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Apontamentos das aulas de Pentateuco 2016 – Prof. Dr. João Alberto
por: João Miguel Pereira – Seminário Interdiocesano de S. José
[Apoio ao estudo. Não dispensa estar 99% atento nas aulas e tirar as próprias anotações.]
Questões do livro do Génesis:
Gen. 3, 2-3 «“Podemos comer o fruto das árvores do jardim; mas quanto ao fruto da árvore que está no
meio do jardim […] Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele […]”» – Demonstração da desconfiança
do ser humano face a Deus e aos seus mandamentos; Não encontra neles um caminho de felicidade mas
olha-os com perversidade;
Gen. 3, 4 «A serpente retorquiu» – Isto demonstra a divisão interior provocada pelo desejo de comer o
fruto e o objetivo de obediência a Deus; Gen. 3, 6 «A mulher vendo que o fruto era bom». - Como é que
ela consegue ver que o fruto era bom e pode ter bom sabor pelo seu “belo aspeto”? Como pode achar que
é bom para esclarecer a inteligência? Pelo facto da desconfiança anterior, ser agora também alimentada
pela astúcia da serpente.
Gen. 3, 6 «A mulher deu também ao seu marido» - demonstra a solidariedade e cumplicidade que existe
entre ambos desde o momento da criação quando foi tirada do “lado do homem”.
Gen. 3, 4 «No dia em que o comerdes abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus»… Mas o que se
verificou foi o contrário do que a serpente havia prometido. O ser humano deu-se conta de estar nu,
desceu á miséria da sua condição e à consciência da sua fragilidade. O autor serve-se da nudez física para
invocar a fragilidade interior. Ao pretender chegar muito alto (ao objetivo de ser como Deus) caiu muito
baixo. Pelo mal rompeu-se a solidariedade entre o homem e a mulher, a nudez que não era incómodo
agora passou a sê-lo. Antes do fruto era só a solidariedade para o bem, agora abriram-se-lhes os olhos
também para o mal.
Gen. 3, 8 «Ouviram, então, a voz do Senhor Deus, que percorria o jardim pela brisa da tarde» – quiseram
libertar-se da tutela de Deus mas o certo é que não o conseguiram. O que é que ajuda o ser humano a
entender que ultrapassou os limites? É exatamente isso: a voz de Deus. É chamado a responder não só
perante a sua consciência (noção de que estavam nus) mas também perante uma instância exterior,
aquela que é a razão da sua existência (DEUS).
Cf. Gen. 3, 9 Tentaram-se esconder mas Deus chamou o homem “onde estás?”. O que se esconde detrás
desta questão? O conhecimento prévio de Deus do sucedido e o objetivo de ajudar o ser humano a refletir
sobre o que fez e a situação em que se encontra. É evidente a questão de que Deus pretende que o
homem tome consciência do erro cometido. Como é óbvio, Deus sabia perfeitamente onde o homem
estava, a questão não mostra nenhum tipo de ignorância da parte de Deus face ao homem. De salientar
também a atitude do homem que procura esconder-se detrás dos arbustos na esperança de o mal não ser
descoberto por Deus.
Gen. 3, 11 Deus pregunta: “Quem te disse que estás nu? Comeste porventura da árvore da qual te proibi
de comer”. O homem responde passando a culpa para a mulher, esta por sua vez passa a culpa para a
serpente. Nas entrelinhas fica a sensação de que a culpa é, até, voltada para Deus: Gen 3, 12 «foi a
mulher que TOUXESTE para junto de mim que ma deu». Deus pede explicações por esta ordem “homem-
mulher-serpente”. Já a ordem das sentenças verifica-se por ordem inversa:
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Gen. 3, 14 «Por teres feito isto serás maldita entre todos os animais domésticos e entre todos os animais
selvagens» - Também há aqui um prenúncio de que as coisas não vão ser assim tão más - Gen. 3, 15
«Haverá inimizade entre ti e a mulher entre a tua descendência e a dela». O texto prenuncia uma
inimizade entre elas. “Esta (descendência da mulher) esmagar-te-á a cabeça e tu tentaras morder-lhe o
calcanhar”, mordida mortal, matreira, traiçoeira, astuciosa… De ter presente as características da
serpente: Símbolo do mal e da astúcia, dos ídolos pagãos deuses de Canaã, mas também é símbolo de
fecundidade, de vida e de equilíbrio (o seu veneno na dose certa é remedio mas em excesso mata)…
Porquê a questão das dores de parto? Como sinal da dor e da fraqueza humana aliada a uma ocasião de
vida e felicidade onde está presente a grandiosidade do Ser humano.
