SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 16
Baixar para ler offline
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
1
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
Parte prática: Estudo de caso 2
Texto: Apocalipse 12 - “A batalha dos séculos”
Professor: Jailson Santos
REFERÊNCIAS
Beale, G. K.: The Book of Revelation : A Commentary on the Greek Text. Grand Rapids, Mich.;
Carlisle, Cumbria: W.B. Eerdmans; Paternoster Press, 1999, Disponível na Bíblia Logos
BEALE, G. K. e CARSON, D. A. Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo
Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 2014.
BOER, Martinus de. A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs: gênero,
cosmovisão e movimento social. Traduzido por Paulo Augusto de Souza Nogueira.
Disponível em: <http://editora.metodista.br/textos_disponiveis/er19cap1.pdf >
BORNKAMM, Gunther. Bíblia-Novo Testamento-Introdução aos seus Escritos no Quadro da
História do Cristianismo Primitivo, ed. Paulinas, São Paulo, 1981, p. 121.
CARSON, D. A. Escândalo: a cruz e a ressurreição de Jesus. São José dos Campos, SP:
Fiel, c2011.
CONSTABLE, Thomas L. Notes On Revelation. Comentário Bíblico Disponível em: Bíblia
eletrônica The Word.
LIMA. Leandro de. Apocalipse como literatura: um estudo sobre a importância da análise da
arte literária em apocalipse 12-13. Tese de doutorado não publicada. 2012
___________. Exposição Apocalipse 8-14. São Paulo: Editora Agathos. 2015
HENDRIKSEN, William. Mais que vencedores: uma interpretação do livro do Apocalipse. São
Paulo: Cultura Cristã, 1987, p. 16.
HOEKEMA, Anthony A. A Bíblia e o futuro. 2ª ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana,
2001. p. 270.
J. J. Collins (ed.), Apocalypse: The Morphology of a Genre. Semeia 14, 1979, p. 9 apud
POHL, Adolf. Apocalipse de João II – Comentário Esperança. Curitiba: Editora
Esperança, 2001.
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
2
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
PIPER, John. Alegrem-se os Povos: a supremacia de Deus em missões. Tradução de
Rubens Castilho. São Paulo: Cultura Cristã. 2001.
WALLACE, Daniel. Revelation: Introduction, Argument, Outlin. Disponível na Bíblia
Eletrônica The Word
KEATHLEY, J. Hampton. Satanology. Disponível em:
https://bible.org/article/satanology.
THIELMAN, Frank. Teologia do Novo Testamento: uma abordagem canônica e sintética. São
Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 744
TRIPP, Paul David. Em busca de algo maior: viver por alguma coisa maior do que você.
São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 115.
VINE, W. E. Expository Dictionary of New Testament Words. Thomas Nelson Publishers,
May 15 2003. Disponível na Bíblia eletrônica e-sword
INTRODUÇÃO
Segundo o professor Carson, nos últimos 150 anos tem havido mais
mártires que nos 1800 anos precedentes. Estima-se que 160.000 cristãos são
mortos por ano. Nos últimos anos, mais de 2 milhões de cristãos foram mortos
só no sul do Sudão.1 Por que tanto ataque contra o reino de Deus? Onde se
encontra Deus? Por que ele não intervém? Será que vale a pena continuar
servindo a Jesus?
Essas mesmas perguntas foram feitas no primeiro século. O livro foi
escrito por João, provavelmente durante o reinado de Domiciano (c. 95-96 d.C.),
conhecido como o 2º Nero. Seu reinado foi marcado pela crueldade e, por essa
razão, os leitores originais de João estavam suportando o martírio na época do
apóstolo. Houve grandes perseguições nos primeiros séculos contra a igreja. Essa
peseguição vinha de todos os lados e, de forma mais cruel, acontecia nos ambitos
politico e social.
Frank Thielman, citando Price, apresenta o decreto do século I, oriundo da
assembleia provicial da Ásia, no qual há uma descrição de como aconteciam estas
cerimônias:
1 CARSON, D. A. Escândalo: a cruz e a ressurreição de Jesus. São José dos Campos, SP:
Fiel, c2011.
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
3
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
Todos deviam fazer uma manifestação pública de sua fé, em
todos os santuários, com intenções adequadas, em relação à casa
imperial, os corais da Ásia reuniram-se em Pérgamo para o mais
santo aniversário do deus Tibério César, e realizaram um culto
que contribuiu grandemente para a glória do Augustus,
louvando a glória imperial e fazendo sacrifícios ao deus
Augustus, com celebrações e festas.2
Segundo Merril C. Tenney, “os cristãos que se recusavam a prestar esta
adoração se expunham às acusações de antipatriotíssimo, quando não de
subversão”.3 Um exemplo desta perseguição pode ser visto na própria vida do
autor, o qual, ao que parece, foi exilado por causa de sua fé. Por essa razão, para
entender a mensagem do apocalipse deve-se olhar para os dilemas e esperanças
da época.
Nesse sentido, a mensagem principal do livro é que os cristãos sofrem
cruéis perseguições, e muitos são mortos. Mas os que continuam fiéis a Deus e ao
Messias que Deus escolheu, receberão como prêmio a vida eterna (2.10) e,
vitoriosos, reinarão para sempre com Deus no “novo céu e na nova terra” (22.1).4
Segundo Hendriksen, no geral, o propósito do livro do Apocalipse é
confortar a igreja militante nas lutas contra as forças malignas que se manistam
fisicamente por meio de homens ímpios.5 O Apocalipse foi destinado a encorajar
os crentes no meio da perseguição romana, revelando que o seu Messias estava
no controle e seria o vencedor final.6
João visava, portanto, que os cristãos entendessem que lhes foi dada a
segurança de que Deus ver suas lágrimas (7.17; 21.4); suas orações são influentes
nos negócios do mundo (8.3, 4) e suas mortes eram preciosas aos olhos do Senhor.
A vitória final lhes é assegurada (15.2); seu sangue será vingado (19.2); seu Cristo
vive e reina para sempre e sempre. Ele governa o mundo e os interesses da sua
Igreja (5.7, 8). Ele está voltando novamente para tomar seu povo para si mesmo
2 THIELMAN, Frank. Teologia do Novo Testamento: uma abordagem canônica e
sintética. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 744
3 Ibid, p. 361
4 Sociedade Bíblica do Brasil. (2005; 2010). Bíblia de Estudo Nova Tradução na Linguagem
de Hoje (Re). Sociedade Bíblica do Brasil.
5 HENDRIKSEN, William. Mais que vencedores: uma interpretação do livro do
Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 1987, p. 16.
6 WALLACE, Daniel. Revelation: Introduction, Argument, Outlin. Disponível na Bíblia
Eletrônica The Word
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
4
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
na “festa das bodas do Cordeiro” e para viver para sempre com ele em “um novo
céu e uma nova terra” (21.1).7
O GÊNERO LITERÁRIO
Segundo Bornkamm, a literatura apocalíptica “é uma forma tardia de
profecia do Antigo Testamento que ainda leva as marcas de sua origem, com suas
extensas citações, imagens e sentenças tiradas dos profetas do Antigo
Testamento”.8 Entretanto, o escrito apocalíptico “difere da profecia em virtude
do dualismo cósmico em que se incuba sua expectativa do fim”.9 J. J. Collins lança
ainda mais luz ao assunto, ao afirmar que este tipo de escrita é,
Um gênero de literatura de revelação com uma estrutura narrativa, na
qual uma revelação é mediada por um instrumento humano, que revela
uma realidade transcendente, a qual é, ao mesmo tempo, temporal,
enquanto visa salvação escatológica, e espacial, ao envolver um outro
mundo, um mundo sobrenatural.10
Normalmente este tipo de literatura aponta para uma esperança
escatológica diante do sofrimento presente. Por essa razão, apocalipse 12 é uma
mensagem de esperança diante das situações opressivas que os cristãos viviam.11
Para isso, o autor usou disposições de símbolos e metáforas vívidas para analisar
situações humanas com base na perspectiva do céu.
7 HENDRIKSEN, William. Mais que vencedores: uma interpretação do livro do
Apocalipse. p. 16.
8 BORNKAMM, Gunther. Bíblia-Novo Testamento-Introdução aos seus Escritos no Quadro
da História do Cristianismo Primitivo, ed. Paulinas, São Paulo, 1981, p. 121.
9 Ibid
10 J. J. Collins (ed.), Apocalypse: The Morphology of a Genre. Semeia 14, 1979, p. 9
apud BOER, Martinus de. A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs:
gênero, cosmovisão e movimento social. Traduzido por Paulo Augusto de Souza Nogueira.
Disponível em: <http://editora.metodista.br/textos_disponiveis/er19cap1.pdf >
11 Deve-se entender, entretanto, que os apocalípticos judeus fundamentaram suas
esperanças em um evento futuro, mas o Apocalipse de João as fundamenta no
sacrifício passado de Jesus Cristo, “o Cordeiro que foi morto”. Cf. CARSON D. A.;
MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao novo testamento. 6. reimpressão São
Paulo: Vida Nova, 2004, p. 534
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
5
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
APOCALIPSE 12
O capítulo 12 é uma síntese de uma guerra épica que vem atravessando os
séculos e explica por que as coisas são como são. O método de narração
começando neste ponto, difere de qualquer coisa anterior, porque se concentra
nas manobras secretas que estão por trás do conflito visível que foram e ainda
serão retratadas no livro. A mensagem, como observou o Rev. Leandro Lima, é
que por trás da batalha que os olhos veem há uma guerra que os olhos não
veem.12 Essa é a guerra entre a Serpente e a mulher que vem acontecendo deste
Gênesis 3. 14-16.
O texto começa dizendo que João viu um “sinal extraordinário”.
Usualmente, João usava a palavra grega “semeion” (“sinal”) para descrever algo
milagroso que aponta para algum significado espiritual mais profundo ligado a
um evento ou objeto.13 Isso quer dizer que sua descrição metafórica e simbólica
apresenta nas entrelinhas uma história cheia de significados espirituais
profundos. Essa guerra é composta de várias batalhas. Vejamo-las.
A BATALHA ENTRE O DRAGÃO E A MULHER
Na visão João enxerga “uma mulher vestida do sol, com a lua debaixo dos
seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. Ela estava grávida e gritava
de dor, pois estava para dar à luz”. Quem é essa mulher? A teologia católica
afirma ser Maria e interpreta este texto como base que justificaria a adoração a
Maria. O texto, no entanto, não diz isso. Essa mulher é a comunidade messiânica
como um todo durante a antiga e a nova aliança. Nesse primeiro momento ela
representa a antiga aliança que, após muito tempo de dor, daria à luz ao Messias.
Isto é evidente à luz do contexto e da analogia das escrituras pelas seguintes
razões: (1) Sua descrição é uma reminiscência de Gênesis 37. 9-10, onde esses
corpos celestes, o sol e a lua, representam Jacó e Raquel.14 (2) As 12 estrelas em
sua coroa a ligariam as 12 tribos de Israel ou aos 12 filhos de Jacó, os patriarcas
de Israel.15 (3) No versículo 2 ela é vista com um filho, aquele que governa com
12 LIMA, Leandro de. Exposição Apocalipse 8-14. São Paulo: Editora Agathos. 2015
13 CONSTABLE, Thomas L. Notes On Revelation. Comentário Bíblico Disponível em:
Bíblia eletrônica The Word.
14 BEALE, G. K. e CARSON, D. A. Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo
Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 2014.
15 Ibid
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
6
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
uma vara de ferro (vs. 5). Este não pode ser outro senão Cristo, que, como
prometido nas Escrituras, era da nação de Israel (Mateus 1. 1-25; Salmo 2.8-9;
Apocalipse 2.27; 19.15). Assim, a mulher é a nação de Israel, a matriz e a fonte do
Messias.
João continua sua narrativa asseverando que “o dragão se colocou diante
da mulher que estava para dar à luz, para devorar o seu filho no momento em
que nascesse”. Observe que a cena muda drasticamente da bela, mas frágil
mulher, para o poderoso e assustador dragão. Ele é descrito com seis referências
(Vv. 3 a 4a): “Vermelho com sete cabeças e dez chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas.
Sua cauda arrastou consigo um terço das estrelas do céu, lançando-as na terra”.
D. A. Carson observou que na poesia hebraica, quando as coisas vão bem,
as árvores cantam, os bosques dançam e os céus se alegram. Quando as coisas
não vão bem, as estrelas caem do céu e o mundo entra em desordem. A descrição
é que algo com efeitos cômicos estão para acontecer.16 Isso porque um dragão no
