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O que é a arte?
Filosofia. 10.ºAno
Escola Secundária Vitorino Nemésio
2017/2018
João Pedro Costa. 10.ºH
Bibliografia
Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, 1998, pp. 218-230.
Carmo d’Orey, O que é a arte? – A perspectiva analítica, Dinalivro, 2007, pp. 9-44, 101-
114.
David Byrne, Diário da Bicicleta, Quetzal, 2010, pp. 296-311.
Argumentação
Este trabalho incide sobre o problema “Pode a arte ser definida?”, um
problema da filosofia da arte, e tem como objetivo a discussão de duas
teorias, a teoria da forma significante e a teoria institucional. Em
primeiro lugar, apresentarei algumas noções necessárias à discussão
crítica do problema e, por fim, apresentarei as duas teorias e alguns
contra-argumentos que se podem objetar. Cada vez mais esta
questão se impõe como inadiável devido às surpreendentes e
perturbantes mutações que acontecem na prática artística. Até aqui,
quase toda a gente sabia como decidir se um objeto era ou não uma
obra de arte porque a diferença entre as obras de arte e os outros
objetos era explicitamente exibida nas próprias obras pela via de
propriedades de forma e conteúdo. Por exemplo, a arte abstrata, a
música de Cage ou Stockhausen, os happenings ou os ready-made,
como A Fonte, de Duchamp, não seriam, até ao século XX, consideradas
obras de arte, visto que não cumpriam assertivamente os critérios
tradicionais, assentes, sobretudo, na teoria da arte como imitação da
realidade.
A primeira teoria que vou explorar é a teoria da forma significante, uma
teoria essencialista apresentada por Clive Bell. As teorias essencialistas
defendem que existem propriedades essenciais comuns a todas as
obras de arte e que só nas obras de arte se encontram.
Clive Bell decidiu abandonar a ideia de que existe uma característica
que possa ser diretamente encontrada em todas as obras de arte.
Considera que não se deve começar por procurar aquilo que define
uma obra de arte, no sentido classificativo, na própria obra, mas no
sujeito que a aprecia. Isso não significa que não haja uma característica
comum a todas as obras de arte, mas que apenas a podemos
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identificar através de um tipo de emoção, a que Clive Bell chama
“emoção estética”, que elas, e só elas, provocam em nós. Mas qual é a
qualidade que é comum a Santa Sofia e às janelas de Chartres, à
escultura mexicana, a uma taça persa, aos tapetes chineses, aos
frescos de Giotto, em Pádua, e às obras-primas de Poussin, Piero della
Francesca e Cézanne?
Para Clive Bell há uma única resposta possível: a forma significante,
uma particular combinação de linhas e cores, disposições e
combinações que nos emocionam de um modo particular, no caso das
artes visuais, as rimas, a métrica e a aliteração, como no caso da
poesia, e a clave, a dinâmica e o ritmo, no caso da música, por exemplo.
Para já, esta teoria tem uma grande vantagem: pode incluir todo o tipo
de obras de arte, inclusivamente aquelas formas de arte ainda por
inventar. Desde que provoque emoções estéticas qualquer objeto é
uma obra de arte.
Apresentada a primeira teoria, poder-se-á objetar que esta
representa um argumento circular, porque o que se pretendia
explicar é usado na explicação. Está apenas a dizer que a
emoção estética é produzida por uma propriedade que produz
emoção estética, propriedade acerca da qual nada mais pode
dizer-se.
É uma teoria que não pode ser refutada. A teoria da forma
significante pressupõe que todas as pessoas que genuinamente
desfrutam da arte sentem um único tipo de emoção quando
apreciam verdadeiras obras de arte. Contudo, algumas pessoas
não sentem qualquer tipo de emoção perante certas obras que
são consideradas arte.
Uma outra dificuldade é conseguir explicar de forma clara em
que consiste a “forma significante”, responsável pelas emoções
estéticas.
A segunda teoria que vou apresentar é uma teoria de George Dickie
que ultrapassa as dificuldades, quer das teorias que construíram
definições em termos de propriedades intrínsecas dos objetos, quer
das que as contruíram em termos de estados psicológicos dos sujeitos.
É uma teoria que destaca as propriedades não observáveis das obras
de arte, ou seja, a sua natureza institucional; destaque esse que se
torna evidente na arte de vanguarda e, particularmente, na de
Duchamp, nas quais é realçada a ação de conferir o estatuto de arte
em detrimento da construção da obra.