A quem é que Deus deu a ordem de que não podia comer o fruto do jardim? Ao homem. Mas a serpente
falou à mulher e esta por sua vez é que fala ao homem. Deus relembra agora ao homem que lhe tinha
proibido de comer o fruto e mostra-lhe que como consequência do seu pecado “a terra será maldita”. De
forma implícita está aqui presente uma questão ecológica que alude ao mal ambiental como resultado das
más atitudes humanas.
Havia, antes do pecado, uma solidariedade entre o homem e a terra em vida. Agora a solidariedade só
acontece após a morte: Gen. 3, 17 “terás de a trabalhar para que te de alimentos”, “até que à terra
regresses”.
A explicação para que a mulher se chame Eva só pode ter a ver com a explicação de ser “mãe dos viventes”
tendo em conta a proximidade deste nome com o verbo viver.
“Fez túnicas de peles e vestiu-os”: antes do pecado não se falava em morte de animais até porque o ser
humano só comia plantas. (mais uma vez uma intervenção negativa no ambiente do erro humano). De ter
em conta ainda que vestir as peles é mais digno que vestir as folhas, protege mais. Uma vez que é Deus
quem lhes dá as roupas, está aqui implícito o cuidado de Deus para com o homem mesmo depois de ele
ter falhado para com Ele, implicitamente vemos aqui a misericórdia de Deus.
“O senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden” e o jardim foi guardado por Deus por meio dos seus anjos
com espadas flamejantes. Dá-se aqui a separação entre o “jardim divino” onde os frutos brotam
naturalmente e a terra que o homem tem de trabalhar para colher. O homem já não é dono da terra que
lhe foi oferecida mas tem agora de trabalhar para que, por meio do seu suor, conquiste o alimento.
(Possível relação entre a expulsão do jardim do Éden e o exílio).
Uma maldade, uma falta de solidariedade, traz logo, consigo, outras. Por isso vem a seguir Caim e Abel.
São tantos os males que só um dilúvio poderá purificar e recriar o cosmos. Caim e Abel, primeiro
conjunto de irmãos, são figuras paradigmáticas. Representam os irmãos que violam os laços de
fraternidade.
Relato etimológico: procura explicar e refletir sobre o fraticídio. Quer-nos mostrar onde as coisas podem
chegar quando o ser humano esquece, ou procura colocar-se no lugar, de Deus, ou seja, a produção da
inveja, intriga…
Cap. 6, (v. 4) - Visível a relação com os mitos da mesopotâmia, onde os filhos de Deus se unem com as
filhas dos homens. Representa, provavelmente, a união entre os homens filhos de Israel, representados
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pelos filhos de Deus, e as filhas dos homens (estrangeiras) que não do povo de Israel. Representa o mal
que tem origem nos casamentos entre Israelitas e pagãos, ou seja, a corrupção da humanidade derivada da
intrusão dos cultos idolátricos entre o povo de Israel.
Noé é o fio de ligação entre os homens e Deus (entre o pré-dilúvio e o pós-dilúvio). Figura mitológica que
encarna os princípios éticos fundamentais de toda a humanidade (puro, justo, reto, agradável aos olhos do
Senhor, ANDAVA SEMPRE COM DEUS). Em (Gen. 10), os filhos de Noé, Sem, Cam e Jafe, são tidos como
aqueles de quem vai descender toda a humanidade após a purificação do dilúvio. Pode-se deduzir daqui
também que o autor sugere ao leitor que se identifique com Noé, perspetiva educativa.
(Gen. 6-11), para justificar o dilúvio, é assinalada a corrupção e a violência, utilizando-se nos 13 versículos
estas palavras ou derivada (três vezes e duas vezes, respetivamente).
“A quem derramar o sangue do homem, pela mão do homem será derramado o seu (sangue)”.
Implicitamente esta aqui presente a lei de Talião. A perspetiva da lei não é incitar a ação, ou seja, não é
incentivar aquela forma de justiça, mas tem antes o objetivo de inibir a ação numa perspetiva de dizer
“não faças esse mal senão vais também sofrer o mesmo”.