apocalipse é o imaginário de um animal assustador e destrutivo. O fato de o
dragão ser chamado de “grande” indica a magnitude do poder e da atividade de
Satanás no mundo. “Vermelho” enfatiza seu caráter assassino e sedento de
sangue, bem como seu comportamento ao longo da história.
Diante disso, duas perguntas importantes precisam ser respondidas aqui.
A primeira, quem é o dragão? E a segunda, o que ele está tentando fazer? A
identidade do Dragão é revelada no verso 9b: “Ele é a antiga serpente chamada Diabo
ou Satanás, que engana o mundo todo”. A descrição do dragão como a “antiga
serpente” o identifica como a mesma personagem diabólica de Gênesis 3.1,14. As
palavras do Rev. Leandro Lima são esclarecedoras sobre esta identificação:
Apocalipse 12 interpreta a figura da serpente-dragão como o
próprio Diabo, sendo essa interpretação explícita a única no texto
bíblico. Com uma leitura apenas de Gn 3, seria muito difícil
concluir que aquela serpente fosse, na verdade, um anjo decaído.
Mas João não deixa dúvida: “E foi expulso o grande dragão, a
antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo
o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos”
(Ap 12.9). João modificou o modo como seus leitores passariam a
ler o texto de Gn 3. Eles não veriam apenas uma serpente ardilosa,
mas também um terrível dragão disfarçado de serpente, o próprio
16 CARSON, D. A. Escândalo: a cruz e a ressurreição de Jesus. São José dos Campos, SP:
Fiel, c2011. p. 88.
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
7
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
Satanás, o anjo caído, responsável por todo o mal que há no
mundo e por todo o sofrimento do povo de Deus.17
O antigo tentador do povo de Deus, também é “chamado Diabo e
Satanás”, nomes que significam “caluniador” e “adversário”, respectivamente. O
texto grego acentua fortemente essa ação enganosa como um aspecto contínuo
do caráter e da atividade de Satanás. O que ele está tentando fazer encontra-se
descrito no verso 4b: “O dragão colocou-se diante da mulher que estava para dar à luz,
para devorar o seu filho no momento em que nascesse”.
Desde Genesis 3.15 a serpente, ou diabo ou satanás ou dragão, tentou
destruir a mulher para que o descendente não nascesse. Para fazer de uma
história longa uma história curta, leia o Antigo Testamento e você verá que a mãe
do Messias, isto é, o povo de Israel, sempre sofreu duras ameaças. Como
observou Hendriksen, a cada passo no Antigo Testamento, narra-se que a
descendência prometida da mulher está sob o risco de desaparecer, e sempre
sendo resgatada por uma intervenção divina.18
Não podendo matar a mãe “o dragão colocou-se diante da mulher que
estava para dar à luz, para devorar o seu filho no momento em que nascesse”.
Satanás conhece as profecias sobre o plano de redenção de Deus. Ele também
sabe que a redenção viria através do Messias prometido que descenderia da
linhagem de Israel. Então, o encontramos no texto esperando com presas
desnudas para devorar o Messias prometido. Essa cena você já viu antes. A
matança dos meninos com menos de dois anos em Belém, ordenada por Herodes,
por certo estava na mente de João no momento dessa descrição.19 João almeja que
seus leitores entendam que, por trás de cada golpe desferido contra a
comunidade da aliança e o seu Messias prometido existe o dragão, a antiga
serpente.
A BATALHA ENTRE O DRAGÃO E O FILHO
A batalha entre o dragão e o filho, a priori, é descrita em poucos linhas:
“Ela deu à luz um filho, um homem, que governará todas as nações com cetro de ferro.
17 LIMA. Leandro de. Apocalipse como literatura: um estudo sobre a importância da análise da
arte literária em apocalipse 12-13. Tese de doutorado não publicada. 2012
18 HENDRIKSEN, William. Mais Que Vencedores. São Paulo: Cultura Cristã, 1987.
19 LIMA. Leandro de. Apocalipse como literatura: um estudo sobre a importância da análise da
arte literária em apocalipse 12-13. Tese de doutorado não publicada. 2012
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
8
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
Seu filho foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono” (Verso 5). O Rev. Leandro
Lima observou que “ao dizer que Jesus fora arrebatado para o trono de Deus, a
sua passagem pela terra praticamente é obliterada na narrativa de João”.20 A cena
passa rapidamente da manjedoura para o trono no céu. Da encarnação para a
ascensão. Por que João deixou de lado a vida e a obra de Jesus na Cruz? João usou
um recurso literário chamado de elipse, ou seja, supressão de um termo que pode
ser facilmente subentendido pelo contexto linguístico ou pela situação. Com isso
João deseja, de um lado, chamar nossa atenção para o que é menos considerado:
o Nascimento e a Ascensão de Jesus. Por outro lado, o seu esquecimento
proposital faz com que o leitor sinta falta e, assim, lembre-se do que é central
nesta grande batalha: A Cruz de Cristo.
O dragão que tem sido derrotado desde o Éden leva o golpe mortal na
Cruz e a subida do Filho é a descrição de sua vitória. A segunda pessoa da
trindade sempre Reinou, mas Jesus é corado Rei em termos jurídicos neste
momento, como ficará claro nos versos 7 a 9. No entanto, antes disso, João volta
a falar da mulher e descreve o seu refúgio: “A mulher fugiu para o deserto, para um
lugar que lhe havia sido preparado por Deus, para que ali a sustentassem durante mil
duzentos e sessenta dias” (verso 6).
Uma vez que Satanás não matou a Cristo, ele se voltou em fúria de dragão
contra a mulher (a comunidade da Aliança), a fim de derramar sua vingança
sobre ela. Sabendo disso, Deus preparou um lugar de refúgio, isto é, o deserto.
Mais uma vez o pano de fundo para a compressão deste verso é o Antigo
Testamento. Antes de chegar na terra prometida (lugar de descanso) o povo
passou pelo deserto. Este é, de um lado, o lugar de tentação, provação, tribulação.
Mas este é também, por outro lado, o lugar de livramento, sustento, cuidado e
feitos extraordinários do Senhor. A mulher está guardada pelo braço forte do
Senhor!
A BATALHA ENTRE O DRAGÃO E MIGUEL
“Houve então uma guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o
dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram
suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar nos céus. O grande dragão
foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás, que engana
o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra” (versos 7-9).
20 Ibid
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
9
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
A cena muda bruscamente da terra para o céu a fim de explicar o assunto
deixado em suspense no verso 5, sobre a vida e a obra do Messias, isto é, o
descendente da mulher. No Jardim do Éden, Deus prometeu a Adão e Eva que o
tentador que os fez cair seria derrotado, e que os eventos temidos do seu pecado
no Jardim seriam revertidos, através de uma solução que o próprio Deus
forneceria. Ele prometeu um Salvador, que nasceria da mulher, que iria destruir
a cabeça da serpente (Gn. 3.15). As palavras são endereçadas à serpente, mais
tarde identificada como um agente de satanás, o dragão (Ap. 12.9; 20.2).
Nesse sentido, o verbo que se fez carne veio ao mundo para, entre outras
coisas, cumprir uma missão dupla, quando o assunto é nosso tentador. Jesus veio,
em primeiro lugar, para destruir as obras do tentador; e, em segundo lugar,
destruir o próprio tentador. Em outras palavras, a morte do nosso Salvador na
cruz, não só forneceu um sacrifício perfeito para o pecado, mas, como pode ser
visto em várias passagens do Novo Testamento, forneceu uma vitória sobre
satanás e suas forças do mal.21
Essa verdade é clara nas palavras do autor de Hebreus: “ele [Jesus]
também participou dessa condição humana, para que, por sua morte, derrotasse
aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo...” Na cruz, satanás e seus
espíritos imundos foram derrotados. A palavra “derrota” significa, na língua
original, “colocar fora de ação” ou “tornar inútil”.22 Ela é usada várias vezes para
mostrar como, através da morte e ressurreição de Cristo, os poderes de destruição
que ameaçam o homem espiritualmente foram colocados “fora de ação”. Neste
sentido, Miguel está apenas cumprindo uma ordem judicial, isto é, a de despejar
o dragão do céu para a terra. Com a derrota na cruz o dragão também perdeu
duas coisas: O posto de acusador no céu e, de certo modo, de enganador na terra.
O dragão perdeu seu poder de fogo contra os eleitos: “...nem mais se
achou no céu o lugar deles.” (Apocalipse 12.8). Cristo, o Sumo Sacerdote dos
eleitos, após completar sua obra na terra foi assunto ao céu e removeu toda
barreira legal que condenava os eleitos. Daí em diante, satanás não teve mais
fundamentos jurídicos sobre os quais acusava o povo de Deus e os mantinha em
cativeiro por meio de suas várias decepções. Quando isso aconteceu, o reino de
satanás começou a ser continuamente mimado e em seguida, lançado ao chão
(Mt. 12.29). Nunca mais satanás cumprirá a sua função de, falsamente, acusar os
santos perante Deus, pois Cristo lhes tem assegurado o seu perdão reconciliando-
21 KEATHLEY, J. Hampton. Satanology. Disponível em:
https://bible.org/article/satanology.
22 VINE, W. E. Expository Dictionary of New Testament Words. Thomas Nelson Publishers,
May 15 2003. Disponível na Bíblia eletrônica e-sword
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
10
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
os com Deus através da Sua expiação. Não há mais lugar para o acusador no céu,
pois não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo (Rm. 8.1). A
cadeira daquele que, dia e noite, constantemente acusava os eleitos, está vazia.
Essa foi uma grande derrota que nosso tentador sofreu, mas não foi e não
será a única. Todavia, antes de apresentar outras batalhas dessa grande guerra
João fala do louvor tributado ao Messias e Rei Jesus:
Então ouvi uma forte voz dos céus que dizia: Agora veio a salvação, o
poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi
lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso
Deus, dia e noite. Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra
do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida.
Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam! (Apocalipse 12.
10-12)
A frase que não pode ser perdida neste cântico é: “agora veio a salvação,
o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo”. O primeiro
destaque é para a palavra “agora”. Ao utilizar esse advérbio, João “aponta para a
linha divisória na história humana, a morte e ressurreição de Cristo, a qual resultou na
vitória sobre Satanás”.23 A vitória de Cristo sobre a morte e Sua subida ao céu
desencadeou a expulsão do dragão. Assim, o reino de Deus e a autoridade de Seu
Cristo se estabeleceram no céu e na terra (Mt 28.18). A vitória de Cristo na Cruz,
Sua ressurreição e ascensão ao céu não apenas anula a argumentação jurídica no
céu, mas também limitou a autoridade do dragão na terra, isto é, o tentador
perdeu parte do seu poder de sedução. Após a queda e antes da Cruz, satanás
havia enganado as nações, mantendo-as cativas no seu reino com suas garras (Lc
4. 5-8; Ap 20. 3;). Agora, no entanto, pela Sua vida, morte e ressurreição, o
Redentor venceu, de modo que o domínio de satanás está quebrado e seu reino
é, de agora em diante em colapso em câmera lenta. Isso aconteceu, de início, por
meio da pregação da Igreja (Mt 28.18), pela qual o Deus soberano transfere os
antigos súditos de satanás para o Reino do Seu Filho amado (Cl 1.13).24
Nesse sentido, satanás foi lançado na terra e preso. Essa descrição é feita
em Apocalipse 20.2: “... e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o e pôs
selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações...” A “prisão” da antiga serpente,
em 20.1-3, não é absoluta em todos os sentidos, mas se refere principalmente à
incapacidade de enganar as nações, como fizera com Adão e Eva. Até aquele
23 HENDRIKSEN, William. Mais Que Vencedores. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
24 DAVIS, Dean. The High King of Heaven. WinePress Publishing, 2013.
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
11
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
momento as nações e impérios gentios, tais como Egito, Assíria, Babilônia, Medo-
