2011 e 2012.
Fonte: Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em:
<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/defa
ult.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.
Há, ainda, evidências importantes sobre o crescimento da participação das mulheres
no total de pessoas ocupadas no Brasil. Segundo o levantamento do IBGE, o percentual de
ocupação cresceu 27,3%, entre 2001 e 2011, e ficou acima, portanto, do crescimento da
ocupação total, que foi de 22,9%. Se consideradas apenas as mulheres que estão à frente de
um negócio (empregadoras e conta própria), a participação feminina aumentou de 28,7%, em
2001, para 30,8%, em 2011.
O tipo de emprego para a atividade produtiva muda bastante de acordo com o gênero.
Embora a inserção como empregador e conta própria seja mais frequente entre os homens
(29,2%), é verificado um percentual expressivo entre as mulheres (17,8%). Nesse sentido,
apesar da prevalência do assalariamento, outras formas de inserção produtiva são bastante
relevantes para as mulheres, entre as quais a ocupação por conta própria.
43
Gráfico 8. Distribuição dos ocupados por posição na ocupação, segundo gênero – Brasil, 2011 (em %).
Fonte: IBGE, Pnad. In: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas:
2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São
Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso
em: 20 fev. 2016.
Quando se menciona a renda, o distanciamento entre os gêneros alcança os patamares
mais elevados entre todos os índices comparativos. Ainda segundo o IBGE, em 2012 o
rendimento médio mensal real de trabalho dos homens foi de R$ 1.698,00 e das mulheres foi
de R$ 1.238,00. Outra forma de verificar a diferença entre o rendimento recebido por homens
e por mulheres é através da proporção de pessoas que recebiam até um salário mínimo: 23,7%
dos homens ocupados recebiam até um salário mínimo, enquanto para as mulheres este
percentual era de 33,3%. Além disso, havia proporcionalmente mais mulheres ocupadas sem
rendimentos ou recebendo somente em benefícios (9,0%) do que homens (4,9%).
O rendimento médio no trabalho principal das pessoas ocupadas registrou um aumento
real de 16,5% no período de 2001 a 2011. As mulheres e os trabalhadores informais foram os
que apresentaram os maiores ganhos reais (22,3% e 21,2%, respectivamente). A desigualdade
de rendimentos entre homens e mulheres tem se reduzido nos últimos anos, mas as mulheres
ainda recebem menos que os homens (em média, 73,3% do rendimento deles). Além disso,
pode-se constatar que, entre os mais escolarizados (12 anos ou mais de estudo), a
desigualdade de rendimentos é mais elevada, dado que as mulheres recebem 59,2% do
rendimento auferido pelos homens.
44
Gráfico 9. Percentual do rendimento médio das mulheres ocupadas em relação ao rendimento médio dos
homens, segundo grupos de anos de estudo – Brasil – 2001-2011. Fonte: Síntese de Indicadores Sociais: uma
análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em:
<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/def
ault.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.
De 2001 a 2011, a proporção de pessoas ocupadas em trabalhos formais registrou
aumento de 10,7 pontos percentuais, e se concentrou na segunda metade do período
considerado (2006 a 2011) com 8,6 pontos percentuais. No caso das mulheres, o avanço foi
ainda maior: 9,9 pontos percentuais. O país, entretanto, continua registrando ainda um grande
volume de sua capacidade produtiva (sendo homens ou mulheres) em trabalhos informais:
44,2 milhões de pessoas. As regiões Norte e Nordeste apresentaram as menores taxas de
formalidade (37,0% e 38,0%, respectivamente) e as taxas de informalidade das mulheres
nessas regiões foram as mais elevadas do país. Estes índices de tipo de ocupação – formal ou
informal – são extremamente importantes para a análise do ambiente empreendedor no país,
pois estes dados demonstram previamente que a sociedade brasileira contempla boa parte de
seus trabalhadores sem garantias formais do mercado assalariado, o que pode caracterizar o
grande número de profissionais que buscam no empreendedorismo uma saída para melhores
condições de renda do que as estipuladas pelo mercado de trabalho informal.
45
Gráfico 10. Distribuição percentual de pessoas ocupadas em trabalho formal e informal, segundo o gênero.
Brasil – 2001-2011. In: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas:
2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo:
DIEESE, 2013. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso
em: 20 fev. 2016.
Com relação ao aspecto educacional no mercado de trabalho brasileiro, a população
mais escolarizada tende a procurar trabalhos mais formalizados. Em 2011, a média de anos de
estudo da população nestes trabalhos era de 9,2 anos para os homens e de 10,7 anos para as
mulheres. Nos trabalhos informais, a média era de 6,1 anos e 7,3 anos, respectivamente.
Assim, as mulheres ocupadas apresentam uma escolaridade média superior à dos homens, em
mais de um ano, em ambos os tipos de trabalho.
Considerando o panorama acima descrito do contexto social brasileiro, pode-se avaliar
que há fatores no perfil da população que demonstram um ambiente propício para o alto
índice de atividade empreendedora feminina no país: altos índices de informalidade, maior
qualificação educacional feminina, distanciamento nos salários pagos entre homens e
mulheres, menor acesso ao mercado de trabalho formal pelas mulheres. Embora estes dados
46
acima apresentados já sejam condicionantes de um ambiente empreendedor, faz-se necessária
a avaliação de dados específicos relacionados à atividade empreendedora no país. Em parceria
com o Dieese, o Sebrae realizou um amplo estudo para analisar o perfil do empreendedorismo
feminino no país: o Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras em Micro e
Pequenas Empresas, que abarca dados compilados entre 2001 e 2011.28
Segundo este estudo, o número de empreendedoras cresceu 21,4% no período de dez
anos. A participação dos homens à frente dos micro e pequenos negócios, por sua vez, subiu
9,8% no mesmo período. O estudo também revela que as mulheres que estão montando o seu
próprio negócio são bastante jovens: 41,3% têm entre 18 e 39 anos e 52% têm entre 40 e 64
anos. Além disso, cerca de 40% delas são chefes de família, sendo que a maioria (70%) tem
ao menos um filho.
Considerando a soma de empregadores e conta própria29
como o número aproximado
de empreendedores no país, verifica-se que o total passou de 20,2 milhões para 22,8 milhões,
com expansão de 2,6 milhões de novos empreendedores, entre 2001 e 2011. A maioria dos
novos empreendedores são homens (1,4 milhão), contudo, a participação feminina cresce no
período analisado, saindo de 28,7%, em 2001, para 30,8%, o que, em números absolutos,
alcança sete milhões de empreendedoras.
28
O estudo considera, além do levantamento realizado pelo Sebrae e pelo Dieese, dados divulgados pela Pnad
2011, realizado pelo IBGE.
29
Trabalhador por conta própria: de acordo com o IBGE, se refere à pessoa que trabalha explorando o próprio
empreendimento, sozinha ou com sócio, sem ter empregado, ainda que contando com ajuda de trabalhador não
remunerado. Empregador: conforme o IBGE, se refere à pessoa que trabalha explorando o próprio
empreendimento, com pelo menos um empregado. In: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em
micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos,
tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso
em: 20 fev. 2016.
47
Gráfico 11. Evolução da estimativa do total de empreendedores no Brasil (soma dos empregadores e dos
trabalhadores por conta própria), por gênero, Brasil 2001-2011, em mil pessoas. Fonte: Anuário das mulheres
empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela
elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso
em: 20 fev. 2016.
Ao analisar a escolaridade dos empregadores e trabalhadores por conta própria, em
2011, nota-se que esse atributo é muito contrastante entre os dois grupos. Os dados mostram
que, entre os empregadores, a proporção de pessoas com escolaridade superior é maior,
principalmente entre as mulheres. Neste grupo, o percentual de mulheres com ensino superior
completo é de 33,4%, enquanto o de homens fica em 23,2%. Do total de empregadores,
percebe-se que somente 1,7% são mulheres analfabetas. Já entre as que trabalhavam por conta
própria, o percentual era superior, de 6,4%.
48
Gráfico 12. Distribuição dos empregadores e trabalhadores por conta própria por gênero e porte da empresa,
segundo a escolaridade – Brasil – 2011 (em %). Fonte: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras
em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas;
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da
pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso
em: 20 fev. 2016.
Já com relação às principais atividades desenvolvidas pelas empreendedoras
brasileiras, nota-se que há uma relevante predominância no setor de serviços voltados à
estética (13,6%) e no setor comercial, principalmente o relacionado ao vestuário e à
alimentação (6,3% e 4,9%, respectivamente).
Tabela 3. Relação das 10 principais atividades de empregadores em microempresas e conta própria por
mulheres – Brasil – 2011. Fonte: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas
49
empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos].
– São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso
em: 20 fev. 2016.
Outro aspecto importante relacionado à análise do perfil da empreendedora é o acesso
ao microcrédito. Nota-se, pelo estudo, que há um acesso preponderante das mulheres ao
Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, que é desenvolvido pelo governo
federal brasileiro e é destinado a pessoas físicas e jurídicas empreendedoras de pequeno porte,
com renda bruta anual de até R$ 120 mil. Em 2012, 63,9% dos empreendedores que tiveram
acesso ao programa eram mulheres, contra 36,1% de homens. Em valores concedidos, as
mulheres tiveram acesso a mais de R$ 3,8 milhões em microcrédito, e tomaram 61,3% dos
empréstimos concedidos.
Tabela 4. Distribuição dos microempreendedores atendidos e dos valores concedidos pelo Programa Nacional
de Microcrédito Produtivo Orientado. Brasil – 2009-2012. Fonte: Anuário das mulheres empreendedoras e
trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração
da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso
em: 20 fev. 2016.
Em resumo, a mulher empreendedora brasileira reúne entre as suas principais
características: potencial de investimento maior em capacitação; tem maior grau de
escolaridade do que os homens (as empresárias com Ensino Médio completo representam
quase o dobro de homens com a mesma escolaridade); buscam mais informações para o seu
desenvolvimento como profissionais e para o desenvolvimento de seu negócio (PIRES, 2013).
O empreendedorismo, tal como já analisado nas páginas anteriores, se torna possível, e
com amplas possibilidades de fortalecimento, a partir da geração de oportunidades de
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Ferramentas digitais e empreendedorismo feminino

  • 1. FACULDADE CÁSPER LÍBERO MAÍRA MEDEIROS Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas São Paulo 2016
  • 2. 1 MAÍRA MEDEIROS Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher pormeio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas Trabalho de conclusão de curso de Pós- Graduação lato sensu apresentado à Faculdade Cásper Líbero como requisito parcial para a especialização em Teorias e Práticas da Comunicação. Orientadora: Profa. Dra. Roberta Brandalise São Paulo 2016
  • 3. 2 Medeiros, Maíra Veloso Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas / Maíra Veloso Medeiros. -- São Paulo, 2016. 268 f. ; 30 cm. Orientadora: Profa. Dra. Roberta Brandalise Monografia (lato sensu) – Faculdade Cásper Líbero, Programa de Pós- Graduação em Teorias e Práticas da Comunicação 1. Empreendedorismo feminino. 2. Aprendizagem virtual. 3. Comunicação digital. I. Brandalise, Roberta. II. Faculdade Cásper Líbero, Programa de Pós- Graduação lato sensu em Teorias e Práticas da Comunicação. III. Título.
  • 4. 3 MAÍRA MEDEIROS Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher pormeio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas Trabalho de conclusão de curso de Pós- Graduação lato sensu apresentado à Faculdade Cásper Líbero como requisito parcial para a especialização em Teorias e Práticas da Comunicação. Orientadora: Profa. Dra. Roberta Brandalise __________________ Data da aprovação Banca examinadora: ________________________________________ ________________________________________ São Paulo 2016
  • 5. 4 AGRADECIMENTOS À Lucitânia, mãe e incentivadora, responsável pelos maiores apoios em minha trajetória acadêmica e profissional. Aos professores da pós-graduação da Faculdade Cásper Libero, pelos ensinamentos fundamentais para a conclusão do curso. Em especial, à professora Dra. Roberta Brandalise, minha orientadora, por suas aulas magníficas, aconselhamentos, incentivos e por ser um modelo de inspiração profissional e acadêmico.