Todos os que derramarem o sangue do homem (animais ou outros homens) serão chamados a prestar
contas à justiça divina. É visível aqui a defesa que Deus continua a fazer ao ser humano.
“Vou estabelecer a minha aliança convosco” (v.9). Neste e nos versos seguintes a palavra aliança aparece
sete vezes (totalidade, perfeição). A aliança é caracterizada como perpétua/eterna. Trata-se não
propriamente de uma aliança porque, uma vez que o homem está sempre a pecar, há sempre uma das
partes que falha. Deus verificando que o povo desde as origens continuamente falha, acaba por aceita-lo
tal como é, com o seu pecado. Renasce daqui uma esperança para o povo de Israel na amizade divina. O
arco-íris quase que se poderia ler como os braços de Deus que abraçam a terra, os homens. Todos os
fenómenos da natureza eram à época vistos como sinais divinos. O arco-íris por “ligar” a terra ao céu era
visto como a união entre Deus e os Homens.
Os filhos de Noé que saíram da arca são Sem, Cam e Jafet. Deles tiveram origem todos os povos da terra.
Toda a humanidade é fruto de uma bênção de Deus. Os Povos conhecidos por Israel são os Cananeus,
Jafetitas e os Semitas. A origem da diversidade de línguas é explicada pelo fenómeno da Torre de Babel
onde as ambições excessivas do ser humano são a causa do desentendimento (linguístico, pelo menos)
entre homens da mesma família, da mesma descendência. As torres (zigurate) construídas para
veneração do deus Marduk suscitam a reflexão do povo israelita sobre a ambição dos homens (em
chegar aos céus). Ironicamente Israel também diz ao homens de Babel que o deus deles não é tão grande
como o Senhor de Israel, uma vez que o deles estava no cimo da torre mas o Senhor (Yhavé) ainda teve de
descer de mais alto para ver a torre que os homens estavam a construir. Se olhamos a origem
etimológica da palavra Babel: ( - balel) que significa confusão ou (bab-ili) que significa porta dos
deuses, verificamos aqui também uma alusão ao politeísmo como origem da confusão.
Ainda relativamente ao Sacrifício de Isac: um grupo que sacrificava crianças no culto ao deus Moloc. Com o
relato do sacrifício de Isac é-nos dito duas coisas: 1º que a fé de Abraão é inabalável; 2º Uma lição aos que
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sacrificavam as crianças de que não o deviam fazer pois, no fim de contas, Deus não quer o sacrifício
(Gen. 22, 12) de Isac mas apenas a fé solida de Abraão.
Questões do Livro do Êxodo:
(Ex 3, 7) – “Quem sou eu para fazer sair os meus irmãos do Egipto (Moisés)” exemplo da escusa profética,
do profeta.
“Eu estarei contigo. Este é para ti o sinal de que Eu te enviei quando: [*]tiveres feito sair o povo do Egipto
servireis a Deus sobre esta montanha. [*- o melhor seria ter aqui uma vírgula pois o sinal é “Eu estarei
contigo”, e não o que se segue]. “Moises disse a Deus […] Eles perguntar-me-ão qual é o teu nome […] Eu
Sou Aquele Que Sou/Está.” O “Está” dá um sentido mais dinâmico, ou seja, de que Deus é Aquele que
Está contigo. Na sagrada escritura o nome revela uma missão, como tal aqui é evidente que se ‘Eu sou
aquele que estou contigo’ a tua missão (de Moisés) é a de levar o nome do próprio Deus, de o representar.
Ex 3, 14 será o versículo mais sagrado para os judeus. Dizemos que o Faraó é o antagonista, ou seja, o que
é contrário ao protagonista, Deus. O Faraó apresenta-se contra a vontade de Deus e disse ele mesmo
como deus do Egipto, desenrola-se um “tira teimas” para definir quem é verdadeiramente Deus, se o
Faraó ou o Senhor (Adonai) de Israel.
Questão do reconhecimento de que “Eu Sou o Senhor”. Seguem-se os Prodígios, “contudo o Faraó não vos
escutará”.
Há uma ponte entre o livro Gen. e o do Ex.: Gen. 46, 8: “Eis os nomes dos filhos de Israel que entraram no
Egipto […]”, havia 70 pessoas. Em Gen. 49, 5: “Os descendentes de Jacob faziam um número de 70
pessoas”.
“Tornaram-se tão numerosos e poderosos que encheram o país” – É visível que, ainda que José que
protegia o povo tivesse morrido, Deus continuava junto do povo e a protege-lo.