Pérsia, Grécia e Roma cediam às tentações e à escravidão da antiga serpente. No
entanto, Cristo “despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao
desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl. 2.15).
Como cumprimento da maldição sobre a serpente no jardim (Gn 3. 15),
Cristo esmagou a cabeça de satanás (Cf. Mt 21. 44; Rm 16. 20) exercendo Sua
autoridade no céu e agora na terra (porque “toda a autoridade” foi dada a Ele,
(Mt 28.18-19) envia seus discípulos para irem a todas as nações e fazerem
discípulos. Assim, sendo limitada pelo próprio Deus, a antiga serpente perdeu
parte do seu poder de sedução e o resultado é que muitos não caíram mais em
sua lábia, mas ouviram a Cristo e foram salvos (At 17.30-31, 26.17-18).
João, aqui também ecoa as palavras de Jesus em João 12.31,32: “Chegou o
momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. E eu, quando for
levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo”. É interessante observar que o verbo
grego traduzido por “expulsar” (“ekballo”) é derivado da mesma raiz que o termo
utilizado em Apocalipse 20.3: “lançou-o” (“ballo”) [“Satanás”] no abismo”.25
Temos, ainda, um cumprimento de Isaías 24.21-22: “Naquele dia, o SENHOR
castigará, no céu, as hostes celestes, e os reis da terra, na terra. Serão ajuntados
como presos em masmorra, e encerrados num cárcere, e castigados depois de
muitos dias”. Esse cumprimento foi inaugurado por ocasião da morte e
ressurreição de Cristo e culminará com sua vinda no clímax da história, como
veremos mais à frente.
Nesse sentido as palavras de Hoekema são esclarecedoras:
O aprisionamento de Satanás, descrito em Apocalipse 20.1-3,
portanto, significa que, ao longo da era do Evangelho na qual
veremos agora, a influência de Satanás, embora certamente não
eliminada, é tão restringida que ele não pode impedir a
disseminação do Evangelho às nações do mundo. Por causa do
aprisionamento de Satanás durante esta era presente, as nações
não podem conquistar a igreja, mas a igreja está conquistando
nações.26
25 HOEKEMA, Anthony A. A Bíblia e o futuro. 2. ed. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 2001. p. 270.
26 Ibid
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
12
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
A BATALHA ENTRE O DRAGÃO E SEUS DESCENDENTES
E A MULHER E SEUS DESCENDENTES
Nada podendo fazer com o Filho que é maior que ele, o dragão continua
sua empreitada de destruir a mulher e o restante de sua descendência: “Quando
o dragão foi lançado à terra, começou a perseguir a mulher que dera à luz o
menino.” O que temos aqui é a mesma cena já apresentada, mas agora detalhada.
Expulso do céu, o dragão desce para o único lugar em que ainda pode transitar e
agir: o mundo. Por isso a advertência: “Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu
até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12.12).
Como observou o Rev. Leandro Lima “o conflito na terra (e no mar) ainda não
foi resolvido. No céu o dragão não tem mais legitimidade para agir, porém na
terra (e no mar) ele ainda tem, e fará isso da pior maneira possível.”27
No entanto, “foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para
que ela pudesse voar para o lugar que lhe havia sido preparado no deserto, onde
seria sustentada durante um tempo, tempos e meio tempo, fora do alcance da
serpente”. O pano de fundo mais uma vez é o Antigo Testamento. Em Êxodo 19.4
Deus disse ao seu povo: “Vocês viram o que fiz ao Egito e como os transportei sobre
asas de águias e os trouxe para junto de mim”. “Duas asas da grande águia” é a
maneira metafórica de descrever como Deus vai salvá-los, ou seja, com força e
segurança.
Sem desistir, o dragão (a serpente) “fez jorrar da sua boca água como um
rio, para alcançar a mulher e arrastá-la com a correnteza. A terra, porém, ajudou
a mulher, abrindo a boca e engolindo o rio que o dragão fizera jorrar da sua boca”
(versos 15-16). Mais uma vez, no entanto, seus planos são frustrados. Mesmo
ainda tendo legitimidade para agir na terra, isso não significa que o dragão tem
toda a liberdade para fazer o que quiser. Há limites e, sobretudo, intervenções
divinas pelas quais Deus protege seus filhos na terra.
O dragão, até então, perdeu três batalhas de grande guerra. Ele não
conseguiu destruir a mulher (12. 1-4), não conseguiu matar seu Filho (12.4),
perdeu a guerra no céu (12. 7-9) e foi incapaz de destruir a mulher (12. 13-16).
Totalmente derrotado, mas sem jamais se render o dragão se voltou para o
restante dos descendentes da mulher, chamados no texto de “os que obedecem
aos mandamentos de Deus (uma provável referência aos judeus que seguiram a
27
LIMA. Leandro de. Apocalipse como literatura: um estudo sobre a importância da análise da
arte literária em apocalipse 12-13. Tese de doutorado não publicada. 2012
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
13
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
Jesus) e se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus (uma provável referência aos
gentios que creram em Jesus)”. Assim, os descendentes da mulher ainda então
na mira do dragão e, por isso, o povo da nova aliança viva agora em constante
perigo. Judeus e Gentios se tornaram um único povo que é perseguido pelo
dragão.
A fim de destacar o tamanho do perigo João afirma: “Então o dragão se
pôs em pé na areia do mar”. Ao se colocar em pé sobre a areia do mar, cria-se o
suspense de que algo terrível vai acontecer, uma vez que o mar no apocalipse, na
minha opinião, é um lugar metafórico ameaçador. Beale, em seu excelente
comentário, lembra que o mar, à luz do próprio apocalipse, aponta para: (1) a
origem do mal cósmico (especialmente à luz do pano de fundo cultural de nações
citadas no A.T., as quais viam o mar, como morada dos deuses
Tehom ou Tiamat.28 Ap. 4.6; 12.18, 13.1; 15.2), (2) Os incrédulos e nações rebeldes
que causam tribulação para o povo de Deus (13.1; Isa 57.20; cf. Ap 17.2, 6), (3) o
lugar dos mortos (20.13), (4 ) o local principal da atividade do comércio mundial
da idolatria (18.10-19).29
A observação de Pohl foi precisa nesse sentido:
a informação de que o dragão se pôs em pé sobre a areia do
mar não deve nos levar a imaginar que, derrotado, ele se retira
da terra. Pelo contrário, ele se excede e toma impulso para o
golpe destruidor contra a igreja testemunha e obediente. Ao
se postar junto ao mar, ele assume o seu elemento, tornando-
se integralmente um dragão terrível.30
Ele não está fugindo. Ele não jogou a toalha. Ao contrário ele parece mais
ameaçador que nunca. Ele está irado porque sua esfera é limitada, o tempo é
curto e a derrota é certa. O conflito no céu já chegou a uma resolução, mas na
terra o conflito está apenas começando. A perseguição do dragão à mulher
deixará de ser algo “cósmico” lá no céu, para se tornar algo bem real e cruento
28 Segundo Mouse os defensores desta ideia fazem uma ligação mitológica com a lenda
babilônica de Tiamat, o dragão antigo do caos que luta com Marduk, o deus da ordem,
é possível desde que os escritores tinham A.T. já assumidas e reformou o antigo mito, a
fim de refletir vitória de Deus sobre os ídolos.
29 Beale, G. K.: The Book of Revelation : A Commentary on the Greek Text. Grand Rapids,
Mich.; Carlisle, Cumbria: W.B. Eerdmans; Paternoster Press, 1999, Disponível na Bíblia
Logos
30 POHL, Adolf. Apocalipse de João II – Comentário Esperança. Curitiba: Editora
Esperança, 2001.
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
14
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
aqui na terra. A vida cristã não é um “playground”, ao contrário, é um campo de
batalha! Nessa batalha nós estamos envolvidos dos pés à cabeça.
Conclusão: como enfrentar e vencer a ira satânica que vem contra você?
A resposta é dada no verso 11: “Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela
palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida”.
“Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro...”
João afirma que o povo de Deus sempre alcançou a vitória “pelo”, isto é,
“com base” no sangue de Jesus. Como vimos, ele não tem fundamentos jurídicos
para lhe acusar diante de Deus, no entanto, ele vai operar na sua consciência para
que você se sinta um ímpio culpado pelos crimes cometidos. Dizem por aí que a
melhor maneira de lidar com essas acusações é negando-as e mostrando o quanto
você é bom. Porém, o que você tem que dizer é: “Eu sou pior do que você está
afirmando, mas Deus me ama assim mesmo. Ele me aceitou por causa do sangue
de Cristo Jesus”. O sangue derramado na cruz garante que Deus nos perdoará
(Rm 8: 31-34 ). Assim, as acusações de satanás, por mais que sejam verdadeiras,
tornam-se nulas e sem efeito no tribunal de Deus.
“.... Pela palavra do testemunho que deram...”
Já está mais que claro que existe uma guerra que os olhos não veem. Por
trás de todo secularismo, toda educação anticristã, toda corrupção ou qualquer
outra agenda que vá de encontro com Reino de Deus e o Seu ungido, está um
dragão furioso. Nessa batalha a única arma de ataque da armadura de Deus é a
Palavra. A pregação no poder do Espírito faz com que o Reino de Deus cresça e
o reino parasita do dragão perca força. A palavra do seu testemunho refere-se à
proclamação da Palavra, da doutrina bíblica e da verdade de Jesus Cristo, tanto
pela vida como pelos lábios. Pela palavra de Deus conhecida, crida e aplicada
pela fé na vida cristã consistente, os crentes são capazes de calar as acusações de
satanás e revelá-lo por aquilo que ele é.
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
15
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
“...Diante da morte, não amaram a própria vida”.
O pastor John Piper, em seu livro “Alegrem-se os povos: A supremacia de
Deus nas missões”, afirmou corretamente:
A extensão do seu sacrifício e a profundidade da sua alegria, mostram o valor
que ele atribuiu ao tesouro de Deus. Perda e sofrimento, jubilantemente aceitos
pelo reino de Deus, mostram a supremacia do valor de Deus no mundo de forma
mais clara do que toda adoração e oração.31
Voltemos nossa atenção para uma das perguntas iniciais: Por que Deus
permite que o Seu povo sofra e seja perseguido pelo dragão? Porque como
costuma dizer Piper “Deus é Mais Glorificado em Nós Quando Estamos Mais
Satisfeitos Nele.” Deus ordena o sofrimento, pois, por meio de todas as outras
razões, Ele expõe ao mundo a supremacia do Seu valor acima de todos os
tesouros. Portanto, sofrer com alegria prova ao mundo que nosso tesouro está no
céu e não na terra e que esse tesouro é muito maior do que qualquer coisa que o
mundo tenha a oferecer.
Além disso, embora não corramos risco de morte por servir a Cristo, este
verso se aplica a nós outras dimensões. Como bem observou Paul Tripp,
a Cruz de Cristo foi o paradoxo mais belo da História. A morte do
Messias era a única maneira pela qual ele poderia dar vida para
aqueles que criam nele. A esperança da cruz está no sacrifício
voluntário de um para o bem do outro. O convite de Cristo para
tomar diariamente sua cruz fala exatamente a respeito disso.
Aquele que sacrificou sua vida para que pudéssemos ter vida,
agora chama os seus discípulos para sacrificarem suas vidas por
ele. Em um mundo que conhece apenas o reino do ego, viver para
o grande reino de Cristo sempre exigirá sofrimento e sacrifício.32
Ele observou ainda que “em um mundo que conhece apenas o reino do
ego, viver para o grande reino de Cristo sempre exigirá sofrimento, sacrifício e
morte.” Ao falar sobre segui-Lo Cristo nos pediu para fazermos algo impensável.
Essencialmente, Cristo está dizendo: “Se você quer viver, se quiser experimentar as
alegrias transcendentes do meu Reino eterno, então você deve deixar de valorizar o seu
reino, o qual tem o ‘eu’ como próprio rei”. Em outras palavras, ele nos convida dizer
31 PIPER, John. Alegrem-se os Povos: a supremacia de Deus em missões. Tradução de
Rubens Castilho. São Paulo: Cultura Cristã. 2001.
32 TRIPP, Paul David. Em busca de algo maior: viver por alguma coisa maior do que
você. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 115.
“A Guerra dos séculos”
Apocalipse 12
Pastor Jailson Santos
16
Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017
“não” a uma pessoa a qual temos a maior dificuldade em dizermos não - a nós
mesmos!33
33 Ibid

