Este documento discute como placas públicas e anúncios revelam possíveis transformações na Língua Portuguesa ao longo do tempo. Ele analisa duas placas que contêm erros de ortografia, mostrando como sons diferentes podem ser confundidos na escrita. Também examina como a literatura incorpora variações da fala comum em poemas. O documento conclui que entender a língua em sua diversidade de usos é essencial para compreender seu processo evolutivo.
Transformações da Língua Portuguesa em Placas e Registros Públicos
1. Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Centro de Educação, Comunicação e Artes
Curso de Licenciatura em Letras
REGISTROS PÚBLICOS: PLACAS QUE REVELAM A
TRANSFORMAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Autores: PIMENTEL, Franciele; PADILHA, Teresinha; CASSEL, Marlon ; ROLLA, Cinthia; ARAÚJO, Alcemar ; VOIGT,
Andressa. (G. 1º Letras)
Orientadora : Profª. Ruth Ceccon Barreiros
RESUMO
Este trabalho visa refletir sobre as possíveis transformações da Língua Portuguesa em curso, a partir do entendimento de
que a língua é um fenômeno vivo e que, portanto, encontra-se em constante mudança. Isso pode ser observado em registros
públicos, placas e anúncios, os quais foram tomados como objeto deste estudo.
INTRODUÇÃO
O presente estudo fundamenta-se nas teorias de evolução da língua, em especial, aquelas que abordam seu aspecto vivo,
uma vez que [...] as línguas humanas não constituem realidades estáticas; ao contrário, sua configuração estrutural se altera
continuamente no tempo. (FARACO, 1991, p. 09). Esta característica de língua como um fenômeno vivo, em constante
transformação, ocorre primeiramente na oralidade e se reflete na escrita. A pesquisa que ora se esboça é de cunho bibliográfico
com coleta de placas na internet. Uma proposta da disciplina de História e Formação da Língua Portuguesa, do primeiro ano do
Curso de Letras de Cascavel.
MATERIAL PESQUISADO E MÉTODOS
Para essas reflexões selecionaram-se duas placas (inscrições públicas), cuja
escolha se deu de forma aleatória, a partir de registros disponíveis na internet. Na primeira
imagem é possível verificar a inscrição “sebola”: em que a palavra é grafada em
desacordo com o que prevê a norma padrão da língua portuguesa. Esses equívocos são
comuns entre os usuários da língua que possuem pouco conhecimento de sua estrutura.
Neste caso o som de “C” se confunde muito com o som de “S”, e, assim assume uma
grafia semelhante a outro fonema com o mesmo som. Cabe aqui ressaltar que, de acordo
com Faraco (1991), o fonema /s/ pode também ser escrito com "ss" ("assado"), com "ç"
("aço"), com "c" ("cebola"), ou com "x" ("próximo"), por isso a confusão explicitada na
placa. O mesmo ocorre com “melansia”.
Na segunda placa a mesma confusão entre os fonemas /s/ e /c/ pode ser constatada: a utilização da inscrição
“cem”, indicando “sem”. Essas ocorrências não são recentes, mas eram encontradas no Latim como atesta o Appendix
Probi uma atividade realizada pelo gramático Probo, por volta do século III, que alertava aos usuários da língua a
forma ideal de uso. Ex. Nurus, non nura (nora/noiva). Este é um dos poucos documentos que comprovam uma variação
vulgar (falada) da língua latina.
Os registros de uso da Língua Portuguesa na fala podem
ser observados também na Literatura, neste sentido, vale
lembrar que o recurso é entendido como Licença Poética, o
qual possibilita aos escritores a liberdade de transgredir a
norma-padrão da língua. Exemplo disso é o poema de Luis
Fernando Veríssimo, que apresenta as inscrições “tou” e
“numa”, reforçando a ideia de que as expressões comuns na
fala vão sendo incorporadas pela escrita. Pode-se inferir que
este recurso quando utilizado na literatura tem por objetivo
aproximar a linguagem do possível leitor.
O sedutor pobre
Não tenho onde cair morto,
ando matando cachorro a grito
com uma mão atrás e outra na
frente,
tou duro, tou na pior,
tou chamando urubu de “meu
louro”,
numa merda federal,
com a corda no pescoço,
endividado até a alma
e entrando pelo cano.
Mas, em compensação, te amo.
(Luis Fernando Veríssimo)
CONCLUSÃO
Compreender as transformações da Língua Portuguesa nos dias atuais implica em concebê-la em suas diversas
possibilidades de manifestação. Neste sentido, é possível entender as placas (inscrições públicas) como um fenômeno cultural de
linguagem, uma vez que se trata de reflexos das condições sociais dos falantes/usuários. Partindo-se do princípio de que o processo
evolutivo das línguas acontece a partir da fala essas ocorrências não podem ser desconsideradas.
REFERÊNCIAS
FARACO, Carlos Alberto. Linguística Histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas. São Paulo: Editora Ática, 1991.
OLIVEIRA, Maria Lília Simões de. Recursos lingüísticos nas malhas discursivas de Veríssimo. VII Congresso Nacional de Linguística e
Filologia. Anais. Rio de Janeiro. 2003. Disponível em http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno07-18.html
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.