Frequência dos termos (vs. 11-12): Trabalhos forçados 1, opressão 2, carregamentos 1 e servidão 3. Ainda
que com toda a opressão o número dos filhos de Israel continuava a aumentar, ou seja a bênção de Deus
continuava a ser maior.
Surge o improvável que causa suspense e surpresa “o rei do Egipto fala para às parteiras dos hebreus”. O
rei do Egipto porque é opressor não tem nome (interessante!!!) mas as parteiras dos hebreus, que
defendem os oprimidos e temiam a Deus, já são identificadas (Chifra e Peu). A decisão de matar os
meninos é estranha (ou não, ahahah :D) pois pretendendo-se o controlo da natalidade é de ter em conta
que um homem pode fecundar várias mulheres, o mais usual seria matar as meninas.
O Faraó em vez de matar as parteiras pede-lhes explicações. Elas dizem “As mulheres dos hebreus não são
como as mulheres egípcias, elas são fortes, quando chegamos já elas deram á luz”. É como que irónico
(gozo miudinho) dizer que elas são mais fortes do que as opressoras e fica deduzível que se elas já são mais
fortes, fará os filhos varões.
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Mandato do faraó para matarem os meninos – A mãe de Moisés colocou o filho no rio. “um homem da
casa de Levi casou Com uma filha de Levi”: isto pertente realçar o carácter da descendência sacerdotal de
Moisés.
Escondeu-o durante três meses. Não o podendo esconder durante mais tempo (deixando-se à criatividade
do leitor o porquê) ela atira o menino ao rio (embora contrariada e não por obediência ao faraó). No
entanto, ela não o atira de qualquer maneira, coloca-o numa cesta calafetada com betume (onde, com
certeza, ele terá dormido uma bela sesta… que inveja). É de relembrar que também Noé havia sido salvo
numa arca, e que a palavra hebraica que significa arca também significa cesta, neste caso a cesta em que
Moisés havia de ser salvo.
É de ter em conta que o facto de quem amamentou a criança ter sido uma mulher hebraica mantém a
identidade hebraica da criança. Isto porque para os hebreus o primeiro alimento da criança marcava a
sua identidade.
A filha mandou chamar a amã de leite que (ironicamente) era a própria mãe da criança.
Relativamente ao nome (ver página 141 . modelo com capa verde) “mosis” significa (no Egipto) “nascido
de (algum Deus)” mas como não havia nascido de nenhum Deus Egípcio mas sim do Deus único não era
necessário dizer qual o Deus de quem havia sido nascido. Os pais teriam dado esse nome de origem
egípcia porque estavam a viver no Egipto e haviam adotado os nomes da cultura egípcias (é uma hipótese
explicativa). A filha do faraó ao utilizar o nome Moisés do significado do verbo relativo à explicação salvo
das águas está já a antever a missão de Moisés (foi salvo logo terá de salvar).
Quando Moisés fugiu foi sentar-se à beira de um poço… De ter presente o significado social e romântico
do poço onde as donzelas iam buscar água e os rapazes as iam namoriscar (hoje seria mais romântico
uma caça ao Pokémon, enfim… :P ).
Morreu o rei do Egipto e com ele morreu a acusação contra Moisés. Isto é essencial para introduzir o início
da salvação/libertação (É do género do que acontece com os corruptos deste país, o processo prescreveu).
Depois disto o povo clama pela dor da opressão e servidão e Deus escuta-o.
Páscoa no livro do Êxodo (12 1-15,21):
[Apoio: caderno bíblico nº 19 pp. 14-18]
Três tipos de textos: - Legais; - Narrativos; - Poéticos;
Relação entre a pastorícia e a páscoa – imolação do primeiro cordeiro do ano em forma de gratidão aos
deuses (já acontecia no contexto politeísta) e também como pedido de proteção. Era também uma altura
de transição (transumância) dos rebanhos entre as pastagens de inverno e as pastagens de verão. Os
rebanhos corriam alguns perigos (assalto de animais selvagens ou queda em rabinas uma vez a transição
ser feita normalmente de noite). Esta transição chamar-se-ia persar (‽), dai a palavra Páscoa.
Ázimos, festa que marcava o corte entre o velho e o novo. Havia já as primeiras colheitas de cereais, o
costume de oferecer a Deus as primícias dos cereais.