  • 6. 5 RESUMO A pesquisa analisou o conteúdo e o impacto das ferramentas de comunicação digital que apresentam às mulheres oportunidades de trabalho e as capacitam para o empreendedorismo, por meio da investigação da apropriação da informação e da realização de cursos com foco em negócios em seu dia a dia. As abordagens metodológicas adotadas foram: as contribuições das escolas de administração, educação e comunicação para a investigação acerca do empreendedorismo feminino, da aprendizagem virtual e da comunicação digital; as colaborações de Dijk e Bakhtin sobre as discussões de discurso e poder e sobre dialogismo; e a abordagem construtivista e fenomenológica para a interpretação das construções de mundo e experiências das empreendedoras. Foram analisados os sentidos e efeitos de sentido manifestados nos textos visuais e escritos extraídos dos sites Rede Mulher Empreendedora, Escola de Você, Sebrae e revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, e exploradas as compreensões a partir de pesquisas qualitativa e quantitativa com empreendedoras brasileiras. Constatou-se que os conteúdos e cursos geram mais oportunidades para as mulheres ao possibilitar o seu empoderamento e a sua independência financeira, e ao prepará-las em sua educação técnica para o desenvolvimento dos seus negócios, fortalecendo a prática empreendedora, e impulsionando economias mais fortes, justas e estáveis. Palavras-chave: Empreendedorismo feminino. Aprendizagem virtual. Comunicação digital.
  • 7. 6 ABSTRACT The research analyzed the content and the impact of digital communication tools that present to women job opportunities and enable them to entrepreneurship, through research of information ownership and of courses focused on business in their day to day. The adopted methodological approaches were: the contributions of business, education and communication schools for research on women's entrepreneurship, virtual learning and digital communication; collaborations of Dijk and Bakhtin on the discourse discussions about power and dialogism; and the constructivist and phenomenological approach to the interpretation of the world of constructions and experiences of entrepreneurs. Sense and meaning effects were analyzed manifested in the visual texts and writings extracted from the websites Woman Entrepreneur Network (Rede Mulher Empreendedora), School of You (Escola de Você), Sebrae and magazine Small Business & Big Business (revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios), and explored the insights from qualitative and quantitative research with Brazilian entrepreneurs. It was found that the content and courses generate more opportunities for women to enable their empowerment and financial independence, and to prepare them for their technical education for the development of their business, strengthening the entrepreneurial practice, and driving strongest, fairest and more and stable economies. Keywords: Women's entrepreneurship. Virtual learning. Digital communication.
  • 8. 7 LISTA DE SIGLAS E DE ABREVIATURAS ABED Associação Brasileira de Educação à Distância AD Análise de discurso AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem BID Banco Interamericano de Desenvolvimento CSCL Computer Supported Cooperative Learning (Aprendizado cooperativo suportado por computadores) DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos EAD Educação a Distância ECD Estudos críticos de discurso FGV ou GV Fundação Getúlio Vargas GEM Global Entrepreneurship Monitor (Monitor de Empreendedorismo Global) IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MEI Micro-empreendedor individual OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico P2P Peer to Peer (Processo de produção par a par – colaborativo) PEGN Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios Quali Pesquisa qualitativa Quanti Pesquisa quantitativa RME Rede Mulher Empreendedora SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas TEA Total Early Stage Entrepreneurship Activity (Taxa de atividade de empreendimento em estágio inicial)
  • 9. 8 SUMÁRIO 1 Introdução 10 2 Empreendedorismo, aprendizagem virtual e comunicação digital – desafios, paradigmas e novas perspectivas 18 2.1 Empreendedorismo feminino: abordagens administrativas, motivações e cenários adversos 18 2.1.1 Empreendedorismo feminino: representações sociais e contexto econômico e cultural 23 2.1.2 Principais impactos da atuação feminina no empreendedorismo 31 2.2 Aprendizagem virtual e educação à distância: desafios brasileiros, obstáculos à equidade de gênero e principais plataformas de trabalho 50 2.2.1 Educação e qualificação profissional feminina: ferramenta de empoderamento global 66 2.3 Comunicação digital: acessibilidade às tecnologias, fluxos e relações virtuais no ciberespaço 68 2.3.1 Redes colaborativas e sociedade da informação: compartilhamento, criação de conhecimento e educação 75 3 Os ambientes de aprendizagem: análise dos sites Rede Mulher Empreendedora, Escola de Você, Sebrae e revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios 82 3.1 Rede Mulher Empreendedora 83 3.2 Escola de Você 91 3.3 Sebrae 98 3.4 Pequenas Empresas & Grandes Negócios (PEGN) 104 3.5 Ambientes virtuais em perspectiva 115 4 Análise de conteúdos de aprendizagem e interação nos ambientes virtuais 118 4.1 Análise de discurso nos artigos do site Rede Mulher Empreendedora 120 4.2 Análise de discurso nos artigos do site do Sebrae 128 4.3 Análise de discurso nos artigos do site da revista PEGN 130 4.4 Análise de discurso nos vídeos do site Escola de Você 135 4.5 Análise de discurso nos vídeos do site do Sebrae 144
  • 10. 9 4.6 Análise de discurso nos vídeos do site da revista PEGN 151 4.7 Considerações analíticas sobre os conteúdos analisados nos ambientes virtuais 156 5 Impacto das ferramentas de comunicação digital e efeitos de sentido nas empreendedoras 159 5.1 Impactos das ferramentas de comunicação digital para o empreendedorismo feminino: interpretações e compreensões de sentido 167 5.2 Análises das interpretações de pesquisas com empreendedoras: considerações conclusivas 184 6 Considerações finais 187 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 196 APÊNDICE A - Roteiro das entrevistas em profundidade 203 APÊNDICE B - Transcrição das entrevistas em profundidade 204 APÊNDICE C - Questionário e resultados da pesquisa quantitativa 224 APÊNDICE D - Quadros de categorização das análises das entrevistas 230 ANEXO A - Artigos extraídos do site Rede Mulher Empreendedora 244 ANEXO B - Artigos extraídos do site do Sebrae 254 ANEXO C - Artigos extraídos do site da revista PEGN 260
  • 11. 10 1 Introdução O estímulo ao empreendedorismo, principalmente em populações de baixa renda e escolaridade, nas quais há, de maneira comum, o raro acesso à educação formal acadêmica e técnica, tem sido uma das principais válvulas de crescimento da economia em países em desenvolvimento, principalmente em ciclos de crise de empregos formais e desintegração de setores tradicionais, como a indústria e o comércio. No entanto, ao observar o empreendedorismo exclusivamente feminino, pode-se notar uma força complementar: seja pela necessidade da criação dos filhos, ao liderar suas famílias, seja pela necessidade de independência financeira, após a dissolução de um casamento ou relacionamento conjugal, observa-se que as mulheres que encontram o caminho do empreendedorismo tornam-se importantes mecanismos de oxigenação de suas economias locais, retomam sua auto-estima, e constituem núcleos de fortalecimento de laços comunitários e familiares nos locais onde residem e trabalham. Algumas pesquisas sobre o empreendedorismo, tanto global, quanto brasileiro, como as desenvolvidas pelo GEM (Global Entrepreneurship Monitor) e pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) demonstram estas conclusões. A desigualdade de gênero intriga e incomoda, principalmente nos aspectos relacionados ao mercado de trabalho, por registrar, ainda nos dias atuais, um abismo enorme para as oportunidades que se apresentam para homens e mulheres. Por que, e até quando, mulheres receberão menores salários do que os homens, ou terão acesso restrito às vagas de trabalho apenas por serem mulheres? Neste sentido, uma vasta literatura científica, pesquisas e cientistas já se debruçaram diretamente sobre o tema da desigualdade de gênero no trabalho. No entanto, o que chama a atenção é que, apesar das adversidades encontradas em seus ambientes, tanto culturais, quanto econômicas, há um contingente cada vez maior de mulheres que não precisaram, e não precisam, aguardar pelas oportunidades: antes, elas são criadoras de suas próprias histórias e de seus próprios destinos. E, para que o empreendedorismo feminino se torne uma realidade, duas questões tornam-se vitais para o seu sucesso: comunicação e acesso. Comunicação, pois há que se formar e transmitir o conhecimento técnico e específico para cada ramo de negócio, além da base mínima administrativa para dar suporte à empreendedora iniciante. Acesso, pois as
  • 12. 11 mulheres são, em sua imensa maioria, mães – muitas vezes de filhos em idade escolar – esposas, ou cuidadoras de algum ente familiar – idosos, adultos com necessidades especiais – e que, por isso, apresentam dificuldade de deslocamento (por não poderem se ausentar de suas residências por longos períodos de tempo) ou de tempo (por realizarem muitas atividades dentro e fora de casa) ou mesmo de ambos. Desta forma, a comunicação digital traz, para estas mulheres, um vasto universo de oportunidades de empreendedorismo, ao possibilitar o acesso a ferramentas de educação à distância e a redes sociais colaborativas. O acesso à informação e à comunicação por meios digitais é, hoje, um dos fatores essenciais para o desenvolvimento de comunidades em situação de limitação de recursos financeiros ou em desenvolvimento. Segundo o estudo Value of Connectivity, realizado pela consultoria Deloitte, e divulgado em fevereiro de 2014, há uma estimativa de que, caso fosse possível o acesso à internet em países em desenvolvimento a níveis encontrados hoje em economias desenvolvidas, seria possível incrementar a economia destes países em 25%1 . E, sobre a questão do empoderamento feminino, segundo o site Weprinciples.org (que une a sigla em inglês “wep” – ou Women’s Empowerment Principles - à palavra também em inglês “principles”), desenvolvido pela UN Women, órgão das Nações Unidas voltado para as questões da mulher, empoderar a mulher para participar completamente da vida econômica em todos os setores e níveis de atividade econômica é essencial para construir economias fortes, estabelecer sociedades mais justas e estáveis, alcançar níveis internacionais para desenvolvimento, sustentabilidade e direitos humanos, melhorar a qualidade de vida para mulheres, homens, famílias e comunidades, e impulsionar negócios2 . Em um relatório3 produzido também pela UN Women, a partir de sua iniciativa WEP (Women’s Empowerment Principles)4 , alguns dados apresentados mostram a situação ainda bastante vulnerável da mulher em todo o mundo, o que reforça, ainda mais, a necessidade emergencial do estímulo ao empoderamento feminino. Entre as informações apresentadas, estima-se que 70% de toda a população pobre mundial seja de mulheres; cerca de 72% dos 33 milhões de refugiados no mundo são de crianças e mulheres; em média, pelo menos 6 em 1 Value of Connectivity, 23/02/2014. Disponível em: <http://internet.org/press/value-of-connectivity>. Acesso em: 22 abr. 2015. 2 Disponível em: <http://www.weprinciples.org/Site/Overview/>. Acesso em: 4 jan. 2016. 3 Dados extraídos do relatório “Princípios de Empoderamento das Mulheres – Igualdade significa negócios”, segunda edição 2011. Disponível em: <http://www.weprinciples.org/Site/ToolsAndReportingWepMaterials/>. Acesso em: 4 jan. 2016. 4 Princípios de Empoderamento das Mulheres, em tradução livre.