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Falsos Cristos Falsos profetas
Falsos Cristos Falsos profetasFalsos Cristos Falsos profetas
Falsos Cristos Falsos profetasVanda Machado
 
O TABERNÁCULO DE MOISÉS E SEU SIGNIFICADO
O TABERNÁCULO DE MOISÉS E SEU SIGNIFICADOO TABERNÁCULO DE MOISÉS E SEU SIGNIFICADO
O TABERNÁCULO DE MOISÉS E SEU SIGNIFICADOHamilton Souza
 
Tabernáculo - O igreja do átrio
Tabernáculo - O igreja do átrioTabernáculo - O igreja do átrio
Tabernáculo - O igreja do átrioRicardo Gondim
 
203846802 teologia-arminiana-roger-olson
203846802 teologia-arminiana-roger-olson203846802 teologia-arminiana-roger-olson
203846802 teologia-arminiana-roger-olsonAndrea Leite
 
A grande batalha espiritual (adriano conceição da silva – luiz fernando marti...
A grande batalha espiritual (adriano conceição da silva – luiz fernando marti...A grande batalha espiritual (adriano conceição da silva – luiz fernando marti...
A grande batalha espiritual (adriano conceição da silva – luiz fernando marti...Deusdete Soares
 
Lição 7. As estações da vida.
Lição 7. As estações da vida.Lição 7. As estações da vida.
Lição 7. As estações da vida.André Rocha
 
AS OBRAS DA CRIAÇÃO
AS OBRAS DA CRIAÇÃOAS OBRAS DA CRIAÇÃO
AS OBRAS DA CRIAÇÃOEli Vieira
 
Evangélico stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...
Evangélico   stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...Evangélico   stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...
Evangélico stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...manoel ramos de oliveira
 
Revelação Progressiva de DEUS a humanidade Prof. Capri
Revelação Progressiva de DEUS a humanidade Prof. CapriRevelação Progressiva de DEUS a humanidade Prof. Capri
Revelação Progressiva de DEUS a humanidade Prof. Capricapriello
 
Lição 1 – Tabernáculo - Um Lugar da Habitação de Deus
Lição 1 – Tabernáculo - Um Lugar da Habitação de DeusLição 1 – Tabernáculo - Um Lugar da Habitação de Deus
Lição 1 – Tabernáculo - Um Lugar da Habitação de DeusÉder Tomé
 
208719166 dicionario-grego-x-hebraico-portugues
208719166 dicionario-grego-x-hebraico-portugues208719166 dicionario-grego-x-hebraico-portugues
208719166 dicionario-grego-x-hebraico-portuguesJosé Urbano Menegheli
 
História da interpretação bíblica (1)
História da interpretação bíblica (1)História da interpretação bíblica (1)
História da interpretação bíblica (1)Aniel Wagner Cruz
 
Aula 44_O Calvário_Escola de Aprendizes do Evangelho
Aula 44_O Calvário_Escola de Aprendizes do EvangelhoAula 44_O Calvário_Escola de Aprendizes do Evangelho
Aula 44_O Calvário_Escola de Aprendizes do Evangelholiliancostadias
 

Mais procurados (20)

Falsos Cristos Falsos profetas
Falsos Cristos Falsos profetasFalsos Cristos Falsos profetas
Falsos Cristos Falsos profetas
 
O TABERNÁCULO DE MOISÉS E SEU SIGNIFICADO
O TABERNÁCULO DE MOISÉS E SEU SIGNIFICADOO TABERNÁCULO DE MOISÉS E SEU SIGNIFICADO
O TABERNÁCULO DE MOISÉS E SEU SIGNIFICADO
 
Tabernáculo - O igreja do átrio
Tabernáculo - O igreja do átrioTabernáculo - O igreja do átrio
Tabernáculo - O igreja do átrio
 
12 os manuscritos do mar morto
12   os manuscritos do mar morto12   os manuscritos do mar morto
12 os manuscritos do mar morto
 
Eclesiastes - AULA 05
Eclesiastes - AULA 05Eclesiastes - AULA 05
Eclesiastes - AULA 05
 
Corpo, Alma E Espírito
Corpo, Alma E EspíritoCorpo, Alma E Espírito
Corpo, Alma E Espírito
 
203846802 teologia-arminiana-roger-olson
203846802 teologia-arminiana-roger-olson203846802 teologia-arminiana-roger-olson
203846802 teologia-arminiana-roger-olson
 
A grande batalha espiritual (adriano conceição da silva – luiz fernando marti...
A grande batalha espiritual (adriano conceição da silva – luiz fernando marti...A grande batalha espiritual (adriano conceição da silva – luiz fernando marti...
A grande batalha espiritual (adriano conceição da silva – luiz fernando marti...
 
Lição 7. As estações da vida.
Lição 7. As estações da vida.Lição 7. As estações da vida.
Lição 7. As estações da vida.
 
AS OBRAS DA CRIAÇÃO
AS OBRAS DA CRIAÇÃOAS OBRAS DA CRIAÇÃO
AS OBRAS DA CRIAÇÃO
 
Evangélico stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...
Evangélico   stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...Evangélico   stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...
Evangélico stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...
 
Revelação Progressiva de DEUS a humanidade Prof. Capri
Revelação Progressiva de DEUS a humanidade Prof. CapriRevelação Progressiva de DEUS a humanidade Prof. Capri
Revelação Progressiva de DEUS a humanidade Prof. Capri
 
Lição 1 – Tabernáculo - Um Lugar da Habitação de Deus
Lição 1 – Tabernáculo - Um Lugar da Habitação de DeusLição 1 – Tabernáculo - Um Lugar da Habitação de Deus
Lição 1 – Tabernáculo - Um Lugar da Habitação de Deus
 
Apresentação1.pptx
Apresentação1.pptxApresentação1.pptx
Apresentação1.pptx
 
13 ester
13 ester13 ester
13 ester
 
208719166 dicionario-grego-x-hebraico-portugues
208719166 dicionario-grego-x-hebraico-portugues208719166 dicionario-grego-x-hebraico-portugues
208719166 dicionario-grego-x-hebraico-portugues
 
Como estudar a bíblia
Como estudar a bíbliaComo estudar a bíblia
Como estudar a bíblia
 
Hebreus
HebreusHebreus
Hebreus
 
História da interpretação bíblica (1)
História da interpretação bíblica (1)História da interpretação bíblica (1)
História da interpretação bíblica (1)
 
Aula 44_O Calvário_Escola de Aprendizes do Evangelho
Aula 44_O Calvário_Escola de Aprendizes do EvangelhoAula 44_O Calvário_Escola de Aprendizes do Evangelho
Aula 44_O Calvário_Escola de Aprendizes do Evangelho
 

Semelhante a Aula prática Estudo de caso 2 - Apocalipse 12 - A batalha dos séculos

ibadep parte 1 apocalipse e escatologia slide
ibadep parte 1 apocalipse e escatologia slideibadep parte 1 apocalipse e escatologia slide
ibadep parte 1 apocalipse e escatologia slideJordânio Pinheiro
 
Resumo para a prova de apocalipse
Resumo para a prova de apocalipseResumo para a prova de apocalipse
Resumo para a prova de apocalipseReynan Matos
 
T01 - Conexão Bíblica - Bible Connection (Ministração).pdf
T01 - Conexão Bíblica - Bible Connection (Ministração).pdfT01 - Conexão Bíblica - Bible Connection (Ministração).pdf
T01 - Conexão Bíblica - Bible Connection (Ministração).pdfConexoBblica1
 
Piscopaniquia - Doutrina do sono da alma
Piscopaniquia - Doutrina do sono da almaPiscopaniquia - Doutrina do sono da alma
Piscopaniquia - Doutrina do sono da almaezequielmaster
 
Visão espírita da bíblia
Visão espírita da bíbliaVisão espírita da bíblia
Visão espírita da bíbliaanaccc2013
 
04 a interpretação tipológica
04   a interpretação tipológica04   a interpretação tipológica
04 a interpretação tipológicaDiego Fortunatto
 
6637674 os-ultimos-dias-da-humanidade-bispo-alfredo-paulo
6637674 os-ultimos-dias-da-humanidade-bispo-alfredo-paulo6637674 os-ultimos-dias-da-humanidade-bispo-alfredo-paulo
6637674 os-ultimos-dias-da-humanidade-bispo-alfredo-pauloPrCacio Silva
 
Visao espirita da_biblia
Visao espirita da_bibliaVisao espirita da_biblia
Visao espirita da_bibliacaodeguerra
 
Absg 12-q3-p-l01-t
Absg 12-q3-p-l01-tAbsg 12-q3-p-l01-t
Absg 12-q3-p-l01-tFlor Aranda
 