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A tese central da teoria é a de que tal como as pessoas e os objetos
podem adquirir determinados estatutos, apenas porque existem
instituições capazes de os outorgar, também os objetos podem
adquirir o estatuto de obra de arte, no âmbito da instituição mundo-da-
arte. A base que suporta o argumento é, como se torna evidente, a
existência do mundo-da-arte no sentido de instituição análoga às de
outras práticas sociais. Dickie define a obra de arte como um
“artefacto”, algo manipulado pelo Homem, que possui um conjunto de
aspetos que lhe conferem o “estatuto de candidato a apreciação” das
pessoas do mundo-da-arte.
Há um movimento no domínio da pintura e da escultura – o dadaísmo –
que nos permite compreender ainda melhor a essência institucional da
arte. Duchamp e os seus amigos conferiram o estatuto de arte a ready-
mades (urinóis, um bengaleiro, pás de neve e objetos do mesmo
género) e, quando refletimos sobre isso, apercebemo-nos de um tipo
de ação humana que até agora tinha passado despercebida: a ação
de conferir o estatuto de arte. O mundo-da-arte consiste num feixe de
sistemas: teatro, pintura, escultura, literatura, música, etc., e cada um
proporciona um contexto institucional para a atribuição do estatuto a
objetos pertencentes ao seu domínio.
Apresentada a segunda teoria, pode afirmar-se que a teoria
institucional é circular. Explica que a arte é o que um certo grupo
de privilegiados escolhe chamar arte, e as pessoas que
entendem de arte são definidas como as que aceitam certos
objetos como obras de arte.
Por fim, ainda nos podemos perguntar que critérios usa o mundo-
da-arte. Mesmo que concordemos que os membros do mundo-
da-arte têm o poder de transformar quaisquer artefactos em
obras de arte, continuamos a querer saber porque escolhem eles
alguns objetos, e não outros. Se eles o fazem com base em
razões, estarão a aproximar-se bastante da teoria da forma
significante.
Neste texto examinei várias questões filosóficas relacionadas com a
arte. Concluo que as duas teorias apresentadas são muito criticáveis e,
é por essa razão que, de momento, perante o que li e analisei, não
adoto nenhuma teoria específica, salientando que todas têm aspetos
fulcrais a reter, para que melhor se compreenda este conceito.

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  • 1. Página1 O que é a arte? Filosofia. 10.ºAno Escola Secundária Vitorino Nemésio 2017/2018 João Pedro Costa. 10.ºH Bibliografia Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, 1998, pp. 218-230. Carmo d’Orey, O que é a arte? – A perspectiva analítica, Dinalivro, 2007, pp. 9-44, 101- 114. David Byrne, Diário da Bicicleta, Quetzal, 2010, pp. 296-311. Argumentação Este trabalho incide sobre o problema “Pode a arte ser definida?”, um problema da filosofia da arte, e tem como objetivo a discussão de duas teorias, a teoria da forma significante e a teoria institucional. Em primeiro lugar, apresentarei algumas noções necessárias à discussão crítica do problema e, por fim, apresentarei as duas teorias e alguns contra-argumentos que se podem objetar. Cada vez mais esta questão se impõe como inadiável devido às surpreendentes e perturbantes mutações que acontecem na prática artística. Até aqui, quase toda a gente sabia como decidir se um objeto era ou não uma obra de arte porque a diferença entre as obras de arte e os outros objetos era explicitamente exibida nas próprias obras pela via de propriedades de forma e conteúdo. Por exemplo, a arte abstrata, a música de Cage ou Stockhausen, os happenings ou os ready-made, como A Fonte, de Duchamp, não seriam, até ao século XX, consideradas obras de arte, visto que não cumpriam assertivamente os critérios tradicionais, assentes, sobretudo, na teoria da arte como imitação da realidade. A primeira teoria que vou explorar é a teoria da forma significante, uma teoria essencialista apresentada por Clive Bell. As teorias essencialistas defendem que existem propriedades essenciais comuns a todas as obras de arte e que só nas obras de arte se encontram. Clive Bell decidiu abandonar a ideia de que existe uma característica que possa ser diretamente encontrada em todas as obras de arte. Considera que não se deve começar por procurar aquilo que define uma obra de arte, no sentido classificativo, na própria obra, mas no sujeito que a aprecia. Isso não significa que não haja uma característica comum a todas as obras de arte, mas que apenas a podemos