  • 13. 12 cada 10 mulheres são agredidas, forçadas a ter relações sexuais ou são vítimas de qualquer outra forma de abuso por parte de um parceiro íntimo ao longo da vida; segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Banco de Desenvolvimento Asiático (ADB) de 2011; 45% das mulheres permaneceram fora do mercado de trabalho, contra 19% dos homens; segundo estimativa do Banco Goldman Sachs, de 2007, os países poderiam aumentar seu PIB significativamente ao reduzir a diferença nas taxas de emprego entre homens e mulheres: a Zona do Euro poderia aumentar o PIB em 13%; o Japão, em 16%; os Estados Unidos, em 9%; sobre o tema educação, uma em cada cinco meninas matriculadas no Ensino Fundamental não conclui o 1º. ciclo; e segundo cálculos da Parceria de Aprendizagem para as Mulheres (Women’s Learning Partnership – WLP), para cada ano escolar que as meninas frequentam depois da quarta série, os salários aumentam 20%, a mortalidade infantil se reduz em 10%, e o tamanho da família diminui 20%. Entre os principais problemas que podem ser analisados a partir destas questões, está a alta incidência de mulheres fora do mercado de trabalho, explicitada por diversos fatores: a falta de oportunidades em empregos formais; inflexibilidade em horários de expediente, impossibilitando a conciliação com a maternidade ou cuidados especiais a idosos; número menor de vagas oferecidas a mulheres pela não aceitação da possibilidade da maternidade ou de afastamentos momentâneos para cuidados dos filhos. Outra importante questão a ser observada é a desigualdade de acesso à informação digital, que acarreta a impossibilidade de comunicação, formação continuada e educação para o emprego e para o empreendedorismo. A falta de oportunidades formais de trabalho para as mulheres, aliada às dificuldades de acesso às conexões digitais, geram um entrave importante para dificultar o empoderamento, a independência e a educação feminina, impossibilitando a criação de novos negócios e, consequentemente, barrando o crescimento de um importante segmento da economia. Assim, pode-se observar que tanto as conexões digitais (aliada à educação à distância), quanto o empoderamento feminino, são questões cruciais, hoje, para o desenvolvimento de economias e para incrementar a qualidade de vida das populações, principalmente as que habitam países em desenvolvimento. Portanto, o objetivo geral desta monografia é analisar o conteúdo e o impacto de ferramentas de comunicação digital (como sites, cursos de educação à distância e redes
  • 14. 13 sociais colaborativas) que apresentam às mulheres oportunidades de trabalho e as capacitam para o empreendedorismo. Esta análise se deu, em primeiro lugar, a partir de uma profunda análise de discurso (AD) para analisar os conteúdos de sites de educação a distância com foco em cursos para mulheres empreendedoras. O principal objetivo desta estratégia foi compreender os sentidos e os efeitos de sentido manifestados por meio dos discursos apresentados nestes cursos. Nesse processo, elementos conceituais da semiótica também serviram de base na análise da linguagem verbal e não-verbal, nos discursos ou textos culturais diversos que integraram a amostra da pesquisa. Em segundo lugar, foram realizadas duas pesquisas: uma de perfil quantitativo, realizado por meio de questionário eletrônico com empreendedoras participantes da comunidade “Empreendedoras” no Facebook, e outra, de perfil qualitativo, realizada por meio de entrevistas em profundidade com sete mulheres empreendedoras, com o objetivo de analisar a apropriação da informação e o impacto da realização dos cursos focados em empreendedorismo em seu dia a dia. Ao longo da investigação, procurou-se verificar a hipótese de que o conteúdo dos canais de comunicação digital gera mais oportunidades para o empreendedorismo feminino, e, consequentemente, para o seu empoderamento e independência financeira, ao prepará-las em sua educação técnica e gerencial para o desenvolvimento de seus negócios. Neste sentido, a comunicação foi contributiva para esta investigação a partir do recorte da análise das ferramentas de comunicação digital que podem possibilitar e incrementar o acesso à educação à distância, e permitir o intercâmbio de informações por meio de conexões colaborativas e que, em conjunto, tornam possíveis e reais as oportunidades de formação empreendedora e a criação de novos negócios para mulheres. O objeto de pesquisa proposto para estudo foi composto por sites brasileiros que se dedicam ao desenvolvimento e divulgação de conteúdos educacionais focados no tema de empreendedorismo – sendo ele global, ou, em alguns momentos, apresentado como conteúdo exclusivo para mulheres. Foram estudados, especificamente, os seguintes sites: o Rede Mulher Empreendedora, plataforma que reúne cursos e rede social de comunicação para mulheres com pequenas empresas; o Escola de Você, site que oferece cursos gratuitos on-line exclusivos para mulheres; e os sites do Sebrae e da revista PEGN (Pequenas Empresas & Grandes Negócios, da Editora Globo). Para seleção destes sites para estudo, foram observados quatro critérios: relevância e audiência; produção de conteúdos exclusivos para mulheres; e apresentação de ambiente de relacionamento para construção de redes.
  • 15. 14 No caso do site Rede Mulher Empreendedora, o site foi selecionado pois ele se constitui como um ambiente digital de relacionamento exclusivo para mulheres: além de fornecer acesso à conteúdos educacionais sobre o empreendedorismo, permite a construção de uma rede de relacionamentos entre as mulheres usuárias do site. É uma plataforma pioneira no Brasil neste sentido, e, hoje, é reconhecido como um dos principais sites fomentadores do empreendedorismo feminino no Brasil. O site Escola de Você apresenta conteúdo de educação à distância voltado exclusivamente para a audiência feminina. Além de cursos de empreendedorismo, apresenta cursos e conteúdos que remetem a questões do universo da mulher – neste sentido, ele é inovador, ao buscar foco no nicho de conteúdo feminino. Já os sites do Sebrae e da revista PEGN foram selecionados por sua relevância, alcance nacional, grande audiência e reconhecimento – construídos principalmente por sua atuação extra-site: o Sebrae é a principal instituição brasileira de apoio ao micro e pequeno empreendedor, reconhecido internacionalmente; já a revista PEGN é a principal revista mensal brasileira dedicada exclusivamente à conteúdos para o pequeno empresário (disponível no formato impresso e digital). Apesar de não serem dedicados exclusivamente à audiência feminina, ambos apresentam conteúdos exclusivos para as mulheres, e apresentam conteúdos em diversos formatos: vídeo-aulas, podcasts, textos, entrevistas, entre outros. Apresentam uma oferta maior e mais diversificada de conteúdos sobre o empreendedorismo, quando comparados com a Rede Mulher Empreendedora e a Escola de Você. Todos os sites citados são brasileiros, desenvolvidos para populações que vivem no Brasil e no idioma português. Todos também são de acesso gratuito, mediante cadastro prévio do usuário. E, para concretizar esta pesquisa, foi realizada investigação e pesquisa de literatura acadêmica nos três temas focais de estudo: empreendedorismo, aprendizagem virtual e comunicação digital, contemplando nestes tópicos uma análise aprofundada das questões femininas que marcam relevantes discrepâncias na comparação entre os gêneros. Foram analisadas as principais conceituações teóricas sobre a importância do empreendedorismo feminino na economia, do papel da educação à distância e ambientes virtuais de aprendizagem e seu consequente impacto na educação feminina, e para entender o papel social e educativo da acessibilidade e da comunicação digital, principalmente com relação a questões de uso colaborativo da rede. Para tal, além da análise teórica, foi feito o
  • 16. 15 levantamento sobre dados de educação à distância e empreendedorismo feminino no Brasil nos últimos dez anos. O empreendedorismo, de maneira geral, tem exercido papel essencial no desenvolvimento das economias de diversos países, em distintos setores produtivos e camadas sociais. E, quando mencionamos o empreendedorismo feminino, pode-se perceber de forma ainda mais clara o seu papel transformador para a qualidade de vida e para o crescimento econômico dos locais onde ele é implementado. Relatórios elaborados pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM)5 indicam dados importantes sobre a participação da mulher brasileira na atividade empreendedora. Segundo o relatório de 2005 deste instituto, o Brasil ocupava a 15ª. posição no empreendedorismo por oportunidade (quando a motivação para abrir o negócio é espontânea, gerada por um cenário favorável da economia e de maneira geral instigada pelo perfil de um empreendedor capacitado e conhecedor da atividade econômica). No entanto, o país ocupava a 4ª. posição em empreendimentos abertos por necessidade (quando a atividade empreendedora é iniciada diante da dificuldade do profissional em manter-se ou inserir-se no mercado de trabalho, tanto com relação à adequação das atividades, quanto com relação à renda). Outro dado importante, também extraído a partir do relatório do GEM de 2002, indicava que as mulheres brasileiras representavam, já naquela década, 42% de todos os empreendedores. Entretanto, as mulheres brasileiras se situam com 16,1% no empreendedorismo por sobrevivência, contra um percentual masculino de 12,1%. Ainda segundo dados do GEM, do ano de 2005, quando comparado a outros países no globo, o Brasil alcança o 3º lugar em número de mulheres empreendedoras, (6,3 milhões), ficando atrás apenas das norte-americanas e das chinesas. E, para atingir alcance em locais remotos, ou ainda populações femininas com restrições de deslocamento, a comunicação digital, por meio dos canais de educação a distância e redes sociais, torna-se fator crucial para que seja possível formar e capacitar mulheres para que criem e conduzam seus negócios próprios, e para que possam retroalimentar economias antes estagnadas ou, minimamente, suprir financeiramente famílias e comunidades em situação de fragilidade de emprego. 5 In: NATIVIDADE, Daise Rosas da. Empreendedorismo feminino no Brasil: políticas públicas sob análise. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro , v. 43, n. 1, p. 231-256, fev. 2009 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122009000100011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 6 jan. 2016.
  • 17. 16 Esta pesquisa buscou contribuir para os estudos da comunicação com um olhar sobre as oportunidades de desenvolvimento econômico, por meio da geração de novos negócios, possibilitadas pela comunicação digital e pelo acesso à capacitação via sites e redes sociais. Compreender e avaliar iniciativas já desenvolvidas para empoderar as mulheres representa tornar visíveis as possíveis soluções de geração de trabalho e renda, aliadas a estratégias de comunicação digital, e vislumbrar economias ativas em ambientes que, sem a força do empreendedorismo, estariam estagnadas e pouco produtivas. No entanto, investigar o empoderamento feminino alcançado por meio do empreendedorismo e das plataformas digitais é não somente estudar possibilidades de desenvolvimento econômico, mas, sobretudo, possibilitar uma análise sobre os possíveis caminhos para a independência financeira e a melhoria na qualidade de vida de milhares de mulheres em todo o país. E para compreender todo o espectro apresentado para a presente pesquisa, o texto está organizado em cinco capítulos: no segundo (uma vez que o primeiro é esta introdução), apresentaram-se as conceituações e os principais dados globais e brasileiros a respeito do empreendedorismo – e empreendedorismo feminino; da aprendizagem virtual e educação à distância; e da comunicação digital. Este capítulo apresenta os temas acima nesta ordem, por haver, nela, certa lógica no entendimento do contexto da pesquisa: primeiro, será apresentado o tema do empreendedorismo, pois, dentro do macro e micro-ambiente de atuação da mulher, o empoderamento da mulher (tanto econômico, quanto cultural), é possibilitado a partir do empreendedorismo. Na sequência, segue a análise sobre educação à distância e aprendizagem virtual, pois estes são os canais que permitem o empoderamento e o acesso das mulheres para a educação e formação técnica a respeito do empreendedorismo. E, por último, apresenta-se a análise sobre a comunicação digital, uma vez que ela torna possível a mediação dos ambientes virtuais de aprendizagem, por meio dos canais de comunicação, como os sites, as redes sociais e os conteúdos adaptados para o meio on-line. A interrelação entre estes três campos de estudo fundamentou o recorte de análises apresentadas na pesquisa, apresentando as possíveis conexões interdisciplinares entre os temas e suas principais correntes estudadas até o presente momento. No terceiro capítulo, apresentou-se a análise dos ambientes onde se encontram os conteúdos educacionais: os Sites Rede Mulher Empreendedora, Escola de Você, Sebrae e revista PEGN.
  • 18. 17 Já no quarto capítulo apresentou-se a descrição e análise do conteúdo dos sites (com foco no tema de empreendedorismo) e suas linguagens, separados por site e por tipo de discurso (visual ou textual), contemplando a observação a respeito da narrativa do material selecionado, e entendimento do perfil de temas abordados nos vídeos e artigos. E, por fim, no quinto capítulo, apresentou-se a análise das pesquisas quantitativa e qualitativa, onde o objetivo maior foi compreender e interpretar os significados trazidos a partir das entrevistas e dos dados numéricos obtidos nestas investigações.