Semelhante a Aula prática Estudo de caso 2 - Apocalipse 12 - A batalha dos séculos (20)

Apocalipse
ApocalipseApocalipse
Apocalipse
 
ibadep parte 1 apocalipse e escatologia slide
ibadep parte 1 apocalipse e escatologia slideibadep parte 1 apocalipse e escatologia slide
ibadep parte 1 apocalipse e escatologia slide
 
1 - BIBLIOLOGIA.doc
1 -  BIBLIOLOGIA.doc1 -  BIBLIOLOGIA.doc
1 - BIBLIOLOGIA.doc
 
Resumo para a prova de apocalipse
Resumo para a prova de apocalipseResumo para a prova de apocalipse
Resumo para a prova de apocalipse
 
Apocalipse
ApocalipseApocalipse
Apocalipse
 
Apocalipse
ApocalipseApocalipse
Apocalipse
 
Apocalipse
ApocalipseApocalipse
Apocalipse
 
Hebreus
HebreusHebreus
Hebreus
 
T01 - Conexão Bíblica - Bible Connection (Ministração).pdf
T01 - Conexão Bíblica - Bible Connection (Ministração).pdfT01 - Conexão Bíblica - Bible Connection (Ministração).pdf
T01 - Conexão Bíblica - Bible Connection (Ministração).pdf
 
Apocalipse
ApocalipseApocalipse
Apocalipse
 
aula Bíblia.pptx
aula Bíblia.pptxaula Bíblia.pptx
aula Bíblia.pptx
 
Profecia ou horóscopo
Profecia ou horóscopoProfecia ou horóscopo
Profecia ou horóscopo
 
Piscopaniquia - Doutrina do sono da alma
Piscopaniquia - Doutrina do sono da almaPiscopaniquia - Doutrina do sono da alma
Piscopaniquia - Doutrina do sono da alma
 
Apocalipse (moody)
Apocalipse (moody)Apocalipse (moody)
Apocalipse (moody)
 
Visão espírita da bíblia
Visão espírita da bíbliaVisão espírita da bíblia
Visão espírita da bíblia
 
04 a interpretação tipológica
04   a interpretação tipológica04   a interpretação tipológica
04 a interpretação tipológica
 
6637674 os-ultimos-dias-da-humanidade-bispo-alfredo-paulo
6637674 os-ultimos-dias-da-humanidade-bispo-alfredo-paulo6637674 os-ultimos-dias-da-humanidade-bispo-alfredo-paulo
6637674 os-ultimos-dias-da-humanidade-bispo-alfredo-paulo
 
Visao espirita da_biblia
Visao espirita da_bibliaVisao espirita da_biblia
Visao espirita da_biblia
 
Absg 12-q3-p-l01-t
Absg 12-q3-p-l01-tAbsg 12-q3-p-l01-t
Absg 12-q3-p-l01-t
 
Apocalipse comentarios
Apocalipse comentariosApocalipse comentarios
Apocalipse comentarios
 

Mais de Ipabr Limesp

Da interpretação a exposição úlitma aula 2017
Da interpretação a exposição   úlitma aula 2017Da interpretação a exposição   úlitma aula 2017
Da interpretação a exposição úlitma aula 2017Ipabr Limesp
 
Aula 10 Interpretação de Apocalipse - Novos céus e nova terra
Aula 10 Interpretação de Apocalipse - Novos céus e nova terraAula 10 Interpretação de Apocalipse - Novos céus e nova terra
Aula 10 Interpretação de Apocalipse - Novos céus e nova terraIpabr Limesp
 
Aula 20 A interpretação das epístolas
 Aula 20 A interpretação das epístolas Aula 20 A interpretação das epístolas
Aula 20 A interpretação das epístolasIpabr Limesp
 
Aula 4 Interpretação de Apocalipse 1.9 12
Aula 4 Interpretação de Apocalipse 1.9 12Aula 4 Interpretação de Apocalipse 1.9 12
Aula 4 Interpretação de Apocalipse 1.9 12Ipabr Limesp
 
Aula 3 - Interpretação de Apocalipse 1.1 8
Aula 3 - Interpretação de Apocalipse 1.1 8 Aula 3 - Interpretação de Apocalipse 1.1 8
Aula 3 - Interpretação de Apocalipse 1.1 8 Ipabr Limesp
 
Entendes o que lês apocalipse
Entendes o que lês   apocalipseEntendes o que lês   apocalipse
Entendes o que lês apocalipseIpabr Limesp
 
Aula 5 estrutura literária - malaquias 1. 1-5
Aula 5   estrutura literária - malaquias 1. 1-5Aula 5   estrutura literária - malaquias 1. 1-5
Aula 5 estrutura literária - malaquias 1. 1-5Ipabr Limesp
 
Aula 4 estrutura literária - lucas 18. 18-30
Aula 4   estrutura literária - lucas 18. 18-30Aula 4   estrutura literária - lucas 18. 18-30
Aula 4 estrutura literária - lucas 18. 18-30Ipabr Limesp
 
Aula 3 4 Passos simples para interpretar um texto bíblico
Aula 3   4 Passos simples para interpretar um texto bíblicoAula 3   4 Passos simples para interpretar um texto bíblico
Aula 3 4 Passos simples para interpretar um texto bíblicoIpabr Limesp
 
Aula 7 O rei da glória
Aula 7   O rei da glóriaAula 7   O rei da glória
Aula 7 O rei da glóriaIpabr Limesp
 
Aula 5 o contraste entre as duas naturezas do redentor
Aula 5   o contraste entre as duas naturezas do redentorAula 5   o contraste entre as duas naturezas do redentor
Aula 5 o contraste entre as duas naturezas do redentorIpabr Limesp
 
Aula 4 O desenvolvimento do redentor - lucas 2. 39-52
Aula 4   O desenvolvimento do redentor - lucas 2. 39-52Aula 4   O desenvolvimento do redentor - lucas 2. 39-52
Aula 4 O desenvolvimento do redentor - lucas 2. 39-52Ipabr Limesp
 

Mais de Ipabr Limesp (20)

Da interpretação a exposição úlitma aula 2017
Da interpretação a exposição   úlitma aula 2017Da interpretação a exposição   úlitma aula 2017
Da interpretação a exposição úlitma aula 2017
 
Aula 10 Interpretação de Apocalipse - Novos céus e nova terra
Aula 10 Interpretação de Apocalipse - Novos céus e nova terraAula 10 Interpretação de Apocalipse - Novos céus e nova terra
Aula 10 Interpretação de Apocalipse - Novos céus e nova terra
 
Apocalipse Aula 9
Apocalipse Aula   9Apocalipse Aula   9
Apocalipse Aula 9
 
Apocalipse Aula 8
Apocalipse Aula 8Apocalipse Aula 8
Apocalipse Aula 8
 
Apocalipse aula 7
Apocalipse aula 7Apocalipse aula 7
Apocalipse aula 7
 
Apocalipse Aula 6
Apocalipse Aula 6Apocalipse Aula 6
Apocalipse Aula 6
 
Apocalipse Aula 5
Apocalipse Aula 5Apocalipse Aula 5
Apocalipse Aula 5
 
Aula 20 A interpretação das epístolas
 Aula 20 A interpretação das epístolas Aula 20 A interpretação das epístolas
Aula 20 A interpretação das epístolas
 
Aula 4 Interpretação de Apocalipse 1.9 12
Aula 4 Interpretação de Apocalipse 1.9 12Aula 4 Interpretação de Apocalipse 1.9 12
Aula 4 Interpretação de Apocalipse 1.9 12
 
Aula 3 - Interpretação de Apocalipse 1.1 8
Aula 3 - Interpretação de Apocalipse 1.1 8 Aula 3 - Interpretação de Apocalipse 1.1 8
Aula 3 - Interpretação de Apocalipse 1.1 8
 
Apocalipse Aula 2
Apocalipse Aula 2Apocalipse Aula 2
Apocalipse Aula 2
 
Apocalipse aula 1
Apocalipse aula 1Apocalipse aula 1
Apocalipse aula 1
 
Entendes o que lês apocalipse
Entendes o que lês   apocalipseEntendes o que lês   apocalipse
Entendes o que lês apocalipse
 
Apocalipse Aula 1
Apocalipse Aula 1Apocalipse Aula 1
Apocalipse Aula 1
 
Aula 5 estrutura literária - malaquias 1. 1-5
Aula 5   estrutura literária - malaquias 1. 1-5Aula 5   estrutura literária - malaquias 1. 1-5
Aula 5 estrutura literária - malaquias 1. 1-5
 
Aula 4 estrutura literária - lucas 18. 18-30
Aula 4   estrutura literária - lucas 18. 18-30Aula 4   estrutura literária - lucas 18. 18-30
Aula 4 estrutura literária - lucas 18. 18-30
 
Aula 3 4 Passos simples para interpretar um texto bíblico
Aula 3   4 Passos simples para interpretar um texto bíblicoAula 3   4 Passos simples para interpretar um texto bíblico
Aula 3 4 Passos simples para interpretar um texto bíblico
 
Aula 7 O rei da glória
Aula 7   O rei da glóriaAula 7   O rei da glória
Aula 7 O rei da glória
 
Aula 5 o contraste entre as duas naturezas do redentor
Aula 5   o contraste entre as duas naturezas do redentorAula 5   o contraste entre as duas naturezas do redentor
Aula 5 o contraste entre as duas naturezas do redentor
 
Aula 4 O desenvolvimento do redentor - lucas 2. 39-52
Aula 4   O desenvolvimento do redentor - lucas 2. 39-52Aula 4   O desenvolvimento do redentor - lucas 2. 39-52
Aula 4 O desenvolvimento do redentor - lucas 2. 39-52
 

Último

A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfManuais Formação
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOColégio Santa Teresinha
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024Jeanoliveira597523
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMVanessaCavalcante37
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdfCD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdfManuais Formação
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfAdrianaCunha84
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila RibeiroMarcele Ravasio
 

Último (20)

A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
 
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdfCD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
 

