1. Universidade Católica Portuguesa – Faculdade de Teologia
Braga, 2019
Unidade: Pastoral da Cultura
Aluno: João Miguel Pereira
Frases essenciais do texto: Philippe Filliot. Illuminations Profanes. Art
Contemporain et Spiritualité, Scala, 2014, (4-16).
1. Romano Guardini: a liturgia «oferece ao homem ser ele mesmo uma obra de arte». Note-se: arte e religião
participam numa mesma experiência espiritual.
2. Sagrado e profano, longe de se oporem, entrelaçam-se.
3. «Existe uma proximidade, sempre atual, entre a experiência sensível da arte e a experiência espiritual».
4. A aproximação dialógica […] visa a uma melhor inteligibilidade da arte por referência ao espiritual e,
reciprocamente, do espiritual por referência à arte.
5. É preciso distinguir os termos de «espiritual» e «religioso». Existe fora das religiões «uma espiritualidade sem
Deus». / O que não quer dizer que a espiritualidade seja exclusivamente não-religiosa.
6. A espiritualidade está potencialmente em todo o lugar: nas religiões, ou fora, nas artes ditas “sacras” ou
profanas, e pode alargar-se a todas as atividades humanas, inserindo as mais quotidianas.
7. Ideia falsa: a espiritualidade seria imaterial e consistiria em evadir-se da realidade ordinária, para se elevar ao
céu etéreo das ideias. Ora, a etimologia da palavra (spiritus) remete efetivamente à «vida do espírito», mas
esta não se opõe à matéria, ao corpo, à natureza, ao sensorial, às emoções…
8. É possível, pelo contrário, encontrar uma forma de transcendência no mundo, aqui e agora, e não num género
de além improvável. Transcendência imanente. «O sublime é agora».
9. A arte está em vias de, precisamente, dar «ao ordinário um sentido elevado, ao comum um aspeto
misterioso, ao finito a aparência de infinito» (Novalis). Ligando em conjunto o que é a-priori oposto.
10. A espiritualidade é assim religiosa e não-religiosa, imaterial e material, transcendente e imanente.
11. O artista se torna, antes de mais, um criador de experiências, e não apenas um produtor de formas.
12. A obra não se reduz mais a uma função «estética» e adquire uma função «performativa»: ela age sobre a
consciência. As obras de arte são substâncias psicoativas. A criação artística implica uma dimensão ética, um
trabalho de si sobre si, uma transformação interior do sujeito.
13. O «espiritual» de uma obra de arte não reside mais nos motivos representados, mas mais intimamente nos
«efeitos» que ela produz.
14. O encontro com a obra como uma experiência sensível e espiritual, autónoma face às instituições e
profundamente singular.
15. A arte é uma «experiência interior», ou seja, «uma experiência nua, livre de amarras, mesmo de origem, a
qualquer confissão».
16. Existe certamente uma permanência do sagrado na arte contemporânea, mas sob uma forma que não é
mais evidente e imediatamente reconhecível.
17. Tão bem que a arte, de maneira subterrânea, é um substituto do sagrado. Não um sagrado institucional,
dogmático, voltado para o passado, mas um sagrado pessoal, sem normas, ressurgindo de maneira sempre
nova e imprevista no presente.
18. A obra de arte pode ser o lugar de uma experiência meditativa, tanto no momento da sua criação como da
sua receção. Esta meditação artística não é desencarnada: ela faz-se pela mediação do corpo e no seio da
materialidade.
19. O lugar faz relação: permite tornar visível o invisível, sensível o impalpável.
20. Para lá das fronteiras uma contaminação subtil se opera in fine: a espiritualidade torna-se uma «arte de si»
(fora das religiões) e a arte, uma experiência espiritual (sem Deus).
21. Conectar-se ao que nos ultrapassa, encarnar o espiritual na matéria, pintar o nada, ver a sombra, sentar-se,
recolher-se, respirar, estar fora de si, habitar o seu gesto em plena consciência, encontrar o sagrado na vida
quotidiana, experimentar o cosmos vivo, imergir num espaço sem limite, experimentar a perda e a confusão,
olhar o mundo de outro modo, estar no instante presente.
22. As espiritualidades do mundo inteiro, para além das diferenças culturais ou históricas, propõem menos os
discursos doutrinais do que as experiências humanas, ao mesmo tempo singulares e universais, de que é
possível encontrar os equivalentes, manifestos ou latentes, na criação contemporânea.