  • 19. 18 2 Empreendedorismo, aprendizagem virtual e comunicação digital – desafios, paradigmas e novas perspectivas 2.1 Empreendedorismo feminino: abordagens administrativas, motivações e cenários adversos A literatura a respeito do empreendedorismo é vasta e amplamente estudada por algumas correntes de saber. No entanto, cada uma delas apresenta um enfoque diferenciado, de acordo com os seus objetivos e público-alvo analisado. Entre as ciências que analisam o empreendedorismo, observa-se que a administração apresenta um foco muito mais generalista da questão, e preocupa-se, principalmente, em apresentar as suas definições, além de oferecer, na maioria das obras pesquisadas, orientações e guias para a gestão da abertura de novas empresas. Seu enfoque é, majoritariamente, a didática das ciências administrativas: o que é uma empresa, o que é missão, o que é planejamento estratégico, etc. Sua leitura está moldada para a conceituação mecanicista e técnica sobre o tema, explorando o empreendedorismo fora de seus contextos ambientais e culturais. Já para as ciências sociais (e, aqui, pode-se considerar a sociologia e a psicologia como exemplos), o foco se dá nas relações, nos perfis empreendedores, e, acima de tudo, nas características do ambiente e da cultura que influenciam na formação e no desenvolvimento dos empreendedores. Para esta pesquisa, será analisada a seguir a conceituação do empreendedorismo de maneira genérica, não a segmentando incialmente pelas questões específicas do gênero feminino – ponto que será abordado na sequência. Além disso, serão apresentados os principais aspectos relacionais do empreendedorismo: perfil social do empreendedor, ambiente, entraves e dificuldades encontradas em seu meio, aspectos educacionais, econômicos e culturais, e comparativo de oportunidades entre os gêneros. O conceito de empreendedorismo é apresentado na literatura científica de diversas formas, mas encontra-se em Chiavenato (2012) uma definição clara e objetiva e que abarca a maior parte dos tipos de negócios e perfis de empresários. Para o autor, O empreendedor é a pessoa que inicia e/ou dinamiza um negócio para realizar uma ideia ou projeto pessoal assumindo riscos e responsabilidades e inovando continuamente. Essa definição envolve não apenas os fundadores de empresas e criadores de novos negócios, mas também os membros da segunda ou terceira
  • 20. 19 geração de empresas familiares e os gerentes-proprietários que compram empresas já existentes de seus fundadores6 . Em resumo, o empreendedorismo é a prática de criar novos negócios, ou, ainda, revitalizar negócios já existentes (CHIAVENATO, 2012). Já em Robbins (2001) encontramos outra definição: O empreendedorismo é um processo pelo qual os indivíduos buscam oportunidades, organizam os recursos necessários e, por meio da inovação, abrem seu próprio negócio, assumindo os respectivos riscos e recompensas do empreendimento e satisfazendo suas necessidades e desejos.7 Considerando esta definição, pode-se definir como empreendedor não apenas o novo empresário, o que provoca a abertura de uma empresa (o que seria o conceito primário), mas, antes, todo aquele que atua de forma inovadora e assume riscos na criação não apenas de negócios, mas de projetos, ideias e processos. Nesta questão, cabe o conceito de intraempreendedorismo: atitude de criação para assumir riscos e inovar continuamente exercida por funcionários dentro de uma empresa na qual não são donas ou sócias majoritárias. Na análise da definição do termo empreendedorismo, as palavras risco e incerteza são as que permeiam a grande maioria das conceituações, além de estarem presentes na quase totalidade da definição do “perfil empreendedor”. Não à toa, estas palavras estão na base da palavra que deu origem ao termo. “Empreendedor” tem origem na palavra francesa “entrepreneur” – e significa aquele que assume riscos e começa algo inteiramente novo (CHIAVENATO, 2012). De fato, por assumir os aspectos de risco e incerteza, a palavra deriva adjetivos que fogem da atividade gerencial ou negocial em si. Segundo o dicionário Melhoramentos, a definição de empreendedor é “1. Que, ou o que empreende. 2. Ativo, arrojado.”8 . Ainda segundo o mesmo dicionário, a definição do ato de empreender é “1. Tentar realizar algo difícil. 2. Pôr em execução. 3. Fazer.”9 O ato de empreender, então, delimita, de alguma forma, o próprio perfil do ator que busca a atividade empreendedora: é, de certa forma, um realizador, um executor, mas não de atividades rotineiras e que já sejam desenvolvidas – antes, ele é criador de uma nova 6 LONGENECKER, J. G; MOORE, C.W.; PETTY, W. J. Administração de pequenas empresas. São Paulo: Makron Books, 1998. P. 3. In: CHIAVENATO, Idalberto. Empreendedorismo: dando asas ao espiríto empreendedor. Barueri: Manole, 2012. P. 3. 7 GIMENEZ, Fernando, FERREIRA, Jane Mendes, RAMOS, Simone Cristina (org.). Empreendedorismo e estratégia de empresas de pequeno porte – 3Es2Ps. Curitiba: Champagnat, 2010. 8 BORBA, Francisco da Silva, BAZZOLI, Marina Bortolatti, BORBA, Márcia Rodrigues. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1988. P. 365. 9 _______________________.
  • 21. 20 atividade, de um novo negócio, de um novo processo. Sua atuação se dá, sobretudo, pelo aspecto da inovação, e, frequentemente, tendo como base contextos adversos e críticos. Podemos ainda caracterizar o empreendedor em suas tipologias para a condução do negócio: executor e administrador. O primeiro, executor, caracteriza-se por aquele que empreende em atividades que atestam as suas habilidades profissionais técnicas: sua experiência na produção e execução do material ou serviço que será vendido o validam para a abertura de um negócio. Por exemplo, o caso de um pizzaiolo, que decide abrir sua própria pizzaria; ou de uma manicure, que abre um salão de beleza. Nestes casos, a habilidade do profissional está na atividade-fim de seu negócio. Este tipo de empreendimento é o mais comum encontrado na realidade brasileira. Já para o segundo caso, o administrador, a habilidade profissional está centrada na gestão e administração do negócio como um todo: o empreendedor poderá conhecer ou não a atividade-fim da empresa, mas terá conhecimentos aprofundados nos aspectos gerenciais, tais como abertura de capital, tomada de empréstimos, mercado, concorrência, contratação de recursos humanos, controle orçamentário, cenário econômico, entre outras questões. Este perfil de empreendedor é mais comumente encontrado entre profissionais com renda alta, maior qualificação educacional, ou ainda o que é comumente chamado na literatura econômica de “investidor”, ou seja, pessoas com capital disponível para investimento em empresas ou setores da economia que estejam em crescimento, independentemente do setor de atuação (CHIAVENATO, 2012). Com relação aos perfis empreendedores, Chiavenato destaca ainda o que seriam as três características que os identificariam: a necessidade de realização, a disposição para assumir riscos, e a autoconfiança. No entanto, percebe-se, pelos estudos de Chiavenato, que o foco se dá apenas no estudo do empreendedor motivado pela oportunidade, ou seja, o indivíduo que opta pelo empreendedorismo por opção, e que conta, como fatores motivacionais para esta atuação, intenções de espectro positivo, como inovação e realização. Sabe-se, porém, que a atividade empreendedora é composta também por aqueles que criam novos negócios por necessidade – então, por encontrar no empreendedorismo sua última opção para o recebimento de renda, seja por falta de qualificação para exercer uma atividade como empregado, seja por cenário econômico com alto índice de desemprego (BRITO; WEVER, 2004; DORNELAS, 2005). Esta divisão na tipologia – empreendedorismo por necessidade e empreendedorismo por oportunidade – é apresentada nos estudos do GEM, e é considerada em pesquisas sobre o tema desenvolvidas pelo Sebrae e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Esta divisão, que é, sobretudo, o indicador motivacional da
  • 22. 21 atividade empreendedora, é extremamente relevante, uma vez que o perfil do empreendedor, de acordo com a sua base motivadora, muda acentuadamente. Assim, apesar de ser importante a definição objetiva do termo empreendedorismo, sua análise não poderá estar desvinculada de sua relação com o meio e com o perfil motivacional dos atores participantes, bem como do contexto econômico, social e cultural em que as atividades são desenvolvidas. Retomando o enfoque das ciências administrativas, que observam a atividade empreendedora apartada de seu contexto, encontra-se na literatura algumas das principais motivações da atividade empreendedora. Entre elas, pode-se listar o forte desejo pela independência trabalhista, para uma atuação sem chefes; a oportunidade de trabalhar com o que se mais gosta, no lugar da segurança financeira; possibilidade de desenvolvimento de iniciativas próprias, sem entraves ou negativas; desejo pessoal de reconhecimento; possibilidade de ganhos maiores que os alcançados pela atividade empregadora; desafio de criação de algo novo; etc (CHIAVENATO, 2012). Além dos aspectos motivacionais, ainda dentro do espectro administrativo, descontextualizante, encontra-se em McClelland a definição das características do “empreendedor bem-sucedido”: iniciativa própria, perseverança, determinação, comprometimento, busca de qualidade e eficiência, coragem para assumir riscos, planejamento, capacidade de persuasão, estabelecimento de redes de relacionamento, independência, autonomia e autocontrole (CHIAVENATO, 2012). Souza, Trindade e Freire (2010) ressaltam alguns autores que abordaram a vertente das características psicológicas para traçar o perfil do empreendedor. Eles lembram que McClelland e Weber defendem essa linha de estudo, ao mencionarem que existem traços de personalidade que seriam próprios de indivíduos empreendedores. No entanto, estes autores também mencionam que há ainda uma linha de estudos do empreendedorismo que enfatiza a abordagem sociológica, defendida por autores como Guimarães (2002) e Feuerschutte (2006), que levam em consideração o contexto em que os indivíduos estão inseridos em grupos sociais, e que as experiências vividas influenciam a escolha dos que empreendem. Já outros autores, como Carland, Carland e Hoy (1992), Gimenez e Inácio Júnior (2002) e Gimenez, Ferreira e Ramos (2008) deram ênfase a uma abordagem multidimensional, que une, para traçar o perfil do empreendedor, ao mesmo tempo as suas características individuais, os fatores econômicos e ambientais, e as características do futuro empreendimento (FERREIRA, 2005). Ao analisar estes três tipos de abordagem, pode-se inferir que a última, de caráter multidimensional, seria a mais completa e que poderia apontar, com maior clareza, o perfil do
  • 23. 22 empreendedor, e os locais onde há maior probabilidade para o desenvolvimento do empreendedorismo. Entretanto, é importante enfatizar que tais definições, sem uma abordagem científica ou dotada da apresentação de pesquisas que as embasem, são altamente criticadas, principalmente por sua ausência de validade para conclusões, e, como já comentado anteriormente, por sua total separação do ambiente onde se dá a atividade empreendedora, e descaracterização dos aspectos sociais, culturais e econômicos que influenciam fortemente a formação e o estabelecimento do empreendedorismo em um dado local. Embora na comunidade científica tais caracterizações sejam menosprezadas, faz-se importante mencionar os autores da linha administrativa que o fazem sem embasamento em pesquisas, uma vez que é justamente esta literatura a que é absorvida majoritariamente em ambientes acadêmicos no nível de graduação, principalmente em cursos de administração, finanças e economia. Apesar das limitações das análises de abordagem administrativa, é importante mencionar que ela ressalta os aspectos que inibem a atividade empreendedora no Brasil, e, no entanto, se resumem a questões relacionadas aos ambientes macro-econômico e legal, e, novamente, desconsidera aspectos culturais e sociais. Entre estes pontos limitantes, destacam- se a existência de uma grande lacuna nas questões de transferência tecnológica; a ausência de uma estrutura tributária e trabalhista orientada para pequenos negócios; falta de opções de micro-crédito; ausência de políticas educacionais voltadas ao estímulo da atividade empreendedora; sistema altamente burocratizado para abertura, desenvolvimento e fechamento de empresas; sistema tributário complexo e ineficaz; ausência de políticas públicas de apoio ao pequeno empresário (CHIAVENATO, 2012). Por isso, faz-se necessária uma análise ampla e aprofundada a respeito do macro e do micro-ambiente empreendedor – características e perfil da mulher que trabalha e que empreende; análise do ambiente (no Brasil e no mundo); e os aspectos motivacionais do ato de empreender – falta de oportunidades no mercado de trabalho, descoberta de uma oportunidade de venda para um produto ou serviço, entre outros.