Aula prática Estudo de caso 2 - Apocalipse 12 - A batalha dos séculos

  • 1. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 1 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 Parte prática: Estudo de caso 2 Texto: Apocalipse 12 - “A batalha dos séculos” Professor: Jailson Santos REFERÊNCIAS Beale, G. K.: The Book of Revelation : A Commentary on the Greek Text. Grand Rapids, Mich.; Carlisle, Cumbria: W.B. Eerdmans; Paternoster Press, 1999, Disponível na Bíblia Logos BEALE, G. K. e CARSON, D. A. Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 2014. BOER, Martinus de. A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs: gênero, cosmovisão e movimento social. Traduzido por Paulo Augusto de Souza Nogueira. Disponível em: <http://editora.metodista.br/textos_disponiveis/er19cap1.pdf > BORNKAMM, Gunther. Bíblia-Novo Testamento-Introdução aos seus Escritos no Quadro da História do Cristianismo Primitivo, ed. Paulinas, São Paulo, 1981, p. 121. CARSON, D. A. Escândalo: a cruz e a ressurreição de Jesus. São José dos Campos, SP: Fiel, c2011. CONSTABLE, Thomas L. Notes On Revelation. Comentário Bíblico Disponível em: Bíblia eletrônica The Word. LIMA. Leandro de. Apocalipse como literatura: um estudo sobre a importância da análise da arte literária em apocalipse 12-13. Tese de doutorado não publicada. 2012 ___________. Exposição Apocalipse 8-14. São Paulo: Editora Agathos. 2015 HENDRIKSEN, William. Mais que vencedores: uma interpretação do livro do Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 1987, p. 16. HOEKEMA, Anthony A. A Bíblia e o futuro. 2ª ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2001. p. 270. J. J. Collins (ed.), Apocalypse: The Morphology of a Genre. Semeia 14, 1979, p. 9 apud POHL, Adolf. Apocalipse de João II – Comentário Esperança. Curitiba: Editora Esperança, 2001.
  • 2. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 2 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 PIPER, John. Alegrem-se os Povos: a supremacia de Deus em missões. Tradução de Rubens Castilho. São Paulo: Cultura Cristã. 2001. WALLACE, Daniel. Revelation: Introduction, Argument, Outlin. Disponível na Bíblia Eletrônica The Word KEATHLEY, J. Hampton. Satanology. Disponível em: https://bible.org/article/satanology. THIELMAN, Frank. Teologia do Novo Testamento: uma abordagem canônica e sintética. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 744 TRIPP, Paul David. Em busca de algo maior: viver por alguma coisa maior do que você. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 115. VINE, W. E. Expository Dictionary of New Testament Words. Thomas Nelson Publishers, May 15 2003. Disponível na Bíblia eletrônica e-sword INTRODUÇÃO Segundo o professor Carson, nos últimos 150 anos tem havido mais mártires que nos 1800 anos precedentes. Estima-se que 160.000 cristãos são mortos por ano. Nos últimos anos, mais de 2 milhões de cristãos foram mortos só no sul do Sudão.1 Por que tanto ataque contra o reino de Deus? Onde se encontra Deus? Por que ele não intervém? Será que vale a pena continuar servindo a Jesus? Essas mesmas perguntas foram feitas no primeiro século. O livro foi escrito por João, provavelmente durante o reinado de Domiciano (c. 95-96 d.C.), conhecido como o 2º Nero. Seu reinado foi marcado pela crueldade e, por essa razão, os leitores originais de João estavam suportando o martírio na época do apóstolo. Houve grandes perseguições nos primeiros séculos contra a igreja. Essa peseguição vinha de todos os lados e, de forma mais cruel, acontecia nos ambitos politico e social. Frank Thielman, citando Price, apresenta o decreto do século I, oriundo da assembleia provicial da Ásia, no qual há uma descrição de como aconteciam estas cerimônias: 1 CARSON, D. A. Escândalo: a cruz e a ressurreição de Jesus. São José dos Campos, SP: Fiel, c2011.
  • 3. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 3 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 Todos deviam fazer uma manifestação pública de sua fé, em todos os santuários, com intenções adequadas, em relação à casa imperial, os corais da Ásia reuniram-se em Pérgamo para o mais santo aniversário do deus Tibério César, e realizaram um culto que contribuiu grandemente para a glória do Augustus, louvando a glória imperial e fazendo sacrifícios ao deus Augustus, com celebrações e festas.2 Segundo Merril C. Tenney, “os cristãos que se recusavam a prestar esta adoração se expunham às acusações de antipatriotíssimo, quando não de subversão”.3 Um exemplo desta perseguição pode ser visto na própria vida do autor, o qual, ao que parece, foi exilado por causa de sua fé. Por essa razão, para entender a mensagem do apocalipse deve-se olhar para os dilemas e esperanças da época. Nesse sentido, a mensagem principal do livro é que os cristãos sofrem cruéis perseguições, e muitos são mortos. Mas os que continuam fiéis a Deus e ao Messias que Deus escolheu, receberão como prêmio a vida eterna (2.10) e, vitoriosos, reinarão para sempre com Deus no “novo céu e na nova terra” (22.1).4 Segundo Hendriksen, no geral, o propósito do livro do Apocalipse é confortar a igreja militante nas lutas contra as forças malignas que se manistam fisicamente por meio de homens ímpios.5 O Apocalipse foi destinado a encorajar os crentes no meio da perseguição romana, revelando que o seu Messias estava no controle e seria o vencedor final.6 João visava, portanto, que os cristãos entendessem que lhes foi dada a segurança de que Deus ver suas lágrimas (7.17; 21.4); suas orações são influentes nos negócios do mundo (8.3, 4) e suas mortes eram preciosas aos olhos do Senhor. A vitória final lhes é assegurada (15.2); seu sangue será vingado (19.2); seu Cristo vive e reina para sempre e sempre. Ele governa o mundo e os interesses da sua Igreja (5.7, 8). Ele está voltando novamente para tomar seu povo para si mesmo 2 THIELMAN, Frank. Teologia do Novo Testamento: uma abordagem canônica e sintética. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 744 3 Ibid, p. 361 4 Sociedade Bíblica do Brasil. (2005; 2010). Bíblia de Estudo Nova Tradução na Linguagem de Hoje (Re). Sociedade Bíblica do Brasil. 5 HENDRIKSEN, William. Mais que vencedores: uma interpretação do livro do Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 1987, p. 16. 6 WALLACE, Daniel. Revelation: Introduction, Argument, Outlin. Disponível na Bíblia Eletrônica The Word
  • 4. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 4 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 na “festa das bodas do Cordeiro” e para viver para sempre com ele em “um novo céu e uma nova terra” (21.1).7 O GÊNERO LITERÁRIO Segundo Bornkamm, a literatura apocalíptica “é uma forma tardia de profecia do Antigo Testamento que ainda leva as marcas de sua origem, com suas extensas citações, imagens e sentenças tiradas dos profetas do Antigo Testamento”.8 Entretanto, o escrito apocalíptico “difere da profecia em virtude do dualismo cósmico em que se incuba sua expectativa do fim”.9 J. J. Collins lança ainda mais luz ao assunto, ao afirmar que este tipo de escrita é, Um gênero de literatura de revelação com uma estrutura narrativa, na qual uma revelação é mediada por um instrumento humano, que revela uma realidade transcendente, a qual é, ao mesmo tempo, temporal, enquanto visa salvação escatológica, e espacial, ao envolver um outro mundo, um mundo sobrenatural.10 Normalmente este tipo de literatura aponta para uma esperança escatológica diante do sofrimento presente. Por essa razão, apocalipse 12 é uma mensagem de esperança diante das situações opressivas que os cristãos viviam.11 Para isso, o autor usou disposições de símbolos e metáforas vívidas para analisar situações humanas com base na perspectiva do céu. 7 HENDRIKSEN, William. Mais que vencedores: uma interpretação do livro do Apocalipse. p. 16. 8 BORNKAMM, Gunther. Bíblia-Novo Testamento-Introdução aos seus Escritos no Quadro da História do Cristianismo Primitivo, ed. Paulinas, São Paulo, 1981, p. 121. 9 Ibid 10 J. J. Collins (ed.), Apocalypse: The Morphology of a Genre. Semeia 14, 1979, p. 9 apud BOER, Martinus de. A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs: gênero, cosmovisão e movimento social. Traduzido por Paulo Augusto de Souza Nogueira. Disponível em: <http://editora.metodista.br/textos_disponiveis/er19cap1.pdf > 11 Deve-se entender, entretanto, que os apocalípticos judeus fundamentaram suas esperanças em um evento futuro, mas o Apocalipse de João as fundamenta no sacrifício passado de Jesus Cristo, “o Cordeiro que foi morto”. Cf. CARSON D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao novo testamento. 6. reimpressão São Paulo: Vida Nova, 2004, p. 534
  • 5. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 5 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 APOCALIPSE 12 O capítulo 12 é uma síntese de uma guerra épica que vem atravessando os séculos e explica por que as coisas são como são. O método de narração começando neste ponto, difere de qualquer coisa anterior, porque se concentra nas manobras secretas que estão por trás do conflito visível que foram e ainda serão retratadas no livro. A mensagem, como observou o Rev. Leandro Lima, é que por trás da batalha que os olhos veem há uma guerra que os olhos não veem.12 Essa é a guerra entre a Serpente e a mulher que vem acontecendo deste Gênesis 3. 14-16. O texto começa dizendo que João viu um “sinal extraordinário”. Usualmente, João usava a palavra grega “semeion” (“sinal”) para descrever algo milagroso que aponta para algum significado espiritual mais profundo ligado a um evento ou objeto.13 Isso quer dizer que sua descrição metafórica e simbólica apresenta nas entrelinhas uma história cheia de significados espirituais profundos. Essa guerra é composta de várias batalhas. Vejamo-las. A BATALHA ENTRE O DRAGÃO E A MULHER Na visão João enxerga “uma mulher vestida do sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. Ela estava grávida e gritava de dor, pois estava para dar à luz”. Quem é essa mulher? A teologia católica afirma ser Maria e interpreta este texto como base que justificaria a adoração a Maria. O texto, no entanto, não diz isso. Essa mulher é a comunidade messiânica como um todo durante a antiga e a nova aliança. Nesse primeiro momento ela representa a antiga aliança que, após muito tempo de dor, daria à luz ao Messias. Isto é evidente à luz do contexto e da analogia das escrituras pelas seguintes razões: (1) Sua descrição é uma reminiscência de Gênesis 37. 9-10, onde esses corpos celestes, o sol e a lua, representam Jacó e Raquel.14 (2) As 12 estrelas em sua coroa a ligariam as 12 tribos de Israel ou aos 12 filhos de Jacó, os patriarcas de Israel.15 (3) No versículo 2 ela é vista com um filho, aquele que governa com 12 LIMA, Leandro de. Exposição Apocalipse 8-14. São Paulo: Editora Agathos. 2015 13 CONSTABLE, Thomas L. Notes On Revelation. Comentário Bíblico Disponível em: Bíblia eletrônica The Word. 14 BEALE, G. K. e CARSON, D. A. Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 2014. 15 Ibid