  • 2. Página2 identificar através de um tipo de emoção, a que Clive Bell chama “emoção estética”, que elas, e só elas, provocam em nós. Mas qual é a qualidade que é comum a Santa Sofia e às janelas de Chartres, à escultura mexicana, a uma taça persa, aos tapetes chineses, aos frescos de Giotto, em Pádua, e às obras-primas de Poussin, Piero della Francesca e Cézanne? Para Clive Bell há uma única resposta possível: a forma significante, uma particular combinação de linhas e cores, disposições e combinações que nos emocionam de um modo particular, no caso das artes visuais, as rimas, a métrica e a aliteração, como no caso da poesia, e a clave, a dinâmica e o ritmo, no caso da música, por exemplo. Para já, esta teoria tem uma grande vantagem: pode incluir todo o tipo de obras de arte, inclusivamente aquelas formas de arte ainda por inventar. Desde que provoque emoções estéticas qualquer objeto é uma obra de arte. Apresentada a primeira teoria, poder-se-á objetar que esta representa um argumento circular, porque o que se pretendia explicar é usado na explicação. Está apenas a dizer que a emoção estética é produzida por uma propriedade que produz emoção estética, propriedade acerca da qual nada mais pode dizer-se. É uma teoria que não pode ser refutada. A teoria da forma significante pressupõe que todas as pessoas que genuinamente desfrutam da arte sentem um único tipo de emoção quando apreciam verdadeiras obras de arte. Contudo, algumas pessoas não sentem qualquer tipo de emoção perante certas obras que são consideradas arte. Uma outra dificuldade é conseguir explicar de forma clara em que consiste a “forma significante”, responsável pelas emoções estéticas. A segunda teoria que vou apresentar é uma teoria de George Dickie que ultrapassa as dificuldades, quer das teorias que construíram definições em termos de propriedades intrínsecas dos objetos, quer das que as contruíram em termos de estados psicológicos dos sujeitos. É uma teoria que destaca as propriedades não observáveis das obras de arte, ou seja, a sua natureza institucional; destaque esse que se torna evidente na arte de vanguarda e, particularmente, na de Duchamp, nas quais é realçada a ação de conferir o estatuto de arte em detrimento da construção da obra.
  • 3. Página3 A tese central da teoria é a de que tal como as pessoas e os objetos podem adquirir determinados estatutos, apenas porque existem instituições capazes de os outorgar, também os objetos podem adquirir o estatuto de obra de arte, no âmbito da instituição mundo-da- arte. A base que suporta o argumento é, como se torna evidente, a existência do mundo-da-arte no sentido de instituição análoga às de outras práticas sociais. Dickie define a obra de arte como um “artefacto”, algo manipulado pelo Homem, que possui um conjunto de aspetos que lhe conferem o “estatuto de candidato a apreciação” das pessoas do mundo-da-arte. Há um movimento no domínio da pintura e da escultura – o dadaísmo – que nos permite compreender ainda melhor a essência institucional da arte. Duchamp e os seus amigos conferiram o estatuto de arte a ready- mades (urinóis, um bengaleiro, pás de neve e objetos do mesmo género) e, quando refletimos sobre isso, apercebemo-nos de um tipo de ação humana que até agora tinha passado despercebida: a ação de conferir o estatuto de arte. O mundo-da-arte consiste num feixe de sistemas: teatro, pintura, escultura, literatura, música, etc., e cada um proporciona um contexto institucional para a atribuição do estatuto a objetos pertencentes ao seu domínio. Apresentada a segunda teoria, pode afirmar-se que a teoria institucional é circular. Explica que a arte é o que um certo grupo de privilegiados escolhe chamar arte, e as pessoas que entendem de arte são definidas como as que aceitam certos objetos como obras de arte. Por fim, ainda nos podemos perguntar que critérios usa o mundo- da-arte. Mesmo que concordemos que os membros do mundo- da-arte têm o poder de transformar quaisquer artefactos em obras de arte, continuamos a querer saber porque escolhem eles alguns objetos, e não outros. Se eles o fazem com base em razões, estarão a aproximar-se bastante da teoria da forma significante. Neste texto examinei várias questões filosóficas relacionadas com a arte. Concluo que as duas teorias apresentadas são muito criticáveis e, é por essa razão que, de momento, perante o que li e analisei, não adoto nenhuma teoria específica, salientando que todas têm aspetos fulcrais a reter, para que melhor se compreenda este conceito.