  • 24. 23 2.1.1 Empreendedorismo feminino: representações sociais e contexto econômico e cultural A atividade empreendedora feminina apresenta aspectos sociais, econômicos e culturais bastante peculiares e diferenciados da ação masculina. Questões como a maternidade, a responsabilidade pelos afazeres domésticos, a educação dos filhos e condições desiguais de salários e oportunidades de emprego trafegam entre as principais questões de entrave para o desenvolvimento do empreendedorismo pelas mulheres no Brasil e no mundo. Observa-se pela análise de pesquisas realizadas globalmente que as dificuldades, apesar de apresentarem diferenças regionais, são localizadas em todas as partes do planeta pelas mulheres que buscam atuar como empresárias; além disso, aspectos culturais e educacionais reforçam os empecilhos para a plena atividade empreendedora nacionalmente, principalmente devido a questões relacionadas ao machismo, à debilidade no sistema educacional, à burocracia e a desigualdade de gênero nas relações trabalhistas (salários menores, quando comparado aos dos homens; poucas oportunidades na direção das empresas; assédio sexual e moral; acesso restrito a determinadas funções consideradas “masculinas”). Desta forma, faz-se importante a análise da caracterização do empreendedorismo feminino brasileiro e internacional, seus aspectos críticos, seu perfil diferenciador, e dos dados de contextualização sobre os fatores motivacionais e sobre os entraves à atividade empreendedora pelas mulheres. No entanto, antes da análise dos dados a respeito do empreendedorismo feminino, uma investigação a respeito da representação social da mulher no trabalho torna-se essencial para entender o contexto do ambiente onde se constroem as motivações, as inibições, as expectativas e as frustrações femininas com relação ao trabalho. Não seria possível construir uma investigação aprofundada sobre o tema analisando os dados sem considerar a significação do feminino no trabalho e seus aspectos relacionais (família, sociedade, escola, auto-estima). As relações de trabalho para as mulheres representam um ambiente arenoso e com uma série de barreiras há séculos, principalmente pela sua imersão, no mundo ocidental, em atividades previamente estabelecidas como masculinas, a partir da Revolução Industrial, e depois, com maior força, da Segunda Guerra Mundial.
  • 25. 24 No início do século XX, a segregação entre os distintos tipos de empregos para homens e mulheres já estava bastante estabelecido. Alguns estudos demonstram que, nessa época, nenhuma atividade era exercida tanto por homens quanto por mulheres; se isso acontecia, havia diferenças na qualidade e na quantidade apresentada no resultado final dos produtos e serviços realizados. De maneira geral, as mulheres executavam tarefas consideradas “inferiores”, geralmente recusadas pelos homens, e recebiam salários menores. No Brasil, a consolidação da cidadania feminina é exemplificada por Penna (1981): o direito ao voto para as mulheres só foi concedido depois de 1930; na família, a submissão feminina diante do ente familiar masculino, consolidado no Código Civil desde 1916 – e revisado apenas em 2003. Além disso, seu acesso ao mercado de trabalho era obstruído ou pela dependência familiar, ou pelos inúmeros obstáculos legais existentes. Segundo Camargo, Brolesi, Meza, Cunha e Bulgacov (2010), As liberdades burguesas não a atingiam [à mulher] e o Estado lhe foi sempre autoritário. A mulher brasileira, desde o Império, esteve submetida, na sociedade, por meio da legalidade, à submissão de sua família; seu acesso ao mundo público se deu por meio de seu marido.10 Nas indústrias nos anos de 1920 a 1950, as mulheres se concentraram em algumas tarefas, e não tinham acesso a outras, exclusivamente masculinas, assim, o gênero caracterizava um atributo quase definitivo para o tipo de ocupação a ser exercida. Em fábricas, por exemplo, as mulheres eram alocadas em atividades consideradas “leves”, mais lentas e mais rotineiras (CAMARGO, Et al, 2010). O crescimento das oportunidades de trabalho para as mulheres está amplamente ligado ao momento durante a Segunda Guerra Mundial, influenciado principalmente pelo ambiente europeu, no qual havia uma grande necessidade de ocupação de postos de trabalho que antes estavam ocupados exclusivamente pelos homens – e, que em uma situação de guerra, no qual a ausência masculina nas cidades gerou oportunidades de emprego para as mulheres. Além disso, já no pós-guerra, houve um crescimento vertiginoso do mercado de trabalho feminino por algumas questões econômicas: a necessidade de complementação salarial, devido à deterioração dos salários reais dos trabalhadores homens, e também pelo incentivo ocorrido pelas expectativas de maior consumo (CAMARGO Et al., 2010). É importante mencionar ainda o fortalecimento dos movimentos feministas, principalmente nas décadas de 30 até os 10 CAMARGO, Denise, Et al. O significado da atividade empreendedora: as práticas da mulher brasileira em 2008. In: GIMENEZ, Fernando, FERREIRA, Jane Mendes, RAMOS, Simone Cristina (org.). Empreendedorismo e estratégia de empresas de pequeno porte – 3Es2Ps. Curitiba: Champagnat, 2010.
  • 26. 25 anos 60, e, em seguida, da emancipação feminina (tanto do pai, quanto do cônjuge) a partir do maior acesso às universidades e à formação técnica, que permitiram com que a mulher pudesse estar tanto ou melhor qualificada do que o homem para o mercado de trabalho. Seria incoerente deixar de mencionar ainda outros dois elementos que contribuíram para a independência feminina, e para que a mulher dispusesse de mais tempo para os estudos e para o trabalho: a invenção da pílula contraceptiva, nos anos 60, e as novas tecnologias do ambiente doméstico, tais como máquina de lavar, micro-ondas e itens descartáveis (como fraldas e absorventes), que possibilitaram com que os afazeres domésticos fossem drasticamente reduzidos em tempo. Desde então, houve a necessidade de desconstruir estereótipos sociais e culturais, que ainda permanecem nos dias de hoje, e se apresentam como os mais difíceis de serem superados (CRAMER Et al., 2012). Apesar de não haver mais espaços e papéis atribuídos em definitivo a um gênero ou outro (BELLE, 1987, 1993), nota-se que há ainda uma segregação disfarçada, e que atinge as mulheres, no denominado fenômeno do “teto de vidro” (STEIL, 1997). Este fenômeno consiste em uma barreira sutil, mas transparente e suficientemente forte para bloquear a ascensão das mulheres a níveis hierárquicos mais altos.11 Outro aspecto importante é a desconsideração de interpretações biologistas, e considerar que as representações sociais, atributos e características construídas para os gêneros são social, histórica e linguisticamente elaboradas (LOURO, 2000; SCOTT, 1995; e MEDRADO, 1996). Uma definição importante sobre gênero é dada por Louro (2000), quando apresenta que ele é uma construção social feita sobre as diferenças sociais – ou seja, ele representa a forma como estas diferenças são entendidas numa sociedade e em um contexto, e como elas são trazidas para a prática social.12 Para a ação empreendedora, faz-se necessário que o profissional desenvolva algumas habilidades e competências gerenciais, importantes para a abertura e o pleno desenvolvimento 11 CRAMER, Luciana, CAPELLE, Mônica, ANDRADE, Áurea, BRITO, Mozar. Representações femininas da ação empreendedora: uma análise da trajetória das mulheres no mundo dos negócios. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas - REGEPE, v.1, n.1, jan/abril de 2012. Disponível em: <file:///C:/Users/Ma%C3%ADra/Downloads/14-54-1-PB%20(1).pdf>. Acesso em: 10 jan. 2016. 12 CRAMER, Luciana, CAPELLE, Mônica, ANDRADE, Áurea, BRITO, Mozar. Representações femininas da ação empreendedora: uma análise da trajetória das mulheres no mundo dos negócios. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas - REGEPE, v.1, n.1, jan/abril de 2012. Disponível em: <file:///C:/Users/Ma%C3%ADra/Downloads/14-54-1-PB%20(1).pdf>. Acesso em: 10 jan. 2016.
  • 27. 26 de seu negócio. Alguns autores defendem que existem, sim, algumas características gerenciais observadas com maior frequência nas mulheres (BUTTNER, 2001). Segundo Mendell (1997), as mulheres consideram a situação em seu contexto próprio, enquanto que os homens tendem a perceber cada situação segundo suas próprias regras. Em outros estudos, específicos sobre o estilo gerencial feminino, apresentam que as mulheres empreendedoras traçam objetivos culturais e sociais em suas empresas – além do objetivo meramente financeiro. Além disso, há uma preocupação mais acentuada com as equipes envolvidas, e uma tendência para que os objetivos sejam claros para todos os funcionários (TURNER, 1993). Entretanto, entre os aspectos limitadores da atividade empreendedora feminina, nota- se que as questões relacionadas ao âmbito familiar apresentam um dos seus principais inibidores. O tempo gasto com afazeres domésticos, a criação dos filhos, e a falta de suporte dos cônjuges estão entre os maiores fatores de desestímulo ao trabalho feminino, não apenas à ação empreendedora. Em pesquisa realizada por Cramer et al. (2012), foi evidenciado que há um conflito na busca da independência financeira pelo trabalho: ao mesmo tempo em que ele é benéfico para a mulher, resta ainda um sentimento de culpa – tanto em relação a abrir mão da carreira para cuidar da família, quanto no caminho contrário, ao se desvincular da família para a dedicação aos negócios (CRAMER et al., 2012). Com relação ao menor tempo dedicado à família, a mesma pesquisa observou que, além da culpa, já sentida pela mulher, há uma cobrança dos familiares para que a mulher esteja em casa. O conflito família-trabalho é uma questão importante para ser considerada na análise da atividade empreendedora, uma vez que ele interfere diretamente na qualidade e no desempenho do negócio e do trabalho feminino. Shelton (2006) destaca que a gestão deste conflito (gerados por demandas advindas tanto do trabalho, quanto da família) colabora para o bem-estar da empreendedora e, consequentemente, para o desempenho do empreendimento (STROBINO, TEIXEIRA, 2010). No quadro abaixo, desenvolvido por Grennhaus e Beutell (1985), apresenta-se de maneira mais clara alguns dos principais motivos de conflito e tensão nas relações família versus trabalho – antagonismo que aparece em sua grande maioria das vezes para as mulheres, mas não para os homens, que, a priori, não enfrentam estas dificuldades na condução de suas rotinas de trabalho.
  • 28. 27 Tabela 1. Incompatibilidade de pressões entre o trabalho e a família. Fonte: GRENNHAUS, BEUTEL, 1985, p. 78. In: STROBINO, Marcia, TEIXEIRA, Rivanda. O empreendedorismo feminino e o conflito trabalho-família: estudo de caso no setor da construção civil da cidade de Curitiba. In: GIMENEZ, Fernando, FERREIRA, Jane Mendes, RAMOS, Simone Cristina (org.). Empreendedorismo e estratégia de empresas de pequeno porte – 3Es2Ps. Curitiba: Champagnat, 2010. Um aspecto interessante, desta vez, demonstrado pelos pesquisadores acima, mas também na pesquisa Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras em Micro e Pequenas Empresas, elaborado pelo Sebrae em parceria com o Dieese, é que a composição familiar influencia na atividade empreendedora. Nas famílias em que o casal não tem filhos, a mulher tem mais tempo para dedicar-se ao trabalho, uma vez que a exigência familiar é menor; já nas famílias com filhos, há uma cobrança maior, e a dedicação ao trabalho fica prejudicada. Talvez, por isso, a média de número de filhos de mulheres empreendedoras não alcance o segundo filho. O próprio acesso à creche é um fator importante para a participação feminina no trabalho: segundo pesquisa do IBGE, entre mulheres com filhos de 0 a 3 anos de idade que frequentam creche, 71,7% estavam ocupadas, e, consequentemente, a participação das mulheres no mercado de trabalho é bastante reduzida quando nenhum filho frequenta creche (43,9%) ou algum outro não frequenta (43,4%).13 13 IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/defa ult.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.