  • 6. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 6 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 uma vara de ferro (vs. 5). Este não pode ser outro senão Cristo, que, como prometido nas Escrituras, era da nação de Israel (Mateus 1. 1-25; Salmo 2.8-9; Apocalipse 2.27; 19.15). Assim, a mulher é a nação de Israel, a matriz e a fonte do Messias. João continua sua narrativa asseverando que “o dragão se colocou diante da mulher que estava para dar à luz, para devorar o seu filho no momento em que nascesse”. Observe que a cena muda drasticamente da bela, mas frágil mulher, para o poderoso e assustador dragão. Ele é descrito com seis referências (Vv. 3 a 4a): “Vermelho com sete cabeças e dez chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas. Sua cauda arrastou consigo um terço das estrelas do céu, lançando-as na terra”. D. A. Carson observou que na poesia hebraica, quando as coisas vão bem, as árvores cantam, os bosques dançam e os céus se alegram. Quando as coisas não vão bem, as estrelas caem do céu e o mundo entra em desordem. A descrição é que algo com efeitos cômicos estão para acontecer.16 Isso porque um dragão no apocalipse é o imaginário de um animal assustador e destrutivo. O fato de o dragão ser chamado de “grande” indica a magnitude do poder e da atividade de Satanás no mundo. “Vermelho” enfatiza seu caráter assassino e sedento de sangue, bem como seu comportamento ao longo da história. Diante disso, duas perguntas importantes precisam ser respondidas aqui. A primeira, quem é o dragão? E a segunda, o que ele está tentando fazer? A identidade do Dragão é revelada no verso 9b: “Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás, que engana o mundo todo”. A descrição do dragão como a “antiga serpente” o identifica como a mesma personagem diabólica de Gênesis 3.1,14. As palavras do Rev. Leandro Lima são esclarecedoras sobre esta identificação: Apocalipse 12 interpreta a figura da serpente-dragão como o próprio Diabo, sendo essa interpretação explícita a única no texto bíblico. Com uma leitura apenas de Gn 3, seria muito difícil concluir que aquela serpente fosse, na verdade, um anjo decaído. Mas João não deixa dúvida: “E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos” (Ap 12.9). João modificou o modo como seus leitores passariam a ler o texto de Gn 3. Eles não veriam apenas uma serpente ardilosa, mas também um terrível dragão disfarçado de serpente, o próprio 16 CARSON, D. A. Escândalo: a cruz e a ressurreição de Jesus. São José dos Campos, SP: Fiel, c2011. p. 88.
  • 7. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 7 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 Satanás, o anjo caído, responsável por todo o mal que há no mundo e por todo o sofrimento do povo de Deus.17 O antigo tentador do povo de Deus, também é “chamado Diabo e Satanás”, nomes que significam “caluniador” e “adversário”, respectivamente. O texto grego acentua fortemente essa ação enganosa como um aspecto contínuo do caráter e da atividade de Satanás. O que ele está tentando fazer encontra-se descrito no verso 4b: “O dragão colocou-se diante da mulher que estava para dar à luz, para devorar o seu filho no momento em que nascesse”. Desde Genesis 3.15 a serpente, ou diabo ou satanás ou dragão, tentou destruir a mulher para que o descendente não nascesse. Para fazer de uma história longa uma história curta, leia o Antigo Testamento e você verá que a mãe do Messias, isto é, o povo de Israel, sempre sofreu duras ameaças. Como observou Hendriksen, a cada passo no Antigo Testamento, narra-se que a descendência prometida da mulher está sob o risco de desaparecer, e sempre sendo resgatada por uma intervenção divina.18 Não podendo matar a mãe “o dragão colocou-se diante da mulher que estava para dar à luz, para devorar o seu filho no momento em que nascesse”. Satanás conhece as profecias sobre o plano de redenção de Deus. Ele também sabe que a redenção viria através do Messias prometido que descenderia da linhagem de Israel. Então, o encontramos no texto esperando com presas desnudas para devorar o Messias prometido. Essa cena você já viu antes. A matança dos meninos com menos de dois anos em Belém, ordenada por Herodes, por certo estava na mente de João no momento dessa descrição.19 João almeja que seus leitores entendam que, por trás de cada golpe desferido contra a comunidade da aliança e o seu Messias prometido existe o dragão, a antiga serpente. A BATALHA ENTRE O DRAGÃO E O FILHO A batalha entre o dragão e o filho, a priori, é descrita em poucos linhas: “Ela deu à luz um filho, um homem, que governará todas as nações com cetro de ferro. 17 LIMA. Leandro de. Apocalipse como literatura: um estudo sobre a importância da análise da arte literária em apocalipse 12-13. Tese de doutorado não publicada. 2012 18 HENDRIKSEN, William. Mais Que Vencedores. São Paulo: Cultura Cristã, 1987. 19 LIMA. Leandro de. Apocalipse como literatura: um estudo sobre a importância da análise da arte literária em apocalipse 12-13. Tese de doutorado não publicada. 2012
  • 8. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 8 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 Seu filho foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono” (Verso 5). O Rev. Leandro Lima observou que “ao dizer que Jesus fora arrebatado para o trono de Deus, a sua passagem pela terra praticamente é obliterada na narrativa de João”.20 A cena passa rapidamente da manjedoura para o trono no céu. Da encarnação para a ascensão. Por que João deixou de lado a vida e a obra de Jesus na Cruz? João usou um recurso literário chamado de elipse, ou seja, supressão de um termo que pode ser facilmente subentendido pelo contexto linguístico ou pela situação. Com isso João deseja, de um lado, chamar nossa atenção para o que é menos considerado: o Nascimento e a Ascensão de Jesus. Por outro lado, o seu esquecimento proposital faz com que o leitor sinta falta e, assim, lembre-se do que é central nesta grande batalha: A Cruz de Cristo. O dragão que tem sido derrotado desde o Éden leva o golpe mortal na Cruz e a subida do Filho é a descrição de sua vitória. A segunda pessoa da trindade sempre Reinou, mas Jesus é corado Rei em termos jurídicos neste momento, como ficará claro nos versos 7 a 9. No entanto, antes disso, João volta a falar da mulher e descreve o seu refúgio: “A mulher fugiu para o deserto, para um lugar que lhe havia sido preparado por Deus, para que ali a sustentassem durante mil duzentos e sessenta dias” (verso 6). Uma vez que Satanás não matou a Cristo, ele se voltou em fúria de dragão contra a mulher (a comunidade da Aliança), a fim de derramar sua vingança sobre ela. Sabendo disso, Deus preparou um lugar de refúgio, isto é, o deserto. Mais uma vez o pano de fundo para a compressão deste verso é o Antigo Testamento. Antes de chegar na terra prometida (lugar de descanso) o povo passou pelo deserto. Este é, de um lado, o lugar de tentação, provação, tribulação. Mas este é também, por outro lado, o lugar de livramento, sustento, cuidado e feitos extraordinários do Senhor. A mulher está guardada pelo braço forte do Senhor! A BATALHA ENTRE O DRAGÃO E MIGUEL “Houve então uma guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar nos céus. O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra” (versos 7-9). 20 Ibid
  • 9. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 9 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 A cena muda bruscamente da terra para o céu a fim de explicar o assunto deixado em suspense no verso 5, sobre a vida e a obra do Messias, isto é, o descendente da mulher. No Jardim do Éden, Deus prometeu a Adão e Eva que o tentador que os fez cair seria derrotado, e que os eventos temidos do seu pecado no Jardim seriam revertidos, através de uma solução que o próprio Deus forneceria. Ele prometeu um Salvador, que nasceria da mulher, que iria destruir a cabeça da serpente (Gn. 3.15). As palavras são endereçadas à serpente, mais tarde identificada como um agente de satanás, o dragão (Ap. 12.9; 20.2). Nesse sentido, o verbo que se fez carne veio ao mundo para, entre outras coisas, cumprir uma missão dupla, quando o assunto é nosso tentador. Jesus veio, em primeiro lugar, para destruir as obras do tentador; e, em segundo lugar, destruir o próprio tentador. Em outras palavras, a morte do nosso Salvador na cruz, não só forneceu um sacrifício perfeito para o pecado, mas, como pode ser visto em várias passagens do Novo Testamento, forneceu uma vitória sobre satanás e suas forças do mal.21 Essa verdade é clara nas palavras do autor de Hebreus: “ele [Jesus] também participou dessa condição humana, para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo...” Na cruz, satanás e seus espíritos imundos foram derrotados. A palavra “derrota” significa, na língua original, “colocar fora de ação” ou “tornar inútil”.22 Ela é usada várias vezes para mostrar como, através da morte e ressurreição de Cristo, os poderes de destruição que ameaçam o homem espiritualmente foram colocados “fora de ação”. Neste sentido, Miguel está apenas cumprindo uma ordem judicial, isto é, a de despejar o dragão do céu para a terra. Com a derrota na cruz o dragão também perdeu duas coisas: O posto de acusador no céu e, de certo modo, de enganador na terra. O dragão perdeu seu poder de fogo contra os eleitos: “...nem mais se achou no céu o lugar deles.” (Apocalipse 12.8). Cristo, o Sumo Sacerdote dos eleitos, após completar sua obra na terra foi assunto ao céu e removeu toda barreira legal que condenava os eleitos. Daí em diante, satanás não teve mais fundamentos jurídicos sobre os quais acusava o povo de Deus e os mantinha em cativeiro por meio de suas várias decepções. Quando isso aconteceu, o reino de satanás começou a ser continuamente mimado e em seguida, lançado ao chão (Mt. 12.29). Nunca mais satanás cumprirá a sua função de, falsamente, acusar os santos perante Deus, pois Cristo lhes tem assegurado o seu perdão reconciliando- 21 KEATHLEY, J. Hampton. Satanology. Disponível em: https://bible.org/article/satanology. 22 VINE, W. E. Expository Dictionary of New Testament Words. Thomas Nelson Publishers, May 15 2003. Disponível na Bíblia eletrônica e-sword
  • 10. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 10 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 os com Deus através da Sua expiação. Não há mais lugar para o acusador no céu, pois não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo (Rm. 8.1). A cadeira daquele que, dia e noite, constantemente acusava os eleitos, está vazia. Essa foi uma grande derrota que nosso tentador sofreu, mas não foi e não será a única. Todavia, antes de apresentar outras batalhas dessa grande guerra João fala do louvor tributado ao Messias e Rei Jesus: Então ouvi uma forte voz dos céus que dizia: Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite. Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida. Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam! (Apocalipse 12. 10-12) A frase que não pode ser perdida neste cântico é: “agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo”. O primeiro destaque é para a palavra “agora”. Ao utilizar esse advérbio, João “aponta para a linha divisória na história humana, a morte e ressurreição de Cristo, a qual resultou na vitória sobre Satanás”.23 A vitória de Cristo sobre a morte e Sua subida ao céu desencadeou a expulsão do dragão. Assim, o reino de Deus e a autoridade de Seu Cristo se estabeleceram no céu e na terra (Mt 28.18). A vitória de Cristo na Cruz, Sua ressurreição e ascensão ao céu não apenas anula a argumentação jurídica no céu, mas também limitou a autoridade do dragão na terra, isto é, o tentador perdeu parte do seu poder de sedução. Após a queda e antes da Cruz, satanás havia enganado as nações, mantendo-as cativas no seu reino com suas garras (Lc 4. 5-8; Ap 20. 3;). Agora, no entanto, pela Sua vida, morte e ressurreição, o Redentor venceu, de modo que o domínio de satanás está quebrado e seu reino é, de agora em diante em colapso em câmera lenta. Isso aconteceu, de início, por meio da pregação da Igreja (Mt 28.18), pela qual o Deus soberano transfere os antigos súditos de satanás para o Reino do Seu Filho amado (Cl 1.13).24 Nesse sentido, satanás foi lançado na terra e preso. Essa descrição é feita em Apocalipse 20.2: “... e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações...” A “prisão” da antiga serpente, em 20.1-3, não é absoluta em todos os sentidos, mas se refere principalmente à incapacidade de enganar as nações, como fizera com Adão e Eva. Até aquele 23 HENDRIKSEN, William. Mais Que Vencedores. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. 24 DAVIS, Dean. The High King of Heaven. WinePress Publishing, 2013.