  • 29. 28 Gráfico 1. Média de filhos entre mulheres empreendedoras. Fonte: DIEESE. Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016. Na análise da tão chamada “dupla jornada” enfrentada pelas mulheres, nota-se que ela é real. Segundo dados do IBGE, o trabalho doméstico no Brasil ainda é tarefa predominantemente feminina. A jornada média semanal das mulheres nessas atividades é 2,5 vezes maior que a masculina. Em 2011, as mulheres dedicavam, em média, 27,7 horas semanais a afazeres domésticos, enquanto os homens destinavam somente 11,2 horas de seu tempo para tais atividades. Assim, pode-se afirmar que não há no Brasil, ainda, uma divisão equânime das tarefas domésticas, cabendo às mulheres a responsabilidade pela maior parte deste tipo de trabalho.14 14 Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/defa ult.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.
  • 30. 29 Gráfico 2. Horas gastas em afazeres domésticos, segundo o sexo. Fonte: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/def ault.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016. A característica “multi-tarefa” da mulher, tão amplamente aceita e naturalizada em diversas sociedades – tanto ocidentais quanto orientais – é fruto, na verdade, de uma construção social, arraigada a partir de um passado no qual a mulher era apenas uma trabalhadora doméstica, e que, a partir da maior participação da mulher no mercado de trabalho, houve apenas uma espécie de complementação de afazeres – agora, dentro e fora do lar. No lugar de uma estrutura compartilhada de responsabilidades domésticas com o homem, a mulher apenas acumulou as duas atividades (domésticas e externas), acarretando-lhe uma sobrecarga física e psicológica. Como bem menciona Jonathan (2005, p. 373-382), A multiplicidade de papéis tende a ser considerada uma característica do universo feminino, levando ao reconhecimento de um talento nas mulheres para fazer e pensar várias coisas simultaneamente. No entanto, o acúmulo de tarefas – públicas e privadas – rotulado de “dupla jornada” é, frequentemente, considerado causa ou origem de conflitos e desgastes (Jablonski, 1996; Rocha-Coutinho, 2003). Em uma perspectiva naturalista, as dificuldades seriam inerentes à multiplicidade de papéis envolvendo demandas concebidas como inconciliáveis em sua natureza. Como conclusão, pode-se inferir que a consolidação do espaço feminino no meio empresarial depende da dedicação e do seu posicionamento tanto em relação à família, quanto em relação ao lado profissional (CRAMER et al., 2012).
  • 31. 30 O contexto e o ambiente influenciam positiva ou negativamente o desenvolvimento do empreendedorismo em uma dada região, dependendo das percepções e atitudes da sociedade local com relação ao trabalho feminino e à atuação da mulher no mercado laboral. Estas atitudes fortalecem, ou enfraquecem, as motivações e intenções das mulheres para que se tornem empreendedoras, e podem ser exemplificadas por apoio cultural e social, financiamento e políticas públicas de micro-crédito, redes de afiliações e associações que propiciam relacionamento entre as participantes, assistência e formação educacional sobre temas relacionados ao empreendedorismo, entre outras. Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 2004), as mulheres são menos estimuladas a atuarem como empreendedoras do que os homens pois elas encontram barreiras sociais e culturais que são inexistentes para eles. Entre essas barreiras, pode-se mencionar os níveis elevados de responsabilidade doméstica, menores níveis de educação, falta de exemplos femininos nos negócios, poucas redes (ou inexistência delas) de relacionamento em suas comunidades, falta de financiamento e crédito, e falta de assertividade e confiança, induzidas culturalmente, em suas habilidades para ter êxito nos negócios.15 Em pesquisa realizada por GOMES (2004) na cidade de Vitória da Conquista (BA) também foi levantada, junto a cem empresárias entrevistadas, as principais dificuldades enfrentadas para uma mulher que pretende montar seu próprio negócio. Segundo o autor, a mulher que trabalha fora tem uma grande dificuldade de conciliar trabalho e família, e essa dificuldade não costuma se apresentar para o universo masculino na mesma frequência. Já a dificuldade de obtenção de financiamentos parece ser uma dificuldade de qualquer gestor, independente de sexo, e que atinge mais as empresas de micro e pequeno porte (GOMES, SANTANA, SILVA, 2004).16 15 GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016. 16 GOMES, Ferraz Almiralva, SANTANA, Piau Gusmão Weslei, SILVA, Moreira Jovino. Mulheres Empreendedoras: Desafios e Competências. Disponível em: <http://www.cyta.com.ar/ta0406/v4n6a1.htm>. Acesso em: 10 jan. 2016.
  • 32. 31 Gráfico 3. Dificuldades enfrentadas para ser empreendedora. Fonte: GOMES (2004). In: GOMES, Ferraz Almiralva, SANTANA, Piau Gusmão Weslei, SILVA, Moreira Jovino. Mulheres Empreendedoras: Desafios e Competências. Disponível em: <http://www.cyta.com.ar/ta0406/v4n6a1.htm>. Acesso em: 10 jan. 2016. 2.1.2 Principais impactos da atuação feminina no empreendedorismo Hoje, o incentivo ao empreendedorismo é visto como uma das principais alavancas com força capaz de desenvolver e fazer crescer a economia ao redor do globo. Em países desenvolvidos e em desenvolvimento, o desafio da geração de emprego e renda é crítico, considerando o cenário macroeconômico de ajustes fiscais, crises ambientais (que afetam diretamente a agricultura e setores industriais ligados à alimentação), a geração de recursos sustentáveis e a cada vez maior demanda pela geração de empregos. Assim, é imperativo capacitar as mulheres para que elas possam participar plenamente do mercado de trabalho, e, ainda, possam ser capacitadas para que transmitam o seu potencial produtivo na forma de criação de novos negócios e empresas. Segundo dados do relatório especial sobre empreendedorismo feminino desenvolvido pelo GEM em 2015, o GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015, há notícias positivas a respeito da atividade empreendedora no mundo, mas há também muitos gargalos – principalmente em regiões onde ainda há uma barreira bastante visível com relação à participação da mulher no mercado de trabalho. Nesta pesquisa, verificou-se que a taxa de atividade de empreendimento em estágio inicial (TEA – Total Early Stage Entrepreneurship Activity) aumentou 7% desde 2012, e a distância entre os gêneros na participação em atividades empreendedoras diminuiu 6%. Este relatório analisou 83 países, e observou que, em 10 deles (sendo o Brasil um destes) as mulheres são tão ou mais propensas a atuar como empreendedoras. De modo geral, este ambiente favorável ao empreendedorismo se deve a alguns fatores que nem sempre são positivos: de certa forma, a atividade empreendedora é estimulada nestes países (todos em desenvolvimento) pela necessidade das mulheres em gerar renda para as suas famílias – ou porque são as líderes em seus núcleos familiares, ou pela ausência do suporte do cônjuge, ou ainda pela ausência de emprego formal e qualificação adequada para encontrar trabalho no mercado de trabalho formal. Como características da empreendedora mundial, podemos mencionar que a idade é um fator comum neste grupo: em geral, a faixa entre 25 a 34 anos de idade apresenta os
  • 33. 32 maiores índices de mulheres empreendedoras. Com relação à educação, 33% delas tinham ao menos o nível secundário ou ainda um nível maior de educação. Outro dado interessante é com relação às interrelações entre os dados: de modo geral, em países onde há taxas maiores de empreendedorismo, consequentemente há mais mulheres que conhecem outra que é empreendedora. Isso se explica facilmente, porque o número absoluto de empreendedoras presentes na economia é maior. Além disso, com altas taxas de empreendedorismo, há uma maior tendência à formação de redes de associações, que oferecem apoio, suporte, modelos, orientação e conselhos, fortalecendo e estimulando mulheres não-empreendedoras, em um efeito cascata que potencializa a força do empreendedorismo ainda mais nestes locais. Com relação à tipologia de negócios estabelecidos, o comércio se destaca mundialmente na preferência das empreendedoras: mais de 2/3 das empreendedoras trabalham no setor comercial. A atividade empreendedora, sem caracterização por gênero, é uma mola propulsora de empregos e de oxigenação da economia, ao estimular a geração de renda e o consumo. No entanto, uma série de pesquisas comprova que a atuação da mulher no empreendedorismo é capaz de melhorar índices de educação e saúde, e fomentam a melhoria da economia como um todo. Ainda segundo o relatório da GEM17 , elas são importantes para a economia porque elas investem em suas comunidades, educam as crianças, e investem o que recebem ajudando aos outros. No mundo todo, as mulheres controlam aproximadamente 20 trilhões de dólares em consumo na economia mundialmente, um número que poderá chegar a 28 trilhões nos próximos cinco anos. Hoje, as mulheres já representam cerca de 40% da força de trabalho global. O relatório World Employment and Social Outlook: Trends 2015 report (WESO Report) apresenta alguns dados que reforçam os benefícios da elevada participação feminina no mercado de trabalho: economias com níveis elevados de mulheres trabalhadoras são mais resilientes e experimentam menos quedas; a força de trabalho feminino é uma poderosa ferramenta anti-pobreza, pois quando a renda familiar não depende unicamente de um único membro, e é compartilhada por duas pessoas, o risco da unidade familiar perder todos os seus ganhos é reduzido drasticamente; em regiões com os maiores abismos entre os gêneros há 17 GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em <http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016.
  • 34. 33 geralmente a perda de ganhos de até 30% da renda per capita18 . Outro estudo, desta vez realizado pela Goldman Sachs 10,000 Women Initiative19 demonstrou que, entre as mulheres que participaram deste programa de incentivos, realizado em 43 países, os negócios proporcionaram um crescimento de 50% entre os empregos das empresas participantes com apenas seis meses de atuação no projeto, e os lucros cresceram 480% após um ano e meio da finalização da participação no programa. E, adicionalmente, 87% das mulheres empreendedoras foram mentoras de outras mulheres em suas comunidades. Segundo este mesmo estudo, as mulheres empreendedoras tendem a ter níveis mais elevados de educação do que as mulheres não-empreendedoras. Como resultado, educação e treinamento tendem a trazer crescimento para os negócios, bem como o fortalecimento da auto-confiança e das habilidades de liderança para estas mulheres.20 Outro estudo recente aponta que as mulheres investem 90 centavos de cada dólar que elas ganham em recursos humanos, o que pode ser traduzido por educação em sua família, saúde e nutrição – em comparação, os homens investem de 30 a 40 centavos, no máximo. As mulheres empreendedoras também estão mais predispostas a investir em educação e em suas comunidades, usando os lucros gerados pelos seus negócios.21 18 GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016. 19 BABSON COLLEGE. Investing in the Power of Women; Progress Report on the Goldman Sachs 10,000 Women Initiative. Desenvolvido pela Babson College, Wellesley, EUA, 2014. 20 GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016. 21 GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016.
  • 35. 34 Tabela 2. Média das intenções de empreender por região e gênero, em porcentagem. Fonte: GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org>/. Acesso em: 6 jan. 2016. Gráfico 4. Taxas de Empreendedorismo em estágio inicial (TEA rates) por região e por faixa etária. Fonte: GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016. Além da análise do macro e do micro-ambiente que circundam a mulher empreendedora, faz-se necessário o estudo a respeito das percepções que as mulheres tem de si mesmas, tendo em vista que a auto-avaliação das empresárias sobre suas capacidades e habilidades para gerir seus negócios impactará diretamente na evolução e na crença de que sua empresa poderá crescer e se expandir. Neste sentido, países dos continentes africano e sul-
  • 36. 35 americano tem uma grande vantagem: neles, o índice de mulheres que acreditam ter as capacidades necessárias para abrir um negócio alcança mais de 50%.22 . No entanto, é possível perceber neste mesmo dado uma grande diferença entre os gêneros: quando a amostra feminina total do globo é comparada com as respostas masculinas, pode-se perceber que o grau de auto-confiança no empreendedorismo masculino é substancialmente maior – no mundo todo, o índice alcança 46%, enquanto que os homens que acreditam serem capazes de gerir um negócio próprio somam 59%. No Brasil, a diferença permanece significativa entre os gêneros: as mulheres auto-confiantes são 55%; já os homens são 65%. Gráfico 5. Porcentagem de Adultos que acreditam ter capacidade para iniciar um negócio, por região e por gênero. Fonte: GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016. 22 GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016.
  • 37. 36 Em continuidade às auto-percepções relacionadas ao empreendedorismo, é importante mencionar a questão relacionada à aversão ao risco, já que este fator é item inerente à atividade empreendedora – ou seja, não há empreendedorismo sem assumir riscos, e a predisposição a aceitá-los é fator condicionante para que uma pessoa se torne empreendedora ou não. E aí novamente as mulheres (com base em dados globais) estão em desvantagem com relação aos homens. As mulheres tem mais aversão ao risco do que os homens: 41% delas não iniciariam um negócio por medo do fracasso, contra 34% dos homens.23 Estes dados demonstram que as mulheres tem menos confiança em si mesmas e em suas capacidades para empreender, afetando assim de maneira significativa o número de negócios que serão abertos. Apesar do abismo ainda existente entre as oportunidades de negócios geradas por homens e mulheres, ou ainda pelas dificuldades encontradas em economias em desenvolvimento, como burocracia e falta de suporte da família e dos governos locais (como ausência de micro-crédito ou dificuldades de acesso a financiamentos), o empreendedorismo feminino expande-se gradualmente em todos os países do globo. De 2012 para 2015, a taxa de empreendedorismo inicial cresceu 7%, e distância entre homens e mulheres que exercem atividades empreendedoras ficou 6% menor. 24 Ainda assim, as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no empreendedorismo ainda são fortemente arraigadas, e contam com barreiras em seus contextos sociais, culturais e econômicos. Apesar dos progressos, as mulheres continuam a enfrentar discriminação, marginalização e exclusão25 . Além disso, um fator importante para que a atividade empreendedora feminina se estabeleça e cresça é o suporte e apoio não apenas para que as mulheres iniciem novos negócios, mas também para que estes empreendimentos sejam mantidos e se desenvolvam de maneira sustentável em suas economias, gerando benefícios de longo prazo às suas comunidades. Neste sentido, o microcrédito, oferecido por empresas privadas ou governos, torna-se importante ferramenta para que o empreendedorismo feminino se estabeleça como mola propulsora em economias de baixa renda. Mas antes de analisar alguns casos relacionados a experiências de microcrédito, importantes para contextualizar a necessidade fundamental deste tipo de financiamento para prestar suporte a economias com elevado grau de atividade empreendedora, é necessário 23 GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016. 24 __________________. 25 ONU MULHERES E ESCRITÓRIO DO PACTO GLOBAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Princípios de Empoderamento das Mulheres – Igualdade significa negócios”, segunda edição 2011. Disponível em: <http://www.weprinciples.org/Site/ToolsAndReportingWepMaterials/>. Acesso em: 4 jan. 2016.
  • 38. 37 apresentar a composição do perfil da população afetada diretamente por este tipo de atividade financeira. O público-alvo ao qual se destina o financiamento de microcrédito é, de maneira geral, o que pode ser conceitualizado como “mercado emergente”, ou “mercado de consumo emergente”. Prahalad (2010) traz luz ao conceito, ao identificar que este grupo da população, antes estigmatizado e tratado de forma generalista por empresas e estrategistas de marketing, é, antes de tudo, um grupo heterogêneo, composto por pessoas das mais diversas etnias, faixas de renda e formação acadêmica. Antes, era comum a definição desta população pelo limite de ganhos anuais ou mensais; hoje, esta definição é vista já como arcaica, pelos diversos estudos econômicos já realizados a respeito deste grupo. Entretanto, seria possível segmentar ou classificar corretamente quais seriam as pessoas que compõem a chamada “base da pirâmide”, termo firmado por Prahalad? O conceito da “base da pirâmide” foi estabelecido para identificar os cerca de quatro bilhões de pobres não atendidos ou mal atendidos pelas grandes organizações do setor privado (PRAHALAD, 2010). No entanto, segundo Prahalad, não seria possível estabelecer a classificação para “pobre”, o que muitos economistas e instituições se debateram durante décadas em definir – por exemplo, se seriam pessoas que vivem com menos de dois ou com menos de um dólar por dia. Estas classificações se mostraram completamente dúbias, pois cada país e cada localidade apresentam especificidades locais, e a composição da população economicamente emergente pode passar por questões educacionais e culturais, por exemplo. Assim, a categorização em classes de A a E, com C, D e E construindo a “base da pirâmide”, não seria a classificação mais aceita atualmente, ainda segundo Prahalad. Embora não se possa classificar esta população por perfis de renda, uma questão é comum a todas estas populações no globo: estas pessoas constituem um segmento invisível (com raras exceções) para o direcionamento de produtos e serviços, tanto privados quanto estatais. Trata-se de um segmento cujas necessidades não são atendidas ou não são sequer contempladas no planejamento de mercado das empresas – não são objeto de estudo para a adequação e criação de preços, produtos, embalagens, pontos de venda, financiamento e comunicação dirigidos para atender às necessidades deste público. Itens como oferta dos produtos ou serviços em locais sem lojas, como favelas, parcelamento da compra em cotas limites analisadas para atender a rendas mensais flutuantes e sem possibilidade de comprovação, ou ainda embalagens pequenas, previstas para atender a um ou dois momentos de uso (como xampús ou sabões em pó para lavar roupa) são raros e muitas vezes desconsiderados em
  • 39. 38 planejamentos de marketing de empresas privadas. Segundo estudo publicado pela parceria World Resources Institute e pela International Finance Corporation, os consumidores da “base da pirâmide” representam cerca de US$ 5 trilhões em termos de paridade de poder de compra.26 A menção a este mercado de consumidores emergentes é importante dentro do contexto da análise do empreendedorismo feminino pois ele constitui uma base importante de origem da grande maioria das empreendedoras, principalmente aquelas em estágio inicial. Por isso, serão apresentados a seguir alguns casos de iniciativas destinadas a operações de microcrédito voltadas a este público, pois caracterizam importantes exemplos de experiências a respeito de possibilidades de empoderamento27 de populações da base da pirâmide. Um dos casos apresentados por Prahalad (2010) é o do Banco Grameen, que é voltado a operações de financiamento de populações de baixa renda. A média de valor dos empréstimos, por pessoa, é de aproximadamente 20 dólares. Outro caso mencionado pelo mesmo autor é o do ING Vysya Bank, que atende também ao público de microempreendedores. Suas principais operações consistem no financiamento a grupos de auto-ajuda, composto basicamente por mulheres empreendedoras. Em dezembro de 2008, o volume total em empréstimos concedidos a este perfil de público era de 10,3 milhões de euros. Outra experiência relatada por Prahalad, ainda no setor financeiro, é a do Banco ICICI, mas, desta vez, voltada para o atendimento a pequenos agricultores. Esta instituição dispõe de um produto de financiamento baseado no sistema de recibo de armazéns, utilizado para compor os fundos dos agricultores nas épocas logo após a colheita, quando os preços das mercadorias tendem a cair bruscamente. Assim, o produtor rural obtém o empréstimo tendo como base o cálculo do produto estocado em seu armazém, possibilitando que ele mantenha o produto estocado até que o preço no mercado se estabilize. Mas um dos principais casos relacionados ao microcrédito, relatado também por Prahalad, não se encontra no setor financeiro, mas sim no setor da construção civil. A Cemex, 26 PRAHALAD, C.K. A riqueza na base da pirâmide: como erradicar a pobreza com o lucro. Porto Alegre: Bookman, 2010. P. 29. 27 Empoderamento significa que as pessoas podem assumir o controle das suas vidas: definir os seus objetivos, adquirir habilidades, aumentar a autoconfiança, resolver problemas e desenvolver a sua independência. In: ONU MULHERES E ESCRITÓRIO DO PACTO GLOBAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Princípios de Empoderamento das Mulheres – Igualdade significa negócios”, segunda edição 2011. Disponível em: <http://www.weprinciples.org/Site/ToolsAndReportingWepMaterials/>. Acesso em: 4 jan. 2016.
  • 40. 39 a maior fabricante de cimento do México e a terceira maior do mundo, inovou ao criar iniciativas voltadas para o atendimento ao público consumidor de baixa renda. A população mexicana, público atingido pela experiência a ser mencionada, tem perfil semelhante à brasileira com relação a indicadores sócio-econômicos. Uma das características que se assemelham nas duas populações é a de que ambas não costumam ter a prática corrente de poupar dinheiro – quando ela acontece, é na forma de “tandas” (espécie de cooperativas de familiares e vizinhos que se reúnem para juntar dinheiro, no formato que se assemelha a um consórcio). Além disso, no México as mulheres são, de maneira geral, as principais responsáveis pela poupança nas famílias, e são dotadas de espírito empreendedor. Em pesquisa conduzida pela empresa CEMEX, revelou-se que 70% das mulheres que poupavam o faziam pelo sistema de tandas para construir suas casas. Assim, a empresa criou o projeto Patrimonio Hoy (PH), que possibilita a famílias de baixa renda adquirir serviços e materiais de construção a crédito, mediante um esquema de poupança realizado pelas próprias famílias, liderado geralmente por mulheres. Além disso, o projeto desenvolve iniciativas de apoio a microempreendedores, que são fabricantes de tijolos cerâmicos de baixa renda, para que possam se tornar produtores de tijolos de concreto. Estes produtores de tijolos enfrentam de modo geral algumas dificuldades, tais como processos de produção poluidores e perigosos para os profissionais; produtividade ineficiente e ciclos sazonais de produção, devido à interrupção da atividade em períodos de chuva. Em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a CEMEX criou um projeto que investe no treinamento e capacitação destes produtores de tijolos, para que possam aprender práticas mais eficazes e sustentáveis para seus negócios, e fornece microcrédito para que os produtores possam atuar de maneira mais competitiva e equilibrada sazonalmente no mercado. Além disso, a empresa fornece maquinários e ferramentas necessárias para a produção dos tijolos a estes produtores. De 2006 até dezembro de 2008, 1.200 famílias de baixa renda haviam sido beneficiadas, 550 mil tijolos haviam sido produzidos, e 1.800 cômodos foram construídos, de 10 metros quadrados cada (PRAHALAD, 2010). As experiências aqui apresentadas compõem importantes relatos para o entendimento do contexto social de grande parcela da população empreendedora, principalmente daqueles que dependem fundamentalmente do microcrédito para sua atuação no ambiente de negócios. Iniciativas como as relatadas desenvolvidas por empresas privadas demonstram que não apenas o governo ou instituições públicas são capazes de gerar possibilidades de micro-
  • 41. 40 financiamento; antes, há um mercado potencial enorme que pode ser explorado por setores privados, desde que haja um planejamento para a criação de frentes de apoio aos pequenos empreendedores e suporte para as condições sociais das famílias que se engajam neste tipo de atividade. A atividade empreendedora no Brasil concentra boa parte das características encontradas na maioria dos países, ressaltadas no tópico anterior, mas apresenta algumas peculiaridades que dialogam com aspectos específicos de sua economia e de sua sociedade. Muitas de suas características se assemelham ao perfil empreendedor de outras populações da América Latina; outras estão atreladas a questões inerentes ao perfil da população brasileira. Segundo dados do GEM, o Brasil apresenta uma atividade empreendedora típica dos países em desenvolvimento: altos índices de empreendedorismo inicial, mas fundamentalmente por motivações de necessidade (quando a atividade empresarial é o último ou único recurso para obtenção de renda) do que por motivações de oportunidade (quando a atividade empreendedora é uma escolha planejada e colocada em prática pela análise organizada das oportunidades de mercado existentes). Além disso, o índice de famílias dependentes da renda advinda da mulher é crescente, tanto pelo desemprego do cônjuge, quanto pela existência de famílias monoparentais (isto é, com a liderança única da mãe na família, e ausência do pai – seja por abandono, seja por separação ou divórcio). Na análise do gráfico da figura xx, pode-se observar que o Brasil apresenta taxas acima das médias da América Latina e do mundo com relação aos negócios estabelecidos pelas mulheres. Já com relação aos níveis de fracasso dos negócios femininos, e às taxas de empreendedorismo inicial (TEA rates), sua média está muito similar ao dos seus vizinhos continentais e dos demais países avaliados pela pesquisa do GEM. No entanto, com relação às intenções para a atividade empreendedora, o percentual brasileiro está consideravelmente abaixo dos demais países de sua região e do mundo (20% contra 30%).