  • 11. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 11 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 momento as nações e impérios gentios, tais como Egito, Assíria, Babilônia, Medo- Pérsia, Grécia e Roma cediam às tentações e à escravidão da antiga serpente. No entanto, Cristo “despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl. 2.15). Como cumprimento da maldição sobre a serpente no jardim (Gn 3. 15), Cristo esmagou a cabeça de satanás (Cf. Mt 21. 44; Rm 16. 20) exercendo Sua autoridade no céu e agora na terra (porque “toda a autoridade” foi dada a Ele, (Mt 28.18-19) envia seus discípulos para irem a todas as nações e fazerem discípulos. Assim, sendo limitada pelo próprio Deus, a antiga serpente perdeu parte do seu poder de sedução e o resultado é que muitos não caíram mais em sua lábia, mas ouviram a Cristo e foram salvos (At 17.30-31, 26.17-18). João, aqui também ecoa as palavras de Jesus em João 12.31,32: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo”. É interessante observar que o verbo grego traduzido por “expulsar” (“ekballo”) é derivado da mesma raiz que o termo utilizado em Apocalipse 20.3: “lançou-o” (“ballo”) [“Satanás”] no abismo”.25 Temos, ainda, um cumprimento de Isaías 24.21-22: “Naquele dia, o SENHOR castigará, no céu, as hostes celestes, e os reis da terra, na terra. Serão ajuntados como presos em masmorra, e encerrados num cárcere, e castigados depois de muitos dias”. Esse cumprimento foi inaugurado por ocasião da morte e ressurreição de Cristo e culminará com sua vinda no clímax da história, como veremos mais à frente. Nesse sentido as palavras de Hoekema são esclarecedoras: O aprisionamento de Satanás, descrito em Apocalipse 20.1-3, portanto, significa que, ao longo da era do Evangelho na qual veremos agora, a influência de Satanás, embora certamente não eliminada, é tão restringida que ele não pode impedir a disseminação do Evangelho às nações do mundo. Por causa do aprisionamento de Satanás durante esta era presente, as nações não podem conquistar a igreja, mas a igreja está conquistando nações.26 25 HOEKEMA, Anthony A. A Bíblia e o futuro. 2. ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2001. p. 270. 26 Ibid
  • 12. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 12 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 A BATALHA ENTRE O DRAGÃO E SEUS DESCENDENTES E A MULHER E SEUS DESCENDENTES Nada podendo fazer com o Filho que é maior que ele, o dragão continua sua empreitada de destruir a mulher e o restante de sua descendência: “Quando o dragão foi lançado à terra, começou a perseguir a mulher que dera à luz o menino.” O que temos aqui é a mesma cena já apresentada, mas agora detalhada. Expulso do céu, o dragão desce para o único lugar em que ainda pode transitar e agir: o mundo. Por isso a advertência: “Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12.12). Como observou o Rev. Leandro Lima “o conflito na terra (e no mar) ainda não foi resolvido. No céu o dragão não tem mais legitimidade para agir, porém na terra (e no mar) ele ainda tem, e fará isso da pior maneira possível.”27 No entanto, “foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que ela pudesse voar para o lugar que lhe havia sido preparado no deserto, onde seria sustentada durante um tempo, tempos e meio tempo, fora do alcance da serpente”. O pano de fundo mais uma vez é o Antigo Testamento. Em Êxodo 19.4 Deus disse ao seu povo: “Vocês viram o que fiz ao Egito e como os transportei sobre asas de águias e os trouxe para junto de mim”. “Duas asas da grande águia” é a maneira metafórica de descrever como Deus vai salvá-los, ou seja, com força e segurança. Sem desistir, o dragão (a serpente) “fez jorrar da sua boca água como um rio, para alcançar a mulher e arrastá-la com a correnteza. A terra, porém, ajudou a mulher, abrindo a boca e engolindo o rio que o dragão fizera jorrar da sua boca” (versos 15-16). Mais uma vez, no entanto, seus planos são frustrados. Mesmo ainda tendo legitimidade para agir na terra, isso não significa que o dragão tem toda a liberdade para fazer o que quiser. Há limites e, sobretudo, intervenções divinas pelas quais Deus protege seus filhos na terra. O dragão, até então, perdeu três batalhas de grande guerra. Ele não conseguiu destruir a mulher (12. 1-4), não conseguiu matar seu Filho (12.4), perdeu a guerra no céu (12. 7-9) e foi incapaz de destruir a mulher (12. 13-16). Totalmente derrotado, mas sem jamais se render o dragão se voltou para o restante dos descendentes da mulher, chamados no texto de “os que obedecem aos mandamentos de Deus (uma provável referência aos judeus que seguiram a 27 LIMA. Leandro de. Apocalipse como literatura: um estudo sobre a importância da análise da arte literária em apocalipse 12-13. Tese de doutorado não publicada. 2012
  • 13. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 13 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 Jesus) e se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus (uma provável referência aos gentios que creram em Jesus)”. Assim, os descendentes da mulher ainda então na mira do dragão e, por isso, o povo da nova aliança viva agora em constante perigo. Judeus e Gentios se tornaram um único povo que é perseguido pelo dragão. A fim de destacar o tamanho do perigo João afirma: “Então o dragão se pôs em pé na areia do mar”. Ao se colocar em pé sobre a areia do mar, cria-se o suspense de que algo terrível vai acontecer, uma vez que o mar no apocalipse, na minha opinião, é um lugar metafórico ameaçador. Beale, em seu excelente comentário, lembra que o mar, à luz do próprio apocalipse, aponta para: (1) a origem do mal cósmico (especialmente à luz do pano de fundo cultural de nações citadas no A.T., as quais viam o mar, como morada dos deuses Tehom ou Tiamat.28 Ap. 4.6; 12.18, 13.1; 15.2), (2) Os incrédulos e nações rebeldes que causam tribulação para o povo de Deus (13.1; Isa 57.20; cf. Ap 17.2, 6), (3) o lugar dos mortos (20.13), (4 ) o local principal da atividade do comércio mundial da idolatria (18.10-19).29 A observação de Pohl foi precisa nesse sentido: a informação de que o dragão se pôs em pé sobre a areia do mar não deve nos levar a imaginar que, derrotado, ele se retira da terra. Pelo contrário, ele se excede e toma impulso para o golpe destruidor contra a igreja testemunha e obediente. Ao se postar junto ao mar, ele assume o seu elemento, tornando- se integralmente um dragão terrível.30 Ele não está fugindo. Ele não jogou a toalha. Ao contrário ele parece mais ameaçador que nunca. Ele está irado porque sua esfera é limitada, o tempo é curto e a derrota é certa. O conflito no céu já chegou a uma resolução, mas na terra o conflito está apenas começando. A perseguição do dragão à mulher deixará de ser algo “cósmico” lá no céu, para se tornar algo bem real e cruento 28 Segundo Mouse os defensores desta ideia fazem uma ligação mitológica com a lenda babilônica de Tiamat, o dragão antigo do caos que luta com Marduk, o deus da ordem, é possível desde que os escritores tinham A.T. já assumidas e reformou o antigo mito, a fim de refletir vitória de Deus sobre os ídolos. 29 Beale, G. K.: The Book of Revelation : A Commentary on the Greek Text. Grand Rapids, Mich.; Carlisle, Cumbria: W.B. Eerdmans; Paternoster Press, 1999, Disponível na Bíblia Logos 30 POHL, Adolf. Apocalipse de João II – Comentário Esperança. Curitiba: Editora Esperança, 2001.
  • 14. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 14 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 aqui na terra. A vida cristã não é um “playground”, ao contrário, é um campo de batalha! Nessa batalha nós estamos envolvidos dos pés à cabeça. Conclusão: como enfrentar e vencer a ira satânica que vem contra você? A resposta é dada no verso 11: “Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida”. “Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro...” João afirma que o povo de Deus sempre alcançou a vitória “pelo”, isto é, “com base” no sangue de Jesus. Como vimos, ele não tem fundamentos jurídicos para lhe acusar diante de Deus, no entanto, ele vai operar na sua consciência para que você se sinta um ímpio culpado pelos crimes cometidos. Dizem por aí que a melhor maneira de lidar com essas acusações é negando-as e mostrando o quanto você é bom. Porém, o que você tem que dizer é: “Eu sou pior do que você está afirmando, mas Deus me ama assim mesmo. Ele me aceitou por causa do sangue de Cristo Jesus”. O sangue derramado na cruz garante que Deus nos perdoará (Rm 8: 31-34 ). Assim, as acusações de satanás, por mais que sejam verdadeiras, tornam-se nulas e sem efeito no tribunal de Deus. “.... Pela palavra do testemunho que deram...” Já está mais que claro que existe uma guerra que os olhos não veem. Por trás de todo secularismo, toda educação anticristã, toda corrupção ou qualquer outra agenda que vá de encontro com Reino de Deus e o Seu ungido, está um dragão furioso. Nessa batalha a única arma de ataque da armadura de Deus é a Palavra. A pregação no poder do Espírito faz com que o Reino de Deus cresça e o reino parasita do dragão perca força. A palavra do seu testemunho refere-se à proclamação da Palavra, da doutrina bíblica e da verdade de Jesus Cristo, tanto pela vida como pelos lábios. Pela palavra de Deus conhecida, crida e aplicada pela fé na vida cristã consistente, os crentes são capazes de calar as acusações de satanás e revelá-lo por aquilo que ele é.
  • 15. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 15 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 “...Diante da morte, não amaram a própria vida”. O pastor John Piper, em seu livro “Alegrem-se os povos: A supremacia de Deus nas missões”, afirmou corretamente: A extensão do seu sacrifício e a profundidade da sua alegria, mostram o valor que ele atribuiu ao tesouro de Deus. Perda e sofrimento, jubilantemente aceitos pelo reino de Deus, mostram a supremacia do valor de Deus no mundo de forma mais clara do que toda adoração e oração.31 Voltemos nossa atenção para uma das perguntas iniciais: Por que Deus permite que o Seu povo sofra e seja perseguido pelo dragão? Porque como costuma dizer Piper “Deus é Mais Glorificado em Nós Quando Estamos Mais Satisfeitos Nele.” Deus ordena o sofrimento, pois, por meio de todas as outras razões, Ele expõe ao mundo a supremacia do Seu valor acima de todos os tesouros. Portanto, sofrer com alegria prova ao mundo que nosso tesouro está no céu e não na terra e que esse tesouro é muito maior do que qualquer coisa que o mundo tenha a oferecer. Além disso, embora não corramos risco de morte por servir a Cristo, este verso se aplica a nós outras dimensões. Como bem observou Paul Tripp, a Cruz de Cristo foi o paradoxo mais belo da História. A morte do Messias era a única maneira pela qual ele poderia dar vida para aqueles que criam nele. A esperança da cruz está no sacrifício voluntário de um para o bem do outro. O convite de Cristo para tomar diariamente sua cruz fala exatamente a respeito disso. Aquele que sacrificou sua vida para que pudéssemos ter vida, agora chama os seus discípulos para sacrificarem suas vidas por ele. Em um mundo que conhece apenas o reino do ego, viver para o grande reino de Cristo sempre exigirá sofrimento e sacrifício.32 Ele observou ainda que “em um mundo que conhece apenas o reino do ego, viver para o grande reino de Cristo sempre exigirá sofrimento, sacrifício e morte.” Ao falar sobre segui-Lo Cristo nos pediu para fazermos algo impensável. Essencialmente, Cristo está dizendo: “Se você quer viver, se quiser experimentar as alegrias transcendentes do meu Reino eterno, então você deve deixar de valorizar o seu reino, o qual tem o ‘eu’ como próprio rei”. Em outras palavras, ele nos convida dizer 31 PIPER, John. Alegrem-se os Povos: a supremacia de Deus em missões. Tradução de Rubens Castilho. São Paulo: Cultura Cristã. 2001. 32 TRIPP, Paul David. Em busca de algo maior: viver por alguma coisa maior do que você. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 115.
  • 16. “A Guerra dos séculos” Apocalipse 12 Pastor Jailson Santos 16 Curso de interpretação bíblica Kerygma 21 – Módulo 6 - Apocalipse 2017 “não” a uma pessoa a qual temos a maior dificuldade em dizermos não - a nós mesmos!33 33 Ibid