  • 42. 41 Gráfico 6. Comparativo entre taxas de intenção de empreender, taxas iniciais de empreendedorismo (TEA rates), negócios estabelecidos e taxas de fracasso em negócios, exclusivamente femininas, no Brasil, na média da América Latina e Caribe, e média de todos os países pesquisados pelo GEM Special Report 2015. Fonte: GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016. Entretanto, antes de lançar um olhar aprofundado a respeito das características do empreendedorismo feminino no Brasil, há que se observar os principais dados sociais e demográficos comparativos entre os gêneros no país, tendo em vista que este contexto será capaz de propiciar uma análise mais completa a respeito da condição da mulher brasileira e as suas relações com o trabalho. Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios) 2012, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população brasileira ocupada era composta por 62,1% de empregados (58,3 milhões), 20,8% de trabalhadores por conta própria (19,5 milhões), 6,8% de trabalhadores domésticos (6,4 milhões) e 3,8% de empregadores (3,6 milhões).
  • 43. 42 Gráfico 7. Distribuição percentual de pessoas de 15 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, segundo a posição na ocupação de trabalho principal no Brasil, comparativo entre dados de 2011 e 2012. Fonte: Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/defa ult.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016. Há, ainda, evidências importantes sobre o crescimento da participação das mulheres no total de pessoas ocupadas no Brasil. Segundo o levantamento do IBGE, o percentual de ocupação cresceu 27,3%, entre 2001 e 2011, e ficou acima, portanto, do crescimento da ocupação total, que foi de 22,9%. Se consideradas apenas as mulheres que estão à frente de um negócio (empregadoras e conta própria), a participação feminina aumentou de 28,7%, em 2001, para 30,8%, em 2011. O tipo de emprego para a atividade produtiva muda bastante de acordo com o gênero. Embora a inserção como empregador e conta própria seja mais frequente entre os homens (29,2%), é verificado um percentual expressivo entre as mulheres (17,8%). Nesse sentido, apesar da prevalência do assalariamento, outras formas de inserção produtiva são bastante relevantes para as mulheres, entre as quais a ocupação por conta própria.
  • 44. 43 Gráfico 8. Distribuição dos ocupados por posição na ocupação, segundo gênero – Brasil, 2011 (em %). Fonte: IBGE, Pnad. In: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016. Quando se menciona a renda, o distanciamento entre os gêneros alcança os patamares mais elevados entre todos os índices comparativos. Ainda segundo o IBGE, em 2012 o rendimento médio mensal real de trabalho dos homens foi de R$ 1.698,00 e das mulheres foi de R$ 1.238,00. Outra forma de verificar a diferença entre o rendimento recebido por homens e por mulheres é através da proporção de pessoas que recebiam até um salário mínimo: 23,7% dos homens ocupados recebiam até um salário mínimo, enquanto para as mulheres este percentual era de 33,3%. Além disso, havia proporcionalmente mais mulheres ocupadas sem rendimentos ou recebendo somente em benefícios (9,0%) do que homens (4,9%). O rendimento médio no trabalho principal das pessoas ocupadas registrou um aumento real de 16,5% no período de 2001 a 2011. As mulheres e os trabalhadores informais foram os que apresentaram os maiores ganhos reais (22,3% e 21,2%, respectivamente). A desigualdade de rendimentos entre homens e mulheres tem se reduzido nos últimos anos, mas as mulheres ainda recebem menos que os homens (em média, 73,3% do rendimento deles). Além disso, pode-se constatar que, entre os mais escolarizados (12 anos ou mais de estudo), a desigualdade de rendimentos é mais elevada, dado que as mulheres recebem 59,2% do rendimento auferido pelos homens.
  • 45. 44 Gráfico 9. Percentual do rendimento médio das mulheres ocupadas em relação ao rendimento médio dos homens, segundo grupos de anos de estudo – Brasil – 2001-2011. Fonte: Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/def ault.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016. De 2001 a 2011, a proporção de pessoas ocupadas em trabalhos formais registrou aumento de 10,7 pontos percentuais, e se concentrou na segunda metade do período considerado (2006 a 2011) com 8,6 pontos percentuais. No caso das mulheres, o avanço foi ainda maior: 9,9 pontos percentuais. O país, entretanto, continua registrando ainda um grande volume de sua capacidade produtiva (sendo homens ou mulheres) em trabalhos informais: 44,2 milhões de pessoas. As regiões Norte e Nordeste apresentaram as menores taxas de formalidade (37,0% e 38,0%, respectivamente) e as taxas de informalidade das mulheres nessas regiões foram as mais elevadas do país. Estes índices de tipo de ocupação – formal ou informal – são extremamente importantes para a análise do ambiente empreendedor no país, pois estes dados demonstram previamente que a sociedade brasileira contempla boa parte de seus trabalhadores sem garantias formais do mercado assalariado, o que pode caracterizar o grande número de profissionais que buscam no empreendedorismo uma saída para melhores condições de renda do que as estipuladas pelo mercado de trabalho informal.
  • 46. 45 Gráfico 10. Distribuição percentual de pessoas ocupadas em trabalho formal e informal, segundo o gênero. Brasil – 2001-2011. In: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016. Com relação ao aspecto educacional no mercado de trabalho brasileiro, a população mais escolarizada tende a procurar trabalhos mais formalizados. Em 2011, a média de anos de estudo da população nestes trabalhos era de 9,2 anos para os homens e de 10,7 anos para as mulheres. Nos trabalhos informais, a média era de 6,1 anos e 7,3 anos, respectivamente. Assim, as mulheres ocupadas apresentam uma escolaridade média superior à dos homens, em mais de um ano, em ambos os tipos de trabalho. Considerando o panorama acima descrito do contexto social brasileiro, pode-se avaliar que há fatores no perfil da população que demonstram um ambiente propício para o alto índice de atividade empreendedora feminina no país: altos índices de informalidade, maior qualificação educacional feminina, distanciamento nos salários pagos entre homens e mulheres, menor acesso ao mercado de trabalho formal pelas mulheres. Embora estes dados
  • 47. 46 acima apresentados já sejam condicionantes de um ambiente empreendedor, faz-se necessária a avaliação de dados específicos relacionados à atividade empreendedora no país. Em parceria com o Dieese, o Sebrae realizou um amplo estudo para analisar o perfil do empreendedorismo feminino no país: o Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras em Micro e Pequenas Empresas, que abarca dados compilados entre 2001 e 2011.28 Segundo este estudo, o número de empreendedoras cresceu 21,4% no período de dez anos. A participação dos homens à frente dos micro e pequenos negócios, por sua vez, subiu 9,8% no mesmo período. O estudo também revela que as mulheres que estão montando o seu próprio negócio são bastante jovens: 41,3% têm entre 18 e 39 anos e 52% têm entre 40 e 64 anos. Além disso, cerca de 40% delas são chefes de família, sendo que a maioria (70%) tem ao menos um filho. Considerando a soma de empregadores e conta própria29 como o número aproximado de empreendedores no país, verifica-se que o total passou de 20,2 milhões para 22,8 milhões, com expansão de 2,6 milhões de novos empreendedores, entre 2001 e 2011. A maioria dos novos empreendedores são homens (1,4 milhão), contudo, a participação feminina cresce no período analisado, saindo de 28,7%, em 2001, para 30,8%, o que, em números absolutos, alcança sete milhões de empreendedoras. 28 O estudo considera, além do levantamento realizado pelo Sebrae e pelo Dieese, dados divulgados pela Pnad 2011, realizado pelo IBGE. 29 Trabalhador por conta própria: de acordo com o IBGE, se refere à pessoa que trabalha explorando o próprio empreendimento, sozinha ou com sócio, sem ter empregado, ainda que contando com ajuda de trabalhador não remunerado. Empregador: conforme o IBGE, se refere à pessoa que trabalha explorando o próprio empreendimento, com pelo menos um empregado. In: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016.
  • 48. 47 Gráfico 11. Evolução da estimativa do total de empreendedores no Brasil (soma dos empregadores e dos trabalhadores por conta própria), por gênero, Brasil 2001-2011, em mil pessoas. Fonte: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016. Ao analisar a escolaridade dos empregadores e trabalhadores por conta própria, em 2011, nota-se que esse atributo é muito contrastante entre os dois grupos. Os dados mostram que, entre os empregadores, a proporção de pessoas com escolaridade superior é maior, principalmente entre as mulheres. Neste grupo, o percentual de mulheres com ensino superior completo é de 33,4%, enquanto o de homens fica em 23,2%. Do total de empregadores, percebe-se que somente 1,7% são mulheres analfabetas. Já entre as que trabalhavam por conta própria, o percentual era superior, de 6,4%.
  • 49. 48 Gráfico 12. Distribuição dos empregadores e trabalhadores por conta própria por gênero e porte da empresa, segundo a escolaridade – Brasil – 2011 (em %). Fonte: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016. Já com relação às principais atividades desenvolvidas pelas empreendedoras brasileiras, nota-se que há uma relevante predominância no setor de serviços voltados à estética (13,6%) e no setor comercial, principalmente o relacionado ao vestuário e à alimentação (6,3% e 4,9%, respectivamente). Tabela 3. Relação das 10 principais atividades de empregadores em microempresas e conta própria por mulheres – Brasil – 2011. Fonte: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas
  • 50. 49 empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016. Outro aspecto importante relacionado à análise do perfil da empreendedora é o acesso ao microcrédito. Nota-se, pelo estudo, que há um acesso preponderante das mulheres ao Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, que é desenvolvido pelo governo federal brasileiro e é destinado a pessoas físicas e jurídicas empreendedoras de pequeno porte, com renda bruta anual de até R$ 120 mil. Em 2012, 63,9% dos empreendedores que tiveram acesso ao programa eram mulheres, contra 36,1% de homens. Em valores concedidos, as mulheres tiveram acesso a mais de R$ 3,8 milhões em microcrédito, e tomaram 61,3% dos empréstimos concedidos. Tabela 4. Distribuição dos microempreendedores atendidos e dos valores concedidos pelo Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado. Brasil – 2009-2012. Fonte: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016. Em resumo, a mulher empreendedora brasileira reúne entre as suas principais características: potencial de investimento maior em capacitação; tem maior grau de escolaridade do que os homens (as empresárias com Ensino Médio completo representam quase o dobro de homens com a mesma escolaridade); buscam mais informações para o seu desenvolvimento como profissionais e para o desenvolvimento de seu negócio (PIRES, 2013). O empreendedorismo, tal como já analisado nas páginas anteriores, se torna possível, e com amplas possibilidades de fortalecimento, a partir da geração de oportunidades de